sexta-feira, 9 de abril de 2010

A opinião internacional a respeito da Amazônia

"SE OS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS NÃO CONSEGUEM PAGAR SUAS DÍVIDAS EXTERNAS, QUE VENDAM SUAS RIQUEZAS, SEUS TERRITÓRIOS E SUAS FÁBRICAS."
Margaret Thatcher,Primeira-Ministra Britânica - 1983.

"AO CONTRÁRIO DO QUE OS BRASILEIROS PENSAM, A AMAZÔNIA NÃO É DELES, MAS DE TODOS NÓS."
Al Gore, Vice-Presidente dos EUA - 1989.

"O BRASIL PRECISA ACEITAR UMA SOBERANIA RELATIVA SOBRE A AMAZÔNIA."
François Mitterand, Presidente da França - 1989.

"AS NAÇÕES DESENVOLVIDAS DEVEM ESTENDER O DOMÍNIO DA LEI AO QUE É COMUM DE TODOS NO MUNDO. AS CAMPANHAS ECOLÓGICAS INTERNACIONAIS SOBRE A REGIÃO AMAZÔNICA ESTÃO DEIXANDO A FASE PROPAGANDISTA PARA DAR INÍCIO A UMA FASE OPERATIVA QUE PODE, DEFINITIVAMENTE, ENSEJAR INTERVENÇÕES MILITARES DIRETAS SOBRE A REGIÃO."
John Major, Primeiro-Ministro Britânico - 1992.

"O BRASIL DEVE DELEGAR PARTE DE SEUS DIREITOS SOBRE A AMAZÔNIA AOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS COMPETENTES."
Mikhail Gorbachev, Presidente da Ex-URSS - 1992.

"OS PAÍSES INDUSTRIALIZA- DOS NÃO PODERÃO VIVER DA MANEIRA COMO EXISTI-RAM ATÉ HOJE SE NÃO TIVEREM A SUA DISPOSIÇÃO OS RECURSOS NATURAIS NÃO-RENOVÁVEIS DO PLANE TA. TERÃO QUE MONTAR UM SISTEMA DE PRESSÕES E CONSTRANGIMENTOS GARAN TIDORES DA CONSECUÇÃO DE SEUS INTENTOS."
Henry Kissinger, Secretário de Estado dos EUA - 1994.

"ATUALMENTE, AVANÇAMOS EM UMA AMPLA GAMA DE POLÍTICAS, NEGOCIAÇÕES E TRATADOS, EM COLABORAÇÃO COM PROGRAMAS DAS NAÇÕES UNIDAS, DIPLOMACIA BILATERAL E REGIONAL, DISTRIBUIÇÃO DE AJUDA HUMANITÁRIA AOS PAÍSES NECESSITADOS E CRESCENTE PARTICIPAÇÃO DA CIA EM ATIVIDADES DE INTELIGÊNCIA AMBIENTAL."
Madeleine Albright, Secretária de Estado dos EUA - 1996.

"CASO O BRASIL RESOLVA FAZER UM USO DA AMAZÔNIA QUE PONHA EM RISCO O MEIO AMBIENTE NOS ESTADOS UNIDOS, TEMOS DE ESTAR PRONTOS PARA INTERROMPER ESSE PROCESSO IMEDIATAMENTE."
General Patrick Hugles, Chefe do Órgão Central de Informações das Forças Armadas dos EUA - 1998.

"A AMAZÔNIA E AS OUTRAS FLORESTAS TROPICAIS DO PLANETA DEVERIAM SER CONSIDERADOS BENS PÚBLICOS MUNDIAIS E SUBMETIDAS À GESTÃO COLETIVA - OU SEJA, GESTÃO DA COMUNIDADE INTERNACIONAL."
Pascal Lamy, Presidente da OMC - 2005.

"NOVAS PEQUENAS NAÇÕES PODERÃO ALTERAR O MAPA DA AMÉRICA LATINA ATÉ 2050."
Andres Oppenheimer, Repórter.

Fonte: Rede 3setor (http://br.groups. yahoo.com/ group/3setor)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cinco jornalistas executados em Honduras

Cinco jornalistas executados em Honduras Somente no mês passado. Eles foram assassinados por esquadrões da morte. Em 26 de março, Ballardo Mairena e Manuel Juarez, que viajavam de carro para a cidade de Juticalpa, foram rendidos e executados. Os corpos foram encontrados com 13 perfurações de bala cada um, denunciou a TeleSur, a única emissora de televisão que acompanha a resistência popular aos golpistas de junho passado. Antes deles, foram mortos os jornalistas Joseph Ocho, na capital Tegucigalpa; David Montesinos, em La Ceiba; e Nahún Palacios, em Tocoa.

Segundo denuncia o presidente da Associação de Imprensa Hondurenha, Carlos Ortiz, o governo fascista de Porfírio Lobo, bancado pelos EUA, “atenta contra a liberdade de imprensa e o direito que tem o povo de ser informado. Não é possível que se continue assassinando jornalistas e nada seja feito”. O megaempresário Porfírio Lobo foi “eleito” em novembro passado numa eleição de fachada, feita sob os auspícios dos golpistas que depuseram o presidente eleito Manuel Zelaya.

Barbárie e resistência popular

Quando do golpe cívico-militar, em junho de 2009, a repressão se abateu violentamente contra as forças legalistas. A Rádio Globo (que não tem qualquer relação com a golpista brasileira) teve os equipamentos destruídos e vários radialistas detidos. Emissoras independentes de televisão foram fechadas e a censura virou regra. Lideranças sindicais e populares foram presas e, de acordo com vários relatos, muitas foram assassinadas por esquadrões formados por policiais mercenários. As execuções sumárias prosseguem até hoje e Porfírio Lobo garante a impunidade aos criminosos.

Apesar da violência, a resistência hondurenha persiste. No final de março, milhares de pessoas marcharam na capital para exigir a volta da democracia e a revogação das medidas neoliberais do governo. A passeata terminou na Universidade Nacional Autônoma, que se encontra ocupada por professores e estudantes. Juan Bara-hona, coordenador da Frente de Resistência ao Golpe, exigiu a libertação de 15 sindicalistas presos sob a acusação de “usurpação das funções”. Dias antes, o professor José Manuel Flores, dirigente da frente, foi assassinado por homens encapuzados.

O silêncio cúmplice da mídia

A dramática situação de Honduras, que retoma a tradição dos sangrentos golpes contra governos democraticamente eleitos, exige a solidariedade militante das forças progressistas do continente. Os EUA, apesar da falsa retórica de Barack Obama, mantêm a pressão pelo reconhecimento da ditadura de Porfírio Lobo. Qualquer vacilo pode levar à consolidação deste regime fascistóide e incentivar outras ações golpistas na região, em especial no sofrida América Central.

Neste esforço de solidariedade também é preciso denunciar o silêncio cúmplice da mídia privada. Ela que torceu pelos golpistas, tratando-os como “governo de fato”, e que atacou o governo Lula por dar abrigo ao presidente Manuel Zelaya, agora nada fala sobre a ditadura hondurenha. Até o cínico discurso sobre a “liberdade de expressão” já foi arquivado. Os barões da mídia brasileira, teleguiados pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), braço da CIA na América Latina, hoje evitam criticar a censura, as perseguições e os assassinados de jornalistas em Honduras.

Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Cientistas tentam defender trabalhos sobre o clima

Há meses cientistas do clima sofrem críticas cruéis na mídia e na internet, acusados de esconder dados, cobrir erros e suprimir visões alternativas. Sua reposta até agora tem sido, em grande, parte, insistir na legitimidade de seu vasto corpo de ciência climática e ridicularizar seus críticos, chamando-os de esquisitos e desinformados. No entanto, o volume de críticas e a profundidade da dúvida só cresceram.

Muitos cientistas hoje estão enfrentando uma crise de confiança pública e sabem que tem de rebatê-la. A contragosto, eles estão começando a envolver seus críticos, admitir erros, abrir dados e remodelar a forma como conduzem seu trabalho.

A liberação não autorizada, no último outono, de centenas de mensagens de e-mail de um grande centro de pesquisa sobre o clima na Inglaterra, e, mais recentemente, revelações de um punhado de erros num suposto relatório confiável das Nações Unidas sobre a mudança climática, criaram o que vários cientistas importantes afirmam ser uma grande quebra de confiança em sua pesquisa. Eles afirmam que essa agitação ameaça minar décadas de trabalho e tem prejudicado enormemente a confiança do público na atividade científica.

No episódio do e-mail, chamado de "climategate" por alguns críticos, o conteúdo das mensagens vazadas fez com que alguns cientistas conhecidos sofressem acusações de esconder dados de temperatura de pesquisadores rivais e manipular resultados para estarem em conformidade com conclusões pré-estabelecidas. "Eu obviamente escrevi alguns e-mails terríveis", disse o britânico Phil Jones, diretor da unidade de pesquisa climática da University of East Anglia e centro da controvérsia, em confissão recente a um comitê especial do Parlamento. Mas ele discordou veementemente de acusações de que ele teria escondido dados ou falsificado resultados.

No entanto, danos sérios já foram causados. Uma pesquisa conduzida no final de dezembro pela Universidade de Yale e pela George Mason University descobriu que o número de americanos que acreditava que a mudança climática era uma enganação ou conspiração científica mais que dobrou desde 2008, de 7% da população para 16%. E 13% dos americanos disseram achar que, mesmo que o planeta esteja esquentando, isso seria resultado de fatores naturais apenas e não representaria uma preocupação significativa.

"Está claro que a comunidade científica do clima simplesmente não estava preparada para a escala e ferocidade dos ataques, e simplesmente não responderam de forma rápida e adequada", afirmou Peter C. Frumhoff, ecologista e cientista-chefe da Union of Concerned Scientists.

Agora várias instituições estão iniciando esforços para melhorar a qualidade de sua ciência e tornar seu trabalho mais transparente. A agência britânica oficial do clima está realizando uma revisão completa de seus dados de temperatura e irá tornar públicos seus registros e análises pela primeira vez, permitindo análises detalhadas por parte de terceiros em relações a métodos e conclusões.

Nenhum órgão científico está sofrendo inspeções mais hostis do que o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança Climática (IPCC), que compila pesquisas climáticas de centenas de cientistas ao redor do mundo em relatórios periódicos com o objetivo de ser a afirmação definitiva da ciência e um guia para a criação de diretrizes. Críticos, citando vários erros relativamente menores em seu relatório mais recente e acusações de conflitos de interesse contra seu líder, Rajendra K. Pachauri, pedem que o IPCC seja dispensado ou radicalmente reformulado.

Pachauri foi agraciado, em 2007, com o Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho no painel. A honraria foi dividida com o ex-vice presidente dos EUA, Al Gore.

No dia 27 de fevereiro, após semanas de recusa em envolver os críticos, o IPCC anunciou que estava solicitando a criação de um painel independente para revisar seus procedimentos de pesquisa, a fim de eliminar parcialidades e erros de futuros relatórios.

Entretanto, alguns críticos acreditam que se tratam apenas de esforços cosméticos que não resolvem o verdadeiro problema. "Vou deixar você por dentro de um segredo bem feio - não quero que a confiança na ciência do clima seja recuperada", disse Willis Eschenbach, engenheiro e oposicionista do clima que posta frequentemente em blogs de ceticismo climático, em resposta a uma proposta de cientistas de compartilhar mais pesquisas. "Não quero que vocês descubram como inspirar confiança camuflando suas práticas inescrupulosas de maneira inovadora", disse.

Ralph J. Cicerone, especialista em química atmosférica e presidente da National Academy of Sciences, órgão científico mais prestigiado dos Estados Unidos, disse haver o risco de que a desconfiança na ciência climática poderia se ramificar e gerar dúvidas em relação ao conhecimento científico de forma mais ampla. Ele disse que os cientistas devem fazer um trabalho melhor tentando ser ouvidos em redes de TV, rádio e internet.

A batalha é desigual, no sentido de que os cientistas se sentem obrigados a apoiar suas descobertas com observação cuidadosa e análises replicáveis, embora seus críticos sejam livres para fazer afirmações condenando seu trabalho como fraudulentos.

"Temos que fazer um trabalho melhor de explicar que sempre existem mais coisas para serem aprendidas, sempre há incertezas a serem resolvidas", disse John P. Holdren, cientista ambiental e conselheiro científico da Casa Branca. "Mas também precisamos lembrar às pessoas de que as ocasiões onde um amplo consenso é derrubado por um incrédulo da ciência são muito, muito raras".

Porém, alguns cientistas disseram que responder a céticos em relação a mudanças climáticas era perda de tempo. "Os cientistas do clima são pagos para fazer ciência", disse Gavin Schmidt, climatologista sênior do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA. "O trabalho deles não é convencer o público". Ele afirmou que a recente onda de hostilidade para com a ciência do clima tinha sido motivada tanto pelo inverno frio quanto por qualquer pecado científico, real ou percebido.

"Sempre houve pessoas nos acusando de sermos criminosos fraudulentos, que o IPCC seria corrupto", disse Schmidt. "A novidade é essa paranoia combinada com inverno frio nos Estados Unidos e a liberação do 'climategate'. A resposta é simples, ele disse: "A boa ciência é a melhor vingança".

Fonte: Yahoo Notícias, atualizado em 3/4.

Registro para história da imprensa

O ministro do Paulo Vannuchi criticou a imprensa brasileira nesta terça-feira (30/03) “por agir como uma espécie de partido de oposição, (...) confundindo um papel que seria dela – informar, cobrar e denunciar – com o protagonismo partidário, que é transformar isso em ações de conteúdo unilateral". Não se trata de uma afirmação gratuita. Vem de uma confissão pública da presidente da Associação de Jornais (patronal), Judith Brito, que é também diretora-superinten dente da empresa que edita a Folha de S Paulo. Segundo Judith: "Na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos. É o que estamos fazendo”.

A afirmação de Judith se deu durante evento realizado há duas semanas em São Paulo, para associações patronais ligadas a jornais, revistas e TVs, para discutir a liberdade de imprensa. "A liberdade de imprensa não pode ser só a liberdade privada da imprensa brasileira", disse nesta segunda-feira (29/03) o presidente da CUT, Artur Henrique, botando o dedo bem no centro da ferida. Ele quer a realização de debates sobre a democratização dos meios de comunicação.

No embalo da CUT, durante o lançamento do PAC2, o presidente Lula também atacou: “Se o pesquisador do futuro recorrer aos jornais de hoje, contará uma historia mentirosa”. Obama, de um lado, Chávez, de outro, também andam a reclamar da imprensa dos seus países. O primeiro, porque um grupo de mídia lhe faz oposição sistemática. O Último porque foi a mídia que lhe apeou do poder em 2002, e porque continua tentando até hoje. Os choramingos de Serra e Berlusconi contra a imprensa não contam, são choros de barriga cheia.

“Lula disse bem”, diz Mino Carta na última Carta Capital. Nossa imprensa costuma ser conservadora em relação aos grandes temas da humanidade e se aliar automaticamente aos interesses de Washington, no campo da economia e da política. É capaz de denunciar, de pronto, supostas práticas desleais do comércio da China, mas se cala diante de comprovadas práticas desleais praticadas anos a fio pelos EUA. Como no caso do algodão, arbitrado pela OMC. Não quer Washington, também não quer nossa imprensa, que o Brasil seja recompensado na forma da lei internacional. Mas quer que o exército brasileiro invada a Bolívia por querer negociar preço justo para seu gás.

Tem razão Artur Henrique. Nossa mídia prefere condenar o governo cubano por também supostas lesões aos direitos humanos, mas se cala diante de torturas em cárceres dos Estados Unidos espalhados pelo mundo. Divulga sem cessar casos de enfrentamento de opositores diante do governo autoritário iraniano e esconde ou banaliza a chuva de bombas que Israel despeja sobre civis palestinos. Aceita como verdadeira a “gana” do Irã por armas atômicas (lembre-se das armas de destruição em massa do Iraque), mas se cala diante do arsenal atômico de Israel.

Também se cala diante de milhares de artefatos atômico nos arsenais das grandes potências. E aplaudem esses países demasiadamente armados, como diz o ministro Samuel Pinheiro Guimarães, quando “pretendem desarmar os desarmados totalmente, até o último estilingue”.
Nossa mídia defendeu o golpe contra Chávez em 2002, como defendeu o golpe contra Zelaya em 2009. E viu na eleição do novo presidente de Honduras, feita pelos golpistas, um processo limpo. Esqueceu de mostrar as dezenas de mortes de seguidores do presidente deposto.

A imprensa brasileira finge-se de morta para o novo perfil do Brasil diante das nações e faz cara de paisagem para o protagonismo do presidente Lula nas esferas internacionais. É uma história dos tempos de hoje que os pesquisadores do futuro poderão garimpar sem passar por mentirosos, desde que consultem os arquivos dos jornais de fora do Brasil. Como no exemplo do The Wall Street Journal desta segunda-feira (29/03), matéria de capa, em cuja visão, “Para o Brasil, finalmente é o amanhã". Mais: "A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas de nosso tempo. Não está somente redefinindo a América Latina, mas também a economia do mundo inteiro."

Fonte: Boletim H S Liberal.

O SHOW DA MÍDIA – TEM ATÉ XUXA

Por Laerte Braga

A autora de novelas Glória Perez, vítima de uma tragédia pessoal (a filha, atriz, foi assassinada de forma brutal e covarde), foi a São Paulo para assistir ao julgamento do casal Nardoni. Comentou o caso no Twitter e deu força ao promotor. “Não deixou pedra sobre pedra”.

Há quem diga que o empresário que se auto crucificou à porta do fórum para pedir justiça possa ter extrapolado, viva um momento de dificuldades e o seu gesto tenta chamar a atenção, essas coisas assim. Ganhar notoriedade, o show.

Não há diferença alguma entre o que o empresário e Glória Perez fizeram, exceto o destaque dado pela mídia a autora de novelas, que viveu situação semelhante. Só uma questão de tecnologia. O empresário usou um cenário barato e a GLOBO, que reproduz com destaque a presença de Glória Perez, abandonou o sentido da cruz, por acreditar que o céu seja o PROJAC.

Uma coisa é a dor de Glória Perez, outra coisa é essa dor levada a um palco sensacionalista.

Xuxa Meneghel deu seu palpite. Segundo a senhora em questão “quantas Isabelas terão que morrer para que tenhamos justiça?”. Confesso que não entendi, mas como a “rainha dos baixinhos” fez a pergunta ao lado da rainha Sílvia, da Suécia, deveria estar em alfa, numa conversa de rainhas.

São públicos e notórios os comentários, até denúncias, de maus tratos a meninos e meninas que compareciam ao programa de Xuxa naquela de ser figurante de um processo de idiotização em âmbito nacional.

Xuxa foi a escola de uma, duas gerações.

Já passa de uma centena o número de mulheres “apaixonadas” pelo promotor Francisco Cembranelli. Segundo alguns jornais, sites, blogs, as declarações surgem aos borbotões. “Estou apaixonada pelo promotor Francisco Cembranelli. Alguma outra mulher aí acha ele charmoso demais?” A pessoa se identifica num site de perguntas e respostas como Anise.

Teve resposta imediata. “Eu também me apaixonei por ele. Tudo começou depois que tive um sonho com ele, (...) foi maravilhoso. Era um beijo fervoroso, pena que eu acordei”. O nome é Lucy. Elaine Cristina foi mais contundente. “Com todo respeito você é o cara mais lindo que já vi. Pena ser casado, pois eu iria me casar com você. Te adoro e admiro seu trabalho, parabéns, adoro homens tímidos”.

E vai por aí afora.

Onde entra Isabela nisso?

Num texto atribuído ao lingüista norte-americano Noam Chomsky, um dos grandes pensadores e ativistas da atualidade (e há muito tempo), são dez as “estratégias de manipulação política”.

A “estratégia da distração”. Consiste em desviar a atenção do distinto público para o fato de diretores da ALSTOM terem sido presos na Grã Bretanha acusados de subornar políticos de vários países, entre os quais brasileiros, no caso específico, as obras do metrô de São Paulo (Alckimin, Maluf, Kassab e Serra, entre outros). Essa estratégia “impede ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia... Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais... Manter o público ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar”.

“Criar um problema para depois oferecer soluções”. “Cria-se um problema, uma situação prevista para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar”. Fala da violência urbana, transforma a boçalidade em “mal necessário”, a dose única, do remédio único.

A “estratégia da degradação”, combinada com a “estratégia do deferido”, que consiste em fazer com que sejam aceitas condições impostas pelas elites como flexibilidade dos salários para não perder emprego (o lucro do dono aumenta), ou a aceitação de uma medida impopular num sacrifício futuro, enquanto se espera, ingenuamente, o futuro chegar. Não chega nunca.

Ah! Olha a Xuxa aí. “Dirigir-se ao público como crianças de pouca idade”. Ipsis literis o seguinte. “A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante”.

“Usar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão”. O jeito de gerar um “curto circuito na análise racional e por fim ao sentido crítico dos indivíduos. Permite “abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos, temores, compulsões, ou induzir comportamentos”. Que nem aquele do cara fissurado na moça do pedágio. Coloca em seu carro um spray especial para veículos, um cheiro de vida e pronto, a moça larga tudo e vai para o lado dele. Já notaram que ambos parecem robôs?

“Manter o público na ignorância e na mediocridade”. Pegar o rebanho e torná-lo incapaz de compreender as tecnologias e métodos utilizados para seu controle e escravidão”. Manter dessa forma as separações entre as castas que formam nossa sociedade. Ou seja, a classe média, exemplo, afunda o nariz em VEJA, na FOLHA DE SÃO PAULO e entra no cheque especial para além da conta. A sala é uma beleza, o resto... Beija mão de Ermírio de Moraes que cresce com dinheiro público e destruindo o ambiente.

O resto jogam do alto da janela de um andar qualquer de um prédio qualquer e tem o nome de Isabela, ou Maria, o nome que seja.

“Promover ao público a ser complacente na mediocridade”. Vale dizer, “achar legal o fato de ser estúpido, vulgar e inculto”. Está aí o BOPE.

“Reforçar a revolta pela culpabilidade”. O único culpado do trabalhador ser explorado é ele próprio, portanto, aceite a exploração de maneira resignada, conforme-se, um dia, quem sabe você ganha na loteria e pronto? A resignação é o caminho para cair de quatro e engolir qualquer Arruda/Serra da vida e os milhões da empresa britânica que compra políticos brasileiros, leia-se, tucanos e democratas paulistas.

E, por fim, “conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem”. A essa altura do campeonato, na décima estratégia de manipulação, já formaram o idiota perfeito, é barbada. É só abrir a porta do curral e propor casamento ao promotor.

A GLOBO é perita nisso.

Chávez é culpado, o Irã vai destruir o mundo, Fidel Castro é o “demônio”, Edir, o Macedo salva, desde que o dízimo seja pago direitinho, Bento XVI estava ao lado do padre pedófilo e não viu nada, mas escondeu os documentos. Palestinos são “terroristas” porque resistem a entregar suas terras, suas vidas ao povo superior de Israel, o MST é um “bando de desordeiros” e os pobres rapazes que assaltaram uma “vagabunda” para “limpar” a cidade de “vagabundas”, assim como o Boninho, diretor do BBB joga água suja para marcá-las, esses não podem ficar presos, afinal são filhos das elites e estudam em faculdades para aprender as leis.

Quase impossível acreditar que o casal Nardoni seja inocente. É claro que não. Mas Daniel Dantas, o banqueiro, continua solto e Gilmar Mendes apita na chamada Corte Suprema.

“O MEU DIÁRIO DE GUANTÁNAMO” é um livro escrito por Rukhsana Mahvish Khan, uma norte-americana descendente de afegãos que foi intérprete entre os soldados/torturadores dos EUA e os presos no campo de concentração de Guantánamo, base militar em território saqueado a Cuba. Ali estão depoimentos de presos sem culpa formada, sem qualquer vínculo com o “terrorismo”, por simples suspeita, todos submetidos a afogamento simulado, asfixia simulada, etc, etc, violências e humilhações de natureza sexual, a escabrosa moléstia que infecta os Estados Unidos e transforma o império numa sociedade doentia.

É o modelo que vendem para a gente.

Quando trouxe a público, em seu livro, os dados sobre o verdadeiro terror, o dos torturadores, a autora foi afastada de suas funções de intérprete. São 288 páginas de horror, de barbárie sob o patrocínio da “liberdade” e da “democracia”.

É aí que o trem complica. Isso tipo de violência não interessa a mídia. Faz com que as pessoas descubram a realidade e pensem. Se começarem a pensar e a desligar os botões dos aparelhos de tevê, dana tudo para os donos.

Já notaram que toda a incrível cobertura do julgamento do casal Nardoni interfere em tudo menos no horário do BBB?

sábado, 3 de abril de 2010

O EXTERMINADOR DO FUTURO – A MÃO DE BUSH

Por Laerte Braga

O governador do estado norte-americano da Califórnia assustados com os custos de presídios, penitenciárias e afins, decidiu que vai mandar libertar alguns presos e deportá-los para o México. Para completar o processo vai privatizar o sistema penitenciário do estado.

No extinto estado do Espírito Santo – Brasil – o governador Paulo Hartung tomou providências mais “simples” ao longo de seus dois mandatos. Colocou presos em conteiners e quando o modelo não dispunha mais de espaço mandava que os presos ficassem acorrentados nos corredores das delegacias e distritos policiais.

Segundo o senador Gérson Camata isso é “investimento” e nada semelhante foi feito naquela antiga unidade da suposta Federação brasileira, hoje latifúndio VALE, ARACRUZ, SAMARCO, CST e outros menores. Para o senador a decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU de chamar o governador às falas e denunciar maus tratos e falta de condições mínimas no sistema penitenciário do latifúndio é “uma injustiça”, produto de denúncias “falsas”.

Em toda a minha vida vi três momentos de intensa ebulição, digamos assim, diante de pessoas, ou grupos, ou fatos. Quando menino, no Rio, o frenesi causado pelo cantor Cauby Peixoto. Chegou a tentar a sorte em Hollywood com o nome de Coby Dijon. Mais tarde a loucura despertada pelos Beatles onde quer que passassem e em ambiente mais restrito as reações à música de Pete Townsend, guitarrista do conjunto THE WHO.

E, eventualmente, um ou outro num dado momento. Ia me esquecendo, a conquista da Copa do Mundo em 1958, a primeira vitória do Brasil. Mexeu com o País inteiro um domingo inteiro, o jogo, a final contra a Suécia foi jogado pela manhã.

O ônibus Muda__Copacabana muitas vezes ficava retido na avenida Beira Mar, não havia ainda o Aterro. Cauby costumava assentar-se à murada da antiga praia de Botafogo e as pessoas se aglomeravam para tocá-lo. “Ela é fã da Emilinha/grita o nome do Cauby/e depois de desmaiar/pega a REVISTA DO RÁDIO e começa a se abanar...”

Uma “quentinha” fornecida a presídios em quase todos os lugares – vamos dar o benefício da exceção, o de que toda regra tem uma, pelo menos uma exceção – custa mais ou menos o mesmo preço de um almoço num self service de padrão médio, de médio para bom.

A diferença está no conteúdo. Mas é isso é irrelevante se levarmos em conta que o dono do self service aufere lucro com algum investimento e o governador, qualquer que seja, aufere propina a partir do dinheiro público no superfaturamento das “quentinhas”. Privatizando então, aqui ou nos Estados Unidos, o preço, no mínimo, dobra, mas é a lógica do modelo, o deus mercado.

Qualquer programa de ressocialização de presos e condenados custaria ao Estado, às instituições públicas, menos, no seu todo, que qualquer privatização, ou deportação para o México. O México é uma espécie de grande lata de lixo dos EUA.

Surgiu lá a gripe suína a partir de uma empresa norte-americana, a GRANJAS CARROL, expulsa de três estados norte-americanos por causar prejuízos ambientais dentre eles contaminar lençóis de água. Uai! Tem lençol de pano também, de petróleo.

Volta e meia se afirma que se o governo, qualquer governo, investisse mais em prevenção na área de saúde, ainda que possa parecer o contrário, os gastos num determinado período com essa mesma saúde pública seriam menores que a eterna mania de tampar buracos em cada crise do setor e depois deixa para lá.

Tampar buraco é mais ou menos depois que alguém morre na fila por falta de atendimento, ou vaga para uma cirurgia de emergência e via de regra vem com o nome de “iremos fazer isso e aquilo e instaurar uma sindicância”

José Collor Arruda Serra, por exemplo, governador de São Paulo, vocação de Nero e Calígula a um tempo só, prende professores que protestam por melhores salários. A Polícia chega e baixa a borduna.

A classe média, em sua maioria, maioria bem expressiva, entra em frenesi com a máxima do ex-deputado Sivuca, que “bandido bom é bandido morto”. Em nome da moral e dos bons costumes Luma de Oliveira presta serviços voluntários ao Corpo de Bombeiros. E a moçada entra em delírio quando o BOPE aparece, de preferência com o Caveirão.

Vai daí que Barack Obama, tentando tirar Clinton e Bush do ócio (muito bem remunerado) convida-os a levar a “verdade” do império aos haitianos e explicar como os EUA vão transformar o Haiti num novo Éden.

Aí, assim meio que do nada ambos descem de um avião da força aérea mais poderosa do mundo e percorrem ruas (previamente selecionadas) de Porto Príncipe, negócio de cem metros no máximo, Clinton está deprimido com o segundo infarto. No meio do caminho pessoas passíveis de serem cumprimentadas sem estender a mão pedindo um prato de comida, mas gordas e fornidas pela ajuda dos EUA.

Bush cumprimenta um negro e mal disfarçando seu asco, limpa as mãos, disfarçadamente, na camisa de Clinton.

Está no décimo terceiro segundo do vídeo que pode ser visto em

http://colunas.epoca.globo.com/bombounaweb/2010/03/24/bush-limpa-a-mao-depois-de-cumprimentar-haitiano/

Percebe-se agora porque a piedosa senhora Barbra Bush, mãe do terrorista, disse à época do furacão Katrina que os refugiados “estão melhores aqui nos acampamentos que em New Orleans, pois aqui fazem três refeições por dia”. New Orleans no caso era a casa dos ditos refugiados. E entende-se porque Bush foi criticado à época pela demora no socorro às vítimas do furacão.

As vítimas eram negros em sua esmagadora maioria e a despeito de ali se ter a melhor música do mundo, o jazz, Bush não saberia responder a uma pergunta que fizeram a Joe Louis – “o que é jazz?” – e sua resposta –“ora, se você não sabe e não sente não adianta explicar pois não tem resposta” – Bush não sabe o que é jazz. Entende de petróleo e bombas. De prisões e torturas.

O governador da Califórnia não é diferente. O capataz do antigo Espírito Santo, a quem chamam de governador, também não. E o senador Gérson Camata é uma dessas figuras deploráveis, aquele tipo de espalha bolinho. Não porque seja chato, isso é adereço nele, mas por ser repugnante.

No filme tudo bem, o futuro da humanidade fica garantido por Schwazenegger. Na realidade, o exterminador está vencendo de dez a zero.

Vem aí recall de carregadores de bebês.

A Comissão de Proteção ao Consumidor dos Estados Unidos (CPSC) “convocou” um milhão de proprietários de “carregadores” de bebê, os célebres carrinhos (moça tem o telefone do bebê?) para um recall. Feito de pano os bebês podem vir a morrer sufocados com o tecido, dependendo da posição em que estejam dentro dos tais “carregadores”. Foram constatadas três mortes atribuídas a problemas com o produto.

A marca é INFANTINO e o presidente da empresa já anunciou que vai dar “carregadores” em lojas da marca aos clientes que se “sentirem prejudicados”. Deve acrescentar um pirulito, com certeza.

Pior que isso, disse que a “preocupação” da empresa é com a “segurança dos bebês”, como se empresários tivessem esse tipo de preocupação na relação produto/consumidor com qualquer vestígio de ser humano.

Breve, no mercado mexicano um monte de carrinhos da marca INFANTINO e em vários países latino-americanos, asiáticos, africanos, etc, uma liquidação de “carregadores” de bebês.

Quem nem os presos do governador da Califórnia, “item de exportação para o México”, ou os do Espírito Santo (tratados a pão de ló segundo o repulsivo Gérson Camata). Ou os negros do Haiti na visão de George Walker Bush.

Nos entretantos a classe média mete a cabeça no buraco que nem avestruz, deixa o rabo do lado de fora e mergulha fundo no BBB. Faz ares de entendida, pede vinho tinto seco, olha a garrafa, a safra, gira o copo, sente o aroma, bebe e bochecha o primeiro gole, depois entorna. No fim vai “CANÇÃO” mesmo, pelo menos um vinho honesto.

Putz meu! Na edição do JORNAL dito NACIONAL um cidadão, acho que na de terça, dia 23, apareceu atrás do repórter que relatava os últimos acontecimentos do julgamento dos NARDONIS e começou a fazer papagaiadas (coitado do papagaio). Um segurança da GLOBO deu um safanão no dito cujo, o barulho do tombo foi audível.

Violência pura, se o cara tivesse aparecido num quinto andar teria sido atirado pela janela, a reação do segurança foi típica de qualquer boçal, via de regra seguranças são boçais. O que a GLOBO não percebeu, ou não quis, é que aquele gaiato, boboca, é o telespectador padrão. Se continuar com esse tratamento em breve todos estarão gritando aleluia.

“Galvão olha eu aqui, mamãe consegui!”.

Todos não, claro. Boa parte da turma. Tem diferença entre o Faustão e o cara que apareceu assim de relance por quinze minutos de fama? Quem sabe não está ali uma nova vocação de global e o segurança exterminou o futuro do cara?

Uai! Espanto por que? O Bial não comanda a caravana da cidadania além do BBB? Extermínio de vida inteligente.

Essa gente não faz a menor idéia do modo de ser Grigori Perelman e a Conjectura de Poincaré.

Não dá IBOPE, só o sentido da vida.

5º Fórum Urbano Mundial e 1º Fórum Social Urbano

Diversidade de povos e opiniões se encontraram na Zona Portuária do Rio, nos dois Fórruns que atraíram cerca de 20 mil participantes. Exposições e debates deixaram clara a diferença das visões sobre as cidades, e motivaram o encontro entre o Brasil e o Mundo. A distância de 300 metros entre os dois Fóruns favoreceu o intercâmbio entre pessoas e organizações.

Por Maria Lúcia Martins

De um lado a organização e estrutura de um grande evento internacional, financiado pela ONU e de outro o esforço do movimento social brasileiro. Chamou a atenção de representantes internacionais não só a ação dos movimentos no Brasil, mas também a prática da democracia, especialmente as Conferências Municipais, Estaduais e Nacionais. O Hino Nacional executado por grupo de tambores e guitarra, incluindo os principais ritmos do nosso país, foi um ponto alto da abertura do Fórum Mundial, cerimônia que teve a presença do presidente Lula, de dirigentes da UnHabitat e de líderes nacionais e internacionais. A Fundação Bento Rubião recebeu o prêmio Mellhor Iniciativa do Mundo, pelo Programa Direito à Terra e à Moradia. O prêmio foi entregue pelo reprentante do Reino do Bahain, seu patrocinador.

O Fórum Social aprovou em sua plenária final a Carta do Rio de Janeiro, a partir da proposta preliminar que colocou em questão o desenho "ideal" da cidade efetuado por empresas, corporações e agências internacionais; uma cidade globalizada, submetida aos interesses de poucos em detrimento do exercício do Direito à Cidade por seus habitantes. As cidades globalizadas são concebidas dentro da lógica empresarial, na qual não há lugar para a cooperação e interação de seus agentes, e sim para o marketing, a competitividade, o pragmatismo, a centralização das decisões. Segundo Carlos Vainer, do Labratório Estado, Trabalho, Território e Natureza (ETTERN/IPPUR/UFRJ), este modelo quer legitimar a "cidade de exceção", ou a "gestão de emergência" na qual tudo é permitido a quem decide as políticas e os projetos, abrindo portas para o uso da cidade como produto e para todo tipo de desvios de gestão e de verbas. Este modelo é o que vê vantagens "inquestionáveis" nos megaeventos, para vender a cidade, e também o mesmo que trata a cultura local como algo a ser comercializado pelos mesmos parâmetros.

O tema do Fórum Urbano Mundial foi "O Direito à Cidade: Unindo o Urbano Dividido", com o propósito declarado de de "fechar as lacunas existentes em muitas áreas da vida cotidiana da cidade, como o abismo entre ricos e pobres, entre governos, entre governo, autoridades locais e legislação". O Fórum Social teve quatro eixos temáticos: Criminização da Pobreza e Violências Urbanas; Megaeventos e Globalização das Cidades; Conflitos Socioambientais e Justiça Ambiental; e Grandes Projetos Urbanos e Lutas em Áreas Centrais e Portuárias.

O primeiro ministro do Haiti Jean-Max Bellerive pediu, na abertura do Fórum Mundial, harmonia e solidariedade para ajudar a construir uma sociedade forte, transparente e inclusiva.

É a primeira vez que o Fórum Mundial se realiza na América Latina.

Veja alguns sites relacionados ao assunto:

ONU- Habitat
www.unhabitat.org/wuf


Forum Social Urbano
www.forumsocialurbano.wordpress.com

Ministério das cidades
www.cidades.gov.br/wuf5

Frente Nacional de Prefeitos
www.fnp.org.br

Forum Nacional da Reforma Urbana
www.forumreformaurbana.org.br




Direito à cidade e Comunicação

A inclusão no Fórum Mundial do tema "Direito à Cidade" como principal foi uma conquista do FNRU (Fórum Nacional da Reforma Urbana) que, juntamente com outras redes nacionais e internacionais (COHERE, HIC, Habitat para a Humanidade, etc.) promoveu atividades dentro da programação oficial do evento citado. O FNRU é constituído por um grupo de organizações que atuam na construção de cidades mais justas, sustentáveis e democráticas e está organizado em todas as regiões do país, mobilizando pessoas e organizações com o objetivo de influenciar a transformação das cidades. A Reforma Urbana considera as noções política e cultural do direito à cidade extremamente importantes, sendo estas pontos de referência para as lutas das comunidades urbanas e para a garantia de que os territórios, a identidade histórica, a herança cultural sejam reconhecidos e protegidos. A noção política do Direito à Cidade envolve não apenas a garantia de um conjunto de direitos, mas também o direito de participar na gestão das cidades.

Para a africana Anna Tibaijuka, Segretária Geral Adjunta da ONU e Diretora-Executiva da ONU-Habitat, "quando falamos do direito à cidade, estamos falando de garantir que mulheres, homens, jovens e crianças tenham o mesmo acesso aos serviços básicos nas comunidades onde moram. Esses serviços básicos incluem acesso à água potável e saneamento adequado, para que as pessoas possam viver com dignidade em um ambiente sem doenças. O direito à cidade também significa níveis mínimos de segurança, para que as pessoas não vivam com medo constante de serem assaltadas ou roubadas. O direito à cidade também inclui energia e transporte público acessíveis para facilitar o acesso ao trabalho, à educação e ao lazer. O direito à cidade inclui o direito a uma moradia adequada e o direito das pessoas de participarem das decisões que afetam seus meios de vida. Finalmente, o direito à cidade se deveria traduzir em oportunidades iguais para que todos melhorem suas condições de vida e sua subsistência sem colcoar em risco os direitos das futuras gerações a fazerem o mesmo".

No Fórum Mundial foi realizada a Conferência Latino-Americana: Atualizando o Direito à Cidade, coordenada pelo COHRE (Centre on Housing Rights and Evictions, FNRU (Fórum Nacional da Reforma Urbana), HIC (Habitat International Coalition) e IAI (International Alliance of Inhabitats, como parte de uma estratégia global para o reconhecimento de movimentos e organizações sociais envolvidos na atualização do direito à cidade em todo o mundo.
A conferência apresentou experiências que, ao longo dos últimos 20 anos de lutas dos movimentos e organizações sociais, fizeram com que o direito à cidade fosse intoduzido na legislação e na implementação nas políticas públicas em diferentes países da região.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Escola Estadual monitora água

Um exemplo a ser seguido

Por Maria Lúcia Martins

A Escola José Martins da Costa monitora, desde 1999, a qualidade da água em 10 pontos em seu entorno, no Distrito Rural de São Pedro da Serra, Nova Friburgo. A iniciativa conquistou o primeiro lugar na categoria Ecologia, do Salão Estadual do Estudante no Rio de Janeiro, em 2006.

Segundo o professor de Biologia Laércio Azevedo, o Projeto de Monitoramento da Microbacia do Rio São Pedro segue o Plano Político e Pedagógico da escola, situada em zona rural e de interesse turístico, o que faz do meio ambiente um tema ainda mais importante para a vida local. O projeto, que tem caráter multidisciplinar e é feito pelos alunos da 8ª série junto com os professores, tem como principais objetivos: Contribuir para o efetivo desenvolvimento integral dos alunos; Produzir conhecimento sobre a realidade local; Promover a participação da comunidade escolar nas lutas comunitárias pela preservação ambiental e pela melhora da qualidade da vida na região dos 5º e 7º distritos (São Pedro da Serra e Lumiar).

A apresentação do Projeto explica que “a comunidade escolar chegou à conclusão de que é muito importante tomar consciência da qualidade da água, que hoje em dia está ficando escassa e se torna cada vez mais um problema global, levando muitos países à guerra pelo seu controle”.

O município de Nova Friburgo, de acordo com os dados do Projeto, tem o seu território cortado por inúmeros rios, entre eles se destacam: rio Grande; rio Cônego; rio Santo Antônio; rio Bengalas; e o rio Macaé. O rio Macaé nasce em Lumiar e atravessa esse distrito, tendo como afluentes os rios: Bonito, Flores e Boa Esperança — o córrego São Pedro é um afluente do Rio Boa Esperança —, banha terras de outros municípios e vai desaguar no oceano Atlântico. Suas águas abastecem uma população de cerca de 140.000 habitantes.

A Associação de Apoio à Escola do CEJMC – Centro Educacional José Martins da Costa participa do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Macaé, desde 2002, ocupando um assento do setor sociedade civil.

Como funciona o Projeto

Todos os anos a equipe de professores, Laércio e os professores de Matemática e Geografia fazem o levantamento de dados, a tabulação destes, o estudo aprofundado da questão do ambiente, com foco local, e a coleta, feita uma vez por ano. A água coletada segue para análise externa, já que a Escola ainda não conseguiu montar um laboratório para este fim, por falta de recursos financeiros. Os alunos costumavam recolher dinheiro para custear a análise da água junto à comunidade, recorrendo inclusive a rifas. Em um ou outro ano, a análise foi feita por apoiadores, como o Instituto Politécnico e a companhia de água local, em 2006.

A prática do Projeto envolve os alunos do último ano do Segundo Grau, que se encarregam de passar a sua experiência junto com os professores para a turma que está se formando no Ensino Fundamental. Apesar do interesse demonstrado pelos alunos, o Projeto vem enfrentando dificuldades conjunturais para a sua execução completa, pois a coleta e a análise são fundamentais ao processo e faltam os meios para tanto. Parte significativa dos jovens alunos ajudam suas famílias nas tarefas diárias, e alguns dos mais velhos trabalham durante o dia, sobrando pouco tempo para o empenho em arrecadar os recursos necessários à análise da água. Há 22 anos lecionando em São Pedro da Serra, Laércio fala da importância da participação dos professores de outras matérias e do processo de conscientização ambiental que o Projeto gera. A Escola tem convênios com a UERJ-Universidade Estadual do Rio de Janeiro, nos campos de Nova Friburgo e de São Gonçalo, para o Programa Jovens Talentos.

Resultados da análise

Os resultados são tabulados e a análise é apresentada também em gráficos e pequenos textos, acompanhados do mapa dos pontos de coleta e da tabela de dados. "Os alunos aprendem os conceitos de potabilidade e balneabilidade e como medir estes fatores.

Para que a água seja potável, o nível de coliformes fecais e totais não deve passar de 0 (zero), mas se passar que seja o mínimo possível, para que a água seja balneável", diz o texto do Projeto.

O ponto 1 é o da torneira da Escola, que em 2006 foi o único que manteve a condição de água potável. No ponto 10, local de encontro entre o rio Boa Esperança e o rio São Pedro, segundo a análise do Projeto, entre 2005 e 2006 ocorreu uma grande diminuição de coliformes totais, mas um significativo aumento de coliformes fecais, não sendo a água potável (potabilidade) nem própria para banho (balneabilidade).Os outros pontos de coleta são: Poço do Bininho; Nascente da Bocaina dos Mafort; Cemitério; Ponte do Higino; Bocaina dos Blaudt; Nascente da Pedra Eller; Córrego da Tapera; Ponte estrada Manuel Knupp.

A conclusão apresentada em 2006 foi a seguinte: “Ao elaborarmos essas comparações, observamos que praticamente todos os rios e nascentes da região estão contaminados. Esse trabalho procura mostrar à sociedade a necessidade de nos conscientizarmos do mal que estamos causando aos nossos rios. Devemos mudar nossos comportamentos, parar de jogar os esgotos diretamente nos rios, e construir fossas nos imóveis. Além disso, precisamos urgentemente pressionar as autoridades competentes para que instalem um serviço de coleta e tratamento de esgoto em nossa região e uma eficiente fiscalização do meio ambiente”.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Água, um direito a ser preservado

Série Água (final)

Por Maria Lúcia Martins

Princípios da democracia da água

1- A água é um presente da natureza

Recebemos água livremente da natureza. Devemos à natureza a utilização dessa dádiva de acordo com as nossas necessidades de sobrevivência, mantê-la limpa e em quantidade adequada. Desvios que criam regiões áridas ou inundadas violam os princípios da democracia ecológica.

2- A água é essencial à vida

A água é a fonte da vida para todas as espécies. Todas as espécies e ecossistemas têm direitos a sua cota de água no planeta.

3- A vida está interconectada pela água

A água conecta todos os seres e todas as partes do planeta por meio do ciclo da água. Todos temos o dever de assegurar que nossas ações não causem dano a outras espécies e a outras pessoas.

4- A água tem de ser gratuita para as necessidades vitais

Já que a natureza nos dá água sem custo algum, comprá-la e vendê-la para obter lucro viola o nosso direito inerente a essa dádiva da natureza e priva os pobres dos seus direitos humanos.

5- A água é um recurso limitado e pode acabar

A água é algo limitado e passível de esgotamento, se utilizada de maneira não sustentável. O uso não sustentável inclui extrair mais água dos ecossistemas do que a natureza pode recarregar (não-sustentabilidade ecológica) e consumir mais do que a cota legítima de cada um, dado os direitos dos outros a uma cota justa (não-sustentabilidade social).

6- A água tem de ser conservada

Todos têm o dever de conservar a água e utilizá-la de modo sustentável, dentro dos limites justos e ecológicos.

7- A água é um bem comum

A água não é uma invenção humana. Não pode ser aprisionada e não tem limites. É, por sua própria natureza, um bem comum. Não pode ser possuída como propriedade privada e vendida como uma mercadoria.

8- Ninguém tem o direito de destruir

Ninguém tem o direito de utilizar os sistemas de água de forma excessiva, abusar deles, desperdiçá-los ou poluí-los. Licenças de poluição comercializáveis violam o princípio da utilização justa e sustentável.

9- A água não pode ser substituída

A água é intrinsecamente diferente de outras riquezas naturais e produtos. Ela não pode ser tratada como uma mercadoria.

* Série Água termina aqui. Amanhã (26/3), publicaremos um texto sobre o monitoramento da água em escola estadual.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Água, um direito a ser preservado

Série Água (parte 3)

Por Maria Lúcia Martins

Público e privado

Vandana Shiva nos relata que antes da chegada dos britânicos ao sul da Índia, comunidades geriam sistemas de água coletivamente por meio de um sistema chamado kudimaramath (auto-reparo). Antes do advento da legislação corporativa por parte da East Índia Company, no século 18, um camponês pagava a um fundo público trezentas mil unidades de grão que ganhasse e duzentas e cinquenta dessas unidades ficavam no povoado para a manutenção das provisões comuns e dos trabalhos públicos. Em 1830, os pagamentos dos camponeses elevaram-se a 650 unidades, das quais quinhentas e quarenta iam direto para a East India Company. Como resultado, houve aumento do pagamento e da perda de receita de manutenção os camponeses e as provisões comuns foram destruídas.
Cerca de trezentos mil reservatórios de água construídos durante séculos na Índia pré-britânica foram destruídos, afetando a produtividade agrícola e a renda dos agricultores.

A East India Company foi expulsa pelo primeiro movimento de pela independência em 1857. Em 1858, os britânicos aprovaram a Lei do Trabalho Compulsório de Madras, popularmente conhecida como a Lei Kudimaramath, determinando que os camponeses fornecessem mão-de-obra para a manutenção dos sistemas de água e irrigação. Pelo fato de o kudimaramath ser baseado na autogestão e não na coerção, a lei fracassou em mobilizar a participação da comunidade na reconstrução de provisões comuns.

Comunidades autogeridas não foram apenas uma realidade histórica, elas são um fato contemporâneo. Interferência estatal e privatização não as destruíram inteiramente. Em levantamento de nivel nacional, que cobriu distritos nas regiões tropicais secas em sete estados, N.S. Jodha chegou à conclusão de que as necessidades de combustível e forragem mais básicas dos pobres de toda a Índia continuam a ser supridas a partir de recursos vindos de propriedades públicas.

Podemos ver as semelhanças da experiência da Índia com o Brasil, onde o aumento de tarifas continua ao longo do processo de privatização de nossa água, e os preços crescentes excluem os pobres. Também tivemos e ainda temos no país, em pontos do interior, a autogestão dos recursos hídricos por comunidades. Mas, gradativamente, a autogestão foi substituída pelas companhias públicas e, hoje, por empresas privadas em boa parte vinculadas a grandes corporações transnacionais.

Situação no Brasil

A participação das empresas privadas vem crescendo cada vez mais dentro setor de saneamento básico brasileiro, que envolve tratamento de água e esgoto, e atualmente depende, essencialmente, das companhias públicas, municipais e estaduais. Algumas empresas que atuam no país são vinculadas à grandes corporações, mas esta vinculação nem sempre está explicita nos sites destas empresas.

Os dados da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, feita pelo IBGE revelam que o percentual de domicílios ligados à rede de esgoto permanece subindo: de 51,1% (2007) para 52,5% (2008). No entanto, a proporção de domicílios ligados à rede de esgoto cai na região Norte. Em 2008, o Brasil tinha 30,2 milhões domicílios ligados à rede de esgoto, uma participação 1,4 ponto percentual maior que em 2007. O Norte, mesmo tendo a menor parcela (9,5%) de domicílios com esse serviço, teve redução de 0,5 ponto percentual, não mantendo o crescimento ocorrido entre 2006 e 2007. Nessa região cresceu 5,5 pontos percentuais a proporção de domicílios com fossa séptica (mais 308 mil). O Norte ainda possuía 1,6 milhão de domicílios sem rede coletora ou fossa séptica. O percentual de domicílios atendidos por rede geral de abastecimento de água (83,9%) também manteve-se em crescimento: mais 0,7 ponto percentual ou 1,9 milhão de unidades em relação a 2007. No Nordeste, o acréscimo foi de 2,3 pontos percentuais, ou mais 770 mil domicílios. Após alta de 0,6 ponto percentual em relação a 2007, 87,9% (50,6 milhões) dos domicílios passaram a contar com coleta de lixo. Houve altas em todas as regiões.
Os serviços de saneamento básico estão concentrados em regiões mais populosas e de maior atividade econômica. No país, os 10% de trabalhadores mais bem remunerados detêm 42,7% dos rendimentos, percentual que segue indicando a forte desigualdade da distribuição dos rendimentos, apesar de ligeiramente inferior ao de 2007 (43,3%). Em suma, poucos podem pagar pela água, e os preços praticados após a privatização, em várias partes do mundo, se elevam. No Brasil não tem sido diferente.
Em 2006, um projeto pioneiro surgiu na área de conservação da água, fundamental para uma mudança no tratamento da questão ambiental no meio rural. O piloto do projeto chamado de Produtores de Água foi desenvolvido nas bacias do rio Piracicaba, Capivari e Jundiaí, em áreas integrantes do Sistema Cantareira, prioritárias para a produção de água. Implementado por subbacias o Produtor de Água prevê apoio técnico e financeiro à execução de ações de conservação de água e solo, como a construção de terraços e bacias de infiltração, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal, o saneamento ambiental, etc. Prevê também o pagamento de incentivos (compensação financeira e outros) aos produtores rurais que, comprovadamente, contribuírem para a proteção e a recuperação de mananciais, gerando benefícios para a bacia e sua população. A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação parcial ou total das ações e práticas conservacionistas, previamente contratadas. E os valores a serem pagos aos produtores são calculados em fuçnão dos resultados: abatimento da erosão e da sedimentação, redução da poluição difusa e aumento da infiltração de água no solo. O produtor rural participa ativamente do processo, assumindo os papéis de fiscal, executor e mantenedor das ações. O Estado do Rio de Janeiro já adotou o projeto de Produtores de Água.

Guerras por água

E seu livro Guerras por água, privatização, poluição e lucro, Vandana Shiva deixa claro que nem as leis internacionais sobre águas, nem as leis nacionais respondem adequadamente aos desafios políticos e ecológicos colocados pelos conflitos por água. Nenhum documento legal na legislação atual menciona a mais fundamental lei relacionada à água – a lei natural do ciclo da água.

Shiva descreve as Quatro teorias dos direitos à água: A teoria da soberania territorial; A teoria do fluxo da água; A teoria da divisão equitativa; e A teoria do interesse da comunidade, que guiaram as práticas de distribuição desse recurso em todo o mundo.

A teoria da soberania territorial de 1896, também conhecida como doutrina Harmon, sustenta que os estados ribeirinhos têm direitos exclusivos ou soberanos sobre as águas que fluem em seu território. Os países podem utilizar essas águas como bem entenderem, a despeito de infringirem direitos de outros estados ribeirinhos. Essa doutrina foi importante na disputa entre EUA e México sobre o rio Grande. A doutrina Harmon nunca conquistou aceitação completa porque viola o conceito de justiça. Mesmo países que se beneficiaram da regra concederam direitos aos usuários ribeirinhos inferiores.

A teoria do fluxo natural da água, também conhecida como teoria da integridade territorial, afirma que já que um rio é parte do território do estado, todo proprietário ribeirinho inferior tem direito ao fluxo natural desse rio, sem ser tolhidos pelos proprietários ribeirinhos superiores. O proprietário ribeirinho superior
deve permitir que a água flua no seu curso natural para o proprietário ribeirinho inferior no seu canal comum com utilização razoável da parte do proprietário ribeirinho superior. Este princípio deriva das leis britânicas de propriedade privada e aplicava-se à água num estado unitário.

As teorias de uso equitativo e interesse comunitário têm grande semelhança. O uso equitativo sustenta que os rios internacionais deveriam ser utilizados por estados diferentes em base justa. Nos anos recentes, a teoria da utilização equitativa ganhou aceitação internacional. As Regras de Helsinque sobre o Uso das Águas dos Rios Internacionais, adotadas em 1966, reconheceram que os estados têm direito a uma parte razoável e equitativa no uso benefício das águas de uma bacia de drenagem internacional. Estas regras derrubaram aquelas do oeste norte-americano e estabeleceram que uma utilização existente possa ter que dar lugar a uma nova utilização para uma distribuição equitativa.

Apesar de popular, a teoria da distribuição equitativa esbarra no conceito de "distribuição equitativa". O critério equitativo, utilizado para resolver conflitos interestatais, não se presta a uma articulação precisa; dividir um rio não é tarefa das mais fáceis. O princípio subjacente do rateio equitativo é a equidade, não a igualdade. utilidade equitativa é definida como o máximo de benefício provido a todos os estados ribeirinhos, levando em consideração suas diferentes necessidades econômicas

A necessidade atual é combinar ecologia com equidade e sustentabilidade com justiça.

A existência de princípios internacionais, como as Regras de Hesinque e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito Referente ao Uso dos Cursos d Água internacionais para Fins outros que a Navegação, não garante, necessariamente, a justiça. Cada bacia é tão distinta que uma abordagem monolítica do uso da água seria inviável.

A questão dos direitos de alocação da água não se dá apenas como uma questão de equilíbrio entre a soberania territorial e os direitos ribeirinhos; projetos de água também têm um forte impacto ecológico, e os custos são distribuídos de maneira desigual entre estados e entre grupos sociais. Apesar do fluxo natural não ser um critério absoluto, a conservação deve ser um critério para determinar o uso sustentável. A perspectiva ecológica também ajuda a corrigir a visão de que a água conservada é água desperdiçada. As ligações ecológicas entre a água da superfície e os lençóis freáticos e entre a água doce e a vida nos oceanos não foram observadas nem no gerenciamento das fontes, nem nos arcabouços legais.

"As guerras por água são guerras paradigmáticas – conflitos sobre como percebemos e experimentamos a água – e guerras tradicionais, travadas com revólveres e granadas. Estes choques entre culturas da água estão ocorrendo em todas as sociedades. A cultura da mercantilização está em guerra com diversas culturas de compartilhamento, de receber e dar água gratuitamente", define Vandana Shiva. Guerras paradigmáticas, explica, porque ocorrem em todas as sociedades de leste a oeste, de norte a sul. Neste sentido, guerras por água são guerras globais, com culturas e ecossistemas diferentes, compartilhando a ética universal da água como uma necessidade ecológica, em oposição a uma cultura corporativa de privatização, ganância e o cerco das águas públicas. Num dos lados dessas disputas estão milhões de espécies e bilhões de pessoas que buscam água suficiente para sua manutenção. Do outro lado, está um punhado de corporações globais, dominadas pela Suez Lyonnaise des Eaux, Vivendi Environment (Veloia) e Betchel, a OMC, o FMI e os governos do G7. Muitos conflitos políticos por recursos naturais, no entanto, são escondidos ou sufocados. Aqueles que controlam o poder preferem mascarar as guerras por água como conflitos étnicos e religiosos. Tais deturpações de guerras por água desviam a energia política necessária para soluções justas e sustentáveis sobre a partilha da água. Algo similar aconteceu com os conflitos por terra e água entre palestinos e israelenses.

Vandana Shiva argumenta que "a ecologia do terror nos mostra o caminho para a paz. A paz está em alimentarmos a democracia econômica e ecológica e em nutrirmos a diversidade. Democracia não é apenas um ritual eleitoral, mas o poder para as pessoas moldarem seu destino, determinarem como seus recursos naturais são possuídos e utilizados, como sua sede é saciada, como sua comida é produzida e distribuída e que sistemas de saúde e educação elas têm.

Criar a paz, ela assinala, exige que resolvamos as guerras por água, guerras por comida, guerras por biodiversidade e guerras pela atmosfera. Como Gandhi
disse uma vez: "A Terra tem o suficiente para a necessidade de todos, mas não para a ganância de alguns poucos".

* Série Água continua amanhã (25/3) com o seguinte tema: Princípios da democracia da água.

terça-feira, 23 de março de 2010

Água, um direito a ser preservado

Série Água (parte 2)

Por Maria Lúcia Martins

Economia caubói

Vandana Shiva classifica como "economia caubói" o que aconteceu nos campos de mineração do oeste norte-americano. A noção caubói da propriedade privada e a lei da apropriação - Qui prior est in tempore, potior est in jure (Aquele que é o primeiro no tempo, é o primeiro no direito) - surgiu ali, estabeleceu direitos à propriedade absolutos, incluindo o direito a vender e comercializar água. E ela segue: "O sentimento caubói de que ‘poder é direito’ permitiu que os economicamente poderosos investissem em meios de apropriação de água de capital intensivo, a despeito das necessidades dos outros e dos limites dos sistemas de água. Essa fronteira lógica conferiu ao primeiro apropriador um direito exclusivo à água. A versão contemporânea da economia caubói, compara Shiva, é a investida para privatizar as fontes públicas de água. "Apresentando-se como um mercado anônimo, os ricos e poderosos usam o Estado para se apropriarem de água da natureza e das pessoas por meio da doutrina da apropriação prévia. Grupos de interesse privado ignoram sistematicamente a opção de controle comunitário sobre a água".

O tratado sobre a propriedade de John Locke legitimou efetivamente o roubo das terras comunitárias feudais do século 17. "Sempre que ele [o homem] tira um objeto do estado em que a natureza colocou e mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe pertence, torna-o assim sua propriedade". A liberdade individual era dependente da liberdade de possuir, através do trabalho, a terra, as florestas, os rios. O tratado sobre a propriedade de Locke continua a instruir teorias e práticas que corroem provisões comuns e destroem a Terra. Shiva assinala que, em termos contemporâneos, a privatização da água está baseada no artigo Tragedy of the Commons, de Garret Hardin, publicado pela primeira vez em 1968. "Hardin supõe que as terras comunitárias eram socialmente incontroladas, sistemas de acesso restrito sem qualquer conceito de posse. E Hardin vê a ausência de propriedade privada como uma receita para a ilegalidade", diz ela.

Direito à água potável e conservação

Além do Estado e do mercado, encontra-se o poder de participação da comunidade. É neste poder que se apóiam os inúmeros movimentos pelo direito à água.

Vandana Shiva afirma que "um arcabouço legal coerente para uma política justa e sustentável de uso da água poderá surgir apenas quando houver um diálogo entre o movimento contra as represas, o movimento contra os riscos ecológicos da irrigação intensiva e o movimento pelos direitos à água. A chave para ligar esses movimentos é a perspectiva ecológica, que conecta a água a suas várias funções nas bacias dos rios. Um paradigma ecológico permite uma auditoria dos projetos de água, expõe os custos escondidos de tais projetos e propõe uma alternativa para a alocação de recursos".

"O comércio de licenças de poluição viola a democracia ecológica e o direito das pessoas à água limpa por vários motivos", afirma Shiva. "Ele muda o papel dos governos de protetores dos direitos das pessoas à água para advogados dos direitos dos poluidores. Governos adotam papéis regulatórios que são anti-humanos e pró-indústrias poluidoras. Empresas tentaram reintroduzir o direto a poluir através de esforços por baixo do pano, como direitos de comercialização de produção ou licenças de comercialização de emissões de poluentes (TDPs). TDPs excluem não-poluidores e cidadãos comuns de um papel democrático ativo no controle da poluição, já que o comércio da poluição está restrito às indústrias poluidoras.

Shiva analisa que conforme as novas tecnologias substituem os sistemas de autoadministração, as estruturas de controle democráticas do povo se deterioram
e seu papel na conservação diminui. Para manter suas atividades, poluidores criaram mercados "da poluição", pagam para poluir, quando poderiam mitigar a poluição de suas atividades e mesmo evitá-la.

Sistemas de água tradicionais baseados em gestão local eram um seguro contra a escassez de água em regiões propensas à seca e instituições locais de gestão de água incluíam associações de agricultores, funcionários de irrigação local, técnicos da irrigação local, as associações de água dos povoados e o sistema de trabalho comunitário, mantido por contribuições de cada família.

Manipulação da água

Segundo Shiva, diz-se que um país enfrenta uma crise de água grave quando a água disponível é menor que mil metros cúbicos por habitante por ano. Abaixo desse ponto, a saúde e o desenvolvimento econômico de uma nação são dificultados consideravelmente. Quando a disponibilidade anual de água por habitante cai abaixo de quinhentos metros cúbicos/ano, compromete-se cruelmente a sobrevivência da população. Desde 1970, o suprimento da água global per capita diminuiu em 33% . O declínio não resulta apenas do aumento populacional, mas é agravado também pelo uso excessivo de água. Durante o último século, a taxa de retirada de água excedeu a do crescimento populacional pelo fator de 2,5.

Infelizmente, ela comenta, a globalização está revertendo os resultados das vitórias democráticas e ecológicas dos anos 1980. Falando da Índia, ela revela que a mineração está se alastrando em áreas mais vulneráveis, incluindo o Rajasthan. A tecnologia tribal não destruiu os rios e montanhas como a indústria de mineração destrói e as atividades de mineração da Balco não estão baseadas nas necessidades do povo indiano - são totalmente dirigidas pela demanda dos países industrializados cujas plantas fabris de alumínio estão fechando por razões ambientais.

Sobre a Revolução Verde, a ativista aponta os custos os custos sociais ecológicos que foram amplamente ignorados. Por sua ênfase em sementes de alta produtividade, explica Vandana, esse modelo agrícola removeu variedades locais de colheitas resistentes à seca e as substituíram por plantações que necessitam de água em abundância. A Revolução Verde, com seu uso intensivo de água, levou à extração de água em áreas onde este recurso é escasso. Antes da Revolução Verde, a água do solo era acessada por meio de tecnologias de irrigação protetoras e nativas. No entanto, essas tecnologias, que dependiam da energia humana ou animal renovável foram classificados como "ineficientes" e substituídos por motores movidos a óleo e bombas elétricas que extraíam água numa velocidade maior do que os ciclos da natureza podiam reabastecer os lençóis freáticos.

Projetos de desenvolvimento na árida África subsaariana foram fundamentais para a fome dos as 1970 e 1980. Acreditava-se que a escavação de poços fosse o melhor mecanismo para as regiões pastoris em desenvolvimento. A prática pastoril de mudar o gado para locais diferentes foi destruída com a introdução dos poços movidos a energia elétrica. O novos poços forneciam mais água do que os pastores precisavam e encorajava seu estabelecimento em uma localidade, aumentando a pressão pastoril sobre a terra. Com efeito, pastores que se estabeleceram nessas localidades pioraram o problema da desertificação; esta mudança no comportamento dos criadores ignorou tradições centenárias que asseguravam a sobrevivência sob condições de baixa disponibilidade de água.

Projetos de água gigantes, na maioria dos casos, beneficiam os poderosos e despojam os fracos.Até mesmo quando tais projetos são financiados com recursos públicos, seus beneficiários são principalmente construtoras, indústrias e grandes agricultores. Enquanto a privatização é em geral colocada sob a perspectiva do desaparecimento do Estado, o que vemos de fato é a intervenção crescente do Estado na política de Águas, subvertendo o controle comunitário das reservas desse recurso. Políticas impostas pelo Banco Mundial e por regras de liberalização do comércio desenvolvidas pela OMC-Organização Mundial do Comércio estão criando uma vasta cultura de estados corporações por todo o mundo.

* Série Água continua amanhã (24/3) com os seguintes temas: Público e privado; Situação no Brasil; e Guerras por água.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Água, um direito a ser preservado

"Ao longo da história e por todo mundo, os direitos da água foram moldados tanto pelos limites dos ecossistemas como pela necessidade das pessoas. A água tem sido tratada tradicionalmente como um direito natural –um direito que nasce da natureza humana – das condições históricas, das necessidades básicas ou de noções de justiça. Os direito à água como os direitos naturais não se originam com o Estado; eles surgem de um dado contexto ecológico da existência humana. Assim como os direitos naturais, os direitos á água são direitos usufrutários; a água pode ser usada, mas não possuída. As pessoas têm direito à vida e aos recursos que a sustentam, como a água." Vandana Shiva

* Por Maria Lúcia Martins
Este texto faz parte de uma série que a equipe do blog publica nesta semana da água,que começa hoje, Dia Internacional da Água

Em março de 2000, as corporações que lucram com a água doce do Planeta Terra conseguiram que a água fosse definida como uma mercadoria no segundo Fórum Mundial de Água, em Haia. Representantes de governos, em reunião paralela, não fizeram absolutamente nada para atacar com eficácia a declaração. Em vez disso, os governos ajudaram a pavimentar o caminho para as corporações privadas lucrarem com a venda da água. Desde então, algumas corporações transnacionais, apoiadas pelo Banco Mundial e pelo FMI-Fundo Monetário Internacional estão ofensivamente assumindo a administração dos serviços públicos de água.

No mês de julho do ano seguinte, para fazer frente à ofensiva das grandes corporações, 800 delegados, de 35 países, reunidos na Cúpula da Água para Pessoas e Natureza firmaram o "Tratado para Compartilhar e Proteger a Água, o Bem Comum do Planeta". O Tratado declara que “a água doce não será privatizada, comercializada ou explorada para propósitos comerciais e deve ser imediatamente isenta de todo acordo bilateral e internacional e de acordos de investimentos existentes e futuros”. Esta disposição se contrapõe à conduta dos acordos, e as corporações vêm avançando sobre os mananciais e sobre os setores onde a água é matéria industrial como o de energia, bem como sobre os meios de comunicação, para que as notícias sobre estes fatos sejam editadas conforme os interesses dos grandes grupos econômicos. Inúmeros movimentos, em todo o mundo, se organizam para lutar pela conservação da água e por manter a água como um direito.

As estimativas são de que por volta de 2025, a menos que haja uma mudança de comportamento, entre ½ a 2/3 da humanidade estará vivendo com severa escassez de água doce.

Globalização e escassez


Na maior parte das comunidades nativas, o controle e os direitos coletivos sobre a água foram a chave para a conservação e o recolhimento desse recurso. Ao criar regras e limites para o uso da água, o controle coletivo garantiu sustentabilidade e equidade. Com o advento da globalização, entretanto, controle comunitário da água está sendo corroído e a exploração privada está tomando o controle. Na Índia, como conta Vandana Shiva, sistemas tradicionais de renovação da água estão, agora, em decadência. Num estudo com 152 povoados que utilizam sistemas de recolhimento de água tradicionais, 79 estavam secos ou poluídos. Na região de Mankund, os mil poços artesianos introduzidos secaram as fontes tradicionais de água."A água está disponível apenas se as fontes de água são renovadas e usadas dentro dos limites da sua capacidade de renovação. Quando a filosofia do desenvolvimento corrói o controle comunitário e, em vez disso, promove tecnologias que violam o ciclo da água, a escassez é inevitável", alerta ela.

Nos anos 1970 e 1980, o Banco Mundial e outras agências de fomento concentraram-se em tecnologias desastrosas de abastecimento de água. Desde a década de 1990, essas agências têm insistido agressivamente na privatização e na distribuição de água baseada em critérios de mercado, os quais já prometem ter resultados igualmente catastróficos.

Vandana acrescenta que "pressuposições reducionistas sobre o desenvolvimento da água defendem que, quando se trata de utilizar recursos naturais, a natureza é deficiente e as tradições das pessoas são ineficientes. No entanto, zonas ecológicas diferentes têm sido a base de culturas e economias variadas. As zonas áridas diferentes têm sido usadas para pastoreio de forma sustentável e as zonas semi-áridas têm sido usadas para a lavoura seca com irrigação suplementar".

Democracia ecológica e direitos à água

Todos concordam que o mundo está enfrentando uma crise séria de água, constata Shiva e adverte: "há, no entanto, dois paradigmas conflitantes para explicar a crise da água: o paradigma do mercado e o paradigma ecológico. O paradigma de mercado enxerga a escassez de água como uma crise que resulta da ausência de comércio de água. Se a água pudesse ser transportada e distribuída livremente por meio de mercados livres, é o que sustenta esse paradigma, ela seria transferida para regiões de escassez e preços mais elevados levariam à conservação desse recurso. Pressuposições de mercado são cegas aos limites ecológicos impostos pelo ciclo da água e aos limites econômicos impostos pela pobreza. A superexploração da água e a ruptura de seu ciclo criam uma escassez absoluta que os mercados não podem substituir com outras mercadorias. A pressuposição da substituição é, de fato, central na lógica da comoditização".

Shiva destaca que "mais do que qualquer outro recurso, a água precisa permanecer como um bem comum e necessita do gerenciamento comunitário. Com efeito, na maioria das sociedades, a propriedade privada da água foi proibida. Textos antigos, como o Código Justiniano, mostram que a água e os recursos naturais são bens públicos: "Pela lei da natureza essas coisas são comuns à humanidade - o ar, a água corrente, o mar e consequentemente o litoral [Código Justiniano 2,1.1].”

Os direitos comunitários são necessários tanto para a ecologia quanto para a democracia. Controle burocrático por parte de agências externas e distantes e controle de mercado por conta de interesses comerciais e por corporações desestimulam a conservação. Comunidades locais não conservam a água se as agências externas - burocráticas ou comerciais - são as únicas beneficiárias de seus esforços e recursos.

Shiva é categórica: "preços mais altos sob condições de livre mercado não levarão à conservação". Por causa das enormes desigualdades econômicas, há uma grande possibilidade de que os economicamente poderosos desperdiçarão água, enquanto os pobres pagarão o preço por esse desperdício. Diretos comunitários são um imperativo democrático - eles mantêm os estados e interesses comerciais responsáveis pelo que acontece e defendem os direitos das pessoas à água, sob a forma da democracia descentralizada, considera a ativista.

A conservação não interessa aos grandes exploradores, pois pode manter e prover recursos hídricos locais e mesmo regionais que dispensam grandes obras e/ou grandes projetos de tratamento. Para as corporações, quanto maior a escassez, maior a oportunidade de novos negócios e também maior o preço da água, na torneira ou na garrafa.

domingo, 21 de março de 2010

O Brasil é o maior ''exportador'' de água virtual do mundo. Entrevista especial com John Anthony Allan

Por Graziela Wolfart

“A forma como usamos a terra e os recursos hídricos no passado negligenciava os impactos ambientais impostos pela agricultura intensiva. Esses custos não se refletem nos preços das commodities alimentícias vendidas e compradas internacionalmente, e nem mesmo nos preços dos alimentos no mercado interno. O Brasil não deveria correr para satisfazer a demanda global por sua água, colocando commodities no mercado mundial a preços que impossibilitem que o ambiente das terras e dos recursos hídricos do Brasil seja usado de modo sustentável”. Essas são as palavras do cientista britânico John Anthony Allan, escritas por ele na entrevista que aceitou conceder, por e-mail. Conhecido no mundo inteiro por ter criado o conceito de água virtual, explicado a seguir, Tony Allan identifica que as grandes economias de água podem ser feitas no setor agrícola, onde os volumes de água usados são vastos. “Os agricultores tomam conta de toda a água verde. Junto com os engenheiros, eles tomam conta de toda a água azul usada na agricultura irrigada. Junto, isto representa 80% da água usada no mundo inteiro. Os agricultores detêm a chave para a segurança da água – especialmente no Brasil”, alerta.

John Anthony Allan é professor no King’s College de Londres e na Escola de Estudos Orientais e Africanos. Pioneiro em conceitos chave para a compreensão e a divulgação das questões referentes à problemática da água e à sua conexão com a agricultura, as mudanças climáticas, a economia e a política, Tony Allan foi laureado com o “Prêmio da Água de Estocolmo 2008” (2008 Stockholm Water Prize).

Confira a entrevista.

O senhor pode explicar o conceito de “água virtual”? Como fazer o cálculo de quanto cada produto consume de água?

John Anthony Allan - Os alimentos e outras commodities necessitam de água para serem produzidos. As commodities alimentícias possuem um teor de água particularmente grande. Por exemplo, as seguintes quantidades de água são necessárias para produzir 1 quilo de:

Trigo: 1.300 litros
Milho: 900
Arroz: 3.400
Carne de frango: 3.900
Carne de porco: 4.800
Carne de ovelha: 6.100
Carne de gado: 15.500
Algodão: 11.000

Ou a seguinte quantidade de litros de água é necessária para produzir 1 unidade dos seguintes produtos:

Um litro de leite: 1.000 litros
Uma xícara de chá: 30
Uma xícara de café: 140
Uma folha de papel: 10
Uma fatia de pão: 40
Uma maçã: 70
Uma camiseta: 2.700

A água embutida nisso é chamada de água virtual.

Quando uma commodity é exportada de um país para outro, o país importador se torna seguro em termos de água e alimentos contanto que tenha uma economia que seja diversificada, e as pessoas tenham meios de vida que lhes possibilitem comprar alimentos importados. Das 210 economias existentes no mundo, ao menos 160 são economias “importadoras” de água virtual. Há apenas cerca de 10 economias que têm um excedente de água significativo que pode ser “exportado” em forma virtual. Esses países incluem os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, Argentina e França. O Brasil é, em potencial, o maior “exportador” de água virtual do mundo.

Quais as maiores consequências ambientais para um país como o Brasil, a partir desta consideração de ser o maior exportador de água virtual do mundo?

John Anthony Allan - A forma como usamos a terra e os recursos hídricos no passado negligenciava os impactos ambientais impostos pela agricultura intensiva. Esses custos não se refletem nos preços das commodities alimentícias vendidas e compradas internacionalmente, e nem mesmo nos preços dos alimentos no mercado interno. O Brasil não deveria correr para satisfazer a demanda global por sua água, colocando commodities no mercado mundial a preços que impossibilitem que o ambiente das terras e dos recursos hídricos do Brasil seja usado de modo sustentável.

Como podemos fazer para que essa “água virtual” seja contabilizada e informada para os consumidores? O senhor acredita que isso ajudaria na questão da economia da água?

John Anthony Allan - Será muito difícil fazer com que o valor da água usada na produção de alimentos de origem vegetal e de carne se reflita no preço dos alimentos. Nem os agricultores que produzem as commodities, nem os comerciantes que as tornam disponíveis nas economias importadoras de alimentos, nem seus clientes e consumidores estão conscientes do teor de água embutida nelas e de seu valor. É improvável que a regulamentação cause algum impacto porque os números sobre o teor de água são muito imprecisos e podem ser facilmente questionados. Educar os consumidores é uma forma mais provável de mudar seu comportamento e sua forma de consumo. Os desafios políticos são imensos, especialmente numa economia de mercado.

Qual a importância de se divulgar a “pegada da água” e que tipo de ações deve ser pensado como resposta aos resultados apresentados por essa “água virtual”?

John Anthony Allan - O conceito de “pegada de água” é uma forma muito eficaz de contribuir para conscientizar os agricultores, negociantes, supermercados e consumidores a respeito do teor de água das commodities que eles produzem, vendem ou compram e consomem. A comparação da pegada de água de uma dieta pesada à base de carne de gado que consome 5 m3 de água por dia com a de um vegetariano que consome 2,5 m3 de água por dia apresenta um resultado crasso. Tem-se mostrado que uma dieta pesada à base de carne de gado e outros produtos de origem animal é muito ruim para a saúde de um indivíduo. Ela também é muito ruim para o meio ambiente aquático.

De que forma o tratamento de esgotos contribui para a economia da água? Quanto se gasta de água para fazer um saneamento básico de qualidade?

John Anthony Allan - A maior parte da água é usada para produzir alimentos. Mais de 80% da água que um indivíduo ou uma economia necessita são usados na produção de alimentos. 70% dessa água é água verde – ou seja, água proveniente de chuva que é retida no solo. A maior parte da produção agrícola do Brasil vem dessa água que está no solo. Os outros 30% são constituídos de água azul ou água doce. A água doce vem dos rios e do lençol freático. A água que usamos em casa e para trabalhos que não a agricultura corresponde a entre 10 e 20% da água de que um indivíduo ou uma economia necessita. A proporção depende de quão industrializada é a economia e de quão elevado é o padrão de vida. Os efluentes líquidos e o esgoto são gerados pelo uso doméstico e industrial de água. Mediante um investimento considerável, os efluentes podem ser reutilizados. Mas é preciso lembrar que esses efluentes são sempre uma pequena proporção do total de água de que a sociedade necessita. É cada vez mais possível e apropriado que as economias avançadas invistam na reutilização de efluentes. Mas a decisão política de alocar verbas para investir no tratamento de efluentes urbanos tem de ser ponderada levando em conta o valor do investimento em outros setores, como educação, saúde, comunicações, energia etc. As grandes economias de água podem ser feitas no setor agrícola, onde os volumes de água usados são vastos. Os agricultores tomam conta de toda a água verde. Ao lado com os engenheiros, eles tomam conta de toda a água azul usada na agricultura irrigada. Junto, isto representa 80% da água usada no mundo inteiro. Os agricultores detêm a chave para a segurança da água – especialmente no Brasil.


Tradução é de Luís Marcos Sander.


Fonte: MST / IHU Online.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Blog da reforma agrária já está no ar

Estreou na última quinta-feira, dia 18, o blog da rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais. Está foi uma das decisões da reunião de montagem da rede, que ocorreu na semana passada na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e que teve a presença de cerca de 100 pessoas, entre jornalistas, radialistas, blogueiros, estudantes e radiodifusores comunitários.

O endereço é http://www.reformaagraria.blog.br/

Um dos objetivos editoriais do blog é acompanhar os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), instalada no final do ano passado por imposição da bancada ruralista que visa criminalizar os lutam por terra no país. A nova página também servirá para divulgar experiências bem sucedidas de reforma agrária, de assentamentos rurais e de agricultura familiar, que a mídia privada omite. Ela terá sessões fixas, como o raio-x do latifúndio, impactos do agronegócio, quem apóia a reforma agrária, entre outras.

O blog pretende ser um ponto de referência para outros sítios, blogs e publicações que tratam deste tema. Ele é aberto à colaboração de todos os que entendem a urgência da reforma agrária e que não aceitam a criminalização da luta pela terra promovida pelos latifundiários do campo e da mídia. Para aderir à rede de comunicadores basta acessar a página e fazer o cadastro. Contribua com textos, fotos, vídeos.

Os responsáveis pelo blog são os signatários do manifesto de criação da rede. Reproduzo o manifesto abaixo:

Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.

A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.

Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.

Trata-se de grave distorção.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...

A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.

Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.

A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.

Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.

Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.

Secretaria Geral
Escritório Nacional do MST/RJ

A crise da imprensa é ética

Emir Sader

Chovem os artigos na imprensa internacional sobre a crise da imprensa, enquanto crescente numero de jornais fecham, despedem jornalistas, diminuem suas tiragens. Os diagnósticos, ao serem feitos, em grande medida por pessoal ligado a essa imprensa, não conseguem sair do rame rame usual: a difusão da internet grátis, dos jornais grátis, etc., etc., seriam os responsáveis. Será?

Mas um artigo, desta vez da prestigiosa publicação norteamericana The Nation ? ?How to save jornalism??, de John Nichols e Robert W. McChesney, de 25 de janeiro deste ano - aponta para um diagnóstico um pouco diferente. Em primeiro lugar, classifica o jornalismo como um ?bem público?, considerando que deveria ser considerado da mesma forma que se considera a educação, saúde pública, o transporte, a infra estrutura.

Considerado dessa maneira, o fato de ser financiado por publicidade já desvia ou deforma esse caráter público, porque a publicidade visa interesses privados, venda de mercadorias, prestação de serviços na esfera privada. Essa concepção remeteria ao tema do financiamento público da imprensa.

Quanto ao diagnostico que aponta para a difusão da internet, os autores recordam que a crise começou muito antes, já nos anos 1970, apontando para a busca de maximização dos lucros pelas grandes corporações, que foram tornando as mídias empresas como outras quaisquer de seu imenso leque de investimentos, tendo como resultado, entre outros, a diminuição da qualidade e a banalização do jornalismo, cada vez mais longe de ser um bem público.

As propostas atuais de tentativa de superação da crise financeira, apontam normalmente para o pagamento das páginas de internet, dado que a publicidade nestas representa um ganho de 10% do que se perde nas publicações impressas. No entanto, apenas um que outro jornal que acredita na sua capacidade de manter audiência sendo pago ? como o The Wall Street Journal ? se arriscam nessa direção. Ainda assim é duvidoso que possam arrecadar uma proporção minimamente significativa do que perdem com a diminuição da tiragem e, principalmente, com a retração da publicidade, canalizada para outros meios.

Na realidade a crise da imprensa é a da perda de credibilidade, é uma crise ética, de sua transformação em um instrumento da publicidade, do ponto de vista econômico, e da sua constituição em mentor político e ideológico da direita. Os dados, publicados recentemente, demonstram como todos os grandes jornais brasileiros perdem leitores, mas sobretudo perdem influência. Embora todos os maiores jornais e quase todas as revistas semanais ? à exceção da Carta Capital ? sejam de férrea oposição ao governo, este mantêm 83% de apoio e eles conseguem apenas 5% de rejeição do governo. Temos aí uma idéia da baixíssima produtividade desses órgãos de oposição.

Jornais progressistas como La Jornada, do México, Página 12, da Argentina, Público, da Espanha, que gozam de alta credibilidade, se consolidam e se expandem, tendo páginas abertas amplamente visitadas. Seu patrimônio é sua ética social, suas posições políticas democráticas, o espírito pluralista dos seus comentaristas, a originalidade da suas coberturas jornalísticas.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O futuro da mídia progressista nos Estados Unidos

Um novo livro destaca como a mídia progressista e independente chegou
a ter a maior influência de sua história nos Estados Unidos. Essa
mídia já alcança um público de milhões de pessoas todos os dias e está
decididamente mais influente do que nunca. Antigamente seria
considerado um grande sucesso se uma revista progressista obtivesse
mais de 200 mil assinantes por mês. Mas hoje há dúzias ou mais de
blogs, revistas e sites de notícias online, nos EUA, que têm mais de 1
milhão de leitores únicos por mês. O artigo é de Don Hazen.

Don Hazen - AlterNet

Enquanto o establishment jornalístico, e mesmo progressistas, como Bob
McChesney e John Nichols lutam pelo que resta do declínio dos anúncios
dirigidos ao jornalismo corporativo, os ativistas e jornalistas Tracy
Van Slike e Jessica Clark escolheram contar uma história diferente,
mais positiva, sobre o futuro da mídia nos EUA.

No seu livro "Além da Câmara de Eco: reformulando a Política através
das redes de mídia progressista" [Beyond the Echo Chamber: Reshaping
Politics Throug Networked Progressive Media] (New Press), os autores
nos levam a uma jornada pela relativamente recente (dos últimos 8 anos
para cá) surgimento da mídia progressista e independente. A conclusão
a que chegam é inegável: sob qualquer ponto de vista, o que conhecemos
por mídia progressista e netroots, alcança um público muito maior –
milhões de pessoas todos os dias - e está decididamente mais influente
do que nunca.

Antigamente seria considerado um grande sucesso se uma revista
progressista obtivesse mais de 200 mil assinantes por mês. Mas hoje há
dúzias ou mais de blogs, revistas e sites de notícias online que têm
mais de 1 milhão de leitores únicos por mês. A recém formada rede Ad
Progress www.adprogress.com, fundada por AlterNet [www.alternet.org],
The Nation [www.thenation.com] e Mother Jones [www.motherjones.com], a
qual se juntaram American Prospect [www.prospect.org], The New
Republic[www.tnr.com] e outros têm mais de um milhão de leitores. E, a
propósito, a mídia progressista não está em crise, principalmente
porque não depende de uma única fonte de receita – os anúncios -, como
acontece à mídia corporativa; em vez disso, é frequentemente
financiada por uma mistura de subvenções, doações de leitores, vendas
de anúncios e lista de parceiros do vasto setor do ativismo não
lucrativo.

Lideradas por fazedores de mídia criativa agressiva, como Robert
Greenwald, da Brave New Films, Markos Moulitsas do The Daily Kos, Jane
Hamsher do FireDogLake, John Byrne da Raw Story e Mark Karlin da
BuzzFlash, a nova mídia progressista usa uma série de estratégias e
táticas muitíssimo mais agressivas e orientadas para o ativismo do que
o pequeno universo das revistas impressas que dominaram a mídia
progressista por longo período (Heck, a Revista da The Nation, tem 145
anos).

Mas, antes que o establishment da mídia progressista se tornasse tão
convencido do seu papel, há ainda fraquezas maiores e nuvens negras no
horizonte. Clark e Van Slyke não se esquivam dos obstáculos, dedicando
a melhor metade do livro a analisar os desafios do futuro com
histórias de sucesso e promovendo modelos de redes sociais e
colaboração que eles acham que podem fortalecer a influência recém
desoberta da mídia progressista.

O que é mídia progressista?
A mídia progressista é feita por um vasto conjunto de entidades de
todos os tamanhos e formatos. Mas, com larga vantagem, sua maior
audiência é online.

A mídia progressista é ideologicamente diversa, indo do liberal ao
radical. Grosso modo, as milhares de pessoas que fazem mídia
progressista acreditam em tornar o mundo um lugar melhor através dos
seus esforços midiáticos. Elas estão lutando por uma sociedade mais
igualitária e justa, pela democratização da informação, pela
transparência no exercício do poder público e pela defesa de questões
sociais, cobrando responsabilidades e prestações de contas aos
responsáveis (para falar de alguns dos valores que os progressistas
cultivam). Muitas das entidades de mídia progressista praticam o
jornalismo de opinião e a reportagem investigativa, enquanto outras
estão muito mais voltadas para a agitação e propaganda altamente bem
sucedidas, organizando táticas para chamar a atenção para questões e
causas.

E o termo progressista é um balaio de gatos. Há muitas diferenças
entre esses grupos, na filosofia, no tipo de jornalismo praticado, na
orientação ideológica e na estrutura de negócios. Algumas dessas
diferenças podem não ser tão significantes para um não-iniciado, mas
dentre os praticantes dessas mídias há alguns que merecem ser
anotados. Por exemplo, há um abismo entre o imensamente visitado
Huffington Post [www.huffingtonpost.com] e entidades menores, com foco
mais restrito, como o Grit TV www.grittv.org de Laura Flander, ou o
ColorLines Magazine[www.colorlines.com], ou ainda a reunião de alguns
em portais de mídia progressista, como Mother Jones Magazine, The
Nation e o influente programa de rádio e tevê de Amy Goodman,
Democracy Now![www.democracynow.org]. O Huffington Post, que tem dez
vezes mais visitação que os restantes (com exceção do Salon.com) está
na liderança das mídias com visão progressista, desfrutando de uma
equipe de qualidade escrevendo, e da voz influente de sua fundadora,
Arianna Huffington.

A genialidade do Huffington Post é que, virtualmente, todo
comentarista liberal progressista com algo a dizer ou uma idéia a
comunicar sente que precisa “blogar” no “Huff Po”, embora muita gente
termine levando seus textos para o site, fazendo com que muito
conteúdo fique disperso e seja perdido. Ainda, o Huffington Post é a
carteira de uma grande quantidade notícias sobre celebridades, fofocas
e coberturas desse tipo, como as infames votações em que leitores
podem escolher o “mais engraçado de Hollywood” ou o melhor decote na
entrega do prêmio Globo de Ouro. Não surpreendentemente, essas coisas
são sempre muito populares.

Embora a influência da mídia progressista seja crescente e a sua
audiência, maior do que nunca (eles chegam até a terem representação
na TV corporativa, como é o caso de Rachel Maddow, Keith Olbermann e
Ed Schulz), a defesa justificável em Beyond the Echo Chambers não é
toda a história. O fechamento recente da rádio Air America nos lembra
que nem tudo vai bem no universo da mídia progressista. De fato, há
vários problemas fundamentais muito similares [nos veículos dessa
mídia], em termos de um futuro de longo prazo.

A primeira questão é a demografia. Embora haja algumas pequenas
organizações de mídia tocadas por pessoas negras, a imensa maioria das
organizações midiáticas com recursos tem audiência predominante de
pessoas brancas, bem-educadas, quase sempre com mais de 60% de homens,
com idades que abarcam a geração baby boomer [nascidos entre 1945-63].
Isso reflete a maioria da audiência que segue mais de perto as
notícias da mídia corporativa, e a mídia de direita conservadora. Esse
fato demográfico é o que se expressa na visitação de blogs, revistas
de opinião e em sites de notícias. As consequências são duplas.
Primeiro, a mídia progressista, a despeito de seus valores, reflete o
universo masculino branco. (Há exceções óbvias de lideranças de
audiência, como Katrina vanden Heuvel, na The Nation e o time
editorial feminino de Monika Bauerlein e Clara Jeffries no Mother
Jones, enquanto o Women's Media Center – Centro de Mídia da Mulher -,
sob a nova direção de Jehmu Greene trabalha para melhorar a situação
de um longo período de desequilíbrio quando se trata de articulistas
mulheres.

A esmagadora brancura não é um valor progressista; uma falta de
diversidade embaraça a mídia progressista há décadas, como nas
questões de classe, dado que a mídia progressista tem sido sempre o
lar de elites, em sua maioria altamente educadas. Clark e Van Slyke
enfrentam esse desafio no capítulo inteligentemente intitulado “Pale,
Male and Stale” (Pálido, Masculino e Batido). Focando sempre o lado
positivo das coisas, os autores citam o crescimento da vida online da
comunidade afro-americana, com alguns blogs populares. Então, há
campanhas altamente bem sucedidas da Color of Change
(http://colorofchange.org/) [Organização cujo slogan é mudando a cor
da democracia, em inglês]. No ano passado, a organização lançou uma
campanha contra a cobertura racista da Fox News, pressionando dezenas
de anunciantes a abandonarem o programa de Glenn Beck e o ranço
diabolicamente racista do demagogo favorito de Rupert Murdoch. E,
liderados por Roberto Lovato, um veterano da mídia progressista, a
www.presente.org instrumentalizou a pressão para que o programa do
anti-imigrante Lou Dobbs saísse do ar.

Essas conquistas dão uma dimensão da influência do setor progressista
e da sua estratégia sofisticada nas questões de raça. Mas elas também
sugerem que há uma mistura fundamental entre várias organizações e
táticas de mídia online, que borram as fronteiras entre o jornalismo e
o puro ativismo. Se essa mudança é o melhor para a evolução da mídia
progressista é um debate que eu deixo para depois, mas é claramente
verdade que os nossos maiores sucessos foram alcançados via esforços
que muitos não chamariam de jornalismo, ou mesmo mídia, mas uma nova
forma de organização que usa os dispositivos da mídia na internet.

Um segundo desafio é o financiamento. Embora a mídia progressista vá
melhor das pernas do que a mídia corporativa, porque não é dependente
de anúncios, ela nunca foi bem financiada por fundações ou indivíduos
ricos (embora a sobrevivência de veículos mais antigos da mídia
progressista dependam da lealdade e da estada no poder de alguns
doadores individuais-chave). E isso que a grande recessão só está
encolhendo as doações das fundações.

Um caso de grande sucesso em financiamento é a história do Media
Matters [www.mediamatters.org], que acompanha as transgressões da
mídia corporativa e de direita. Empreendimento importante na mídia
ecológica em geral, Media Matters beneficiou-se muito de doações de
parte da Democracy Alliance www.democracyalliance.org, um grupo de
doadores progressistas com muito dinheiro.

Mas, no maior financiamento pessoal recente de mídia independente, as
bilionárias Herb e Marion Sandler escolheram criar o ProPublica
http://www.propublica.org, com 10 milhões de dólares por ano, pondo um
ex-editor do Wall Street Journal ao custo de 550 mil dólares por ano.
Propublica tende a ser fóbico quanto a todas as coisas progressistas.

Propublica emprega alguns bons jornalistas e produz um trabalho de
qualidade. Mas a organização é constituída no antigo modelo de:
“produzir trabalho investigativo e, de alguma maneira, magicamente, o
problema descoberto será resolvido”. Falta-lhes investimento
substancial em marketing, promoção e organização na internet. Todos
esses elementos são essenciais para que se consiga uma mudança
política numa era dominada por milhares de lobistas e de relações
públicas propagandistas e centenas de milhões de dólares protegendo o
interesse de todo e qualquer interesse imaginável.

O terceiro desafio é provavelmente o mais fundamental. A despeito
desses sucessos recentes, a mídia progressista ainda não está pronta
para chegar aonde pode travar uma batalha real com a mídia de direita.
Muitos estão familiarizados com o poder da Fox e de Rupert Murdoch,
com a imensa audiência de Rush Limbaugh e dezenas de outros jogadores
de direita. E há muito mais direitosos online e nas revistas.

Os conservadores sempre investiram muito dinheiro na mídia e nas
comunicações, enquanto muito do dinheiro progressista se destina a uma
miríade de questões da preferência de doadores individuais. É como se
eles de alguma maneira contassem com a mídia establishment para
fustigar a mídia de direita. Bem, nós sabemos como isso tem
funcionado. Muitas questões liberais são recepcionadas por
conservadores, e negligenciadas por uma aparentemente super tímida
administração Obama.

Uma série de números ilustra o problema. Enquanto progressistas vibram
felizes com o sucesso da MSNBC e de Rachel Maddow, e cada vez mais
estejam grudados na tevê todas as noites, o domínio continuado da Fox
News, na tv a cabo é acachapante. Eis os números da audiência
comparados no dia 27 de janeiro, quando Obama falou à nação, de acordo
com o site TV by the Numbers: Bill O'Reilly marcou 4.067 000
espectadores, Glenn Beck alcançou 3.140 000 espectadores, e Sean
Hannity obteve 3. 636 000 espectadores – audiências gigantescas,
aproximadamente três vezes o tamanho de Keith Olbermann (1. 159 000
espectadores) e Rachel Maddow (883 000 espectadores). Clark e Van
Slyke tratam do problema no capítulo “Luta contra a Direita”,
destacando o sucesso da Brave New Films perturbando a Fox News. Mas,
como sabemos muito bem, a avassaladora mídia Murdoch continua a
bradar, chafurdando na lama.

O capítulo 8 do livro "Além da Câmara de Eco", intitulado “Assembléia
do Coro Progressista”, analisa as características do trabalho do
FireDogLake [www.firedoglake.com] e inclui elementos de uma entrevista
comigo, na qual tento descrever o pensamento por trás da AlterNet.org.

Se você quiser uma visão compreensiva de muitas mídias progressistas
bem sucedidas ao longo dos últimos 8 anos, por favor compre uma cópia
de Beyond the Echo Camber. Há desafios imensos pela frente, os quais
Van Slyke e Clark conhecem muito bem. Porém, os autores insistem que
há muito mais resultado em construir alternativas e, usando as novas
ferramentas online – Facebook, Twitter e muitas outras – os
progressistas podem se mover para um estágio de luta de longo prazo
por uma sociedade melhor.

Nota da Redação: A Media Consortium (www.themediaconsortium.org) é uma
rede de mídias alternativas que criaram uma espécie de associação, nos
moldes da recém criada Altercom, no Brasil, da qual Carta Maior faz
parte.

Tradução: Katarina Peixoto