sexta-feira, 26 de março de 2010

Escola Estadual monitora água

Um exemplo a ser seguido

Por Maria Lúcia Martins

A Escola José Martins da Costa monitora, desde 1999, a qualidade da água em 10 pontos em seu entorno, no Distrito Rural de São Pedro da Serra, Nova Friburgo. A iniciativa conquistou o primeiro lugar na categoria Ecologia, do Salão Estadual do Estudante no Rio de Janeiro, em 2006.

Segundo o professor de Biologia Laércio Azevedo, o Projeto de Monitoramento da Microbacia do Rio São Pedro segue o Plano Político e Pedagógico da escola, situada em zona rural e de interesse turístico, o que faz do meio ambiente um tema ainda mais importante para a vida local. O projeto, que tem caráter multidisciplinar e é feito pelos alunos da 8ª série junto com os professores, tem como principais objetivos: Contribuir para o efetivo desenvolvimento integral dos alunos; Produzir conhecimento sobre a realidade local; Promover a participação da comunidade escolar nas lutas comunitárias pela preservação ambiental e pela melhora da qualidade da vida na região dos 5º e 7º distritos (São Pedro da Serra e Lumiar).

A apresentação do Projeto explica que “a comunidade escolar chegou à conclusão de que é muito importante tomar consciência da qualidade da água, que hoje em dia está ficando escassa e se torna cada vez mais um problema global, levando muitos países à guerra pelo seu controle”.

O município de Nova Friburgo, de acordo com os dados do Projeto, tem o seu território cortado por inúmeros rios, entre eles se destacam: rio Grande; rio Cônego; rio Santo Antônio; rio Bengalas; e o rio Macaé. O rio Macaé nasce em Lumiar e atravessa esse distrito, tendo como afluentes os rios: Bonito, Flores e Boa Esperança — o córrego São Pedro é um afluente do Rio Boa Esperança —, banha terras de outros municípios e vai desaguar no oceano Atlântico. Suas águas abastecem uma população de cerca de 140.000 habitantes.

A Associação de Apoio à Escola do CEJMC – Centro Educacional José Martins da Costa participa do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Macaé, desde 2002, ocupando um assento do setor sociedade civil.

Como funciona o Projeto

Todos os anos a equipe de professores, Laércio e os professores de Matemática e Geografia fazem o levantamento de dados, a tabulação destes, o estudo aprofundado da questão do ambiente, com foco local, e a coleta, feita uma vez por ano. A água coletada segue para análise externa, já que a Escola ainda não conseguiu montar um laboratório para este fim, por falta de recursos financeiros. Os alunos costumavam recolher dinheiro para custear a análise da água junto à comunidade, recorrendo inclusive a rifas. Em um ou outro ano, a análise foi feita por apoiadores, como o Instituto Politécnico e a companhia de água local, em 2006.

A prática do Projeto envolve os alunos do último ano do Segundo Grau, que se encarregam de passar a sua experiência junto com os professores para a turma que está se formando no Ensino Fundamental. Apesar do interesse demonstrado pelos alunos, o Projeto vem enfrentando dificuldades conjunturais para a sua execução completa, pois a coleta e a análise são fundamentais ao processo e faltam os meios para tanto. Parte significativa dos jovens alunos ajudam suas famílias nas tarefas diárias, e alguns dos mais velhos trabalham durante o dia, sobrando pouco tempo para o empenho em arrecadar os recursos necessários à análise da água. Há 22 anos lecionando em São Pedro da Serra, Laércio fala da importância da participação dos professores de outras matérias e do processo de conscientização ambiental que o Projeto gera. A Escola tem convênios com a UERJ-Universidade Estadual do Rio de Janeiro, nos campos de Nova Friburgo e de São Gonçalo, para o Programa Jovens Talentos.

Resultados da análise

Os resultados são tabulados e a análise é apresentada também em gráficos e pequenos textos, acompanhados do mapa dos pontos de coleta e da tabela de dados. "Os alunos aprendem os conceitos de potabilidade e balneabilidade e como medir estes fatores.

Para que a água seja potável, o nível de coliformes fecais e totais não deve passar de 0 (zero), mas se passar que seja o mínimo possível, para que a água seja balneável", diz o texto do Projeto.

O ponto 1 é o da torneira da Escola, que em 2006 foi o único que manteve a condição de água potável. No ponto 10, local de encontro entre o rio Boa Esperança e o rio São Pedro, segundo a análise do Projeto, entre 2005 e 2006 ocorreu uma grande diminuição de coliformes totais, mas um significativo aumento de coliformes fecais, não sendo a água potável (potabilidade) nem própria para banho (balneabilidade).Os outros pontos de coleta são: Poço do Bininho; Nascente da Bocaina dos Mafort; Cemitério; Ponte do Higino; Bocaina dos Blaudt; Nascente da Pedra Eller; Córrego da Tapera; Ponte estrada Manuel Knupp.

A conclusão apresentada em 2006 foi a seguinte: “Ao elaborarmos essas comparações, observamos que praticamente todos os rios e nascentes da região estão contaminados. Esse trabalho procura mostrar à sociedade a necessidade de nos conscientizarmos do mal que estamos causando aos nossos rios. Devemos mudar nossos comportamentos, parar de jogar os esgotos diretamente nos rios, e construir fossas nos imóveis. Além disso, precisamos urgentemente pressionar as autoridades competentes para que instalem um serviço de coleta e tratamento de esgoto em nossa região e uma eficiente fiscalização do meio ambiente”.