Mostrando postagens com marcador China. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador China. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O mundo aprende a andar sem os EUA

28/08/2013 - Spengler [*] em 19/08/2013, no Asia Times Online
- Excerto traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O barulhão assustador que se está ouvindo, como eu já disse dia 15/8 na CNBC, é a implosão da influência norte-americana no Oriente Médio.

oferecimento que Vladimir Putin [foto] fez, dia 17/8, de ajuda militar ao exército egípcio, depois que o presidente Obama cancelara exercícios militares conjuntos com egípcios, mostra o ponto mais baixo da curva da importância dos EUA em todo o pós-Guerra Fria.

Rússia, Arábia Saudita e China trabalham juntas para tentar minimizar o dano provocado pelos erros dos norte-americanos. É precisamente o que fazem, em silêncio, há mais de um ano.

O alarme soou para a democracia egípcia, quando a Fraternidade Muçulmana ergueu-se de seu passado tenebroso, mas nem assim a Washington oficial acordou.

O Egito estava à beira de morrer de fome, quando os militares depuseram Mohamed Mursi.

A maior parte dos pobres no Egito já estava há meses vivendo do pão subsidiado pelo estado, e até o fornecimento desse pão estava ameaçado. Os militares trouxeram US$12 bilhões de ajuda recebida dos estados do Golfo, o suficiente para evitar uma catástrofe humanitária.

A realidade é essa. É a única coisa sobre a qual Rússia, Arábia Saudita e Israel concordam.

A atitude errática, vacilante, dos EUA sobre o Egito, não é só erro estúpido, tolo, mas uma completa catástrofe institucional.

O presidente Obama cercou-se de uma camarilha, com Susan Rice como Conselheira de Segurança Nacional, ladeada por Valerie Jarrett, milionária da indústria da construção de moradias públicas nascida no Irã.

Comparada à equipe de Obama, o pessoal de Zbigniew Brzezinski [foto] eram colossos intelectuais no Conselho de Segurança Nacional de Jimmy Carter.

Essa gente agora são amadores e ninguém jamais consegue prever o que inventarão, de hoje para amanhã. (...) 

E tampouco interessa o que digam os especialistas do Partido Republicano. Poucos Republicanos eleitos discutirão com McCain [foto abaixo], porque os eleitores já não suportam ouvir falar de Egito e já não confiam nos Republicanos, depois dos fracassos no Iraque e no Afeganistão.

Nenhum dos dois partidos tem capacidade institucional para deliberar inteligentemente sobre os interesses dos EUA.

Dentre os veteranos dos 
governos Reagan e Bush há vários que compreendem com clareza o que se disputa no mundo, mas o Partido Republicano é incapaz de atuar sob orientação deles. Por isso o fracasso institucional nos EUA é tão profundo.

Os deputados e senadores Republicanos vivem em pânico ante a possibilidade de serem derrotados por isolacionistas como o senador Rand Paul (R-KY) – e seguirão o quixotesco senador McCain.

E outras potências regionais e mundiais farão tudo que possam para conter o desmando e a confusão que reina nos EUA. (...) 

A rede Russia Today noticiou, dia 7/8, que: 

(...) a Arábia Saudita ofereceu-se para comprar $15 bilhões em armas da Rússia, e ofereceu uma lista de vantagens e facilitações econômicas e políticas ao Kremlim – no esforço para reduzir o apoio que Moscou continua a dar ao presidente sírio Bashar Assad. 

A posição dos russos não mudará. Quanto a isso, já não há dúvidas. (...) 

O que se vê bem claramente, é que Riad está confiando, não mais em Washington, mas em Pequim, para garantir sua capacidade de transportar e disparar armas atômicas.

A China tem interesse profundo na segurança saudita: é o maior importador de petróleo saudita. É altamente provável que os EUA já se tornem independentes de petróleo importado em algum momento da próxima década, mas a China precisará do petróleo do Golfo Persa por tempo futuro não determinado. (...)

Os russos temem que o radicalismo islâmico escape totalmente de qualquer controle no Cáucaso e talvez em outros pontos, com a Rússia evoluindo 
para ser país de maioria muçulmana. 

Os chineses temem os uigures, povo muçulmano de origem turca, que já é metade da população da província Xinjiang, no oeste da China.

Mas o governo Obama (e Republicanos do establishment como John McCain) insistem que os EUA devem apoiar governos islamitas democraticamente eleitos. É erro gravíssimo. A Fraternidade Muçulmana é tão democrática quanto o Partido Nazista (...).

Países tribais, com altos índices de analfabetismo não têm parâmetro para a tomada democrática de decisões.

Enquanto os EUA continuarem a declarar apoio a “oposições democráticas” muçulmanas no Egito e na Síria, o resto do mundo continuará a tratar os 
norte-americanos como doidos varridos, lunáticos sem conserto, e todos tratarão de garantir seus próprios interesses sem os EUA.

Os turcos, é certo, reclamarão contra o destino de seus amigos na Fraternidade Muçulmana, mas pouco podem fazer. Os sauditas financiam grande parte do enorme déficit nas contas turcas; e quase toda a energia que chega à Turquia vem-lhe dos russos.

Além de errarem na avaliação dos eventos egípcios, os analistas norte-americanos erraram praticamente toda a leitura que tentam fazer do quadro 
mundial.

Na direita norte-americana, o consenso dominante há anos é que a Rússia acabaria por implodir economicamente e demograficamente.

Mas a taxa de fertilidade total na Rússia, ao contrário, subiu, de um ponto calamitosamente baixo de menos de 1,2 nascidos vivos por mulher em 1990, para cerca de 1,7 em 2012, no ponto intermediário, superior ao 1,5 da Europa e pouco abaixo do 1,9 dos EUA.

Faltam dados para avaliar a tendência, mas já está bem claramente indicado que é erro descartar a Rússia, seja por qual critério for, pelo menos por hora. (...)

Taxa de fertilidade no mundo em 2011 (nascidos por mulher)
(clique na imagem para aumentar) 

Gostem ou não gostem, a Rússia não sumirá do mapa.

Analistas norte-americanos veem os problemas russos com os muçulmanos no Cáucaso, com o superficialismo de quem se diverte com a desgraça alheia. 

Durante os anos 1980s o governo Reagan apoiou jihadistas no Afeganistão, contra os russos, porque a União Soviética era, então, a encarnação perfeita do mal.

Hoje, a Rússia não chega a ser exatamente amiga-irmã dos EUA, é claro, mas o terrorismo islamista é que é o pior dos males, e os EUA bem fariam se seguissem o exemplo dos sauditas e se unissem aos russos, contra o terrorismo islamista.

No caso da China, o consenso era que a economia chinesa desabaria rapidamente esse ano, o que geraria problemas políticos.

Os dados do comércio chinês de junho mostram exatamente o contrário disso: um aumento nas importações (incluindo crescimento de 26% ano a ano nas importações de minério de ferro e de 20% no petróleo) indica que a China continua a crescer confortavelmente mais de 7% por ano.

A transição da China, de modelo exportador movido a trabalho barato, para modelo de manufatura com alto valor agregado e economia de serviços ainda é desafio gigantesco, talvez o maior de toda a história da economia; mas absolutamente não há qualquer sinal de que a China esteja fracassando ante o desafio que se propôs.

Gostem ou não, a China continuará a marcar o ritmo do crescimento da economia mundial.

Crescimento do PIB da China e dos EUA até 2028
(Clique na imagem para visualizar melhor) 

Os EUA, se escolhessem exercitar o próprio poder e cultivar seus talentos culturais, ainda seriam capazes de derrotar os “opositores”. Mas escolheram nada fazer, e a rédea afinal escapou das mãos de Washington.

Os norte-americanos só ouvirão falar de desenvolvimento importante, se e 
quando outros países decidirem divulgar seus próprios sucessos. É justo prevenir os leitores de que aqueles, dentre nós, norte-americanos, que 
ainda mantemos condições e meios razoavelmente satisfatórios de vida e progresso, não conseguiremos mantê-los igualmente satisfatórios no futuro. 

Meu registro de sucessos nas previsões que faço não é de todo mau. Em 2003, avisei que a tentativa do governo de George W Bush de construir 
nações no Iraque e no Afeganistão terminaria em tragédia.

E no início de 2006, escrevi: “Gostem ou não, os EUA só produzirão caos, e nada podem fazer para escapar dele.” (...)

Ninguém mais precisa de analistas de política externa.

Em 2013, os cães da guerra estão soltos e escolherão, eles, os próprios caminhos.

Nos EUA, basta abrir a janela de casa, que já se ouvem os latidos.
__________________________

[*] Spengler, apelido de David P. Goldman, escreve a coluna Spengler para o Asia Times Online e contribui frequentemente para as publicações The Tablet, First Things (2009-2011) e outras. Foi Chefe Global de Pesquisa de Dívida do Bank of America (2002-2005), Diretor Global de Estratégia de Crédito do Credit Suisse (1998-2002). Ocupou cargos importantes nas organizações financeiras Bear Stearns e Cantor Fitzgerald. Foi colunista da revista Forbes (1994-2001). Seu livro How Civilizations Die (and why Islam is Dying, Too) foi lançado em setembro de 2011.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/08/o-mundo-aprende-andar-sem-os-eua.html

domingo, 7 de abril de 2013

A resiliência (*) das ideias de Karl Marx

02/04/2013 - por Fred Weston
- extraído do site Esquerda Marxista - da Seção Brasileira da Corrente Marxista Internacional

Quantas vezes ouvimos professores universitários, economistas, políticos e jornalistas declarando que Marx estava errado e que, embora tenha tido algumas percepções de como funciona o capitalismo, fracassou em ver o dinamismo do sistema capitalista e sua capacidade de se recuperar das crises e ir em frente?

No entanto, alguns anos depois, enquanto o sistema mergulha na mais séria crise da história, de vez em quando se ouve comentaristas declarando que Marx estava certo.

O mais recente é um artigo publicado pelo Time Magazine ontem [01/04/2013], intitulado A Vingança de Marx: Como a Luta de Classes se alastra pelo Mundo.

As frases de abertura dos primeiros três parágrafos são: “Supunha-se que Karl Marx estivesse morto e enterrado... Ou era o que pensávamos... Um crescente volume de evidências sugere que ele pode ter acertado”.

O primeiro parágrafo nos informa porque se supunha que Marx estivesse morto e enterrado: o colapso da União Soviética, o abrandamento da luta de classes, a expansão do comércio global, o boom asiático, e assim por diante.

O segundo parágrafo, no entanto, enfatiza a prolongada crise que está afligindo o sistema, causando a elevação dos níveis de pobreza, de desemprego e queda dos salários, e cita Marx, quando ele escreveu sobre a “acumulação de riqueza em um dos polos é, ao mesmo tempo, acumulação de miséria, de trabalho agonizante, escravidão, ignorância, brutalidade e degradação mental, no polo oposto”.

O autor aponta que, “Entre 1983 e 2010, 74% da riqueza criada nos EUA foram para os 5% mais ricos, enquanto os 60% da base sofreram um declínio...”.

Tendo reconhecido que até agora tudo parece indicar que Marx estava certo, o autor então volta para o comportamento padrão, “Isto não significa que Marx estivesse inteiramente certo. Sua ‘ditadura do proletariado’ não funcionou muito bem, tal como planejado”.

Esta é uma clara referência ao colapso da União Soviética. Com isto, espera-se que o público fique avisado para não levar Marx demasiado a sério.

Este é o costumeiro espantalho que se levanta a fim de fazer as pessoas acreditarem que, embora Marx possa ter desenvolvido uma interessante análise das contradições do capitalismo, ele não oferece uma alternativa viável e, portanto, nós pura e simplesmente temos que viver com aquilo que temos: o capitalismo!

O fato de que o que existia na União Soviética não era comunismo é algo que esses jornalistas preferem ignorar. Marx nunca contemplou o socialismo como um sistema que pudesse existir dentro das fronteiras de um só país, para não citar um país atrasado e subdesenvolvido como era a Rússia em 1917.

Lênin, que construiu o partido Bolchevique que levou à Revolução Russa, também nunca teve semelhante ideia. Foi por esta razão que ele gastou tanta energia na construção da Internacional Comunista e porque depositava tantas esperanças na revolução alemã.

Foi Stalin quem desenvolveu a ideia de “Socialismo em um Só País”, rompendo com as ideias fundamentais do marxismo sobre esta questão.

Trotsky explicou o que aconteceu na União Soviética em muitos escritos e, em particular, em seu clássico, "A Revolução Traída", no qual explica as razões objetivas da revolução russa – que começou como uma revolução saudável dos trabalhadores – que finalmente degenerou no monstruoso regime estalinista.

Nos livros escolares e na mídia, nada disto é explicado.

É melhor que a União Soviética sob Stalin seja apresentada como destino inevitável das ideias de Marx, de forma que as futuras gerações não se sintam tentadas a se aprofundar nos escritos de Marx.

Infelizmente para a classe capitalista e todos os seus parasitas, é a severa crise atual que está empurrando cada vez mais trabalhadores e jovens a buscar uma alternativa.

Apesar do que eles dizem as ideias de Marx sempre voltam e hoje mais do que em qualquer outra altura durante décadas. Isto acontece porque a luta de classes está de volta à agenda em escala global.

O artigo de The Time Magazine sinaliza isto: “a consequência dessa maior desigualdade é exatamente aquilo que Marx havia previsto: a luta de classes está de volta. Os trabalhadores do mundo estão crescentemente mais zangados e exigindo sua justa parte da economia global.

Desde o recinto do Congresso dos EUA às ruas de Atenas, às linhas de montagem do Sul da China, os acontecimentos políticos e econômicos estão sendo modelados pelas tensões em ascensão entre capital e trabalho em um grau nunca visto desde as revoluções comunistas do século XX”.

O artigo apresenta alguns pontos interessantes sobre como o conflito de classes se expressa nos EUA mesmo dentro da retórica entre Obama e os Republicanos sobre como os custos para se sair da crise podem ser repartidos entre as diferentes classes na sociedade.

Todas as vezes que Obama levanta a ideia de taxar de forma mais elevada as camadas mais ricas da sociedade estadunidense, os Republicanos o acusam de guerra social, enquanto exercem a sua própria guerra contra os trabalhadores e os pobres!

Contudo, a luta de classes não se confina apenas à América assolada pela crise e à Europa.

O autor salienta que mesmo onde o crescimento tem sido significativo nos anos recentes, como na China, há uma crescente luta de classes:

Apesar de a renda salarial estar crescendo substancialmente nas cidades chinesas, a distância entre ricos e pobres é extremamente vasta.

Outra investigação de Pew revelou que aproximadamente metade dos chineses pesquisados considera a divisão entre ricos e pobres um problema muito grande, enquanto oito entre dez concordam com a afirmação de que ‘os ricos ficam cada vez mais ricos enquanto os pobres cada vez mais pobres’ na China”.

De forma alguma isto é uma surpresa para os marxistas.

Entendemos que o desenvolvimento da economia sob o capitalismo significa o fortalecimento da classe trabalhadora em termos de seu peso na sociedade, e devido a desigual distribuição da riqueza produzida isto inevitavelmente significa tensão entre as classes, mesmo quando há um boom.

Vimos isto no passado na Europa com as explosivas lutas de classe na França em 1968 e na Itália em 1969, em pleno boom do pós-guerra!

O autor cita um trabalhador chinês, Peng Min:

As pessoas de fora veem nossas vidas como se fossem fartas, mas a vida real na fábrica é muito diferente... A forma de o rico ganhar dinheiro é através da exploração dos trabalhadores... Estamos ansiosos pelo comunismo... Os trabalhadores se organizarão mais... Todos os trabalhadores devem estar unidos”.

De sua visão geral das crescentes tensões entre as classes no mundo inteiro, dos EUA à China, da Espanha à Grécia e mais além, o autor conclui o seguinte: “Há indícios de que os operários de todo o mundo estão ficando crescentemente impacientes com suas tênues perspectivas.

Dezenas de milhares tomaram as ruas de cidades como Madri e Atenas, protestando pelo desemprego estratosférico e contra as medidas de austeridade que estão tornando a situação ainda pior”.

Em seguida, esperando oferecer algum consolo a algum capitalista que pudesse estar lendo o artigo, ele declara que, “Até agora, de qualquer forma, a revolução de Marx ainda tem que se materializar”.

Nisto, podemos concordar. Ainda não houve uma revolução socialista. Mas o que o autor deseja com veemência é que ela nunca se materialize. Isto é algo que não podemos concordar.

O que ele tenta apresentar é um quadro de trabalhadores que não querem derrubar o sistema, mas simplesmente reformá-lo. Nisto ele pede a ajuda do suposto “expert em marxismo”, Jacques Rancière, da Universidade de Paris.

Rancière (foto) é um exemplo daquela espécie de Professor Universitário que se refere a si mesmo como progressista, mas que, na realidade, gasta seu tempo negando a essência do marxismo.

Isto fica claro quando ele explica que, “Não estamos vendo nos protestos de classes apelos à derrubada ou destruição do sistema socioeconômico atual. Os conflitos de classes que hoje estão se produzindo são apelos para se corrigir os sistemas, de forma que se tornem mais viáveis e sustentáveis no longo prazo através da redistribuição da riqueza criada”.

A análise do Professor Rancière – que os trabalhadores não estão exigindo uma revolução socialista – pode ser um conforto para aqueles que desejam preservar o sistema capitalista.

Ele afirma que, “as perspectivas dos partidos trabalhistas ou socialistas ou dos governos de qualquer lugar de reconfigurar significativamente – e muito menos de virar – o atual sistema econômico são, para falar gentilmente, fracas”.

Ele baseia tudo isto na presente situação do movimento dos trabalhadores, em particular de seus líderes. Se o futuro do movimento internacional da classe trabalhadora dependesse desses líderes, então o Professor teria razão.

A questão que temos de entender é que os líderes não permanecem líderes para sempre. A crise do sistema está colocando todas as ideias em teste. A ideia de que o sistema pode ser reformado está sendo questionada pelo impasse em que se encontra. Não há mais espaço para reformas como no passado.

Pelo contrário, todas as reformas conquistadas em décadas de luta de classes estão sendo destruídas. Os trabalhadores em todas as partes enfrentam a perspectiva de serem lançados de volta às condições sofridas por seus avós.

O que a citação acima do professor não entende é que os trabalhadores não começam com a ideia de que a revolução é o único caminho.

Eles começam com a ideia de oposição aos ataques sobre os salários, condições e bem-estar.

Esperam que uma solução seja encontrada dentro do próprio sistema.

Eles sonham em retornar ao período do boom, quando as reformas eram possíveis, quando a vida parecia tolerável.

Mas a questão que tem de ser sublinhada é que todas essas esperanças serão despedaçadas pela realidade.

A instabilidade política se espalha por toda a Europa e além – na América, no mundo árabe, na África e na Ásia – e se expressa na volatilidade eleitoral.

Partidos antes poderosos, como o PASOK na Grécia, foram esmagados pela pressão da situação. Os trabalhadores estão votando contra qualquer governo que realize medidas de austeridade. Isto significa que os trabalhadores sabem o que não querem. O problema é que eles ainda não descobriram o programa e as políticas que podem combater a austeridade.

Os marxistas sempre falaram a verdade, mesmo quando é difícil de engolir: não há nenhuma solução para o problema que os trabalhadores e os jovens do mundo inteiro enfrentam dentro das fronteiras do sistema capitalista.

Enquanto o poder estiver nas mãos da classe capitalista, ela o usará para manter sua riqueza e privilégios à custa do povo trabalhador. O sistema não pode ser reformado; ele deve ser removido.

Como afirmou o autor do artigo em Time Magazine, “Se os estrategistas políticos não descobrirem novos métodos de garantir oportunidade econômica, os trabalhadores de todo o mundo podem se unir. Marx ainda pode obter sua vingança”.

Acreditamos que Marx estava correto não apenas em sua análise econômica, mas também em suas conclusões políticas.

A crise do sistema inevitavelmente conduz os trabalhadores a tirar conclusões revolucionárias. O que se requer é uma mudança radical das organizações de massa da classe trabalhadora, de seus partidos e sindicatos. Os atuais líderes esperam que esta crise seja afastada e que, mais cedo ou mais tarde, eles possam retornar às confortáveis relações que eles estabeleceram com os patrões no passado. Isto é, uma quimera.

O que enfrentamos são anos de austeridade, com o declínio dramático dos níveis de vida em todos os cantos.

No momento em que se tornar claro que esta crise não está indo embora depois de um curto período de austeridade, no momento em que ficar claro que este sistema não oferece nenhum futuro, então o único caminho será em direção à derrubada revolucionária de todo o sistema.

É para onde a presente situação está levando.

(*) NOTA DO EDITOR: Sobre o conceito de resiliência
Este conceito foi elaborado para definir a capacidade de superar problemas em situações críticas.

Segundo o dicionário Aurélio, é a propriedade de pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal de formação elástica. Este conceito é trabalhado nas mais diversas áreas das ciências como física, psicologia etc.

Pensamos numa bexiga cheia de ar, por exemplo. Apertamos e ela entorta. Quando soltamos ela volta ao normal. Isto significa sua capacidade de resiliência. Mas sabemos que isso também possui um limite. Pois se pegamos a bexiga e apertamos com muita força, certamente ela vai estourar. Nesse momento dissemos que a bexiga perdeu sua capacidade de resiliência.

Outro bom exemplo na ecologia. Chamamos de resiliência ambiental a capacidade de um ecossistema retonar a sua forma normal após uma perturbação. A isso definimos como grau de resistência do ecossistema. Ou seja, uma mudança para que os impactos a um ecossistema não se converta numa situação irreversível. Caso o impacto supere sua capacidade de resiliência ambiental, chamamos de processo de degradação.

E nesta etapa só uma ajuda externa, no caso, através de técnicas de recuperação de áreas degradadas, é que o ecossistema pode retornar a sua forma anterior. Pois sozinho, sem ajuda humana, ele não poderá mais retornar ao normal, já que os impactos que recebeu ultrapassaram sua capacidade de resiliência.

Nesse sentido, Fred Weston, autor do artigo, utilizou muito bem o conceito de resiliência para defender a vitalidade das ideias de Marx. Mostrando como suas ideias econômicas e conclusões políticas são capazes de se reivinventar e ainda se manterem firmes, sem abalos.

Artigo do site da Corrente Marxista Internacional. Para ler o texto original "The resilience of the ideas of Karl Marx", clique AQUI.

Fonte:

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Brasil e China comercializarão em suas moedas


Em movimento que dá importante impulso nas relações comerciais entre os dois países, China e Brasil firmaram novo acordo bilateral para usarem as respectivas moedas nacionais no comércio bilateral, acordo que cobrirá o equivalente de mais de 30 bilhões de dólares em trocas comerciais por ano, por três anos.
O anúncio precedeu a reunião crucial dos chefes de Estado dos cinco países BRICS, que aconteceu em Durban, na África do Sul.
O acordo foi assinado pelos presidentes dos bancos centrais chinês e brasileiro e pelos ministros das Finanças dos dois países, ontem, (dia 26 de março)
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff reuniu-se com os presidentes dos países BRICS em Durban. O Brasil reconhece a China como parceiro-chave para a economia latino-americana.
“Brasil e China trabalham para ampliar o comércio entre os dois países. Para tanto, assinaram acordo mediante o qual o comércio entre os dois países passará a ser feito nas moedas locais, para proteger-se das flutuações do dólar” – disse Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil. “A China é o maior parceiro comercial do Brasil e desejamos ampliar nosso portfólio de exportações para a China.” 
O ministro Pimentel conclamou o Fundo Monetário Internacional a modernizar sua estrutura de governança. Para o ministro brasileiro, “os países em desenvolvimento devem ter papel mais permanente no sistema de comando daquela organização.” 
“Os Brics são bloco econômico e diplomático que se foi consolidando cada vez mais a cada nova reunião. O Brasil acreditamos que já constituímos um bloco econômico permanente na arena internacional” – disse o ministro brasileiro. 

[1] The Brics Post é publicado por BRICS Media Network Ltd., organização não comercial, sem finalidades de lucro, registrada na Inglaterra e Wales, em julho de 2012 (http://thebricspost.com/about-us/#.UVGlxxesiSo) [NTs]. 
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Fonte:Rede Democrática 26/03/2013

domingo, 4 de novembro de 2012

O sangrento fracasso dos EUA na Síria

02/11/2012 - original em 01/11/2012, no Xinhua News Agency, Pequim:
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
- para a redecastorphoto

PEQUIM – “Já dissemos bem claramente que o Conselho Nacional Sírio não pode continuar a ser visto como líder visível da oposição”, disse a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton [foto] em visita à Croácia, na 4ª-feira [31/10], “exigindo” modificações na liderança da oposição síria.

A recente “grande virada”, que visa a descartar o Conselho Nacional Sírio que tem base em Istambul, Turquia – o mesmo CNS que os EUA até agora haviam apoiado sem restrições – mostra a confusão reinante nas “táticas” do ocidente para a Síria que, hoje, se veem ante o grande problema de encontrar outros representantes locais aos quais apoiar.


Os EUA, que em nenhum momento se ocuparam em buscar alguma verdade factual em campo e temerariamente acolheram como aliado e “representante local” o Conselho Nacional Sírio, acabam de constatar que o aliado é absolutamente imprestável; e retiram-lhe todo o apoio. Os EUA estão esmurrando, de fato, a própria cara.

Agora, os EUA partem à procura de outras forças de oposição as quais apoiar. Mas o mais provável é que a nova tentativa falhe outra vez, dado que, outra vez, os EUA deixam sem considerar as causas que continuam ativas na raiz daquela crise crônica e, outra vez, rejeitam qualquer solução política para a Síria.

Desde o início do conflito, há 20 meses, o ocidente nada faz além de, obcecadamente, trabalhar para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad [foto], sem em momento algum considerar objetivamente a potência variável das diferentes facções que disputam o governo da Síria.

Forças leais a Assad continuam a combater cabeça à cabeça contra rebeldes, e absolutamente não se vê no horizonte qualquer possibilidade de processo de paz.

Até agora, aqueles confrontos já fizeram mais de 32 mil mortos.

Sem conseguir conter os confrontos, a trégua de quatro dias, para a Festa do Sacrifício em outubro de 2012, iniciada pelo enviado da ONU, Lakhdar Brahimi e prevista para marcar o começo de um processo de paz, também já deu em nada.

A experiência já mostrou que a intervenção e a “exigência” de que Assad deixe o poder não conseguiram conter a violência ainda crescente e precipitaram a Síria em caos ainda mais profundo.

Aparentemente, Washington ainda insiste na velha ideia intervencionista, que mais de uma vez levou os EUA a beco sem saída. Em nenhum caso o ocidente deveria apoiar um dos lados, na luta para varrer do mundo a oposição, porque esse tipo de ação sempre implica consequências incontroláveis.

Nem Clinton dá sinais de saber o que faz em relação à Síria e insiste em esperar que rebeldes consigam derrotar o governo de Assad. Na 4ª-feira [31/10], a secretária Clinton disse que não é segredo que muitos na Síria, especialmente grupos minoritários, temem que o governo de Assad seja substituído por governo da oposição sunita. “Não que amem o regime Assad” – disse ela. – “Mas estão, com muita razão, preocupados com o futuro”.

É mais que hora de o ocidente entender que a única abordagem razoável é apoiar genuinamente uma solução política e diplomática para a crise.

A China, com a Rússia e outros países, tem buscado incansavelmente apoiar os esforços do enviado internacional e tem insistido na direção de que todas as partes envolvidas busquem desempenhar papel mais construtivo.

Na 4ª-feira, o Ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi [foto acima] apresentou proposta chinesa, de quatro pontos, para encaminhar solução estável para o conflito sírio.

Os chineses entendem que é absolutamente necessário que os lados em conflito respeitem o cessar-fogo acordado e deem início, imediatamente, a uma transição política negociada.

Os EUA ainda precisam aprender que soluções políticas demandam paciência e tempo.

Fonte:http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/o-sangrento-fracasso-dos-eua-na-siria.html

domingo, 1 de abril de 2012

Lições da Líbia

06/03/2012 - A contrarrevolução na Líbia, os preparativos de novos ataques do império e a necessidade de uma Frente Única Antiimperialista Mundial
- Jornal Revolução Socialista

O golpe de estado da OTAN que derrubou o governo de Kadafi na Líbia é um perigosíssimo passo dado pelo imperialismo, com novas formas de agressões, de cooptações de setores do campo progressista e manipulação de organismos internacionais e da mídia, para impor a ocupação militar e econômica de países estratégicos, visando um enfrentamento global contra países que podem representar uma alternativa transformadora frente ao acelerado processo de decomposição do sistema capitalista em escala internacional. 

Não se tratou de nenhuma libertação da Líbia ou de um fenômeno progressista como parte da chamada Primavera Árabe que sacode as ditaduras reacionárias e pró-ianques da região.

Prova disso é que logo após o anúncio oficial da vitória pelo CNT, órgão montado e dirigido pela OTAN, já houve a imposição de um representante da indústria petroleira dos EUA para fazer as funções ilegítimas de chefe-de-estado na Líbia. Além disso, já foi anunciada a decisão de construir uma base militar da OTAN no território líbio, ampliando a presença militar imperialista na região.

Muitas lições podem ser tiradas deste retrocesso no processo revolucionário da Líbia.

A primeira delas, reconhecendo o heroísmo de Kadafi que resistiu com seus combatentes e seu povo a 203 dias de bombardeio sustentado por 28 países contra 1 país, implica dizer das grandes dificuldades para formar um projeto de sociedade com capacidade de se articular internacionalmente e resistir ao imperialismo, está relacionado também com as dificuldades e os retrocessos havidos na URSS. A desorganização da URSS alterou negativamente as relações mundiais de força contra os países e movimentos progressistas e antiimperialistas. Países que haviam avançado combativamente em enfrentamentos com o imperialismo, como a Líbia, que ofereceu importante apoio aos movimentos revolucionários de vários continentes, repentinamente, com o retrocesso na URSS, viram-se desprotegidos, isolados, sem uma base organizada mundialmente para enfrentar os novos desafios. Para isto também contribui uma relativa paralisia e enfraquecimento do Movimento dos Não-Alinhados.

Enquanto a Líbia não possuía nenhuma estratégia para enfrentar os novos desafios criados pela agressiva política intervencionista dos países imperialistas, o Pentágono tem uma política de multiplicar os investimentos na indústria bélica, desprezar qualquer legalidade internacional, seqüestrar a ONU para seus desígnios, e, com isso, ir avançando na ocupação militar e econômica do mundo, onde já possui mais de mil unidades militares instaladas.

Aproveitando-se do recuo na URSS estraçalharam a Yugoslávia, ocuparam o Kossovo, demoliram a infraestrutura do antigo Estado Operário construído sob a direção de Tito, e submeteram várias ex-repúblicas, como a Slovenia, a Croácia, à condição de colônias financeiras do império, particularmente da Alemanha.

Além da agressividade do imperialismo ocupando o Iraque, o Afeganistão, a imposição de sanções contra a Líbia, o Irã, a Coréia do Norte e Cuba, a desorientação que se abate sobre o movimento comunista e revolucionário internacional após a desestruturação da URSS, também é um fator que desafiou a direção de Kadafi que buscou desenvolver relações políticas com países imperialistas, fazendo concessões políticas, econômicas e até militares (desarme parcial unilateral, abandono do programa nuclear, etc), com o objetivo de ganhar tempo, de sair da linha de tiro. Eram manobras para sobreviver, com escassas possibilidades de terem algum efeito, como por exemplo com suas relações com Sarkosy e Berlusconi.

Se a própria Rússia e China relutam, vacilam e também fazem concessões, o que não dizer da Líbia, já sem uma aliança militar como a que possuía com a ex-URSS e sem o apoio de um Movimento dos Não-Alinhados ativo e unido, vinculado com a URSS, como já foi no passado? Assim, as dificuldades de Kadafi não foram apenas resultado de suas políticas, de eventuais invenções, de tentativas de projetar uma nova forma de democracia participativa basista, limitada ao não desenvolvimento político de uma direção, com a organização de um movimento internacional orgânico, cuja necessidade Hugo Chávez percebe quando lançou o debate sobre a formação de uma V Internacional, momentaneamente adiado. As dificuldades da Líbia de Kadafi são as dificuldades enfrentadas por todo o movimento revolucionário internacional, pelos países com governos revolucionários ou mais ou menos antiimperialistas e progressistas. O campo socialista se desmantelou, os partidos comunistas e movimentos de esquerda possuem reduzida articulação internacional, registram, além disso, crises teóricas e políticas que os levam ao absurdo de apoiar a agressão da OTAN à Líbia como se fosse a libertação do país, como muitos partidos de esquerda, sobretudo da Europa, reconheceram em nota pública.

Para o imperialismo a agressão à Líbia, um golpe de estado comandado pela OTAN, a partir de milhares de bombardeios sobre alvos generalizados, matando mais de 130 mil pessoas, aproximadamente, é fundamental um teste para novas ações mais agressivas, inclusive para o teste de novos armamentos, como os utilizados contra o povo líbio. Kadafi resistiu a 203 dias de um dilúvio de bombas, uma extrapolação criminosa de uma resolução arrancada na marra no Conselho de Segurança da ONU, baseada, uma vez mais, numa mentira midiática, mil vezes repetida. A mentira de que Kadafi havia mandado a aviação bombardear alvos civis. Até mesmo o Secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates foi obrigado a reconhecer a veracidade de informações da Inteligência Russa, baseada em imagens de satélites que esquadrinham cada metro daquela região, afirmando que realmente não havia qualquer prova material de que os bombardeios atribuídos a Kadafi haviam ocorrido.

Mas, como uma torrente de desinformações e manipulações, a mídia capitalista mundial, sustentada pela TV Al Jazeera, controlada pela oligarquia reacionário do Qatar, país ocupado militarmente pelos EUA – ali está a maior base militar na região – e fronteiriço a Líbia, a humanidade recebeu um bombardeio de mentiras e mentiras e mentiras. Até mesmo alguns jornalistas progressistas experientes sucumbiram a esta coerção psicológica e passaram a defender a legalidade de uma suposta Ajuda Humanitária aos Civis da Líbia, modalidade em que se travestiu o que na verdade foi um golpe de estado e uma guerra de rapina, pois o petróleo já está sob controle das transnacionais, além do confisco, ilegal, das reservas do estado líbio no sistema financeiro internacional.

O comportamento dos países da OTAN é banditismo puro!


O imperialismo levou 42 anos para matar Kadafi!
Desde a Revolução Líbia de 1969, quando o jovem coronel Kadafi, seguindo o exemplo do coronel egípcio Nasser e liderando um levante militar-popular deu início às transformações da República Árabe Jamahyria Socialista, o imperialismo planejou matá-lo. Foram muitas sabotagens, agressões, sanções e, inclusive, o bombardeio do avião italiano de passageiros que cruzava o Mediterrâneo, em Ústica na década de 80, a partir de uma base militar ianque em Lampedusa na Itália, supondo que aquela aeronave transportava Kadafi. Morreram todos os passageiros, inclusive todas as testemunhas, operadores de radares que trabalhavam neste dia na Base Militar controlada pela Otan, impedidas de prestar depoimentos no processo judicial até hoje inconcluso. Mas, sabe-se que um míssil derrubou o avião! Em 42 anos, o movimento liderado por Kadafi transformou a Líbia, que era uma monarquia, uma colônia atrasada e miserável, no mais culto país da África, dotando-o de um sistema educacional e de saúde modernos, avançados e inteiramente gratuitos, transformando desertos em terras irrigáveis e produtivas para alimentos, além de oferecer apoio generoso a muitos movimentos revolucionários, como a Mandela, a Agostinho Neto, a Samora Machel, à Revolução Sadinista, ao Frente Polisário de Libertação Nacional, etc.

Em outra etapa, com outras relações de forças internacionais, com a existência da URSS, a Angola de Agostinho Neto e do MPLA resistiu a mais de duas décadas de agressão comandada pelo imperialismo, operada pelo exécito racista da África do Sul, que foi derrotado pela fundamental presença das tropas de Cuba na memorável Batalha de Cuito Cuanavale, em 1988. O que levou Nelson Mandela, em agradecimento a Cuba, declarar: “A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid!”. A Líbia apoiou a independência de Angola e a Libertaçao da África do Sul do regime do Apartheid.

Eis aí parte importante da função revolucionária desempenhada pela Líbia sob a direção de Kadafi. Uma das suas propostas foi a Conferencia de Organização da União Africana, apoiada por Samora Machel (morto numa suspeitosa queda de avião) e Thomas Sankara, presidente de Burkina Faso, assassinado em 1987 por golpistas, opositores a este passo revolucionário. Hoje, com a desorganização da URSS, do bloco de Estados Operários, chamado campo socialista, Cuba está politicamente impedida de repetir aquela memorável façanha de enviar mais de 350 mil homens e mulheres para a África em apoio à Revolução de Angola, nas décadas de 70 e 80. Nenhum país pode oferecer apoio militar a Kadafi agora.

Testemunhos informam que em seus últimos dias de vida, ele tentava desesperadamente fazer contatos internacionais. Nem mesmo a Argélia, que já foi uma espécie de Cuba na África, premida por outras circunstâncias, pôde fazer qualquer movimento de apoio militar à Líbia. E para isto pesou decididamente o apoio da Rússia e da China à Resolução da ONU que praticamente deu à OTAN a condição para a agressão militar, que, extrapolou completamente a autorização delimitada para criar apenas uma Zona de Exclusão Aérea.


Rússia e China
Após terem autorizado a aprovação para uma ação humanitária da OTAN contra a Líbia – prontamente usada arbitrária e ilegalmente pelo imperialismo para um golpe de estado e para executar Kadafi e seus quadros – Rússia e China são obrigados a rever este cheque em branco dado ao imperialismo, o que já se observa em razão da nova postura frente à pressão do império de intervir militarmente na Síria, onde, aliás, há uma base militar russa. Mais que isso, a trágica experiência da Líbia faz com que Rússia e China reavaliem muitas das políticas de compenetração com o capitalismo, o que certamente fortalecerá as posições de setores militares mais vinculados à tradição anticapitalista, da URSS sobretudo, para uma estratégia que considere sem margem a qualquer ingenuidade que o imperialismo prepara-se para uma guerra de grandes proporções. O aprofundamento e extensão de sua crise econômico-financeira também o empurra nesta direção, de resolver pelas armas o que não pode mais resolver pelos modos convencionais da política. Isto inclui o seqüestro, na prática, do funcionamento da ONU, inclui imposições aos países endividados, como a Grécia, Portugal e Itália, com claras interferências internas, mudanças de governos, com o alcance de golpes de estado.

De certo modo, as advertências feitas por chefes militares da Rússia contra a pretensão de instalar um propalado escudo anti-míssil na Polônia – inclusive avisando a este país que haverá uma resposta heterodoxa – bem como a presença massiva e ostensiva da Marinha Russa no Báltico, com a multiplicação de tropas, navios e submarinos, alertando aquelas ex-repúblicas soviéticas para que não sirvam concretamente como peões da OTAN na região – o que só pode ser uma política contra a Rússia – já indica uma revisão de muitos planos que calculavam, falsamente, uma possibilidade de coexistência com o imperialismo.

Uma política totalmente irreal. Um claro sinal indicando que está sendo feita uma leitura dura e realista sobre a trágicas lições da Líbia é o anúncio da candidatura de Putin. Em vários momentos ele expressou sua insatisfação com o apoio russo à Resolução anti-Líbia. E agora, além de anunciar muito antecipadamente a sua candidatura, já busca entendimentos com a China, para onde deve viajar em breve, sinalizando que o quadro que surge depois da intervenção na Líbia e as ameaças ao Iran e à Síria é um quadro de enfrentamento do sistema imperial contra os países que podem constituir uma alternativa política, militar, econômica para a formação de um bloco de países com capacidade de fazer frente, se unificados, às crescentes ameaças do império.


A esquerda latinoamericana e a crise da esquerda na Europa
Não poderia ser mais nefasta e reacionária a posição de muitos partidos comunistas, socialistas e alas da social-democracia européias apoiando a intervenção imperialista na Líbia, seja sob qual argumento for. Não havia crise humanitária na Líbia, jamais se comprovou um massacre de civis por tropas de Kadafi, ao contrário, comprovou-se a organização de uma tremenda farsa televisiva, com o canal Al Jazeera, sob controle da indústria petroleira ianque, construindo no Qatar um cenário cinematográfico que era uma cópia da Praça Verde, de Trípoli. Essas imagens percorreram o mundo, foram repetidas em dilúvio por todas as emissoras do mundo. Apenas Telesur e a TV Rússia denunciaram esta farsa, mostrando que não havia massacres na Líbia e que havia tranqüilidade absoluta na Praça Verde de Trípoli, naquele exato momento.

Sob o lema conservador e omisso “Nem OTAN, nem Kadafi” os partidos de esquerda da Europa, em quase sua totalidade, contribuíram para o cometimento de um bárbaro crime com o povo líbio e seu processo revolucionário. Em nenhuma hipótese a existência de limitações políticas e de erros na direção comandada por Kadafi justificam uma aliança prática com a OTAN e, na prática com seus governos, cujas políticas de desemprego, cortes nos direitos sociais, retrocessos políticos e sociais, as massas estão combatendo nas ruas de várias capitais européias. Boa parte dos recursos públicos que são negados ao povo europeu e aos manifestantes Indignados para o pagamento de salários, de aposentadorias e a geração de empregos, foram esterilizados nos milhares de bombardeios contra a população da Líbia, guerra apoiada como legítima pela maioria da direção dos partidos da esquerda européia. Ou seja, ela apoiou a ação de guerra dos governos membros da OTAN contra os quais estão lutando nas ruas suas bases, trabalhadores e jovens desempregados! Desmoralização completa, que levou à vitória eleitoral da direita nas últimas eleições espanholas!

Exemplar foi a posição dos governos dos países da ALBA, que condenaram o criminoso papel da ONU, solicitaram um cessar-fogo, responsabilizaram sobretudo os principais líderes imperiais.

Sobre isto é muito importante reproduzir trechos de Carta Hugo Chávez à Assembléia Geral da ONU denunciando o imperialismo e responsabilizando a própria ONU pelo massacre na Líbia:

“Imediatamente, existe uma gravíssima ameaça para a paz mundial: o desencadear de um novo ciclo de guerras coloniais, que começou na Líbia, com o macabro objetivo de dar um segundo ar ao sistema-mundo capitalista, hoje, em crise estrutural, mas sem por nenhum tipo de limite à sua voracidade consumista e destrutiva. O caso da Líbia nos deve alertar sobre a pretensão de implementar um novo formato imperial de colonização: o da intervenção militar com o aval dos órgãos anti-democráticos das Nações Unidas e justificada no apoio das mentiras mediáticas pré-fabricadas”.

“A humanidade está ao borde de uma catástrofe inimaginável: o planeta marcha inexoravelmente rumo ao mais devastador ecocídio; o aquecimento global prenuncia isso, através de suas pavorosas consequências, mas a ideologia dos Cortês e dos Pizarros com relação ao ecossistema, como bem disse o notável pensador francês Edgar Morin, os leva a seguir depredando e destruindo. As crises energética e alimentarias se agudizam, mas o capitalismo continua ultrapassando impunemente todos os limites”

Que diferença da posição de Chávez e dos presidentes dos países da ALBA ante a criminosa prostração da esquerda e da social-democracia européia e de muitos dos seus intelectuais, que chegaram ao ponto de insinuar que a esquerda latino-americana errava ao enfrentar o imperialismo e defender a soberania da Líbia!

Que moral possuem esses setores da esquerda na Europa, chamados de otanistas, de criticar os que lutam concretamente contra o imperialismo seja na Líbia ou na Síria, no Irã, se ela própria está apoiando a guerra dos governos da OTAN contra os quais luta nas ruas?

Nunca se pode olvidar que durante a 2ª. Guerra mundial, os trotskistas da URSS, que estavam na prisão, perseguidos por Stalin, quando houve a invasão das hordas nazistas, saíram do cárcere e pegaram nas armas na luta contra Hitler, defendendo a União Soviética, ombro a ombro com os stalisnistas e todo o povo acima de tudo, numa demonstração de clareza tática e objetividade frente ao inimigo principal que era o nazismo.


A fórmula líbia é fascista!
Atropelar a ONU, arrancar Resoluções com base em mentiras e manipulações informativas, organizar uma cadeia desinformativa que deturpa toda e qualquer realidade, com o que se cooptou e neutralizou uma boa parte das sociedades européias, além de paralisar a esquerda que sequer levantou a voz para denunciar os bombardeios genocidas, todos estes ingredientes conformam um modo fascista de agir. O bloqueio midiático que levou ao paroxismo da apresentação de Kadafi como um monstro e os mercenários da OTAN como “rebeldes” alcança o objetivo que antes era feito por Hitler e Goebells, repetindo uma mentira até que ela seja engolida, assumida, repetida e se transforme em “verdade”, utilizada como argumento por boa parte da esquerda que lavou as mãos diante do trágico destino da Líbia. E isso sem perceber que amanhã poderá ser o próximo alvo.

Agora já existem organizações não-governamentais, muitas remuneradas pelo imperialismo, condenando a violação dos direitos humanos na Síria, como haviam feito na Líbia, adotando como verdade a manipulação midiática do império. Agora na Síria há agentes infiltrados que atiram eles próprios nos manifestantes com a culpa sendo atribuída ao governo sírio. Tal modalidade de atentados também já havia sido utilizada no golpe midiático contra Chávez em 2002, quando franco atiradores da própria direita atiravam nos manifestantes da própria oposição de direita para culpar o governo chavista.

O papel antes desempenhado pela juventude hitlerista, pelos camisas negras, para agredir e intimidar o movimento comunista, os sindicatos, é agora cumprido por este bloqueio midiático que produz uma catarse psíquica política para justificar até mesmo a carnificina feita contra a população líbia, tudo era aceito desde que fosse para destruir Kadafi. Linchamentos, crimes de guerra, sevícias, tudo isto foi praticado pelos supostos “rebeldes” apresentados como heróis e libertadores pela mídia capitalista. Sem política adequada, sem meios de comunicação próprios, a esquerda, particularmente na Europa, intimidou-se. “Não dá para defender Kadafi”, com o que se paralisava e autorizava o massacre da OTAN ao povo líbio.

Até mesmo a prática de crimes raciais, tendo sido a cidade de Tawarga, povoada majoritariamente por negros, alvo de chacina, com os negros considerados todos kadafistas. De fato, de origem subsaariana, só na Líbia, que possuía o mais elevado IDH da África, estas populações encontraram emprego decente, educação e saúde gratuitas, uma raridade para povos que vivem na indigência africana. A rapina da OTAN, não só de seu petróleo mas também de suas riquezas culturais imensas, poderá fazer a culta Líbia retroceder a uma nova Somália, que a propaganda imperialista finge ajudar, como denunciou o próprio Kadafi em uma de suas mensagens finais.

A fórmula Líbia, já denunciada por Chávez implica em tomar uma cidade no país alvo e mobilizar apoio internacional do imperialismo, com ampla cobertura midiática, para fazer crer ao mundo que trata-se de um processo de libertação que mereceria ser apoiado pela ONU, com autorização de “ajudas humanitárias” que logo se revelam ações militares de rapina e opressão. Na Síria, a manobra do imperialismo busca tomar a cidade de Homs e a partir daí produzir auto-atentados que justificariam a aprovação de sanções pela ONU. Rússia e China acordaram do pesadelo líbio. Um pouco tarde, mas ali na Síria o desfecho pode não ser uma vitória da contrarrevolução como na Líbia.


A política externa do Brasil
Houve muitas declarações ambíguas do chanceler brasileiro sobre a Síria. Aparentemente, o Itamaraty preparava-se para dar sustentação a algum tipo de sanção , mas esta tendência foi corrigida, tendo sido importante a declaração do Assessor Internacional da Presidente Dilma sobre a Líbia, afirmando que a Resolução da ONU autorizou uma verdadeira matança. Juntamente com os BRICS o Brasil condenou os bombardeios à Líbia, mesmo tendo se abstido na votação no Conselho de Segurança.

As ambigüidades do Itamaraty contrastam-se com a declaração de Lula sobre a Líbia após reunião com militares na Escola Superior de Guerra.O que fizeram com a Líbia, amanhã podem fazer com qualquer outro país”, disse.

O que indica ser também uma constatação também no seio militar, haja visto declarações recentes de chefes militares brasileiros no Senado afirmando que o Brasil deve estar preparado para dar uma “pronta-resposta” em caso de ataque de potências estrangeiras ao petróleo pré-sal. São igualmente importantes as novas resoluções do Ministério da Defesa para que a Aeronáutica seja dotada de aviões de fabricação nacional.

É importante que as forças de esquerda no Brasil, os movimentos sociais, a CUT e demais centrais, atuem para consolidar a linha da política externa praticada durante o governo Lula com claríssima prioridade na criação de um amplo leque de relações com países que possuem políticas de independência frente ao imperialismo. A gravidade do quadro internacional, a Mensagem da Líbia que o imperialismo enviou ao mundo, exige que os movimentos de esquerda e progressistas do mundo se articulem globalmente, estimulando uma coordenação muito mais efetiva entre os governos dos países chamados emergentes, não apenas na esfera econômica, mas também do ponto de vista militar, já que o processo internacional, o intervencionismo crescente e ilegal do imperialismo, indica que esta é realmente a natureza da fase de enfrentamento que a humanidade está passando. A reunião imediata do Conselho de Defesa da UNASUR no Peru, é uma sinalização dessa necessidade.


A nova etapa da resistência na Líbia
Muito provavelmente, o povo líbio terá que travar uma luta tenaz, em condições muito duras, para derrotar este novo governo fantoche montado pela OTAN. A nomeação de um dos mais importantes executivos da indústria petroleira nos EUA, Abdel Rahim Al Kib, cidadão líbio lá radicado há mais de 39 anos, para a chefia do governo na Líbia já demonstra uma luta de abutres pelo controle do petróleo líbio. Um governo montado por homens treinados pela CIA, mercenários com sinistros vínculos com a Al Qaeda, criada pela CIA, com o apoio das oligarquias árabes, será impiedoso com a resistência líbia.

Nestas condições, com baixas importantes, a começar pelo assassinato de sua liderança fundamental, o movimento revolucionário líbio, apeado do controle do poder de estado, será obrigado a tirar amargas lições sobre a política que aplicou durante décadas, quando teve a oportunidade e os meios concretos para construir instrumentos de efetivo controle popular, o que o sistema de Conselhos Populares não assegurava de fato, permitindo que o governo enveredasse por políticas de aproximação com o imperialismo, políticas de privatizações parciais, o que facilitou enormemente a corrupção de muitos dirigentes próximos a Kadafi. Os Conselhos Populares não tiveram nunca um papel de discussão, planejamento e execução das políticas de estado. Tampouco todo este período de Revolução Líbia, que elevou enormente as condições de vida das massas, não foi aproveitada também para consolidar um sistema mais profundo e direto de participação popular, caso contrário jamais Kadafi teria apoio para, por exemplo, ajudar na eleição de um direitista como Nicolas Sarkozy. Muito menos puderam agir de forma decisiva para impedir que Kadafi tomasse a decisão determinante de abandonar seu programa de mísseis nucleares, o que foi faltal para que o imperialismo se animasse em seus planos de agressão, com o apoio de muitos membros do próprio governo de Kadafi, então já corrompidos e atuando em favor da OTAN.

A idéia de que o sistema de Conselhos Populares era algo superior de democracia, gerou em grande parte da direção líbia uma sensação de auto-suficiência e até mesmo de arrogância diante das experiências revolucionárias do mundo.

Essa sensação era ainda mais expandida e sem questionamentos internos em razão da inexistência de uma vida política, de uma democracia sindical verdadeira, que inclui a possibilidade de participação direta, com direito de críticas construtivas. O elevado nível de vida, uma boa distribuição das receitas do estado, possibilitada pelas elevadas receitas do petróleo, gerava esta sensação de que tudo caminhava sem problemas. Se houvesse a discussão concreta e realista sobre o que significava de fato a intervenção militar no Iraque, igualmente justificada em base a grosseiras mentiras midiáticas de existência de armas químicas de destruição em massa por parte de Sadan, outra política internacional deveria ter sido desenvolvida pelo governo líbio. E entre tantas medidas que não se tomaram foi a construção de uma televisão de alcance internacional para uma comunicação efetiva com as massas do mundo, informando-as sobre a vida na Líbia, sua política, suas conquistas sociais, tal como Chávez proporcionou o nascimento da Telesur.

Reconhecemos todos os avanços sociais e econômicos alcançados pela Revolução Líbia, sua generosa solidariedade para com a revolução mundial. Mas, uma insuficiente estruturação de mecanismos e órgãos que permitisse uma participação dirigente das massas impediu um maior amadurecimento político da direção para compreender que, com o fim da URSS, uma nova relação mundial de forças surgia, exigindo a construção de uma aliança de todos os países do mundo que possuem qualquer grau de enfrentamento programático e político com o imperialismo. Era indispensável ter construído laços muito amplos e mais sólidos com os movimentos revolucionários internacionais e um uma política que tivesse condições de impor uma resistência ainda maior e com condições de aproveitar crise e estimular as massas nos países capitalistas para uma ação muito mais ousada contra estes governos, derrotando-os ou paralisando-os em boa medida suas ações criminosas contra a Líbia.

É bem verdade que Kadafi deu-se conta dos limites e da ineficiência de sua política de aproximação com os países imperialistas, fazendo um jogo perigoso, uma manobra que resultou desastrosa, sobretudo por ter facilitado a contaminação e a corrupção de alas de seu governo, seduzidos pela idéia da privatização e estimulados pelo retrocesso mundial da luta pelo socialismo. Sem existir na Líbia um partido com funcionamento político revolucionário, que alertasse para os riscos do novo quadro mundial, e que desenvolvesse uma política de maior vinculação com os governos populares da América Latina, quando Kadafi percebeu a gravidade do beco sem saída em que havia se metido, era tarde. Ele ainda tentou reorientar a política da Líbia. Propôs ao Putin a construção de uma base naval russa na costa líbia.

Propôs a formação da OTAS (Organização do Tratado do Atlântico Sul), em contraposição à OTAN e também a reativação da IV Frota Naval pelos EUA para a região. No entanto, a esta altura seu governo já se encontrava contaminado, infiltrado; a contrarrevolução se organizava internamente e em rápida coordenação com os serviços de inteligência da França e da Inglaterra, portanto, já se configurara uma situação de perda relativa de controle por parte de Kadafi. Uma retomada do controle exigia aquilo que de fato não foi desenvolvido durante as 4 décadas da Revolução Líbia, apesar de seu enorme progresso: uma direção política revolucionária marxista, a construção de organismos para a participação direta e dirigente das massas. Mesmo a corajosa e necessária distribuição massiva de armas ao povo líbio, embora indicasse uma decisão de resistir a qualquer custo, também já se revelava tardia e insuficiente diante do desarmamento essencial feito em anos anteriores e do grau de infiltração ocorrido, com informações estratégicas entregues ao imperialismo, dificultando qualquer estratégia de defesa.


Construção de uma Frente Única Antiimperialista Mundial
Poucos dias antes de ser vilmente executado, execução esta estimulada pelo comportamento de carrasco de Obama e de Hillary Clinton, revelando a baixa estatura moral dos dirigentes imperiais, Kadafi fez um candente apelo para a formação de um Movimento Antiimperialista Mundial.

Tragicamente, chegava à conclusão sobre uma tarefa indispensável e central e que poderia ter sido priorizada por ele mesmo durante as 4 décadas de revolução líbia. A convocação de um Encontro Internacional entre os países dos BRICs e da ALBA , bem como países do Movimento dos Não-Alinhados, hoje em fase de recesso, é urgente. Discutir experiências como as da Líbia, da Yugoslávia, os ataques à Síria, as ameaças ao Iran, as sabotagens contra a Venezuela, a Coréia do Norte, as tentativas de desestabilização da Bolívia, do Equador, etc, e daí traçar uma linha de ação coordenada, seja na diplomacia no âmbito da ONU, mas principalmente em acordos de cooperação mais audazes e concretos, sobretudo incluindo Rússia e China, pelo seu grau de desenvolvimento militar-tecnológico e econômico.

Com o que fez na Líbia o imperialismo está mandando uma mensagem para intimidar o mundo sobre a adoção cada vez mais acentuada de métodos fascistas para emparedar o mundo.

A criação do Conselho de Defesa da América do Sul, logo após a reanimação de IV Frota pelos EUA é indicadora de uma medida necessária, mas que deve se desenvolver praticamente na estruturação conjunta de políticas de defesa. Que incluam cooperação tecnológica, a exemplo do que vem sendo feito entre a Rússia e a Venezuela no setor militar, ou entre Argentina e Brasil na construção de carros de combate.

Evidentemente, estes países também necessitam fazer uma debate para formular uma nova política de defesa – que individualmente muitos já possuem – mas agora, depois do que se viu na Líbia, com um enquadramento baseado na cooperação internacional.

Individualmente, poucos países têm capacidade para fazer qualquer enfrentamento com o imperialismo, que no caso da Líbia, atuou movimentando forças de 28 países contra um. Isoladamente, sequer todo o poderio militar que ainda restava às forças de Kadafi pôde ser utilizado, dado a disparidade de forças em combate, com o predomínio dos milhares de bombardeiros ininterruptos por 203 dias seguidos.

O debate da trágica lição da Líbia, não apenas militar, mas sobretudo política, é fundamental para o amadurecimento do campo progressista e antiimperialista que só terá condições de fazer frente à agressão da OTAN se atuarem de maneira unida, planejada, coordenada.
  

Que expressam as convicções progressistas da América Latina
 «Nós, os venezuelanos, depositamos nossas esperanças numa grande aliança das agrupações regionais do Sul, como a UNASUR, a CARICOM, o SICA, a União Africana, a ASEAN ou a ECO e, muito especialmente, nas instâncias inter-regionais de articulação de potências emergentes como o BRICSs que se devem converter num pólo de atração articulado com os povos do Sul».