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sexta-feira, 7 de março de 2014

Quem disse que não há unidade civil e militar na Venezuela?

01/03/2014 - A unidade cívico-militar na Venezuela
- Por Beto Almeida (*) - blogue do Miro

"A revolução bolivariana é pacífica, pero armada"
(Hugo Chávez)

Há 25 anos, num 27 de fevereiro de 1989, o então presidente da Venezuela, Carlos Andrés Perez [foto], lançou um pacote neoliberal explosivo aumentando drasticamente o preço da gasolina e dos alimentos.

O povo de Caracas se rebela, sai às ruas, saqueia supermercados, lojas de roupas, açougues.

Perez dá ordens para o exército reprimir com vigor.

Centenas de cidadãos são mortos [foto abaixo].

O número exato ainda está por ser calculado, pois muitos foram enterrados em valas comuns ou atirados nos lixões da cidade.

Quando tive a oportunidade entrevistar o presidente Chávez, no Palácio de Miraflores, ele contou que estava em serviço e soube quando a ordem de reprimir foi dada e as tropas lançaram-se pelos bairros pobres, esmagando sem dó nem piedade a rebelião, conhecida com o nome de Caracazzo.

Chávez dizia que o Caracazzo foi o estopim, a alavanca, o encorajamento fundamental para que o movimento militar bolivariano, cuja construção liderava dentro dos quartéis de toda a nação, se decidira a agir.

Aquela repressão havia provocado nas fileiras progressistas e nacionalistas militares muito mais do que uma indignação.

47 segundos versus 10 anos
Quase três anos depois, em 4 de fevereiro de 1992, Chávez comandava uma insurreição militar que pretendia colocar um fim no governo neoliberal e corrupto de Andrés Peres e, com o apoio popular, convocar uma Assembleia Nacional Constituinte.

Do ponto de vista militar, a insurreição não foi vitoriosa. Dialeticamente, foi vitoriosa do ponto de vista político.

Hugo Chávez comandou a rendição para poupar vidas, entregou -se, e foi preso. Na prisão, transforma-se no homem mais popular da Venezuela.

O povo venezuelano identificou naqueles poucos segundos em que Chávez usou a cadeia de rádio e TV - exigência para a rendição [foto] - que aquele homem, meio negro e meio índio, era um dos seus, que falava sua língua, representava seus anseios largamente reprimidos.

Tanto assim que longas filas, diariamente, se formaram para visitar a Chávez na prisão. Gente proletária, sofrida, humilde, que tinha tido a objetividade histórica de compreender que ali estava preso o seu líder, enquanto os intelectuais pedantes discutiam, interminavelmente, se Chávez era um populista, um golpista, um autoritário ou um militaresco fascista.

Certa vez, em debate com um dirigente do Partido Comunista Espanhol, em Madrid, escutei-o dizer que só depois do golpe de 2002, ele tivera certeza de que Chávez era de esquerda.

Contra argumentando, assinalei que enquanto ele tinha levado 10 anos para entender a função história de Chávez, o povo venezuelano levara apenas 47 segundos para compreendê-lo, tempo exato daquela declaração do líder da insurreição bolivariana por cadeia para render-se, “por ahora”.

O Caracazzo pariu a Insurreição de 4 de Fevereiro de 1992.

Mas, é chocante observar, ainda hoje, a infinita hipocrisia dos meios de comunicação internacionais e dos governos que os controlam ou manipulam, diante da crise atual da Venezuela.

Quando o governo venezuelano de 1989 mandou reprimir e matou a rodo populares nas ruas de Caracas - Chávez insistia sempre que eram milhares os mortos - esta mídia que faz o maior estardalhaço sobre uma inexistente guerra civil na Venezuela hoje, na época, não fez nenhum escândalo diante da matança aos olhos de todos, nas ruas caraquenhas.

Tampouco os governos, como o dos Estados Unidos, que lançam cínicos comunicados de “preocupação com os direitos humanos na Venezuela”, na época, foram os patrocinadores do pacote neoliberal de Carlos Andrés Perez [foto], fizeram o mais criminoso silêncio.

O silêncio da cumplicidade com aquela matança.

Maldito seja...
O Caracazzo foi uma rebelião popular que levou a uma lição fundamental para os militares revolucionários que se organizavam em torno de Chávez, entre eles o Embaixador da Venezuela no Brasil, Almirante Diego Molero.

E a lição era a aplicação de uma das frases de Bolívar mais repetidas pelo próprio Chávez, linha de princípio do movimento que, depois de anos de preparação política doutrinária, preparava-se para agir: “Maldito seja o soldado que aponta seu fuzil contra seu próprio povo!

Porém, a linha doutrinária, programática, ia muito mais além.

Recuperava e atualizava o Simon Bolívar integracionista, reformador social, criando outra concepção para o papel dos militares: a integração latino-americana, a unidade cívico-militar e a sustentação pela via democrática, porém de armas nas mãos, do processo de mudanças em busca de justiça social.

Afinal, a Venezuela, um país tão rico, possuía 85 por cento de pobres e miseráveis, uma maioria de analfabetos, favelas desumanas por todos os lados, enquanto sua burguesia era conhecida por ser uma das maiores consumidoras de caviar e champanhe do mundo, perdendo apenas para burguesia francesa.

Hoje, 25 anos depois do Caracazzo, já podemos contabilizar os frutos da Revolução Bolivariana, mesmo assediada, atacada, sabotada, golpeada por mais de 15 anos.

O país de Bolívar não tem mais analfabetos, diz a Unesco. Diz a FAO que houve redução drástica da desnutrição e da fome no país.

Os trabalhadores já possuem uma lei trabalhista moderna e foram universalizados os direitos previdenciários.

Lá se paga um dos maiores salários mínimos da América Latina, comparativamente falando.

E, pela primeira vez na história do país, o petróleo, que enriqueceu por décadas uma camarilha insensível e corrupta, agora tem a sua receita aplicada na construção de moradias, de universidades bolivarianas, na sustentação do ensino público gratuito, na instalação de milhares de postos de saúde, com presença de mais 23 mil médicos cubanos, o que reduziu tremendamente a mortalidade infantil.

Claro que a Venezuela tem muitos outros desafios a superar, a começar pela economia rentista do petróleo, como disse hoje, em Brasília, o Chanceler Bolivariano, Elias Jaua [foto], bem como enfrentar a criminalidade, que, aliás, não é problema exclusivo venezuelano.

Ele informou sobre os focos de violência orquestrados por pequenos grupos de agentes provocadores, com apoio do exterior.

Enquanto a Venezuela possui 325 municípios, as ações violentas registraram-se em apenas 18 localidades de todo o país.

Reveladora é a informação de que os atos violentos ocorrem centralmente nos bairros mais ricos.

Mais reveladora ainda, da condição de classe desses jovens de famílias ricas que agem violentamente, é que optaram por queimar um caminhão do sistema Mercal, um sistema estatal de distribuição de alimentos a baixo custo.

Queimaram, mas não saquearam os alimentos.

Ou seja, o motivo não era a fome, mas apenas queimar, destruir.

Militares progressistas
As manifestações pacíficas são permitidas e a oposição, caso queira, pode recorrer ao instrumento da revogabilidade de mandatos, contido na Constituição Bolivariana, uma das mais avançadas do mundo, para tentar retirar Maduro pela vida legal.

Mas, se o objetivo é exigir, sem base nem fundamento, a renúncia do Presidente Nicolás Maduro [foto abaixo], e por meio de incêndios, instalação de linhas de nylon cortantes nas ruas dos bairros mais chiques, o que já provocou a degola de motociclistas, evidentemente, estes grupos vão se defrontar com aquilo que talvez seja uma das mais importantes obras de Chávez: a unidade cívico-militar. 

Os militares bolivarianos possuem outra consciência, enriquecida e temperada na experiência da Revolução dos Cravos, de Portugal, no governo antiimperailista de Velasco Alvarado, no Peru, no exemplo do governo socialista do capitão Thomas Sankara, o Che Guevara africano, de Burkina Fasso, experiências em que os militares atuaram sempre ao lado do povo, sustentando um processo revolucionário, transformador, como ferramenta estratégica.

Este é o eixo que dá suporte e mantém de pé a Revolução Bolivariana até hoje, enfrentando todas as ações de desestabilização emanadas pela Casa Branca, ecoadas pela mídia internacional.

Assim, é muito explicativo observar que a mídia brasileira, especialmente aquela que apoiou o golpe militar de 64 no Brasil, e, também, o golpe derrotado contra Chávez, em 2002, esteja agora tentando fazer crer que exista uma convulsão social na Venezuela.

E que ontem [27 fev], data dos 25 anos do Caracazzo que pariu a Revolução Bolivariana, nada tenha dito daquela rebelião, quando, apoiou não apenas o pacote de amargas medidas neoliberais, mas, também, a sangrenta matança que hoje está sendo apurada por uma espécie de comissão da verdade de lá.

(*) Beto Almeida é membro do diretório da Telesur

Fonte:
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/a-unidade-civico-militar-na-venezuela.html?spref=tw

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, pois inexistem no texto original.

domingo, 10 de março de 2013

Lições de Chávez

25/01/2013 - Por Beto Almeida (*) para o site RedeDemocratica

[Este ensaio foi escrito, portanto, antes da morte, em 05/03/2013, do presidente Hugo Chávez - Equipe do blog Educom]

Desde que foi eleito em 1998, o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates, seja em razão das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja em razão do medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de cada país, vassalas e zeladoras dos interesses deste imperialismo em cada país.

Certamente, sobre cada um destes aspectos é possível retirar profundas lições.

No caso brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um mínimo de informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora, em razão do infortúnio da enfermidade de Chávez, esta mídia supera-se.

Promove uma comunicação necrológica, havendo inclusive comentarista de veículos das Organizações Globo, que chega mesmo ao grotesco de torcer pela desaparição do mandatário venezuelano.

Sobre isto devemos tirar lições, seja aquelas amargas, a partir do comportamento medieval da mídia empresarial sobre a trágica enfermidade de Chávez, enfermidade que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também sobre o que este mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a mudar a face da América Latina.

Por um lado, fica claro que para aqueles comentaristas globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de humanidade ou solidariedade, que sustentariam desejos de estabelecimento e de superação deste azar pessoal.

Mas, o que se observa é ainda mais grave: para além do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de serviço público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação destes desejos mórbidos em grande escala de difusão, violando a Constituição Brasileira, que, em seu artigo 221, estabelece como princípio a ser observado, “o respeito aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer manifestação da autoridade responsável.

É como se fosse autorizado aos concessionários de serviços públicos de abastecimento de água, distribuir água contaminada e suja à sociedade.

Para que serve a mídia?
Será que isto estaria se tornando uma tendência?

Há alguns meses, quando cientistas iranianos foram assassinados em atentados que, segundo o noticiário da época, teriam sido organizados por comandos israelenses - os mesmos que assumem agora terem participado da eliminação de Yasser Arafat - num programa televisivo, Manhattan Conection, também veiculado por empresa das Organizações Globo, comentaristas chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos mereciam mesmo ser assassinados.

Apologia do homicídio!

Tanto num caso, como em outro, Venezuela e Irã, são países com os quais o Brasil possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em benefício mútuo notório.

Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal, caso emissoras de tv da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar autoridades brasileiras, e, chegassem a torcer pela reincidência do câncer em Dilma ou em Lula, e para que eles não resistissem?

Ou se estas emissoras defendessem a morte de cientistas brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil também possui - de modo soberano - seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e Irã?

Pra que servem os meios de comunicação social, afinal de contas?

Para hostilizar e desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e antidemocrático, a personalidades de outros países, com o que se desrespeitam povos com os quais temos relações de cooperação e amizade?

Será mesmo admissível que concessões de serviço público sejam utilizadas para insuflar, propagandear e celebrar o desejo de morte de seres humanos, simplesmente por não comungar de suas ideias?

Esta prática não seria equiparável àquelas que Goebels denominava de “razões propagandísticas”, e que precederam os ataques nazistas a outros povos?

Estranho “ditador
As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a prática basilar do jornalismo.

Críticas e discordâncias são absolutamente normais e devem ser praticadas.

Mas, desinformação, distorção e inverdades grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo.

Um dos aspectos mais utilizados nesta cruzada midiática de anos é a tentativa de rotular Hugo Chávez como ditador.

Estranho “ditador” este que chegou ao poder pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou, democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor.

Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição Bolivariana - ela também referendada pelo voto popular - o mecanismo da revogabilidade de mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não conseguiu a vitória nas urnas.

Auditoria eleitoral
Na Venezuela, para dar ainda mais segurança às eleições, estas não são julgadas pela mesma autoridade que as organiza.

Além disso, as urnas possuem mecanismo de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto que teclou foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse deste voto impresso, o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo.

Isto possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde, conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são vulneráveis a interferência externa sobre seus programas, além do que, não existe a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de recontagem.

Estranho “ditador” este Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos, lembrando que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada, na eleição de outubro de 2012, uma participação superior a 86 por cento do colégio eleitoral.

O revelador aqui é que as Organizações Globo, tão empenhada em rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou a supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a Proconsult contra a eleição de Brizola em 1982 e foi contra a Campanha Diretas-Já, em 1984, uma das mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil.

E, ainda hoje, a Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a rejeição por mais de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou tais equipamentos...

Povo ignorante?
Esses comentaristas da Globo tentam passar a imagem de que a Venezuela é um país de atraso cultural, para o que se valem, novamente, do expediente corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente.

Vamos aos fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como “Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire.

Lá, para a erradicação do analfabetismo, além da utilização de um método super-revolucionário elaborado em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve uma tremenda mobilização do governo, das massas, das instituições, mas também dos meios de comunicação públicos, que, existem, informam e possuem uma programação cultural educativa elevada ao contrário daqueles sintonizados com os ditames prepotentes do Consenso de Washington.

Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio deste método que o Deputado Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz de superar as ameaças elitistas da autoridade eleitoral que queria lhe cassar o mandato. Tiririca aprendeu a ler e escrever em poucas semanas.

Como também foram alfabetizados campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na Bolívia e no Equador.

Em breve será a Nicarágua a ser declarada também, oficialmente, pela Unesco, Território Livre do Analfabetismo.

Como contraponto, vale lembrar que o programa Telecurso Segundo Grau, produzido pela Fundação Roberto Marinho, é exibido em horário da madrugada pelas emissoras que empregam esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos públicos despendidos para a sua produção e veiculação.

A escolha do horário é apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do nível educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a Constituição.

O que é notícia?
Aqueles comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isto, bem como sobre o papel dirigente de Hugo Chávez ao formar com estes países e outros a ALBA - Aliança Bolivariana para o Progresso, numa iniciativa em que colocou o petróleo com instrumento da elevação das condições de vida não apenas dos venezuelanos, mas também do progresso social conjunto destes povos.

A isso chamam de ingerência, trocando solidariedade por intromissão.

Graças aos recursos do petróleo, milhares de latino-americanos, estão recuperando a plena visão, por meio de cirurgias gratuitas realizadas pela Operación Milagro, um esforço comum entre Cuba e Venezuela.

Esta operação humanitária, jamais divulgada de forma adequada pelas Organizações Globo, nasce quando a OPAS alertou para a possibilidade de que pelo menos 500 mil latino-americanos perdessem a visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma tragédia perfeitamente evitável.

As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na Venezuela, e agora também na Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou locais.

Isto não se informa, mas um dia destes, fiquei tomei conhecimento, pelo Jornal Nacional, da edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians, a tal duquesa de Cambridge, está sofrendo muito enjoo na sua gravidez.

Cuba e Venezuela decidiram operar 6 milhões de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos.

O que é notícia?

Índios leem “Cem anos de solidão
Aí temos outra lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez criou a Universidade Bolivariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças Armadas, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano.

Por meio deste programa foram editados, dando apenas alguns exemplos, a obra “Dom Quixote”, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos gratuitamente nas praças públicas, e também a obra “Contos”, de Machado de Assis, pelo mesmo programa, com uma tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que o genial escritor do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas o analfabetismo persiste, mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares.

Além disso, algumas tribos indígenas da Amazônia venezuelana, que até Chávez ainda desconheciam a escrita, já tiveram seu idioma sistematizado, e, como primeira obra publicada no novo sistema de escritura, tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez.

No entanto, apesar de tudo isto, para estes comentaristas da Globo, que agridem Chávez no leito de um hospital, na Venezuela há um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”...

Como explicar, então, a realização destas mudanças marcantes?

Vale contar um caso: o senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à Venezuela para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo.

Escreveu num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me disse que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez que a Globo não possui aptidão para aprender...

Petróleo a preço de água
Antes de Chávez, quando 80 por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era regalado aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior consumidora de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima importação de caviar para pequenos círculos oligarcas.

Eleito, Chávez cumpriu promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo venezuelano regalado.

Recuperou gradativamente o controle sobre a PDVSA e também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho colonizado.

Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril - ou seja, muito mais barato que água mineral ou Coca-Cola - e hoje, avança pela casa dos 100 dólares.

Eis a razão do ódio dos EUA a Chávez.

Evita Perón e Vargas
Este ódio imperial se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada pelos falcões norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer, aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para vassalagem, para submissão.

Não é a primeira vez na história que isto ocorre.

Quando Evita Perón (foto) foi acometida por um câncer, este jornalismo mortífero se expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos imperiais nutriram por Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa portenha para os muros de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua podridão moral escrevendo “Viva el Câncer!”.

Os imperialistas jamais perdoaram Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes que frequentemente se organizavam contra Perón.

Chegou mesmo a advertir Perón, que lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu, que ele estava preparando as condições - desmobilizando os trabalhadores - para não ter capacidade de resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da morte de Evita. Ela bem que avisou.

Depois foi contra Getúlio Vargas (foto), quando sua saída da vida para entrar na história foi comemorada em círculos manipulados pelo capital externo, que não suportavam a criação da estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na CLT e da lei da remessa de lucros ao exterior.

Não por acaso, o povo expressou sua tristeza e sua fúria, pranteando Vargas, mas também empastelando os símbolos daquele ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais Tribuna da Imprensa, Globo, e, até mesmo do jornal do PCB, Tribuna Popular, que no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo sua renúncia.

Assustados e envergonhados, os dirigentes comunistas recolhiam os exemplares do jornal que ainda estavam nas bancas. Mas, não tiraram conclusões históricas do porquê também foram alvo da fúria popular contra seus inimigos, sobretudo porque Vargas havia convidado Prestes para ser o chefe militar da Revolução de 30, aquela que em apenas 24 horas alistou mais de 20 mil voluntários para pegar em armas e combater a República Velha.

Prestes inicialmente aceitou o convite, mas a ordem stalinista foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano Cárdenas, eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial revolucionário, e que deveriam receber o apoio tático dos revolucionários.

O Levante de 4 de Fevereiro de 1992
Processos revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com rupturas da legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma de insurreições, armadas ou não.

A partir das revoluções outra legalidade é constituída.

Assim foi a Revolução de 30.

Assim havia sido a Revolução Francesa.

Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia.

A Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o voto é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para defenderem suas ideias.

A Revolução Bolivariana começa com um levante insurrecional - o 4 de fevereiro de 1992 - destinado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujo objetivo era retirar a Venezuela da condição de colônia petroleira.

Evidentemente, os comentaristas que seguem orientação imperial não suportam qualquer forma de rebeldia contra hegemonias colonizadoras.

Na prisão, Chávez se transforma no homem mais popular da Venezuela, aquele capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com a sua história, com Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem negra e índia, como são os venezuelanos.

A Revolução Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em processo institucional por meio da aprovação do voto popular.

Mas, diante das constantes ameaças golpistas imperiais e também das provocações desestabilizadoras da oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma revolução pacífica, pero armada”, como a expressar a consciência do golpismo que sempre esmagou processos democráticos de transformação social na América Latina.

Não lhe sai da lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão...

Jornalismo de desintegração
As lições de Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que esta mídia golpista, praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar.

A parceria Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio bilateral em poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Alí Primera (foto), a Embrapa, a Caixa Econômica e muitas empresas brasileiras.

Realizam obras de infra-estrutura indispensáveis para que o país dê um salto em seu desenvolvimento, o que sempre foi sabotado pelas oligarquias do período pré-Chávez.

Agora a Venezuela constrói ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas, hidrelétricas, pontes, e a participação brasileira nisto, com financiamento estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento de Lula de que integração significa “todos os países crescendo juntos”.

Os comentaristas da Globo não informam nada disso, até porque apoiaram quando o Brasil, na era da privataria neoliberal, demoliu um terço de suas ferrovias, além de ter destruído sua indústria naval, que agora, recuperada, tem inclusive 27 encomendas para a construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos aqui.

Solidão do Uniforme
Além da integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de socialismo, além de propor a organização de uma nova Internacional, indignando-se com a cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o Iraque, a Líbia e também contra Síria.

Muito longe de resolver o desemprego galopante que assola a França, o governo de Hollande lança-se em mais uma empreitada imperial contra. Só sabem guerrear.

Chávez recupera o debate sobre uma nova função social para os militares, retirando-os da solidão do uniforme, unindo-os ao povo e às causas mais preciosas para viver com dignidade, com soberania e como democracia e justiça social.

Recuperou até mesmo a função histórica do General José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar e que foi o primeiro a escrever sobre O Socialismo na América Latina, o que, em boa medida era desconhecido até mesmo pelas esquerdas brasileiras.

Hoje os militares venezuelanos cumprem função libertadora e resgatam a função das correntes militares progressistas e aintiimperialistas na história e seus representantes como Velasco Alvarado, Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a Revolução dos Cravos...

São lições de Chávez.

Os comunicadores que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de desabastecimento alimentar quando a Unicef comprova que a Venezuela teve reduzida drasticamente a desnutrição e sua mortalidade infantil.

O que há é boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até 70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios.

Na semana que passou, as autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas de alimentos que estavam escondidas pelos oligopólios, numa operação casada com a mídia para fazer a campanha de que “falta alimento”, operação da qual participam, vergonhosamente, os comentaristas globais e sua grotesca desinformação.

Segundo estatísticas da FAO, o consumo de alimentos na Venezuela aumentou em 96 por cento no período de 2001 a 2011, Era Chávez, enquanto a Cepal atesta que este país é hoje o menos desigual da América Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente, o equivalente a 2440 reais, informação que a Globo jamais noticiará.

MST, sem veneno
Antes de Chávez, a Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha apenas uma “agricultura de portos”, todo alimento era importado, até alface vinha de avião de Miami.

Hoje o país, graças à integração e à cooperação promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira, já produz metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que lhe doou toneladas de sementes criollas de soja não transgênica.

Aliás, Chávez organizou convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a Universidade Federal do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no Brasil, abertas à participação de estudantes de toda a América Latina.

Jornais populares e diversidade
Essas são algumas das generosas lições de Chávez, atacado pela Globo daqui, como pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na Venezuela.

Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de democracia”.

Vale contar episódio de jornalista brasileira que antes de viajar para lá me perguntou como poderia ter acesso a imprensa não controlada pelo governo, segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou, mas foi. E me contou; “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para toda a sua banca e disse-me, minha filha, isso aí tudo é contra o governo, que poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida.

A diferença é que essas grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez, lá têm respostas pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias, o que ainda não temos aqui.

O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas não tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as mudanças sociais em curso aqui.

Continua “dialogando” com as xuxas da vida...

Caminhando e cantando e seguindo a lição...
Diante de tantas lições civilizatórias, democráticas, transformadoras e marcadas pelo humanismo que está sendo aplicado pelo governo bolivariano da Venezuela, a conclusão de um comentarista global de que Chávez iria tomar o poder no além, é apenas e tão somente confissão de um desejo golpista macabro e atestado da estatura moral desta mídia teleguiada de Washington.

O que desejamos é que Chávez possa se recuperar, concluir a sua obra, na qual está a meta de construir e entregar 380 mil novas moradias em 2013, equipadas com móveis e eletrodomésticos, em terrenos localizados também em bairros nobres, e não numa periferia longínqua ou à beira de precipícios que desmoronam com as chuvas.

Quanto a nós, que aprendamos algumas destas lições, especialmente quanto à necessidade de fortalecer, expandir e qualificar um sistema público de comunicação, para que tenhamos acesso ao que está em nossa Constituição, a pluralidade e a diversidade informativas e um jornalismo como construção de cidadania e de humanidade.

(*) Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3732:li%C3%A7%C3%B5es-de-ch%C3%A1vez

Não deixe de ler:
- A Morte e as mortes de Hugo Chávez - Arnóbio Rocha
- A árvore das três raízes - Rafael Betencourt
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind

E mais:
- Hugo Chávez - Laerte Braga
- Nasce Hugo Chávez, o mito - Eduardo Guimarães
- A América Latina depois de Chávez - Luiz Inácio Lula da Silva

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Obama não cumpre e Guantánamo continua aberta

22/01/2013 - extraído do site Vermelho, com Telesur

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iniciou oficialmente seu segundo mandato sob a crítica de várias promessas que não foram cumpridas durante sua primeira gestão, entre elas o fechamento da prisão ilegal na base de Guantánamo.

O analista político Néstor García Iturbe afirmou que o presidente estadunidense não só descumpriu sua promessa de fechamento da prisão, como assinou a Lei da Autorização de Defesa Nacional onde aprovou uma proibição permanente sobre a transferência dos detidos nesta prisão para os Estados Unidos e a proibição de detenção militar dos cidadãos estadunidenses. 

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“Há uma cláusula que diz que não poderá ser tomado financiamento deste orçamento para transladar presos de Guantânamo para outro país nem para os  Estados Unidos. Portanto já temos que levar em consideração que durante 2013 a prisão vai estar ai, os presos vão ficar ai e não vai haver possibilidade de que a fechem”, assegurou, García Iturbe.

O analista militar David Urra assegurou que se Obama cumprir a promessa de fechar a prisão de Guantánamo, a direita estadunidense o considerará como uma concessão ao governo de Cuba.

Contra os Direitos Humanos
O analista político e escritor Adrian Salbuchi assegurou que “Os Estados Unidos se opõem a fechar Guantánamo, porque quer mandar para o mundo a mensagem de que é capaz de fazer tudo o que quer: inclusive violar as leis internacionais”.

Salbuchi disse que “o que estamos vendo é a vontade deste país [EUA] de manter um sistema absolutamente ilegal e genocida, vulnerando os direitos humanos”.

A prisão de Guantánamo está em território da base militar que foi instalada pelos Estados Unidos em Cuba, há mais de um século.

Enquanto Washington justifica sua presença na ilha caribenha com um acordo firmado entre os dois países naquele momento, Cuba insiste que este documento foi feito sob pressão e denuncia a ilegalidade do centro.

Durante seu primeiro mandato, Obama deixou várias promessas não cumpridas, entre elas destaca-se uma Reforma Migratória que resolveria a situação dos 11 milhões de indocumentados.

Obama abriu seu mandato com uma viajem para o Egito para dizer que ele era diferente, mas a invasão da Líbia e os ataques com drones, que provocam centenas de efeitos colaterais no Afeganistão e Paquistão, mostram o contrário.

Fonte:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=204210&id_secao=7

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

domingo, 1 de abril de 2012

Lições da Líbia

06/03/2012 - A contrarrevolução na Líbia, os preparativos de novos ataques do império e a necessidade de uma Frente Única Antiimperialista Mundial
- Jornal Revolução Socialista

O golpe de estado da OTAN que derrubou o governo de Kadafi na Líbia é um perigosíssimo passo dado pelo imperialismo, com novas formas de agressões, de cooptações de setores do campo progressista e manipulação de organismos internacionais e da mídia, para impor a ocupação militar e econômica de países estratégicos, visando um enfrentamento global contra países que podem representar uma alternativa transformadora frente ao acelerado processo de decomposição do sistema capitalista em escala internacional. 

Não se tratou de nenhuma libertação da Líbia ou de um fenômeno progressista como parte da chamada Primavera Árabe que sacode as ditaduras reacionárias e pró-ianques da região.

Prova disso é que logo após o anúncio oficial da vitória pelo CNT, órgão montado e dirigido pela OTAN, já houve a imposição de um representante da indústria petroleira dos EUA para fazer as funções ilegítimas de chefe-de-estado na Líbia. Além disso, já foi anunciada a decisão de construir uma base militar da OTAN no território líbio, ampliando a presença militar imperialista na região.

Muitas lições podem ser tiradas deste retrocesso no processo revolucionário da Líbia.

A primeira delas, reconhecendo o heroísmo de Kadafi que resistiu com seus combatentes e seu povo a 203 dias de bombardeio sustentado por 28 países contra 1 país, implica dizer das grandes dificuldades para formar um projeto de sociedade com capacidade de se articular internacionalmente e resistir ao imperialismo, está relacionado também com as dificuldades e os retrocessos havidos na URSS. A desorganização da URSS alterou negativamente as relações mundiais de força contra os países e movimentos progressistas e antiimperialistas. Países que haviam avançado combativamente em enfrentamentos com o imperialismo, como a Líbia, que ofereceu importante apoio aos movimentos revolucionários de vários continentes, repentinamente, com o retrocesso na URSS, viram-se desprotegidos, isolados, sem uma base organizada mundialmente para enfrentar os novos desafios. Para isto também contribui uma relativa paralisia e enfraquecimento do Movimento dos Não-Alinhados.

Enquanto a Líbia não possuía nenhuma estratégia para enfrentar os novos desafios criados pela agressiva política intervencionista dos países imperialistas, o Pentágono tem uma política de multiplicar os investimentos na indústria bélica, desprezar qualquer legalidade internacional, seqüestrar a ONU para seus desígnios, e, com isso, ir avançando na ocupação militar e econômica do mundo, onde já possui mais de mil unidades militares instaladas.

Aproveitando-se do recuo na URSS estraçalharam a Yugoslávia, ocuparam o Kossovo, demoliram a infraestrutura do antigo Estado Operário construído sob a direção de Tito, e submeteram várias ex-repúblicas, como a Slovenia, a Croácia, à condição de colônias financeiras do império, particularmente da Alemanha.

Além da agressividade do imperialismo ocupando o Iraque, o Afeganistão, a imposição de sanções contra a Líbia, o Irã, a Coréia do Norte e Cuba, a desorientação que se abate sobre o movimento comunista e revolucionário internacional após a desestruturação da URSS, também é um fator que desafiou a direção de Kadafi que buscou desenvolver relações políticas com países imperialistas, fazendo concessões políticas, econômicas e até militares (desarme parcial unilateral, abandono do programa nuclear, etc), com o objetivo de ganhar tempo, de sair da linha de tiro. Eram manobras para sobreviver, com escassas possibilidades de terem algum efeito, como por exemplo com suas relações com Sarkosy e Berlusconi.

Se a própria Rússia e China relutam, vacilam e também fazem concessões, o que não dizer da Líbia, já sem uma aliança militar como a que possuía com a ex-URSS e sem o apoio de um Movimento dos Não-Alinhados ativo e unido, vinculado com a URSS, como já foi no passado? Assim, as dificuldades de Kadafi não foram apenas resultado de suas políticas, de eventuais invenções, de tentativas de projetar uma nova forma de democracia participativa basista, limitada ao não desenvolvimento político de uma direção, com a organização de um movimento internacional orgânico, cuja necessidade Hugo Chávez percebe quando lançou o debate sobre a formação de uma V Internacional, momentaneamente adiado. As dificuldades da Líbia de Kadafi são as dificuldades enfrentadas por todo o movimento revolucionário internacional, pelos países com governos revolucionários ou mais ou menos antiimperialistas e progressistas. O campo socialista se desmantelou, os partidos comunistas e movimentos de esquerda possuem reduzida articulação internacional, registram, além disso, crises teóricas e políticas que os levam ao absurdo de apoiar a agressão da OTAN à Líbia como se fosse a libertação do país, como muitos partidos de esquerda, sobretudo da Europa, reconheceram em nota pública.

Para o imperialismo a agressão à Líbia, um golpe de estado comandado pela OTAN, a partir de milhares de bombardeios sobre alvos generalizados, matando mais de 130 mil pessoas, aproximadamente, é fundamental um teste para novas ações mais agressivas, inclusive para o teste de novos armamentos, como os utilizados contra o povo líbio. Kadafi resistiu a 203 dias de um dilúvio de bombas, uma extrapolação criminosa de uma resolução arrancada na marra no Conselho de Segurança da ONU, baseada, uma vez mais, numa mentira midiática, mil vezes repetida. A mentira de que Kadafi havia mandado a aviação bombardear alvos civis. Até mesmo o Secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates foi obrigado a reconhecer a veracidade de informações da Inteligência Russa, baseada em imagens de satélites que esquadrinham cada metro daquela região, afirmando que realmente não havia qualquer prova material de que os bombardeios atribuídos a Kadafi haviam ocorrido.

Mas, como uma torrente de desinformações e manipulações, a mídia capitalista mundial, sustentada pela TV Al Jazeera, controlada pela oligarquia reacionário do Qatar, país ocupado militarmente pelos EUA – ali está a maior base militar na região – e fronteiriço a Líbia, a humanidade recebeu um bombardeio de mentiras e mentiras e mentiras. Até mesmo alguns jornalistas progressistas experientes sucumbiram a esta coerção psicológica e passaram a defender a legalidade de uma suposta Ajuda Humanitária aos Civis da Líbia, modalidade em que se travestiu o que na verdade foi um golpe de estado e uma guerra de rapina, pois o petróleo já está sob controle das transnacionais, além do confisco, ilegal, das reservas do estado líbio no sistema financeiro internacional.

O comportamento dos países da OTAN é banditismo puro!


O imperialismo levou 42 anos para matar Kadafi!
Desde a Revolução Líbia de 1969, quando o jovem coronel Kadafi, seguindo o exemplo do coronel egípcio Nasser e liderando um levante militar-popular deu início às transformações da República Árabe Jamahyria Socialista, o imperialismo planejou matá-lo. Foram muitas sabotagens, agressões, sanções e, inclusive, o bombardeio do avião italiano de passageiros que cruzava o Mediterrâneo, em Ústica na década de 80, a partir de uma base militar ianque em Lampedusa na Itália, supondo que aquela aeronave transportava Kadafi. Morreram todos os passageiros, inclusive todas as testemunhas, operadores de radares que trabalhavam neste dia na Base Militar controlada pela Otan, impedidas de prestar depoimentos no processo judicial até hoje inconcluso. Mas, sabe-se que um míssil derrubou o avião! Em 42 anos, o movimento liderado por Kadafi transformou a Líbia, que era uma monarquia, uma colônia atrasada e miserável, no mais culto país da África, dotando-o de um sistema educacional e de saúde modernos, avançados e inteiramente gratuitos, transformando desertos em terras irrigáveis e produtivas para alimentos, além de oferecer apoio generoso a muitos movimentos revolucionários, como a Mandela, a Agostinho Neto, a Samora Machel, à Revolução Sadinista, ao Frente Polisário de Libertação Nacional, etc.

Em outra etapa, com outras relações de forças internacionais, com a existência da URSS, a Angola de Agostinho Neto e do MPLA resistiu a mais de duas décadas de agressão comandada pelo imperialismo, operada pelo exécito racista da África do Sul, que foi derrotado pela fundamental presença das tropas de Cuba na memorável Batalha de Cuito Cuanavale, em 1988. O que levou Nelson Mandela, em agradecimento a Cuba, declarar: “A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid!”. A Líbia apoiou a independência de Angola e a Libertaçao da África do Sul do regime do Apartheid.

Eis aí parte importante da função revolucionária desempenhada pela Líbia sob a direção de Kadafi. Uma das suas propostas foi a Conferencia de Organização da União Africana, apoiada por Samora Machel (morto numa suspeitosa queda de avião) e Thomas Sankara, presidente de Burkina Faso, assassinado em 1987 por golpistas, opositores a este passo revolucionário. Hoje, com a desorganização da URSS, do bloco de Estados Operários, chamado campo socialista, Cuba está politicamente impedida de repetir aquela memorável façanha de enviar mais de 350 mil homens e mulheres para a África em apoio à Revolução de Angola, nas décadas de 70 e 80. Nenhum país pode oferecer apoio militar a Kadafi agora.

Testemunhos informam que em seus últimos dias de vida, ele tentava desesperadamente fazer contatos internacionais. Nem mesmo a Argélia, que já foi uma espécie de Cuba na África, premida por outras circunstâncias, pôde fazer qualquer movimento de apoio militar à Líbia. E para isto pesou decididamente o apoio da Rússia e da China à Resolução da ONU que praticamente deu à OTAN a condição para a agressão militar, que, extrapolou completamente a autorização delimitada para criar apenas uma Zona de Exclusão Aérea.


Rússia e China
Após terem autorizado a aprovação para uma ação humanitária da OTAN contra a Líbia – prontamente usada arbitrária e ilegalmente pelo imperialismo para um golpe de estado e para executar Kadafi e seus quadros – Rússia e China são obrigados a rever este cheque em branco dado ao imperialismo, o que já se observa em razão da nova postura frente à pressão do império de intervir militarmente na Síria, onde, aliás, há uma base militar russa. Mais que isso, a trágica experiência da Líbia faz com que Rússia e China reavaliem muitas das políticas de compenetração com o capitalismo, o que certamente fortalecerá as posições de setores militares mais vinculados à tradição anticapitalista, da URSS sobretudo, para uma estratégia que considere sem margem a qualquer ingenuidade que o imperialismo prepara-se para uma guerra de grandes proporções. O aprofundamento e extensão de sua crise econômico-financeira também o empurra nesta direção, de resolver pelas armas o que não pode mais resolver pelos modos convencionais da política. Isto inclui o seqüestro, na prática, do funcionamento da ONU, inclui imposições aos países endividados, como a Grécia, Portugal e Itália, com claras interferências internas, mudanças de governos, com o alcance de golpes de estado.

De certo modo, as advertências feitas por chefes militares da Rússia contra a pretensão de instalar um propalado escudo anti-míssil na Polônia – inclusive avisando a este país que haverá uma resposta heterodoxa – bem como a presença massiva e ostensiva da Marinha Russa no Báltico, com a multiplicação de tropas, navios e submarinos, alertando aquelas ex-repúblicas soviéticas para que não sirvam concretamente como peões da OTAN na região – o que só pode ser uma política contra a Rússia – já indica uma revisão de muitos planos que calculavam, falsamente, uma possibilidade de coexistência com o imperialismo.

Uma política totalmente irreal. Um claro sinal indicando que está sendo feita uma leitura dura e realista sobre a trágicas lições da Líbia é o anúncio da candidatura de Putin. Em vários momentos ele expressou sua insatisfação com o apoio russo à Resolução anti-Líbia. E agora, além de anunciar muito antecipadamente a sua candidatura, já busca entendimentos com a China, para onde deve viajar em breve, sinalizando que o quadro que surge depois da intervenção na Líbia e as ameaças ao Iran e à Síria é um quadro de enfrentamento do sistema imperial contra os países que podem constituir uma alternativa política, militar, econômica para a formação de um bloco de países com capacidade de fazer frente, se unificados, às crescentes ameaças do império.


A esquerda latinoamericana e a crise da esquerda na Europa
Não poderia ser mais nefasta e reacionária a posição de muitos partidos comunistas, socialistas e alas da social-democracia européias apoiando a intervenção imperialista na Líbia, seja sob qual argumento for. Não havia crise humanitária na Líbia, jamais se comprovou um massacre de civis por tropas de Kadafi, ao contrário, comprovou-se a organização de uma tremenda farsa televisiva, com o canal Al Jazeera, sob controle da indústria petroleira ianque, construindo no Qatar um cenário cinematográfico que era uma cópia da Praça Verde, de Trípoli. Essas imagens percorreram o mundo, foram repetidas em dilúvio por todas as emissoras do mundo. Apenas Telesur e a TV Rússia denunciaram esta farsa, mostrando que não havia massacres na Líbia e que havia tranqüilidade absoluta na Praça Verde de Trípoli, naquele exato momento.

Sob o lema conservador e omisso “Nem OTAN, nem Kadafi” os partidos de esquerda da Europa, em quase sua totalidade, contribuíram para o cometimento de um bárbaro crime com o povo líbio e seu processo revolucionário. Em nenhuma hipótese a existência de limitações políticas e de erros na direção comandada por Kadafi justificam uma aliança prática com a OTAN e, na prática com seus governos, cujas políticas de desemprego, cortes nos direitos sociais, retrocessos políticos e sociais, as massas estão combatendo nas ruas de várias capitais européias. Boa parte dos recursos públicos que são negados ao povo europeu e aos manifestantes Indignados para o pagamento de salários, de aposentadorias e a geração de empregos, foram esterilizados nos milhares de bombardeios contra a população da Líbia, guerra apoiada como legítima pela maioria da direção dos partidos da esquerda européia. Ou seja, ela apoiou a ação de guerra dos governos membros da OTAN contra os quais estão lutando nas ruas suas bases, trabalhadores e jovens desempregados! Desmoralização completa, que levou à vitória eleitoral da direita nas últimas eleições espanholas!

Exemplar foi a posição dos governos dos países da ALBA, que condenaram o criminoso papel da ONU, solicitaram um cessar-fogo, responsabilizaram sobretudo os principais líderes imperiais.

Sobre isto é muito importante reproduzir trechos de Carta Hugo Chávez à Assembléia Geral da ONU denunciando o imperialismo e responsabilizando a própria ONU pelo massacre na Líbia:

“Imediatamente, existe uma gravíssima ameaça para a paz mundial: o desencadear de um novo ciclo de guerras coloniais, que começou na Líbia, com o macabro objetivo de dar um segundo ar ao sistema-mundo capitalista, hoje, em crise estrutural, mas sem por nenhum tipo de limite à sua voracidade consumista e destrutiva. O caso da Líbia nos deve alertar sobre a pretensão de implementar um novo formato imperial de colonização: o da intervenção militar com o aval dos órgãos anti-democráticos das Nações Unidas e justificada no apoio das mentiras mediáticas pré-fabricadas”.

“A humanidade está ao borde de uma catástrofe inimaginável: o planeta marcha inexoravelmente rumo ao mais devastador ecocídio; o aquecimento global prenuncia isso, através de suas pavorosas consequências, mas a ideologia dos Cortês e dos Pizarros com relação ao ecossistema, como bem disse o notável pensador francês Edgar Morin, os leva a seguir depredando e destruindo. As crises energética e alimentarias se agudizam, mas o capitalismo continua ultrapassando impunemente todos os limites”

Que diferença da posição de Chávez e dos presidentes dos países da ALBA ante a criminosa prostração da esquerda e da social-democracia européia e de muitos dos seus intelectuais, que chegaram ao ponto de insinuar que a esquerda latino-americana errava ao enfrentar o imperialismo e defender a soberania da Líbia!

Que moral possuem esses setores da esquerda na Europa, chamados de otanistas, de criticar os que lutam concretamente contra o imperialismo seja na Líbia ou na Síria, no Irã, se ela própria está apoiando a guerra dos governos da OTAN contra os quais luta nas ruas?

Nunca se pode olvidar que durante a 2ª. Guerra mundial, os trotskistas da URSS, que estavam na prisão, perseguidos por Stalin, quando houve a invasão das hordas nazistas, saíram do cárcere e pegaram nas armas na luta contra Hitler, defendendo a União Soviética, ombro a ombro com os stalisnistas e todo o povo acima de tudo, numa demonstração de clareza tática e objetividade frente ao inimigo principal que era o nazismo.


A fórmula líbia é fascista!
Atropelar a ONU, arrancar Resoluções com base em mentiras e manipulações informativas, organizar uma cadeia desinformativa que deturpa toda e qualquer realidade, com o que se cooptou e neutralizou uma boa parte das sociedades européias, além de paralisar a esquerda que sequer levantou a voz para denunciar os bombardeios genocidas, todos estes ingredientes conformam um modo fascista de agir. O bloqueio midiático que levou ao paroxismo da apresentação de Kadafi como um monstro e os mercenários da OTAN como “rebeldes” alcança o objetivo que antes era feito por Hitler e Goebells, repetindo uma mentira até que ela seja engolida, assumida, repetida e se transforme em “verdade”, utilizada como argumento por boa parte da esquerda que lavou as mãos diante do trágico destino da Líbia. E isso sem perceber que amanhã poderá ser o próximo alvo.

Agora já existem organizações não-governamentais, muitas remuneradas pelo imperialismo, condenando a violação dos direitos humanos na Síria, como haviam feito na Líbia, adotando como verdade a manipulação midiática do império. Agora na Síria há agentes infiltrados que atiram eles próprios nos manifestantes com a culpa sendo atribuída ao governo sírio. Tal modalidade de atentados também já havia sido utilizada no golpe midiático contra Chávez em 2002, quando franco atiradores da própria direita atiravam nos manifestantes da própria oposição de direita para culpar o governo chavista.

O papel antes desempenhado pela juventude hitlerista, pelos camisas negras, para agredir e intimidar o movimento comunista, os sindicatos, é agora cumprido por este bloqueio midiático que produz uma catarse psíquica política para justificar até mesmo a carnificina feita contra a população líbia, tudo era aceito desde que fosse para destruir Kadafi. Linchamentos, crimes de guerra, sevícias, tudo isto foi praticado pelos supostos “rebeldes” apresentados como heróis e libertadores pela mídia capitalista. Sem política adequada, sem meios de comunicação próprios, a esquerda, particularmente na Europa, intimidou-se. “Não dá para defender Kadafi”, com o que se paralisava e autorizava o massacre da OTAN ao povo líbio.

Até mesmo a prática de crimes raciais, tendo sido a cidade de Tawarga, povoada majoritariamente por negros, alvo de chacina, com os negros considerados todos kadafistas. De fato, de origem subsaariana, só na Líbia, que possuía o mais elevado IDH da África, estas populações encontraram emprego decente, educação e saúde gratuitas, uma raridade para povos que vivem na indigência africana. A rapina da OTAN, não só de seu petróleo mas também de suas riquezas culturais imensas, poderá fazer a culta Líbia retroceder a uma nova Somália, que a propaganda imperialista finge ajudar, como denunciou o próprio Kadafi em uma de suas mensagens finais.

A fórmula Líbia, já denunciada por Chávez implica em tomar uma cidade no país alvo e mobilizar apoio internacional do imperialismo, com ampla cobertura midiática, para fazer crer ao mundo que trata-se de um processo de libertação que mereceria ser apoiado pela ONU, com autorização de “ajudas humanitárias” que logo se revelam ações militares de rapina e opressão. Na Síria, a manobra do imperialismo busca tomar a cidade de Homs e a partir daí produzir auto-atentados que justificariam a aprovação de sanções pela ONU. Rússia e China acordaram do pesadelo líbio. Um pouco tarde, mas ali na Síria o desfecho pode não ser uma vitória da contrarrevolução como na Líbia.


A política externa do Brasil
Houve muitas declarações ambíguas do chanceler brasileiro sobre a Síria. Aparentemente, o Itamaraty preparava-se para dar sustentação a algum tipo de sanção , mas esta tendência foi corrigida, tendo sido importante a declaração do Assessor Internacional da Presidente Dilma sobre a Líbia, afirmando que a Resolução da ONU autorizou uma verdadeira matança. Juntamente com os BRICS o Brasil condenou os bombardeios à Líbia, mesmo tendo se abstido na votação no Conselho de Segurança.

As ambigüidades do Itamaraty contrastam-se com a declaração de Lula sobre a Líbia após reunião com militares na Escola Superior de Guerra.O que fizeram com a Líbia, amanhã podem fazer com qualquer outro país”, disse.

O que indica ser também uma constatação também no seio militar, haja visto declarações recentes de chefes militares brasileiros no Senado afirmando que o Brasil deve estar preparado para dar uma “pronta-resposta” em caso de ataque de potências estrangeiras ao petróleo pré-sal. São igualmente importantes as novas resoluções do Ministério da Defesa para que a Aeronáutica seja dotada de aviões de fabricação nacional.

É importante que as forças de esquerda no Brasil, os movimentos sociais, a CUT e demais centrais, atuem para consolidar a linha da política externa praticada durante o governo Lula com claríssima prioridade na criação de um amplo leque de relações com países que possuem políticas de independência frente ao imperialismo. A gravidade do quadro internacional, a Mensagem da Líbia que o imperialismo enviou ao mundo, exige que os movimentos de esquerda e progressistas do mundo se articulem globalmente, estimulando uma coordenação muito mais efetiva entre os governos dos países chamados emergentes, não apenas na esfera econômica, mas também do ponto de vista militar, já que o processo internacional, o intervencionismo crescente e ilegal do imperialismo, indica que esta é realmente a natureza da fase de enfrentamento que a humanidade está passando. A reunião imediata do Conselho de Defesa da UNASUR no Peru, é uma sinalização dessa necessidade.


A nova etapa da resistência na Líbia
Muito provavelmente, o povo líbio terá que travar uma luta tenaz, em condições muito duras, para derrotar este novo governo fantoche montado pela OTAN. A nomeação de um dos mais importantes executivos da indústria petroleira nos EUA, Abdel Rahim Al Kib, cidadão líbio lá radicado há mais de 39 anos, para a chefia do governo na Líbia já demonstra uma luta de abutres pelo controle do petróleo líbio. Um governo montado por homens treinados pela CIA, mercenários com sinistros vínculos com a Al Qaeda, criada pela CIA, com o apoio das oligarquias árabes, será impiedoso com a resistência líbia.

Nestas condições, com baixas importantes, a começar pelo assassinato de sua liderança fundamental, o movimento revolucionário líbio, apeado do controle do poder de estado, será obrigado a tirar amargas lições sobre a política que aplicou durante décadas, quando teve a oportunidade e os meios concretos para construir instrumentos de efetivo controle popular, o que o sistema de Conselhos Populares não assegurava de fato, permitindo que o governo enveredasse por políticas de aproximação com o imperialismo, políticas de privatizações parciais, o que facilitou enormemente a corrupção de muitos dirigentes próximos a Kadafi. Os Conselhos Populares não tiveram nunca um papel de discussão, planejamento e execução das políticas de estado. Tampouco todo este período de Revolução Líbia, que elevou enormente as condições de vida das massas, não foi aproveitada também para consolidar um sistema mais profundo e direto de participação popular, caso contrário jamais Kadafi teria apoio para, por exemplo, ajudar na eleição de um direitista como Nicolas Sarkozy. Muito menos puderam agir de forma decisiva para impedir que Kadafi tomasse a decisão determinante de abandonar seu programa de mísseis nucleares, o que foi faltal para que o imperialismo se animasse em seus planos de agressão, com o apoio de muitos membros do próprio governo de Kadafi, então já corrompidos e atuando em favor da OTAN.

A idéia de que o sistema de Conselhos Populares era algo superior de democracia, gerou em grande parte da direção líbia uma sensação de auto-suficiência e até mesmo de arrogância diante das experiências revolucionárias do mundo.

Essa sensação era ainda mais expandida e sem questionamentos internos em razão da inexistência de uma vida política, de uma democracia sindical verdadeira, que inclui a possibilidade de participação direta, com direito de críticas construtivas. O elevado nível de vida, uma boa distribuição das receitas do estado, possibilitada pelas elevadas receitas do petróleo, gerava esta sensação de que tudo caminhava sem problemas. Se houvesse a discussão concreta e realista sobre o que significava de fato a intervenção militar no Iraque, igualmente justificada em base a grosseiras mentiras midiáticas de existência de armas químicas de destruição em massa por parte de Sadan, outra política internacional deveria ter sido desenvolvida pelo governo líbio. E entre tantas medidas que não se tomaram foi a construção de uma televisão de alcance internacional para uma comunicação efetiva com as massas do mundo, informando-as sobre a vida na Líbia, sua política, suas conquistas sociais, tal como Chávez proporcionou o nascimento da Telesur.

Reconhecemos todos os avanços sociais e econômicos alcançados pela Revolução Líbia, sua generosa solidariedade para com a revolução mundial. Mas, uma insuficiente estruturação de mecanismos e órgãos que permitisse uma participação dirigente das massas impediu um maior amadurecimento político da direção para compreender que, com o fim da URSS, uma nova relação mundial de forças surgia, exigindo a construção de uma aliança de todos os países do mundo que possuem qualquer grau de enfrentamento programático e político com o imperialismo. Era indispensável ter construído laços muito amplos e mais sólidos com os movimentos revolucionários internacionais e um uma política que tivesse condições de impor uma resistência ainda maior e com condições de aproveitar crise e estimular as massas nos países capitalistas para uma ação muito mais ousada contra estes governos, derrotando-os ou paralisando-os em boa medida suas ações criminosas contra a Líbia.

É bem verdade que Kadafi deu-se conta dos limites e da ineficiência de sua política de aproximação com os países imperialistas, fazendo um jogo perigoso, uma manobra que resultou desastrosa, sobretudo por ter facilitado a contaminação e a corrupção de alas de seu governo, seduzidos pela idéia da privatização e estimulados pelo retrocesso mundial da luta pelo socialismo. Sem existir na Líbia um partido com funcionamento político revolucionário, que alertasse para os riscos do novo quadro mundial, e que desenvolvesse uma política de maior vinculação com os governos populares da América Latina, quando Kadafi percebeu a gravidade do beco sem saída em que havia se metido, era tarde. Ele ainda tentou reorientar a política da Líbia. Propôs ao Putin a construção de uma base naval russa na costa líbia.

Propôs a formação da OTAS (Organização do Tratado do Atlântico Sul), em contraposição à OTAN e também a reativação da IV Frota Naval pelos EUA para a região. No entanto, a esta altura seu governo já se encontrava contaminado, infiltrado; a contrarrevolução se organizava internamente e em rápida coordenação com os serviços de inteligência da França e da Inglaterra, portanto, já se configurara uma situação de perda relativa de controle por parte de Kadafi. Uma retomada do controle exigia aquilo que de fato não foi desenvolvido durante as 4 décadas da Revolução Líbia, apesar de seu enorme progresso: uma direção política revolucionária marxista, a construção de organismos para a participação direta e dirigente das massas. Mesmo a corajosa e necessária distribuição massiva de armas ao povo líbio, embora indicasse uma decisão de resistir a qualquer custo, também já se revelava tardia e insuficiente diante do desarmamento essencial feito em anos anteriores e do grau de infiltração ocorrido, com informações estratégicas entregues ao imperialismo, dificultando qualquer estratégia de defesa.


Construção de uma Frente Única Antiimperialista Mundial
Poucos dias antes de ser vilmente executado, execução esta estimulada pelo comportamento de carrasco de Obama e de Hillary Clinton, revelando a baixa estatura moral dos dirigentes imperiais, Kadafi fez um candente apelo para a formação de um Movimento Antiimperialista Mundial.

Tragicamente, chegava à conclusão sobre uma tarefa indispensável e central e que poderia ter sido priorizada por ele mesmo durante as 4 décadas de revolução líbia. A convocação de um Encontro Internacional entre os países dos BRICs e da ALBA , bem como países do Movimento dos Não-Alinhados, hoje em fase de recesso, é urgente. Discutir experiências como as da Líbia, da Yugoslávia, os ataques à Síria, as ameaças ao Iran, as sabotagens contra a Venezuela, a Coréia do Norte, as tentativas de desestabilização da Bolívia, do Equador, etc, e daí traçar uma linha de ação coordenada, seja na diplomacia no âmbito da ONU, mas principalmente em acordos de cooperação mais audazes e concretos, sobretudo incluindo Rússia e China, pelo seu grau de desenvolvimento militar-tecnológico e econômico.

Com o que fez na Líbia o imperialismo está mandando uma mensagem para intimidar o mundo sobre a adoção cada vez mais acentuada de métodos fascistas para emparedar o mundo.

A criação do Conselho de Defesa da América do Sul, logo após a reanimação de IV Frota pelos EUA é indicadora de uma medida necessária, mas que deve se desenvolver praticamente na estruturação conjunta de políticas de defesa. Que incluam cooperação tecnológica, a exemplo do que vem sendo feito entre a Rússia e a Venezuela no setor militar, ou entre Argentina e Brasil na construção de carros de combate.

Evidentemente, estes países também necessitam fazer uma debate para formular uma nova política de defesa – que individualmente muitos já possuem – mas agora, depois do que se viu na Líbia, com um enquadramento baseado na cooperação internacional.

Individualmente, poucos países têm capacidade para fazer qualquer enfrentamento com o imperialismo, que no caso da Líbia, atuou movimentando forças de 28 países contra um. Isoladamente, sequer todo o poderio militar que ainda restava às forças de Kadafi pôde ser utilizado, dado a disparidade de forças em combate, com o predomínio dos milhares de bombardeiros ininterruptos por 203 dias seguidos.

O debate da trágica lição da Líbia, não apenas militar, mas sobretudo política, é fundamental para o amadurecimento do campo progressista e antiimperialista que só terá condições de fazer frente à agressão da OTAN se atuarem de maneira unida, planejada, coordenada.
  

Que expressam as convicções progressistas da América Latina
 «Nós, os venezuelanos, depositamos nossas esperanças numa grande aliança das agrupações regionais do Sul, como a UNASUR, a CARICOM, o SICA, a União Africana, a ASEAN ou a ECO e, muito especialmente, nas instâncias inter-regionais de articulação de potências emergentes como o BRICSs que se devem converter num pólo de atração articulado com os povos do Sul».