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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Marina, chavismo e PT

A seguir, publicamos análises dos jornalistas Beto Almeida e José Carlos Ruy sobre algumas das recentes declarações de Marina Silva, recém-filiada no PSB e provável candidata a vice-presidente em 2014, completando a chapa de Eduardo Campos.

Da Rede Democrática
A declaração de Marina Silva considerando-se vítima de “chavismo” do PT tem sintonia com declarações, sempre conservadoras, do ministro Gilmar Mendes, que ataca o partido de Lula por semelhanças em suas políticas sociais com as venezuelanas que beneficiam evidentemente a maioria do povo e, também, uma política externa de não submissão aos EUA.

Por Beto Almeida

Hugo Chávez deixou um legado que apavora as oligarquias do mundo inteiro. Fatos: o chavismo erradicou o analfabetismo na Venezuela, que hoje tem o nível de desigualdade mais baixo da América do Sul. Convocou 23 mil médicos cubanos e hoje a Pátria de Bolívar reduziu a mortalidade infantil drasticamente, venceu a desnutrição crônica, paga o mais elevado salário mínimo da região, tem uma nova lei do trabalho, protegendo os trabalhadores da voracidade capitalista, lança satélites ao espaço e selou acordos com Rússia, China e Irã para industrializar o país, lá instalando ferrovias, fábricas de tratores, caminhões, refinarias, algo que o Brasil também necessita, urgentemente.

Não há presos políticos na Venezuela chavista, e a mídia, majoritariamente controlada por capitalistas aliados dos EUA, pratica golpismo diuturnamente, sem censura e não há jornalistas presos lá. Nos 14 anos de Chávez à frente do governo, foram realizadas 16 eleições, plebiscitos e referendos, dos quais o chavismo venceu 15, respeitando democraticamente o único resultado adverso.


O chavismo é atacado por suas qualidades, tal como Lula define os ataques recebidos pelo PT dos conservadores, nos quais se inclui Marina Silva, para o deleite da mídia oligárquica. Sua declaração apenas demonstra que as eleições de 2014 no Brasil serão plebiscitárias: ampliar a justiça social, democratizando a renda, a educação, a saúde, a terra e a informação, construindo um Brasil Nação, com inclusão, ou então, ceder aos inimigos do Chávez, ao privativismo, ao ecologismo financista imperial improdutivo, sem integração latino-americana, ou seja, um Brasil Mercado, com exclusão.


O jogo da direita: Marina quer derrotar o “chavismo” do governo


Por José Carlos Ruy

As reações e mobilizações que se seguiram à decisão do TSE, nesta quinta-feira (3), que não aceitou dar um “jeitinho” para legalizar da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, dão uma ideia das dificuldades que os conservadores encontrarão pela frente na eleição de 2014. 

O TSE aplicou a lei, sem ceder às pressões dos organizadores da chamada Rede, que pretendiam legalizar aquele partido sem completar o número de assinaturas de apoiadores que a lei exige. Os cartórios eleitorais impugnaram de assinaturas e, assim, faltaram 50 mil para completar as 492 mil exigidas.

A decisão foi o estopim para dois movimentos. O primeiro foi o extravasamento público de restrições que Marina Silva enfrenta dentro do próprio partido que pretende criar. Ela “comete erros de avaliação estratégica", acusou o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos dirigentes da Rede. Ele a atacou em artigo divulgado pelo Facebook na sexta-feira (4). Foi arrasador; sua descrição do modo de agir de Marina Silva faz dela uma espécie de Jânio de saias, dona do mesmo autoritarismo autocentrado e voluntarista do ex-presidente, que renunciou em 25 de agosto de 1961. 

O processo de decisão de Marina, disse Sirkis, é "caótico"; ela não faz "alianças estratégicas com seus pares". Sirkis responsabilizou a ex-senadora pelo fracasso no encaminhamento da criação e registro legal de seu partido, a Rede. Ela não entendeu, escreveu, “que o jogo seria assim”, e esta foi “uma das muitas auto complacências resultantes de uma mística de auto ilusão”. Ela só consegue “trabalhar direito com seus incondicionais”, reagindo “mal a críticas e opiniões fortes discordantes”.

Outro apoiador de primeira hora, o jornalista Ricardo Noblat, também fez uma avaliação severa. Restabelecendo-se de uma cirurgia cardíaca, ele escreveu em seu blog que pouco se conhece além de uma imagem pública que oculta a verdadeira Marina: “conservadora, preconceituosa, centralizadora". E questiona, no artigo intitulado significativamente E Marina, hein?: a “candidata disposta a se eleger presidente da República para mudar o país foi incapaz de montar um partido no prazo determinado pela lei. Dá para acreditar?”

Marina revelou-se um poço de mágoa contra a atual coalisão progressista e democrática que governa o Brasil; o foco de seu ressentimento é sobretudo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e a atual presidenta Dilma Rousseff. 

Na tarde deste sábado (5) Marina anunciou sua filiação ao PSB, anunciando que será candidata a vice-presidente numa chapa encabeçada pelo governador pernambucano Eduardo Campos. “Não tive outra alternativa”, explicou, dizendo que o sonho presidencial fica adiado pela urgência de lutar contra a esquerda que exerce a presidência. “A minha briga, neste momento”, teria dito perante integrantes da Rede, “não é para ser presidente da República, é contra o PT e o chavismo que se instalou no Brasil". São palavras que resumem o espírito geral da reunião em que a decisão foi tomada; na verdade, segundo as notícias, foi mais um monólogo mariniano, que terminou às 4h30 da madrugada deste sábado (5).

O noticiário dá conta também das pressões de poderosos grupos financeiros cujo objetivo é manter Marina no jogo sucessório. E inclusive o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sai com a imagem arranhada deste arranjo patrocinado por plutocratas. Segundo as informações que circularam neste sábado (5), essas pressões cresceram desde a quinta-feira (4), depois da derrota sofrida no TSE. As pressões teriam partido dos grupos econômicos que já apoiam Marina explicitamente (a Natura e o Itaú), mas há menção também a outra fonte, sendo citado diretamente Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo.

A raiva e o ressentimento de Marina contra a esquerda e o PT têm lá o seu peso em suas decisões e articulações. Mas o fundamental, e que dá consistência e direção às suas ações, é o apoio dos donos do dinheiro que veem nela um caminho para derrotar a esquerda e seu governo e levar de volta, ao Palácio do Planalto, o programa neoliberal partilhado por Marina Silva. Sua participação na eleição de 2014, mesmo como vice de Eduardo Campos, poderá - pensam eles - pelo menos empanar o brilho de uma vitória da esquerda ao levar a previsível vitória de Dilma Rousseff para o segundo turno. É uma clara tentativa de reduzir a legitimidade de um segundo mandato que possa aprofundar as mudanças que o país e o povo precisam.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

40 anos do golpe no Chile

10/09/2013 - Samuel Pinheiro Guimarães - Agência Carta Maior

Fora do contexto mais amplo da política dos Estados Unidos para a América Latina, é difícil compreender o golpe no Chile, 40 anos atrás.

Desde a Independência das colônias espanholas e portuguesa, no início do século XIX, e da proclamação da Doutrina Monroe, em 1823, os Estados Unidos consideram, e as potências europeias reconhecem (e muitos latino americanos aceitam), que a América Latina deve estar necessariamente na sua área de influência, isto é, sob a sua hegemonia.

Sobre a América Central e o Caribe os Estados Unidos estabeleceram o seu domínio com a conquista pela força armada de mais da metade do território do México, em 1848; com as seguidas intervenções e longas ocupações militares na Nicarágua, no Haiti, na República Dominicana e outros países; com a conquista de Cuba e de Porto Rico à Espanha; com a promoção da secessão do Panamá, em 1903, e a construção do Canal, com sua Zona de ocupação militar permanente, que perdurou até o ano 2000.

Estava criado o Mar Americano, do novo Povo Eleito.

Sobre a América do Sul, os Estados Unidos demorariam a estabelecer sua hegemonia, em parte devido à maior dimensão dos Estados e em parte devido à presença financeira, comercial e política inglesa até o fim da Primeira Guerra Mundial.

Encontraram os americanos sempre, em suas investidas de articulação política dos países da América do Sul, a oposição argentina, o VI Domínio da Grã-Bretanha, e a cooperação brasileira, desde o Barão do Rio Branco, na chamada Aliança não-escrita.

Após a penosa vitória sobre o Império Alemão, em 1918, conseguida, aliás, somente graças à ajuda econômica e militar americana, começa a se esvair a presença britânica na América do Sul e a se afirmar a influência política e econômica dos Estados Unidos.

O Corolário à doutrina Monroe, de autoria de Teodoro Roosevelt, belicoso tio de Franklin Delano, anunciado em 1904, em que os Estados Unidos se arrogavam o direito de intervir em qualquer país do Continente que se revelasse incapaz de manter a ordem (isto é, os interesses americanos) e o 
êxito em incluir a Doutrina Monroe entre os princípios do tratado de criou a Liga das Nações, em 1919, revelam claramente a visão americana da América Latina. 

Devido à necessidade de aliciar o apoio dos Estados do Continente diante da ameaça nazista no horizonte, os Estados Unidos abandonaram a política do big stick e a diplomacia do dólar e lançaram a Política de Boa Vizinhança, com Zé Carioca e tudo o mais, renunciando retoricamente à sua hegemonia, e passaram a cultivar ativamente as elites e, muito em especial, os proprietários dos meios de comunicação na América do Sul.

Após a Segunda Guerra, o extraordinário prestígio americano e sua determinação de alinhar os regimes sul-americanos na luta contra o comunismo levou, de um lado, à criação, em 1948, da Organização dos Estados Americanos, a OEA, organismo regional previsto na Carta das Nações Unidas, e, de outro lado, à defesa da livre iniciativa como dínamo do desenvolvimento latino-americano, com atração do capital estrangeiro, o que 
significava capital americano, visto o estado precaríssimo das economias europeias no pós-guerra.

Com a Revolução Cubana, em 1959, tudo muda. A invasão fracassada da Baía dos Porcos (semelhante à operação que depôs Jocobo Arbenz, na Guatemala, 
em 1954); a oposição americana, cada vez mais feroz, a Cuba; a arregimentação dos regimes latino-americanos contra Cuba; a resistência de certos governos, entre eles o do Chile, à determinação americana de intervir em Cuba; e a suposta fragilidade dos governos civis latino-americanos diante da imaginada influência cubana e comunista, transformariam a política de Boa Vizinhança na política de instalação de governos militares, na aplicação da teoria da modernização autoritária, da qual fazia parte a Aliança para o Progresso.

O primeiro regime militar a ser instalado na execução da nova política foi o do Brasil, em 1964, em que houve ampla participação americana na preparação do golpe, inclusive na escolha do novo presidente, o general Castelo Branco, amigo do adido militar americano, Vernon Walters, segundo os documentos revelados pelos Estados Unidos e mostrados no educativo filme, O Dia que Durou 21 Anos.

Era a política de mudança de governo (regime change) executada pela CIA, de forma encoberta (covert action) com ações diretas e de espionagem, hoje fartamente documentada, e que nos dias atuais se faz de maneira absolutamente aberta, e até com certa desfaçatez, com a participação de 
serviços de inteligência e de ação americanos (special operation forces), de fundações públicas e privadas, de ONGs.

Tudo com a ajuda da tecnologia mais sofisticada de espionagem, da qual não escapam os aliados (acólitos) mais confiáveis, como a Alemanha de Frau Angela Merkel e a França de Monsieur François Hollande e aqueles Estados amigos, como o México, do Señor Peña Nieto, tão longe de Deus, e o Brasil, da Senhora Dilma Rousseff, surpresa e indignada.

O Chile era, em 1973, um caso de grande importância estratégica para a política americana na América do Sul. 

A ascensão democrática de Salvador Allende, sua disposição de implantar um regime socialista democrático e nacional no Chile, sua política externa independente, o receio de que viesse a estimular países latino-americanos a procurarem novas estratégias de desenvolvimento e a se rebelarem contra as ditaduras militares já implantadas no Brasil (1964) na Argentina (1966 ) no Uruguai (1971), na Bolívia (1971) levaram à determinação americana de organizar um golpe militar no Chile com a articulação financeira, política e midiática da direita civil e militar do pais. 

Os Estados Unidos articularam a ascensão ao poder de uma das ditaduras mais cruéis, violentas e implacáveis da América Latina, comandada pelo 
General Augusto Pinochet, pelo jornal El Mercúrio e pelo empresariado chileno. 

A ditadura do General Augusto Pinochet (foto) reverteu a reforma agrária do Governo Allende e implantou um programa neoliberal de reformas econômicas, 
sob o comando dos Chicago Boys , um primeiro resultado do programa de formação de pessoal nos Estados Unidos, financiado pela Aliança para o Progresso, fenômeno que se repetiria mais tarde em outros países da América do Sul.

A Operação Condor (abaixo), a articulação dos governos militares para perseguir, capturar e executar as lideranças políticas de esquerda , teve como seu inspirador o Chile, com a famosa DINA, Direção de Inteligência Nacional, cujo chefe era pago pela CIA. 

O apoio brasileiro ao golpe militar chileno foi imediato e prolongado no tempo assim como o apoio norte americano e dos países europeus.


Com a crescente oposição americana aos regimes militares devido à sua deriva para uma posição de certa independência em relação aos Estados 
Unidos, com projetos em especial na área militar (tais como o projeto Condor de mísseis na Argentina e os programas brasileiros nas áreas espacial, nuclear e de informática), e com a nova política americana de direitos humanos, o regime de Pinochet perderia o apoio americano, dos europeus e dos países da região mas somente viria a ser substituído em 1990.

Interessante, antes e após a queda do regime de Pinochet, ditadura cruel e implacável, foi a defesa, por certos órgãos da mídia internacional e brasileira, do regime chileno como modelo para o Brasil, e para outros países latino-americanos, justificando o regime militar como forma necessária de implantar as reformas econômicas.

Agora, redemocratizada a América do Sul, neoliberalizada pelos programas de renegociação da dívida e pela aplicação das políticas, definidas pela academia, Tesouro americano, FMI e Banco Mundial, resumidas no Consenso de Washington, políticas implantadas por economistas treinados nas melhores universidades americanas, futuros banqueiros e empresários, tudo parecia tranquilo para o Império.

Mas, como o Continente viu a emergência de movimentos sociais e de Partidos políticos de diferentes matizes de esquerda, eleitos democraticamente, presenciamos hoje operações políticas de regime (ou policy) change nos diversos países da América do Sul que não aderiram ao modelo americano de política econômica, implantado pelos acordos de livre comercio que o Chile, já em 1994, a Colômbia e o Peru celebraram com os Estados Unidos e que tem como princípios a privatização, a desregulamentação, a abertura comercial e financeira, o privilégio ao capital multinacional.

Hoje, os Governos da América do Sul podem realizar programas sociais (no que terão o apoio da Igreja, antiga defensora dos regimes militares, hoje convertida), reduzindo a pobreza e estabilizando sociedades em extremo desiguais, podem construir sua infraestrutura a duras penas e podem ter veleidades de política externa, até aceitas pois agradam os movimentos de esquerda, mas não podem, sob pena de se tornarem alvo de políticas 
ativas de regime change, tomarem iniciativas concretas para promover políticas que abalariam os pilares da dominação imperialista:

democratizar a mídia 
fazer a auditoria da dívida pública 
substituir o regime de metas inflacionárias por um regime de metas de desenvolvimento e emprego 
disciplinar o capital multinacional 
desenvolver sua indústria de defesa 

Os Estados que respeitarem estes limites, que não tentarem implementar políticas com tais objetivos, continuarão a crescer a taxas muito baixas, 
cada vez mais desiguais ainda que com menos pobres, sem autonomia tecnológica, vulneráveis política e militarmente, seu Estado endividado, mas, 
para a tranquilidade e satisfação de suas classes conservadoras (ainda que sempre apreensivas) continuarão a ser parceiros confiáveis (reliable 
partners) dos Estados Unidos e de sua hegemonia imperial. 

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22668

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lula e Mujica afirmam que monopólios de mídia são "negação da democracia"

Os dois participaram de debate com lideranças sindicais promovido pela CSA e pela FES em Montevidéu

Por Leonardo Wexell Severo e Isaías Dalle, de Montevidéu -Revista Fórum

“No mundo inteiro, os líderes políticos reclamam dos meios de comunicação. Eu já ouvi o Obama reclamando, a [Angela] Merkel, e dirigentes de vários países. Esse é um tema muito delicado e penso que nós não devemos ter monopólios de mídia no Brasil, onde poucas famílias mandam no setor. Isso é contra a democracia que, para mim, não é uma coisa menor. A democracia é a única razão de ser e a única maneira de um governo de esquerda implementar as mudanças necessárias.”


Democratização da comunicação seria desafio dos mais imediatos da América Latina para consolidar e avançar a democracia (Ricardo Stuckert)

A declaração acima foi feita pelo ex-presidente Lula na noite desta quinta-feira, na sede do Parlamento do Mercosul, em Montevidéu, no debate entre lideranças políticas e sindicais “Transformações em risco? Perspectivas e tensões do progressismo na América Latina”, realizado pela Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), com o apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES).

O presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, comparou o “despotismo” da ditadura militar com o comportamento dos grandes conglomerados de comunicação e defendeu “mecanismos de regulação” que garantam a diversidade de opiniões. Hoje, condenou, “a liberdade de imprensa tem de passar pelo olho da fechadura de um sistema empresarial muito estreito”. Na verdade, esclareceu, em vez de liberdade de imprensa o que há é liberdade de empresa, havendo uma manipulação “do peso conceitual aparente, através de posições políticas e filosóficas conservadoras”.

O tema da democratização dos meios de comunicação foi introduzido no debate pelo secretário geral da CSA, Victor Báez, o primeiro a responder à pergunta do mediador, o historiador Gerardo Caetano, sobre os desafios mais imediatos da América Latina para consolidar e avançar a democracia e o combate à desigualdade. “Nós do movimento sindical notamos que toda vez que a imprensa noticia algum tema de cunho social, a matéria vem cheia de preconceito e críticas ao processo de inclusão”, declarou Victor.

Combate à desigualdade

Ainda que apontando alguns dos inúmeros avanços obtidos do ponto de vista econômico e social na última década, o moderador lembrou que a região continua apresentando a terceira maior desigualdade de renda do planeta e questionou os debatedores sobre quais as medidas a serem adotadas frente à tamanha adversidade.

Lula respondeu que a primeira ação é o povo continuar elegendo governos democrático-populares, “pois não se consegue mudar em 10 anos toda uma herança de desmandos, mas é possível que um governo conservador retroceda do dia para a noite”. “Em vários dos nossos países da América Latina conseguimos reafirmar o Estado como um polo de desenvolvimento. Conseguimos acabar com a ideia que o Estado não servia, não prestava, e que o mercado, que só atua onde tem lucro, é quem tinha as soluções. Mas o que vimos na Europa é que o deus mercado faliu e quem teve de socorrer foi o pobre diabo do Estado”, advertiu.

O presidente uruguaio disse acreditar na capacidade essencialmente renovadora da democracia, que ventila o ambiente e traz elementos rejuvenescidos a cada tempo. “Esse exercício efetivo, real da democracia, fortalece a participação popular e supre os erros que, inevitavelmente, serão cometidos por quem governa”, acrescentou.

Ao comentar o combate à desigualdade, Victor Báez propôs: “Os países têm de criar impostos sobre os mais ricos. Só vai acabar com a desigualdade e pobreza quem diminuir a concentração de renda”. Mais adiante, o secretário geral da CSA também lembrou que os países da região que mais avançaram no combate à desigualdade são aqueles em que a maioria dos trabalhadores é protegida por acordos coletivos celebrados por organizações sindicais.

Integração

A necessidade de continuar e fortalecer o processo de integração, principalmente via o Mercosul, foi apontado como uma das formas de enfrentar as assimetrias e reduzir os impactos negativos da crise dos países capitalistas centrais. Os três debatedores concordaram que essa integração, no entanto, não deve se limitar às trocas comerciais, mas que deve priorizar igualmente a valorização do trabalho.

“Acho que daqui há 15 anos seremos o continente mais invejado do mundo, porque somos detentores de recursos de caráter estratégico, com abundância de água, por exemplo, com imensas potencialidades que agora começam a se tornar realidade”, comentou Mujica, ao fazer um prognóstico do futuro da região.

Victor Báez também afirmou sua crença num futuro promissor, desde que a esquerda e as forças progressistas promovam uma “centrifugação política”, em que a solidariedade volte a ser um valor essencial.

Encerrando a noite, Lula reiterou seu otimismo em relação ao Continente e às decisões coletivas que devem ser implementadas, sintetizando nossa perspectiva de futuro com uma metáfora: “Quem comeu carne pela primeira vez dificilmente vai se acostumar a comer sem carne. Não há nada que faça a América Latina retroceder. Que se cuide quem quiser ser governo, pois o povo aprendeu a conquistar as coisas”

Fonte: Publicado originalmente na Revista FÓRUM

quinta-feira, 14 de março de 2013

E deu Maradona

13/03/2013 - Laerte Braga - Diário Liberdade

Excesso de virtudes, na visão do escritor inglês Aldous Huxley, não significa compreensão da vida em sua essência, em seu sentido e em sua razão de ser.

Pode significar orgulho, pode levar a pessoa a um afastamento gradativo da realidade, como pode significar mesquinharia.

Jorge Mario Bergoglio (foto), o cardeal argentino eleito papa, Francisco, não é mesquinho e nem alheio à vida, isolado da realidade. Suas virtudes são políticas.

É um dos mais duros críticos do governo da presidente Cristina Kirchner, foi protocolar na condenação à ditadura naquele país e a despeito do voto de pobreza, vive dentro do sistema, mantém a igreja atrelada a conceitos medievais, agora, recheados com uma camada de chantili para dar a impressão de modernidade, ou tornar-se palatável.

Por baixo dessa camada não existe marrom glacê, mas um osso duro de roer e à direita, dentro dos padrões do Vaticano.

Bergoglio não chega, necessariamente, a ser uma surpresa.

No conclave que escolheu Ratzinger foi o segundo mais votado.

Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral razoável.

Sobre o brasileiro Odilo Scherer (foto) leva a vantagem de ser dissimulado (isso conta para a hipocrisia de Roma).

As mudanças serão de estilo e não de fundo.

Deve tentar influir politicamente em seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor Kirchner, quanto a sua mulher Cristina (foto abaixo).

A despeito de críticas à economia de mercado, nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os problemas de seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD do Brasil. “Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu ponto de vista."

No caso específico não estava e nunca esteve revendo nada. Exceto no que diz respeito a presidente Cristina (foto, ao lado de Néstor).

Entre suas virtudes escondidas, o poder.

A busca do poder é uma de suas características.

Lembra João Paulo II, um produto de marketing.

Sorri, enquanto sangram nos porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.

É jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa negro”.

Começou a perder essa característica quando João Paulo II (foto) pôs fim a ela. Submeteu os jesuítas, fundado por Santo Inácio de Loiola um militar espanhol.

Um sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato.

Um papa virtuoso é o sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena, sem o controle de Washington.

Não há mudança alguma na igreja.

Um novo showman foi eleito para gerir o Vaticano.

Essa é outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura, que sobra no argentino.

No fundo são iguais.

Ao dizer que os homossexuais “merecem respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Esta mantendo o estigma, a hipocrisia bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior.

Ao ser contra o aborto está deixando claro que nenhum dos dogmas férreos da Idade Média serão substituídos, ou revistos, apenas atenuados no discurso.

Mas as câmaras de injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos palácios papais do Vaticano.

Francisco talvez garanta a igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só isso.

É uma espécie de canto da sereia, só isso.

Ilude o pescador e o leva para o fundo do mar no atraso crônico de uma instituição em estado falimentar.

Isso  quer dizer perigo.

Vem respaldado por forças conservadoras que podem causar estragos ponderáveis, sobretudo na América Latina, principalmente na Argentina.

Está longe de ser um Maradona, um Néstor Rossi, um Alfredo Di Stéfano.

E um detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE, chamou na edição de hoje [13/3], quarta-feira, antes da escolha de Francisco, o jogador argentino Lionel Messi de papa.

Foi pelo desempenho no jogo de terça-feira contra a equipe da Milan.

Francisco não é uma incógnita.

É a continuidade do atraso da igreja romana.

Sua dimensão pode ser, inclusive, a de enfrentar os evangélicos, grupo de malucos que tenta roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio do Vaticano.

Fonte:
http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/36559-e-deu-maradona.html

PS do blog Educom:
Há um mês, em 13/02/2013, a Carta Maior publicou um texto de Oscar Guisoni do qual extraímos os seguintes trechos:

"Como ocorreu em 2005, quando foi eleito o Papa Joseph Ratzinger, os conservadores e ultramontanos argentinos voltam a se iludir com a possibilidade de colocar seu homem no Vaticano: o cardeal Jorge Bergoglio

 Mas o papel desempenhado pela Igreja argentina e pelo citado cardeal em particular durante a última ditadura militar (1976-1983) (foto ao lado, general Jorge Videla, ex-ditador argentino desse período) torna quase impossível que o Vaticano opte por habilitar com a “fumaça branca” um personagem com semelhante currículo.

Salvo que “assim como nos anos 80 escolheram Karol Wojtyla para canalizar religiosamente a luta do povo polonês (isto é, a do mundo ocidental e cristão) contra o totalitarismo soviético”, sustenta D’Addario [colunista Fernando D’Addario, do Página/12, da Argentina] com acidez, “agora escolham um papa argentino para salvar-nos do populismo gay e favorável ao aborto que se expande como uma peste por estes pampas”.

"Enquanto isso, o candidato em questão, o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, sonha em alcançar um papado impossível.

Nascido em 1936 e presidente da Conferência Episcopal durante dois períodos (cargo que abandonou recentemente por doenças da idade), é difícil que o Vaticano se arrisque a colocar no trono de Pedro um homem citado em vários processos judiciais por sua cumplicidade com a ditadura e que conseguiu evitar seu próprio julgamento por contra de influências e argúcias de advogados.

Nada disso impede, porém, os ultramontanos argentinos de sonhar com a possibilidade de ter um Papa em Roma que os ajude a acabar de uma vez por todas com um governo [de Cristina Kirchner (foto)] que consideram o pior inimigo da Igreja Católica desde que o presidente Juan Domingo Perón enfrentou-se de forma virulenta (incluindo a queima de algumas igrejas) com a hierarquia católica no final de seu governo em 1955."

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

domingo, 10 de março de 2013

Lições de Chávez

25/01/2013 - Por Beto Almeida (*) para o site RedeDemocratica

[Este ensaio foi escrito, portanto, antes da morte, em 05/03/2013, do presidente Hugo Chávez - Equipe do blog Educom]

Desde que foi eleito em 1998, o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates, seja em razão das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja em razão do medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de cada país, vassalas e zeladoras dos interesses deste imperialismo em cada país.

Certamente, sobre cada um destes aspectos é possível retirar profundas lições.

No caso brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um mínimo de informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora, em razão do infortúnio da enfermidade de Chávez, esta mídia supera-se.

Promove uma comunicação necrológica, havendo inclusive comentarista de veículos das Organizações Globo, que chega mesmo ao grotesco de torcer pela desaparição do mandatário venezuelano.

Sobre isto devemos tirar lições, seja aquelas amargas, a partir do comportamento medieval da mídia empresarial sobre a trágica enfermidade de Chávez, enfermidade que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também sobre o que este mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a mudar a face da América Latina.

Por um lado, fica claro que para aqueles comentaristas globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de humanidade ou solidariedade, que sustentariam desejos de estabelecimento e de superação deste azar pessoal.

Mas, o que se observa é ainda mais grave: para além do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de serviço público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação destes desejos mórbidos em grande escala de difusão, violando a Constituição Brasileira, que, em seu artigo 221, estabelece como princípio a ser observado, “o respeito aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer manifestação da autoridade responsável.

É como se fosse autorizado aos concessionários de serviços públicos de abastecimento de água, distribuir água contaminada e suja à sociedade.

Para que serve a mídia?
Será que isto estaria se tornando uma tendência?

Há alguns meses, quando cientistas iranianos foram assassinados em atentados que, segundo o noticiário da época, teriam sido organizados por comandos israelenses - os mesmos que assumem agora terem participado da eliminação de Yasser Arafat - num programa televisivo, Manhattan Conection, também veiculado por empresa das Organizações Globo, comentaristas chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos mereciam mesmo ser assassinados.

Apologia do homicídio!

Tanto num caso, como em outro, Venezuela e Irã, são países com os quais o Brasil possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em benefício mútuo notório.

Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal, caso emissoras de tv da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar autoridades brasileiras, e, chegassem a torcer pela reincidência do câncer em Dilma ou em Lula, e para que eles não resistissem?

Ou se estas emissoras defendessem a morte de cientistas brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil também possui - de modo soberano - seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e Irã?

Pra que servem os meios de comunicação social, afinal de contas?

Para hostilizar e desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e antidemocrático, a personalidades de outros países, com o que se desrespeitam povos com os quais temos relações de cooperação e amizade?

Será mesmo admissível que concessões de serviço público sejam utilizadas para insuflar, propagandear e celebrar o desejo de morte de seres humanos, simplesmente por não comungar de suas ideias?

Esta prática não seria equiparável àquelas que Goebels denominava de “razões propagandísticas”, e que precederam os ataques nazistas a outros povos?

Estranho “ditador
As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a prática basilar do jornalismo.

Críticas e discordâncias são absolutamente normais e devem ser praticadas.

Mas, desinformação, distorção e inverdades grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo.

Um dos aspectos mais utilizados nesta cruzada midiática de anos é a tentativa de rotular Hugo Chávez como ditador.

Estranho “ditador” este que chegou ao poder pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou, democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor.

Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição Bolivariana - ela também referendada pelo voto popular - o mecanismo da revogabilidade de mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não conseguiu a vitória nas urnas.

Auditoria eleitoral
Na Venezuela, para dar ainda mais segurança às eleições, estas não são julgadas pela mesma autoridade que as organiza.

Além disso, as urnas possuem mecanismo de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto que teclou foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse deste voto impresso, o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo.

Isto possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde, conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são vulneráveis a interferência externa sobre seus programas, além do que, não existe a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de recontagem.

Estranho “ditador” este Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos, lembrando que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada, na eleição de outubro de 2012, uma participação superior a 86 por cento do colégio eleitoral.

O revelador aqui é que as Organizações Globo, tão empenhada em rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou a supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a Proconsult contra a eleição de Brizola em 1982 e foi contra a Campanha Diretas-Já, em 1984, uma das mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil.

E, ainda hoje, a Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a rejeição por mais de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou tais equipamentos...

Povo ignorante?
Esses comentaristas da Globo tentam passar a imagem de que a Venezuela é um país de atraso cultural, para o que se valem, novamente, do expediente corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente.

Vamos aos fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como “Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire.

Lá, para a erradicação do analfabetismo, além da utilização de um método super-revolucionário elaborado em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve uma tremenda mobilização do governo, das massas, das instituições, mas também dos meios de comunicação públicos, que, existem, informam e possuem uma programação cultural educativa elevada ao contrário daqueles sintonizados com os ditames prepotentes do Consenso de Washington.

Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio deste método que o Deputado Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz de superar as ameaças elitistas da autoridade eleitoral que queria lhe cassar o mandato. Tiririca aprendeu a ler e escrever em poucas semanas.

Como também foram alfabetizados campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na Bolívia e no Equador.

Em breve será a Nicarágua a ser declarada também, oficialmente, pela Unesco, Território Livre do Analfabetismo.

Como contraponto, vale lembrar que o programa Telecurso Segundo Grau, produzido pela Fundação Roberto Marinho, é exibido em horário da madrugada pelas emissoras que empregam esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos públicos despendidos para a sua produção e veiculação.

A escolha do horário é apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do nível educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a Constituição.

O que é notícia?
Aqueles comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isto, bem como sobre o papel dirigente de Hugo Chávez ao formar com estes países e outros a ALBA - Aliança Bolivariana para o Progresso, numa iniciativa em que colocou o petróleo com instrumento da elevação das condições de vida não apenas dos venezuelanos, mas também do progresso social conjunto destes povos.

A isso chamam de ingerência, trocando solidariedade por intromissão.

Graças aos recursos do petróleo, milhares de latino-americanos, estão recuperando a plena visão, por meio de cirurgias gratuitas realizadas pela Operación Milagro, um esforço comum entre Cuba e Venezuela.

Esta operação humanitária, jamais divulgada de forma adequada pelas Organizações Globo, nasce quando a OPAS alertou para a possibilidade de que pelo menos 500 mil latino-americanos perdessem a visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma tragédia perfeitamente evitável.

As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na Venezuela, e agora também na Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou locais.

Isto não se informa, mas um dia destes, fiquei tomei conhecimento, pelo Jornal Nacional, da edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians, a tal duquesa de Cambridge, está sofrendo muito enjoo na sua gravidez.

Cuba e Venezuela decidiram operar 6 milhões de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos.

O que é notícia?

Índios leem “Cem anos de solidão
Aí temos outra lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez criou a Universidade Bolivariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças Armadas, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano.

Por meio deste programa foram editados, dando apenas alguns exemplos, a obra “Dom Quixote”, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos gratuitamente nas praças públicas, e também a obra “Contos”, de Machado de Assis, pelo mesmo programa, com uma tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que o genial escritor do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas o analfabetismo persiste, mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares.

Além disso, algumas tribos indígenas da Amazônia venezuelana, que até Chávez ainda desconheciam a escrita, já tiveram seu idioma sistematizado, e, como primeira obra publicada no novo sistema de escritura, tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez.

No entanto, apesar de tudo isto, para estes comentaristas da Globo, que agridem Chávez no leito de um hospital, na Venezuela há um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”...

Como explicar, então, a realização destas mudanças marcantes?

Vale contar um caso: o senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à Venezuela para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo.

Escreveu num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me disse que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez que a Globo não possui aptidão para aprender...

Petróleo a preço de água
Antes de Chávez, quando 80 por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era regalado aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior consumidora de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima importação de caviar para pequenos círculos oligarcas.

Eleito, Chávez cumpriu promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo venezuelano regalado.

Recuperou gradativamente o controle sobre a PDVSA e também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho colonizado.

Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril - ou seja, muito mais barato que água mineral ou Coca-Cola - e hoje, avança pela casa dos 100 dólares.

Eis a razão do ódio dos EUA a Chávez.

Evita Perón e Vargas
Este ódio imperial se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada pelos falcões norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer, aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para vassalagem, para submissão.

Não é a primeira vez na história que isto ocorre.

Quando Evita Perón (foto) foi acometida por um câncer, este jornalismo mortífero se expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos imperiais nutriram por Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa portenha para os muros de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua podridão moral escrevendo “Viva el Câncer!”.

Os imperialistas jamais perdoaram Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes que frequentemente se organizavam contra Perón.

Chegou mesmo a advertir Perón, que lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu, que ele estava preparando as condições - desmobilizando os trabalhadores - para não ter capacidade de resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da morte de Evita. Ela bem que avisou.

Depois foi contra Getúlio Vargas (foto), quando sua saída da vida para entrar na história foi comemorada em círculos manipulados pelo capital externo, que não suportavam a criação da estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na CLT e da lei da remessa de lucros ao exterior.

Não por acaso, o povo expressou sua tristeza e sua fúria, pranteando Vargas, mas também empastelando os símbolos daquele ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais Tribuna da Imprensa, Globo, e, até mesmo do jornal do PCB, Tribuna Popular, que no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo sua renúncia.

Assustados e envergonhados, os dirigentes comunistas recolhiam os exemplares do jornal que ainda estavam nas bancas. Mas, não tiraram conclusões históricas do porquê também foram alvo da fúria popular contra seus inimigos, sobretudo porque Vargas havia convidado Prestes para ser o chefe militar da Revolução de 30, aquela que em apenas 24 horas alistou mais de 20 mil voluntários para pegar em armas e combater a República Velha.

Prestes inicialmente aceitou o convite, mas a ordem stalinista foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano Cárdenas, eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial revolucionário, e que deveriam receber o apoio tático dos revolucionários.

O Levante de 4 de Fevereiro de 1992
Processos revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com rupturas da legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma de insurreições, armadas ou não.

A partir das revoluções outra legalidade é constituída.

Assim foi a Revolução de 30.

Assim havia sido a Revolução Francesa.

Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia.

A Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o voto é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para defenderem suas ideias.

A Revolução Bolivariana começa com um levante insurrecional - o 4 de fevereiro de 1992 - destinado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujo objetivo era retirar a Venezuela da condição de colônia petroleira.

Evidentemente, os comentaristas que seguem orientação imperial não suportam qualquer forma de rebeldia contra hegemonias colonizadoras.

Na prisão, Chávez se transforma no homem mais popular da Venezuela, aquele capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com a sua história, com Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem negra e índia, como são os venezuelanos.

A Revolução Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em processo institucional por meio da aprovação do voto popular.

Mas, diante das constantes ameaças golpistas imperiais e também das provocações desestabilizadoras da oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma revolução pacífica, pero armada”, como a expressar a consciência do golpismo que sempre esmagou processos democráticos de transformação social na América Latina.

Não lhe sai da lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão...

Jornalismo de desintegração
As lições de Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que esta mídia golpista, praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar.

A parceria Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio bilateral em poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Alí Primera (foto), a Embrapa, a Caixa Econômica e muitas empresas brasileiras.

Realizam obras de infra-estrutura indispensáveis para que o país dê um salto em seu desenvolvimento, o que sempre foi sabotado pelas oligarquias do período pré-Chávez.

Agora a Venezuela constrói ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas, hidrelétricas, pontes, e a participação brasileira nisto, com financiamento estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento de Lula de que integração significa “todos os países crescendo juntos”.

Os comentaristas da Globo não informam nada disso, até porque apoiaram quando o Brasil, na era da privataria neoliberal, demoliu um terço de suas ferrovias, além de ter destruído sua indústria naval, que agora, recuperada, tem inclusive 27 encomendas para a construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos aqui.

Solidão do Uniforme
Além da integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de socialismo, além de propor a organização de uma nova Internacional, indignando-se com a cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o Iraque, a Líbia e também contra Síria.

Muito longe de resolver o desemprego galopante que assola a França, o governo de Hollande lança-se em mais uma empreitada imperial contra. Só sabem guerrear.

Chávez recupera o debate sobre uma nova função social para os militares, retirando-os da solidão do uniforme, unindo-os ao povo e às causas mais preciosas para viver com dignidade, com soberania e como democracia e justiça social.

Recuperou até mesmo a função histórica do General José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar e que foi o primeiro a escrever sobre O Socialismo na América Latina, o que, em boa medida era desconhecido até mesmo pelas esquerdas brasileiras.

Hoje os militares venezuelanos cumprem função libertadora e resgatam a função das correntes militares progressistas e aintiimperialistas na história e seus representantes como Velasco Alvarado, Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a Revolução dos Cravos...

São lições de Chávez.

Os comunicadores que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de desabastecimento alimentar quando a Unicef comprova que a Venezuela teve reduzida drasticamente a desnutrição e sua mortalidade infantil.

O que há é boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até 70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios.

Na semana que passou, as autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas de alimentos que estavam escondidas pelos oligopólios, numa operação casada com a mídia para fazer a campanha de que “falta alimento”, operação da qual participam, vergonhosamente, os comentaristas globais e sua grotesca desinformação.

Segundo estatísticas da FAO, o consumo de alimentos na Venezuela aumentou em 96 por cento no período de 2001 a 2011, Era Chávez, enquanto a Cepal atesta que este país é hoje o menos desigual da América Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente, o equivalente a 2440 reais, informação que a Globo jamais noticiará.

MST, sem veneno
Antes de Chávez, a Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha apenas uma “agricultura de portos”, todo alimento era importado, até alface vinha de avião de Miami.

Hoje o país, graças à integração e à cooperação promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira, já produz metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que lhe doou toneladas de sementes criollas de soja não transgênica.

Aliás, Chávez organizou convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a Universidade Federal do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no Brasil, abertas à participação de estudantes de toda a América Latina.

Jornais populares e diversidade
Essas são algumas das generosas lições de Chávez, atacado pela Globo daqui, como pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na Venezuela.

Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de democracia”.

Vale contar episódio de jornalista brasileira que antes de viajar para lá me perguntou como poderia ter acesso a imprensa não controlada pelo governo, segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou, mas foi. E me contou; “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para toda a sua banca e disse-me, minha filha, isso aí tudo é contra o governo, que poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida.

A diferença é que essas grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez, lá têm respostas pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias, o que ainda não temos aqui.

O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas não tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as mudanças sociais em curso aqui.

Continua “dialogando” com as xuxas da vida...

Caminhando e cantando e seguindo a lição...
Diante de tantas lições civilizatórias, democráticas, transformadoras e marcadas pelo humanismo que está sendo aplicado pelo governo bolivariano da Venezuela, a conclusão de um comentarista global de que Chávez iria tomar o poder no além, é apenas e tão somente confissão de um desejo golpista macabro e atestado da estatura moral desta mídia teleguiada de Washington.

O que desejamos é que Chávez possa se recuperar, concluir a sua obra, na qual está a meta de construir e entregar 380 mil novas moradias em 2013, equipadas com móveis e eletrodomésticos, em terrenos localizados também em bairros nobres, e não numa periferia longínqua ou à beira de precipícios que desmoronam com as chuvas.

Quanto a nós, que aprendamos algumas destas lições, especialmente quanto à necessidade de fortalecer, expandir e qualificar um sistema público de comunicação, para que tenhamos acesso ao que está em nossa Constituição, a pluralidade e a diversidade informativas e um jornalismo como construção de cidadania e de humanidade.

(*) Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3732:li%C3%A7%C3%B5es-de-ch%C3%A1vez

Não deixe de ler:
- A Morte e as mortes de Hugo Chávez - Arnóbio Rocha
- A árvore das três raízes - Rafael Betencourt
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind

E mais:
- Hugo Chávez - Laerte Braga
- Nasce Hugo Chávez, o mito - Eduardo Guimarães
- A América Latina depois de Chávez - Luiz Inácio Lula da Silva

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.