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sábado, 11 de agosto de 2012

Instituições federais de educação em greve: o que está em disputa..



André Lázaro*  
         A greve de professores das instituições federais de educação levanta o debate necessário sobre o que está em disputa neste momento na educação brasileira. Após seis anos sem qualquer paralisação por motivos salariais, a maioria das Universidades e boa parte dos Institutos Federais, além do Colégio Pedro II, estão em greve. Trata-se do esgotamento de um modelo antigo ou da crise de um novo modelo que mal se iniciou?
         A educação tem merecido atenção crescente no debate público. A crítica feroz aos resultados atuais dos estudantes da educação básica, no entanto, nem sempre se recorda dos baixíssimos investimentos e péssimo acompanhamento da qualidade que orientaram a política da educação superior nos anos de 1990. Hoje ainda colhemos frutos desses equívocos: baixa qualidade da formação de professores, disputas de mercado entre as instituições privadas com redução de custos por meio da demissão de profissionais qualificados, instituições públicas que ignoram o compromisso com a educação básica.
         Os investimentos públicos no ensino superior nos anos de 1990, sua expansão e interiorização, foram frutos dos esforços das universidades estaduais. A política que vigorou até o início dos anos 2.000 apostava no fortalecimento da iniciativa privada em educação, deixando as instituições federais à mingua. A partir do início da década passada o Governo Federal passou a investir na visão sistêmica da educação e tomou diversas iniciativas para fortalecer a educação superior, inclusive em sua articulação com a educação básica. Em destaque, a reestruturação das universidades federais pelo Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que significou mais recursos de investimento e de custeio e contratação de professores e técnicos, tanto para suprir as deficiências herdadas da década anterior quanto para sustentar a expansão em curso. Do mesmo modo, a rede de educação profissional e tecnológica, negligenciada na década de 1990, recebeu novos recursos de investimento e de custeio e contratação de pessoal. Em parceria com diversas instituições de educação superior, a Universidade Aberta do Brasil foi ampliada e a educação a distância chega a municípios bastante afastados das cidades universitárias. São iniciativas de grande porte que demandam sustentação de longo prazo e políticas de Estado para lhes darem o tempo de maturação necessário. Construir é mais demorado do que desmontar...
         Por outro lado, o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) ganhou consistência e consequência: mesmo instituições federais foram advertidas quando seus resultados estavam aquém do necessário. E, pela primeira vez na história do país, foram fechadas vagas em cursos de baixo rendimento, tanto em pedagogia quanto em medicina e direito.
         Hoje os estudantes no nível superior, pouco mais de 6,3 milhões, estão distribuídos entre instituições privadas, com 74,2% das matrículas, e instituições públicas, com 25,8%. As instituições públicas, no entanto, têm papel a cumprir: foram as que iniciaram ações afirmativas para inclusão da diversidade, são elas que seguem abrindo campi no interior do país, são elas que oferecem a maioria dos cursos de pós-graduação, que desenvolvem pesquisas e extensão universitárias.
         A atual expansão da educação superior recoloca questões que já estavam à mesa, mas agora se tornam urgentes visto o papel estratégico que as Instituições passam a ter no modelo que se pretende fortalecer no país. A carreira que está em debate na greve precisa ser reformulada em valores e em estrutura. É preciso valorizar adequadamente a dedicação exclusiva, oferecer as adequadas condições para as pessoas que dedicam a vida a produzir conhecimento novo (pesquisa), formar as novas gerações (ensino) e a disseminar o conhecimento pela sociedade (extensão), além de levar esse conhecimento ao setor produtivo, numa via de mão dupla (inovação tecnológica). Isso não se faz sem professor ou sem os técnicos.
         Portanto, a greve em curso deve ser lida no contexto do crescimento e da expansão, diferente de como se dava nos anos de 1990, quando havia um contexto de agonia e esfacelamento da rede federal frente ao fortalecimento do setor privado.
         Após a década de 90, repleta de greves e impasses, as negociações caminhavam para consolidar um rumo e etapas a serem cumpridas. No entanto, mudanças de governo e o trágico falecimento do secretário do planejamento que conduzia as negociações, Duvanier Ferreira (cuja morte por negligência motivou a lei recente que criminaliza a exigência de cheque caução nos hospitais) trouxeram consequências inesperadas. Parece que se perdeu o rumo da prosa e o horizonte da carreira.
         Vivemos um novo momento e a greve expressa exatamente essa tensão entre o novo e o velho. A greve atual, por mais forte que seja e mais ampla que possa se tornar, representa a necessidade de superar definitivamente tanto um desenho de carreira inadequado quanto um padrão de negociação burocratizado. A dedicação que se espera das Instituições Federais de educação superior não pode estar sujeita a variações anuais. A educação é investimento de longo prazo, inclusive – e talvez principalmente – para professores e pesquisadores que necessitam de tempo e condições para desenvolver o trabalho de ensino, pesquisa e extensão.
         O país ainda está construindo as soluções que foram negadas na década de 90. Como todo percurso histórico, o atual tem suas tensões e contradições, mas tem também uma direção: dotar o Brasil de um parque de instituições capaz de produzir inteligência e inovação, ser inclusivo de sua diversidade étnico-racial, social e cultural e se distribuir por todo o território, visando à superação das históricas desigualdades regionais.
         Este texto é uma contribuição do autor ao projeto Grupo Estratégico de Análise da Educação Superior (GEA-ES), realizado pela FLACSO-Brasil com apoio da Fundação Ford.
      *   - André Lázaroé  Professor da Faculdade de Comunicação Social da UERJ e Coordenador Executivo do GEA-ES (Grupo Estratégico de Análise da Educação Superior no Brasil) da Flacso-Brasil. Foi Diretor no MEC de 2004 a 2006 e Secretário de 2006 a 2010.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Indígenas contra velhos estereótipos





*por Isabelle de Grave, da IPS
indios3 Indígenas contra velhos estereótipos
A melhor maneira de preservar uma cultura oral é através do filme. Jovens Kuikuro documentam a cultura e as lendas de seu povo. Foto: Dal Marcondes.
Nova York, Estados Unidos, 9/8/2012 – A importância dos meios de comunicação comunitários, para se contraporem a determinados estereótipos que sofrem as etnias originárias e defender seus direitos, é destacada por ocasião da celebração, hoje, do Dia Internacional dos Povos Indígenas. O tema deste ano, Meios de Comunicação Indígenas: Dando Poder às Vozes Indígenas, faz parte da Segunda Década Internacional das Populações Indígenas do Mundo (2005-2015), dedicada à ação e à dignidade. A conferência que acontece hoje na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, pretende destacar a importância da mídia indígena na luta contra os estereótipos, a projeção de sua identidade, a comunicação com o mundo exterior e sua capacidade de influir na agenda política e social.
Representações estereotipadas afligem os povos aborígenes há tempos, pois costumam apresentá-los com um grupo homogêneo arraigado no passado e incapaz de mudar dentro dos países, os quais continuam passando por cima de seus direitos para que funcionem as políticas estatais. Duncan McCue, jornalista da Corporação de Radiodifusão do Canadá (CBC) desde 1998, expressou seu desejo de que os grandes meios de comunicação compreendam a importância de atender o tema dos estereótipos dos povos indígenas.
No contexto de sua tarefa com professor-adjunto da Faculdade de Jornalismo da Universidade da província de Colúmbia Britânica, McCue criou no ano passado o curso Informando sobre Comunidades Indígenas, bem como o site riic.ca, para promover uma cobertura justa sobre as questões indígenas. “Certa vez um ancião me disse que a única forma de um indígena aparecer no noticiário era se ele ou ela estivesse dentro dos quatro D: drumming, dancing, drunk or dead (batendo tambores, dançando, bêbado ou morto)”, escreveu no site o jornalista, que é membro dos chippewas da província canadense de Ontário, uma das maiores comunidades aborígines da América do Norte.
“Os povos aborígenes estão mal representados nas notícias. Quando aparecem, costumam ser vítimas e guerreiros ou manifestantes”, pontuou MacCue à IPS. A última fotografia sobre “povos não contatados” na Amazônia peruana prova a tendência dos grandes meios de comunicação ao sensacionalismo e ao espetáculo quando informam sobre questões aborígenes. Diante deste caso, Sheila Aikman, especialista em educação e desenvolvimento da britânica Universidade de East Anglia, declarou que “a mídia local se concentrou no que considerou que era notícia ou que chamaria a atenção, pelo menos em termos de impacto visual e de nota sensacionalista”.
Se detiveram “na confirmação da existência de povos não contatados, pessoas nuas e pintadas de vermelho disparando flechas contra os aviões”, detalhou Aikman à IPS. Imagens exóticas acompanharam artigos sobre as dificuldades vividas pelo povo maschco piro, que habita a região peruana de Alto Purus. Contudo, para esta especialista em educação intercultural e movimentos indígenas, a cobertura da imprensa “se concentrou nos estereótipos mais básicos”.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exortou os “Estados-membros e os grandes meios de comunicação a criarem e manterem oportunidades para que os povos indígenas possam articular suas perspectivas, prioridades e aspirações”. McCue considera que iniciativas como o site riic, aberto a todos os jornalistas do mundo, é um ponto de partida para melhorar a cobertura. A tarefa de melhorar a cobertura em um setor que depende do mercado, limitado por tempo e recursos e com a constante pressão de elaborar notícias que sejam vendáveis, encontra uma considerável dificuldade.
No entanto, McCue se mostra otimista. “Estou convencido de que a capacitação de jornalistas vai melhorar a cobertura sobre as questões indígenas”, afirmou. “Nosso site é escrito para jornalistas, por um jornalista e do ponto de vista de que há dificuldades diárias na hora de informar, mas que podemos adaptar nossas práticas e nossos enfoques para que se ajustem aos indígenas sobre os quais informamos, o que só vai melhorar as matérias”, enfatizou à IPS.
Além disso, há o desafio de manter a iniciativa riic, criada com poucos recursos e apoio da Knight Fellowships, da norte-americana Universidade de Stanford, e de várias comunidades aborígenes. Além de melhorar a cobertura jornalística, McCue aponta a necessidade de maior disponibilidade de empregos para os próprios indígenas do Canadá. “A situação melhorou. Há mais jovens jornalistas aborígines do que quando comecei, há 14 anos, mas ainda estamos mal representados”, ressaltou Mccue.
Além do mais, “as faculdades de jornalismo do Canadá não fazem o suficiente para incentivar os estudantes indígenas a se dedicarem a esta profissão”, acrescentou. Há opções como a Rede de Televisão dos Povos Aborígines (ATP), lançada em 1999, a primeira no mundo que oferece uma plataforma para que os povos aborígines, inuit e mestiços compartilhem suas histórias.
Ao ser consultado sobre o papel da mídia na luta pela autodeterminação dos povos aborígines, McCue opinou que, “em última instância, cabe a nós, como indígenas, honrar nossos ancestrais e seus ensinamentos, vivendo e respirando a autodeterminação todos os dias. A luta pela autodeterminação tem muitas faces, e os meios de comunicação são uma ferramenta poderosa, tanto os nossos quanto as grandes redes, para compartilhar nossas histórias, promover o entendimento e cobrar a responsabilidade dos governos e de nossas próprias autoridades”. Envolverde/IPS
Fonte: Site Envolverde
Leia também:  http://brasileducom.blogspot.com.br/2012/07/terras-indigenas-o-file-do-mercado-de.html 

domingo, 6 de maio de 2012

Vem aí o II Fórum Mundial de Mídia Livre

Durante a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, fazedores, especialistas e ativistas das mídias livres de vários países se reúnem na Escola de Comunicação da UFRJ para o II Fórum Mundial de Mídia Livre, encontro internacional do setor que estreou no Fórum Social Mundial Amazônico, em Belém. Para nós do EDUCOM o FMML tem significado especial, como fazedores de mídia livre e por termos colaborado na organização do primeiro Fórum nacional, em 2008. Confira a seguir uma apresentação - e uma convocação - para o encontro.

Centenas de representantes das mídias livres estão se preparando para ir ao Rio de Janeiro, em junho de 2012, para ajudar a fazer a Cúpula dos Povos da Rio+20, evento paralelo à Conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável. Trabalharão para difundir a voz dos povos reunidos na Cúpula, que em vez de falar em manejo do meio ambiente pelo poder econômico, falarão em caminhos para a justiça ambiental e social. Essas mídias terão uma agenda própria dentro da Cúpula, onde se encontrarão para realizar o II Fórum Mundial de Mídia Livre, além de cobrir as atividades e os temas da Rio+20.
O que são as mídias livres?
Comprometidas com a luta pelo conhecimento livre e por alternativas aos modelos de comunicação monopolizados ou controlados pelo poder econômico, as mídias livres são aquelas que servem às comunidades, às lutas sociais, à cultura e à diversidade. Praticam licenças favoráveis ao uso coletivo e não são negócios de corporações. Compartilham e defendem o bem comum e a liberdade de expressão para todo mundo e não apenas para as empresas que dominam o setor. Entendem a comunicação como um direito humano e, por isso, querem mudar a comunicação no mundo.
Quem é a mídia livre?
São sites ativistas e publicações populares, rádios e tvs comunitárias, pontos de cultura (no Brasil) e muitos coletivos atuantes nas redes sociais. Também são as agências, revistas e emissoras alternativas, sem finalidade de lucro, especializadas ou voltadas a trabalhar com as pautas propostas pelos movimentos sociais, sindicais, acadêmicos ou culturais. Dentro ou fora desses espaços, também são mídia livre as pessoas – jornalistas, comunicadoras(es) e educomunicadoras(es), blogueiras(os), fazedoras(es) de vídeo, oficineiras(os) e desenvolvedores(as) de tecnologias livres que hoje constituem um movimento crescente pelo direito à comunicação.
O II Fórum Mundial de Mídia Livre
Depois de três fóruns no Brasil (Rio de Janeiro 2008, Vitória 2009 e Porto Alegre 2012), dois encontros preparatórios no Norte da África (Marrakesh 2011 e Tunis 2012), uma edição mundial (Belém 2009) e uma Assembléia de Convergência no Fórum Social Mundial (Dacar,2011), a mídia livre vai aos poucos construindo suas agendas, regionais e globais, que terão um avanço importante no Rio de Janeiro, com a segunda edição mundial.
O II Fórum Mundial de Mídia Livre se organizará através de painéis, desconferências (debates livres), oficinas e plenárias previstos para o Rio de Janeiro. Os formatos estão abertos. Participe! As atividades serão inscritas e organizadas pelos próprios coletivos e organizações interessadas em promovê-las, dentro de um programa construído coletivamente e orientado por eixos que apontam para a relação entres as mídias livres e o direito à comunicação, as políticas públicas, a apropriação tecnológica e os movimentos sociais. A agenda global está em processo de construção.
1. O direito à comunicação
O direito à comunicação precisa ser garantido e respeitado como um direito humano, mas é constantemente ameaçado ou mesmo negado em muitos lugares do mundo, com emprego de extrema violência. Um dos aspectos desse direito é a liberdade de expressão, hoje assegurada somente para as empresas que controlam grandes cadeias de comunicação e entretenimento, que não querem a sociedade participando da gestão do sistema, e para governos que ainda temem a comunicação livre como ameaça à segurança do país ou à sustentação do poder. O direito a comunicação deve ser conquistado em um sentido integral, para além do acesso à informação manipulada pelo mercado ou grandes poderes, englobando acesso e uso dos meios, democratização da infra-estrutura e produção de conteúdos, e expressão da diversidade artística e cultural e pleno acesso ao conhecimento.
O Fórum Mundial de Mídia Livre terá pautas e debates sobre o direito à comunicação em diferentes contextos, como a África e o México, por exemplo, onde a violência contra jornalistas e comunicadores(as) tem sido pauta prioritária dos movimentos de comunicação.
2. Políticas públicas
A Ley de Medios da Argentina repercutiu com força em processos regionais e preparatórios do FMML, como em Porto Alegre e em Marrakesh, com testemunhos de ativistas e pesquisadores de comunicação daquele país, e deve novamente ser um dos assuntos do II FMML, seja por ter oferecido um modelo de legislação mais democrática que pode inspirar outros países, seja pela forte reação contrária que provocou nas grandes corporaçães do setor da comunicação. Mas não será o único caso de regulação e políticas públicas de interesse das mídias livres.
Ao ser realizado no Brasil, o II FMML deve jogar peso das agendas das mídias livres para a comunicação no país, o que significa que o governo precisa encaminhar as propostas da sociedade civil brasileira para um novo marco regulatório das comunicações, democratizando o setor; que as rádios comunitárias devem ter atendidas sua pauta de reivindicações, com anistia aos radialistas presos e condenados, e que o Congresso precisa votar e aprovar o Marco Civil da Internet, que pode ser modelo para assegurar a neutralidade da rede.
A mídia livre deve jogar peso também na retomada das políticas da área cultural que tinham os pontos de cultura, as tecnologias livres e as filosofias “commons” como carros chefes, em contraste com o claro retrocesso que hoje se verifica no setor.
Leis, regulações e o papel do Estado na promoção do direito à comunicação já são parte dos debates das mídias livres em diferentes países e devem movimentar a agenda do II FMML.
3. Apropriação tecnológica
Se antes eram os meios alternativos que buscavam formas colaborativas e compartilhadas de produzir comunicação, hoje são as grandes corporações que dominam o setor e atraem milhões de pessoas para as suas redes sociais. No entanto, o ciclo de expansão dessas redes também tem sido uma fase de coleta, armazenamento e transformação de dados pessoais em subsídios para estratégias de mercado e comportamento, além da padronização do uso da rede em formatos pré-ordenados e possibilidade de supressão de páginas ou ferramentas de acordo com os interesses corporativos. Soma-se a este controle a movimentação da indústria do direito autoral e das empresas de telecomunicação para aprovar leis que permitam associar vigilância à punição arbitrária de usuários, em favor dos negócios baseados na exploração e uso da rede.
As liberdades e a diversidade da internet dependem da liberdade de acesso, proteção de dados pessoais, abertura de códigos, apropriação de conhecimentos e construção de conexões alternativas, de autogestão das próprias redes. Estes serão debates marcantes do II FMML, mobilizando desenvolvedores e ativistas do software livre, defensores da neutralidade da rede, educomunicadores e oficineiros e movimentos interessados em democratizar o acesso à tecnologia, universalizar a banda larga, e assegurar a apropriação dos recursos de comunicação, sejam ferramentas de edição de vídeos, transmissão de dados pela rede, seja a própria radiodifusão comunitária.
Desenvolvedores, coletivos e comunidades adeptas das redes livres, abertas e geridas fora dos interesses do mercado, se encontrarão neste eixo para debater um PROTOCOLO para as redes livres, capaz de facilitar sua interconexão sem destruir sua diversidade.
4. Movimentos sociais
As mídias livres e o exercício da comunicação em rede tem sido fundamentais para facilitar a articulação e dar a devida visibilidade às mobilizações de rua desde a primavera árabe, enfrentando regimes ao Norte da Africa, a ditadura das finanças na Europa, e o próprio sistema capitalista nos Estados e nas ocupações que também ocorrem no Brasil e países da América Latina.
Além dos chamados ativismos globais, os movimentos sociais tem assumido que a comunicação é estratégica para fortalecer suas lutas, impondo a crítica cotidiana da grande mídia e o uso de meios alternativos para falar à sociedade e defender-se da criminalização. Cada vez mais fica claro que o direito de expressar essas vozes contestadoras da população exige o engajamento dos movimentos sociais no movimento por uma outra comunicação. Este debate, no II FMML, concretiza o fato de que as mídias livres são, de um lado, a comunicação que se ocupa das lutas sociais e, de outro, os movimentos sociais que lutam também pela comunicação.
O II FMML, o FSM e a Cúpula dos Povos
O Fórum de Mídia Livre, em seus processos regionais ou internacionais, se insere no processo do Fórum Social Mundial, adotando sua Carta de Princípios e contribuindo com subsídios e práticas para a construção de suas políticas de comunicação.
Na Cúpula dos Povos, as mídias livres utilizarão o conceito de Comunicação Compartilhada, construído no percurso histórico do Fórum Social Mundial, e fundado na idéia de que recursos, espaços e atividades podem ser compartilhados para ações midiáticas comuns de interesse das lutas sociais. As mídias livres contribuirão ainda com propostas e debates para fortalecer a agenda dos Bens Comuns, onde comunicação e cultura são grandes bens da humanidade, indissociáveis da Justiça Ambiental e Social, e para inserir o direito e a defesa da comunicação nos documentos, agendas e propostas dos povos representados por seus movimentos sociais no Rio de Janeiro.
***
II Fórum de Mídia Livre
Quando: 16 e 17 de junho de 2012
Onde: Rio de Janeiro, RJ – Brasil, no contexto da Cúpula dos Povos na Rio+20
Locais das atividades: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, campus da Praia Vermelha), com a programação central, debates, oficinas e plenária
Cúpula dos Povos: 15 a 23 de junho
Aterro do Flamengo: coberturas compartilhadas, Laboratório de Comunicação Compartilhada, Fóruns de Rádio e TV, oficinas, Assembleia de Convergência sobre Mercantilização da Vida e Bens Comuns.
Sites
www.forumdemidialivre.org
www.freemediaforum.org
www.cupuladospovos.org.br
Leia mais:
II Fórum de Mídia Livre: Luis Nassif abriu o FML, em dezembro
Fórum Mídia Livre defende Conselho, política de Educom e apoio a blogs e radicom
II FML: Ivana Bentes comenta o Fórum de Vitória e a Confecom
























quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Primeiro Encontro Mundial de Blogueiros

Por Sérgio Bertoni

A realização do 1º Encontro Mundial de Blogueir@s, de 27 a 29 de outubro de 2011, em Foz de Iguaçu, Paraná, Brasil, encerrou com chave de ouro uma etapa e dá início a uma nova fase do processo de organização de Blogueir@s e ativistas das redes sociais que lutam pela Democratização das Comunicações no Brasil e no Mundo.


Desde o 1º Encontro Nacional, realizado em agosto de 2010 em São Paulo, os encontros realizados serviram para que pudéssemos nos conhecer, criar laços de amizade e companheirismo, trocar informações e estabelecer relações e alianças entre blogueir@s de diversas regiões, além de aprender a separar o joio do trigo. Os encontros permitiram também fazer um diagnóstico bastante amplo da situação das comunicações no Brasil e no Mundo, assim como avaliar o verdadeiro papel da novas mídias neste contexto e apontar novos desafios.

Painéis de debates estiveram presentes em todos os encontros realizados. Personalidades e estudiosos deram contribuições fundamentais à nossa discussão. Trabalhos em grupos, que aconteceram em maior ou menor grau em cada um dos estados onde os encontros foram realizados, deram o ponta-pé inicial ao processo de troca de experiências e debate de ações concretas. Redes se formaram e novas ideias se disseminaram.

Agora é hora de ousarmos na construção dos próximos encontros, sejam eles regionais, estaduais, nacionais ou mundial. Precisamos unir todo o conteúdo acumulado até aqui e partir para debates ainda mais profundos e democráticos que envolvam um número cada vez maior de pessoas e temas. Para isso precisamos inovar:
- na elaboração dos programas dos encontros, tornando seus processos de construção coletivos e ainda mais colaborativos; 
- no formato dos próximos encontros, dando mais espaço para os debates entre os participantes de forma a proporcionar a elaboração de planos de ação concreta; e
- abrindo espaço para temas não abordados até aqui.

É preciso que as comissões organizadoras, dentro de sua proposta democrática e horizontal, assumam o papel de facilitadores do processo e ajudem no estabelecimento de pontes entre o movimento de blogueir@s e ativistas das redes sociais, da cultura digital, do movimento sindical e dos movimentos sociais.

É fundamental também que @s blogueir@s assumam mais responsabilidades nos processos de preparação dos encontros, estabeleçam contatos, apresentem propostas, criem alianças, compartilhem informações e conteúdo e não fiquem esperando que as comissões organizadoras cuidem de tudo, entregando-lhes pacotes "prontos". Precisamos manter a horizontalidade do movimento e isso só será possível com ampla participação de cada blogueir@.

Passada a etapa de análise e diagnóstico é chegada a hora de passar para o campo da ação concreta, aquela que nos permitirá construir efetivamente a tão sonhada Democratização da Comunicações. Para tanto, se faz premente estabelecer alianças estratégicas com os distintos movimentos supra-citados, criar laços sólidos com eles, ouví-los e juntos identificar pontos de convergência entre as distintas lutas e, a partir daí, elaborar planos de ação comuns.

Como bem diz a Carta de Foz "O direito humano à comunicação é hoje uma questão estratégica" , ou seja, é uma bandeira de luta de toda a Humanidade e para que alcance resultados concretos precisa estar articulada em várias frentes, unindo movimentos distintos "preservando e valorizando a diversidade".

É um grande desafio, mas é um desafio gostoso!

Imaginem o efeito multiplicador que teria uma aliança entre Blogueir@s,  Rádios e TVs comunitárias, por exemplo. Blogueir@s produzindo conteúdo e estes meios de comunicação transmitindo-o às suas comunidades em lugar de repetir notícias veiculada pela velha mídia, como muitas vezes acontece nos dias de hoje. Ou ainda, sindicatos e o movimento de sem-terras colocando a questão da Democratização das Comunicações como direito humano fundamental em suas pautas e a Blogosfera repercutindo as lutas desta companheirada de forma contínua e sistemática. Com certeza, todos os movimentos envolvidos ganhariam com isso, aumentando a ressonância de suas reivindicações na sociedade brasileira e mundial.

Não podemos esquecer também da juventude engajada nos movimentos de Cultura Digital e Software Livre que lutam pela Democratização e Compartilhamento do Conhecimento e produz instrumentos essenciais ao trabalho d@s blogueir@s: software e soluções para o trabalho em redes. Quanto mais trocarmos informações e experiências,  mais nos entenderemos mutuamente e mais coesos seremos nessa luta pela Democratização de nossas Sociedades reais ou virtuais.

Fica aqui, então, a nossa sugestão: avançar mais na democracia, ousar mais na formulação dos próximos encontros e estabelecer alianças estratégicas com vários setores da sociedade civil.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Avanço da comunicação pública


por Mario Osava, da IPS
617 Avanço da comunicação públicaAssunção, Paraguai, 31/10/2011 – Os meios de comunicação públicos crescem na América Latina com novos conceitos, acentuando sua independência do Estado e do setor privado, afirmaram jornalistas, acadêmicos e funcionários reunidos na capital Paraguai. “A comunicação pública e do governo precisam ir por linhas separadas”, destacou o ministro da Comunicação do Paraguai, Augusto dos Santos, ao falar no Seminário Internacional “Mídia Pública e Sociedade: a Experiência Global e o Caminho Latino-Americano”, realizado no dia 26. Autonomia, compromisso com a cidadania e “ouvir todos os setores” são condições necessárias para a primeira, disse Santos.
O Paraguai, que recebeu o seminário no contexto da XXI Cúpula Ibero-Americana, realizada nos dias 28 e 29, em Assunção, inaugurou em agosto sua primeira rede pública de televisão, ainda com transmissões experimentais. Já no Equador os meios de comunicação públicos registraram um rápido avanço impulsionado pela Constituição aprovada em 2008, que gerou “a disputa do relato” com grupos privados que dominavam a comunicação social no país, segundo o subdiretor do jornal equatoriano El Telégrafo, Orlando Pérez. El Telégrafo, Equador TV e Rádio Pública logo aderiram à carta magna que, entre outras regras, impede a aquisição de veículos pelos banqueiros, que antes controlavam boa parte do setor, destacou.
Depois, “diversificaram-se as vozes e os conteúdos. As 14 nações indígenas existentes no Equador conquistaram suas frequências de rádio, inauguraram transmissões em suas próprias línguas e formaram jornalistas”, disse Pérez. Os meios de comunicação públicos de alcance nacional e as rádios comunitárias, às quais se somaram “tribos juvenis urbanas”, despertaram “uma reação sem precedentes” dos grupos privados tradicionais, que perderam participação no “mix de publicidade” e na audiência, ressaltou. Pérez acrescentou que a circulação do El Telégrafo foi boicotada pelo setor privado, com exemplares retirados das bancas.
O Peru, por outro lado, chega com atraso ao movimento que vive a América Latina desde a década passada. Seus meios de comunicação foram “desmantelados, reduzidos a nada” pelo segundo governo de Alan García (2006-2011) e agora busca reconstruí-los com uma visão pública e de inclusão social, informou a atual diretora de Comunicação, Blanca Rosales. “Meu escritório tinha apenas duas pessoas”, e eram administrativas. A Rádio Nacional não cobria nem mesmo a capital Lima e a emissora de TV sobrevivia com um orçamento insignificante, disse Rosales. Espera-se que a situação mude com a chegada ao poder do esquerdista Ollanta Humala, que “não era o favorito dos meios de comunicação privados”, recordou.
No Brasil já havia vários veículos estatais, incluindo 22 emissoras de televisão estaduais, nove rádios e a TV Brasil. Após um longo processo de debates, em 2007 foi criada a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para administrar a mídia pública. Por outro lado, existe a NBR, emissora de televisão claramente estatal, que informa sobre as políticas do governo. Porém, as duas últimas administrações, embora muito populares, nada puderam fazer para mudar as comunicações no Brasil, dominadas por grupos privados, devido à “correlação de forças” e ao escasso apoio social para implantar, por exemplo, algum sistema de regulação das emissoras de TV, admitiu Carlos Tibúrcio, assessor da Presidência.
“A sociedade brasileira discute pouco sobre os meios de comunicação” e os empresários do setor reagem a qualquer proposta de regulação ou alteração, como se violassem seus “direitos adquiridos”, explicou Tibúrcio. Contudo, pedem intervenção estatal agora que as operadoras telefônicas pretendem entrar na produção de conteúdo para televisão, acrescentou. Tibúrcio afirmou que a mídia pública deveria receber mais recursos das autoridades. Diante “do poder concentrado dos meios de comunicação privados”, o Estado tem de “tratar de forma desigual” os diferentes sistemas para estabelecer algum equilíbrio, afirmou.
Os recursos financeiros têm que vir do orçamento nacional, isto é, dos impostos pagos pela população, afirmou, por sua vez, Ivanir Bortot, editor-chefe da Agência Brasil, administrada pela EBC. A TV Brasil nasceu com vocação também internacional: seu sinal chega a 69 países. Porém, não alcança todo o território nacional, como locais isolados e pouco povoados que jamais interessariam aos meios de comunicação privados.
Chegar a todo o país é uma das três condições que, segundo o especialista argentino Martin Becerra, compõem o caráter público de uma mídia. As outras são a participação social no controle e na programação, e uma sustentabilidade que garanta sua permanência, ao contrário de órgãos estatais que podem desaparecer quando muda o governo.
Fazer-se público é um processo, exige capacitação dos jornalistas e condições de “independência e pluralidade”, dois conceitos repetidos por diferentes oradores no seminário promovido pela Secretaria de Informação e Comunicação para o Desenvolvimento, do governo paraguaio, junto com o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a agência Inter Press Service (IPS).
Como modelos de televisão pública de outros continentes apresentaram-se a NHK, do Japão, a britânica BBC e a Televisão Espanhola (TVE), campeã de audiência em seu país. Outros veículos internacionais, com Telesur, fundado em 2005 por Venezuela, Argentina, Cuba e Uruguai, apresentaram-se como exemplos no seminário de Assunção, que continuou o debate iniciado em um encontro em junho em Montevidéu.
Nove agências nacionais, incluindo a Venezuelana de Notícias (AVN), a cubana Prensa Latina e a Notimex, formaram em junho a União Latino-Americana de Agências de Notícias (Ulan), buscando sinergia para se fortalecer no campo jornalístico, destacou Daniel Giarone, gerente de Desenvolvimento Internacional da argentina Telam. Também foi destacado o papel exercido pelas rádios públicas e comunitárias, como a Paraguai Rádio Viva e a boliviana Rádio Pio 12, além de iniciativas como a Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica e a Associação Mundial de Rádios Comunitárias. Envolverde/IPS

Fonte: Site Envolverve/IPS

domingo, 9 de outubro de 2011

Educom: Há dois anos na batalha

Há dois anos nascia  este Blog, 9 de outubro de 2009. Nos primeiros meses de vida, nos dedicamos à campanha e às informações sobre a primeira Conferência de Comunicação. Rodrigo Brandão, um dos editores do Blog, agora afastado por motivos de saúde, acompanhou e noticiou todos os passos e propostas que marcaram essa conferência.

Na mesma época, acontecia a COP-15, que antecipamos o desfecho com um artigo que escrevi na véspera com o título: "A disputa pela Terra em Copenhague". Final de 2009, levamos um susto; Nelson Jobim tentou um golpe, que passou despercebido, mas, nós noticiamos.

Chegou 2010: nós estávamos ainda engatinhado, quando enfrentamos a mais dura  batalha; o terrorismo mediático contra a candidatura de Dilma à presidência da República. Foi nessa batalha que crescemos, não só nós, como todos os blogueiros e conquistamos credibilidade e respeito.

Não pensem que ganhamos a batalha. Todos os dias somos ameaçados. Por isso, resolvi repostar um artigo que retrata essa guerra.

(Zilda Ferreira, editora do Blog).


 Face à perversão e ao terrorismo mediático: respostas alternativas para generalizar a resistência (20 de novembro de 2010)

Por Carlos Aznares, originalmente publicado em "ODiario.info"

Os povos da América Latina e do resto do Terceiro Mundo estão suportando uma ofensiva de terrorismo mediático que visa não apenas manipular e desinformar o público em cada um dos aspectos político-económico-culturais que se produzem nos respectivos países, como em muitos casos - Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia, Palestina, Irão, Líbano, para citar os mais conhecidos – gera iniciativas desestabilizadoras e aposta forte na guerra contra os movimentos populares e os processos revolucionários.

Os meios de comunicação - a grande maioria deles - representam hoje uma das principais colunas do exército de ocupação que a chamada globalização encetou em todo o Terceiro Mundo. Corporação privilegiada e geralmente bem recompensada por aqueles que, desde Washington, construíram tanto a táctica como a estratégia intervencionista, os meios de comunicação cooperam para produzir opiniões desfavoráveis quando se trata de minar as bases de países que estão tentando construir uma alternativa independente ao discurso único e esforçam-se para dar cobertura á repressão, à tortura, ao assassinato, às prisões indiscriminadas, á guerra desigual entre opressores e oprimidos, no resto das nações do mundo.

Não é difícil para a os meios de comunicação (em geral autênticos holdings informativos, agrupando agências de notícias, rádios, TVs e cadeias de jornais numa única rede) “construir a notícia” que ajude a maquilhar as realidades de pobreza e corrupção em que vivem os nossos povos, ou criar redes golpistas para derrubar os líderes populares.

Eles são os que falam de “guerra entre dois bandos” quando se referem aos movimentos de libertação nacional, que enfrentam governos de carácter opressor e fascista. Ou “narco-guerrilha” para desacreditar a luta genuína da resistência colombiana contra uma ordem estabelecida há dezenas de anos e que mergulhou o país numa situação de extrema pobreza e desesperança.

São esses “meios assépticos e independentes” que reivindicaram o primeiro Plano Colômbia, depois o Plano Patriota e agora comungam das políticas pró-imperialistas de Juan Manuel Santos. Além disso, aplaudem as suas actividades militaristas e devastadoras para os sectores populares e do campesinato da Colômbia, e não fazem nenhuma menção das bases ianques no país.

Estes meios de comunicação e as suas sociedades de empresários como a SIP, estiveram e estão à cabeça da campanha em curso de assédio (e tentativa de derrube) contra governos como os de Cuba, Venezuela, Equador, Nicarágua e Bolívia. Daí que o que para todos significava uma agressão brutal contra a soberania de um país vizinho (como foi o bombardeio e massacre praticado pelo governo de Álvaro Uribe contra o território do Equador e os combatentes das FARC) para a Parceria dos media manipuladores da realidade, não era mais que “uma atitude de auto-defesa da Colômbia frente á agressão do eixo terrorista Farc-Venezuela-Equador”. O mesmo acontece quando esses profissionais da perversão mediática falam sobre a Palestina ocupada e criam matrizes de opinião demonizando a resistência em Gaza, apoiam o bloqueio contra o povo deste território e encorajam as falsas negociações entre o sionismo, o governo dos EUA e os palestinos ” politicamente correctos ” da ANP.

Eles não hesitam, conforme as instruções da sua casa matriz pentagonal, em acusar com falsidades a Revolução Bolivariana, como desde sempre fizeram com Cuba. E para isso usam a média nacional e internacional, que desde o dia em que o comandante Hugo Chávez tomou posse em 1999, começou a estigmatizar a sua proposta de mudança real, para logo utilizar todos os meios para atingir esse objectivo, desde o golpe de estado criminoso de Carmona e seus sequazes, do golpe do petróleo pró-EUA do final de 2002, da entrada dos paramilitares e pistoleiros a partir da Colômbia, até ás manobras de escassez, ou a pregação constante dos altos comandos da ofensiva imperialista, tentando gerar o clima de que a Venezuela é um santuário de “terrorismo internacional”, como tem afirmado o staff dos EUA de Bush até Obama. Sem dúvida que os chamados defensores da liberdade de expressão (de negócios, para sermos mais exactos), se incomodam com o processo revolucionário por acabar arrancando as raízes do discurso explorador da oligarquia venezuelana. Preocupa-os até à irritação que o bolivarianismo tente desenvolver - contra ventos e marés - uma política de transformação e valorização para os sectores que foram submersos na pobreza nos últimos 40 anos de “democracia representativa”, e propague essas ideias no continente através de uma política externa - que junto com a de Cuba - dá prioridade ao Movimento de Países Não-Alinhados, aos povos que lutam pela autodeterminação, aos que não se ajoelham diante da hegemonia imposta pelos Estados Unidos.

Se existe um exemplo que sempre permanecerá no manual da contra-revolução informativa e do terrorismo mediático na Venezuela, será o papel desempenhado pela comunicação social durante o golpe de Estado de Carmona e seus aliados ianques e espanhóis, bem como a campanha pela não renovação de licença da golpista RCTV. Ambos conseguiram, por obra e graça da imediata reacção “em cadeia” (para usar uma palavra que provoca tanta comichão á oposição venezuelana reacionária) uma grande rede de comunicação internacional. Entre os nacionais e os estrangeiros geraram uma matriz de opinião na qual o Governo mais vezes votado do mundo aparecia como uma ditadura cruel e despótica. Que se recorde, a indústria mediática conseguiu aqui um dos seus parâmetros mais elevados de impunidade, só superada pela campanha de Bush e seus jornalistas, ao denunciar a presença de armas nucleares para justificar a invasão do Iraque.

São estes meios integrantes da SIP que fizeram a campanha contra o governo venezuelano quando este decidiu a renovação do seu armamento e montaram “o show das Kalashnikov” ou dos aviões russos, alertando o mundo para que “as armas da Venezuela podem acabar nas mãos das FARC “. Insistiram em seguida, nas páginas de seus diários e nas suas redes de televisão, que Hugo Chávez tinha desprestigiado o monarca espanhol e seu espadachim Zapatero, contando ao contrário uma história que todos pudemos ver em directo em que o rei não só quis mandar calar Chávez, como nos quis injuriar como povos e nações que, mal ou bem, nos temos emancipado do império espanhol.

Havia que ouvir ladrar os mastins do “El Pais” espanhol, naqueles dias, esboçando cenas inexistentes em que o presidente venezuelano aparecia como agressor, irreverente ou ditador. O jornal e seus jornalistas são os mesmos que geralmente amparam um outro inquisidor chamado Baltasar Garzón, e juntos, aplicam as mesmas técnicas de terrorismo mediático contra qualquer coisa que cheire a resistência basca e a um desejo imparável de independência de seus conquistadores francês e espanhol que esse povo tem há centenas de anos.

São estes mídia “livres” que aguçam a sua sagacidade na hora de descobrir traços de fascistização “ou” cubanização ” (como acharem mais adequado ao discurso difamatório) em governos populares, e nunca verem o social, como é a campanha de alfabetização, efectuado por Cuba, Venezuela e Bolívia, em países onde antes desses processos, as crianças, os jovens e os velhos, tinham sido sempre tratados como cidadãos de quarta classe.

São eles, agitadores do terrorismo mediático, os que ironizam grosseiramente com os levantamentos indígenas ou apostam no camaleonismo quando nos vendem a imagem descafeinada de um eleito ligado à repressão e à narco-politica, e, num futuro não muito distante, quando chegar a hora da mudança ordenada pela estratégia imperial, não hesitarão em trazer à luz os múltiplos assassinatos que agora defendem. Já o fizeram com Fujimori e Montesinos no Peru, ou Pinochet e Videla. Trabalham hábil e subtilmente sobre o subconsciente dos leitores e telespectadores para o esquecimento ajudar a completar a tarefa que eles impõem.

Disfarçam as suas “notícias” (muitas vezes comunicados textuais do Departamento de Estado ianque) salientando a participação da “sociedade civil” (um conceito de que também se apropriaram) na “rejeição” dos resistentes e rebeldes do Terceiro Mundo, ou carregam as tintas sobre “a resistência indígena” a que maquiavelicamente gostam de chamar “actores armados”, coincidindo neste conceito com algumas ONGs europeias, que também funcionam como novos aliados da estratégia imperial no continente.

A mesma estratégia, de Cuba à Palestina
Esta ofensiva terrorista mediática colocou desde sempre na mira dos seus canhões Cuba socialista, por resistir ferreamente ao criminoso bloqueio dos EUA. São os meios de comunicação ocidentais - mais uma vez, “El País” espanhol na primeira linha de combate – os primeiros a aderir a uma penetração em Cuba, como fazem com qualquer outra nação, com a ideia de encontrar” dissidência “, onde só há terrorismo anti Cuba, ou “violações dos direitos humanos”, quando se pune - como não faz quase nenhum dos países do continente - a corrupção, o banditismo ou a violação grave das medidas que afectam a segurança de um país atacado pelo exército mais poderoso mundo.

Foram essas matrizes de opinião, que geraram, por exemplo, na Argentina, a ideia de que o governo cubano “torturava” a médica contra-revolucionária Hilda Molina e a “condenara” a não poder deixar o seu país.

Tanto insistiram nessa campanha, que conseguiram que o governo de Néstor Kirchner se “solidarizasse” de tal maneira, que gerou uma campanha de pressão contra Cuba. O resultado é conhecido: Hilda Molina deixou a ilha e estabeleceu-se na Argentina, de onde produz uma catadupa constante de insultos contra o governo e o povo que lhe permitiram obter os conhecimentos de que hoje goza.

Além do que já foi dito sobre a fúria do terrorismo mediático contra a Palestina, é necessário mencionar a bateria de mentiras construídas no calor da invasão sionista do Líbano e a campanha de criminalização permanente contra o Irão, por querer desenvolver uma política nuclear soberana.

Neste último caso, a campanha tem sido brutal. O Irão tem sido demonizado desde o momento em que se deu a Revolução Islâmica liderada pelo Imã Khomeini e que estudantes persas ocuparam a embaixada dos EUA e desmascararam a central da CIA que lá funcionava.

Em seguida, para assinalar apenas um exemplo na América do Sul, acusou-se o Irão e o seu governo de ter tido uma participação activa no atentado à AMIA. Todos os meios de comunicação comercial argentinos (inclusive os que se definem como “progressistas”) clonaram um discurso de criminalização, que foi elaborado nas centrais sionistas. A isso se juntou o governo e se concluiu que, na prática, a Argentina não só rompeu os laços diplomáticos com o Irão, como o considera - em conjunto com os EUA e Israel - um inimigo a abater.

Poucos proprietários de imprensa e muita influência
Centenas de milhões de norte-americanos, latino-americanos e cidadãos de todo o mundo são consumidores diários, directa ou indirectamente, das informações e produtos culturais das holdings AOL / Times Warner, Gannett Company, Inc., General Electric, McClatchy Company/ Knight Ridder, News Corporation, New York Times, Washington Post, Viacom, Vivendi Universal e Walt Disney Company, os proprietários dos média mais influentes dos EUA.

Os dez grupos controlam por sua vez os jornais nacionais de grande circulação nos EUA como o New York Times, USA ToDay e Washington Post, centenas de estações de rádio e quatro programas de televisão de notícias de maior audiência: ABC (American Broadcasting Company, Walt Disney Company), CBS (Columbia Broadcasting System, Viacom), NBC (National Broadcasting Company, companhia de transmissão da General Electric) e Fox (News Corporation).

Como bem define o jornalista Ernesto Carmona, os que comandam estes meios adquiriram uma parcela significativa de poder que não emana da soberania popular, mas do dinheiro, e corresponde a uma intricada teia de relações entre os meios informativos e de comunicação e as maiores corporações multinacionais dos EUA, como a petrolífera Halliburton Company, do vice-presidente Dean Cheney, o Grupo Carlyle, que controla os negócios da família Bush; o fornecedor do Pentágono Lockheed Martin Corporation, a Ford Motor Company, o Morgan Guaranty Trust Company of Nova York, Echelon Corporation e a Boeing Company, para citar alguns.

Todas estas grandes transnacionais da imprensa têm os seus tentáculos em todos os países da América Latina, onde outras holdings manobram de modo maioritário na disseminação de notícias na imprensa, rádio, televisão, agências e até mesmo telemóveis.

Para dar um exemplo: no México operam duas redes poderosas, uma dominada pela Televisa, da família Azcárraga e vinculada ao Grupo Cisneros, da Venezuela, também proprietários de meios de comunicação e uma das maiores fortunas do mundo, e a Azteca América, de Ricardo Salinas Pliego e seus parceiros Pedro Padilla Longoria e Luis Echarte Fernandez, ambas com investimentos nos EUA.

Também o Grupo Prisa, que detém o jornal espanhol “El Pais” tem meios de comunicação na América Latina, associado no México à Televisa, e proprietário da poderosa Rádio Caracol da Colômbia, e outras estações no Peru, Chile, Bolívia, Panamá e Costa Rica.

Jornalistas ou porta-vozes das corporações?
Em cada um destes anéis de terrorismo mediático está também a mão, a caneta e a imagem de um esquadrão de homens e mulheres que, sob a fachada de uma profissão venerada (pelo menos para aqueles que ainda acreditam nela), como é a de ser jornalista, também colaboram e são cúmplices da ofensiva das empresas que os empregam. A metáfora do cão submisso que lambe a mão do dono é repetida em todo o mundo para ilustrar esse comportamento.

Que outra coisa foram esses homens e mulheres “da imprensa” a marchar “engatados” aos exércitos invasores do Iraque ou no Afeganistão? Ou os que diariamente, como dignos cães fraldiqueiros da SIP, escrevem colunas, inventam histórias difamatórias, criam a opinião a favor dos exploradores, em jornais como Clarín e La Nación, da Argentina, El Tiempo, da Colômbia, El Universal, do México, para citar só alguns, ou que lutam como contra-revolucionários em grande parte da imprensa da Venezuela anti-Chávez?

O escritor chileno Camilo Taufic definiu o jornalista como um ” político em acção “, independentemente de se escudar num “confuso apoliticismo”, era na verdade parte da acção política do Estado - imperial, poderíamos acrescentar - entendida no seu sentido mais geral: “A participação nos assuntos do Estado; a orientação do Estado; a determinação das formas, das funções e do conhecimento da actividade estatal; a actividade das diferentes classes sociais e dos partidos políticos (…) Os jornalistas são portanto, políticos e até mesmo políticos profissionais”. E ainda: “A política não é mais que uma manifestação específica da luta de classes, a sua mais geral, e os jornalistas, enquanto activistas políticos não estão à margem desta luta, mas imersos nela e ocupando posições de liderança “.

Segundo o pesquisador basco Iñakil de San Gil Vicente, “este critério definidor da política - abordagem marxista, é claro - permite entender a natureza política da indústria mediática, embora, aparentemente, à primeira vista, essa indústria não se sente directamente nos bancos no parlamento ou nos quartéis das tropas imperiais. ”

No entanto, em alguns casos, os decisivos, esta indústria é que faz eventualmente pender a balança do poder em favor de, por exemplo, o neo-fascista Berlusconi, dono de poderosos meios de manipulação, que pode voltar à presidência do governo italiano, apesar das evidentes provas de corrupção. Em outros casos, por exemplo, nos EUA, a fusão entre o dinheiro, a política e a imprensa é absoluta e somente “os candidatos ricos, podem pagar imensas quantidades de dinheiro em campanhas políticas, que alguns observadores têm vindo a calcular em mais de um milhão de dólares por dia, como a despesa média dos candidatos democratas Hillary Clinton e Obama, no início de Março de 2008, quando ainda faltavam muitos meses para a eleição presidencial.

São esses mesmos jornalistas que na segunda-feira comem pela mão da máfia anti-cubana e anti-venezuelana em Miami, e na quarta-feira se ajoelham frente ao lobby sionista que lhes escreve os scripts para garatujar diatribes contra a direcção do Hezbollah ou inventar mentiras sobre centrais nucleares do Irão.

Tropeçando na SIP
A Sociedade Interamericana de Imprensa é mais do que uma corporação de empresas jornalísticas, é uma autêntica fortaleza emblemática do terrorismo mediático contra os países que hoje enfrentam o imperialismo.

Desde sempre os capitães da SIP compram, vendem, divulgam, transmitem ou publicam “informação” conveniente ás leis do “mercado” e de seus interesses de casta e de classe.

Desde a era do tirano Fulgêncio Batista em Cuba (onde o SIP nasceu em 1943) até hoje, não houve nenhum déspota, golpe de Estado, ou intervenção militar dos Estados Unidos que não recebesse o apoio do SIP; 65 anos de ignomínia que as paredes da América Latina foram capazes de resumir mais de uma vez com a irónica frase “a imprensa diz que chove.”

Não será por acaso que a sua sede central em Miami tem o nome de Jules Dubois, aquele sórdido funcionário da CIA que estabeleceu os seus princípios e doutrina e que a refundou em 1950 juntamente com outro homem do Departamento de Estado, Tom Wallace.

Também não pode causar surpresa, ao mergulhar na história da SIP, descobrir o seu apoio incondicional à estratégia de intervenção dos EUA, ao macarthismo e ao anticomunismo selvagem e á reivindicação, em cada um dos meios de comunicação que fazem parte do seu império, do liberalismo económico e a demonização das organizações populares.

Jornais como o El Mercurio (Chile), “Clarín”, “La Nación” (Argentina), “El Universal” (México), “El Nacional” (Venezuela), “El Pais (Uruguai), o ABC Color (Paraguai ), “O Globo” e “Estado de São Paulo (Brasil), foram e são cúmplices das políticas mais reaccionárias do continente.

Com este fundamento doutrinário, ligado ao apoio de governos autoritários, ditatoriais, ou praticantes da democracia “representativa” que efectivamente cortam a liberdade de opinião, os mandantes da SIP, agora dirigida por Earl Maucker, que também é vice-presidente do South-Florida Sun-Sentinel, com sede em Fort Lauderdale, Estados Unidos, incriminam Cuba e Venezuela para dar alento aos desestabilizadores internos e externos. Mais

Nota: Recentemente, acompanhamos o terrorismo mediático na invasão à Libia. A OTAN despejou urânio empobrecido  na população civil e nenhum protesto da grande mídia, contra essa e outras violações patrocinadas, principalmente, pela França, Inglaterra e os EUA.(ZF)

Leia mais:
- As 10 estratégias de manipulação midiática
http://brasileducom.blogspot.com.br/2012/07/as-10-estrategias-de-manipulacao.html
A indústria jornalística tem alguma chance de reencarnar?
http://brasileducom.blogspot.com.br/2012/10/a-industria-jornalistica-tem-alguma.html

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O lado mais fraco


Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro
06/10/2011
João Brant

Se eu fosse tentar resumir em dois princípios tudo o que gostaria para a área da comunicação, seriam os seguintes:
1) Todo brasileiro deve ter garantido o direito à comunicação, de forma que os meios de comunicação reflitam a diversidade e a pluralidade de ideias do conjunto da sociedade.
2) Toda forma de opressão, pública ou privada, deve ser combatida. O lado mais fraco deve ser sempre protegido.
Na primeira frase, está expresso o princípio geral, da liberdade. Fundamental, mas insuficiente. Na segunda, está o reconhecimento de que a comunicação pode ser arena de um exercício desigual de poder de um lado mais forte sobre outro mais fraco. E de que o combate a essas opressões deve ser base de qualquer país que se queira justo e democrático.
Isso vale para governantes corruptos que perseguem jornalistas que os investigam; grande revista que persegue movimento social; agência reguladora que persegue rádio comunitária; milionário que processa blogueiro; grande canal de TV que invisibiliza os negros ou que naturaliza a violência contra as mulheres. Como se vê, às vezes os meios de comunicação são os oprimidos; às vezes eles são os próprios opressores. No primeiro caso, eles devem ser protegidos; no segundo, devem ser enfrentados.
Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro. A liberdade não deve nunca ser previamente impedida, mas ela não exime a responsabilidade de quem se comunica. E quando a comunicação é usada como forma de opressão e violação de direitos, é o lado mais fraco que deve ser protegido. Em outras palavras, quando a liberdade de expressão colide com outros direitos humanos, deve haver o cotejamento para se entender qual deles está sendo “sufocado”.
É em nome basicamente desses dois princípios que uma série de organizações defende um novo marco regulatório para as comunicações. Até 7 de outubro está aberta uma consulta pública sobre o tema em ww.comunicacaodemocratica.org.br. Se essas questões também te movem, acesse e participe. 


Artigo originalmente publicado na edição impressa 448 do Brasil de Fato

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"QUEM NÃO SE COMUNICA SE TRUMBICA"

 
José Flávio Abelha *
 
O psicólogo canadense Marshall McLuhan lá pelos anos 60 já previa a transformação do mundo numa aldeia global . Estamos vivendo a sua previsão .
O filósofo Abelardo “ Chacrinha ” Barbosa, com a sua irreverência , criou com muita propriedade o corolário da teoria do canadense: “ Quem não se comunica se trumbica”.
Falou e disse. Estamos morando na grande aldeia e comunicando mais velozmente do que nunca imaginado.
O velho reclame dos meus tempos de rapaz já dizia: Quem não anuncia se esconde!
Nunca se comunicou tanto quanto nos anos da ditadura Vargas. Era o DIP que se encarregava, diariamente, de propagar as coisas de Vargas. E o baixinho de Itu sabia como ninguém atrair as massas , quer através de grandes concentrações , quem em comunicação pessoal .
O presidente Vargas, democraticamente eleito, sem o DIP e com uma oposição virulenta , não conseguiu espaço na imprensa , hoje chamada de mídia , e teve de valer-se de manobra mortal , o financiamento para a criação do jornal Ultima Hora , que lhe dava cobertura .
Juscelino, um comunicador nato , obrigou a imprensa a lhe dar espaço construindo Brasília.
Contava com a Bloch e os Diários Associados , os quais , desde a primeira hora , ficaram do seu lado . Não existia O Globo para somente noticiar Brasília às vésperas da inauguração , como o fez com as “Diretas Já ”, pegando o bonde andando no último ponto .
O saudoso Brizola não teve a mesma sorte . A mídia não o apoiava. O que fez o agora reconhecido profeta ? Criou o TIJOLAÇO, matéria paga onde falava o que o povo precisava ouvir mas , convenhamos, com pouco eco .
Hoje , seu neto carrega o “tijolaço” com destemida bravura e é lido e repassado em inúmeros outros blogues.
Na primeira visita que o recém eleito prefeito de Conselheiro Pena , José Laviola de Matos , fez a Alvarenga, um distrito longínquo , fui testemunha de um fato singular em matéria de comunicação .
Sobre essa visita escrevi alguma coisa no meu livrete A MINEIRICE.
Estávamos nos princípios dos anos 60. Em dado momento de folga , acompanhei Laviola na visita a um fazendeiro , chefe político da região e seu eleitor .
O prefeito , tentando fazer uma pequena pesquisa , perguntou ao fazendeiro em quem votaria nas eleições de 65. O “ coronel ” levantou-se da cadeira , foi ao seu quarto e de lá saiu carregando uma caixa de sapatos . Lá de dentro , retirou um cartão e nos mostrou dizendo que esse era o seu candidato porque nunca se esquecera de lhe cumprimentar por ocasião do Natal .
Tratava-se de um cartão “assinado” por Juscelino e dirigido “ao meu bom amigo ”. Milagres das gráficas modernas. A assinatura , em tinta azul , era “ idêntica ”. Com esse expediente , JK estava garantindo dezenas de votos naquele fim de mundo . Votos multiplicadores .
Em 1972 visitei o gabinete de um senador americano no Capitólio . Vi o que devia ver e o que não devia, a máquina de assinar cartões e cartas .
Nos EUA o eleitor estufa o peito e diz que vai queixar-se ao seu congressista . Escreve e recebe a resposta “assinada” pela máquina com uma caneta Bic.
Ai do congressista que não responder .
É lamentável que hoje não mais se receba qualquer comunicação dos nossos congressistas , um afago , mesmo assinado pela máquina . Nada ! Se quisermos saber alguma coisa , temos de consultar blogues, ouvir a Hora do Brasil ou ver na TV uns debates anódinos e notícias dirigidas com âncoras que só fazer caras e bocas.
Lula é um comunicador excepcional , cria fatos e expectativas mas não conta com a simpatia da mídia . Fala direto ao povão . Nem seu partido nem as agremiações trabalhistas lhe dão grande espaço . Inveja , medo , sabe-se lá o que mais !
A nossa Presidenta não é de muito palavrório , fala pouco e não se comunica bem .
O jornalista Carlos Chagas , na fumaça da visita da Presidenta aos EUA, ocasião em que abriu a sessão na ONU, comentou que a mídia internacional lhe deu pouco espaço e aqui , quase nem isso .
O comentário de Chagas é irreprochável. Sendo a ONU um órgão hoje desmoralizado, pouca repercussão há no que lá se trata . O que se fala naquele clube presidido atualmente pelo Obama ninguém dá mais crédito .
Aqui , bom , aqui , convenhamos, o fato é lamentável . Bem sabemos que a mídia tupiniquim não morre de amores pela presidenta. Ao contrário , vive da solapa, do   ardil , da manha , da astúcia , da ronha, visando a sua desmoralização e, indo além , da sua derrubada , é o que estamos vendo segundo nos ensina o livrinho A Arte da Guerra .
Mas , o jornalista também lembrou, ou tocou, num ponto nevrálgico , a TV estatal que deveria ter se encarregado de transmitir as solenidades nas quais  a presidenta do Brasil compareceu. Diz Chagas que , naquelas horas , a TV estatal transmitia desenhos animados .
Não me surpreendi com as observações de Carlos Chagas .
Concordo e faço coro . Traduzindo, desde a primeira posse do presidente Luiz Inácio até esta data , hoje , dia 30 de setembro , a comunicação governamental é um fracasso total , de uma incompetência incomensurável , para não repetir o bordão daquele ancora de entorta a boca , faz biquinho e diz: é uma vergonha !!!
E é mesmo .
Sendo um blogueiro atuante , embora sem prestígio , o que não me tira o arrebatamento, tenho, de quando em quando , enviado críticas e sugestões ao partido político base da presidenta e à própria .
Nunca recebi qualquer resposta . Nem um e-mail ou um cartão expedido pela milagrosa máquina .de assinar . Nada mesmo !
Quando esteve fazendo tratamento médico para cortar o início de um câncer linfático , Dilma deve ter recebido milhares de e-mails e cartas . E, já curada, naturalmente a sua assessoria achou por bem agradecer a todos com a mensagem padrão .
Fui premiado com mensagem pessoal da Dilma.
Como bom mineiro , exclamei, UAI , eu não mandei nenhuma mensagem à distinta dama...
Sou do tempo em que ainda se usava responder cartas, cartões e telegramas.
Diretor do Clube Lajão, de Conselheiro Pena, eu fiquei encarregado de fazer sala ao nosso contratado, o grande Orlando Silva e sua companheira, Da. Lurdes. Orlando bebeu conosco e varou a madrugada cantando.
Mais ou menos um mês depois, recebi, para surpresa minha, uma carta do grande Orlando, agradecendo-me pela bela recepção, mandando abraços para o prefeito Laviola e uma foto autografada para mim. A carta está bem guardada e a foto, devidamente emoldurada, no meu escritório.
Hoje, nada mais se agradece, nada mais se comunica. A aldeia global, se encurtou a geografia, distanciou as pessoas. Namora-se pela internete, um amor virtual. Ninguém conhece ninguém.
E a nossa mídia se encarrega de distanciar, ainda mais, as pessoas dos fatos.
Ainda agora o ex-presidente Lula recebeu uma homenagem que poucas pessoas no mundo já foram honradas com tal manifestação de reconhecimento.
Nossa mídia noticiou como se noticia uma batida de carro na ponte Rio-Niterói. Nada mais. Nós blogueiros, uns mais outros menos, nos encarregamos de noticiar a boa nova.
E não é que a Vênus Platinada achou por bem jogar pó de mico na cerimônia? Leiam os blogues sérios que os leitores irão ver a lambança que o pessoal da Vênus tentou fazer.
Mais uma vez nem o partido do ex-presidente manifestou-se a respeito. Não sei se a TV estatal, no seu noticiário, prestou a devida homenagem ao seu criador. Aliás, nem sei se existe noticiário.
Como diria o âncora do biquinho:
É uma vergonha!!!
 
*Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltda.. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO ABELHA  -
http://oblogdoabelha.blogspot.com
Correspondência e colaboração favor enviar para: jfabelha@terra.com.br

sábado, 24 de setembro de 2011

Paulo Freire e o silêncio dos opressores


* por Alexandre Haubrich
No Museo Bolivariano, em Caracas (Venezuela), há uma sala chamada “Los Imprescindibles”, ou “Os Imprescindíveis”. Entre Che Guevara, Simon Bolívar, Zapata e outros heróis latino-americanos, está um brasileiro: Paulo Freire. Pois esse educador pernambucano que desenvolveu a reflexão sobre uma outra forma de educação, respeitado fora do Brasil como “imprescindível”, autor do clássico “Pedagogia do Oprimido”, completaria 90 anos de nascimento nesta segunda-feira, 19 de setembro. E foi esquecido pela grande mídia nacional. Paulo Freire foi um dos mais importantes brasileiros. Seu pensamento e suas ações apresentaram uma forma revolucionária de se pensar a Educação, na qual educador e educando cruzam seus papéis, se ensinam mutuamente. A pedagogia de Freire clama por autonomia para todos, pela emancipação social através da emancipação do estudante, pelo crescimento do professor unido ao crescimento do aluno, pela educação como prática de liberdade.
Paulo Freire lutou e construiu uma Educação que incomodava, e seu legado segue incomodando. Sua defesa dos oprimidos nunca agradou aos opressores, os mesmos que seguem oprimindo, e que têm seu discurso reproduzido pela mídia igualmente dominante, igualmente opressora. Essa mesma mídia que, neste 19 de setembro, silenciou sobre o aniversário de nascimento de um personagem do tamanho de Paulo Freire.
Nenhuma palavra sobre a data na Folha de S. Paulo, no Estadão, no O Globo ou no G1. Dos grandes portais, apenas o Terra falou sobre o assunto. O motivo do silêncio não é difícil de identificar. Por que os opressores dariam espaço a quem defende os oprimidos? O conhecimento sobre a obra de Paulo Freire é uma chave importante para a busca por autonomia, para a luta por democracia real, para o combate a todas as formas de opressão.

Citação de Paulo Freire – “imprescindible”
Em seus livros e em sua prática política Freire sugere dar voz e liberdade a quem as elites midiáticas trabalham diariamente para silenciar e prender. Os pobres deixam de ser vistos como ignorantes e passam a ser vistos como portadores de outras formas de conhecimento, deixam de ser selvagens aculturados para possuírem uma cultura diferente, deixam de ser objetos para serem sujeitos, deixam de serem caixas onde se depositar “conhecimento” para serem parte ativa de uma troca de experiências e mútuo aprendizado.
A criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, prática diária da mídia dominante, é confrontada diretamente pelo pensamento de Paulo Freire. A resposta dos opressores é fazer do próprio silêncio sobre o autor o silenciar das vozes dos oprimidos. A desinformação como arma.
O aniversário de aniversário de Paulo Freire mostrou quem está de que lado – com os opressores ou assumindo para si as lutas dos oprimidos por autonomia e emancipação. Enquanto a velha mídia ignorou a data, alguns sites e blogs de esquerda publicaram bom conteúdo lembrando o maior educador brasileiro. Alguns bons exemplos são a Revista Fórum, o Brasil de Fato e o Portal Vermelho.

*Todos os livros de Paulo Freire estão disponíveis para download grátis AQUI.
*Fonte: Blog Jornalismo B, editado pelo jornalista Alexandre Haubrich, publicado no dia 19 de setembro, data do aniversário de Paulo Freire.