sábado, 8 de outubro de 2011

Violência de gênero, a outra cara da fome



por Isaiah Esipisu, da IPS
25 Violência de gênero, a outra cara da fome
Recém-chegados a Dadaab esperam atendimento médico. Foto: Isaiah Esipisu/IPS
Dadaab, Quênia, 7/10/2011 – Quando Aisha Diis (nome fictício) fugiu de sua casa na Somália devido à fome, não estava plenamente consciente dos perigos que corria. Em abril, ela abandonou a aldeia de Kismayu, a sudoeste de Mogadíscio, capital somaliana, para se dirigir com seus cinco filhos ao acampamento de refugiados de Dadaab, na Província Nordeste do Quênia.
Estava em um grupo com muitas mulheres e crianças. Quatro de nós éramos da mesma aldeia, por isso nos relacionamos como se fôssemos uma família”, contou à IPS. “No caminho paramos para fazer um pouco de chá, já que as crianças estavam muito cansadas e com fome. Uma mulher ficou com eles enquanto três de nós fomos pegar lenha”, acrescentou. “Foi aí que fomos sequestradas por um grupo de cinco homens que nos arrancaram a roupa e nos violentaram várias vezes. É algo que não poderei esquecer. Mas não gostaria que meus filhos soubessem”, disse entre lágrimas.
Lamentavelmente, o caso de Diis e das outras duas mulheres que a acompanhavam não é único. A viagem que fazem diariamente centenas de mulheres cansadas, fracas e desnutridas com seus filhos rumo ao acampamento de Dadaab é angustiante. Muitas levam seus filhos menores presos às costas. Nada conseguiram salvar de suas casas na Somália. Só algumas afortunadas podem transportar pequenos pertences se possuem um burro de carga. Raramente, ao chegar, desejam falar sobre o que lhes aconteceu no caminho.
A maioria se registra como refugiada e passa por exames médicos com seus filhos. Depois são alojadas em uma barraca de campanha com equipamento doméstico básico. As tendas não têm porta nem janela, nem mesmo cama ou algum móvel. Mas, de todo modo, os refugiados a chamam de lar, agora e, talvez, por muitos anos ainda. Alguns nasceram aqui em 1991, quando foi criado o acampamento, e não conhecem outro lugar.
Mesmo depois de instaladas, muitas mulheres não se animam para falar da violência que sofreram até chegarem ao acampamento. “A violência de gênero é a outra cara da fome”, disse Sinead Murray, administradora de programas em Dadaab do Comitê Internacional de Resgate (IRC).
“Na rápida avaliação feita em Dadaab e divulgada pelo IRC em julho, a violação e a violência sexual foram mencionadas como as preocupações mais angustiantes das mulheres e meninas quando fugiam da Somália, problemas que continuam, embora em menor grau, nos acampamentos”, disse Murray à IPS. “Algumas entrevistadas para o estudo disseram que outras mulheres e meninas eram violentadas diante dos maridos e pais, por homens com armas. Outras foram obrigadas a ficarem nuas e sofrerem abusos por vários homens”, acrescentou.
Entretanto, Diis e as outras duas mulheres que foram violentadas junto com ela são das poucas somalianas que se animam a denunciar a violência. No caso de Diis, teve coragem por ser viúva e não temer represálias contra sua família. “Não tinha medo de falar sobre meu caso às autoridades médicas por não ter marido”, disse Diis. Seu marido foi morto a tiros por desconhecidos na Somália há sete meses.
“Muitas mulheres foram atacadas por homens armados quando se dirigiam ao acampamento de refugiados, especialmente as que viajavam em grupos sem homens”, disse Ann Burton, funcionário de saúde em Dadaab do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). “Contudo, a maioria é reticente em denunciar esses casos porque temem que suas famílias as culpem ou que as comunidades as rejeitem, ou, simplesmente, por terem vergonha de falar sobre isso”, acrescentou.
Depois de denunciar o caso, Diis recebeu profilaxia por pós-exposição, um tratamento antirretroviral de curto prazo usado para reduzir a probabilidade de uma infecção por HIV, vírus causador da aids. “Após informar meu caso recebi remédios e fiz exames a cada três meses, depois disso me confirmaram que não havia contraído o HIV. Essa era uma das minhas maiores preocupações”, contou Diis, explicando que também recebeu assessoria. As outras duas mulheres violentadas junto com ela receberam o mesmo tratamento.
Diis disse conhecer as outras mulheres violentadas diante de seus familiares, mas que não denunciaria os casos ao pessoal médico do acampamento. Não informar a violação só aumenta o sofrimento das vítimas. “As sobreviventes, em geral, não recebem atenção fundamental que salva vidas por guardarem o segredo”, alertou Burton. Entre janeiro e julho forma registrados apenas 30 casos de violação, segundo o Acnur. No entanto, especialistas médicos no acampamento garantiram que os casos reais são muitos mais.
Uma vez que chegam a Dadaab, algumas continuam sofrendo violência de gênero inclusive por parte de seus familiares mais íntimos. Murray disse que isto inclui casamento forçado ainda bem jovem e “sexo de sobrevivência”, quando as mulheres são obrigadas a oferecerem seus corpos para conseguirem produtos para suas necessidades básicas.
Embora os casos de violência de gênero sejam menos frequentes dentro dos acampamentos, algumas mulheres disseram à IPS que se sentem inseguras e com medo à noite. “Os acampamentos não têm barreiras, e também não podemos fechar nossas barracas durante a noite, qualquer coisa pode acontecer”, disse Amina Muhammad, que vive em Dadaab. O maior risco no acampamento, segundo as mulheres disseram à IPS, é quando viajam longas distâncias em busca de lenha

Fonte: Envolverde/IPS

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O lado mais fraco


Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro
06/10/2011
João Brant

Se eu fosse tentar resumir em dois princípios tudo o que gostaria para a área da comunicação, seriam os seguintes:
1) Todo brasileiro deve ter garantido o direito à comunicação, de forma que os meios de comunicação reflitam a diversidade e a pluralidade de ideias do conjunto da sociedade.
2) Toda forma de opressão, pública ou privada, deve ser combatida. O lado mais fraco deve ser sempre protegido.
Na primeira frase, está expresso o princípio geral, da liberdade. Fundamental, mas insuficiente. Na segunda, está o reconhecimento de que a comunicação pode ser arena de um exercício desigual de poder de um lado mais forte sobre outro mais fraco. E de que o combate a essas opressões deve ser base de qualquer país que se queira justo e democrático.
Isso vale para governantes corruptos que perseguem jornalistas que os investigam; grande revista que persegue movimento social; agência reguladora que persegue rádio comunitária; milionário que processa blogueiro; grande canal de TV que invisibiliza os negros ou que naturaliza a violência contra as mulheres. Como se vê, às vezes os meios de comunicação são os oprimidos; às vezes eles são os próprios opressores. No primeiro caso, eles devem ser protegidos; no segundo, devem ser enfrentados.
Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro. A liberdade não deve nunca ser previamente impedida, mas ela não exime a responsabilidade de quem se comunica. E quando a comunicação é usada como forma de opressão e violação de direitos, é o lado mais fraco que deve ser protegido. Em outras palavras, quando a liberdade de expressão colide com outros direitos humanos, deve haver o cotejamento para se entender qual deles está sendo “sufocado”.
É em nome basicamente desses dois princípios que uma série de organizações defende um novo marco regulatório para as comunicações. Até 7 de outubro está aberta uma consulta pública sobre o tema em ww.comunicacaodemocratica.org.br. Se essas questões também te movem, acesse e participe. 


Artigo originalmente publicado na edição impressa 448 do Brasil de Fato

A era das grandes responsabilidades


por Ignacy Sachs*
Manter a qualidade de vida para mais de 9 bilhões de habitantes vai exigir da humanidade uma visão mais pragmática de suas responsabilidades diante do planeta.
129 A era das grandes responsabilidades
Ignacy Sachs.
Tudo indica que antes da Rio+20, programada para meados de 2012, a Comissão Estratigráfica Internacional vai oficialmente proclamar que desde o início da revolução industrial no século XVII, entramos numa nova era geológica – o antropoceno – caracterizada por um forte impacto das atividades humanas sobre o porvir da Nave Espacial Terra. Não que sejamos “mestres da natureza”, como o pensava Descartes. O recente tsunami que assolou as costas do Japão, nos arredores de Fukushima, nos lembrou a nossa impotência frente eventos naturais deste porte: três enormes ondas de quase 40m de altura, avançando a 300Km/h e entrando 10Km no interior das terras, destruindo portos, aldeias, derrubando casas, carregando barcos e carros, danificando uma central nuclear, acabando com a safra de arroz desta importante província agrícola do Japão e com 80 mil empregos.
Necessitamos de uma postura pró-ativa, avaliando com realismo a nossa capacidade de atuar, valendo-se da qualidade única à espécie humana representada pela nossa capacidade de imaginar o futuro. Em outras palavras, devemos aprender a difícil profissão de “geonautas”, neologismo proposto por Erik Orsenna. Assim, 2012 vai passar à história como uma censura duplamente importante na história imediata e na “longue durée”, ou seja, na longa coevolução da nossa espécie com a Nave Espacial Terra. Provavelmente, historiadores futuros deixarão de lado a dicotomia “antes e depois de Cristo” e falarão da época anterior ao antropoceno, e o antropoceno, salientando que o reconhecimento tardio da nossa entrada do antropoceno foi precedido de uma forte aceleração da história imediata durante o breve século XX que, segundo Eric Hobsbawm, começou com a primeira guerra mundial em 1914 e terminou com a queda do muro de Berlim em 1989.
Os geonautas nunca devem perder de vista a absoluta necessidade de enfrentar simultaneamente as questões de sustentabilidade ambiental e de justiça social. Ao sacrificarmos no altar da sustentabilidade ambiental o postulado da justiça social, corremos o risco de aprofundar ainda mais as distância abissal que já separam as minorias abastadas ocupando os camarotes de luxo no convés da Nave Espacial Terra das massas que se disputam o triste privilégio de labuta nos seus sótãos. Por outro lado, a busca da justiça social não nos deve levar a comportamentos destrutivos do meio ambiente ao ponto de provocar mudanças climáticas deletérias, pondo em risco a própria sobrevivência a termo de nossa espécie.
Mais do que nunca, como geonautas, devemos elaborar e pôr em prática estratégias de desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente includente, dando-lhes a forma de planos plurianuais. No que diz respeito às mudanças climáticas, o nosso poder é limitado, por isso não devemos nos omitir de reduzir ao máximo as mudanças de origem antropogênica.
Por contraste, as nossas margens de liberdade para diminuir a dívida social acumulada são muito maiores, conquanto saibamos fazer bom uso dos conhecimentos já acumulados e dos progressos futuros da ciência, combinando-o com investimentos que ampliarão o aparelho produtivo e com uma organização social capaz de assegurar o trabalho decente para todos.
Para avançar na direção de um desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável, vamos precisar de paradigmas energéticos baseados em três princípios: sobriedade, eficiência e substituição das energias fósseis, responsáveis pela emissão de gazes de efeito estufa; por energias renováveis. No que diz respeito ao leque das energias renováveis, devemos explorar cuidadosamente o potencial da energia solar, eólica, maremotriz e, no caso do Brasil, das bioenergia de origem terrestre e aquática, esta última produzida a partir de algas. Isto nos leva a uma questão fundamental: até que ponto a utilização das bioenergias compete com a produção dos alimentos necessários, hoje para quase 7 bilhões e, em meados deste século, para 9 milhões de seres humanos, muitos dos quais por enquanto vão dormir de barriga vazia.
Sem perder de vista a prioridade que, por razões sociais, deve ser dada à produção de alimentos para todos aqueles que continuam passando fome ou são subalimentados, dispomos de conhecimentos e temos condições para que uma parcela importante de biocombustível se origine nos resíduos da produção alimentar, transformando dessa maneira os alimentos e os biocombustíveis em coproduto. Em todo caso, tanto a produção de alimentos como a produção de biocombustíveis estão intimamente ligadas as progressos da revolução verde e da revolução azul, sem esquecer o potencial econômico representado pelo adensamento em espécies arbóreas úteis ao homem das florestas mantidas em pé por razões ambientais.
A primeira revolução verde, associada com o nome de Norma Borlaug, privilegiou as produções de alimentos com sementes selecionadas, grandes quantidades de adubos e água abundante, condições essas não acessíveis a uma grande parte dos agricultores dos países emergentes. Um passo importante para a frente foi dado pela agrônoma indiana, M. S. Swaminathan, ao postular uma “revolução sempre verde” (evergreen revolution), voltada primordialmente às possibilidades e aos interesses dos pequenos agricultores.
Em paralelo, devemos avançar na conceitualização de uma revolução azul, abrangendo as águas litorâneas dos mares e as águas interiores (rios, lagos, lagoas, açudes, etc.), substituindo gradualmente a piscicultura à pesca (ou seja à  caça ao peixe), sem esquecer as algas o seu potencial energético. O objetivo presente a todas essas iniciativas é a geração do maior número passível de oportunidades de trabalho decente.
Um tema da maior importância é a implantação de unidades de produção intensiva horti-pisci-arbórea em e a redor de açudes, igarapés, lagos, ao longo dos rios e nas extensas áreas protegidas pelo recife no litoral marítimo. Uma unidade de meio hectare pode atender o consumo de 200 brasileiros. Obviamente, podemos trabalhar com unidades de produção maiores de um ou mais hectares. Não deveríamos ser limitados, pelo menos no Brasil, pela falta de espaço para implantação dessas unidades. Um uso tão intensivo dos solos se justifica pela necessidade de manter em pé por razões ambientais e sociais grandes extensões de floresta. Por outro lado, elas geram um potencial apreciável de oportunidades de trabalho decente (uma a duas famílias de dois adultos por unidade).
A título preliminar, generalizando os dados disponíveis e adequando-os a uma população mundial de 9 bilhões de habitantes, para assegurar o consumo de 50Kg por habitante/ano de peixe, necessitaríamos de 4,5 milhões de hectares de açudes. Supondo que o consumo anual de hortaliças requer 10m² por pessoa/ano, precisaríamos de 9 milhões de hectares de hortas. Ao crescimento ainda 9 milhões de pomares e plantações arbóreas, chegaríamos a um total de 22,5 milhões de hectares, ou seja, menos metade da superfície da França, isto pata atender uma parte significativa do consumo da população mundial!
À primeira vista pode parecer fácil. Sem ceder a esta visão otimista, nos limitaremos a dizer: Yes, we can (ou talvez Yes, we should), sim esta meta deveria estar ao nosso alcance, enquanto nos mobilizamos para tanto e saibamos organizar uma cooperação internacional eficiente. Esta deverá se pautar por uma nova geografia, ou seja privilegiar as relações entre países que enfrentam o mesmo desafio de aproveitar melhor os recursos renováveis dos diferentes biomas.
Nesta visão, o Brasil e os países amazônicos têm uma responsabilidade especial no que diz respeito à cooperação entre países detentores de grande superfície de floresta tropical úmida nos três continentes, América Latina, África e Ásia. Podemos repetir o mesmo raciocínio para os demais biomas  – o semiárido, as savanas, as regiões temperadas, etc. – sem esquecer o caso especial das zonas litorâneas dos mares e oceanos, tema no qual o Brasil aparece outra vez como um protagonista de primeiro plano.
Concluindo, ao finalizarmos a nova Cúpula da Terra podemos ainda esperar uma aterrissagem segura se soubermos respeitar o princípio da responsabilidade e organizar uma cooperação internacional efetiva, capaz de reequilibrar o balanço das forças em favor dos países emergentes. O Brasil e a Índia têm uma responsabilidade histórica como locomotivas potenciais deste bloco. Não há razão para que a entrada no antropoceno freie o desenvolvimento da nossa espécie, bem ao contrário, conquanto os geonautas se entendam com respeito ao rumo que a Nave Espacial Terra deve tomar.

* Ignacy Sachs é economista e professor da  École des Hautes Études en Sciences Sociales, da Paris.

Fonte: Agência Envolverde ,

"SE VOCÊ NÃO FOR CUIDADOSO.....



Laerte Braga


... Os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo”. Malcolm X. Um dos principais líderes muçulmanos dos EUA, assassinado – lógico – pela ação das forças democráticas e cristãs que governam aquele país, hoje um departamento do conglomerado ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A.

As características do mundo neoliberal hoje confirmam o diagnóstico preciso de Guy Débord em seu extraordinário "A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO” (Contraponto, RJ). “O espetáculo hoje é uma permanente Guerra do Ópio para fazer com que se aceite identificar bens e mercadorias; e conseguir que a satisfação com a sobrevivência aumente de acordo com as leis do próprio espetáculo. Mas, se a sobrevivência consumível é algo que deve aumentar sempre, é porque ela não pára de conter em si a privação. Se não há nada além da sobrevivência ampliada, nada que possa frear seu crescimento, é porque essa sobrevivência não se situa além da privação; é a privação tornada mais rica”.

Ou, “o consumidor real torna-se consumidor de ilusões. A mercadoria é essa ilusão efetivamente real e o espetáculo é sua manifestação geral”.

Duas funcionárias de uma empresa espanhola, na província de Múrcia, entraram em juízo por terem sido obrigadas a pendurar um cartaz no pescoço com a palavra “banheiro” todas as vezes que iam ao dito.

A empresa controla o tempo de permanência no banheiro através de um sistema de impressão digital que registra a entrada e a saída, logo o tempo de permanência e ainda recomenda às trabalhadoras que bebam pouco líquido para diminuir a quantidade de vezes que necessitam ir ao banheiro.

As autoridades espanholas afirmam que vão tomar providências e investigar o fato.

É uma característica do crime organizado e legalizado. O dos bancos, grandes corporações e dos latifundiários em países como o Brasil. A escravidão em formas diversas, mas sempre escravidão.

Não existe banqueiro, ou grande empresário, ou latifundiário que não seja criminoso. Todos são.

Em vários países do mundo empresas controlam o próprio ciclo menstrual das mulheres e determinam o salário – para baixo – a partir do conceito que nesse período a produtividade cai e os riscos são maiores.

No Iraque, “libertado” pelos norte-americanos na operação “Choque e Pavor”, as mulheres iraquianas vivem o dilema da falta de salários, dos atrasos nos pagamentos, na nova ordem imposta pelo grupo ISRAEL/EUA/TERRORISMO S/A.

Há alguns anos, em Minas Gerais, o então governador Hélio Garcia, diante de uma greve de professores, referiu-se ao movimento como “coisa de mulher mal amada”. Isso por conta do fato da maioria dos grevistas serem mulheres.

Ele próprio, Hélio Garcia, protagonizou um deprimente e ao mesmo tempo hilário espetáculo numa churrascaria de Belo Horizonte. Abandonada por sua mulher passou a beber diariamente e ao encontrar-se com o deputado Leopoldo Bessone, que vivia então com sua ex, atracou-se com o parlamentar sem saber que Bessone também já havia sido abandonado. Separados, acabaram juntos numa das mesas da churrascaria, bêbados ambos. No dia seguinte Bessone foi designado para uma das secretarias do governo de Minas.

“Que país é este?” A frase é de Francelino Pereira, produto da ditadura militar, servo fiel dos militares, ligado ao general Ernesto Geisel, por isso indicado governador de Minas, o último governador indireto.

Francelino questionava ações dos partidos e movimentos sociais contrários ao regime militar. A frase valeu um notável poema de Affonso Romano Santana.

Banqueiros, empresários e latifundiários brasileiros se valem da mídia para uma tentativa de recriar a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Agora a campanha contra a corrupção. À frente o grupo dos irmãos Marinho (GLOBO). A coté quadrilhas de menor porte. VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, ESTADO DE MINAS, REDE BANDEIRANTES, ÉPOCA, ISTO É, etc.

O deputado Roque Barbierie do PTB jogou sujeira no ventilador. Afirmou em entrevista coletiva que “todo deputado tem seu preço” e comparou a Assembléia Legislativa de São Paulo (onde mais?) seu estado, a um “camelódromo”. “Isso aqui é igual camelô, cada um tem seu jeito”. Falou sobre venda de emendas que beneficiam empreiteiras, bancos, latifundiários, excrescências desse naipe.

O governador do estado, Geraldo Alckimin, integrante do grupo fascista OPUS DEI é um dos que, sem ser deputado, chefia um departamento de outro complexo, o de banqueiros, empresários e latifundiários que controlam o Estado, a máquina administrativa, privilegia empreiteiras do peito (e da propina), um esquema FIESP/DASLU. Contrabando, chantagem, extorsão, etc, etc.

Esse quadro não muda em boa parte dos estados brasileiros e nem no Congresso Nacional.  A maioria dos parlamentares é de fato como camelô, cada qual tem seu jeito e seu preço. Não é o caso de deputados como Chico Alencar, Brizola Neto, ou do senador Eduardo Suplicy e outros, independente de partidos e eventuais discordâncias. Mas é a minoria decente.

O conjunto de vestais ensandecidas que organiza a tal marcha contra a corrupção é uma espécie de retorno de vampiros, agregando alguns inocentes úteis, que em 1964 atendendo a determinações de Washington e sob comando dos norte-americanos deram um golpe de estado e derrubaram o governo de João Goulart.

Goulart havia resolvido pegar o touro do capitalismo a unha e enfrentar a verdadeira máquina corrupta que permeia o Estado brasileiro, através de um programa chamado então de “reformas de base”.

Beira a histeria muito mal contida o canto dessa gente.

Para que exista um Roque Barbieri e principalmente um PTB como o de hoje, é necessário que exista quem compre esse tipo de gente. E quem compra esse tipo de gente quer moldar o Brasil segundo seus interesses.

O que o grupo GLOBO representa? O que disse Malcolm X. Veicula o ódio aos que são oprimidos e o amor aos que oprimem.

O espetáculo descrito por Guy Débord.

A corrupção é parte intrínseca do modelo político e econômico. Sem ela o capitalismo não sobrevive. É o regime da competição. Leva quem paga mais, ou quem vende por menos.

Tanto faz que seja o sabão que lava mais branco, ou o carro que supera todos os outros. Isso até o aviso de recall.

Pode ser o supermercado que explora trabalhadores num regime desumano, cruel e sem entranhas. Ou o latifundiário que se vale de trabalho escravo, grila terras públicas, desmata e produz transgênicos com agrotóxico.

O deputado e o senador corruptos. O governador, o prefeito, o vereador, os juízes e ministros assim, são produtos desse modelo e dessa gente. Os mesmos que marcham contra a corrupção. Querem apenas a chave do cofre e o poder de oprimir.

O desejo de embasbacar o trabalhador no espetáculo da tecnologia sem necessidade (é claro que existe a necessária), mas a do espetáculo voltado para o show.

No Peru, na década de 60, a OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – constatou altos índices de desnutrição entre crianças (bebês inclusive) desde que a Coca Cola chegou a partes daquele país. Substituiu o leite na alimentação infantil. Força da propaganda, do modelo vendido como símbolo de status. Ou o tijolo, aquele cheio de furos, que o trabalhador transformava em rádio de pilha falso com uma antena de arame, para não ficar deslocado em seu meio, entre as pessoas que tinham rádios transistorizados. Uma reportagem de Bernardo Kurscinsky mostrou isso no extinto jornal OPINIÃO.

Se um político venal como José Sarney é o presidente do Senado, isso é o resultado desse jogo. Entre outras “propriedades” Sarney é sócio da GLOBO e dono da GLOBO no Maranhão. Era amigo íntimo de Roberto Marinho.

Não adianta berrar contra a corrupção num festival de rock se o organizador do festival, Roberto Medina, tem um histórico, ele e a família, de corrupção e ligações com a ditadura militar.

É necessário berrar, aí sim, contra os corruptores. Os que compraram Aldo Rebelo na relatoria do novo Código Florestal. Defendem interesses de bancos, empreiteiras e latifúndio no Congresso.

E nisso, por melhor ou menos ruim que seja, até pela sua história, o PT é cúmplice. Mas a luta não passa pelas viúvas histéricas de 1964, os torturadores que se escondem atrás da saia da anistia na bravura patriótica da canalhice.

Passa pelo movimento popular, pela organização popular, passa por ir às ruas e enfrentar os verdadeiros bandidos. O supermercado CARREFOUR, como os outros, também regula idas ao banheiro de seus funcionários. Mede tempo, toda essa barbárie escravagista.    

Nos EUA os cidadãos comuns começam a acordar e a perceber o que significa o todo do complexo terrorista. O poder predador dos que controlam o Estado, o nazi/sionismo de EUA e Israel, ou de Israel (maior acionista) e os EUA.

Querem tomar Wall Street.

Na Grécia os gregos resistem ao assalto que promovem contra seu país, contra os trabalhadores.

E assim em vários pontos do mundo.

O rei Juan Carlo de Bourbon não é afetado por esse processo corrupto que é o capitalismo. Faz caçadas em um lugar montado para tal na Suíça e paga cinco mil dólares por búfalo abatido.

“Se você não for cuidadoso” o lobisomem do capitalismo pega você e você vai odiar a pessoa errada, amar a podridão de banqueiros, empresários e latifundiários, nessa campanha sórdida da mídia privada. Corrupta e comprada por eles.

O corrupto é o resultado do corruptor. Dois habeas corpus para Daniel Dantas e um para um médico que estuprou mais de duzentas mulheres. O ministro que concedeu as ordens? Gilmar Mendes.

Amigo da GLOBO.

  

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Shell financiou conflitos locais



         Uma investigação de diversas organizações não governamentais, entre elas a britânica Platform, aponta que a gigante do petróleo Shell pagou milhares de dólares a grupos clandestinos rivais na Nigéria, causando uma série de conflitos regionais. A empresa estaria relacionada a diversos casos de violação dos Direitos Humanos no delta do rio Niger, região densamente habitada que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
         A investigação inclui testemunhos de gerentes da própria Shell e mostra que forças do governo contratadas pela empresa também agiam com violência contra civis locais, incluindo torturas e execuções sumárias.
         Segundo o diário britânico The Guardian, organizações de Direitos Humanos no delta alegam ter visto testemunhos e contratos implicando a empresa em recompensas regulares a esses grupos. Em um caso de 2010, a transferência da petrolífera teria passado de 159 mil dólares (cerca 290 mil reais), usados, de acordo com um membro da gangue ouvido pelo jornal, para comprar munições e itens para o conflito.
         Os pagamentos teriam provocado rixas entre grupos paramilitares em busca do dinheiro da empresa. Para a Platform, haveria grande probabilidade de a Shell saber que suas contribuições na cidade de Rumuekpe estavam sendo usadas para fins de guerra.
         A empresa retira da região aproximadamente 100 mil barris de petróleo por dia, cerca de 10% de sua produção no país. Os pagamentos, entre outros aspectos, mantinham os óleos dutos livres de ataques e eram feitos aos grupos que detivessem o controle do local, por meio de um fundo de desenvolvimento comunitário.
            Mortes
         A disputa pelo dinheiro da Shell aumentou a briga pela liderança entre os grupos locais, matando cerca de 60 pessoas entre 2005 e 2008, além de gerar deslocamentos internos, agravamento da pobreza e doenças.
         Além disso, o relatório aponta que deslocados de vilarejos foram caçados e mortos na capital do estado de River, Porto Harcourt. Eles teriam sido assassinados em suas casas, escolas e locais de trabalho.
         A Shell é acusada de não ter dado atenção ao caos, uma vez que suas operações não sofreram interrupções. Segundo o Guardian, a mídia repercutia os conflitos e membros da comunidade escreveram à empresa pedindo o fim dos pagamentos.
         A petrolífera alega que as afirmações são inverídicas e os casos analisados, antigos e sem fundamento. Porém, afirmou que estudará as recomendações da organização, a fim de encontrar uma solução para os problemas.

Fonte: Redação Carta Capital de 3 de outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

" É preciso sair do capitalismo"



por Marcela Valente *
HerveKempfEscritorFrances1 “É preciso sair do capitalismo”
O Norte tem a responsabilidade de mudar o modelo econômico, afirma Kempf. Foto: Cortesia do entrevistado.
Por que se introduz a ideia de economia verde em lugar de manter a de desenvolvimento sustentável, que tem a vantagem de seu cunho social?, questiona nesta entrevista o escritor francês Hervé Kempf
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Buenos Aires, Argentina, 26 de setembro de 2011 (Terramérica).- Para salvar o planeta da mudança climática e da perda de biodiversidade, devemos sair do capitalismo e buscar um sistema menos consumista e socialmente mais justo, afirma o jornalista e ecologista Hervé Kempf. Esta questão atravessa toda a obra de Kempf, colunista do jornal Le Monde e autor de “Para salvar o planeta, sair do capitalismo” e de “Como os ricos destroem o planeta”, entre outros livros. Na França, acaba de publicar “L’oligarchie ça sufit, vive la démocratie” (Basta de oligarquia, viva a democracia).
Expoente do debate sobre o decrescimento, que se contrapõe ao crescimento do produto interno bruto como indicador dominante do êxito de um país ou de uma sociedade, Kempf questiona a viabilidade de uma sociedade guiada pelo consumo e pela avidez de lucro. Os líderes políticos “continuam defendendo o sistema capitalista ao qual chamo de oligárquico”. Contudo, “precisam mudar, bem como o sistema”, disse Kempf em entrevista ao Terramérica durante sua visita à Argentina.
TERRAMÉRICA: É possível reverter o aumento de gases-estufa que causam a mudança climática?
HERVÉ KEMPF: Sim. Porém, no momento, não parece estarmos voltados para isso. A Europa mudou sua trajetória e conseguiu reduzi-los levemente, enquanto os Estados Unidos estabeleceram um teto, mas globalmente as emissões crescem em países do Sul. É preciso continuar pressionando o Norte, e os grandes países do Sul, em particular a China, que exerce um papel de líder, devem modificar sua conduta. Eles querem conseguir crescimento máximo, mas estão conscientes da crise ecológica e essa consciência penetrará cada vez mais nos países do Sul.
TERRAMÉRICA: Está otimista sobre a cúpula de mudança climática que começara no final de novembro na África do Sul?
HK: Não, infelizmente. Os preparativos mostram que a situação está bastante bloqueada
TERRAMÉRICA: A direção política está à altura?
HK: Não. Muitos dirigentes continuam defendendo o sistema capitalista, que chamo de oligárquico, e defendem interesses contrários à demanda que a crise ecológica impõe. Os líderes políticos têm de mudar também o sistema.
TERRAMÉRICA: Entretanto, há países, como a Venezuela, que têm um discurso contrário ao capitalismo e, no entanto, não mostram maior consciência ambiental.
HK: Meu trabalho se orienta mais aos países do Norte, que têm a responsabilidade de mudar o modelo econômico. A América Latina, há 15 ou 20 anos, teve que se independizar dos Estados Unidos, adotar maneiras mais democráticas e uma política social a favor dos pobres. Venezuela, Brasil, Bolívia, Equador, Argentina seguem essa tendência. No entanto, é certo, eles também têm de assumir a crise ambiental.
TERRAMÉRICA: Acredita que a Rio+20, a conferência das Nações Unidas que acontecerá em 2012, reavivará o espírito de esperança da Cúpula da Terra de 1992?
HK: No momento, não se apresenta muito bem. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) acaba de divulgar um comunicado sobre a Rio+20 que parece muito orientado a dizer: “desenvolvimento, desenvolvimento, e depois vemos o meio ambiente”. Me parece um mau indício.
TERRAMÉRICA: Mas, esse é um pronunciamento para a região.
HK: Sim, mas o que vejo na Europa e nos Estados Unidos é ainda pior. Há uma falta de interesse político e também da mídia pela Rio+20. A atenção está na crise financeira.
TERRAMÉRICA: O que pensa do conceito “economia verde”?
HK: É muito vago. Parece a continuação do capitalismo mais voltado à ecologia. Contudo, sem mudar o poder das corporações, sem reduzir o consumo de energia nem questionar a desigualdade social, é uma nova forma de capitalismo. Além disso, porque este novo conceito, em lugar de continuar com o de desenvolvimento sustentável que tem a vantagem de seu cunho social?
TERRAMÉRICA: Acredita que se trata de um retrocesso?
HK: É um sinal de que o que se apresenta como prioridade é a economia, quando para a ecologia a economia não é prioridade. A prioridade é garantir uma vida harmoniosa entre as pessoas e com o meio ambiente. A economia não é tudo.
TERRAMÉRICA: O senhor investigou o impacto do acidente nuclear de Chernobyl (1986). Acredita que o ocorrido em 11 de março deste ano na central japonesa de Fukushima pode ajudar no retrocesso desse tipo de energia?
HK: Fukushima mostrou que a energia nuclear é algo muito perigoso mesmo em um país campeão em tecnologia como o Japão.
TERRAMÉRICA: Em seu livro é descrita a contribuição da energia eólica…
HK: O faço pensando no Norte. Ali a energia eólica parece um pretexto para evitar a economia. Nos Estados Unidos, na Europa, no Canadá e no Japão deve-se reduzir o consumo de energia e depois ver como produzi-la.
TERRAMÉRICA: O que sugere para viver em um planeta sustentável?
HK: Colocar a questão da justiça social como prioridade. Em um mundo extremamente rico do ponto de vista material, isto é crucial.
TERRAMÉRICA: E a respeito do consumo?
HK: Deixe de ver televisão.
TERRAMÉRICA: Pode-se promover estas ideias em países onde ainda há população sem acesso ao consumo básico?
HK: Insisto. Falo como europeu, mas creio que nos países do Sul o desafio pode ser reduzir a desigualdade.
TERRAMÉRICA: O que diz aos céticos que acreditam que isso é voltar à Idade da Pedra?
HK: Que se continuarmos nesta economia destruidora dos laços sociais, da justiça e da ecologia voltaremos à Idade da Pedra, porque a destruição social e ecológica nos exporá a muita violência.
TERRAMÉRICA: O senhor diz em seu livro que não temos de inventar nada novo, que as alternativas já existem.
HK: Em todos os setores as comunidades criam formas por fora do capitalismo. Cooperativas de produção, agricultura ecológica, moedas alternativas, energias renováveis. Há milhares de experiências que podem se ligar em uma rede.
TERRAMÉRICA: Ou seja, não imagina uma transformação violenta.
HK: Por definição, a ecologia política imagina um mundo não violento. Os ecologistas não querem violência, querem outras regras de jogo. Não se pode usar meios contrários ao objetivo que se busca.

* A autora é corresponde da IPS.

Fonte: site Envolverde

Moradores da Maré dizem que o muro foi construído para isolá-los do restante da cidade

COBERTURA ESPECIAL – Seminário “A cidade dos e para os megaeventos esportivos: muros, remoções e maquiagem urbana”

Pesquisadores defendem que o projeto não passa de “maquiagem urbana” para a recepção de turistas e comitivas governamentais e empresariais na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos.
 
Agência Notisa – Pouco mais de um ano após a construção do muro que separa o Complexo de Favelas da Maré das Linhas Vermelha e Amarela, o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Favelas e Espaços Populares (Nepef) das Redes de Desenvolvimento da Maré realizou uma pesquisa para saber a opinião dos moradores da comunidade e dos usuários das vias expressas sobre esse projeto. O estudo foi realizado em parceria com o Observatório de Favelas e a ONG ActionAid. O relatório final da pesquisa ainda não está pronto, mas alguns resultados foram apresentados durante o seminário “A cidade dos e para os megaeventos esportivos: muros, remoções e maquiagem urbana”, ocorrido sexta-feira passada (30), no Complexo de Favelas da Maré (RJ).
Segundo Marcelo Matheus de Medeiros, um dos coordenadores da pesquisa “Os muros do invisível”, os argumentos do governo para a construção da barreira foram: proteção dos usuários das vias contra tiros vindos das comunidades; barreira acústica; aumento da sensação de segurança; melhoramento estético da paisagem e impedir moradores nas vias, evitando atropelamentos.
Para o pesquisador, o tempo mostrou que esses argumentos não se sustentam. “Os pressupostos colocados para a construção do muro caem por terra porque o muro não é blindado, não impede o trânsito de pessoas nem de animais nas vias e não tem nenhum efeito de beleza. O que resta como justificativa plausível se chama ‘maquiagem urbana’”, afirmou Marcelo.
“O poder público alega que é uma barreira acústica construída em benefício da população e da segurança de todos, mas sabemos que é uma intervenção estética para ‘maquiar a cidade’ e esconder a favela da vista de quem passa pela Linha Vermelha, uma das vias mais movimentadas da cidade e acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), por onde passarão as comitivas dos países que participarão dos megaeventos. Além disso, existem outros fatores que estão sendo deixados de lado, como a transparência dos gastos públicos e a participação da população”, acrescentou Renata Neder, coordenadora de projetos da ONG ActionAid.
O estudo revelou que a maioria dos moradores da Maré (73%) é contra o projeto. Para os pesquisadores, o muro foi construído para esconder e isolar ainda mais a comunidade do restante da cidade, não tendo sido, portanto, idealizado para beneficiar essa população, mas sim os usuários das vias. Eles também entendem que a forma como o processo se deu não foi adequada. “Os moradores esperavam e ainda querem o diálogo”, disse Marcelo.
Contudo, alguns moradores acabaram aprovando sua construção, principalmente os que moram na beira da pista. Segundo esses moradores, a barreira diminuiu a poeira e o barulho vindos das vias, os protegem de gestos obscenos e de objetos jogados em suas casas por pessoas que circulam nas vias, e traz mais privacidade, porque em engarrafamentos, os motoristas ficam olhando para dentro de suas casas.
Segundo os organizadores da pesquisa, esses dados trazem à tona uma reflexão: “Os usuários das vias são alvo da comunidade ou a comunidade é alvo dos usuários?”.
Jorge Barbosa, professor de geografia da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do Observatório de Favelas, afirmou que o estudo mostra as contradições de uma política que não prega pela cidadania, ao contrário, “esconde e separa parte da sociedade e entende que a favela não é modelo de cidade e, portanto, deve acabar”.
“Nós defendemos as favelas. Não achamos que elas devam acabar. Mas defender a favela não significa defender a carência, a precariedade. Defender a favela é defender que seus moradores tenham dignidade. Precisamos superar a ideia de que a favela precisa ser integrada à cidade. Pelo contrário, a cidade que precisa ser integrada à favela, ou seja, todos os direitos que estão presentes na cidade têm que estar presentes na favela”, destacou o pesquisador.
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)
                                                                                                                  

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Aniversário da Petrobrás

 

O aniversário da Petrobrás vai ser comemorado, hoje, em grande estilo por trabalhadores que integram vários sindicatos e movimentos sociais: petroleiros, bombeiros, estudantes, trabalhadores sem teto e sem terra, profissionais da saúde e da educação, dentre outras categorias, vão se concentrar em frente à Assembleia Legislativa, ao meio-dia, e dali sairão em passeata até à sede da empresa, quando um grande bolo será partilhado entre todos os presentes.


Às vésperas da votação da lei dos royalties, os trabalhadores decidiram organizar esse evento para chamar atenção da autoridade para suas reivindicações. A principal delas é que as grandes reservas de petróleo do país devem ser exploradas visando o atendimento das necessidades da população brasileira, como moradia, educação e saúde pública e gratuita para todos. Devem servir à democratização do uso do solo nas cidades e da terra, no campo. A pauta de reivindicações também inclui o combate aos corruptos e corruptores.

O grande bolo que será servido a todos ao final do ato simboliza a necessidade de repartir a renda nacional de forma democrática, atendendo às necessidade básicas dos brasileiros, e não engordando as campanhas partidárias e os setores empresariais, no Brasil e no exterior. Eles protestam contra a privatização dos serviços públicos e contra a entrega do petróleo a testas de ferro nacionais e a oligopólios internacionais.
Leia mais

Fonte:Agência Petroleira
No final do ato, os movimentos sociais e várias categorias de trabalhadores vão distribuir bolo aos participantes da festa de aniversários da petrobrás. Este ano,  a data (3 de outubro), deve ser  marcada, principalmente, pelas reivindicações de que os royalties tenham destinação específica e pelos protestos contra os leilões.
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http://www.apn.org.br/boletim/banners-leilao1.jpg

domingo, 2 de outubro de 2011

Venha Todos ocupar Wall Street, pede Michael Moore

Após visitar os acampados em Wall Street e declarar seu apoio ao movimento de ocupação, o cineasta e ativista Michael Moore publicou uma nota em seu blog chamando pessoas de todo o país para se reunirem aos manifestantes em Nova York. Ele considera o fato histórico: “É a primeira vez que uma multidão de milhares toma as ruas de Wall Street”. A manifestação segue sendo ignorada pela "grande imprensa". 



A manifestação “Ocupar Wall Street” chega ao décimo dia ignorada pela grande imprensa e cada vez mais “gritante” na mídia alternativa e blogs. As milhares de pessoas permanecem acampadas no local, enfrentando policiais cada vez mais violentos.

Lawrence O´Donnel, apresentador de uma emissora de TV alternativa, mostra em seu programa “The last World” a cena de um jovem sendo agredido. Ele questiona: “Por que os policiais estão batendo neste rapaz?”

Em seguida, Lawrence reapresenta a mesma cena em câmera lenta e explica: “Os policiais estão batendo no jovem porque ele está armado com uma câmera de vídeo”. Outra cena do programa mostra duas mulheres gritando muito após terem sido atingidas por spray de pimenta. Lawrence condena a brutalidade: “As pessoas são inocentes, pacíficas, não podem ser agredidas nem presas”.

O que causa espanto ainda maior, acrescenta o jornalista, é a falta de reação de quem assiste ao espetáculo de horror de braços cruzados. “Ninguém faz nada a favor dessas pessoas”, denuncia, afirmando que a violência policial contraria a lei, é crime. Diz ainda que a ação policial tem uma explicação: o governo sabe que a manifestação não terminará enquanto a população nas ruas não for ouvida.

Um internauta posta o programa de Lawrence no Youtube e pede: “Por favor, transformem isto num viral”, explicando que tem poucas linhas para expressar o horror que está ocorrendo nas ruas. Ele assina “moodyblueCDN” na postagem.

Abaixo do vídeo, segue o comentário: “E aqui vamos nós aos bastidores de Matrix”, comparando a bem engendrada política imperialista ao enredo do filme de ficção científica, no qual os personagens têm os destinos traçados por máquinas e só podem romper esse circuito de manipulação quando surgir o salvador.

Outro vídeo da internet mostra os jovens e sua demanda: “quem for honesto nos dará apoio, quem for heróico se juntará a nós”.

Lucas Vazquez está entre os jovens de Wall Street, é um dos organizadores do protesto, segundo um vídeo. Ele dá uma declaração tranqüila, mostrando-se surpreso com a reação dos policiais.

Os dez dias de protestos já deram origem a um documentário, O verão da Mudança (Summer of Change), de Velcrow Ripper. Ripper navega na praia hippie dos anos 1960 ao propor: “Como esta crise global pode se transformar em uma história de amor?”. O documentário foi produzido pela Evolve Love.

Fonte: Carta Maior

sábado, 1 de outubro de 2011

Copa do Mundo e Jogos Olímpicos radicalizam as desigualdades Sociais

COBERTURA ESPECIAL – Seminário  “A cidade dos e para os mega eventos esportivos: muros, remoções e maquiagem urbana”
 
Seminário no Complexo de Favelas da Maré discute as transformações e impactos gerados pelos megaeventos esportivos na cidade.

Agência Notisa – Ao vencer as disputas para sediar os dois maiores eventos esportivos do mundo – a Copa do Mundo e as Olimpíadas –, as cidades-sedes brasileiras entraram num circuito de especulação imobiliária e intervenções urbanas que, segundo o seminário “A cidade dos e para os mega eventos esportivos: muros, remoções e maquiagem urbana”, vem contribuindo para violações dos direitos humanos. Essas e outras questões foram discutidas ontem (30), durante o evento promovido pela Redes de Desenvolvimento da Maré, em parceria com o Observatório de Favelas e a ONG ActionAid, no Complexo de Favelas da Maré (RJ).
No seminário, representantes dessas entidades debateram a preparação do Rio de Janeiro para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016 e avaliaram o impacto causado pelas intervenções urbanas feitas na cidade, principalmente nos locais de moradia de população pobre. Segundo eles, a condução do poder público em relação às intervenções urbanas para a Copa e para os Jogos Olímpicos negligencia a participação da população, sobretudo dos moradores de comunidades, que sofrem, inclusive, com remoções.
Os palestrantes trataram essas intervenções como “maquiagem urbana”, e deram o exemplo da construção do polêmico muro que separa o Complexo de Favelas da Maré das linhas Vermelha e Amarela, ocorrida, segundo os próprios moradores, sem possibilidade de diálogo entre eles e o poder público.
Segundo Jailson de Souza, coordenador geral do Observatório de Favelas, as cidades estão sendo pensadas e administradas apenas como ambientes de negócios. “Ao invés de promover o bem público, a gestão é feita a partir do mercado. As escolhas são feias muito mais a partir do custo benefício do lucro do que do bem-estar das pessoas”, disse.
Brian Mier, coordenador de Direito à Cidade da ActionAid-Brasil, ONG presente em mais de 40 países que trabalha em parceria com organizações locais, exemplificou essa realidade ao mostrar as mudança implementadas na África do Sul para receber a Copa do Mundo, ano passado.
Segundo ele, tudo foi pensado visando o lucro. Lucro da FIFA, do governo, e das empresas, como da construção civil, por exemplo. “Uma fala comum dos governos é que os eventos irão gerar emprego. Isso é ilusão. Na África do sul, 111 mil empregados perderam seus postos de trabalho na construção civil depois que a copa terminou”, disse.
O incentivo ao turismo, outro argumento dos organizadores dos eventos, para Brian, também não é real. Segundo ele, um estudo realizado durante a Copa da África revelou que 60% dos turistas que estavam no país durante o evento, não estavam lá por causa da Copa. Estavam visitando parentes, já que era período de férias.
Além disso, ele contou que moradores de favelas de lá viram os recursos aplicados em saneamento básico serem desviados para cobrir os gastos da Copa. E que muitos foram removidos de suas casas para lugares afastados dos estádios, que nada mais eram do que “aglomerados de latões” onde eles passaram a viver.
Segundo ele, durante os jogos, num raio de um quilômetro dos estádios, só a Fifa pode atuar. Os comerciantes locais, por exemplos, são expulsos porque só podem ser comercializados produtos oficiais. “E a Fifa não paga impostos por isso”, disse Brian.
“Esses eventos esportivos acabam reproduzindo e radicalizando as desigualdades sociais. Tudo isso faz parte de técnicas de controle. Técnicas de repartição territorial que garantem o privilégio de alguns em vista de violações dos direitos dos mais pobres”, disse Jorge Barbosa, professor de Geografia da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do Observatório de Favelas.
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"QUEM NÃO SE COMUNICA SE TRUMBICA"

 
José Flávio Abelha *
 
O psicólogo canadense Marshall McLuhan lá pelos anos 60 já previa a transformação do mundo numa aldeia global . Estamos vivendo a sua previsão .
O filósofo Abelardo “ Chacrinha ” Barbosa, com a sua irreverência , criou com muita propriedade o corolário da teoria do canadense: “ Quem não se comunica se trumbica”.
Falou e disse. Estamos morando na grande aldeia e comunicando mais velozmente do que nunca imaginado.
O velho reclame dos meus tempos de rapaz já dizia: Quem não anuncia se esconde!
Nunca se comunicou tanto quanto nos anos da ditadura Vargas. Era o DIP que se encarregava, diariamente, de propagar as coisas de Vargas. E o baixinho de Itu sabia como ninguém atrair as massas , quer através de grandes concentrações , quem em comunicação pessoal .
O presidente Vargas, democraticamente eleito, sem o DIP e com uma oposição virulenta , não conseguiu espaço na imprensa , hoje chamada de mídia , e teve de valer-se de manobra mortal , o financiamento para a criação do jornal Ultima Hora , que lhe dava cobertura .
Juscelino, um comunicador nato , obrigou a imprensa a lhe dar espaço construindo Brasília.
Contava com a Bloch e os Diários Associados , os quais , desde a primeira hora , ficaram do seu lado . Não existia O Globo para somente noticiar Brasília às vésperas da inauguração , como o fez com as “Diretas Já ”, pegando o bonde andando no último ponto .
O saudoso Brizola não teve a mesma sorte . A mídia não o apoiava. O que fez o agora reconhecido profeta ? Criou o TIJOLAÇO, matéria paga onde falava o que o povo precisava ouvir mas , convenhamos, com pouco eco .
Hoje , seu neto carrega o “tijolaço” com destemida bravura e é lido e repassado em inúmeros outros blogues.
Na primeira visita que o recém eleito prefeito de Conselheiro Pena , José Laviola de Matos , fez a Alvarenga, um distrito longínquo , fui testemunha de um fato singular em matéria de comunicação .
Sobre essa visita escrevi alguma coisa no meu livrete A MINEIRICE.
Estávamos nos princípios dos anos 60. Em dado momento de folga , acompanhei Laviola na visita a um fazendeiro , chefe político da região e seu eleitor .
O prefeito , tentando fazer uma pequena pesquisa , perguntou ao fazendeiro em quem votaria nas eleições de 65. O “ coronel ” levantou-se da cadeira , foi ao seu quarto e de lá saiu carregando uma caixa de sapatos . Lá de dentro , retirou um cartão e nos mostrou dizendo que esse era o seu candidato porque nunca se esquecera de lhe cumprimentar por ocasião do Natal .
Tratava-se de um cartão “assinado” por Juscelino e dirigido “ao meu bom amigo ”. Milagres das gráficas modernas. A assinatura , em tinta azul , era “ idêntica ”. Com esse expediente , JK estava garantindo dezenas de votos naquele fim de mundo . Votos multiplicadores .
Em 1972 visitei o gabinete de um senador americano no Capitólio . Vi o que devia ver e o que não devia, a máquina de assinar cartões e cartas .
Nos EUA o eleitor estufa o peito e diz que vai queixar-se ao seu congressista . Escreve e recebe a resposta “assinada” pela máquina com uma caneta Bic.
Ai do congressista que não responder .
É lamentável que hoje não mais se receba qualquer comunicação dos nossos congressistas , um afago , mesmo assinado pela máquina . Nada ! Se quisermos saber alguma coisa , temos de consultar blogues, ouvir a Hora do Brasil ou ver na TV uns debates anódinos e notícias dirigidas com âncoras que só fazer caras e bocas.
Lula é um comunicador excepcional , cria fatos e expectativas mas não conta com a simpatia da mídia . Fala direto ao povão . Nem seu partido nem as agremiações trabalhistas lhe dão grande espaço . Inveja , medo , sabe-se lá o que mais !
A nossa Presidenta não é de muito palavrório , fala pouco e não se comunica bem .
O jornalista Carlos Chagas , na fumaça da visita da Presidenta aos EUA, ocasião em que abriu a sessão na ONU, comentou que a mídia internacional lhe deu pouco espaço e aqui , quase nem isso .
O comentário de Chagas é irreprochável. Sendo a ONU um órgão hoje desmoralizado, pouca repercussão há no que lá se trata . O que se fala naquele clube presidido atualmente pelo Obama ninguém dá mais crédito .
Aqui , bom , aqui , convenhamos, o fato é lamentável . Bem sabemos que a mídia tupiniquim não morre de amores pela presidenta. Ao contrário , vive da solapa, do   ardil , da manha , da astúcia , da ronha, visando a sua desmoralização e, indo além , da sua derrubada , é o que estamos vendo segundo nos ensina o livrinho A Arte da Guerra .
Mas , o jornalista também lembrou, ou tocou, num ponto nevrálgico , a TV estatal que deveria ter se encarregado de transmitir as solenidades nas quais  a presidenta do Brasil compareceu. Diz Chagas que , naquelas horas , a TV estatal transmitia desenhos animados .
Não me surpreendi com as observações de Carlos Chagas .
Concordo e faço coro . Traduzindo, desde a primeira posse do presidente Luiz Inácio até esta data , hoje , dia 30 de setembro , a comunicação governamental é um fracasso total , de uma incompetência incomensurável , para não repetir o bordão daquele ancora de entorta a boca , faz biquinho e diz: é uma vergonha !!!
E é mesmo .
Sendo um blogueiro atuante , embora sem prestígio , o que não me tira o arrebatamento, tenho, de quando em quando , enviado críticas e sugestões ao partido político base da presidenta e à própria .
Nunca recebi qualquer resposta . Nem um e-mail ou um cartão expedido pela milagrosa máquina .de assinar . Nada mesmo !
Quando esteve fazendo tratamento médico para cortar o início de um câncer linfático , Dilma deve ter recebido milhares de e-mails e cartas . E, já curada, naturalmente a sua assessoria achou por bem agradecer a todos com a mensagem padrão .
Fui premiado com mensagem pessoal da Dilma.
Como bom mineiro , exclamei, UAI , eu não mandei nenhuma mensagem à distinta dama...
Sou do tempo em que ainda se usava responder cartas, cartões e telegramas.
Diretor do Clube Lajão, de Conselheiro Pena, eu fiquei encarregado de fazer sala ao nosso contratado, o grande Orlando Silva e sua companheira, Da. Lurdes. Orlando bebeu conosco e varou a madrugada cantando.
Mais ou menos um mês depois, recebi, para surpresa minha, uma carta do grande Orlando, agradecendo-me pela bela recepção, mandando abraços para o prefeito Laviola e uma foto autografada para mim. A carta está bem guardada e a foto, devidamente emoldurada, no meu escritório.
Hoje, nada mais se agradece, nada mais se comunica. A aldeia global, se encurtou a geografia, distanciou as pessoas. Namora-se pela internete, um amor virtual. Ninguém conhece ninguém.
E a nossa mídia se encarrega de distanciar, ainda mais, as pessoas dos fatos.
Ainda agora o ex-presidente Lula recebeu uma homenagem que poucas pessoas no mundo já foram honradas com tal manifestação de reconhecimento.
Nossa mídia noticiou como se noticia uma batida de carro na ponte Rio-Niterói. Nada mais. Nós blogueiros, uns mais outros menos, nos encarregamos de noticiar a boa nova.
E não é que a Vênus Platinada achou por bem jogar pó de mico na cerimônia? Leiam os blogues sérios que os leitores irão ver a lambança que o pessoal da Vênus tentou fazer.
Mais uma vez nem o partido do ex-presidente manifestou-se a respeito. Não sei se a TV estatal, no seu noticiário, prestou a devida homenagem ao seu criador. Aliás, nem sei se existe noticiário.
Como diria o âncora do biquinho:
É uma vergonha!!!
 
*Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltda.. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO ABELHA  -
http://oblogdoabelha.blogspot.com
Correspondência e colaboração favor enviar para: jfabelha@terra.com.br

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

....estímulo ao denuncismo e a sociedade de controle....

Um pouco de policial em cada indivíduo é a regra perversa que paulatinamente mutila a mesma liberdade que promete assegurar

Por Marcelo Semer*


Depois da polícia, chegou a vez da imprensa.

Com alarde, a Folha de S. Paulo lançou o seu "disque-denúncia".

O serviço, sugestivamente chamado de Folhaleaks, propõe estimular seus leitores a encaminhar de forma anônima denúncias que permitam produzir novas reportagens.

Com uma semana de atividade, o jornal comemorou mais de setecentas mensagens sobre nepotismo, fraudes em licitações e favorecimentos a políticos.

Estará aí, na crua expansão do denuncismo anônimo, um futuro seguro para a nossa democracia?

Desde que em seu "1984", George Orwell desenhou a onipotência do Estado pelas lentes de um Big Brother que a tudo e a todos vigia, a ameaça de uma sociedade de controle vem rapidamente se alastrando sobre nós.

O extraordinário avanço tecnológico e a constante disseminação do medo como combustível da vigilância, tornaram o pesadelo de Orwell cada vez mais palpável.

E o que temos feito para combatê-lo?

Reproduzimos as câmaras de segurança em nossos espaços privados, das escolas aos elevadores, entregamos a intimidade a empresas que nos prometem amigos virtuais e nos deliciamos com o voyeurismo que a simulação do controle nos proporciona em momentos de lazer.

A câmara caricata do patrão sobre o Carlitos operário em "Tempos Modernos" se agrega hoje a outros instrumentos de controle no trabalho, como o monitoramento de computadores e revistas de funcionários após o expediente.

Aderimos e legitimamos a contínua vigilância.

Em nome da segurança, a privacidade foi se tornando um conceito em extinção, lembrado com reverência apenas quando um réu abonado é objeto da justiça penal.

Mas em uma sociedade de controle que se preze, e este é o ponto que nos interessa, a vigilância só se consolida quando é repartida por todos os seus membros.

Um pouco de policial em cada indivíduo é a regra perversa que paulatinamente mutila a mesma liberdade que promete assegurar.

No televisivo Linha Direta, da rede Globo, os espectadores eram estimulados a procurar criminosos foragidos. No Folhaleaks, a fornecer dados para a investigação. É o cidadão cumprindo seu dever de vigilante da lei e da ordem, enquanto a imprensa faz papel de polícia e muitas vezes de juiz também.

Ninguém duvida da importância de colocar limites à malversação de bens públicos, punir corruptos e corruptores e estabelecer regras que dificultem a apropriação privada de bens do Estado.

Mas a espetacularização do controle, com propósitos políticos ou comerciais, no entanto, é a ação que menos efeitos duradouros produz. Esgarça-se antes do próximo escândalo e se alimenta do sensacionalismo que retrata.

Da mesma forma como a imprensa vem desempenhando funções de investigação, a polícia tem na mídia um complemento indispensável de seus trabalhos.

Quase não se veem operações de vulto em que prisões não sejam fortemente alardeadas ou interceptações telefônicas que não cheguem diretamente aos telejornais. As punições muitas vezes se esgotam na simples exposição dos suspeitos.

Mesmo quando se pretende proteger o interesse público, é preciso muita atenção ao casamento do denuncismo com a política do espetáculo. O resultado pode ser devastador.

Que o diga Philip Roth, que pela boca do narrador de seu "Casei com um Comunista", destrinchou a lógica do macarthismo dos anos 50 e 60 nos EUA.

Em meio a comissões parlamentares de inquérito transmitidas pela TV, e listas-negras produzidas por denúncias e delações, estabeleceu-se uma política de caça às bruxas sob o pretexto de reagir duramente aos inimigos do Estado:

"A virtude dos julgamentos-espetáculo da cruzada patriótica era simplesmente a forma teatralizada. Ter câmaras voltadas para aquilo apenas lhe conferia a falsa autenticidade da vida real. McCarthy compreendeu o valor de entretenimento da desgraça e aprendeu como alimentar as delícias da paranoia."

É certo que o cidadão deve ter meios de se defender dos abusos do Estado e instrumentos para limitar o poder das autoridades.

Mas assumir ele mesmo a função de polícia, a título de denunciá-lo, só pavimenta o caminho para uma sociedade de controle na qual suas próprias liberdades terminam em risco.

Escravocratas contra Lula



Martín Granovsky *

Podem pronunciar “sians po”. É, mais ou menos, a fonética de ciências políticas. Basta dizer Sciences Po para aludir ao encaixe perfeito de duas estruturas, a Fundação Nacional de Ciências Políticas da França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Não é difícil pronunciar Sians Po. O difícil é entender, a esta altura do século 21, como as idéias escravocratas continuam permeando a gente das elites sul-americanas.

Hoje à tarde, Garrucha Descobrindo, diretor do Licencies O, entregará pela primeira vez o doutorado Senhoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Falará Descobrindo e falará Lula, claro.

Para bem explicar sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório da rua Sinta Guilherme, muito perto da igreja de Sinta Germina de Ares, em um prédio de onde se pode ver as árvores com suas folhas amareladas. Enfiar-se na cozinha é sempre interessante. Se alguém passa por Paris para participar de duas atividades acadêmicas, uma sobre a situação política argentina e outra sobre as relações entre Argentina e Brasil, não fica mal entrar na cozinha do Licencies O.

Pareceu o mesmo à historiadora Diana Quatrocentos Nisso, que dirige em Paris o Observatório sobre a Argentina Contemporânea, é diretora do Instituto das Américas e teve a odeia de organizar as duas atividades acadêmicas sobre Argentina e Brasil, das quais também participou o economista e historiador Mário Rapoport, um dos fundadores do Plano Fenix faz 10 anos.

Naturalmente, para escutar Descoings foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático. O Sciences Po tem uma cátedra sobre o Mercosul, os estudantes brasileiros vem cada vez mais à França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao nível máximo de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social.

Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado. Quiçá sabia que esta declaração de Lula não consta em atas, embora seja certo que Lula não tem um título universitário. Também é certo que quando assumiu a presidência, em primeiro de janeiro de 2003, levantou o diploma que é dado aos presidentes do Brasil e disse: “Uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria de presidente da República”. E chorou.

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?”, foi a pergunta seguinte.

O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”.

E acrescentou, citando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente a outro, nos dias de hoje? Se não queremos falar sobre estes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país renunciou por ter plagiado a tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro da Defesa da Alemanha até que se soube do plágio.

Disse também: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.

Outro colega perguntou se era bom premiar a alguém que uma vez chamou de “irmão” a Muamar Khadafi.

Com as devidas desculpas, que foram expressas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina me levou a perguntar onde Khadafi tinha comprado suas armas e qual país refinava seu petróleo, além de comprá-lo. O professor deve ter agradecido que a pergunta não citava, com nome e sobrenome, a França e a Itália.

Descoings aproveitou para destacar em Lula “o homem de ação que modificou o curso das coisas” e disse que a concepção da Sciences Po não é de um ser humano dividido entre “uns ou outros”, mas como “uns e outros”. Enfatizou muito o et, e em francês.

Diana Quattrocchi, como latino-americana que estudou e fez doutorado em Paris depois de sair de uma prisão da ditadura argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa de que a Sciences Po dava um título Honoris Causa a um presidente da região e perguntou sobre os motivos geopolíticos.

“Todo o mundo se pergunta”, disse Descoings. “E temos de escutar a todos. O mundo nem sequer sabe se a Europa existirá no ano que vem”.

No Sciences Po, Descoings introduziu estímulos para que possam ingressar estudantes que, se supõe, tem desvantagem para conseguir aprovação no exame. O que se chama de discriminação positiva ou ação afirmativa e se parece, por exemplo, com a obrigação argentina de que um terço das candidaturas legislativas deve ser de mulheres.

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da política de ação afirmativa do Sciences Po.

Descoings o observou com atenção antes de responder. “As elites não são apenas escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.

Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembléia Geral das Nações Unidas, Lula vem insistindo que a reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial está atrasada. Diz que estes organismos, assim como funcionam, “não servem para nada”.

O grupo BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) ofereceu ajuda à Europa. A China tem os níveis de reservas mais altos do mundo. Em um artigo publicado no El Pais, de Madrid, os ex-primeiros ministros Felipe González e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Querem que seja o auditor independente dos países do G-20, integrado pelos mais ricos e também, da América do Sul, pela Argentina e Brasil. Ou seja, querem o contrário do que pensam os BRICs.

Em meio a esta discussão Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos.

Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados.

*Martín Granovsky - Analista internacional argentino, colunista do jornal Página 12 - martin.granovsky@gmail.com 


Fonte original: http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-177611-2011-09-27.html