quarta-feira, 29 de junho de 2011

SIONISTAS SÃO GENOCIDAS - ISRAEL TERRORISMO DE ESTADO



Laerte Braga


Israel é uma aberração jurídica inventada pelas grandes potências ao fim da 2ª Grande Guerra a guisa de justificar o assassinato em massa de judeus nos campos de concentração nazistas. No duro mesmo uma ocupação de terras palestinas para garantir o petróleo no Oriente Médio.

É, desde a sua instalação, um Estado terrorista. Não significa que judeus sejam criminosos, mas que a imensa e esmagadora maioria dos que controlam o país/terrorista e seus principais líderes religiosos – os chamados ortodoxos, ou fundamentalistas – são os principais acionistas dos Estados Unidos e todo o seu entorno continental ou além mar. São genocidas.

A propalada ajuda a Grécia havia sido negada até que banqueiros judeus/sionistas e alemães em sua maioria alertaram à primeira ministra Ângela Merkel que seriam eles os maiores prejudicados com a falência daquele país (aos olhos do capitalismo), já que detinham a maior parte dos títulos da dívida pública grega.

A Europa Ocidental é uma parte do mundo em processo de dissolução. No terror do capitalismo o que se impõe à Grécia é uma política econômica de terra arrasada, tal e qual fizeram com o Brasil no governo de FHC e fazem sistematicamente com todos os países no mundo desde o fim da União Soviética.

Trabalhadores, em todo o mundo, pagam o preço dessa estupidez.

A verdade única, absoluta do terrorismo de Estado. Escora-se em sangue de um arsenal nuclear que é capaz de destruir o mundo cem vezes se preciso for. Foi assim no Iraque onde não existiam armas químicas e nem biológicas, apenas petróleo. É assim no Afeganistão onde assumiram inclusive o controle da produção e tráfico de drogas. Ou na Colômbia, onde sustentam um governo dos cartéis das drogas.

No Brasil agentes da MOSSAD – organização terrorista israelense a que chamam de serviço de inteligência – transitam à vontade com a omissão do governo (deste e dos anteriores) na velha e surrada mentira da presença de terroristas entre os refugiados ou imigrantes de nações árabes na região de Foz do Iguaçu.

Em Porto Alegre um vereador descabeçado – para que servem câmaras municipais? – impôs o ensino do holocausto nas escolas públicas da capital.

E os ciganos, os negros, os homossexuais, os adversários do regime de Hitler assassinados nos mesmos campos de concentração? O holocausto não é privilégio dos judeus. 

Quem vai ensinar e mostrar o genocídio contra o povo palestino? As prisões indiscriminadas, os estupros de mulheres palestinas, a tortura, o roubo de terras e riquezas dos palestinos?

O governo de Gaza – Hamas – foi eleito em pleito livre e democrático que resultou dos acordos assinados pelo então presidente Bil Clinton, o primeiro ministro de Israel Itzak Rabin e o líder palestino Yasser Arafat. Nas comemorações da paz Rabin foi assassinado por um fundamentalista, ou ortodoxo, contrário à paz e com a convicção que judeus são o povo eleito e, portanto, superiores.

A mesma visão de Hitler, os mesmos procedimentos. Um imenso muro que tenta transformar a Palestina num grande campo de concentração.

Detentores do controle acionário de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A assombram o mundo suas ogivas nucleares e a barbárie que os caracteriza.

Einstein desistiu do sonho de uma nação judia ainda em 1948, em carta publicada no jornal THE NEW YORK TIMES, quando percebeu o caráter terrorista do Estado de Israel.

A FLOTILHA DA PAZ inicia sua jornada saindo de vários pontos do mar Mediterrâneo levando ajuda humanitária aos habitantes de Gaza submetidos a um implacável bloqueio dos terroristas de Israel.

Cidadãos de várias nacionalidades vão tentar chegar a Gaza e mostrar ao mundo o horror e os crimes praticados pelo governo de Israel. Entre eles Hedy Epstein, 86 anos de idade, norte-americana, judia e que teve os pais assinados pelos nazistas. Hedy participou da primeira FLOTILHA e indignou-se com a violência, o massacre praticado pelos soldados de Israel.

Não são humanos. São assassinos por natureza e caráter.

Em meio à boçalidade das tropas de Israel os palestinos de Gaza preparam uma recepção especial para a FLOTILHA DA PAZ.

Barack Obama, o cínico, já disse que não pode se responsabilizar pela vida dos norte-americanos a bordo dos barcos da FLOTILHA. Só se responsabiliza pela vida de norte-americanos se estiverem a serviço de empresas, bancos, conglomerados da indústria petrolífera e da indústria bélica. Tem eleições a enfrentar em 2012 e não quer contrariar os donos do negócio, falo dos EUA, os judeus sionistas.

O governo de Israel já anunciou que não vai permitir que a FLOTILHA DA PAZ, carregando alimentos, remédios, chegue a Gaza, fure o bloqueio. Segundo o terrorista Avigdor Lieberman, dito ministro das Relações Exteriores, os “ativistas estão buscando confronto e sangue”.

Quem sabe às vezes a OTAN – ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE – tão empenhada em “libertar” a Líbia dê uma ajuda? Afinal são direitos humanos.

Na primeira tentativa de ajudar a população de Gaza nove ativistas turcos, um deles com dupla nacionalidade, norte-americana também, foram mortos pelas hordas de assassinos de Israel.

O discurso do nazi/sionista Lieberman é o de sempre. Segundo ele entre os ativistas da paz existem terroristas. Deve ser a vovô de 86 anos que perdeu os pais em campos de concentração nazistas e sabe o que são essas prisões hoje controladas por Israel ou pelos EUA.

A Marinha de Israel está instruída a não permitir a aproximação dos barcos e a reprimir qualquer tentativa de furar o bloqueio.

São desumanos, covardes e assassinos em sua gênese.

E depois a culpa é do Irã.

Israel é um câncer para a paz mundial. Os níveis de barbárie e boçalidade praticados pelo governo de Tel Aviv só encontram paralelo nos mais terríveis tiranos da história, Hitler entre eles, naturalmente onde aprenderam o know how da estupidez que usam contra palestinos. Ao contrário da senhora Hedy Epstein, a judia norte-americana que vai num dos barcos da FLOTILHA DA PAZ cheia de indignação.

A FLOTILHA DA PAZ deve chegar às águas territoriais de Gaza (controladas pela Marinha de Hitler) na quinta, ou na sexta-feira e provavelmente o mundo vai assistir a mais um espetáculo de horror e violência comuns aos nazistas.

Sionistas são nazistas.

O Conselho de Segurança da ONU não vai resolver nada. Das mais de cinqüenta resoluções contra Israel por violações de direitos humanos nenhuma foi implementada. Têm o controle acionário da maioria do Conselho e da própria Organização.

O embaixador dos EUA vai estar lá para defender os interesses dos patrões e o primeiro-ministro inglês David Cameron vai dizer novamente, é lógico, que o “multiculturalismo acabou”, no racismo explícito de uma nação decadente, mera base militar do complexo EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

No Egito o povo continua massacrado por militares que diante das manifestações de meses atrás. Se livraram de um anel, Hosni Mubarak e mantiveram os dedos da ditadura intactos. Não são forças armadas egípcias, mas braço de Israel e dos EUA. Como boa parte dos militares na maioria dos países do mundo, inclusive o Brasil, onde escondem atrás da covardia do sigilo eterno.

Temem a liberdade, temem a democracia, temem a paz.

Os navios da FLOTILHA DA PAZ sairão com perto de 500 integrantes de várias nacionalidades e de muitos pontos do Mediterrâneo. Levam ajuda humanitária, vão tentar sensibilizar a manada conduzida pela sociedade do espetáculo no resto do mundo, mostrar a situação dramática dos habitantes da Faixa de Gaza e todo o povo palestino.

Serão cúmplices os governos que se omitirem a qualquer ato terrorista dessa aberração jurídica/política e econômica que é o Estado terrorista de Israel. 

Nessa história toda Obama é só um cínico, um espertalhão, destituído de princípios e respeito pelo que quer que seja, que não o que os sionistas determinarem.

A FLOTILHA DA PAZ leva mais de 500 integrantes. Leva os que teimam em resistir como seres humanos diante da barbárie que é o capitalismo.  


terça-feira, 28 de junho de 2011

Na America Latina, dificuldades de atualização científica pode ser compensada pela interação entre vizinhos

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011


China e Argentina mantêm programas de cooperação para criação de diretrizes de saúde.
 
Agência Notisa – Ontem (27), no primeiro dia da Conferência HTAi, que acontece no Rio de Janeiro até quarta-feira (29), o painel Challenges of HTA Translation Into National Clinical Practice Guidelines in Developing Countries: Experience of Argentina and Chile mostrou como países latino-americanos contornam dificuldades para a produção de diretrizes que possibilitem a criação de sistemas de saúde melhores. Participaram da mesa-redonda, Victoria Wurcel (Ministério da Saúde da Argetina), Graciela Demirdjian (National Pediatric Hospital J.P. Garrahan, Argentina), Luis Vera Benavides e Patrícia Kraemer (ambos do Ministério da Saúde chileno).
 
Segundo Victoria Wurcel, a situação argentina – que pode ser estendida a muitos países da América Latina – torna complicado o estabelecimento de diretrizes e protocolos de qualidade inquestionável para orientação das práticas médicas. Entre as razões para tal dificuldade, estão: a lenta penetração e consolidação de movimentos de pesquisas baseadas em evidência; as barreiras linguísticas que tornam difícil o acesso à literatura biomédica atualizada e a falta de recursos humanos e econômicos. Além disso, disse Wurcel, o fato da Argentina ser dividida em 24 jurisdições autônomas dificulta políticas nacionais, uma vez que estratégias para saúde não podem ser impostas a todas as jurisdições, dificultando uma integração de qualidade.
 
Graciela Demirdjian apresentou a situação do Hospital J.P. Garrahan, uma referência em tratamento pediátrico na Argentina. A especialista lembrou que muitas vezes a elaboração de guias e protocolos é desestimulada dentro dos próprios centros de saúde, sob o argumento de que não há evidências para montá-los ou de que será um esforço em vão. Para anular tais argumentos, é importante que, uma vez estabelecidos guias, haja um monitoramento de sua aplicabilidade e eficiência. Na avaliação de Demirdjian, protocolos bem definidos e criados com base em evidências científicas seguras promovem e aumentam a qualidade do atendimento, ao mesmo tempo em que podem reduzir custos. Além disso, são instrumentos importantes para preencher o espaço entre a pesquisa e a prática, se configurando como ferramentas para o trabalho médico diário.
 
Já o sistema de saúde chileno funciona num regime misto (privado e público), sendo o Ministério da Saúde o grande pólo que designa políticas e programas nacionais, além de coordenar órgãos subordinados e monitorar e avaliar a aplicação de suas estratégias para saúde, explicou Luis Vera Benavides. Patrícia Kraemer detalhou os passos para criação de guias do Ministério da Saúde chileno: coordenadores temáticos e tecnológicos se unem para convocação de um painel de especialistas, vindos de hospitais, universidades e outros centros de produção de conhecimento. Em seguida, é feita pesquisa e análise de evidências para elaboração de diretrizes para questões específicas, com eliminação de dados que não são relevantes. A versão bruta do guia é levada para revisão e recebe sugestões de diversos especialistas. Depois de corrigida, é impressa a versão final do protocolo, também disponibilizado on-line.
 
Uma iniciativa do Chile apresentada pelos palestrantes foi o plano AUGE, instaurado em 2005, que é parte de um movimento amplo de reforma do sistema de saúde chileno. O projeto busca garantir a todos os chilenos o acesso a um pacote de medidas de saúde para alguns problemas específicos, baseado nos princípios de “acesso, prazo, proteção financeira e urgência vital”. A medida, porém, ainda é falha para criação de diretrizes, porque, segundo Benavides, há problemas para padronização de guias a nível nacional, havendo também falhas na monitoração e implementação das garantias estabelecidas pelo AUGE.
 
Para contornar as dificuldades de criação de guias para a prática médica, Victoria Wurcel destacou que, além de medidas a nível nacional como a Unidad Coordinadora de Evaluación y Ejecución de Tecnologías en Salud (UCEETS – iniciativa argentina que busca a troca de informações, participação conjunta, padronização e criação de um banco de dados comum, entre outros objetivos para estabelecimento de guias para saúde), é importante a cooperação entre países da América Latina. Segundo ela, Chile e Argentina têm se esforçado para criação de estratégias capacitadoras, através da troca de recursos, transferência de conhecimentos e facilitação de acesso a novas tendências internacionais, eliminando tradicionais dificuldades de atualização em pesquisas internacionais. Ainda que, como Graciela Demirdjian ressaltou, a disseminação de diretrizes deva levar em conta o contexto de cada situação, uma vez que “pessoas são diferentes e países são diferentes”, as bases para montagem de protocolos são transferíveis, de maneira que, acredita Victoria, a cooperação deve ser sempre estimulada.
Nota: O Brasil é o primeiro país da América Latina a sediar a Conferência Internacional de Avaliação de Tecnologias de Saúde(HTAi). Essa de 2011 é oitava. O Blog  Educom Aprenda Ler a Mídia
está publicando a Cobertura Especial  da  HTAi  feita pela Agencia Notisa, que começou ontem e termina amanhã (Zilda Ferreira).
Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Na área de saúde, Brasil ainda não consegue transformar conhecimento em riqueza social

COBERTURA ESPECIAL – CONFERÊNCIA HTAi 2011


País tem dificuldade em desenvolver pesquisa científica que leve a mudanças sociais efetivas.
 
Agência Notisa – Não se pode negar que o Brasil tem crescido muito em termos de produção de conhecimento. Cada vez mais pesquisas nacionais aparecem em publicações internacionais, e a área de saúde se destaca como um campo frutífero à produção científica. Mas esse crescimento em produção teórica e em pesquisas de qualidade ainda não conseguiu ser transformado em mudanças que estimulem o desenvolvimento econômico e social do país. É esta a avaliação de Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, apresentada durante o plenário intitulado The Challenge: Healthcare Systems Sustainability in the 21th Century, ocorrido hoje no Rio de Janeiro.(27/06/2011)
 
O evento faz parte da Conferência HTAi 2011, iniciativa da Health Techonology Assessment International (HTAi) juntamente com o Ministério da Saúde e outros centros, cujo objetivo este ano é discutir como a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) – qualificada pelo Ministério da Saúde como um “processo de investigação das consequências clínicas, econômicas e sociais da utilização das tecnologias em saúde” – pode contribuir para criação de sistemas de saúde que respeitem princípios da sustentabilidade. Da mesa redonda deste primeiro dia da conferência, participaram também Andy Haines (London School of Hygiene & Tropical Medicine), Alice Granados (Genzyme – Espanha), José Carvalho de Noronha (Fundação Oswaldo Cruz) e Adriana Velazquez (OMS), com coordenação de Reinaldo Guimarães (ex-secretário do Ministério da Saúde).
 
Os palestrantes se dedicaram a destrinchar o atual cenário dos sistemas de saúde, seja no âmbito nacional ou internacional. Em relação ao Brasil, Carlos Gadelha afirmou que o país vive hoje um “contexto social muito dinâmico”, com queda nos índices de pobreza e grande crescimento da classe média, sendo que 53% da população têm acesso ao sistema primário de saúde através do SUS. Diante disso, os desafios para montagem de um sistema de saúde que atenda a esta porcentagem crescente aumentam. O grande problema é que haveria um “descompasso” entre tal demanda em atendimento em saúde e a nossa capacidade de produção e inovação, necessária para garantir um serviço abrangente e de qualidade.
 
Na visão de Gadelha, o Brasil tem dado passos importantes em relação ao aumento de sua capacidade de produção e inovação em tecnologias e pesquisas em saúde, porém este conhecimento não termina por gerar riqueza social, ou seja, não há uma tradução deste conhecimento em estratégias e diretrizes para serem aplicadas na prática médica. Esta realidade, segundo o secretário, fica clara analisando alguns dados: “não só a participação do país na criação de patentes em saúde a nível mundial é quase irrisória, como grande parte das tecnologias e inovações usadas em nosso sistema de saúde são importadas, criando grande dependência externa”.
 
Para resolver este problema, seria necessário encontrar maneiras de articular a dinâmica do desenvolvimento econômico e de inovação com o desenvolvimento social. Uma alternativa, sugeriu Gadelha, é a interação entre sistemas públicos e privados, organizada de forma mais abrangente do que um mero “meio para alavancar renda para pesquisa em saúde”. Mais do que uma fonte de obtenção de recursos, tal parceria deve pautar a agenda de inovações, permitindo que o setor privado invista onde o Estado não pode alcançar.
 
As apresentações dos representantes internacionais deixaram claro que o Brasil não é o único país que precisa ultrapassar muitos desafios para conseguir estabelecer um sistema de saúde mais seguro e acessível a toda a população. Andy Haynes e Adriana Velazquez mostraram em gráficos e números que a situação da saúde principalmente em países menos desenvolvidos ainda é precária, com grandes questões envolvendo doenças virais como malária e a AIDS, além de altos níveis de mortalidade materna e infantil. Em 2005, exemplificou Velazquez, enquanto foram registrados 650 mortes maternas em países de baixa renda, apenas nove casos semelhantes ocorreram em países com melhores condições. Ambos os especialistas concordam que a solução para este descompasso estaria na melhoria do sistema primário de saúde. Segundo eles, se houver investimento em tecnologias e inovações que permitam diagnósticos precoces e atendimentos mais velozes, certamente muitas vidas serão salvas. Alicia Granados lembrou, por sua vez, da importância fundamental de se ter uma visão holística dos sistemas de saúde, entendendo-os em suas dimensões científica, política e social, de maneira que sejam estimuladas a parceria e a solidariedade entre todos estes componentes.
 
Já José Carvalho de Noronha lembrou da questão do envelhecimento da população, uma tendência mundial. O aumento da longevidade não necessariamente se reflete na queda da morbidade, sendo as doenças crônicas hoje uma questão preocupante, que pressiona a administração de mais recursos num planeta de fontes esgotáveis. Para o profissional, seria preciso, então, traçar um caminho em que sejam atendidas as necessidades do presente, sem comprometimento com a habilidade de atendê-las no futuro.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

Desinformação e desrespeito na mídia brasileira



por Formandos do curso de Letras da PUC-SP*


Por alguma razão escondida dentro de cada um de nós que escrevemos esse texto, tivemos como escolha profissional o ensino de língua (materna ou estrangeira). Por algum motivo desconhecido, resolvemos abraçar uma das profissões mais mal pagas do nosso país. Não quisemos nos tornar médicos, advogados ou jornalistas. Quisemos virar professores. E para fazê-lo, tivemos que estudar. Estudar, para alguém que quer ensinar, tem uma dimensão profunda.
1324 225x300 Desinformação e desrespeito na mídia brasileiraFoi estudando que abandonamos muitas visões simplistas do mundo e muito dos nossos preconceitos. Durante anos debatemos a condição da educação no Brasil; cotidianamente aprofundamo-nos sobre a realidade do país e sobre uma das expressões culturais mais íntimas de seus habitantes: a sua língua. Em várias dessas discussões utilizamos reportagens, notícias ou fatos trazidos pelos jornais.
Crescemos ouvindo que jovem não lê jornal e que a cada dia o brasileiro lê menos. A julgar por nosso cotidiano, isso não é verdade. Tanto é que muitos de nós, já indignados com o tratamento dado pelo Jornal Nacional à questão do material Por Uma Vida Melhor, perdemos o domingo ao, pela manhã, lermos as palavras de um dos mais respeitados jornalistas do país, criticando, na Folha de S.Paulo, a valorização dada pelo material ao ensino das diferentes possibilidades do falar brasileiro. E ficamos ainda mais indignados durante a semana com tantas reportagens e artigos de opinião cheios de ideias equivocadas, ofensivas, violentas e irresponsáveis.
Lemos textos assim também no Estado de S. Paulo e nas revistas semanais Veja e IstoÉ. Vimos o Jornal Nacional colocar uma das autoras do material em posição humilhante de ter que se justificar por ter conseguido fazer uma transposição didática de um assunto já debatido há tempos pelos grandes nomes da linguística do país – nossos mestres, aliás.
O jornalista Clovis Rossi afirmou que a língua que ele julga correta é uma “evolução para que as pessoas pudessem se comunicar de uma maneira que umas entendam perfeitamente as outras” e que os professores têm o baixo salário justificado por “preguiça de ensinar”. Uma semana depois, vimos Amauri Segalla e Bruna Cavalcanti narrarem um drama em que um aluno teria aprendido uma construção errada de sua língua e afirmarem que o material “vai condenar esses jovens a uma escuridão cultural sem precedentes”. Também esses dois últimos jornalistas tentam negar a voz contrária aos seus julgamentos, dizendo que pouquíssimos foram os que se manifestaram, e que as ideias expressas no material podem ter sucesso somente entre alguns professores “mais moderninhos”. Já no Estado de S. Paulo vimos um economista fazendo represálias brutas a esse material didático. Acreditamos que o senhor Sardenberg entenda muito sobre jornalismo e economia, porém fica nítida a fragilidade de suas concepções sobre ensino da língua. A mesma desinformação e irresponsabilidade revelou o cineasta Arnaldo Jabor, em seu violento comentário na rádio CBN.
Ficamos todos perplexos pela falta de informação desses jornalistas, pela inversão de realidade a que procederam, e, sobretudo, pelo preconceito que despejaram sem pudor sobre seus espectadores, ouvintes e leitores, alimentando uma visão reduzida ao senso comum, equivocado quanto ao ensino da língua. A versão trazida pelos jornais sobre a defesa do “erro” em livros didáticos, e mais especificamente no livro Por Uma Vida Melhor, é uma ofensa a todo trabalho desenvolvido pelos linguistas e educadores de nosso país no que diz respeito ao ensino de língua portuguesa.
A pergunta inquietante que tivemos foi: será que esses jornalistas ao menos se deram o trabalho de ler ou meramente consultar o referido livro didático antes de tornar públicas tão caluniosas opiniões? Sabemos que não. Pois, se o tivessem feito, veriam que tal livro de forma alguma defende o ato de falar “errado”, mas sim busca desmistificar a noção de erro, substituindo-a pela de adequação/inadequação. Isso porque a linguística, bem como qualquer outra ciência humana, não pode admitir a superioridade de uma expressão cultural sobre outra. Ao dizer que a população com baixo grau de escolaridade fala “errado”, o que se está dizendo é que a expressão cultural da maior parte da população brasileira é errada, ou inferior à das classes dominantes. Isto não pode ser concebido, nem publicado deliberadamente, como foi nos meios de comunicação. É esse ensinamento básico que o material propõe, didaticamente, aos alunos que participam da Educação de Jovens e Adultos. Mais apropriado, impossível. Paulo Freire ficaria orgulhoso. Os jornalistas, porém, condenam.
Sabemos que os veículos de comunicação possuem uma influência poderosa sobre a visão de mundo das pessoas, atuam como formadores de opinião, por isso consideramos um retrocesso estigmatizar certos usos da língua e, assim, o trabalho de profissionais que, todos os dias, estão em sala de aula tentando ir além da mera repetição dos exercícios gramaticais mecânicos, chamando atenção para o caráter multifacetado e plural do português brasileiro e sua relação intrínseca com os mais diversos contextos sociais.
A preocupação dos senhores jornalistas, porém, ainda é comum. Na base de suas críticas aparece, sobretudo, o medo de a escola não cumprir com seu papel de ensinar a norma culta aos falantes. Entretanto, se tivessem lido o referido material, esse medo teria facilmente se esvaído. Como todo linguista contemporâneo, os autores deixam claro, na página 12, que “como a linguagem possibilita acesso a muitas situações sociais, a escola deve se preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes, para que eles tenham mais uma variedade à sua disposição, a fim de empregá-la quando for necessário”.
Dessa forma, sem deixar de valorizar a norma escrita culta – necessária para atuar nas esferas profissional e cultural e, logo, determinante para a ascensão econômica e social de seus usuários, embora não suficiente –, o material consegue promover o debate sobre a diversidade linguística brasileira. Esse feito, do ponto de vista de todos que produzimos e utilizamos materiais didáticos, é fundamental.
Sobre os conteúdos errôneos que foram publicados pelos jornais e revistas, foi possível ver, após uma semana, as respostas dadas pelos educadores, estudiosos da linguagem e, sobretudo, da variação linguística, já bastante elucidativas para informar a esses profissionais do jornalismo. Infelizmente, alguns jornalistas não os leram.
Mas ainda dá tempo de aprender com esses textos. Leiam as respostas de linguistas tais como Luis Carlos Cagliari, Marcos Bagno, Carlos Alberto Faraco, Sírio Possenti, além de educadores como Maria Alice Setubal e Maurício Ernica, entre outros, publicadas em diversas fontes, como elucidativas e representativas do que temos a dizer. Aliás, muito nos orgulha a paciência desses autores – foram verdadeiras aulas para alunos que parecem ter que começar do zero.
Admirável foram essas respostas calmas, respeitosas e informativas, verdadeiras lições de Linguística, de Educação – e de atitude cidadã, diga-se de passagem – para “formadores de opinião” que, sem o domínio do assunto, resolveram palpitar, julgar e até incriminar práticas e ideias solidamente construídas em pesquisas científicas sobre a língua, ao longo de toda a vida acadêmica de vários intelectuais brasileiros respeitados – ideias essas que começam, aos poucos, a chegar à realidade das escolas.
Ao final de anos de luta para podermos virar professores, ao invés de vermos nossos pensadores, acadêmicos e professores valorizados, vimos a humilhação violenta que eles sofreram. Vimos, com isso, a humilhação que a academia e que os estudos sérios e profundos podem sofrer pela mídia desavisada (ou maldosa). O poder da mídia foi assustador. Para os alunos mais dispersos, algumas concepções que levaram anos para serem construídas foram quebradas em instantes. Felizmente, esses são poucos. Para grande parte de nossos colegas estudantes de Letras, o que aconteceu foi um descontentamento geral e uma descrença coletiva nos meios de comunicação.
A descrença na profissão de professor, que era a mais provável de ocorrer após tamanha violência e irresponsabilidade da mídia, não aconteceu – somente por conta daquele nosso motivo interno ao qual nos referimos antes. Nossa crença de que a educação é a solução de muitos problemas – como esse, por exemplo – e de que se trata de uma das profissões mais satisfatórias do mundo continua firme. Sabemos que vamos receber baixos salários, que nossa rotina será mais complicada do que a de muitos outros profissionais, além de todas as outras dificuldades que todos sabem que um professor enfrenta. O que não sabíamos é que não tínhamos o apoio da mídia, e que, pior que isso, ela se voltaria contra nós, dizendo que o baixo salário está justificado e que não podemos reclamar porque não cumprimos nosso dever direito.
Gostaríamos de deixar claro que não, ensinar gramática tradicional não é difícil. Não temos preguiça disso. Facilmente podemos ler a respeito da questão da colocação pronominal, passar na lousa como os pronomes devem ser usados e dizer para o aluno que está errado dizer “me dá uma borracha”. Isto é muito simples de fazer. Tão simples que os senhores jornalistas, que não são professores, já corrigiram o material Por Uma Vida Melhor sobre a questão do plural dos substantivos. Não precisa ser professor para fazer isso. Dizer o que está errado, aliás, é o que muitos fazem de melhor.
Difícil, sabemos, é ter professores formados para conseguir promover, simultaneamente, o debate e o ensino do uso dos diversos recursos linguísticos e expressivos do português brasileiro, que sejam adequados às diferentes situações de comunicação e próprios dos inúmeros gêneros do discurso orais e escritos que utilizamos. Este professor deve ter muito conhecimento sobre a linguagem e sobre a língua, nas suas dimensões linguísticas, textuais e discursivas, sobre o povo que a usa, sobre as diferentes regiões do nosso país e sobre as relações intrínsecas entre linguagem e cultura.
Esse professor deve ter a cabeça aberta o suficiente para saber que nenhuma forma de usar a língua é “superior” a outra, mas que há situações que exigem uma aproximação maior da norma culta e outras em que isso não é necessário, que o “correto” não é falar apenas como paulistas e cariocas, usando o globês, que nenhum aluno pode sair da escola achando que fala “melhor” que outro, mas sim ciente da necessidade de escolher a forma mais adequada de usar a língua conforme exige a situação e, claro, com o domínio da norma culta para as ocasiões em que ela é requerida. Esse professor tem de ter noções sobre identidade e alteridade, tem que valorizar o outro, a diferença, e respeitar o que conhece e o que não conhece.
Também esse professor tem que ter muito orgulho de ser brasileiro: é ele que vai dizer ao garoto, ao ensinar o uso adequado da língua nas situações formais e públicas de comunicação, que não é porque a mãe desse garoto não usa tal tipo de variedade linguística (a norma culta), não conjuga os verbos, nem usa o plural de acordo com uma gramática pautada no português europeu, que ela é ignorante ou não sabe pensar. Ele vai dizer ao garoto que ele não precisa se envergonhar de sua mãe só porque aprendeu outras formas de usar o português na escola, e ela não. Ele vai ensinar o garoto a valorizar os falares regionais, e ser orgulhoso de sua família, de sua cultura, de sua região de origem, de seu país e das diferenças que existem dentro dele e, ao mesmo tempo, a ampliar, pelo domínio da norma culta, as suas possibilidades de participação na sociedade e na cultura letrada. O Brasil precisa justamente desse professor que os jornalistas tanto incriminaram.
Formar um professor com esse potencial é o que fazem muitos dos intelectuais que foram ofendidos. Para eles, pedimos que esses jornalistas se desculpem. E os agradeçam. E, sobretudo, antes de os julgarem novamente, leiam suas publicações. Ironicamente, pedimos para a mídia se informar.
Nós somos a primeira turma a entrar no mercado de trabalho após esse triste ocorrido da imprensa. Somos muito conscientes da luta que temos pela frente e das possibilidades de mudança que nosso trabalho promove. Para isso, estudamos e trabalhamos duro durante anos. A nós, pedimos também que se desculpem. E esperamos que um dia possam nos agradecer.
Reafirmamos a necessidade de os veículos de comunicação respeitarem os nossos objetos de estudo e trabalho — a linguagem e a língua portuguesa usada no Brasil —, pois muitos estudantes e profissionais de outras áreas podem não perceber tamanha desinformação e manipulação irresponsável de informação, e podem vir a reproduzir tais concepções simplistas e equivocadas sobre a realidade da língua em uso, fomentando com isso preconceitos difíceis de serem extintos.
Sabemos que sozinhos os professores não mudam o mundo. Como disse a professora Amanda Gurgel, em audiência pública no Rio Grande do Norte, não podemos salvar o país apenas com um giz e uma lousa. Precisamos de ajuda. Uma das maiores ajudas com as quais contamos é a dos jornalistas. Pedimos que procurem conhecer as teorias atuais da educação, do ensino de língua portuguesa e da prática que vem sendo proposta cotidianamente no Brasil. Pedimos que leiam muito, informem-se.
Visitem escolas públicas e particulares antes de se proporem a emitir opinião sobre o que deve ser feito lá. Promovam acima de tudo o debate de ideias e não procedam à condenação sumária de autores e obras que mal leram. Critiquem as assessorias internacionais que são contratadas reiteradamente. Incentivem o profissional da educação. E nunca mais tratem os professores como trataram dessa vez. O poder de vocês é muito grande – a responsabilidade para usá-lo deve ser também.
* Alecsandro Diniz Garcia, Ana Amália Alves da Silva, Ana Lúcia Ferreira Alves, Anderson Mizael, Jeferson Cipriano de Araújo, Laerte Centini Neto, Larissa Arrais, Larissa C. Martins, Laura Baggio, Lívia Oyagi, Lucas Grosso, Maria Laura Gándara Junqueira Parreira, Maria Vitória Paula Munhoz, Nathalia Melati, Nayara Moreira Santos, Sabrina Alvarenga de Souza e Yuki Agari Jorgensen Ramos – formandos 2011 em Letras da PUC-SP, futuros professores de Língua Portuguesa e Língua Inglesa.

** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.
(Correio da Cidadania)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Segunda Flotilha humanitária prestes a zarpar para Gaza



por Bego Astigarraga, da IPS

Bilbao, Espanha, 24/6/2011 – Conforme se aproxima o momento de zarpar a Segunda Flotilha da Liberdade, uma dezena de embarcações nas quais viajarão mil ativistas de 20 países rumo à sitiada Faixa de Gaza palestina, intensificam-se as ameaças das autoridades israelenses. O governo de Israel pressiona os governos dos países mediterrâneos de onde os barcos partirão no final deste mês, embora o lugar e o dia exatos não tenham sido revelados por motivo de segurança.
1348 Segunda flotilha humanitária prestes a zarpar para GazaBego Astigarraga/IPS
Ato de entrega de uma reprodução livre do quadro Guernica de Picasso aos três bascos que viajam no comboio humanitário.
“Israel advertiu os diplomatas estrangeiros em Tel Aviv que se preparem para encarar as consequências”, afirma um comunicado divulgado pelo comitê coordenador da iniciativa Rumo a Gaza. O jornal israelense Haaretz revelou planos para uma abordagem com comandos especiais e franco-atiradores contra a “odiosa flotilha”, que só quer “confrontar as Forças de Defesas de Israel, criar uma provocação midiática e deslegitimizar o Estado israelense”, segundo afirmou no dia 19 o comandante da marinha de guerra deste país, Eliezer Marom. O barco que levará 50 pessoas da Espanha – incluída esta repórter – foi batizado com o nome de Guernica e levará a Gaza uma reprodução livre, feita por vários artistas bascos, do famoso quadro que Pablo Picasso pintou em 1937 após o bombardeio conjunto alemão e italiano sobre a cidade basca de Guernica.
O governo espanhol evitou dar declarações à imprensa. Mas a ministra de Assuntos Exteriores, Trinidad Jiménez, disse que a melhor maneira de ajudar Gaza é com pressão diplomática no lugar de flotilhas. “É fortemente desaconselhável embarcar em qualquer navio da iniciativa Rumo a Gaza devido ao grave perigo que pode acarretar para os participantes dessa flotilha”, afirma um aviso colocado no site da chancelaria espanhola.
Israel impôs o bloqueio à Faixa de Gaza em fevereiro de 2006, pouco depois que o radical Hamas (Movimento de Resistência Islâmico) venceu as eleições gerais na Palestina, e que foi endurecendo nos anos seguintes, sobretudo após a ofensiva militar Chumbo Derretido, lançada no final de 2008. As autoridades israelenses têm preparadas as prisões para receber os participantes da Flotilha, que supostamente seriam detidos e encarcerados por violarem o bloqueio.
“No ano passado, 15 dias antes de partir, sabíamos que, se a comunidade internacional não agisse, haveria uma matança, como comprovamos mais tarde”, disse à IPS o ativista Manuel Tapial, coordenador da iniciativa Rumo a Gaza na Espanha e um dos viajantes da flotilha de 2010. Na madrugada de 31 de maio do ano passado, o barco capitânia da primeira Flotilha da Liberdade, o Mavi Marmara, foi abordado por comandos israelenses a partir de helicópteros militares, e nove ativistas foram assassinados, 50 ficaram feridos e o restante dos 750 passageiros acabaram detidos sem acusação em Israel por um dia e meio, sendo deportados em seguida.
Israel não tem base legal para deter as embarcações ou impedir que entreguem a carga humanitária que transportam, afirmam juristas especializados em direito internacional. “Israel só tem jurisdição sobre suas águas territoriais, que são as 12 milhas náuticas, e as águas de Gaza não são de sua competência, como tampouco o são as águas internacionais”, disse à IPS o professor de direito internacional da Universidade do País Basco, Juan Soroeta. “Nenhuma resolução da ONU autoriza o bloqueio de Gaza. Pelo contrário, é uma medida ilegal e unilateral imposta pela força por parte de Israel no contexto de uma ocupação igualmente ilegal do território palestino”, acrescentou.
A resolução 1860 do Conselho de Segurança da ONU, de 8 de janeiro de 2009, determina que “sejam garantidos o fornecimento e a distribuição sem entraves da ajuda humanitária, incluídos alimentos, combustível e tratamento médico, em toda Gaza”. Porém, os informes de todas as organizações humanitárias internacionais que trabalham no terreno confirmam que esse ponto não é cumprido.
“Pedimos reiteradamente aos nossos governos e aos órgãos internacionais que revisem, mediante observadores, os barcos, a carga de ajuda humanitária que levamos e os passageiros, tanto nos portos como em alto mar, mas até agora ninguém respondeu a esta proposta”, disse Tapial. Estava previsto que o navio Mavi Marmara participasse desta segunda viagem, mas sua proprietária, a Fundação de Ajuda Humanitária da Turquia (IHH), afirmou que os reparos dos danos sofridos no ano passado não estão finalizados e a embarcação não tem condições de realizar a travessia.
Há especulações quanto a esta decisão se relacionar de algum modo com as conversações reservadas entre Turquia e Israel. Mas o fato de a viagem prosseguir descarta o argumento de que esta campanha foi organizada pela islâmica IHH, à qual Israel acusa de ter “vínculos com o terrorismo”. Por outro lado, dentro de Israel “surgiu um debate aberto sobre o que fazer, e alguns defendem que deveriam nos deixar passar porque somos civis, levamos apenas ajuda humanitária, e o bloqueio, segundo Israel, se refere unicamente a armas”, disse Tapial.
Apesar das dificuldades, o comboio rebatizado de Segunda Flotilha da Liberdade – Continuamos Sendo Humanos – em honra ao pacifista italiano Vittorio Arrigoni, assassinado em abril em Gaza – tem a intenção de entregar sua carga, composta por materiais de construção, escolar e sanitário. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina “nos enviou uma carta informando que não poderiam receber nossa carga para Israel não ter motivos de acusá-la de ser parte do conflito”, contou Tapial. “Mas, se chegarmos até lá, acredito que aceitarão os materiais e os distribuirão equitativamente”, acrescentou.
As dez mil toneladas de ajuda humanitária que era transportada pela primeira Flotilha da Liberdade foram confiscadas por Israel junto com os pertences pessoais dos passageiros e os equipamentos de trabalho dos jornalistas. Nada disso foi devolvido aos seus proprietários, o que representa uma “pilhagem ao mais puro estilo da pirataria”, afirmou o advogado espanhol Enrique Santiago, responsável pela denúncia apresentada contra Israel pelo ataque à Flotilha em águas internacionais.
Entretanto, o apoio civil à segunda viagem se fortaleceu e recebeu o apoio de milhares de personalidades de todo o mundo, como as ganhadoras do Prêmio Nobel da Paz, Rigoberta Menchú (Guatemala), Mairead Maguire (Irlanda do Norte), Jody Williams (Estados Unidos) e Shirin Ebadi (Irã). As quatro destacadas ativistas pela paz e pelos direitos humanos pediram ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que convença os governos dos países envolvidos na missão a adotar as medidas necessárias para garantir sua segurança. Envolverde/IPS
(IPS)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A última Geni

 Antonio Fernando Araujo*

"Primeiro foram os índios, mas como não sou índio...", negros, mulheres, judeus, ciganos, deficientes, idosos, homossexuais, e quem mais se apresenta para engrossar essa lista discriminatória na qual o capitalismo já incluíra os pobres, descartáveis..., sorry, não tem poder de compra e, portanto, voz.

Apesar disso foi com silêncio que a Geni, alguém "que sofre e ama verdadeiramente seus semelhantes", se fez ouvir na ópera e esfregou na cara das pessoas suas próprias hipocrisias. Um silêncio que, aparentemente as Marchas da Liberdade que pipocaram em todos o país no último fim de semana (18/06), não estão mais dispostas a levar adiante. Ao contrário, optaram por fazer barulho, agora um barulho que nasce silencioso nas redes sociais e se espalha ensurdecedor pelas praças. E curioso, a Geni é um travestí que parece ter se dedicado à missão de ajudar os seus iguais, os excluídos como ela, e como tal se apresenta como o símbolo apropriado de exclusão e solidariedade, esse binômio que costuma permear os humilhados, os castigados, vitimizados pelas calúnias dos que procuram rebaixá-los moralmente, já que não é tarefa fácil prá ninguém reconhecer e engolir a própria hipocrisia. E é com os anseios por justiça e reconhecimento, dessa Geni "tão coitada e tão singela" que as Marchas da Liberdade buscam uma identificação.

Pois bem, na do Rio, parecia que estavam todos lá, todas as "cidades misturadas..., toda a garotada, os que andam por terreiros, quilombos ou por terras digitais", como disse Beto Moreira, até os gritos e os lutos da floresta, a marcha das vadias que denunciam a exclusão e o estupro, cuja culpabilidade Bispo algum pode atribuir à própria mulher, o aroma da maconha medicinal de 5.000 anos, a luta contra a homofobia repulsiva e a consequente discriminação aos homossexuais ("o Senhor é meu Pastor e ele sabe que sou gay"), a recusa da paz das UPP's quando imposta sem voz às comunidades, o sistema financeiro que apodreceu e ameaça empobrecer ainda mais o mundo, a liberdade religiosa e o conselho tutelar que se quer livre e transparente, cuja ordenação e dignidade não sejam objeto de manipulação alguma, as camareiras e os bombeiros (tanto as de lá quanto os de cá, com os quais os maconheiros se solidarizavam enquanto propunham a legalização da erva), o direito ao aborto assistido - que meninas pobres e seus fetos rejeitados parem de morrer um ao lado do outro -, a valorização do trabalho das empregadas domésticas, a certeza enfim dessa Geni empunhando cartazes, faixas e estandartes, de estar contribuindo para a construção de um mundo que, ora todos apostam será melhor, pois para isso acalentam a esperança de que em breve a liberdade estará integralmente legalizada e com ela a honestidade e a sincera convicção de que até lá suas utopias é que irão prevalecer. E, com certeza, falarão mais alto do que o atual conservadorismo dos clérigos, do que a cobiça daqueles que detem o poder das armas, do capital e da mídia e muito mais do que a alienação imposta às grandes massas dos excluídos.

"A Marcha da Liberdade ..., decolou e virou o embrião de um novo movimento político e cultural: a marcha pela liberdade de expressão, a marcha dos diferenciados, dos insatisfeitos, dos indignados, dos que estão construindo futuros alternativos. Liberdade pra protestar! Liberdade pra morar! Liberdade pra circular! Liberdade para expressar os afetos! Liberdade de culto! Liberdade para o funk, o hip hop, o samba e o rap e todos os ritmos! Liberdade para agir e para pensar", escreveu ainda Beto Moreira. "Quando um futuro intolerante se precipita e parece inevitável  é preciso reagir, deter, interceptar, barrar, desviar. A Marcha da Liberdade é a manifestação dos que não aceitam ser calados pela policia, pelos ruralistas, monoteístas, corporativistas, monetaristas, monopolistas... A Marcha da Liberdade Rio apoia qualquer causa que defenda a liberdade de todos se expressarem e se reunirem em nome daquilo que acreditam ser justo", conclue.

Estamos portanto diante de uma multiplicidade de demandas heterogêneas, porém além disso, de uma das características principais do "espírito" desta época, propícia para a emergência de novos paradigmas e que basicamente consiste numa certa aversão aos sistemas políticos e filosóficos já arrumadinhos, estruturados que foram no seio de algum partido ou agremiação, como se eles proclamassem “todos unidos [também] contra slogans e símbolos de partidos, religiões ou etnias”.

A grande sacada parece ser a descoberta do outro, essa alteralidade que insiste em apontar para uma ética comprometida até o pescoço com um processo de inclusão social de todas as minorias, onde qualquer Geni cuspida e maltratada possa ser capaz de gerar um sentimento de indignação tal que denunciada a violência, velada ou explícita, a qualquer segmento social, ele caia de imediato na rede da urbi, sobrepujando assim em questão de minutos os arcos da Lapa e varrendo pra longe o que ainda sobrar da perfídia. E volto a lembrar: não se trata de criar uma nova seita, partido ou confraria, mas tão somente de propor empreitadas múltiplas que no plano tático não desgrude o olho das grandes metas que ora vicejam no solo promissor deste jovem século XXI, tal como esboçadas aqui.

Nesse sentido, as ruas e praças do mundo, e do Brasil em especial, passam a ser a vanguarda dos que querem direitos sociais amplamente reconhecidos e dos que almejam navegar em águas da plena democracia política e da democracia social que se deseja presente em todos os espaços.

Tomara apenas que o capitalismo e sua feição neoliberal mais terrível não venha se somar aos sonhos desse punhado de Genis, apoderando-se deles e acabando por destroçá-los, como aparentemente é o destino que ora se vislumbra para a "primavera árabe", com o Egito, manipulado pelo sionismo, voltando a protagonizar a miséria e a opulência do capitalismo nosso de cada dia.

Apesar de tudo resta-nos uma certeza, e quem não entender isso será retirado da cadeira da história, de que esta geração sepultará de vez a Geni "feita pra apanhar..., que dá pra qualquer um" e ainda assim é "maldita", essa estupenda Geni do Chico, a do "enorme zepelim" da Lapa, "dos cegos, dos retirantes e de quem não tem mais nada", essa mesma que, por enquanto ainda vimos na Marcha da Liberdade.

Essa Geni, certamente, será a última.


*Antonio Fernando Araujo colabora neste blog - texto e fotos

terça-feira, 21 de junho de 2011

O papel de Wall Street no narcotráfico



por Mike Whitney, do SinPermiso*
1290 300x167 O papel de Wall Street no narcotráficoImagine qual seria sua reação se o governo mexicano decidisse pagar US$ 1,4 milhões a Barack Obama para usar tropas norte-americanas e veículos blindados em operações militares em Nova York, Los Angeles e Chicago, estabelecendo postos de controle, e elas acabassem se envolvendo em tiroteios que resultassem na morte de 35 mil civis nas ruas de cidades norte-americanas. Se o governo mexicano tratasse assim os Estados Unidos, vocês o considerariam amigo ou inimigo? Pois é exatamente assim que os Estados Unidos vêm tratando o México desde 2006.
A política dos Estados Unidos para o México – a Iniciativa Mérida – é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria. Contudo, Washington não está nem um pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos. É tudo muito lindo.
Há alguma razão para dignificar esta carnificina chamando-a de “Guerra Contra as Drogas”?
Não faz nenhum sentido. O que vemos é uma oportunidade descomunal de empoderamento por parte das grandes empresas, das altas finanças e dos serviços de inteligência norte-americanos. E Obama segue meramente fazendo seu leilão, razão pela qual – não é de surpreender – as coisas ficaram tão ruins sob sua administração. Obama não só incrementou o financiamento do Plano México (conhecido como Mérida), como deslocou mais agentes norte-americanos para trabalhar em segredo enquanto aviões não tripulados realizam trabalhos de vigilância. Deu para ter uma ideia do cenário?
Não se trata de uma pequena operação de apreensão de drogas. É outro capítulo da guerra norte-americana contra a civilização. Vale lembrar uma passagem de um artigo de Laura Carlsen, publicado no Counterpunch, que nos mostra um elemento de fundo.
“A guerra contra as drogas converteu-se no veículo principal de militarização da América Latina. Um veículo financiado e impulsionado pelo governo norte-americano e alimentado por uma combinação de falsa moral, hipocrisia e muito de temor duro e frio. A chamada “guerra contra as drogas” constitui, na realidade, uma guerra contra o povo, sobretudo contra os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os dissidentes. A guerra contra as drogas se converteu na forma principal de o Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas, muitas vidas.
A militarização em nome da guerra contra as drogas está ocorrendo mais rápida e conscienciosamente do que a maioria de nós provavelmente imaginou com a administração de Obama. O acordo para estabelecer bases na Colômbia, posteriormente suspenso, mostrou um dos sinais da estratégia. E já vimos a extensão indefinida da Iniciativa de Mérida no México e América Central, incluindo, tristemente, os navios de guerra enviados para a Costa Rica, uma nação com uma história de paz e sem exército…
A Iniciativa de Mérida financia interesses norte-americanos para treinar forças de segurança, proporciona inteligência e tecnologia bélica, aconselha sobre as reformas do Judiciário, do sistema penal e a promoção dos direitos humanos, tudo isso no México.” (The Drug War Can’t Be Improved Only be Ended – A Guerra Contra as Drogas Não Pode Ser Melhorada, Só Terminada, Laura Carlsen, Counterpunch)
A impressão que dá é que Obama está fazendo tudo o que pode para converter o México em uma ditadura militar, pois é exatamente isso o que ele está fazendo. O Plano México é uma farsa que esconde os verdadeiros motivos do governo, que consiste em assegurar-se de que os lucros do tráfico de drogas acabem nos bolsos das pessoas adequadas. É disto que se trata: de muitíssimo dinheiro. E é por isto que o número de vítimas disparou, enquanto a credibilidade do governo mexicano caiu como nunca em décadas. A política norte-americana converteu grandes extensões do país em campos de morte e a situação não para de piorar.
Veja-se esta entrevista com Charles Bowden, que descreve como é a vida das pessoas que vivem na Zona Zero da guerra das drogas no México, Ciudad Juárez.
“Isto ocorre em uma cidade onde muita gente vive em caixas de papelão. No último ano, dez mil negócios encerraram suas atividades. De 30 mil a 60 mil pessoas, sobretudo os ricos, mudaram-se para El Paso, no outro lado do rio, por razões de segurança. Entre eles, o prefeito de Juárez, que prefere ir dormir em El Paso. O editor do diário local também vive em El Paso. Entre cem mil e 400 mil pessoas simplesmente saíram da cidade. Boa parte do problema é econômico. Não se trata simplesmente da violência. Durante essa recessão, desapareceram pelo menos cem mil empregos das empresas fronteiriças devido à competição asiática. As estimativas são de que há entre 500 e 900 bandos de delinquentes.
Há dez mil soldados das tropas federais e agentes da Polícia Federal vagando por ali. É uma cidade onde ninguém sai à noite, na qual todos os pequenos negócios pagam extorsão, onde foram roubados oficialmente 20 mil automóveis no ano passado e assassinadas 2.600 pessoas no mesmo período. É uma cidade onde ninguém segue o rastro das pessoas que foram sequestradas e não reaparecem, onde ninguém conta as pessoas enterradas em cemitérios secretos, onde, de forma indecorosa, volta e meia aparecem alguns corpos em meio a alguma escavação. O que temos é um desastre e um milhão de pessoas que são muito pobres para poder ir embora. A cidade é isto.” (Charles Bowden, Democracy Now)
Isto não tem a ver com as drogas. Trata-se de uma política externa louca, que apoia exércitos por delegação, para impor a ordem por meio da repressão e militarização do Estado policial. Trata-se de expandir o poder norte-americano e de engordar os lucros de Wall Street. Vejamos mais alguns dados de fundo proporcionados por Lawrence M. Vance, na Future of Freedom Foundation.
“Um número não revelado de agentes da lei norte-americanos trabalha no México (…) A DEA (Drug Enforcement Agency) tem mais de 60 agentes no México. A estes se somam os 40 agentes de Imigração e Aduanas, 20 auxiliares do Serviço de Comissários de Polícia e 18 agentes da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, mais os agentes do FBI, do Serviço de Cidadãos e Imigração, Aduana e Proteção de Fronteiras, Serviço Secreto, guarda-costas e Agência de Segurança no Transporte. O Departamento de Estado mantém também uma Seção de Assuntos de Narcóticos. Os Estados Unidos também forneceram helicópteros, cães farejadores de drogas e unidades de polígrafos para examinar os candidatos a trabalhar em organismos de aplicação das leis.
Os aviões não tripulados norte-americanos espionam os esconderijos dos cartéis e os sinais rastreadores norte-americanos localizam com exatidão os carros e telefones dos suspeitos. Agentes norte-americanos seguem os rastros, localizam chamadas telefônicas, leem correios eletrônicos, estudam padrões de comportamento, seguem rotas de contrabando e processam dados sobre traficantes de drogas, responsáveis pela lavagem de dinheiro e chefes dos cartéis. De acordo com um antigo agente antidroga mexicano, os agentes norte-americanos não estão limitados em suas escutas no México pelas leis dos Estados Unidos, desde que não se encontrem em território norte-americano e não grampeiem cidadãos norte-americanos.” (Why Is the U.S. Fighting Mexico’s Drug War? “Por Que os Estados Unidos Travam a Guerra Contra as Drogas no México?, Laurence M. Vance, The Future of Freedom Foundation).
Isso não é política externa, mas sim outra ocupação norte-americana. E adivinhem quem enche os cofres com essa pequena fraude sórdida? Wall Street. Os grandes bancos ficam com sua parte como sempre fazem. Vejamos essa passagem de um artigo de James Petras intitulado How Drug Profits Saved Capitalism (Como os Lucros das Drogas Salvaram o Capitalismo, publicado no Global Research). É um estupendo resumo dos objetivos que estão configurando essa política.
“Enquanto o Pentágono arma o governo mexicano e a DEA (Drug Enforcement Agency, a agência antidroga dos Estados Unidos) põe em prática a ‘solução militar’, os maiores bancos dos Estados Unidos recebem, lavam e transferem centenas de bilhões de dólares nas contas dos senhores da droga que, com esse dinheiro, compram armas modernas, pagam exércitos privados de assassinos e corrompem um número indeterminado de funcionários encarregados de fazer cumprir a lei de ambos os lados da fronteira…
Os lucros da droga, no sentido mais básico, são assegurados mediante a capacidade dos cartéis de lavar e transferir bilhões de dólares para o sistema bancário norte-americano. A escala e a envergadura da aliança entre a banca norte-americana e os cartéis da droga ultrapassa qualquer outra atividade do sistema financeiro privado norte-americano. De acordo com os registros do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, só um banco, o Wachovia Bank (propriedade hoje de Wells Fargo), lavou US$ 378,3 milhões entre 1° de maio de 2004 e 31 de maio de 2007 (The Guardian, 11 de maio de 2011). Todos os principais bancos dos Estados Unidos tornaram-se sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga.
Se os principais bancos norte-americanos são os instrumentos financeiros que permitem aos impérios multimilionários da droga operar, a Casa Branca, o Congresso dos Estados Unidos e os organismos de aplicação das leis são os protetores essenciais destes bancos. (…) A lavagem de dinheiro da droga é uma das fontes mais lucrativas para Wall Street. Os bancos cobram gordas comissões pela transferência dos lucros da droga que, por sua vez, emprestam a instituições de crédito a taxas de juros muito superiores às que pagam – se é que pagam – aos depositantes dos traficantes de drogas.
Inundados pelos lucros das drogas já desinfetados, esses titãs norte-americanos das finanças mundiais podem comprar facilmente os funcionários eleitos para que perpetuem o sistema.” (How Drug Profits Saved Capitalism, James Petras, Global Research).
Vamos repetir: “Todos os principais bancos dos Estados Unidos se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle. Washington emprega a força para que os bancos possam garantir um bom lucro. Uma mão lava a outra, como ocorre com a Máfia.
Tradução: Katarina Peixoto.
* Mike Whitney é analista político independente que vive no Estado de Washington e colabora regularmente com a revista norte-americana CounterPunch.
** Publicado originalmente no site Agência Carta Maior.
(Carta Maior)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Fukushima é muito pior do que se imagina"


Alerta é de ex-dirigente da indústria nuclear. “Fukushima é a pior catástrofe industrial da história da humanidade”, disse Arnold Gundersen, à rede de televisão Al Jazeera. Cientistas independentes têm monitorado a localização de lugares radioativos perigosos em todo o Japão e seus resultados são desconcertantes. “temos 20 núcleos expostos, os tanques de combustível têm vários núcleos cada um, ou seja, há um potencial para liberar 20 vezes mais radicação do que ocorreu em Chernobyl”, afirma Gundersen. Médicos alertam para possibilidade de chuva radioativa já afetar os Estados Unidos.
Dahr Jamail – Al-Jazeera

         “Fukushima é a pior catástrofe industrial da história da humanidade”, disse Arnold Gundersen, ex-executivo da indústria nuclear, à rede de televisão Al Jazeera.
         O terremoto de 9 graus que atingiu o Japão no dia 11 de março causou um imenso tsunami que danificou os sistemas de esfriamento da usina nuclear da Tokyo Eletric Power Company (TEPCO), em Fukushima, Japão. Também causou explosões de hidrogênio e fusões de reatores que obrigaram o governo a evacuar moradores em um raio de 20 quilômetros da usina.
         Gundersen, operador licenciado de reatores com 39 anos de experiência no desenho de plantas nucleares e na administração e coordenação de projetos em 70 usinas de energia nuclear em todos os Estados Unidos, diz que a planta nuclear de Fukushima tem provavelmente mais núcleos de reatores expostos do que se acredita comumente.
         “Fukushima tem três reatores nucleares expostos e quatro núcleos de combustíveis expostos”, afirmou. “Provavelmente, há cerca de 20 núcleos de reatores por causa dos núcleos de combustível e todos necessitam desesperadamente ser esfriados. O problema é que não há meios para esfriá-los efetivamente”.
         A TEPCO tem lançado continuamente água sobre vários dos reatores e núcleos de combustível, mas isso tem provocado problemas ainda maiores, como a radiação emitida na atmosfera em forma de vapor e na água do mar, assim como a geração de centenas de milhares de toneladas de água marinha altamente radioativa. “O problema é como manter o reator frio”, diz Gundersen. “Estão lançando água e o problema é o que vão fazer com os dejetos que saem desse sistema, pois eles vão conter plutônio e urânio. Onde vão colocar essa água?”
         Apesar da usina ter sido fechada, os produtos da fissão nuclear, como o urânio, seguem gerando calor, o que exige o resfriamento. “Agora os combustíveis são uma massa disforme fundida no fundo do reator”, acrescentou Gundersen. “A TEPCO anunciou que tiveram um “melt trough”, ou seja, uma fusão na qual o combustível derretido passa através do fundo do reator para o meio ambiente. Uma fusão do núcleo (“meltdown”) é quando o combustível fundido cai no fundo do reator, e um “melt trough” significa que ele atravessou várias camadas. Essa massa disforme é incrivelmente radioativa e agora há agua sobre ela. A água absorve enormes quantidades de radiação, o que exige mais água para resfriá-la, o que gera centenas de milhares de água fortemente radioativa”.
         Cientistas independentes têm monitorado a localização de lugares radioativos perigosos em todo o Japão e seus resultados são desconcertantes. “temos 20 núcleos expostos, os tanques de combustível têm vários núcleos cada um, ou seja, há um potencial para liberar 20 vezes mais radicação do que ocorreu em Chernobyl”, afirma Gundersen. “Os dados que estou vendo mostram estamos encontrando lugares perigosos mais distantes do que no caso de Chernobyl, e a quantidade de radiação em muitos deles era a quantidade que levou a que algumas áreas fossem declaradas terra arrasada em Chernobyl. Essas áreas se encontram a 60, 70 quilômetros do reator. Não se pode limpar tudo isso. Ainda há javalis radioativos na Alemanha, 30 anos depois de Chernobyil”.
         Monitores de radiação para crianças
         A Central de Reação de Emergência Nuclear do Japão terminou admitindo no início deste mês que os reatores 1, 2 e 3 da planta de Fukushima sofreram fusões nucleares totais. A TEPCO anunciou que o acidente provavelmente liberou mais material radioativo no entorno do que Chernobyl, convertendo-se no pior acidente nuclear conhecido. Enquanto isso, um assessor de resíduos nucleares do governo japonês informou que é provável que cerca de 966 quilômetros quadrados ao redor da usina – uma área de aproximadamente 17 vezes o tamanho de Manhattan – tenham se tornado inabitáveis.
         Nos EUA, a doutora Janette Sherman e o epidemiologista Joseph Mangano publicaram um ensaio assinalando um aumento de 35% na mortalidade infantil em cidades do noroeste (dos EUA), após a fusão nuclear em Fukushima, o que poderia, segundo eles, ser o resultado de chuva radioativa originada da planta nuclear acidentada. As oito cidades incluídas no informe são San Jose, Berkeley, San Francisco, Sacramento, Santa Cruz, Portland, Seattle e Boise, e o período considerado inclui as dez semanas imediatamente posteriores ao desastre.
         “Existe – e deve haver – preocupação sobre a exposição de população jovem, e o governo japonês vai entregar monitores de radiação para as crianças”, disse o doutor MV Ramana, físico do Programa sobre Ciência e Segurança Global na Universidade de Princeton, e especialista em temas de segurança nuclear. Ele acredita que a ameaça primordial da radiação segue existindo, sobretudo para residentes que vivem em um raio de 50 quilômetros da usina. “Haverá áreas fora da zona de evacuação obrigatória de 20 quilômetros do governo japonês onde a radiação será maior. De modo que isso poderia significar que haja zonas de evacuação também nestas áreas”.
         Gundersen assinala que foi liberada muito mais radiação em Fukushima do que o declarado pelas autoridades japonesas. “Voltaram a calcular a quantidade de radiação liberada, mas as notícias não falam realmente do tema. Os novos cálculos mostram que, na primeira semana depois do acidente, foi liberada de 2 a 3 vezes tanta radiação como a que pensaram que tinha sido liberada nos primeiros 80 dias. Segundo Gundersen, os reatores e núcleos de combustível expostos seguem liberando micra de isótopos de césio, estrôncio e plutônio. São as chamadas “hot particles” (partículas quentes ou partículas perigosas). “Estamos descobrindo partículas perigosas em praticamente todas as partes do Japão, inclusive em Tóquio”, revelou.
         “Os cientistas estão encontrando-as por toda parte. Nos últimos 90 dias essas partículas perigosas seguiram caindo e estão se depositando em altas concentrações. Muita gente está as absorvendo pelos filtros de ar dos motores dos automóveis”. Os filtros de ar radioativos em automóveis em Fukushima e Tóquio tornaram-se comuns e Gundersen diz que suas fontes já encontraram filtros de ar radioativos na região de Seattle, nos EUA. As partículas perigosas que contem também podem provocar câncer.
         “Elas se fixam nos pulmões ou no trato gastrointestinal e provocam uma irritação constante”, explicou. “Um cigarro não te mata, mas com o tempo acaba fazendo isso. Essas partículas podem causar câncer, mas não podem ser medidas com um contador Geiger. Evidentemente, a população de Fukushima aspirou essas partículas em grandes quantidades. Evidentemente, há pessoas na Costa Oeste superior dos EUA que estão sendo afetadas. Essa região foi bastante afetada (pela radiação) em abril”.
         Culpar os EUA?
         Como reação à catástrofe de Fukushima, a Alemanha vai eliminar progressivamente todos seus reatores nucleares durante a próxima década. Em um referendo na semana passada, cerca de 95% dos italianos votou a favor de interromper a retomada da energia nuclear em seu país. Uma recente pesquisa realizada no Japão mostra que cerca de três quartos dos entrevistados estão a favor de uma eliminação progressiva da energia nuclear em seu país.
         A empresa nuclear Exelon Corporation foi uma das maiores doadoras da campanha eleitoral de Barack Obama e é uma das grandes empregadoras em Illinois, Estado onde Obama foi senador. A Exelon doou até agora mais de US$ 269.000 para suas campanhas políticas. Obama também nomeou o presidente executivo da Exelon, John Rowe, para sua Comissão Faixa Azul sobre o Futuro Nuclear nos EUA.
         O doutor Shoji Sawada é um físico teórico de partículas e professor emérito da Universidade Nagoya, no Japão. Os modelos de usinas nucleares no Japão o preocupam, assim como o fato de que a maioria delas foi desenhada nos EUA. “A maioria dos reatores do Japão foram desenhados por empresas que não estavam preocupadas com o efeito de terremotos”, disse Sawada a Al Jazeera. “Penso que este problema se aplica a todas as centrais de energia nuclear em todo o Japão”.
         O uso de energia nuclear para produzir eletricidade no Japão é produto da política nuclear dos EUA. O doutor Sawada pensa que essa é uma parte muito importante do problema. “A maioria dos cientistas japoneses naquela época, em meados dos anos cinquenta, considerava que a tecnologia da energia nuclear estava em desenvolvimento ou não suficientemente estabelecida, e que era demasiado cedo para dar-lhe um uso prático”, explicou. “O Conselho de Cientistas do Japão recomendou ao governo japonês que não utilizasse essa tecnologia, mas o governo aceitou o uso de urânio enriquecido para alimentar centrais de energia nuclear e, assim, viu-se submetido à política do governo dos EUA”.
         Quando tinha 13 anos, o doutor Sawada viveu o ataque nuclear dos EUA contra o Japão, desde sua casa, situada a apenas 1.400 metros do epicentro da bomba de Hiroshima. “Penso que o acidente de Fukushima levou a povo japonês a abandonar o mito de que as usinas de energia nuclear são seguras”, disse. “Agora, as opiniões do povo japonês mudaram rapidamente. Muito mais da metade da população acredita que o Japão deve voltar-se para a eletricidade natural”.
         Um problema de infinitas proporções
         O doutor Ramana espera que os reatores e os núcleos de combustível da usina estejam suficientemente frios para um fechamento dentro de dois anos. “Mas será preciso muito tempo antes que o combustível possa ser removido do reator”, acrescentou. “Não há dúvida de que será preciso enfrentar o problema das rachaduras, da estrutura da usina e da radiação na área durante vários anos”. Sawada não é tão claro sobre quanto poderia demorar um fechamento completo, mas disse que o problema serão os efeitos do césio-137 que permanece no solo e a água contaminada ao redor da planta elétrica e debaixo dela. Enfrentar esse problema levará um ano, ou mais.
         Gundersen assinalou que as unidades seguem emitindo radiação. “Ainda estão emitindo gases radioativos e uma quantidade enorme de líquido radioativo. Levará pelo menos um ano até que deixe de ferver, e até que isso ocorra, estará produzindo vapor e líquidos radioativos”.
         Gundersen está preocupado com possíveis réplicas do terremoto, assim como com o resfriamento de duas das unidades. “A unidade quatro é a mais perigosa e corre o risco de colapsar. Depois do terremoto em Sumatra houve uma réplica de 8,6 uns 90 dias depois, de modo que ainda não estamos a salvo. E estamos em uma situação na qual, se ocorrer algo, não existe ciência para isso, ninguém nunca imaginou que teríamos combustível nuclear quente fora do tanque. Não encontraram ainda uma maneira de esfriar as unidades três e quatro”. A avaliação de Gundersen sobre uma solução para essa crise é sombria:
         “As unidades um, dois e três têm dejetos nucleares no fundo, o núcleo fundido, e contém plutônio, que levará algumas centenas de milhares de anos para ser eliminado do entorno. Além disso, terão que entrar com robôs e conseguir coloca-lo em um container para guardá-lo infinitamente, e essa tecnologia não existe. Ninguém sabe como recolher o núcleo fundido do solo, e não existe uma solução atualmente para fazê-lo”.
         O doutor Sawada diz que a fissão nuclear gera materiais radioativos para os quais simplesmente não existe conhecimento necessário para nos informar sobre como lidar de modo seguro com esses dejetos radioativos. “Até que saibamos como lidar com segurança com os materiais radioativos gerados por usinas nucleares, deveríamos postergar essas atividades para não causar mais danos às futuras gerações. Fazer outra coisa é simplesmente um ato imoral, e acredito nisso tanto como cientistas quanto como sobrevivente do bombardeio atômico de Hiroshima”.
         Gundersem acredita que os especialistas precisarão de pelo menos dez anos para desenhar e implementar o plano. “Assim, daqui a 10 ou 15 anos, a contar de agora, talvez possamos dizer que os reatores foram desmantelados e, neste período, se conseguirá terminar a contaminação da água. Já temos estrôncio 250 vezes acima dos limites permitidos no nível aquífero em Fukushima. Os níveis aquíferos contaminados são incrivelmente difíceis de limpar. Portanto, penso que teremos um aquífero contaminado na área da usina de Fukushima durante muito, muito tempo”.
         Desgraçadamente, a história dos desastres nucleares parece respaldar a avaliação de Gundersen. “Com Three Mile Island e Chernobyl, e agora com Fukushima, pode-se precisar o dia e a hora exata em que esses desastres começam, mas nunca quando terminam”.
         Tradução: Katarina Peixoto