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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Brasil afasta-se dos Brics e vota contra a Síria na ONU

22/02/2012 - Beto Almeida* - Carta Maior

Às vésperas do carnaval, a representante do Brasil na ONU votou resolução de condenação ao governo sírio, afastando-se dos BRICS, dos países da ALBA , emitindo contraditória e perigosa mensagem de aproximação com as potências que sustentam intervencionismo militar crescente em escala internacional, especialmente contra países com políticas independentes e emergentes. Um voto que pode ser um tiro no próprio pé futuramente.
(Beto Almeida)

O Brasil ficou ao lado dos EUA, Inglaterra, França, Canadá, Espanha, Austrália, Alemanha, que deram sustentação à agressão ao Iraque, ao Afeganistão e , mais recentemente, à Líbia. Contra esta resolução que tendenciosamente condena e responsabiliza apenas o governo da Síria pela escalada de violência generalizada que atinge o país - na qual há farta evidência de ingerência estrangeira - estão a Rússia, China, Índia, África do Sul, países do grupo Brics - do qual o Brasil faz parte - e nove países da Alba, além do Irã, da Argélia, do Líbano, da Coréia do Norte. Este grupo reivindica que a solução da crise síria deve ser exclusiva dos sírios, que escolherão, nos próximos dias, pelo voto popular direto, um novo modelo de Constituição.

A votação na ONU ocorre em meio a pressões das grandes potências de realizarem uma ação de armar a oposição síria. A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victória Nulandi declarou a insatisfação de seu país diante do veto da Rússia e da China a uma intervenção militar internacional aos moldes da Fórmula Líbia. Ela afirmou, entretanto, que seu país não descarta o fornecimento de armas ao autodenominado Exército Livre da Síria, que, conforme demonstra abundante informação, conta com armamentos, apóio logístico, de comunicações, recursos financeiros e a presença de mercenários que atuaram e atuam na Líbia, com apoio dos principais aliados norte-americanos na região, especialmente da Arábia Saudita e do Qatar.

O papel intervencionista da TV Al-Jazeera
A participação da oligarquia do Qatar no conflito sírio inclui a sistemática falsificação midiática da situação síria por parte da TV Al-Jazeera, emissora que foi fundamental também na sustentação midiática da invasão neocolonial à Líbia, com sofisticada over dose de desinformação, reproduzida ad nauseun por toda a mídia comercial internacional como única fonte informativa, questionada apenas pela Telesur que informava sobre o monumental massacre promovido pela Otan. Aliás, completamente confirmado. A TV Al-Jazeera é uma emissora capturada e plenamente a serviço da oligarquia petroleira internacional e nem mesmo o elogio de certas vozes da esquerda guiada pela Otan ou de ongs internacionais metidas no movimento de democratização da mídia, podem mais evitar esta constatação. O Qatar é um enclave oligárquico onde tem sede uma das mais importantes bases militares dos EUA na região.

Estaria o Itamaraty entrando em algum desconhecido estado de hipnose para não prestar a devida atenção ao público e assumido propósito intervencionista das grandes potências ocidentais na Síria, como revelam as declarações da porta-voz do Departamento de Estado? Em entrevista recente à BBC, o Ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Willian Hauge, disse estar preocupado com uma guerra civil na Síria, mas, confessando o sentido e a sinceridade de sua preocupação, afirmou, na mesma entrevista: “Como todos viram, não conseguimos aprovar uma resolução no Conselho de Segurança por causa da oposição da China e da Rússia. Não podemos intervir como fizemos na Líbia, mas podemos fazer muitas coisas”. Declarações semelhantes, anunciando a disposição para apoio militar à oposição no conflito foi dada pelo Chanceler da Holanda, Uri Rosenthal. Com o emblemático silêncio do Itamaraty. Pior ainda, com a adesão do Brasil à resolução patrocinada por este grupo de países historicamente marcados pelo intervencionismo colonial.

Autorização para a matança
Sinais de que algo está se movendo negativamente no Itamaraty de Dilma Roussef surgiram quando, logo no início de seu governo, o Brasil absteve-se na votação da ONU que decidiu - tomando por base informações não confirmadas prestadas por emissoras como a Al Jazeera - pela gigantesca intervenção armada contra a Líbia. Aproveitando-se da frágil e acovardada posição da chancelaria brasileira naquele episódio, o presidente Barack Obama, o inacreditável Prêmio Nobel da Paz, desrespeitou a Presidenta Dilma e a todos os brasileiros ao declarar guerra à Líbia estando em Brasília! O que mereceu reparos posteriores da própria Dilma. E, pouco depois, uma espécie de confissão governamental sobre o trágico erro da posição brasileira então, quando o Assessor Internacional do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, afirmou que aquela resolução foi na verdade uma “autorização para a matança”.

Foram 203 dias de bombardeios para “salvar civis”, destruindo toda a infraestrutura construída pelo povo líbio em 40 anos, o que levou aquela nação a registrar o mais elevado IDH da África. Hoje, o petróleo líbio, antes nacionalizado, e utilizado com alavanca para sustentar um sistema de eliminou o analfabetismo, socializou a educação e a saúde, já está nas mãos das transnacionais petroleiras, evidenciando a guerra de rapina. Nem mesmo a esquerda otanista, que apoiou a invasão, pode negar os 200 mil mortos líbios, as prisões abarrotadas, a dizimação sumária das populações negras em cidades totalmente calcinadas, as torturas. Qual é o balanço que o Itamaraty faz de seu próprio voto que, em última instância, encorajou semelhante massacre?

Também é sinal de involução na posição do Itaramaty em relação à gestão de Lula-Celso Amorim, o voto brasileiro na ONU contra o Irã na temática direitos humanos, sobretudo quando é conhecidíssima a descarada manipulação desta esfarrapada bandeira humanista pelo militarismo imperial. Aliás, aquele voto contra o Irã, só não foi acrescido de vexame diplomático internacional porque o governo persa advertiu com informações objetivas ao governo brasileiro de que a tão difundida cidadã iraniana Sakhiné foi condenada por ter assassinado seu marido e não porque teria praticado adultério como tantas vezes se repetiu no sempre duvidoso jornalismo global. E também de que era apenas uma grosseira mentira a “notícia” de que os livros de Paulo Coelho eram censurados no Irã, quando são vendidos livremente, e muito, em todas as livrarias das grandes cidades persas. A ministra da cultura de um país com taxas de leituras raquíticas e analfabetismo vergonhoso quase comete o papelão de um protesto oficial. Desistiu a tempo.

Telhados de vidro
Que diferença da postura firme do Itamaraty no governo que condenou veemente a criminosa guerra imperialista contra o Iraque! Agora, observa-se uma gradual aproximação das posições do Itamaraty aos conceitos e valores daqueles países que promoveram aquelas intervenções indefensáveis contra o Iraque, o Afeganistão e a Líbia. O que indicaria uma contradição evidente também diante das próprias declarações da presidenta Dilma Roussef sobre direitos humanos em Cuba, rejeitando, com justeza, a pressão das grandes potências para a condenação unilateral e descontextualizada de países com posturas independentes.

Todos temos telhados de vidro”, lembrou a mandatária verde-amarela. Corretíssimo! Mas por que então só o Irã foi alvo de voto da delegação brasileira na ONU? Por que não há voto brasileiro na ONU contra Guatânamo, as torturas praticadas pelos dispositivos militares dos EUA, os seqüestros de cidadãos islâmicos em várias partes do mundo, com a conivência dos países europeus que se gabam de serem professores em matéria de democracia e direitos humanos mas que oferecem seu território, seu espaço aéreo e suas instalações militares para, submissos, colaborarem com as repressivas leis exclusivas dos EUA? Será que o Itamaraty vai fazer algum protesto na ONU diante de declarações de autoridades do Pentágono de que comandos militares dos EUA que executaram Bin Laden no Paquistão poderão atuar também na América Latina?

Não estará havendo um descolamento de algumas posturas do Itamaraty em relação à posição estratégica que a política externa vem construindo ao longo de décadas, reforçada de modo mais elevado e coerente no governo Lula? Neste período, formatou-se uma estratégica prioridade para uma relação cooperativa com os países do sul, uma integração concreta com a América Latina e Caribe, agora consolidada na criação da Celac, a igual prioridade para o fortalecimento da Unasul (inclusive de seu Conselho de Defesa), a defesa da legítima soberania argentina sobre as Malvinas contra a ameaçadora pretensão colônia inglesa e, finalmente, a coordenação e inclusão do Brasil no Grupo do Brics, sem esquecer os objetivos que levaram Lula a promover a Cúpula de Países Árabes e América do Sul.

O Brasil diversificou prudentemente suas relações internacionais tendo agora como maior parceiro comercial a China e não os EUA, com quem possui perigoso e crescente déficit comercial, além de ser um país que já promoveu sanções contra o Brasil por causa do Acordo Nuclear, por causa da Projeto Nacional da Informática, sem esquecer, claro, o nefasto golpe militar de 64, confessamente apoiado pelo Departamento de Estado dos EUA.

A sinistra mensagem da Líbia
Enquanto o Itamaraty parece hipnotizado por uma relação de aproximação com os países que mais promovem intervencionismo militar unilateral e ilegal no mundo, nos círculos militares brasileiros se ouviu e se entendeu com clareza e concretude a ameaçadora mensagem enviada pelas grandes potências com a agressão à Líbia, inclusive, aplicando arbitrariamente, ao seu bel prazer, os termos da Resolução aprovada na ONU. Especialistas militares brasileiros já discutem em organismos superiores a abstração de uma visão política que não considera que a intervenção rapinadora sobre as riquezas da Líbia são também ensaios e testes para ações mais amplas e generalizadas que podem ser aplicadas contra todo e qualquer país que também possua riqueza energética e alguma posição independente no cenário internacional. O figurino não serve para o Brasil? Tal como Kadafi, que se desarmou, que abandonou seu programa nuclear, que se aproximou perigosamente dos carrascos de seu próprio projeto de nação, e que não pode organizar uma linha estratégica de defesa em coordenação com países como Rússia e a China, o Brasil também desarmou-se unilateralmente durante o vendaval neoliberal. A indústria bélica brasileira foi levada ao chão praticamente, configurando-se, agora, um perigoso cenário: é possuidor de imensas reservas de petróleo descobertas, como também de urânio, de nióbio, de água, de biodiversidade, e , simultaneamente, não possuidor da mais mínima capacidade de defesa para controlar eficientemente suas fronteiras ou até mesmo a Baía da Guanabara como porta de entrada do narcotráfico internacional, cujas noticiadas vinculações com organismos como a Cia deveria merecer a preocupação extrema do Itamaraty. Será que a robusta e impactante revisão pela Rússia e China de suas posições adotadas quando admitiram a agressão imperial contra a Líbia para uma nova postura de veto a qualquer repetição da fórmula líbia que a Otan confessa pretender aplicar contra a Síria não deveria alertar os formuladores da política do Itamaraty?

Da mesma forma que se ouviu estrondoso a acovardado silêncio itamaratiano quando um avião Drone dos EUA foi capturado, em dezembro pelos sistemas de defesa iranianos quando invadia ilegalmente o espaço aéreo do Irã, agora, repercute novo silêncio brasileiro diante das jorrantes informações de infiltração de armas e de mercenários da Al-Qaeda em território, como admitem autoridades de países membros da Otan. O que pretende o Itamaraty? Defender os direitos humanos dos mercenários da Al-Qaeda subvencionados por países como a Arábia Saudita e o Qatar, que já haviam violado a soberania da Líbia, com o conivente voto brasileiro na ONU?

Manifestações populares defendem posição da Rússia e da China
Que significado terá para o Itamaraty a gigantesca manifestação popular em Damasco para receber o Chanceler russo , Sergei Lavrov, e agradecer a posição da Rússia e da China contra qualquer intervenção militar na Síria? Não estará a própria Rússia saindo de uma fase de hipnose de anos que, baseada na insustentável credulidade em torno dos acordos de redução de arsenais firmados com os EUA, levou-a, de fato, apenas a um desarmamento unilateral enquanto os orçamentos militares norte-americanos multiplicam-se e já suplantam os orçamentos militares de todos os países do mundo somados? Que significa para o Itamaraty a contundente declaração do Primeiro Ministro da China, Hu Jin Tao, propondo uma aliança militar sino-russa, após advertir que os EUA “só entendem a linguagem da força”?

Enquanto o Brasil vota com os países intervencionistas contra a Síria, a Inglaterra eleva sua presença militar nuclear no Atlântico Sul e os organismo militares brasileiros, como já tinham detectado durante da guerra das Malvinas nos anos 80, percebem que não há suficiente e adequada capacidade de defesa nacional para as riquezas do pré-sal.

Naquela época, embora posicionando-se pela neutralidade, o Brasil assumiu uma posição de neutralidade imperfeita que não o impediu de dar ajuda logística e de material de reposição militar à Argentina em sua guerra contra o imperialismo inglês, ocasião em que Cuba também ofereceu tropas ao governo portenho para lutar contra a Inglaterra. Compare-se com a posição atual no caso sírio. Será que é motivo de preocupação concreta para o Itamaraty, tendo como base o princípio sustentado pelo Brasil, de que quantidades indeterminadas de aviões drones dos EUA vasculham o território sírio, como anunciam autoridades norte-americanas, violando, portanto, sua soberania? Esta ingerência externa não merece posicionamento formal do Brasil na ONU? Mas, na rasteira filosofia dos dois pesos e duas medidas, o Brasil vota em aliança os países intervencionistas para intimidar o Irã em matéria de direitos humanos, mesmo quando a presidenta Dilma anuncia que todos têm telhado de vidro e que a discussão sobre os direitos humanos deve iniciar-se pela sistemática câmara de torturas que os EUA mantém na base de Guantánamo. Será que as palavras de Dilma não são ouvidas no Itaramaty?

O governo do Líbano já está adotando posições políticas, que incluem manobras militares, para evitar que suas fronteiras com a Síria sejam utilizadas pelas nações que estão patrocinando o armamento e a infiltração de mercenários, com o apoio ostensivo de países intervencionistas, com o objetivo de derrubar o governo de Damasco. O mesmo está ocorrendo na Turquia, inclusive, com a ocorrência de uma grande manifestação popular em cidade turca fronteiriça à Síria, em apoio ao governo de Damasco. Em Curitiba, a Igreja Ortodoxa realizou Missa de Ação de Graças, organizada pelas comunidade sírio-libanesa e palestina, em agradecimento à Rússia e a China, gesto parecido ao ocorrido em Brasília, quando a mesma comunidade levou flores e agradecimento à embaixada da Rússia no Brasil.

Partidos e sindicatos
É importante que os partidos e sindicatos, sobretudo a aliança dos partidos progressistas e antiimperialistas que sustentam o governo Dilma, discutam atentamente as sombrias involuções da política do Itamaraty. Os militares brasileiros, certamente, já estão discutindo em seus organismos de estudo e planejamento, como indica a quantidade de textos e participações de autoridades militares brasileiras em audiências públicas e em publicações especializadas, sobretudo a partir da sinistra mensagem da Líbia.

Enquanto o Brasil é alvo de uma guerra cambial desindustrializadora, como advertem membros do governo, enquanto especialistas militares advertem para o período de nosso desarmamento unilateral frente a nossas gigantescas e cobiçadas riquezas naturais, observa-se, enigmaticamente, um reposicionamento do Itaramaty distanciando-se não apenas dos princípios e posturas aplicadas mais acentuadamente durante o governo Lula, mas, distanciando-se também do conjunto de países com os quais vem construindo uma linha de cooperação para escapar dos efeitos da crise que as nações imperialistas tentam descarregar sobre a periferia do mundo. E aproximando-se dos sinais e valores impregnados nos discursos e atos da sinistra Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, aquela que comemorou com uma gargalhada hienística quando viu as imagens de Muamar Kadafi sendo sodomizado e executado graças a informações prestadas pelos comandos militares dos EUA, conforme denunciou Vladimir Putin.

Ponto alto da campanha eleitoral de Dilma Roussef foi a declaração de Chico Buarque em defesa de sua candidatura porque com Lula e Dilma, disse ele, “o Brasil não fala fino com os EUA e não fala grosso com a Bolívia”. O que explicaria então esta enigmática e contraditória aproximação do Itamaraty com as posturas ingerencistas de Hillary Clinton com relação à Síria e ao Irã? Seria afastamento em relação à genial síntese feita pelo poeta e revolucionário Chico Buarque?


* Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A propósito da carta de Dilma

Laerte Braga, jornalista e analista político
Não houve nem precipitação, tampouco fazer o jogo da direita ao criticar a carta enviada pela presidente Dilma Rousseff ao presidente da Itália (confira o pé deste post), a propósito do caso Cesare Battisti.

O fato da presidente da República pertencer a um partido supostamente comprometido com lutas populares e ter sucedido a um governo – Lula – que malgrado as críticas possíveis e passíveis, superou obstáculos e dificuldades os mais variados, bombas de efeito retardado deixadas pelo governo FHC, é preciso enxergar além de um outro fato, ver o todo, o conjunto.

A carta de Dilma foi resultado de uma discussão ampla sobre o assunto – a extradição de Cesare Battisti – e foi sim um ato de submissão, qualquer que tenha a expressão usada ou o “STF DECIDIR”, ou o “STF MANIFESTAR-SE”.

A corte dita suprema já se manifestou em julgamento anterior e como bem alertou o ministro Marco Aurélio Mello, a competência é do presidente da República. A de extraditar ou não.

Dilma Roussef teve conhecimento da decisão do então presidente Lula e apoiou-a. Mesmo porque fez parte do seu governo até a desincompatibilização para candidatar-se à presidente.

O assunto Battisti virou preocupação dentro do governo federal, o atual, seja pela reação do governo italiano, da carta do presidente da Itália ou pela descabida e lamentável atitude do presidente do STF o ministro Cesar Peluso. Ato contínuo ao decreto de Lula deveria ter sido expedido o alvará de soltura, ou mandado de soltura de Battisti e o ministro iria fazê-lo, cientificou o ex-presidente disso, até que contatado por Gilmar Mendes e o embaixador italiano resolveu participar, dar a partida nessa farsa de tentar um confronto com o Executivo.

A visão pragmática de Dilma levou-a em reuniões com assessores a lamentar o fato num primeiro momento, para em seguida, reclamar, notem bem RECLAMAR da “tardia decisão de Lula que teria deixado a bomba em suas mãos”.

Os que tiverem boa memória hão de lembrar-se de uma reprimenda do ex-presidente ao seu ministro da Fazenda, Guido Mantega – que permanece no cargo – dias antes da posse de Dilma. Mantega anunciou cortes no orçamento e paralisação e suspensão de algumas obras previstas. A reprimenda de Lula foi para lembrar ao ministro que ainda era ele o presidente da República e não havia autorizado nada daquilo que Manteca falara.

Este fato serve para ilustrar a campanha sórdida desfechada por figuras como Marco Aurélio Garcia (pelego petista) contra os ministros Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães. E coincidentemente parte dos documentos revelados pelo WIKILEAKS mostram Garcia íntimo dos embaixadores dos EUA, funcionando como uma espécie de consultor.

A luta interna que precedeu a posse de Dilma tinha objetivos claros como manter Jobim na Defesa, afastar Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães. O chanceler e o ministro, apesar de todo o esforço de Marco Aurélio Garcia para destruir, construíram uma política externa que transformou o Brasil em protagonista da história que vivemos nos dias atuais.

Neste momento o que poderíamos chamar de lado pragmático do governo Dilma, os que pensam e transformam a economia em fator principal deixando de lado o político, os compromissos de mudanças, fizeram ver a presidente que era necessário entender que se preciso for “sacrificar” Battisti para evitar um confronto com o Judiciário, que Battisti seja sacrificado.

Apostam em convencer ministros do STF a reiterar a competência final do presidente para extraditar ou não, no que estaria convalidado um ato de Lula e isenta Dilma de qualquer responsabilidade no processo.

É evidente que o ex-presidente Lula não vai falar sobre o assunto. Tomou o bonde errado e começa a amargar o abandono de alguns “companheiros” ávidos, sempre, de poder, cargos para ser mais franco.

Vai até o fim da linha, ou enquanto suportar e isso é dele, ninguém pode marcar data para suportar ou não suportar.

As concessões feitas no governo Lula, vamos admitir, por consequência das bombas de efeito retardado deixadas pelo governo FHC foram superadas com êxito. O papel da presidente Dilma seria o de buscar caminhos de mudanças estruturais e avanços efetivos em todas as áreas, mantendo o Brasil, acima de tudo, como o que assumia posição de destaque no primeiro plano mundial, deixava de ser coadjuvante.

O governo da Itália enfrenta uma grave crise. O primeiro-ministro é um banqueiro repulsivo por si e por tudo, precisa exibir um escalpo para suportar pressões entre elas a de evitar que a crise arraste o país a uma situação de desemprego elevado, de quebradeira em alguns setores, enfim, esse momento vivido pelo mundo neoliberal.

A carta de Dilma se insere nesse contexto.

As pressões para entregar Battisti não são apenas da Itália. Diplomatas norte-americanos já “aconselharam” o Brasil a ser “livrar” desse problema.

A mídia privada brasileira é cúmplice dessa ordem mundial. Faz o jogo dos interesses internacionais, dos grandes conglomerados.

O latifúndio aqui não está sendo aquinhoado pelo DEM, mas por trabalhos do líder do PT, deputado Vacarezza (semente terminal), pelo deputado do PC do B Aldo Rebelo (código florestal).

Patrulhar críticas ao governo Dilma tentando rotulá-las de “fazer o jogo da direita, do PIG” é tão somente agarrar-se a achegos num governo que vive uma disputa interna intensa, da qual a presidente não está dando conta, e na qual as forças à direita começam a triunfar.

Ou não perceber todo esse jogo.

É claro que algumas reações ao artigo que escrevi são leais e refletem aspirações de companheiros e camaradas íntegros.

“Lula elege até um poste” foi uma frase do ex-ministro da ditadura Delfim Neto.

Dilma, evidente, não é Lula. Mas é produto dos resultados do governo Lula e dos compromissos assumidos em praça pública quando da campanha eleitoral. Isso está longe do aparelhamento do Estado, ou da doação de partes do Estado a “aliados” que nada têm a ver com os compromissos de avanços políticos, econômicos e sociais.

Não passam nem pelo latifúndio, nem pelos bancos, muito menos, noutra ponta, pelo peleguismo de grupos sindicais.

A política de alianças pode implicar em concessões, evidente, mas nunca em realmente cair de quatro e a expressão não significa nenhuma ofensa à condição de mulher da presidente, pois é usual até em conversas informais, corriqueiras.

O que se pretendeu com a carta, reitero, onde a expressão DECIDIR, ou MANIFESTAR-SE é submissão, o ato final é privativo do presidente, ou da presidente, foi apenas jogar o problema para a frente e em qualquer situação, atribuí-lo a Lula.

Se for o caso de extraditar Battisti uma capitulação e uma traição sem tamanho, embora ache isso difícil, tudo bem (mas não impossível, depende de como vai ser encaminhado). Caso contrário, para o governo da Itália a presidente vai dar de ombros e dizer que o problema foi criado por Lula.

Foi isso que ela fez.

A carta poderia, tranquilamente ter reafirmado os laços que unem Brasil e Itália, mas ao mesmo tempo a soberania do Brasil sobre a matéria, tanto quanto lamentar, no mínimo, a interferência do governo italiano em questões internas do Brasil. O envolvimento de dois lamentáveis ministros do STF no assunto, à revelia, rasgando a constituição.

Ou tentando rasgar.

Por fim, se qualquer crítica a Dilma, dura ou não, for vista como “equívoco”, “conclusão apressada”, expondo o crítico a execrações quaisquer que sejam elas, aí some qualquer prurido ou chance de debate político sério no Brasil.

E é aí que vamos cair nas mãos da direita.

Dilma não é Lula, repito, mas os compromissos assumidos e o respeito devido a Lula transcendem a jogos e disputas por cargos, vantagens, por aparelhar o Estado num burocratismo economicista que não vai nos levar a lugar algum, a não ser abrir espaços para figuras como Aécio Neves, loucos travestidos de políticos sérios.

Entramos num jogo de clube de amigos e inimigos cordiais.

Vale lembrar as declarações de Marco Aurélio Garcia em 2000, quando do Congresso do PT em Belo Horizonte e as reivindicações de um amplo debate político sobre programa etc.

“A minha base me obedece e não quer saber disso, Nem entende disso”.

Tomara que o governo Dilma não mergulhe no economicismo burocrático desse jogo dito institucional (mas eu duvido, vai cair direitinho, está caindo, nessa armadilha).

A certeza que essa luta não vai ser ganha nesse plano.

E como disse, se criticar Dilma for sacrilégio, que ela seja ungida papisa. A infalível.

Laerte Braga: 'Cai fora Dilma - chega de cair de quatro'

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

OBRIGADO, LULA

Frei Betto*
Nunca antes na história deste país um metalúrgico havia ocupado a presidência da República. Quantos temores e terrores a cada vez que você se apresentava como candidato! Diziam que o PT, a ferro e fogo, implantaria o socialismo no Brasil.

Quanta esperança refletida na euforia que contaminou a Esplanada dos Ministérios no dia de sua posse! Decorridos oito anos, eis que a aprovação de seu governo alcança o admirável índice de 84% que o consideram ótimo e bom. Apenas 3% o reprovam.

O Brasil mudou para melhor. Cerca de 20 milhões de pessoas, graças ao Bolsa Família e outros programas sociais, saíram da miséria, e 30 milhões ingressaram na classe média. Ainda temos outros 30 milhões sobrevivendo sob o espectro da fome e quem sabe o Fome Zero, com seu caráter emancipatório, a tivesse erradicado se o seu governo não o trocasse pelo Bolsa Família, de caráter compensatório, e que até hoje não encontrou a porta de saída para as famílias beneficiárias.

Você resgatou o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e, através dos programas sociais e da Previdência, promoveu a distribuição de renda que aqueceu o mercado interno de consumo. O BNDES tornou as grandes empresas brasileiras competitivas no mercado internacional. Tomara que no governo Dilma seja possível destinar recursos também a empreedimentos de pequeno e médio porte e favorecer nossas pesquisas em ciência e tecnologia.

Enquanto os países metropolitanos, afetados pela crise financeira, enxugam a liquidez do mercado e travam o aumento de salários, você ampliou o acesso ao crédito (R$ 1 trilhão disponíveis), aumentou o salário mínimo acima da inflação, manteve sob controle os preços da cesta básica e desonerou eletrodomésticos e carros. Hoje, 72% dos domicílios brasileiros possuem geladeira, televisor, fogão, máquina de lavar, embora 52% ainda careçam de saneamento básico.

Seu governo multiplicou o emprego formal, sobretudo no Nordeste, cujo perfil social sofre substancial mudança para melhor. Hoje, numa população de 190 milhões, 105 milhões são trabalhadores, dos quais 59,6% possuem carteira assinada. É verdade que, a muitos, falta melhor qualificação profissional. Contudo, avançou-se: 43,1% completaram o ensino médio e 11,1% o ensino superior.

Na política externa o Brasil afirmou-se como soberano e independente, livrando-se da órbita usamericana, rechaçando a ALCA proposta pela Casa Branca, apoiando a UNASUL e empenhando-se na unidade latino-americana e caribenha. Graças à sua vontade política, nosso país mira com simpatia a ascensão de novos governantes democráticos-populares na América Latina; condena o bloqueio dos EUA a Cuba e defende a autodeterminação deste país; investe em países da África; estreita relações com o mundo árabe; e denuncia a hipocrisia de se querer impedir o acesso do Irã ao urânio enriquecido, enquanto países vizinhos a ele, como Israel, dispõem de artefatos nucleares.

Seu governo, Lula, incutiu autoestima no povo brasileiro e, hoje, é admirado em todo o mundo. Poderia ter sido melhor se houvesse realizado reformas estruturais, como a agrária, a política e a tributária; determinado a abertura dos arquivos da ditadura em poder das Forças Armadas; duplicado o investimento em educação, saúde e cultura.

Nunca antes na história deste país um governo respaldou sua Polícia Federal para levar à cadeia dois governadores; prender políticos e empresários corruptos; combater com rigor o narcotráfico. Pena que o Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 – quase um plágio dos 1 e 2 do governo FHC –tenha sido escanteado por preconceitos e covardia de ministros que o aprovaram previamente e não tiveram a honradez de defendê-lo quando escutaram protestos de vozes conservadoras.

Espero que o governo Dilma complemente o que faltou ao seu: a federalização dos crimes contra os direitos humanos; uma agenda mais agressiva em defesa da preservação ambiental, em especial da Amazônia; a melhoria do nosso sistema de saúde, tão deficiente que obriga 40 milhões de brasileiros a dependerem de planos de empresas privadas; a reforma das redes de ensino público municipais e estaduais.

Seu governo ousou criar, no ensino superior, o sistema de cotas; o ProUni e o ENEM; a ampliação do número de escolas técnicas; maior atenção às universidades federais. Mas é preciso que o governo Dilma cumpra o preceito constitucional de investir 8% do PIB em educação.

Obrigado, Lula, por jamais criminalizar movimentos sociais; preservar áreas indígenas como Raposa Serra do Sol; trazer Luz para Todos. Sim, sei que você não fez mais do que a obrigação. Para isso foi eleito. Mas considerando os demais governantes de nossa história republicana, tão reféns da elite e com nojo do “cheiro de povo”, como um deles confessou, há que reconhecer os avanços e méritos de sua administração.

Deus permita que, o quanto antes, você consiga desencarnar-se da presidência e voltar a ser um cidadão militante em prol do Brasil e de um mundo melhor.
*Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros

Brasil decide não conceder à Itália extradição de Cesare Battisti

Nota do governo brasileiro sobre o cidadão italiano Cesare Battisti

Brasília, 31 de dezembro de 2010

O Presidente da República tomou hoje a decisão de não conceder extradição ao cidadão italiano Cesare Battisti, com base em parecer da Advocacia-Geral da União. O parecer considerou atentamente todas as cláusulas do Tratado de Extradição entre o Brasil e a Itália, em particular a disposição expressa na letra “f”, do item 1, do artigo 3 do Tratado, que cita, entre as motivações para a não extradição, a condição pessoal do extraditando. Conforme se depreende do próprio Tratado, esse tipo de juízo não constitui afronta de um Estado ao outro, uma vez que situações particulares ao indivíduo podem gerar riscos, a despeito do caráter democrático de ambos os Estados.

Ao mesmo tempo, o Governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota da Presidência do Conselho dos Ministros da Itália, de 30 de dezembro de 2010, em particular com a impertinente referência pessoal ao Presidente da República.

CESARE BATTISTI

Laerte Braga, jornalista e analista político

A decisão do presidente Lula de conceder refúgio político ao escritor italiano Cesare Battisti é correta sob todos os aspectos. O governo italiano não conseguiu provar junto à Justiça brasileira que Battisti é culpado dos crimes dos quais é acusado e tampouco oferecer garantias de um julgamento justo, no caso da extradição, até em observância ao que determina o tratado sobre o assunto entre Brasil e Itália.

Foi desastrada a ação do governo de Berlusconi (como desastrado é o seu governo) na condução do processo. Vergonhosa a atitude do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) quando recebeu o embaixador da Itália pela porta dos fundos do seu gabinete e suas atitudes após essa visita.

Tratou o Brasil, os brasileiros, o governo, como se fossem lacaios de um governante irresponsável – Berlusconi.

A expressão “terrorista” usada pela mídia privada brasileira para rotular Battisti perdeu o sentido depois do WIKILEAKS e do terrorismo (sem aspas) praticado por norte-americanos e seus aliados (colônias) em todo o mundo.

Não cabe julgar politicamente a participação de Battisti no processo de resistência em determinada época a governos italianos. François Mitterand, socialista e presidente da França por 14 anos não hesitou um só instante em conceder asilo a Battisti.

O que está no centro do palco é outro tipo de jogo. Um jogo sórdido do primeiro-ministro Berlusconi, contestado por manifestações em toda a Itália e que queria exibir a cabeça de Battisti como troféu para tentar um novo mandato.

E, ademais, é da tradição brasileira abrigar, refugiar, asilar perseguidos políticos. Foi assim com George Bidault, líder fascista francês. Com Marcelo Caetano herdeiro do salazarismo depois da Revolução dos Cravos em Portugal. Não poderia ser diferente com Battisti.

A decisão final, segundo a Constituição, é do presidente da República. Todas as medidas protelatórias foram tentadas por Gilmar Mendes. À época presidente do STF E notoriamente ligado a grupos de extrema-direita e empresários envolvidos em corrupção (Daniel Dantas).

Sequer se preocupa em disfarçar, mesmo porque lhe falta o tal “notável saber jurídico”. Tanto quanto a “reputação ilibada” para integrar a mais alta corte de justiça do País. É invenção de FHC para garantir a impunidade da turma.

A decisão de Lula foi coerente com sua história, respaldada no Direito e reforça a tradição brasileira de braços abertos aos perseguidos políticos em outros países (exceção vivida apenas no período da ditadura militar, ela própria perseguidora).

Não se pode excluir a possibilidade de setores de extrema-direita tentarem reverter a decisão através de manobras comuns e típicas a esses foras da lei. A mídia privada, com toda a certeza, vai incentivar.

No apagar das luzes de seu governo o presidente da República assume a atitude de estadista num caso como este.

O que pouca gente sabe – é lógico, a mídia privada está no bolso e esconde – é que Berlusconi tem grandes negócios no Brasil e seus tentáculos chegam a setores do mundo institucional, com a prodigalidade típica dos corruptos.

Não há cabimento no argumento que temos nossos problemas e não devemos nos ocupar dos problemas dos outros.

Battisti está preso no Brasil, buscou o nosso País para refugiar-se de ações ilegais do governo de seu país, logo é um problema nosso.

Conceder ou não o status de refugiado político não muda as condições da saúde pública ou da educação por aqui.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Mas conceder o refúgio a Battisti reforça a grandeza da política externa brasileira e das tradições de paz e liberdade de nosso País.

São coisas distintas, portanto.

Esse é o típico argumento de quem não enxerga um palmo adiante do nariz, ou se enxerga, enxerga apenas o nariz e não o todo. Não se tem notícia de nariz que caminhe por si próprio.

Battisti foi partícipe de um processo de lutas que permeava toda a Europa na década de 60 e se estendia a todo o mundo de um modo geral. Um processo decisivo na construção de estradas passíveis de se começar a abrir picadas em meio a um estado autoritário no seu todo, mesmo em supostas democracias como a italiana.

Lula fecha com chave de ouro seu governo – ao qual cabem críticas, evidente – ao conceder refúgio político a Cesare Battisti sem se intimidar com a cara feia de um governo que preside uma colônia norte-americana na Europa, o italiano e a Itália e é antes de mais nada uma reedição trágica dos momentos pornográficos dos césares, ou histriônicos do Duce.

E não poderia ser diferente, Berlusconi é banqueiro.

Mostra um Brasil diferente daquele de FHC, ereto, de pé, que se espera, aliás, continue a ser assim com Dilma Roussef.

Leia ainda:
Marco Aurélio Mello, do STF: 'Battisti deve ganhar liberdade imediatamente'
O que ensina a 'guerrilha de Roma'

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Brasileiro dispensado pela OEA no Haiti diz ter sido 'porta-voz daqueles que não têm voz'

Ricardo Seitenfus reafirma que motivo da dispensa foi oposição à ONU e que Haiti não pode ser coadjuvante da própria história

Entrevista a João Peres, da Rede Brasil Atual

Ricardo Seitenfus (foto: arquivo) vai mesmo deixar o comando das ações da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti. Em conversa telefônica com a Rede Brasil Atual, ele reafirma a versão de que o motivo de sua dispensa foi uma entrevista ao jornal suíço Le Temps na qual criticou a presença das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país centro-americano.

“Provavelmente isso não tenha agradado a todo mundo, são 34 países-membros da OEA e é difícil agradar a tantos senhores, mas preferi agradar aos haitianos e à minha consciência”, resume. A dispensa foi recebida diretamente do secretário-geral da OEA, o chileno Miguel Insulza, em chamada telefônica no último dia 20. Insulza ordenou que o brasileiro tire férias do cargo de representante do secretário-geral no Haiti e, em janeiro, volte a Porto Príncipe apenas para se despedir dos colegas, encurtando o mandato que se encerraria em 31 de março.

Prestes, portanto, a voltar a exercer a carreira acadêmica na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Seitenfus ressalta que não fez críticas diretas às forças da paz da ONU (Minustah), mas à maneira como a comunidade internacional lida com o Haiti. De certa forma, o ex-representante da OEA reafirma aquilo que já havia feito em pelo menos duas entrevistas anteriores, em agosto de 2009 e em fevereiro deste ano, quando cobrou que a atuação militar desse espaço ao trabalho social de reconstrução do país.

A diferença, admite, está na forma com que abordou os assuntos desta vez, “utilizando a observação e a razão, mas fazendo com que o coração falasse.” Na entrevista ao Le Temps, Seitenfus afirmou que o Haiti não era um caso para forças militares, já que não representava qualquer ameaça à comunidade internacional, e ponderou que queriam fazer um “país capitalista, uma plataforma de exportação para o mercado dos Estados Unidos, um absurdo.”

Com tantos componentes polêmicos, a conversou ganhou enorme circulação no Haiti e nas redes sociais. A repercussão é tamanha que o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, dedicou suas reflexões desta semana a elogios ao trabalho do brasileiro. “Pode-se ou não estar de acordo com cada uma das palavras do brasileiro Ricardo Seitenfus, mas é inquestionável que disse verdades preciosas”, escreveu o líder. Castro acrescenta que a ONU enviou a Minustah a pedido dos Estados Unidos, “criador da pobreza e do caos na república haitiana.”

Confira os principais trechos da entrevista:

Rede Brasil Atual - O senhor esperava ser dispensado?

Ricardo Seitenfus - Foi uma entrevista que dei em meados de novembro a um jornalista de Genebra. Estudei em Genebra e achava que era uma forma de retribuir tudo o que o país fez na minha formação. Foi uma entrevista sem grandes pretensões a não ser fazer um balanço dos dois anos de observação da comunidade internacional na situação haitiana.

Não falei da OEA. Falei da falta de um sistema internacional capaz de enfrentar situações como a do Haiti. O Haiti é bem mais complicado, bem mais difícil do que simplesmente enviar soldados. Então, foi mais uma espécie de prestação de contas e de auxílio à comunidade internacional, de fazer com que vissem isso. Foi feito de boa fé.

Rede Brasil Atual - Como o senhor viu a reação à entrevista?

Ricardo Seitenfus - Não imaginava a repercussão, sobretudo no Haiti. O Haiti é sempre surpreendente e me surpreendeu mais uma vez. Houve uma unanimidade, a esquerda, a direita, o governo, a sociedade civil, todos de acordo com o que eu disse. Me tornei uma pessoa pública muito querida. Também nas redes sociais houve repercussão porque há uma diáspora de quatro milhões de haitianos espalhados pelo mundo. Simplesmente fui o porta-voz daqueles que não têm voz.

De certa forma, também tem a ver com a forma que eu disse. Utilizando a observação e a razão, mas fazendo com que o coração falasse. Não posso ser outro do que aquele que sempre fui. Prestei um serviço à comunidade internacional, àqueles que querem realmente encontrar caminhos para solucionar os problemas do Haiti. E espero que sirva para incentivar o debate no Brasil sobre isso.

Rede Brasil Atual - Houve um erro da OEA em antecipar o fim da sua missão?

Ricardo Seitenfus - Não posso fazer essa avaliação. Sairia em 31 de março, isso já estava acertado, porque é muito pesado para mim, para minha família. A missão será encurtada em dois meses. É problema da OEA, não é problema meu.

Rede Brasil Atual - Fidel Castro emitiu um texto elogioso a seu trabalho e com críticas às atuações da OEA e da ONU. Como o senhor vê esses elogios?

Ricardo Seitenfus - É uma grande surpresa dialogar com Fidel Castro, um personagem da história mundial. Cuba está muito envolvida na luta contra o cólera no Haiti, temos quase 1.300 médicos, algo que se fala pouco. A imprensa mundial praticamente desconhece o trabalho extraordinário que os médicos cubanos fazem no Haiti junto à população. Creio que tanto Fidel Castro como eu temos um só objetivo, que é o bem-estar do povo haitiano.

Rede Brasil Atual - Os dois concordam com a avaliação de que o povo haitiano vem sofrendo ao longo do tempo pela ousadia de romper com o colonialismo entre os séculos XVIII e XIX.

Ricardo Seitenfus - O pecado original do Haiti foi cometido em 1804, no momento em que os escravos conseguem uma dupla libertação: um país e o rompimento dos grilhões da escravidão. A libertação haitiana veio muito antes do que veríamos depois, que é a luta contra o colonialismo, contra o racismo e contra a escravidão. O Haiti cometeu esse crime que não se pode apagar, que foi fazer com que os condenados da terra pudessem se revoltar.

Aí começa uma grande caminhada solitária do Haiti nas relações internacionais. Nunca sabem como tratar o Haiti. Quando não se sabe tratar, a gente ou se utiliza da violência ou da indiferença. Felizmente, a partir de 2004 a América Latina se interessou pelo Haiti. Espero que esse interesse demonstrado essencialmente em torno dos militares possa se transformar em interesse cultural, social, e que possamos melhor conhecer aquele povo tão extraordinário. Mais

Do Terra: 'Brasileiro é destituído de missão da OEA no Haiti'

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PESSOAS E FATOS DIFÍCEIS DE ENTENDER

Laerte Braga, jornalista e analista político
A mídia privada e dita grande sumiu com o noticiário sobre os documentos liberados pelo site WIKILEAKS. Não interessa contrariar os interesses norte-americanos quando essa mídia é parte do que Julian Assange chama de “tentáculos da elite norte-americana”.

É a elite que sustenta essa mídia.

A prisão de Assange é um escândalo, uma flagrante violação da liberdade de expressão. Mas, muito mais que a prisão, o conteúdo dos documentos mostra a verdadeira face dos EUA. Um conglomerado terrorista. Chantagem, extorsão, assassinatos, torturas, estupros, a barbárie com todos os requintes da tecnologia mais avançada possível.

Os documentos vazados e que revelam uma descarada intervenção nos negócios internos do Brasil, por si só, são motivo de interpelação ao governo dos Estados Unidos sobre esse tipo de atividade.

Lobby para se apossar do pré-sal a partir de braços disfarçados em institutos, coisas do gênero, compromisso assumido pelo candidato José Serra de mudar as regras que garantem à PETROBRAS os direitos sobre o pré-sal (18 trilhões de dólares), negociações para a privatização da Previdência e outros setores do Estado, enfim, aberta e traiçoeira interferência no Brasil em função de interesses colonizadores.

Domar e dominar o País para saquear, regra geral do comportamento dos norte-americanos.

Os documentos mostram que o ministro da Defesa Nelson Jobim negociou com norte-americanos situações de privilégios na sua área, criticou ministros do governo Lula (Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim) e em várias situações telegramas de embaixadores, funcionários outros, os EUA ironizaram e criticaram posições brasileiras em organismos internacionais, a última delas na Conferência de Copenhague sobre meio-ambiente.

Motivos mais que suficientes para cobrar uma explicação sobre todas essas atividades de um país que se diz amigo.

Ao contrário, a presidente eleita substitui os ministros apontados como “anti-norte-americanos”, caso de Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim e confirma o agente dos EUA Nelson Jobim no Ministério da Defesa. Ato contínuo ao vazamento de documentos ligando Jobim aos norte-americanos a presidente eleita deixou a poeira passar e agora confirma Jobim ministro da Defesa.

De quebra critica o voto do Brasil sobre as sanções propostas contra o Irã na ONU (voto do governo ao qual ela pertenceu e do qual se beneficiou sendo eleita presidente do Brasil).

E para a Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos exuma o cadáver político de Moreira Franco, um político envolvido em escândalos vários, corrupção a torto e direito, para dar e vender.

É difícil entender um trem desses.

Os EUA tem sido pródigos em ações terroristas pelo mundo afora (controlam a maior parte da Europa Ocidental – transformada em bases militares –), sustentam uma guerra perdida e suja no Afeganistão, governos corruptos e ligados ao narcotráfico como foi o de Álvaro Uribe na Colômbia e ressuscitam campos de concentração onde colocam “suspeitos de terrorismo”, sem qualquer respeito aos princípios internacionais de direitos humanos que usam como escudo para jornadas de barbárie e boçalidade.

O grande feito do WIKILEAKS está sendo o de mostrar ao mundo a face real dos Estados Unidos. Seus interesses, seus objetivos, principalmente a forma como agem em função desses interesses e objetivos, sem respeito a nada e a ninguém.

Têm presença no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, permeiam o Estado brasileiro através de figuras como Nelson Jobim, deputado Henrique Alves, senador Romero Jucá, senador Eduardo Azeredo e outros invisíveis.

Controlam o comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Juniti Saito e boa parte dos militares brasileiros (um dos documentos revelados pelo WIKILEAKS mostra que “os militares latino-americanos são de fácil cooptação).

Nada acontece, ou ao contrário, Jobim é mantido ministro da Defesa.

Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e envolvido em escândalos no processo de privatizações do governo FHC, do qual foi ministro da Justiça e notório agente de interesses dos EUA no Brasil.

O que Dilma Roussef talvez não tenha entendido é algo bem simples. Imagine que ao invés de ter sido ungida por Lula como candidata a presidente em torno de um programa e objetivos, tivesse sido candidata a deputada federal no Rio Grande do Sul, onde tem domicílio eleitoral. Teria que brigar voto a voto para ser eleita e não seria uma eleição fácil.

Ao aceitar ser candidata a presidente, sabendo que Lula elegeria um poste (afirmação de Delfim Neto) e sabendo-se um dos postes mais pesados que o presidente poderia ter escolhido, aceitou e, implicitamente, a continuidade das políticas do atual governo.

É mais fácil, no entanto, acomodar-se aos interesses das elites conservadoras e imaginar-se capaz de vôo próprio. Não percebe que está sendo engolida antes de tomar posse.

Num plano menor, mas de grande importância, difícil entender a posição do deputado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), defensor intransigente da posição da bancada ruralista (latifundiários) na questão do Código Florestal. Quer alargar as fronteiras – às custas de nossas florestas – para o agronegócio e o latifúndio, em detrimento da reforma agrária.

A importância da reforma agrária não está só na divisão justa e equitativa da terra. Funde-se a aspectos maiores, à medida que anula o avanço de grandes empresas multinacionais sobre o Brasil não só na agricultura, como na tomada do subsolo rico em minerais estratégicos e fundamentais ao Brasil se é que o País tem desejo de ter futuro como nação soberana e independente.

Ou o PC do B mudou e transformou-se em sub-braço das elites que Assange fala, ou Aldo Rebelo está no lugar errado.

Fatos como esse, provocados por atitudes de pessoas que, aparentemente, estão de um lado, ou falam numa direção e agem noutra, são difíceis de compreender, sob qualquer argumento, inclusive o de comer o mingau pelas beiradas para depois alcançar os reais objetivos.

Parece aquela história surrada de meia virgindade. Não existe isso.

Há sim um processo de dolorosas concessões e submissão.

Os EUA devem explicações ao mundo inteiro sobre as práticas terroristas reveladas nos documentos vazados pelo WIKILEAKS. E ao que me consta o Brasil faz parte desse “mundo inteiro”.

Neste momento, a crise é aguda, apenas disfarçada pela mídia venal e privada, a tarefa de lutar é dos movimentos sociais (o movimento sindical está falido com raras exceções), dos partidos não comprometidos com esse processo vergonhoso que mantém uma figura repulsiva como Nelson Jobim no Ministério da Defesa (o erro começou com Lula nomeando-o).

A sobrevivência do Brasil e das conquistas alcançadas no governo Lula que permitem entrever uma nova etapa no processo político de avanços em todos os setores não passa pelo institucional, uma espécie de clube de amigos e inimigos cordiais.

Passa pela organização, formação e pressões populares, do contrário vamos mergulhar num retrocesso sem tamanho, pois os primeiros passos de Dilma começam a mostrar um grande equívoco. Ou a esperteza é tanto que escapa ao entendimento de mortais comuns.

Não se pode nem falar em PT, um partido plantado na máquina estatal e com profundas semelhanças com o PSDB (agora refundado por Aécio Neves – é verdade não é piada não).

É visível isso, Dilma não é Lula. O presidente atual é capaz de malabarismos prodigiosos em cima de seu carisma, seu prestígio, mas a presidente eleita não.

Esperar para ver? Tudo bem, vá lá um crédito de confiança. Mas com Jobim e Moreira Franco? É pouco provável.

Breve nos céus os F-18 fabricados pela BOEING e o Brasil na contramão da história. FHC vai arrancar os poucos cabelos que lhe restam ao perceber que foi eleito presidente num corpo de mulher.

Pode ser que eu esteja enganado, tomara. Mas cada dia parece mais difícil de entender.

domingo, 12 de dezembro de 2010

AS MENTIRAS SOBRE AS VERDADES

Laerte Braga, jornalista e analista político
Imagino que seja constrangedor para um “jornalista” padrão William Waack ter sua análise sobre as eleições presidenciais no Brasil, no período de pré campanha, elogiada pela secretária de Estado Hilary Clinton, afinal é uma das chefes, para depois ir tudo para a lata do lixo, pois tudo deu errado.

A análise era apenas tentativa de agradar o chefe, nada além disso.

É o que está acontecendo com os documentos do WIIKILEAKS e a forma como a mídia privada vem fazendo sua divulgação. Ao sabor do chefe, ou seja, interpreta e distorce para evitar que o distinto público conheça as verdades mostradas pelo site.

São mentiras sobre verdades, um jeito de atenuar os estragos causados pelo site àqueles que pagam e controlam a mídia privada no Brasil.

Eu penso que embaixador norte-americano em países como o Brasil não dorme sem olhar embaixo da cama se lá não está um “terrorista” da Al Qaeda. Trancar a embaixada inteira, ligar arames e cercas elétricas. Um pernilongo, por exemplo, por conta do zumbido, corre o risco de vir a ser confundido com um míssil “terrorista”.

A mídia privada e podre alerta que Brasília, segundo documentos divulgados pelo WIKILEAKS, é alvo fácil para bombardeios “terroristas” e um telegrama de um embaixador dos EUA que andou por aqui azeitando as coisas junto a gente tipo Eduardo Azeredo, o brigadeiro Saito, etc, etc, dá o sinal para esse risco. O roubo de um avião em Luziânia, nas imediações de Brasília, assim à luz do dia, foi o ponto de partida da conclusão do embaixador.

Ato contínuo sua excelência envia um memorando a Washington e despacha para a mídia (GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, ESTADO DE SÃO PAULO, VEJA, ESTADO DE MINAS, etc) a seguinte instrução – “dar ênfase ao fato, alertar a população, gerar medo e criar condições para que possamos “ajudar”.

“Boi, boi, boi da cara preta, pega essa criança que tem medo de careta”.

A mídia, amestrada, muito bem paga, começa então a despertar os brasileiros para o risco que a capital seja atacada. Que nem as tais bombas químicas e biológicas que inventaram para poder atacar, ocupar e saquear o Iraque.

Bom, para que haja um ataque “terrorista” a Brasília é preciso motivo. O Brasil nesses últimos oito anos tem pautado sua política externa por absoluta independência em relação aos EUA. O ministro Celso Amorim quando chega em New York não tira os sapatos para submeter-se a uma revista, como o fez Celso Láfer, ministro de FHC.

O País está próximo de países do Oriente Médio, inclusive o Irã, reconheceu o Estado Palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967 (ou seja, apóia a decisão que foi tomada pela ONU), aproximou-se de nações africanas, principalmente as de língua portuguesa e busca a integração latino americana.

Atacar Brasília para que?

A guerra global, como a chamam, é dos Estados Unidos contra aqueles que se opõem ao controle do império sobre o mundo.

No caso específico viramos alvo, Brasília vira alvo, não de “terroristas”, mas de resistentes contra a barbárie norte-americana (revelada pelo WIKILEAKS e não noticiada pela mídia podre e privada brasileira), no momento que por aqui pisar o primeiro soldado norte-americano, os tais mariners, em missão de “ajuda”.

Hoje é alvo de Washington. Os caras estão loucos para instalar bases militares e “ajudar”.

É ridícula essa preocupação do embaixador (ridícula, mas dentro da lógica imperialista, capitalista) e vergonhosa quando repercutida pela mídia privada e podre, golpista.

Por que não publicar documentos que mostram a tortura contra prisioneiros no Iraque, no Afeganistão? Por que não defender a liberdade de expressão de Julian Assange e do WIKILEAKS?

Ou têm eles o monopólio dessa “liberdade de expressão”?

Por que não exibir entre as preocupações com liberdade, democracia, etc, os tais “assassinatos seletivos” que agentes norte-americanos e do MOSSAD cometem mundo afora?

Está tudo divulgado pelo WIKILEAKS.

O sistemático estupro de mulheres palestinas por soldados de Israel?

A cobiça manifesta dos EUA pelo nióbio brasileiro? A cumplicidade com empresas como a VALE?

É simples, estão na folha de pagamento. Fazem parte do que Julian Assange chama de “tentáculos da elite”. São criados dessa elite.

Bombardear Brasília? É o fim da picada.

Que o embaixador dos EUA pense isso e tente transformar essa paranóia em medo instalado entre os brasileiros, apenas cumpre o seu papel, mas que a mídia privada e podre tente fazer exatamente esse jogo só comprova a absoluta ausência de compromisso com a verdade dessas organizações. Terroristas midiáticos.

Que nem a bolinha de papel atirada em José Serra que se transformou num rolo de fita, que gerou uma tomografia e por pouco não vira atentado com participação da Al Qaeda, sob supervisão direta de Osama bin Laden.

Que eu me lembre, quando do ataque às torres gêmeas do World Trade Center, alguns brasileiros brincaram sobre pedir ajuda a Al Qaeda para atingir algumas figuras do Congresso, padrão Eduardo Azeredo, agora Roberto Freire, Kátia Abreu, etc. Fora isso repercutir um telegrama desses, o do embaixador, só mesmo para passar no caixa depois e pegar o extra. Não tem outra explicação, ou então, subserviência pura e simples, fim de semana na Disneylândia, coisas assim, retrato autografado de George Bush, só pode.

Sem contar, claro, o pulo do gato, por que não, por trás de tudo isso os tais F-18 que “encantaram” o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Força Aérea Brasileira?

Será mesmo, brasileira? Falo da do brigadeiro.

Um negócio de quatro bilhões de dólares, no barato, oitocentos milhões de comissões para serem distribuídos à larga.

São as costumeiras mentiras sobre as verdades que a mídia privada e podre vive usando para iludir, alienar, e dominar os brasileiros.

Vem aí Hebe Camargo na GLOBO, dizem, dando beijinho em todos os que passarem por perto. A beijoqueira.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Legados da era Lula

Tereza Cruvinel, presidente da EBC
Neste último artigo do ano aqui no Correio, não tenho como não falar dos oito anos trepidantes, em todos os sentidos, que estão chegando ao fim. Os anos Lula não apenas mudaram para sempre o Brasil. Mudaram também nossa forma de sentir e pensar nosso país. Sob Lula, aprendemos a enxergar a pobreza, a importância de combatê-la e, mais recentemente, a celebrar sua redução. Vimos um presidente chegar ao poder contrariando tudo o que sempre nos pareceu natural: sem berço, sem diplomas, sem o apoio das elites econômicas e pensantes. Vimo-lo depois quebrar todas as convenções ao exercer o poder: falando a linguagem desabrida do povo, cometendo metáforas rasas e gafes frequentes, quebrando a liturgia do cargo, trocando o serviço à francesa do Itamaraty por um buffet self-service, tomando café com os catadores de papel e exercitando uma aguerrida diplomacia presidencial sem falar outra língua. Não haverá outro Lula, pois o Brasil que o gerou não haverá mais. E isso é bom.

Neste período, 28 milhões de brasileiros cruzaram a linha da pobreza e outros 20 milhões ascenderam à classe C. Mais extraordinário é que esse feito tenha acontecido sem a quebra de um só cristal. Ou seja, Lula não tomou uma só agulha dos mais ricos para dar aos mais pobres. Não privou os banqueiros de seus lucros para estender o crédito ao andar de baixo. Não reduziu as exportações do agrobusiness para dar mais comida ao povo. Não garfou a poupança da classe média para criar o Bolsa Família. Tudo fez harmonizando interesses e moderando conflitos. Todos ganharam, embora os mais pobres tenham começado a tirar a diferença. Em 2009, apesar da crise, a renda média dos 40% mais pobres cresceu 3,15% e dos 10% mais ricos apenas 1,09%. E isso é bom para todos, inclusive para os ricos. Este ano, os números serão mais eloquentes.

O crescimento da economia, que pode chegar aos 8% em 2010, será o maior em 24 anos. Desta vez foi crescimento sem inflação e com distribuição de renda. No final do período Lula, terão sido gerados 15 milhões de empregos. Este ano, a nova classe C vai gastar R$ 500 bilhões em 2010, superando o consumo das classes A e B. Isso é mudança.

Sob Lula, a percepção do Brasil mudou também lá fora. Agora o país é player, é líder no G-20, é um dos Brics, vai sediar a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Vamos perdendo o velho complexo de vira-latas.

Nem tudo foi resolvido, nem tudo foi feito e não faltaram as decepções. Sobretudo as políticas, com os casos de corrupção intermitentes. Mas o saldo a favor de Lula foi bem maior e levou-o ao píncaro da popularidade. Mesmo assim, ele continua sendo um presidente intragável para uma minoria. Talvez para aqueles 4% ou 5% que, nas pesquisas frequentes, consideram seu governo péssimo, contra os 80% que o consideram ótimo ou bom.

As relações com a mídia serão um capítulo na história a ser escrita. Vivi a minha pequena parte. Colunista política de O Globo, nunca apontei, nos seis governos e sete legislaturas que cobri, apenas o bem ou o mal. Assim erigi minha credibilidade de analista político. A partir de 2003, divergi do pensamento único que passou a vigir na mídia, não engrossando a cruzada anti-Lula. Na elite do jornalismo político, muito poucos, além de mim e de Franklin Martins, fugiram ao padrão monopólico e demonizador.

Houve preço. Em 2005, veio o maccarthismo e com ele os cães raivosos e o espírito de delação. Um deles espumou, em 2005, que Lula só não caíra ainda porque uma lista de jornalistas lulistas, aberta com meu nome, havia aparelhado a imprensa! Por algum tempo sustentei o apedrejamento, mas, já tendo sofrido uma ditadura, rejeitei a escolha entre autoimolação e sujeição. No final de 2007, aceitei o convite para dirigir a TV Pública que seria criada, cumprindo a Constituição Federal. Pouco vi o presidente depois disso. Tenho trabalhado com absoluta liberdade e os resultados estão aí. Nunca recebi queixas ou bilhetinhos de ministros.

Não tenho a menor importância na história maior que se encerra agora. Conto isso aqui porque esses detalhes fazem parte do ambiente venenoso, eivado de intolerância, elitismo e ódio de classe em que Lula governou e construiu o legado que deixa ao país.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A VELHA HISTÓRIA DE SEMPRE – JULIAN ASSANGE

Laerte Braga, jornalista e analista político
Julian Assange, fundador do site WIKILEAKS apresentou-se à Polícia britânica diante de um mandado de prisão expedido pela Suécia e validado pela INTERPOL, onde é acusado de crime sexual. O secretário de Defesa dos EUA Robert Gates disse a jornalistas ao tomar conhecimento do fato que “enfim uma boa notícia”.

Hitler e todos os tiranos regozijavam-se/regozijam-se quando seus asseclas lhes comunicam que a “missão” foi cumprida, ou está sendo cumprida.

Os novos documentos secretos dos EUA liberados pelo site WIKILEAKS mostram a “preocupação” dos norte-americanos com itens estratégicos para o país, mas que estão no Brasil. Esse interesse pelo Brasil está em telegramas de diplomatas/espiões enviados ao Departamento de Estado.

Referem-se a reservas minerais em Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Segundo os diplomatas/espiões em seus telegramas, essas áreas passaram a ser consideradas “locais vitais”, já que qualquer problema no suprimento de matérias primas afetaria a indústria dos EUA.

O Brasil tem 98% das reservas mundiais de nióbio e os EUA é o seu maior consumidor. O metal é usado na fabricação de peças de automóveis, aviões, obras de infraestrutura e pasmem-se, até lâminas de barbear.

Duas minas brasileiras de nióbio são consideradas prioritárias para os EUA. A CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), em Araxá, MG, que supre 80% do mercado mundial. A outra é explorada pela companhia Anglo Americana, num complexo mineral de Ouvidor e Catalão em Goiás.

De todo o nióbio exportado pelo Brasil apenas 40% o é de forma legal, 60% são contrabandeados pelas mineradoras.

A companhia VALE tem duas jazidas na lista (foi entregue de bandeja por FHC com a cumplicidade de Nelson Jobim, que Dilma Roussef quer manter no Ministério da Defesa).

Outra “preocupação” dos EUA com o Brasil diz respeito ás redes de comunicação (telefonia, internet e dados). A eventualidade de danos nos cabos submarinos da GLOBENET ou da AMERICAS II pode dificultar o contato com empresas norte-americanas aqui e em Washington (vice versa lógico), com sérios prejuízos para o “comércio eletrônico” entre os dois países.

Há uma lista imensa de pessoas condenadas por crimes que não cometeram, pelo simples fato de denunciarem os donos do mundo, em várias épocas.

Os EUA já não são mais uma nação, mas um conglomerado terrorista através de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

A prisão de Assange é uma farsa montada por Washington em cumplicidade com o governo da colônia sueca, uma clara tentativa de intimidação e limites à liberdade de expressão.

A concepção da GLOBO (parte do complexo terrorista encarregada da mentira de cada dia aos brasileiros) de liberdade de expressão, ou seja, a deles.

A Grã Bretanha, principal colônia norte-americana na Europa, entra aí para dar foros de espetáculo ao processo brutal e vergonhoso de tentar calar o WIKILEAKS que, entre outras coisas, exibiu documentos e filmes onde soldados norte-americanos se comprazem matando civis no Iraque. Ou estuprando mulheres na Palestina –soldados de Israel –, ou comprando com dinheiro vivo governantes do Afeganistão.

“O espetáculo, que e o apagamento dos limites do eu (moi) e do mundo pelo esmagamento do eu (moi) que a presença ausência do mundo assedia , é também a supressão dos limites do verdadeiro e do falso, pelo recalcamento de toda verdade vivida, diante da presença real da falsidade, garantida pela organização da aparência”. Guy Debord em “A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO”.

Breve, no Brasil, enquanto o nióbio vai embora, nova edição do BBB e o direito de eliminar quem se lhe desagrade sob o patrocínio de um monte de empresas empenhadas em transformar o País em colônia de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Nessa medida e por aí, a entrevista concedida pela presidente eleita Dilma Roussef ao jornal THE WASHINGTON POST, o que ela disse, somada decisões de manter Nelson Jobim no Ministério da Defesa e substituir Celso Amorim no Ministério das Relações Exteriores, assustam.

Dilma não foi eleita por ser Dilma Roussef, mas por encarnar o que pode ser conquistado no governo Lula e avançar na direção de outros objetivos. As eleições no Brasil tinham uma lógica simples, qualquer poste apoiado por Lula ganharia em função de Lula.

Se for para começar a cair de quatro antes de tomar posse é hora de ir às ruas antes que o Brasil volte a era FHC.

Um tribunal de Westminster, Londres, vai julgar o mandado de prisão e pedido de extradição que o governo sueco (a Suécia é colônia dos EUA) expediu contra Julian Assange. O tal “crime sexual” teria ocorrido em agosto deste ano, em meio às revelações do WIKILEAKS sobre as práticas terroristas norte-americanas em todo o mundo.

O primeiro mandado contra Assange foi expedido em 18 de novembro, mas a pressa em intimidar e ameaçar o fundador do WIKILEAKS resultou num “erro processual”. Foi “corrigido” e outro mandado expedido em dois de dezembro.

A prisão de Assange não vai impedir o WIKILEAKS de continuar a vazar documentos secretos do terrorismo dos EUA. O site hoje é protegido por voluntários em todo o mundo e hoje, hackers derrubaram o site de um banco suíço envolvido em trapaças (que banco não está?), o que pode significar uma declaração de guerra em toda a rede mundial de computadores.

Os prejuízos norte-americanos serão maiores que se possa imaginar. Não há como esconder mais a característica de organização terrorista da que foi a maior nação do mundo (em termos econômicos e militares) e hoje é só um grande arsenal de destruição.

Uma das revelações mais importantes do site foi que na crise do apartheid na África do Sul, Israel ofereceu armas nucleares ao governo branco para reprimir movimentos negros (Mandela estava preso) e outra, o oferecimento pelos EUA de bombas nucleares aos franceses para serem usadas no Vietnã, quando esse se chamava ainda Indochina e era uma colônia francesa.

Com a palavra a ANISTIA INTERNACIONAL, HUMAN WRIGHTS, a nossa ABERT (ASSOCIAÇÃO BRASLEIRA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO), ligadas e controladas pelo terrorismo internacional, mas pressurosos na defesa da “liberdade de expressão” e dos “direitos humanos”.

Guardadas as devidas proporções, Daniel Dantas foi absolvido depois de solto por Gilmar Mendes e o delegado Protógenes Queiroz condenado por abuso de poder.

É a velha história de sempre, “terrorista é o exército mais fraco”.

E liberdade de expressão é o BBB, aqui ou lá. Ou o JORNAL NACIONAL, versão cabocla dos canais FOX e CNN.

O crime de Julian Assange foi junto com seus companheiros mostrar ao mundo que a mais poderosa força militar de todos os tempos, os EUA, não têm escrúpulos e nem respeito por nada que não seus interesses de conglomerado de empresas e bancos terroristas, aliados a grupos nacionais em todo o mundo, facilmente compráveis (empresários, latifundiários, banqueiros e militares).

Perto dessa gente Osama bin Laden pode dar aula em jardim da infância, não vai fazer mal algum.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O “GENERAL” NÉLSON JOBIM BATE CONTINÊNCIA PARA WASHINGTON

Por Laerte Braga, jornalista e analista político
Nelson Jobim é um trêfego. No dicionário está a definição – astuto, dissimulado –. As revelações feitas pelo site WIKILEAKS sobre suas ligações com o embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel e os comentários desfechados sobre os ministros Samuel Pinheiro Guimarães (Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos) e Celso Amorim (Relações Exteriores) são suficientes para que, num assomo de dignidade, se ainda restar alguma a ele, pedir demissão e recusar o convite da presidente eleita Dilma Roussef para continuar à frente do Ministério da Defesa.

Se não o fizer, cabe ao presidente Lula demiti-lo por ato de, no mínimo, deslealdade com o governo a que serve e a presidente eleita comunicar que o convite está anulado.

Nelson Jobim foi ministro da Justiça de FHC e um dos principais responsáveis pelo plano nacional de privatizações, não tem nada a ver com as propostas defendidas por Dilma Roussef em sua campanha eleitoral.

Nos primeiros entraves ao processo de privatização da CIA VALE DO RIO DOCE – hoje VALE –, FHC decidiu indicá-lo para o STF (Supremo Tribunal Federal) com a tarefa de remover obstáculos à entrega da empresa. Ao tomar posse Nelson Jobim pronunciou um dos mais lamentáveis discursos da história da chamada Corte Suprema. Afirmou-se “líder do governo” junto a seus pares. Foi um momento de pequenez do Poder Judiciário.

À época o fato causou estranheza a alguns juristas e indignação a outros. Uma das primeiras providências que Jobim tomou foi retirar das mãos da juíza Salete Macalóes as decisões (estavam afetas a ela pelo instituto jurídico do Prevento) sobre a privatização da VALE.

Salete Macalóes havia concedido liminares contra a decisão do governo apontando inúmeras irregularidades na privatização da VALE, na forma como estava sendo conduzida e levantado a ponta de um iceberg de corrupção. Jobim transferiu o processo para um juiz maleável, digamos assim, capaz de engolir sapos e engordar conta bancária.

Cumprida a missão saiu do STF, voltou à Câmara dos Deputados e numa dessas derrapadas de Lula virou ministro da Defesa.

Vestiu a farda de “general de carreirinha” e desceu assim no aeroporto de Porto Príncipe, Haiti, logo após o terremoto que varreu o país. Como norte-americanos estavam ignorando a presença de tropas brasileiras (que tinham o comando nominal das operações por ali) e chamaram a si o comando de fato, Jobim foi comunicar aos generais brasileiros que iam ter que engolir o sapo ianque e dizer à imprensa que nada mudou, o comando era “nosso”. Contou com o apoio decisivo de uma das agências norte-americanas no Brasil, a GLOBO.

Balela. Jogo de cena. Ridículo no uniforme de campanha. Patético.

Os documentos revelados na última semana pelo site WIKILEAKS mostram que Jobim mantinha estreitos contatos com o embaixador dos EUA no Brasil e identificava nos ministros Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim os “inimigos” dos patrões, no caso os EUA.

No último dia de seu governo o presidente Lula deve dirigir-se aos dois ministros, Samuel e Celso Amorim e agradecer o fardo carregado ao longo desses oito anos construindo o respeito que o Brasil nunca teve mundo afora.

É Jobim, “general de carreirinha” que bate continência para Washington, quem tenta impedir a continuidade de Celso Amorim no Ministério das Relações Exteriores. Quer um ministro padrão Celso Láfer, aquele que quando chegou ao aeroporto de New York tirou os sapatos para submeter-se a uma vergonhosa e ultrajante revista pela polícia antiterrorista.

E de preferência, se for o caso, tire os sapatos, a roupa, tudo e na ONU caia de quatro.

A responsabilidade de Dilma Roussef diante desses fatos é grande e qualquer concessão pode custar caro à presidente eleita.

Não há sentido, mas um profundo desrespeito ao Brasil e aos brasileiros manter uma figura repulsiva como Nelson Jobim num Ministério estratégico como o da Defesa.

Será, se acontecer, um retrocesso sem tamanho, até no conceito de “capitalismo a brasileira”, modelo criado pelo presidente Lula para driblar as bombas de efeito retardado deixadas por FHC.

Um País como o Brasil, num momento como esse, não pode submeter-se ao terrorismo norte-americano, claro e explícito nos documentos tornados públicos pelo WIKILEAKS, que envolvem desde ingerência em governos outros, a prática sistemática de violações de direitos humanos, incluindo estupros de prisioneiros e eventuais “inimigos”.

O pânico mostrado pela secretária de Estado Hilary Clinton com a divulgação dos documentos, que coloca a nu toda a “preocupação com a paz e a democracia” dos norte-americanos atesta a gravidade dos fatos. A acusação feita pelo governo do protetorado norte-americano na Europa, a Suécia, de “crime sexual” contra o fundador do site WIKILEAKS é prática corriqueira entre esse tipo de gente.

Acuados, transferem as responsabilidades para outros inventando histórias e buscando desacreditar já que não podem desmentir ou negar toda a barbárie praticada nos últimos anos, toda a sorte de trapaças contra governos legítimos em várias partes do mundo.

E Nelson Jobim é um dos homens dos EUA nesse emaranhado todo.

Um “general” de fancaria, um trêfego travestido de patriota, que aliás, é sempre bom lembrar, “é o último refúgio dos canalhas”.

Ao contrário, o ministro Celso Amorim foi eleito pela revista norte-americana FOREIGN POLICY como o 6º “pensador global mais importante do ano”, com o mérito de “transformar o Brasil em ator global”. Segundo a revista, “nem se opondo reflexivamente aos EUA no estilo da velha esquerda latino-americana nem servilmente seguindo sua liderança, Amorim marcou um curso independente”.

Amorim está, no ranking da revista, à frente de Hilary Clinton secretária de Estado dos EUA. O presidente (pensa que é presidente) Barack Obama é o terceiro na lista. O brasileiro está à frente também da chanceler do protetorado norte-americano Alemanha, Angela Merkel.

Por trás de tudo isso existe um outro e importante aspecto a ser considerado. Foi com Nelson Jobim ministro da Justiça de FHC que foi intensificada a participação do FBI e da CIA junto a órgãos do governo brasileiro no pretexto do combate ao tráfico de drogas e na prática, no controle do próprio governo de Fernando Henrique.

Um dos objetivos primeiros dos norte-americanos é encher o Brasil de bases militares para controle total do País e suas riquezas, criar a chamada OTAN do Atlântico Sul, transformar o Brasil em base de operações contra países latino-americanos que se oponham às políticas imperialistas de Washington.

Jobim está de volta e com ele as mesmas práticas golpistas e colonialistas.

O futuro governo Dilma tem esse desafio. Ou mantém a diplomacia montada na competência e na conseqüência de ministros como Celso Amorim, ou cai de quatro também.

Se os episódios da guerra contra o tráfico no Rio de Janeiro mostraram um governo presente no combate ao crime organizado, por baixo dos panos, negociações para maior participação de agentes dos EUA nessa luta ocorreram tranquilamente com Nelson Jobim à frente.

Lula está dormindo de touca nessa história e Dilma pode herdar essa touca.

Jobim é agente de potência estrangeira, como nocivo ao Brasil, em todos os sentidos, é o acordo militar com os EUA. E vale até registrar que foi rompido no governo do general Geisel. O que significa que até na ditadura se percebeu em dado momento os propósitos colonialistas dos EUA.

Com Jobim corremos o risco de no cesto do Ministério estar uma cobra cujo veneno não tem soro antiofídico. É preciso levar em conta que a tênue democracia brasileira implica num processo maior de reconstrução democrática que, por sua vez, significa também a reconstrução das forças armadas como segmento de toda essa caminhada. O golpe de 1964 gerou um corpo militar comprometido com interesses não nacionais, os norte-americanos e as mudanças e percepções dos reais interesses dos EUA aqui são lentas. Boa parte dos militares brasileiros também bate continência para Washington, como bateu para Vernon Walthers em 1964.

Jobim não é só trêfego, é também um cancro no governo. Uma doença caracterizada por uma população de células que crescem e se dividem sem respeitar limites normais, invadem e destroem tecidos adjacentes, podem se espalhar para lugares distantes no corpo através de algo que se conhece como metástase.

Relatos de Jobim à diplomacia americana irritam Itamaraty

Do blog Consciência Política*
Alvo dos mais recentes vazamentos de documentos da diplomacia dos Estados Unidos, pelo site Wikileaks, o ministro da Defesa, Nélson Jobim, irritou a diplomacia brasileira devido à informação de que teria confirmado ao governo americano o diagnóstico de câncer no presidente da Bolívia, Evo Morales. Segundo telegrama de 2009 a Washington, do embaixador Clifford Sobel, Jobim, após um encontro em La Paz entre Morales e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria informado aos EUA que o governo brasileiro até ofereceu tratamento em São Paulo para o presidente boliviano.

A transmissão, a outro governo, de um suposto segredo de Estado de um aliado do Brasil é uma falta "grave", na avaliação de um graduado diplomata. No Palácio do Planalto, porém, o caso foi minimizado. Segundo um assessor de Lula com trânsito na equipe da presidente eleita Dilma Rousseff, o governo está decidido a não dar atenção a "telegramas de embaixador", e eventuais comentários de Jobim sobre Morales não teriam poder de afetar a relação com o governo da Bolívia. O governo boliviano negou ontem que Morales tenha tido câncer e informou que ele foi operado por médicos cubanos de um "desvio de septo".

Jobim também divulgou nota negando ter acusado o ex-secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães de ter "ódio aos EUA", como consta em outro telegrama vazado no Wikileaks. Mas nada falou sobre Morales - que, recentemente, em uma cerimônia em La Paz, com Jobim, acusou os EUA de apoiarem conspirações contra o governo boliviano.

A rivalidade entre o Itamaraty e Jobim, cotado para permanecer ministro no governo Dilma Rousseff, é evidente na leitura dos telegramas confidenciais vazados na internet pelo Wikileaks. Os textos escritos em 2008 e 2009, pelo então embaixador Clifford Sobel, mostram que os americanos viam Jobim como seu maior aliado contra o Ministério de Relações Exteriores, no esforço para firmar acordos na área de Defesa com os EUA.

O acordo, alvo de repetidos contatos e viagens de autoridades dos dois governos, foi firmado apenas em abril de 2010, mas incluiu, discretamente, até permissão para missões de fiscalização em instalações militares e civis dos dois países.

O ministro Jobim é descrito, pelo embaixador, como "talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil". Sobel lembra que o ministro pertenceu ao Supremo Tribunal Federal e afirma que "ele mantém uma forte reputação de integridade que é rara entre os líderes brasileiros". Notando que o Itamaraty procurava encurtar e esvaziar a visita de Jobim aos EUA, onde o ministro queria tratar do acordo de Defesa, Sobel descreveu o ministro da Defesa como um homem decidido a "desafiar a supremacia histórica do Itamaraty em todas as áreas de política externa".

Numa avaliação do que significava ter Jobim no ministério, na época, Sobel prevê que Lula teria de dar a última palavra na disputa "entre um ministro da Defesa invulgarmente ativo e interessado em desenvolver laços mais firmes com os EUA e um Ministério de Relações Exteriores que está firmemente comprometido em manter controle sobre todos aspectos da política externa e manter uma distancia calculada entre o Brasil e os Estados Unidos".

Pelo relato de Sobel, Jobim se mostra um ministro afinado com algumas linhas gerais do governo Lula, como a reivindicação de transferência tecnológica no campo militar, a defesa de uma política de contenção, sem hostilidades, do governo de Hugo Chávez na Venezuela, a relutância em aceitar acusações de apoio às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia por parte de governos vizinhos e a crítica aos EUA pelos obstáculos colocados no passado à venda de aviões da Embraer aos venezuelanos.

Mas, enquanto os diplomatas são descritos como um "problema" no esforço por um acordo de Defesa, Jobim foi descrito como um aliado que permitiria uma aliança com o Brasil nesse campo passando por cima do Itamaraty. O acordo assinado somente em 2010, de fato, colocou o ministério da Defesa como único responsável pelas medidas necessárias para por em prática a cooperação entre Brasil e EUA.

O comportamento de Jobim descrito por Sobel nos telegramas confidenciais vazados ontem mostra que, na tentativa de assegurar a confiança dos americanos, o ministro chegou a entrar em detalhes sobre o delicado tema da doença de Evo Morales, tratado com Lula durante visita do brasileiro a La Paz, em janeiro de 2009. Jobim, diz Sobel, teria dito que Lula ofereceu a Morales exames e tratamento em um hospital de São Paulo.

Embora houvesse relatos públicos de que Morales sofria de "sinusite aguda", Jobim, segundo Sobel, teria dito que os problemas sentidos pelo boliviano eram "na verdade, causados por um sério tumor e a cirurgia seria uma tentativa de removê-lo". Jobim teria dito, inclusive, que o tumor poderia explicar por que Morales parecia extraordinariamente distraído nos encontros da época. O tratamento teria sido adiado, porém, segundo o ministro, até o referendo constitucional previsto para o fim daquele mês, na Bolívia.
*originalmente publicado no jornal "Valor Econômico"