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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Paulo Freire e as Verdades Escondidas

*Por Venício A. de Lima, no Observatório da Imprensa:

Trinta anos após sua primeira edição, o que justificaria a republicação de Comunicação e Cultura: as idéias de Paulo Freire, um livro que explora o pensamento e a prática do educador brasileiro no período anterior à dissolução do chamado socialismo real; anterior às eleições que levaram ao poder vários governos populares na América Latina, na contramão da nossa tradição histórica; anterior à revolução digital que dá origem às imensas transformações tecnológicas nas comunicações? O que a prática e a reflexão posteriores de Freire – produtivo até sua morte em 1997 – acrescentaram sobre comunicação e cultura? O que pensam os pesquisadores, sobretudo os brasileiros, a respeito da contribuição de Freire para os estudos de comunicação?



Os escritos posteriores

Foram poucas as ocasiões, depois de Extensão ou Comunicação? [1969] e Pedagogia do Oprimido [1970], nas quais Freire tratou especificamente o tema da comunicação. Registro duas passagens emblemáticas em que ele faz referencia a formas tecnologicamente mediadas de comunicação, em particular à televisão. A primeira, quando publica, com Sérgio Guimarães, Sobre a Educação, volume 2 [1984]. Vale reproduzir (p. 40):


SÉRGIO: (...) A gente vê que, nos seus vários livros, você não chegou a discutir propriamente as questões [dos meios de comunicação]. Por quê?

FREIRE: Exatamente porque nunca me senti competente, a não ser do ponto de vista de uma apreciação global. Se me perguntas: ‘Paulo, o que é que você acha da televisão?’, eu te respondo: para mim, a televisão não pode ser compreendida em si. Ela não é um instrumento puramente técnico, o uso dela é político. E sou capaz também de fazer algumas propostas com relação ao uso da televisão. Mas, mesmo quando não venho tratando desses chamados meios de comunicação em trabalhos meus anteriores, mesmo quando não falo diretamente sobre eles, eu os considero, por exemplo, dentro do horizonte geral da teoria do conhecimento que venho desenvolvendo nos meus trabalhos sobre educação. Não os trato diretamente, no sentido de que eles não são objeto de um estudo técnico, cientificamente válido. (...) Não me sinto um especialista em torno desse tema. Eu o abordo em linhas gerais.



A segunda aparece em um de seus últimos escritos, Pedagogia da Autonomia [1997], quando trata da necessidade de “desocultar verdades escondidas” na mídia. Diz Freire (pp. 157-158):


Pensar em televisão ou na mídia em geral nos põe o problema da comunicação [de massa], processo impossível de ser neutro. Na verdade, toda comunicação [de massa] é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo e contra alguém, nem sempre claramente referido. Daí também o papel apurado que joga a ideologia na comunicação [de massa], ocultando verdades, mas também a própria ideologização do processo comunicativo. Seria uma santa ingenuidade esperar de uma emissora de televisão do grupo do poder dominante que, noticiando uma greve de metalúrgicos, dissesse que seu comentário se funda nos interesses patronais. Pelo contrário, seu discurso se esforça para convencer que sua análise da greve leva em consideração os interesses da nação. Não podemos nos pôr diante de um aparelho de televisão “entregues” ou “disponíveis” ao que vier. (...) A postura crítica e desperta nos momentos necessários não pode faltar. (...) Para enfrentar o ardil ideológico de que se acha envolvida a mensagem [do poder dominante] na mídia (...) nossa mente ou nossa curiosidade teria que funcionar epistemologicamente todo o tempo. E isso não é fácil.

O que se observa nas duas citações acima é que, em ambas, Freire remete o leitor (a) para suas reflexões anteriores sobre a teoria do conhecimento e/ou a necessidade de se pensar “epistemologicamente”, vale dizer, considerar a matriz dialogal como referência normativa para o processo de comunicação, seja ela mediada tecnologicamente ou não.

Até o fim de seus dias, portanto, Freire manteve-se fiel à sua formulação original sobre a comunicação como co-participação de sujeitos que se relacionam dialogicamente em torno do objeto que querem conhecer e, ao mesmo tempo, transformam o mundo no contexto da ação cultural libertadora.

É exatamente a formulação original de Freire sobre comunicação e cultura que constitui o objeto de estudo deste livro.

O que pensam os estudiosos brasileiros

No ensaio “A Pesquisa em Comunicação na América Latina”, ao identificar o que chama de “pais fundadores”, Christa Berger menciona levantamento realizado entre 50 pesquisadores, em 1992, que aponta Paulo Freire como uma das cinco principais influências teóricas deste campo de estudo na região. Freire é lembrado por seu ensaio Extensão ou Comunicação?, escrito no Chile, no qual “está contida a crítica principal aos meios de comunicação de massa: de consistirem em meros instrumentos de transmissão, de tratarem os destinatários como receptores passivos e de impossibilitarem relações dialógicas”. Da mesma forma, autores amplamente reconhecidos e com vasta produção no campo, como o belga Armand Mattelart – com experiência histórica no Chile dos anos 60 e 70 do século passado – e o espanhol/colombiano Jesus Martin Barbero, reconhecem a contribuição de Freire na construção de suas perspectivas teóricas (Berger, 2001, pp. 241-277).

Denise Cogo (1999, pp. 29-36), por outro lado, descreve a presença ativa das idéias de Freire em três áreas: os estudos e a prática da comunicação rural; da comunicação alternativa e/ou popular e dos estudos culturais, nas vertentes de pesquisa sobre o receptor ativo e a leitura crítica da mídia.

Considerando que Comunicação e Cultura: as idéias de Paulo Freire constitui também um exercício de diálogo crítico, mais ou menos explícito, com as então nascentes tradições dos estudos culturais norte-americana e inglesa, personificadas em James W. Carey (1934-2006) e Raymond Williams (1921-1988), merecem registro especial as ponderações de Cogo sobre a importância fundadora de Freire para esta tradição na América Latina. Afirma ela:


(...) A obra de Paulo Freire ajuda a consolidar as bases para o entendimento das inter-relações entre comunicação, educação e cultura, cujos desdobramentos refletem-se, mais tarde, no desenvolvimento de uma vertente denominada de estudos culturais e comunicação. Herdeira dos estudos culturais ingleses, essa vertente encontra sua especificidade no contexto latino-americano a partir do final da década de 80 através de investigadores como o colombiano Jesus Martin-Barbero e os mexicanos (sic) Nestor Garcia Canclini e Guillermo Orozco Goméz, cujas reflexões apontam para a construção de uma trajetória comum: a compreensão da comunicação no marco do processo das culturas em que a compreensão do fenômeno comunicativo não se esgota em conceitos e critérios como canais, meios, códigos, mensagens, informação. O entendimento da comunicação é reorientado a uma revalorização do universo cultural e do cotidiano dos sujeitos como mediadores dos sentidos produzidos no campo da recepção das mensagens difundidas pelos meios massivos de comunicação.


Outro autor que destaca o potencial da obra de Freire para os estudos de comunicação é Eduardo Meditsch. Em instigante artigo publicado em 2008 ele chama a atenção para “o compromisso com a prática. O pensamento de Paulo Freire não era limitado por esta ou aquela escola teórica em que, eventualmente, se apoiava: seu compromisso primeiro era com a vida real, com a realidade humana que procurava compreender para transformar ou, numa palavra, com a prática”.

Tanto Cogo quanto Meditsch, no entanto, lembram não só as leituras reducionistas e o aprisionamento “no jogo dos conceitos praticado no meio acadêmico”, como “a débil apropriação” que se faz da obra freireana nos estudos de comunicação. Meditsch, em diagnóstico impiedoso sobre esse campo de estudos no nosso país, afirma que foi exatamente o primado fundamental da prática que afastou Freire. Afirma ele:


(...) Os “práticos” nunca se deram conta do potencial da teoria freireana para aperfeiçoar as suas práticas, e a grande maioria nem tomou conhecimento de suas idéias, a não ser por orelhas de livro. Por sua vez, os “teóricos” que leram além das orelhas jamais se sentiram compromissados a aplicar as idéias de Freire nas práticas midiáticas, não apenas por ignorarem solenemente estas práticas, mas também por sentirem um profundo desprezo por elas. Para estes, a prática de que falavam Marx e Freire era apenas mais um conceito a enriquecer sua bagagem teórica, ou era uma prática tão idealizada que se recusava a admitir como legítima a realidade com que “os práticos” se relacionavam. Desta forma, as idéias de Freire, quando levadas em conta em nossa área, foram confinadas ao “balé de conceitos” da comunicologia e “domesticadas” pela lógica acadêmica que seu autor sempre condenou. A sua aplicação no desenvolvimento das práticas da comunicação foi abortada em nosso campo (p. 8).


Diante do rigor dessas observações resta destacar qual, de fato, a contribuição das idéias de Freire para os estudos da comunicação e da cultura nos nossos dias.

Qual a contribuição de Freire hoje?

Além dos aspectos já mencionados na “Introdução”, no capítulo IV – “A Importância de Freire para os Estudos de Comunicação” – e outros ao longo de Comunicação e Cultura: as idéias de Paulo Freire [por exemplo, os pontos de contato com Habermas], a releitura de Freire se justifica hoje pelas seguintes razões:

1. Freire é o principal representante contemporâneo da tradição teórica da comunicação como diálogo. Esta é também a posição de Clifford Christians, um dos mais importantes pesquisadores dessa tradição nos Estados Unidos (cf. Christians, 1988 e 1991).

Ainda em 2001 escrevi:

“...se até recentemente esse modelo parecia inadequado para qualquer tipo de aplicação no contexto da chamada “comunicação de massa”, unidirecional e centralizada, hoje a nova mídia reabre as possibilidades de um processo dialógico mediado pela tecnologia. (...) O modelo normativo construído por Freire ganha atualidade e passa a servir de ideal para a realização plena da comunicação humana em todos os seus níveis” (cf. de Lima, 2001; p. 51).

A tradição da comunicação como diálogo ganha renovada importância e potencializa a possibilidade da interação permanente e on line no ato mesmo da comunicação. Freire teorizou a comunicação interativa antes da revolução digital, vale dizer, antes da internet e de suas redes sociais. Como fez o próprio Freire, devemos nos remeter às suas reflexões sobre a teoria do conhecimento, base do conceito de comunicação como diálogo. Lá encontramos uma referencia normativa revitalizada, criativa e desafiadora que será de imensa valia para pensar as novas tecnologias de comunicação e também pensar a sua regulação.

2. Existe um enorme potencial analítico embutido em alguns conceitos introduzidos por Freire que ainda não foram plenamente explorados. Um exemplo eloqüente é certamente o conceito de “cultura do silêncio”, discutido no capítulo III de Comunicação e Cultura: as idéias de Paulo Freire.

Freire fala da nossa herança colonial de “mutismo” e mais tarde da “cultura do silêncio” dos oprimidos, impedidos de ter voz, mergulhados na submissão pelo silêncio. Ele recorre a trecho conhecido do Padre Antonio Vieira (1959) em famoso sermão pronunciado na Bahia, ainda na primeira metade do século XVII (1640), que vale reproduzir novamente aqui:

“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra – infans, infante – quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (...) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.

Não seria essa uma forma histórica de censura na medida em que a “cultura do silêncio” nega a boa parte da população sua liberdade fundamental de palavra, de se expressar? E quem seria, neste caso, o censor?

No Brasil colônia, certamente o Estado português e os muitos aliados que se beneficiavam da opressão aos povos nativos e aos escravos africanos. A própria sociedade era também “censora”, na medida em que convivia culturalmente com a exclusão de vários segmentos de qualquer participação civil. Por exemplo, as mulheres.

Nada disso é novidade, mas certamente ajudará, sobretudo aos jovens de uma sociedade onde nascem novas formas interativas de comunicação a compreender a verdadeira dimensão de conceitos como censura e liberdade de expressão. Nessa nova sociedade-rede, uma forma disfarçada de censura é o silencio da grande mídia em relação a determinados temas. Considerando que a grande mídia ainda é a principal mediadora e construtora dos espaços públicos, um tema que for deliberadamente omitido estará sendo sonegado e excluído desse espaço, vale dizer, da possibilidade de fazer parte do conhecimento e do debate público.

A cultura do silêncio freireana equivale, de certa forma, ao conceito de “efeito silenciador do discurso” introduzido pelo jurista norte americano Owen Fiss quando argumenta que, ao contrário do que apregoam os liberais clássicos, o Estado não é um inimigo natural da liberdade (2005, esp. capítulo 1). O Estado pode ser uma fonte de liberdade, por exemplo, quando promove “a robustez do debate público em circunstâncias nas quais poderes fora do Estado estão inibindo o discurso. Ele pode ter que alocar recursos públicos – distribuir megafones – para aqueles cujas vozes não seriam escutadas na praça pública de outra maneira. Ele pode até mesmo ter que silenciar as vozes de alguns para ouvir as vozes dos outros. Algumas vezes não há outra forma” (p. 30).

Fiss usa como exemplo os discursos de incitação ao ódio, à pornografia e os gastos ilimitados nas campanhas eleitorais. As vítimas do ódio têm sua auto-estima destroçada; as mulheres se transformam em objetos sexuais e os “menos prósperos” ficam em desvantagem na arena política. Em todos esses casos, “o efeito silenciador vem do próprio discurso”, isto é, “a agência que ameaça o discurso não é Estado”. Cabe, portanto, ao Estado promover e garantir o debate aberto e integral e assegurar “que o público ouça a todos que deveria”, ou ainda, garanta a democracia exigindo “que o discurso dos poderosos não soterre ou comprometa o discurso dos menos poderosos”.

Especificamente no caso da liberdade de expressão, existem situações em que o “remédio” liberal clássico de mais discurso, em oposição à regulação do Estado, simplesmente não funciona. Aqueles que supostamente poderiam responder ao discurso dominante não têm acesso às formas de fazê-lo (pp. 47-48). O exemplo emblemático dessa última situação é o acesso ao debate público nas sociedades onde ele (ainda) é controlado pelos grandes grupos de mídia.

A liberdade de expressão individual tem como fim assegurar um debate público democrático onde, como diz Fiss, todas as vozes sejam ouvidas. Ao usar como estratégia de oposição política o bordão da ameaça constante de volta à censura e de que a liberdade de expressão corre risco, os grandes grupos de mídia transformam a liberdade de expressão num fim em si mesmo. Ademais, escamoteiam a realidade de que, no Brasil, o debate público não só [ainda] é pautado pela grande mídia como uma imensa maioria da população a ele não tem acesso e é dele historicamente excluída.

Nossa imprensa tardia se desenvolveu nos marcos do de um “liberalismo antidemocrático” no qual as normas e procedimentos relativos a outorgas e renovações de concessões de radiodifusão são responsáveis pela concentração da propriedade nas mãos de tradicionais oligarquias políticas regionais e locais (nunca tivemos qualquer restrição efetiva à propriedade cruzada), e impedem a pluralidade e diversidade nos meios de comunicação.

A interdição do debate verdadeiramente público de questões relativas à democratização das comunicações pelos grupos dominantes de mídia, na prática, funciona como uma censura disfarçada. Este é o “efeito silenciador” que o discurso da grande mídia provoca exatamente em relação à liberdade de expressão que ela simula defender.

3. As idéias de Freire constituem a base teórica para a positivação da comunicação como direito humano fundamental.

A necessidade do desenvolvimento e da positivação de um direito à comunicação foi identificada há mais de 40 anos pelo francês Jean D’Arcy, quando diretor de serviços audiovisuais e de rádio do Departamento de Informações Públicas das Nações Unidas, em 1969. Naquela época ele afirmava:

Virá o tempo em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos terá de abarcar um direito mais amplo que o direito humano à informação, estabelecido pela primeira vez vinte e um anos atrás no Artigo 19. Trata-se do direito do homem de se comunicar (em Fisher, 1984, p. 26).

Onze anos depois, o famoso Relatório MacBride, publicado pela UNESCO (original 1980; 1983, pp. 287-291), reconhecia pioneiramente o direito à comunicação. Diz o Relatório:

Hoje em dia se considera que a comunicação é um aspecto dos direitos humanos. Mas esse direito é cada vez mais concebido como o direito de comunicar, passando-se por cima do direito de receber comunicação ou de ser informado. Acredita-se que a comunicação seja um processo bidirecional, cujos participantes – individuais ou coletivos – mantêm um diálogo democrático e equilibrado. Essa idéia de diálogo, contraposta à de monólogo, é a própria base de muitas das idéias atuais que levam ao reconhecimento de novos direitos humanos. O direito à comunicação constitui um prolongamento lógico do progresso constante em direção à liberdade e à democracia.

Tanto a proposta de D’Arcy como o Relatório MacBride, na verdade, assumiam e consagravam a perspectiva “dialógica” da comunicação que já havia sido elaborada, do ponto de vista conceitual, por Freire no ensaio Extensão ou comunicação?

Freire se diferencia da tradição dialógica dominante ao recorrer à raiz semântica da palavra comunicação e nela incluir a dimensão política da igualdade, da ausência de dominação. A comunicação implica um diálogo entre sujeitos mediados pelo objeto de conhecimento que por sua vez decorre da experiência e do trabalho cotidiano. Ao restringir a comunicação a uma relação entre sujeitos, necessariamente iguais, toda “relação de poder” fica excluída. A comunicação passa a ser, portanto, por definição, dialógica, vale dizer, de “mão dupla”, contemplando, ao mesmo tempo, o direito de informar e ser informado e o direito de acesso aos meios necessários à plena liberdade de expressão. O próprio conhecimento gerado pelo diálogo comunicativo só será verdadeiro e autêntico quando comprometido com a justiça e a transformação social. Essa é a base do direito à comunicação.

Pode-se afirmar também que Freire se filia à corrente do humanismo cívico do neo-republicanismo. A concepção implícita de liberdade na sua definição dialógica de comunicação é constitutiva de uma cidadania ativa que equaciona autogoverno com participação política, contrariamente à liberdade negativa do liberalismo clássico, ainda hoje indissociável da retórica histórica de nossas elites dominantes. Para Freire, inequivocamente, o cidadão constitui o eixo principal da vida pública através da participação ativa e do direito à voz. A liberdade não antecede à política, mas se constrói a partir dela.

Essas são algumas das razões que justificam a republicação de Comunicação e Cultura: as idéias de Paulo Freire, 30 anos depois, em homenagem aos 90 anos de nascimento de Paulo Freire. [Brasília, Outono de 2011]

* Introdução do livro Comunicação e Cultura: as ideias de Paulo Freire, de Venício A. de Lima, 2ª edição revista, prefácio de Ana Maria Freire, Editora da Universidade de Brasília/Editora Fundação Perseu Abramo, Brasília/São Paulo, 2011; título do OI

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reportagem do Jornal Nacional de 13 de maio presta um desserviço à população


Carla Silva Machado*



No último 13 de maio, o Jornal Nacional da Rede Globo de televisão entrou no ar anunciando mais um dos problemas da educação brasileira, o editor e apresentador Willian Bonner  dá o boa noite e anuncia: “ livro didático de língua portuguesa recomendado pelo MEC defende o erro de concordância.”
Após algum suspense mostrando outra matéria, é a vez de Fátima Bernardes anunciar a matéria e novamente citar que o livro didático em questão é de língua portuguesa, é autorizado pelo MEC e defende o erro de concordância.
A matéria vai ao ar apresentada pelo jornalista Alan Severiano, ele apresenta uma página do livro em que os autores apresentam um exemplo com erros de concordância e fazem comentário de que não se pode considerar aquilo como erro, mas como desvio de linguagem, os autores  do livro aproveitam para discutir níveis de linguagem, variação linguística e preconceito linguístico. Após, uma das autoras do livro dá um depoimento concordando com as ideias defendidas em seu livro.
A matéria termina, e ao retornar ao estúdio, o apresentador-editor critica a posição da autora e o livro em questão, além de questionar o MEC por recomendar um livro assim, na concepção dele, com problemas, em seguida, o apresentador corrige dados apresentados no Jornal Nacional do dia anterior sobre o número de cursos de formação de professores, para, logo após, passar para a matéria seguinte.
O que o Jornal Nacional, ao apresentar uma matéria totalmente parcial, não leva em conta é que existe um campo de estudo chamado sociolinguística que defende que desvios padrões são permitidos em função de determinadas situações comunicativas, a página solta de um livro talvez não seja tão abrangente para fazer toda essa discussão, mas aponta para isso, quando menciona a questão do preconceito linguístico e da variação linguíistica, a escola precisa deixar claro para os alunos que existe uma norma culta, padrão, mas que existem inúmeras formas de comunicação, ou algum jovem fica preocupado com a norma culta ao bater papo no MSN?
O que Willian Bonner talvez não saiba é que os cursos de formação de professores, especificamente os de Letras e Pedagogia já trabalham com conceitos da sociolingüística há pelo menos 20 anos visando preparar o professor para atender a todas as camadas sociais que chegam à escola, que os PCNs de Língua Portuguesa, que são os parâmetros curriculares que servem para orientar as escolas de todo o Brasil na preparação de seus projetos pedagógicos já apresentam essa noção de desvio lingüístico no lugar de erro. Que esses PCNS foram lançados em 1996, ou seja, há pelo menos 15 anos o MEC discute a questão levantada no Jornal Nacional como uma denúncia educacional.
Sugiro ao editor e apresentador do Jornal Nacional ficar mais bem informado sobre questões educacionais e de linguagem, se não para informar corretamente à população, pelo menos para acompanhar seus filhos na escola, pois os mesmos devem entender melhor a sociolinguística  e a sutil diferença entre erro e desvio que o pai.
Carla Silva Machado*
Professora de Língua Portuguesa do curso de Comunicação Social
da  Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC/Ubá-MG)
Licenciada em Letras (UFV)/ Mestre em Educação (UFJF

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DA BIOPOLÍTCA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS À BATALHA NAS REDES: VOZES AUTÔNOMAS


VLADIMIR LACERDA SANTAFÉ* 

Resumo:

Palavras-chaves: movimentos sociais, multidão, redes, tecnologias digitais, biopolítica

"Digo não quando dizem sim em coro uníssono. Quero descobrir e revelar a face obscura, aquela que foi varrida dos compêndios de História por infame e degradante; quero descer ao renegado começo, sentir a consistência do barro com lama e sangue, capaz de enfrentar e superar a violência, a ambição, a mesquinhez, as leis do homem civilizado. Quero contar do amor impuro, quando ainda não se erguera um altar para a virtude. Digo não quando dizem sim, não tenho outro compromisso".
Jorge Amado, Tocaia Grande

É preciso dizer não algumas vezes, quando a violência se diz a lei e o homem civilizado não passa de uma sombra da sua ambição, algumas vezes é preciso gritar, mesmo que não se seja ouvido. O grito faz bem para os pulmões e para o futuro. Esse trabalho é um “grito” e uma tentativa de transformar em teoria as práticas e as incertezas de anos de militância. Militância que se confunde com as angústias da existência, com as “janelas quebradas”, os cacos espalhados no carpete, toda existência é um grito. Na sociedade atual, o que, com Negri e Hardt, chamamos de capitalismo cognitivo, as vozes são muitas, o poder é descentrado, mas atuante, algumas vezes essas vozes se concentram em uma única voz uníssona, mas é preciso dizer que as muitas vozes dissonantes formam um conjunto potente que faz frente a essa voz imperativa.
O que pretendemos nessas linhas tortas e inexatas, nesse feixe de representações que buscam um solo para cravar suas raízes e despedaça-las em seguida: fazer um mapa das redes desse poder difuso, e ao mesmo tempo eficaz, que molda nossos espíritos e corpos, a forma como o conjunto das informações é difundido, de como essa rede funciona estabelecendo uma axiomática, um consenso em torno de “verdades” disseminadas e represadas, pela circulação acelerada das informações e do consenso que se forma a partir delas, dos signos que se remetem infinitamente a essa rede que assegura o consenso em torno da economia de poder difundida e ressoada pelos aparelhos de Estado e seus meios de produção da informação. De como as pessoas se submetem, reproduzem e que tipo de poder atua sobre os seus corpos e mentes, quais os dispositivos tecnológicos utilizados, e até que ponto somos efeitos desses dispositivos e discursos de verdade. A informação, na realidade, que é retida e concentrada. A verdade é que não se informa, se diz o que se deve pensar. Mas até que ponto? Fazer um mapa do uso das novas tecnologias digitais, a criação das linhas de fuga e dos agenciamentos que as traçam, agenciamentos sempre animados por uma máquina de guerra, seja a partir das TVs Comunitárias, dos documentários produzidos pelos movimentos sociais, seja na utilização dos espaços disponibilizados pela Internet, um meio rizomático por excelência, seja a partir da ocupação dos espaços “tradicionais” de difusão de informações. Movimentos sociais que criam suas redes de resistência e criação, produzindo uma malha de significados que torna consistente a própria sociedade informacional que nos “alimenta”, significados não-determinados pelas grandes mídias, que perde terreno com as novas tecnologias digitais. Hoje, mais do que nunca, os movimentos sociais precisam enfrentar os desmandos das autoridades estatais e suas redes de captura, tal como o direitoso Sarkozy, que “afirmou que o controle e a regulamentação da rede devem ser impostos pelos Estados, para evitar anarquia, e que as grandes companhias da web não vivem em universo moral paralelo”, são por essas e outras que a autonomia dos grupos e das pessoas deve ser conquistada pela força das mobilizações globais, pelo grito dos divergentes que almejam um mundo sem sarkozys e monopólios midiáticos, e ainda mais profundamente, um mundo sem classes e sem mandos
.

Considerações: Esta tese de mestrado de Vladimir Lacerda  Santafé*,( que transcrevemos o resumo), reforça e fundamenta a essência da Educomunicação, embora não tenha sido  o propósito desse trabalho acadêmico. A tese ainda não foi publicada, porque foi defendida recentemente, dia 27 de maio de 2011, na ECO/UFRJ, quando  foi muita elogiada pela banca examinadora..A exposição foi gratificante para editora deste Blog, Zilda Ferreira.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um olhar sobre o Seminário do FNDC, no Rio de Janeiro

Um olhar sobre o encontro do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) no Rio de Janeiro, sobre o Marco Regulatório: propostas para uma comunicação democrática - 20-21 maio/2011

Antonio Fernando Araujo


O Brasil precisa estar pronto para “pôr sua própria casa em ordem” no que diz respeito a direitos humanos, se quiser ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, recomendou o indiano Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional, em 27 de abril passado, numa entrevista concedida ao Portal iG. Mais adiante assegurou: "O Brasil é um dos poucos países globalmente que reduziram a desigualdade – em muitos, a pobreza caiu, mas não a desigualdade, como no Brasil". Em que esse "dever de casa" poderia servir de exemplo aos demais aspectos da atuação brasileira, tanto no que diz respeito ao cenário interno quanto naquilo que aponta para o panorama internacional? O Oriente Médio e os países do norte da África mostraram isso de uma maneira clássica. As pessoas que estão protestando agora estão porque não têm emprego e porque não tem voz. Na semana seguinte ao ataque à escola de Realengo, o Rio de Janeiro sediou a maior feira latinoamericana de armas, a LAAD.

Se aos olhos do mundo podemos estar passando a impressão de que nos descuidamos de alguns outros aspectos do cotidiano nacional, no plano da democratização da comunicação no Brasil queremos agora "iniciar uma proposta de marco regulatório e organizar um grande movimento nacional com o objetivo de pressionar o Governo Federal para que apresente sua proposta para o setor", dizia o texto de convocação do Fórum, de tal forma que fique evidente que estamos aptos a definir uma avançada plataforma política para uma luta que visa, primordialmente, estabelecer um marco regulatório das comunicações com as feições típicas de uma legislação democrática, moderna e quem sabe, futurista até.

Ainda que em todos os quatro Grupos de Trabalhos (GT) em que se dividiram os participantes do Fórum, o nível técnico dos debates tenha alcançado o topo da sofisticação e isso tenha sido visto como uma virtude, houve quem, ao final, subisse à tribuna para fazer exortações. Uma delas, para rogar que ao término do evento, se incluísse entre as recomendações, a de não se levar a cabo qualquer ideia - ainda que de um mero plebiscito -, que implicasse, pelo menos por enquanto, numa convocação em que a "mãinha" de cada um de nós seja chamada a se pronunciar a respeito de qualquer um dos temas debatidos. - "Vamos levar uma surra!", sem dúvida, um mal presságio. Temeu-se, e não sem boa dose de razão, que todas as poucas conquistas voltadas para a democratização da comunicação no Brasil, a respeito da qual tanto já se discutiu, isso há alguns pares de anos, escorreriam facilmente pelo ralo, diante da singela constatação de que, provavelmente, as santas mãezinhas da maioria dos participantes do Fórum encontrariam sérias dificuldades para entender o porquê do governo tanto querer democratizar e tornar público o controle da comunicação no país quando todas elas estão "carecas de saber" que, na verdade, o que ele pretende mesmo é "censurar a imprensa livre".

Portanto, se por um lado a constatação de que a terrível desigualdade de conhecimentos técnicos entre os próprios participantes dos GT's, em última instância, ajudou a reproduzir no microcosmo do seminário a mastodôntica realidade do pouco saber político presente no macrocosmo brasileiro, tal verificação ainda serviu para que, ao menos no aspecto essencialmente técnico, as conclusões e recomendações do encontro não repetissem e muito menos divergissem em profundidade daquilo que foi prescrito em 2009 quando no governo Lula, Franklin Martins realizou a Iª CONFECOM (Conferência Nacional de Comunicação). Com sabedoria, cuidava-se assim de evitar desperdícios de tempo e esforços na ingrata tarefa de "reinvenção da roda". E isso parece ter sido levado em conta, bem assimilado no instante de formular o documento final do seminário, pois ficou lá escrito que a sociedade já contribuíra significativamente para essas discussões e que "as mais de 600 propostas ali aprovadas representam demandas de um conjunto significativo de cidadãos e cidadãs e entidades da sociedade civil, do poder público e do setor empresarial, e devem ser utilizadas como referência neste debate."

Resgatou-se dessa forma um elenco de preocupações objetivas já esboçadas anteriormente e agora aqui, novamente reproduzidas por gente da área da Comunicação vinda de todo o país, do Pará ao Rio Grande do Sul, passando por Brasília, Bahia, Paraná, Ceará, São Paulo e Minas quando abordaram o fato de que no longo processo de universalização da Banda Larga, não apenas o valor do serviço ou o preço de uma tarifa a ser paga pelo usuário deva constituir-se no único fator a ser levado em conta no instante de pensar na disseminação do acesso. Acresça-se a ele também os custos de todas as demais aquisições (micro, laptop, scanner, etc) e contratações (treinamento, manutenção, etc) e cuja experiência pioneira engatinhou na Comunidade Santa Marta, em Botafogo, Rio de Janeiro - contando inclusive com a intervenção de "lan-houses" locais, esses "Jardins da Infância" da blogosfera não reconhecidos pelo MEC -, e que demonstrou não serem nada desprezíveis. E se a universalização da Banda Larga que se pretende é um estupendo desafio atado à ideia inadiável da democratização da comunicação no Brasil como um todo - imprensa escrita inclusive - e não apenas dos veículos associados à radiodifusão, esses valores todos se somam ao fato de que, ainda assim, não interessa às concessionárias ou a quem quer que seja do Mercado levá-la até às populações ribeirinhas dos rios amazônicos e tampouco ao vasto universo periférico de uma metrópole qualquer, onde um jovem de escassos recursos ou uma escola modesta ver-se-iam de mão presas, sem saber como pleitear ou exigir uma "razoável" velocidade de transmissão, o fornecimento de um serviço contínuo e, principalmente, o provimento de um conjunto de recursos técnicos e operacionais que caracterizam a prestação desse serviço como algo de boa qualidade, ainda que já tivessem transposto a fase inicial de aquisição dos equipamentos.

Não fosse pela noção geral de que em todos os aspectos da comunicação no Brasil os imensuráveis interesses da poderosa mídia oligopolizada se fazem presentes no jogo, os debates estariam encerrados aqui. Sabemos, entretanto que a grande família GAFE da imprensa (Globo, Abril, Folha e Estadão) tem consciência de que o que eles concebem, os interesses patrimoniais e políticos que defendem, a censura que estabelecem em toda matéria onde se denunciam suas posturas antidemocráticas encontra em seus veículos a possibilidade ampla de repercussão, especialmente junto à classe média. Assim, consagram a ideia de que qualquer opinião contrária a de seus editoriais deve reverberar na sociedade como algo que ofende a liberdade de imprensa, se possível, impregnada dos hálitos da censura e dos controles arbitrários como nos tempos rançosos da ditadura.

E é exatamente isso que "mãinha" precisará entender. Pelo menos enquanto estiver claro para nós que ainda somos minoria, frágeis diante do poder midiático e financeiro da família GAFE. Embora possamos contar com a força disseminatória e de mobilização dos blogues e das redes sociais que bem ou mal estão dando alguma voz à "primavera árabe", não temos entretanto e no que diz respeito à democratização da comunicação, um discurso comum e de assimilação fácil pelo grande público que não seja um episódio de ilusionismo, mas ao contrário, algo que possa ser transformado numa bandeira de luta capaz de contaminar a multidão e levá-la a se contrapor aos discursos sombrios e ameaçadores daquela mídia hegemônica que teme perder seus privilégios, privilégios esses que, embora remanescentes aqui, já estão há muito extintos no restante do mundo civilizado. Mas é neste ponto que queremos chegar.

Bem antes de "mãinha" perceber o quão importante é o Estado regular os grandes portais, estabelecer a neutralidade da rede, definir que papel a Telebrás vai desempenhar, papel esse fruto do regime no qual o serviço da Banda Larga será prestado, fazer renascer o Conselho de Comunicação Social e, sujeito a outros, por sua vez criados nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal, "linkados" entre si e em diálogo com a realidade, uma Agência ou qualquer outro nome que se queira dar a um órgão regulador que não contenha o odor do neoliberalismo que criou as demais e sobretudo incorporar a Comunicação no grande marco regulatório que a Constituição de 88 concebeu para a Educação, para a Justiça e os Direitos Humanos, para a Ciência e Tecnologia e para a Cultura e que desde então procuram em conjunto, nortear com princípios democráticos as relações entre o Estado, o Mercado e a Sociedade, ela terá "que votar com a gente" carregando em si a plena convicção de que a Banda Larga no Brasil discrimina, é cara, lenta e para poucos e que esta geração está fadada a fazer o "dever de casa", sem poder se dar ao luxo de dispensar a contribuição dela porque o que se quer é que sejam estabelecidas as "regras que afirmem a liberdade de expressão e o direito à comunicação de toda a população, buscando garantir a pluralidade e a diversidade informativa e cultural", como consta da Carta final e ela tem que saber disso na ponta da língua, que não se trata de um sonho disparatado e muito menos de censura de qualquer espécie.

Assim e quase sem perceber ela estará ajudando a "pôr sua própria casa em ordem", vendo-a emergir desse caos social onde, em meio a complexidade tecnológica e a diversidade de conteúdos, está mergulhada a comunicação no Brasil e, conosco, estará concorrendo para que o avanço da democracia na esfera e na blogosfera, leve o país a se exibir ao mundo, não mais nessa posição desconfortável que o gráfico de jun/2009, do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) mostra, mas, ao contrário, com o perfil de uma nação que ostenta um otimismo desafiante para encarar o futuro, que coleciona um histórico de muitos anos de lutas bem sucedidas, como as descreveu um dos palestrantes no primeiro dia, e por mérito próprio, a fazer jus a uma posição de destaque, resultado de mais uma redução de desigualdades, de um "dever de casa" enfim, bem cumprido. Penso que foi isto que quisemos dizer quando, com a convicção de um apóstolo, aprovamos a Carta final na qual se pode lê: "este debate não pode ser feito sem o pleno envolvimento da sociedade brasileira, representada em toda a sua diversidade. De sua parte, as entidades participantes deste seminário se colocam a tarefa de organizar suas propostas em um documento que sintetize e aprofunde as referências da Iª Conferência Nacional de Comunicação, a fim de compartilhar esse acúmulo com o conjunto da população." 

quinta-feira, 7 de abril de 2011

" O poder da comunicação: a mídia contra o povo"

Dias 16 e 17 de abril, sábado e domingo, no Rio de Janeiro, os meios de comunicação serão a pauta do encontro O poder da comunicação: a mídia contra o povo. A proposta é estimular o debate sobre crítica à mídia e analisar impactos e formas de manipulação no jornalismo, na arte e na publicidade. O público-alvo são as vítimas dos meios de comunicação e o evento pretende ser um estímulo à reflexão sobre o papel opressivo da mídia. Será no auditório do Sindipetro-RJ, na av. passos, 34.  Será distribuído certificado aos participantes que se inscreverem com antecedência pelo endereço midiacontraopovo@gmail.com.

Programação

Dia 16, sábado:

9h – 12h - Linguagem e construção da informação:  Paula Máiran, Lívia Duarte  e Rodrigo Gueron  13h30 - 16h30 – Arte e publicidade: Eudemar de Souza e Claudia de Abreu

Dia 17, Domingo:

9h - 12h -Casos de Discriminação: Negros e Mulheres; Gas-Pa e Denise Viola

domingo, 3 de abril de 2011

Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão eo Direito à Comunicação com Participação Popular


 
por Luiz Carlos Azenha

Fui ao evento de sexta-feira à noite que marcou o pré-lançamento da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular.
O lançamento mesmo acontece no próximo dia 19 de abril, em Brasília, às 14 horas, no auditório Nereu Ramos do Congresso.
O objetivo inicial é lotar o auditório naquela data, o que nos leva desde já a estender o convite a todos os brasilienses que se interessam pelo assunto, especialmente aos blogueiros progressistas da Capital federal e seus leitores.
Os últimos dados, de ontem à noite, indicavam que havia 171 assinaturas de adesão à frente, mas por motivos óbvios a gente prefere falar em 170.
Do debate, na sede do Sindicato dos Bancários, participaram os deputados federais (atenção, anotem os nomes deles para as próximas eleições) Brizola Neto (PDT-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Emiliano José (PT-BA). A deputada Luisa Erundina (PSB-SP) não pôde comparecer por motivos pessoais.
De qualquer forma, ficou claro que pelo menos na esquerda existe um consenso de que é preciso fazer avançar o debate sobre a questão da comunicação no Brasil.
O evento serviu também para lançar “Jornalismo de Campanha e a Constituição de 1988″, de Emiliano José, autor também de “Imprensa e Poder, Ligações Perigosas”,  ambos editados pela Editora da Universidade Federal da Bahia.
Houve durante o debate apelos urgentes para que se impeça a aprovação do projeto que modifica a lei do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), conforme denúncia feita pelo coletivo Intervozes publicada, entre outros, pelo Viomundo (aqui).
Houve apelos para que o governo Dilma, que financia com milhões e milhões de reais o que se convencionou chamar de PIG, aprofunde a pulverização das verbas publicitárias oficiais e que faça isso não apenas por critérios de mercado, mas que visem a incentivar o pluralismo na produção de conteúdo.
Houve apelos — corretos, em minha modesta opinião — para que a Frente Parlamentar receba o reforço dos movimentos sociais. Ou seja, que a questão da comunicação esteja presente em todas as demais conferências nacionais setoriais promovidas no país.
O próprio deputado Emiliano José disse que, se a esquerda parece unida no Congresso em relação ao tema, é preciso agregar outras forças políticas, especialmente do centro, ao debate.
Movimentos sociais + centro político + Frente Parlamentar + blogueiros progressistas me parece uma combinação mínima para fazer avançar o debate, além da escolha de uma agenda mínima que seja consensual (Plano Nacional de Banda Larga, regulamentação da mídia eletrônica, propriedade cruzada e por aí vai).
Levantou-se a dúvida sobre o destino que seria dado ao projeto deixado pelo ministro Franklin Martins: será descartado por personagens que estão “costeando o alambrado”, como dizia Leonel Brizola?
O deputado Emiliano José voltou a dizer, conforme já havia escrito em artigo publicado pela CartaCapital e reproduzido aqui, que o namoro do PIG com o governo Dilma tem data para terminar: depois que forem concluídas as tentativas de desconstruir a imagem de Lula.
No particular, houve discordâncias em relação ao atual governo.
Por exemplo, no lamento “em off” de um dos participantes a respeito do poder de primeiro-ministro que Antonio Palocci tem no governo Dilma (que se estende até mesmo à Biblioteca Nacional).
Porém, se está claro que há divergências na avaliação que se faz do governo Dilma até aqui, não há dúvida de que a dura tarefa de modificar o panorama do setor midiático no Brasil exigirá uma ampla coalizão de forças em torno de uma agenda mínima.
Não nos resta outra alternativa, a não ser começar lotando o Nereu Ramos.

Nota da Equipe do Blog.
Nos dias 16 e 17 de , no Rio de Janeiro, na Sede do SINDIPETRO, O Forum "O poder da comunicação: A mídia contra o povo" com a participação de lideranças e educadores populares, vários palestrantes  vão discutir e analisar a manipulação da mídia e o direito à comunicação. Brevemente publicaremos a programação.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Para quem é blogueiro, twitteiro, ou se interessa por isso, segue uma dica

O 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas acontecerá nos dias 21 (sábado) e 22 (domingo) de agosto em São Paulo. O objetivo é contribuir para a democratização dos meios de comunicação e fortalecer as mídias alternativas. As inscrições já estão abertas.

Nós nos esforçamos ao máximo para viabilizá-lo em Brasília, mas o elevado custo de auditórios, acomodações e refeições e o prazo exíguo nos forçaram a rever o local. Tentaremos fazer o segundo em Brasília.

A programação está sendo montada. Por enquanto, temos apenas as linhas gerais. Na próxima semana, ela será concluída e divulgada.

O encontro começará no sábado às 9h com debate sobre o papel da blogosfera na democratização dos meios de comunicação. Participarão Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Eduardo Guimarães, Rodrigo Vianna e Leandro Fortes.

À tarde ocorrerão sessões com palestrantes para se discutir as questões legais: orientação jurídica para atuar na web, medidas contra ameaças, cerceamento à liberdade de expressão. Também ocorrerão oficinas sobre twitter, videoweb, rastreamento de trolls e debates sobre a sustentabilidade financeira dos blogs.

No domingo das 9h à 12 h, em reuniões em grupo, blogueiros dos vários estados trocarão experiências e discutirão os desafios da blogosfera. À tarde, plenária para apresentação, discussão e aprovação da Carta do 1º Encontro Nacional dos Blogueiros.

O evento será gravado e, depois, disponibilizado na rede.
*Inscrições, passagens, acomodação e refeições*
As inscrições custam 100 reais. Quanto mais rápidas, melhor para a organização do evento. Basta enviar e-mail para contato@baraodeitarare.org.br ou telefonar para (011)3054-1829. Falar com a Daniele Penha.

Para se inscrever, serão necessários os seguintes dados
* Nome/nicknane
* E-mail
* Endereço do blog
*Twitter ou outra rede social, caso participe. Preencha com a URL completa
* Telefone
* Cidade/Estado

A comissão organizadora está buscando patrocínios para garantir a gratuidade da hospedagem. Está em contato com uma empresa aérea para garantir desconto nas tarifas. Dependendo dos recursos levantados, o Encontro também arcará com as despesas de refeições e parte das passagens para os blogueiros de outros estados.

Daremos total transparência à origem dos recursos e à prestação de contas. Os blogueiros poderão acompanhá-la online.

*Amigos da blogosfera*

Para custear a participação de palestrantes e parte das despesas de blogueiros de outros estados, lançamos a campanha Amigos da Blogosfera. São 20 cotas de 3 mil reais.

Já confirmaram a compra de uma cota: Apeoesp, Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Viomundo , Conversa Afiada e Seja dita a verdade.

Se quiser ser mais um dos *Amigos da Blogosfera*, ligue para (011)3054-1829
** Comissão Organizadora*: Luiz Carlos Azenha, Altamiro Borges, Conceição Lemes, Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Antonio Arles, Renato Rovai, Rodrigo Vianna e Diego Casaes.

*Apoio institucional*: Centro de Estudos Barão de Itararé, Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) e Movimento dos Sem Mídia (MSM).

sábado, 10 de julho de 2010

Caderno da 1ª Conferência de Comunicação está disponível na Internet

Já está disponível na página da Secretaria de Comunicação do Governo Federal a versão eletrônica do Caderno da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro de 2009. A publicação registra a trajetória do evento, fruto de uma reivindicação histórica dos movimentos pela democratização da mídia, para inserir a sociedade no debate sobre a comunicação brasileira. 40% dos 1800 delegados participantes representaram o setor empresarial; 40% a sociedade civil organizada; e 20% o Governo. Ao final foram aprovadas 633 propostas, que devem orientar a formulação de leis e políticas públicas, além da revisão e da fiscalização da legislação existente. O Caderno está disponível em http://www.secom.gov.br/sobre-a-secom/publicacoes/confecom/confecom-pdf

Fonte: NPC

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” das elites capitalistas, através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes.

A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?
“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A prostituição n(d)a imprensa

Por Emir Sader

Ocupa quase três páginas diárias no jornal, sob o título Relax, com mais de 200 anúncios de prostitutas se oferecendo, das formas mais diversas. Oferecem-se, desde uma “paraguaia com dificuldades econômicas” até brasileiras que anunciam seus dotes, passando por uma “agência de contatos (sic) necessita senhoritas”, explicitando: “Experimente conosco, notará a diferença. Inclui alojamento.”

A coluna é do jornal El País, o de maior circulação na Espanha, de orientação socialista neoliberal. O negócio do sexo e sua publicidade rendem 50 milhões de euros por dia, 18 bilhões de euros por ano. 90% das prostitutas envolvidas são estrangeiras, metade delas são sulamericanas, 13% menores de idade. 300 mil mulheres são exploradas sexualmente na Espanha. 40 milhões de euros são arrecadados por jornais como El Pais
O governo espanhol, através do seu Ministério da Igualdade, dirigido por uma mulher, Bibiana Aído, tenta, há três anos, encontrar as formas de proibir esse tipo de publicidade, sem sucesso. “...enquanto continuem existindo anúncios de contatos na imprensa séria se estaria contribuindo para a normalização da exploração sexual”, razão pela qual deveriam ser eliminadas, afirma ela, que considera que os anúncios de prostituição “são uma vergonha” e “atentam contra a dignidade da mulher”.

Mas o Ministério que ela dirige busca formas legais que permitam atuar contra essa cínica atividade comercial da imprensa considerada “séria”, que resiste, alegando a “liberdade de expressão” – neste caso, significativamente vinculada, de forma direta à prostituição. Apelou-se para a “auto regulação”, tão a gosto os dos donos das empresas de comunicação, tanto lá, como aqui. Dois jornais – Público, de esquerda, e La Razón, nacionalista – decidiram que não aceitariam esse tipo de publicidade, mas os outros jornais continuaram a publicar e auferir os correspondentes milhões de euros, que lhes ajudam a enfrentar a crise financeira que afeta a todas as empresas de comunicação. Eles demandam “compensação financeira” – como ocorreu na França, para deixar de promover a prostituição, incluído a infantil, revelando o tipo de caráter, de moral que orienta aos donos da mídia privada. Justamente quando o governo promove um drástico corte de recursos sociais, vêm os empresários privados da mídia pedir essa “compensação”. Até nisso e nessa hora, querem faturar o deles.

Às vezes imprensa privada e prostituição tem muito mais em comum do que simplesmente a mercantilizaçã o da informação e a venda dos espaços para as oligarquias políticas tradicionais.

sábado, 8 de maio de 2010

Internet sob vigilância

Por Eduardo Guimarães

Sem saber como impor limites na rede aos políticos e aos partidos, Justiça Eleitoral demonstra apreensão com a nova realidade. "A controvérsia é muito nova, não há precedentes” , admite o ministro Marco Aurélio Mello. O TSE contará com a Polícia Federal, que investigará denúncias durante a campanha. Como a rede mundial de computadores ainda é um mundo novo para a Justiça Eleitoral, o TSE contará com a ajuda da Polícia Federal para identificar e punir abusos de candidatos e de partidos políticos.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está às cegas. E ainda não sabe como fará ao longo do ano para impor limites ao uso da internet pelos candidatos, partidos políticos e seus seguidores. Nesse trabalho de contenção dos abusos, a Justiça Eleitoral terá a ajuda da Polícia Federal, não só no que se refere a falsos dossiês, mas também na rede mundial de computadores.

A PF, entretanto, vai centralizar suas investigações, durante o período eleitoral, em fatos concretos para evitar ser tachada de ter uma atuação política. Ministro do TSE, Marco Aurélio Mello disse ao Correio que o fato de a internet ser um espaço novo para a propagação de mensagens eleitorais e de acusações contra adversários colocará a Justiça Eleitoral diante de uma situação sem precedentes.

Segundo ele, os eventuais abusos serão punidos pelos ministros conforme estabelece a resolução que trata do uso da web em período eleitoral. "A matéria é super nova. Nós não temos precedentes, mas iremos seguir a resolução que trata dos limites de atuação. Vamos aguardar o crivo do Judiciário e analisar caso a caso. É muito cedo para nos pronunciarmos porque a controvérsia é muito nova", afirmou Marco Aurélio.

O ministro aposentado Carlos Velloso, ex-presidente do TSE, que hoje tem mais liberdade para analisar os fatos, uma vez que não irá julgar eventuais ações que chegarem ao tribunal, é mais incisivo. Avalia que a imposição de limites à atuação dos candidatos será uma missão "praticamente impossível". "A Justiça Eleitoral vai ter muita dificuldade porque a internet é praticamente incontrolável. Porém, é preciso punir para coibir os abusos", disse.

Um dos primeiros testes da Justiça nessa seara será a reclamação feita na última sexta-feira pelo PT contra o PSDB por conta do site Gente que mente (www.gentequemente. org.br). Lá, há referências a obras inauguradas pela candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, e que não funcionam. Existe ainda uma charge do presidente Lula com um nariz comprido escrito "pinoquioteca".

O PT considerou a página ofensiva à imagem do presidente e à ex-ministra. O site foi registrado por Eduardo Graeff, tesoureiro do PSDB. O advogado tucano, Ricardo Penteado, disse que é "liberdade de expressão".
O Gente que mente é apenas um dos muitos que existem na rede com referência aos pré-candidatos. É comum inclusive o uso de palavrões nas páginas, e até mesmo alguns com referências aos políticos de Brasília, como por exemplo o www.roriznaomamae. com.br.

Redes sociais

A dificuldade que o TSE terá pela frente é traduzida em números. Em 2006, havia 32 milhões de internautas no Brasil. Em quatro anos, mais do que dobrou. Pulou para 66 milhões. De lá para cá surgiram também novos sites de relacionamento, como o Twitter, ferramenta apontada como fundamental para a eleição de Barack Obama nas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

O Facebook e o Orkut ganharam mais espaço no Brasil e não faltam sites falsos ou de ofensas a candidatos. No Orkut, existem várias comunidades com ofensas aos candidatos e aos partidos, como "Dilma - a arapuca de peruca", que tem 18.384 integrantes; "Dilma Rousseff - Terrorista", com 2.594; "José Serra é mentiroso", com 1.046; "PCC é fruto do PSDB", com 1.798; e ainda "Sou PT, mas juro, sou honesto", com 2.473.

Qualquer punição a candidatos ou partidos só ocorrerá a partir de denúncias apresentadas pelas legendas ou pelo Ministério Público. A explicação é simples: a Justiça Eleitoral só pode atuar se provocada, ou seja, não adota sanções por conta própria. Portanto, cada partido terá que procurar sites contra seus respectivos candidatos como agulha num palheiro e ainda torcer para que o TSE retire a ofensa do ar e puna os responsáveis.

Quem conhece os meandros da política avisa: "Não há controle. A guerrilha que vai acontecer na internet será cada vez mais forte daqui até outubro. E se houver algo falso, quem colocar estará sujeito às sanções do Código Penal, como ocorre com jornais, revistas, televisão e outros meios de comunicação. Afinal, a internet é um meio de comunicação", comenta o cientista político Murilo Aragão, da consultoria Arko Advice.

Ele, no entanto, minimiza o impacto dos sites numa campanha. "Não têm muito reflexo. Os sites mais acessados são sérios e não praticam essas ofensas. Muitos são pouco acessados e são mesmo coisa de fanático. E, se cometerem abusos, estarão sujeitos à lei", diz ele.

Dossiês

Além da internet, a Polícia Federal também estará de olho nos falsos dossiês. De acordo com o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, o surgimento deles é normal nesta época. "Nós não vamos permitir a utilização política. Só vamos atuar se houver, de fato, algo comprovado", disse Barreto. "Não vamos seguir dossiês apócrifos, mas, sim, seguiremos uma linha de Estado, como agimos nos períodos não eleitorais."

A Polícia Federal também tem orientado seu pessoal a não falar sobre as eleições, candidatos ou partidos políticos. A medida tem como objetivo evitar que a instituição seja acusada de favorecer qualquer um dos lados concorrentes.

Ficará a cargo da Coordenação-Geral de Defesa Institucional - antiga Divisão de Ordem Política e Social - o trabalho de fiscalização geral durante as eleições. Em cada capital haverá pelo menos um delegado destacado exclusivamente para o acompanhamento do pleito. Nos locais onde a corporação não atua, o papel será exercido pelas polícias Civil ou Militar.

A Polícia Federal já está montando um plano de trabalho com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que em março passado definiu qual será o papel da PF no processo. O plano, que será mantido sob sigilo até os dias que antecedem as eleições, tem como meta fazer a prevenção, principalmente, em casos relacionados a crimes virtuais (na internet) e até mesmo movimentações bancárias próximas ao pleito.

Para esse trabalho, a corporação deverá contar com o auxilio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda.

Punição

A Resolução nº 23.191/2009, que estabelece as regras eleitorais para a internet, prevê multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil a candidatos e partidos que fizerem propaganda eleitoral atribuindo indevidamente sua autoria a terceiros.

A legislação veda o anonimato de mensagens durante a campanha e garante o direito de resposta. Diz ainda que a propaganda eleitoral só estará permitida a partir de 5 de julho. A norma permite que sejam usados no período das eleições blogs, redes sociais e sites de mensagens instantâneas, de candidatos e de partidos, mas proíbe a propaganda paga na web.

Vamos aguardar o crivo do Judiciário e analisar caso a caso. É muito cedo para nos pronunciarmos porque a controvérsia é muito nova" Marco Aurélio Mello, ministro do TSE.

Colaborou Igor Silveira
Fonte: Correio Braziliense

sábado, 1 de maio de 2010

Quem controla a mídia?

* Por Venício Lima

Você já ouviu falar em Alexander Lebedev, Alexander Pugachev, Rupert Murdoch, Carlos Slim ou Nuno Rocha dos Santos Vasconcelos? Talvez não, mas eles já “controlam” boa parte da informação e do entretenimento que circulam no planeta e, muito provavelmente, chegam diariamente até você, leitor (a).

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a “fazer de conta” que as ameaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global, confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos mega empresários.

Na verdade, uma das consequências da crise internacional que atinge, sobretudo, a mídia impressa, tem sido a compra de títulos tradicionais por investidores – russos, árabes, australianos, latino-americanos, portugueses – cujo compromisso maior é exclusivamente o sucesso de seus negócios.

Aparentemente, não há espaço para o interesse público na Europa e nos Estados Unidos. Já aconteceu com os britânicos The Independent e The Evening Standard e com o France-Soir na França. Na Itália, rola uma briga de gigantes no mercado de televisão envolvendo o primeiro ministro e proprietário de mídia Silvio Berlusconi (Mediaset) e o australiano naturalizado americano Ropert Murdoch (Sky Itália). O mesmo acontece no leste europeu. Na Polônia, tanto o Fakt (o diário de maior tiragem), quanto o Polska (300 mil exemplares/dia) são controlados por grupos alemães.

Nos Estados Unidos, a News Corporation de Murdoch avança a passos largos: depois do New York Post, o principal tablóide do país, veio a Fox News, canal de notícias 24h na TV a cabo; o tradicionalíssimo The Wall Street Journal; o estúdio Fox Films e a editora Harper Collins. E o mexicano Carlos Slim é um dos novos acionistas do The New York Times.

E no Brasil?

Entre nós, anunciou-se recentemente que o Ongoing Media Group – apesar do nome, um grupo português – que edita o “Brasil Econômico” desde outubro, comprou o grupo “O Dia”, incluindo o “Meia Hora” e o jornal esportivo “Campeão”. O Ongoing detem 20% do grupo Impressa (português), é acionista da Portugal Telecom e controla o maior operador de TV a cabo de Portugal, o Zon Multimídia.

Aqui sempre tivemos concentração no controle da mídia, até porque, ao contrário do que acontece no resto do mundo, nunca houve preocupação do nosso legislador com a propriedade cruzada dos meios. Historicamente são poucos os grupos que controlam os principais veículos de comunicação, sejam eles impressos ou concessões do serviço público de rádio e televisão. Além disso, ainda padecemos do mal histórico do coronelismo eletrônico que vincula a mídia às oligarquias políticas regionais e locais desde pelo menos a metade do século passado.

Desde que a Emenda Constitucional n. 36, de 2002, permitiu a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, investidores globais no campo da informação e do entretenimento, atuam aqui. Considerada a convergência tecnológica, pode-se afirmar que eles, na verdade, chegaram antes, isto é, desde a privatização das telecomunicações.

Apesar da dificuldade de se obter informações confiáveis nesse setor, são conhecidas as ligações do Grupo Abril com a sul-africana Naspers; da NET/Globo com a Telmex (do grupo controlado por Carlos Slim) e da Globo com a News Corporation/ Sky.

Tudo indica, portanto, que, aos nossos problemas históricos, se acrescenta mais um, este contemporâneo. Quem ameaça a liberdade de expressão? Diante dessa tendência, aparentemente mundial, de onde partiria a verdadeira ameaça à liberdade de expressão?

Em matéria sobre o assunto publicada na revista Carta Capital n. 591 o conhecido professor da New York University, Crispin Miller, afirma em relação ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos: “O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet (...)”.

Todas estas questões deveriam servir de contrapeso para equilibrar a pauta imposta pela grande mídia brasileira em torno das “ameaças” a liberdade de expressão. Afinal, diante das tendências mundiais, quem, de fato, “controla” a mídia e representa perigo para as liberdades democráticas?

*Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP – UNB.

Fonte: Carta Maior

quinta-feira, 29 de abril de 2010

FALTA DE ESCRÚPULOS – OS MENTIROSOS

Por Laerte Braga

Quando alguém assiste a um desses filmes de ação em que agentes norte-americanos saem pelo mundo afora matando e destruindo tudo e todos em nome da segurança dos Estados Unidos, de tal forma já se acostumou com essa forma de agir que não percebe que ali não existe crítica alguma ao terrorismo do império. O que há de fato é exibição de poder, demonstração de força, afirmação da lei do mais forte e por baixo dos panos, um constante processo de alienação que transforma atores como Silvester Stalone ou Bruce Willys em espécie de super homens.

No fundo o que sentimos é exatamente o que eles querem. Um misto de admiração pela boçalidade e a constatação interior que somos inferiores.

Os braços dessa forma de terrorismo são compridos, atuam em todo o mundo e recentemente um líder do Hamas foi assassinado em Dubai por agentes ecretos do MOSSAD – Israel –, todos com nomes falsos, passaportes britânicos, alemães e belgas e a despeito das promessas de apurar os fatos e adotar as providências cabíveis, tudo está do mesmo tamanho.

É estreita a colaboração entre essas organizações.

Na trilogia Bourne, história de um oficial norte-americano que entra para um projeto especial de eliminação de inimigos dos EUA em qualquer parte do mundo, um jornalista do jornal inglês THE GUARDIAN é assassinado pela CIA por ter descoberto o que não podia, não devia e não deveria ser publicado.

Eliminar o jornalista sugere que o jornal publicaria os fatos. É uma intenção clara e manifesta no filme. O jornalista é o culpado de sua própria morte por colocar em risco a segurança dos EUA . O jornal entra ali aparentemente de adereço. Para que se suponha que sendo livre a expressão não iria hesitar em denunciar os crimes do terrorismo oficial da CIA.

Nos tempos de George Bush isso vinha chancelado pelo ATO PATRIÓTICO. Uma espécie de AI-5 para os cidadãos de qualquer parte ou canto do mundo que viessem colocar em risco a democracia cristã, ocidental e capitalista.

Escorado nesse absurdo Bush encheu Guantánamo de inocentes. Sem preocupações com qualquer reação da opinião pública transformou a base militar em território cubano ocupado em campo de concentração.

Mas isso é por lá, por aqui as coisas são diferentes, pelo menos é o que parece, só parece. Agentes estrangeiros atuam em estreita colaboração com setores das forças armadas (brasileiras, será que são?) no que chamam vigilância sobre a colônia palestina no sul do País. Ao tempo de FHC chegaram a insinuar que Osama bin Laden lá estivera buscando recursos para seu grupo e cogitaram de instalar uma base militar de “cooperação mútua” mais ou menos eles comandam e o mútuo fica por conta da limpeza das latrinas).

Um dos braços mais importantes, se não for o mais importante desse processo de recolonização e que parte da busca da alienação plena e absoluta é a mídia. Não temos uma mídia independente, brasileira, o chamado exercício da livre expressão é apenas o direito da mentira repetida a exaustão, até que um apresentador de jornal de tevê possa referir-se ao telespectador padrão do dito jornal como “Homer Simpson”. O idiota de uma série da tevê dos EUA.

Os índices de audiência do dito jornal continuam altos e milhares continuam respondendo ao jornalista em seu twitter quando ele pergunta “quem quer um bom dia diga sim”. Mais ou menos como uma criança no zoológico, naquela linguagem de crianças – essas são inocentes – exibe uma banana ao macaco.

Os impérios se sustentam na exploração de povos que oprimem, dominam ou alienam. Alienar pode significar algo como perder consciência de si próprio, aceitar transformar-se num objeto. Tem sido assim historicamente. Com os EUA não é diferente. As épocas é que são distintas e a forma de dominação obedece aos critérios do tempo e do espaço. Por exemplo, terceirizar as forças armadas, como acontece nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

Aquela história de “nossos rapazes” vira nossos mercenários”.

Os EUA hoje não são um país, tampouco uma nação. O modelo transformou-os numa empresa controlada por grupos sionistas (judeus fundamentalista/terroristas), banqueiros, grandes empresas e parceria com elites econômicas em todas as partes do mundo. No caso do Brasil, o conglomerado FIESP/DASLU, associação de supostos barões travestidos de comendadores e “patriotas”, todos gloriosos sonegadores e fraudadores de tudo quanto possa ser fraudado em benefício do lucro nosso de cada dia.

O entorno, ou seja, nós, mais ou menos como que numa máquina de moer carne. Vamos sendo moídos, moídos, até que imprestáveis, somos atirados a um canto qualquer de um almoxarifado qualquer. Um exemplo claro disso? O México e sua participação no NAFTA, tratado de livre comércio entre eles, os EUA e o Canadá. O México é o depósito de lixo.

Quem disse que os norte-americanos estão preocupados em acabar com o narcotráfico? Álvaro Uribe é o presidente da Colômbia e os bilhões de dólares do tráfico de droga vão parar nos bancos de grupos sionistas, europeus e norte-americanos. No máximo mantê-lo dentro de níveis aceitáveis, digamos assim. Estudos do próprio Pentágono mostram que a imensa maioria de soldados dos EUA usam drogas quando em situação de combate. Acaba sendo “necessidade” e fator de lucro.

Em todo esse processo há contratempos, lógico. De repente alguns povos se dão conta que são seres humanos, que têm um sentimento que os torna e forma parte de uma determinada nação e reagem.

No caso da América Latina governos eleitos pelo voto do povo como o da Venezuela, da Bolívia, do Equador, do Uruguai, do Paraguai, da Nicarágua, de El Salvador, além de Cuba (a propósito não noticiaram nada, mas domingo foi dia de eleição em Cuba) são transformados em veículos do terrorismo, contrários à democracia, risco para as liberdades.

Acionam todos os mecanismos de falta de escrúpulos para derrubá-los como fizeram com o de Honduras e transformam seus governantes em bandidos. Forjam um processo eleitoral e continuam prendendo, assassinando, torturando, tudo em nome das companhias que por lá estão.

A jóia da coroa na América Latina é o Brasil.

A perspectiva que possamos continuar de pé e buscando caminhos capazes de nos permitir a integridade do nosso território, a nossa soberania, liberdade e acima de tudo capacidade de sermos donos do nosso destino assusta os EUA.

Têm uma aposta num primeiro momento. José Collor Arruda Serra, retorno dos tempos de FHC.

Montaram uma coligação impressionante. O partido do candidato, PSDB, os principais meios de comunicação – GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA e outros de caráter regional), trouxeram a quadrilha DEM (latifundiários do transgênico nosso de cada dia), excluíram do noticiário pesquisas que não lhe agradam e forjam as que desejam vender aos Homer Simpsons, tocam o barco segundo planos e comando de Washington e Wall Street.

Nesta semana que chega ao fim, se tem falado muito do déficit de conta corrente do Brasil. O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meireles, veio a público explicar que não há problemas sérios.

Se existem ou não problemas sérios, essa não é a preocupação dos críticos do governo. O importante é deixar gravada na mente do Homer a expressão déficit. Sugere fracasso, incompetência e dá forças ao homem deles, José Collor Arruda Serra.

A história é outra. Ou os quinhentos são outros.

Três itens formam a conta corrente. A balança comercial (exportação versus importações). A conta de serviços (patentes, etc) e de rendas, ou seja, da circulação de dinheiro, empréstimos – entrada e saída –, pagamento de juros, REMESSA DE LUCROS, viagens e no caso das rendas, recursos enviados por brasileiros no exterior.

Não temos uma indústria nacional de veículos automotores. Abrimos mão ao contrário da Coréia, do Japão, dos países europeus, da China, da Índia.
Temos montadoras de empresas estrangeiras que usam componentes nacionais (fabricados por empresas estrangeiras) até um determinado limite e tecnologia (se paga por tecnologia) de outras empresas, de outros países, caso da CITROEN, que usa tecnologia em alguns itens desenvolvida em Israel.

FHC privatizou a EMBRAER quando a empresa era um êxito absoluto e hoje, no
caminho que estava, seria concorrente das grandes do mundo, inclusive na
fabricação de aviões de grande porte. Compramos submarinos nucleares
franceses quando dispomos de tecnologia para fazer tudo aqui. As verbas
foram sucateadas. A FAB fica sem voar, a não ser brincadeira, enquanto se
decide que empresa estrangeira vai nos fornecer aviões caças. Liquidaram a
IMBEL e a ENGESA quando o URUTU e o OSÓRIO competiam com vantagem sobre
similares estrangeiros. Votaram a lei de patentes para neutralizar qualquer
perspectiva de tecnologia sobre qualquer coisa e um grupo de espertalhões do Japão chegou a registrar o açaí.

A VALE, que quando VALE DO RIO DOCE era lucrativa e gerava tecnologias de
ponta no setor foi entregue a grupos estrangeiros e breve terá sua matriz na Suíça. É dona de parte do solo e subsolo do Brasil.

O Estado como instituição não tem que ter padaria. Mas os setores
estratégicos da economia são fundamentais. FHC tratou de rifá-los, é um
funcionário deles, Arruda Serra é o projeto para arrematar o processo.

A política externa do Brasil incomoda claro. Um desses remanescentes da era
jurássica, patriota por canalhice, no conceito de Samuel Johnson, referiu-se a Celso Amorim como “vá a m... Amorim”. Claro, ao contrário do antigo
ministro de FHC Celso Láfer, Amorim não tira os sapatos em um aeroporto em
New York e se deixa revistar pela imigração. Tem caráter, escrúpulos e
competência. Láfer nem sabe o que é isso. Um grito e tira os sapatos, cai de quatro.

Com a crise das montadoras norte-americanas e os meios adotados pelo
governo do Brasil (sem entrar no mérito) para evitar que a crise batesse
aqui, uma das razões do déficit de conta corrente é exatamente a remessa de
lucros para salvar a turma da matriz. Não foi só o dinheiro dado por Obama
não. O mundo dos países controlados pelo império pagou a maior parte da
conta e continua a pagar.

As medidas adotadas pelo governo brasileiro no auge da crise tiveram como
objetivo, por discutíveis que possam ser, evitar altos índices de
desemprego, entre outras coisas. O desemprego está em baixa.

Para os veículos de comunicação, a coligação PSDB/GLOBO/FOLHA DE SÃO
PAULO/VEJA/DEM, todos movidos por grandes capitais de empresas padrão
FIESP/DASLU, é preciso exibir a expressão déficit sem explicar que com eles
não haverá déficit, pois a escritura do Brasil será passada em caráter
definitivo e seremos BRAZIL.

Não têm escrúpulos, são mentirosos, não têm nada a ver nem com o Brasil e
muito menos com os brasileiros.

A opção é simples. Se vamos fazer como Celso Láfer, borrarmo-nos de medo e
tirar os sapatos, cair de quatro ou se vamos continuar de pé como Amorim.

Se de fato somos milhões de Homer Simpson, ou se somos sujeitos e donos de
nosso País, capazes de construir a nossa Nação.

Sabe quanto custa o curso da filha de Serra, por mês numa universidade
norte-americana? Sessenta dólares. Tem idéia do preço da mansão da moça em
Troncoso na Bahia (Serra passou o reveillon lá).

Li hoje e não duvido que, breve, se bobearmos, vamos pagar pedágio para
entrar em nossas próprias casas. Nossas? Será?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Registro para história da imprensa

O ministro do Paulo Vannuchi criticou a imprensa brasileira nesta terça-feira (30/03) “por agir como uma espécie de partido de oposição, (...) confundindo um papel que seria dela – informar, cobrar e denunciar – com o protagonismo partidário, que é transformar isso em ações de conteúdo unilateral". Não se trata de uma afirmação gratuita. Vem de uma confissão pública da presidente da Associação de Jornais (patronal), Judith Brito, que é também diretora-superinten dente da empresa que edita a Folha de S Paulo. Segundo Judith: "Na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos. É o que estamos fazendo”.

A afirmação de Judith se deu durante evento realizado há duas semanas em São Paulo, para associações patronais ligadas a jornais, revistas e TVs, para discutir a liberdade de imprensa. "A liberdade de imprensa não pode ser só a liberdade privada da imprensa brasileira", disse nesta segunda-feira (29/03) o presidente da CUT, Artur Henrique, botando o dedo bem no centro da ferida. Ele quer a realização de debates sobre a democratização dos meios de comunicação.

No embalo da CUT, durante o lançamento do PAC2, o presidente Lula também atacou: “Se o pesquisador do futuro recorrer aos jornais de hoje, contará uma historia mentirosa”. Obama, de um lado, Chávez, de outro, também andam a reclamar da imprensa dos seus países. O primeiro, porque um grupo de mídia lhe faz oposição sistemática. O Último porque foi a mídia que lhe apeou do poder em 2002, e porque continua tentando até hoje. Os choramingos de Serra e Berlusconi contra a imprensa não contam, são choros de barriga cheia.

“Lula disse bem”, diz Mino Carta na última Carta Capital. Nossa imprensa costuma ser conservadora em relação aos grandes temas da humanidade e se aliar automaticamente aos interesses de Washington, no campo da economia e da política. É capaz de denunciar, de pronto, supostas práticas desleais do comércio da China, mas se cala diante de comprovadas práticas desleais praticadas anos a fio pelos EUA. Como no caso do algodão, arbitrado pela OMC. Não quer Washington, também não quer nossa imprensa, que o Brasil seja recompensado na forma da lei internacional. Mas quer que o exército brasileiro invada a Bolívia por querer negociar preço justo para seu gás.

Tem razão Artur Henrique. Nossa mídia prefere condenar o governo cubano por também supostas lesões aos direitos humanos, mas se cala diante de torturas em cárceres dos Estados Unidos espalhados pelo mundo. Divulga sem cessar casos de enfrentamento de opositores diante do governo autoritário iraniano e esconde ou banaliza a chuva de bombas que Israel despeja sobre civis palestinos. Aceita como verdadeira a “gana” do Irã por armas atômicas (lembre-se das armas de destruição em massa do Iraque), mas se cala diante do arsenal atômico de Israel.

Também se cala diante de milhares de artefatos atômico nos arsenais das grandes potências. E aplaudem esses países demasiadamente armados, como diz o ministro Samuel Pinheiro Guimarães, quando “pretendem desarmar os desarmados totalmente, até o último estilingue”.
Nossa mídia defendeu o golpe contra Chávez em 2002, como defendeu o golpe contra Zelaya em 2009. E viu na eleição do novo presidente de Honduras, feita pelos golpistas, um processo limpo. Esqueceu de mostrar as dezenas de mortes de seguidores do presidente deposto.

A imprensa brasileira finge-se de morta para o novo perfil do Brasil diante das nações e faz cara de paisagem para o protagonismo do presidente Lula nas esferas internacionais. É uma história dos tempos de hoje que os pesquisadores do futuro poderão garimpar sem passar por mentirosos, desde que consultem os arquivos dos jornais de fora do Brasil. Como no exemplo do The Wall Street Journal desta segunda-feira (29/03), matéria de capa, em cuja visão, “Para o Brasil, finalmente é o amanhã". Mais: "A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas de nosso tempo. Não está somente redefinindo a América Latina, mas também a economia do mundo inteiro."

Fonte: Boletim H S Liberal.

O SHOW DA MÍDIA – TEM ATÉ XUXA

Por Laerte Braga

A autora de novelas Glória Perez, vítima de uma tragédia pessoal (a filha, atriz, foi assassinada de forma brutal e covarde), foi a São Paulo para assistir ao julgamento do casal Nardoni. Comentou o caso no Twitter e deu força ao promotor. “Não deixou pedra sobre pedra”.

Há quem diga que o empresário que se auto crucificou à porta do fórum para pedir justiça possa ter extrapolado, viva um momento de dificuldades e o seu gesto tenta chamar a atenção, essas coisas assim. Ganhar notoriedade, o show.

Não há diferença alguma entre o que o empresário e Glória Perez fizeram, exceto o destaque dado pela mídia a autora de novelas, que viveu situação semelhante. Só uma questão de tecnologia. O empresário usou um cenário barato e a GLOBO, que reproduz com destaque a presença de Glória Perez, abandonou o sentido da cruz, por acreditar que o céu seja o PROJAC.

Uma coisa é a dor de Glória Perez, outra coisa é essa dor levada a um palco sensacionalista.

Xuxa Meneghel deu seu palpite. Segundo a senhora em questão “quantas Isabelas terão que morrer para que tenhamos justiça?”. Confesso que não entendi, mas como a “rainha dos baixinhos” fez a pergunta ao lado da rainha Sílvia, da Suécia, deveria estar em alfa, numa conversa de rainhas.

São públicos e notórios os comentários, até denúncias, de maus tratos a meninos e meninas que compareciam ao programa de Xuxa naquela de ser figurante de um processo de idiotização em âmbito nacional.

Xuxa foi a escola de uma, duas gerações.

Já passa de uma centena o número de mulheres “apaixonadas” pelo promotor Francisco Cembranelli. Segundo alguns jornais, sites, blogs, as declarações surgem aos borbotões. “Estou apaixonada pelo promotor Francisco Cembranelli. Alguma outra mulher aí acha ele charmoso demais?” A pessoa se identifica num site de perguntas e respostas como Anise.

Teve resposta imediata. “Eu também me apaixonei por ele. Tudo começou depois que tive um sonho com ele, (...) foi maravilhoso. Era um beijo fervoroso, pena que eu acordei”. O nome é Lucy. Elaine Cristina foi mais contundente. “Com todo respeito você é o cara mais lindo que já vi. Pena ser casado, pois eu iria me casar com você. Te adoro e admiro seu trabalho, parabéns, adoro homens tímidos”.

E vai por aí afora.

Onde entra Isabela nisso?

Num texto atribuído ao lingüista norte-americano Noam Chomsky, um dos grandes pensadores e ativistas da atualidade (e há muito tempo), são dez as “estratégias de manipulação política”.

A “estratégia da distração”. Consiste em desviar a atenção do distinto público para o fato de diretores da ALSTOM terem sido presos na Grã Bretanha acusados de subornar políticos de vários países, entre os quais brasileiros, no caso específico, as obras do metrô de São Paulo (Alckimin, Maluf, Kassab e Serra, entre outros). Essa estratégia “impede ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia... Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais... Manter o público ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar”.

“Criar um problema para depois oferecer soluções”. “Cria-se um problema, uma situação prevista para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar”. Fala da violência urbana, transforma a boçalidade em “mal necessário”, a dose única, do remédio único.

A “estratégia da degradação”, combinada com a “estratégia do deferido”, que consiste em fazer com que sejam aceitas condições impostas pelas elites como flexibilidade dos salários para não perder emprego (o lucro do dono aumenta), ou a aceitação de uma medida impopular num sacrifício futuro, enquanto se espera, ingenuamente, o futuro chegar. Não chega nunca.

Ah! Olha a Xuxa aí. “Dirigir-se ao público como crianças de pouca idade”. Ipsis literis o seguinte. “A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante”.

“Usar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão”. O jeito de gerar um “curto circuito na análise racional e por fim ao sentido crítico dos indivíduos. Permite “abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos, temores, compulsões, ou induzir comportamentos”. Que nem aquele do cara fissurado na moça do pedágio. Coloca em seu carro um spray especial para veículos, um cheiro de vida e pronto, a moça larga tudo e vai para o lado dele. Já notaram que ambos parecem robôs?

“Manter o público na ignorância e na mediocridade”. Pegar o rebanho e torná-lo incapaz de compreender as tecnologias e métodos utilizados para seu controle e escravidão”. Manter dessa forma as separações entre as castas que formam nossa sociedade. Ou seja, a classe média, exemplo, afunda o nariz em VEJA, na FOLHA DE SÃO PAULO e entra no cheque especial para além da conta. A sala é uma beleza, o resto... Beija mão de Ermírio de Moraes que cresce com dinheiro público e destruindo o ambiente.

O resto jogam do alto da janela de um andar qualquer de um prédio qualquer e tem o nome de Isabela, ou Maria, o nome que seja.

“Promover ao público a ser complacente na mediocridade”. Vale dizer, “achar legal o fato de ser estúpido, vulgar e inculto”. Está aí o BOPE.

“Reforçar a revolta pela culpabilidade”. O único culpado do trabalhador ser explorado é ele próprio, portanto, aceite a exploração de maneira resignada, conforme-se, um dia, quem sabe você ganha na loteria e pronto? A resignação é o caminho para cair de quatro e engolir qualquer Arruda/Serra da vida e os milhões da empresa britânica que compra políticos brasileiros, leia-se, tucanos e democratas paulistas.

E, por fim, “conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem”. A essa altura do campeonato, na décima estratégia de manipulação, já formaram o idiota perfeito, é barbada. É só abrir a porta do curral e propor casamento ao promotor.

A GLOBO é perita nisso.

Chávez é culpado, o Irã vai destruir o mundo, Fidel Castro é o “demônio”, Edir, o Macedo salva, desde que o dízimo seja pago direitinho, Bento XVI estava ao lado do padre pedófilo e não viu nada, mas escondeu os documentos. Palestinos são “terroristas” porque resistem a entregar suas terras, suas vidas ao povo superior de Israel, o MST é um “bando de desordeiros” e os pobres rapazes que assaltaram uma “vagabunda” para “limpar” a cidade de “vagabundas”, assim como o Boninho, diretor do BBB joga água suja para marcá-las, esses não podem ficar presos, afinal são filhos das elites e estudam em faculdades para aprender as leis.

Quase impossível acreditar que o casal Nardoni seja inocente. É claro que não. Mas Daniel Dantas, o banqueiro, continua solto e Gilmar Mendes apita na chamada Corte Suprema.

“O MEU DIÁRIO DE GUANTÁNAMO” é um livro escrito por Rukhsana Mahvish Khan, uma norte-americana descendente de afegãos que foi intérprete entre os soldados/torturadores dos EUA e os presos no campo de concentração de Guantánamo, base militar em território saqueado a Cuba. Ali estão depoimentos de presos sem culpa formada, sem qualquer vínculo com o “terrorismo”, por simples suspeita, todos submetidos a afogamento simulado, asfixia simulada, etc, etc, violências e humilhações de natureza sexual, a escabrosa moléstia que infecta os Estados Unidos e transforma o império numa sociedade doentia.

É o modelo que vendem para a gente.

Quando trouxe a público, em seu livro, os dados sobre o verdadeiro terror, o dos torturadores, a autora foi afastada de suas funções de intérprete. São 288 páginas de horror, de barbárie sob o patrocínio da “liberdade” e da “democracia”.

É aí que o trem complica. Isso tipo de violência não interessa a mídia. Faz com que as pessoas descubram a realidade e pensem. Se começarem a pensar e a desligar os botões dos aparelhos de tevê, dana tudo para os donos.

Já notaram que toda a incrível cobertura do julgamento do casal Nardoni interfere em tudo menos no horário do BBB?