segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Colabore com a Iniciativa Carta da Terra

A Iniciativa Carta da Terra está participando de um concurso de vídeos promovido pela rede de notícias CNN. Você pode ajudar a Iniciativa Carta da Terra votando e pedindo votos a seus amigos. Confira abaixo o texto da campanha, enviado pela brasileira Mirian Vilela, diretora executiva da Carta da Terra Internacional a apoiadores dos princípios dessa Iniciativa em todo o mundo. Vote e divulgue a campanha. Faltam 20 dias para a COP15 - 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

"Estimados Amigos e Amigas da Carta da Terra,

Com a ajuda do Grupo de Trabalho em Comunicação da Carta da Terra, sediado na Holanda, foi desenvolvido um novo vídeo sobre Mudanças Climáticas e a Carta da Terra, que pode ser visto em nosso canal no You Tube e participa de um concurso da CNN. Nesta votação, necessitamos toda a ajuda possível.

Neste link de nossa página, informamos tudo sobre o concurso e nossa participação:

earthcharterinaction.org/contenido/articles/49/1/Nuevo-video-de-Cambio-Climatico-y-Carta-de-la-Tierra-/Page1.html

Convidamos os amigos e afiliados da Carta da Terra a se unirem a nós e tomar consciência da importância de incorporar os valores dessa Iniciativa e a ética como base de todos os acordos sobre mudanças climáticas.

Siga por favor estas instruções:

1. Acesse www.youtube.com/user/Cop15

2. Logo acima da tela, clique em "votar"

3. Em seguida, aparecerão, ao lado da tela, duas caixas de busca. Na segunda, de nome 'buscar um vídeo específico' ou 'search for a specific video', digite ecinternational

4. clique para exibir o vídeo Club of Rome Assembly and The Earth Charter e, assim que esse filmete começar a descarregar, clique sobre a caixa em fundo verde

Importante: as regras do concurso não são claras quanto a votos repetidos do mesmo usuário, apenas quanto a votos fraudulentos e automáticos.

Pedimos que os amigos divulguem esta mensagem e peçam votos para nosso vídeo.

Saudações,
Mirian Vilela - Diretora Executiva Carta da Terra Internacional"
www.cartadelatierra.org
A Carta da Terra em português
Minc, Ideli e a COP 15
A Terra está doente

Rádio e internet são as mídias de maior credibilidade, revela pesquisa

Do portal Comunique-se
Um estudo realizado pelo Instituto Vox Populi, encomendado pela Máquina da Notícia, aponta que o rádio e a internet são as mídias que despertam mais credibilidade entre os brasileiros. Em uma escala de 1 a 10, o rádio conquistou a maior nota (8,21), quase empatando com a internet (8,20), seguidos pela TV (8,12), jornal (7,99), revista (7,79) e redes sociais (7,74).

A pesquisa mostrou que as mídias apontadas pela credibilidade não são necessariamente as mais acessadas, já que a TV é vista pela maioria dos respondentes (99,3%), seguida por rádio (83,5%), jornal impresso (69,4%), internet - sites de notícias e blogs de jornalistas - (52,8%), revista impressa (51,1%), redes sociais - Twitter, Orkut, Facebook, etc - (42,7%), a versão online dos jornais impressos (37,4%) e a versão online das revistas impressas (22,8%).

O economista e coordenador da pesquisa, Luis Contreras, consultor do Grupo Máquina, destaca o avanço das redes sociais, que se aproximam do índice de credibilidade das demais fontes de informação. “Entre os usuários dessa nova mídia, 40% consideram-na como de credibilidade muito alta. Isso nos mostra claramente que não podemos ignorar o poder das redes sociais na formação de opinião”, enfatiza.

Entre os principais meios de informação, a TV continua na liderança (55,9%), seguida pela internet - sites de notícias/blogs jornalísticos - (20,4%), jornal impresso (10,5), rádio (7,8%), internet - redes sociais - 2,7%, jornal online (1,8%), revista impressa (0,8%) e revista online (0,1%).

O estudo entrevistou 2.500 pessoas maiores de 16 anos, entre 25/08 e 09/09, no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Livro que debate mídia e América Latina será lançado nesta terça, 17, no Rio

De autoria do jornalista Mário Augusto Jakobskind, o livro A América que não está na mídia (Altadena, R$ 25) será lançado nesta terça, dia 17 de novembro, às 19 horas, no mais carioca dos bares do Rio de Janeiro, o Bip-Bip, em Copacabana.

Com prefácio do jornalista Flavio Tavares e apresentação do coordenador do MST, João Pedro Stédile, além de comentário de Eduardo Galeano, A América que não está na mídia aborda questões relativas a vários países da América Latina e discute a cobertura jornalística e um continente que está em processo de transformação. A orelha é do jornalista Fausto Wolff (in memorian) e a capa do cartunista Carlos Latuff. Jakobskind acaba de lançar ainda, em Montevidéu, A pesar del bloqueo, 50 años de Revolución (sobre a Revolução Cubana), da editora Tropicana.

Carioca e apaixonado pela música popular brasileira, Jakobskind tem intensa atividade como jornalista e militante. É secretário geral do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SJPERJ), conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), integrante do Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato, correspondente do jornal uruguaio Brecha e nos últimos 25 anos tem se dedicado ao estudo da AL - Jakobskind publicou, entre outras obras sobre a região, América Latina, Histórias de Dominação e Libertação.
A América que não está na mídia. Lançamento. Terça, 17 de novembro, 19h. Bip-Bip (Rua Almirante Gonçalves, 50 - Copacabana, Rio de Janeiro). Chorinho com o grupo "Caçula e seus amigos"


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A palavra está com você, leitor

                                                                                                                                                            

 
Ah... que saudades da Graúna do Henfil!

Será que a Marina Silva, nossa senadora, vai ser uma Graúna no PV?

Há quem diga que não.

Será que ela vai ser um gás novo no PV para legitimar e modernizar os discursos dos neoliberais e dos neoverdes do partido?

Comente.

Antes (ou depois), conheça Henfil e Marina

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Por uma CPI do latifúndio midiático





Rosane Bertotti*
Em seu "O Livro dos Abraços", Eduardo Galeano nos conta de uma tribo
indígena que decepava a cabeça de seus adversários e as deixava
minguar até caber na palma da mão. Para impedir qualquer surpresa
desagradável, ainda costuravam sua boca.

Guardadas as proporções de sentido, é exatamente esta a direção do
empenho dos barões da mídia quando inundam a programação das "suas"
emissoras de rádio e televisão com desinformação e alienação. Entre
outros lixos tóxicos, despejam cotidianamente em milhões de lares
doses de apatia e criminalização dos movimentos sociais, a quem tentam
macular com os antivalores do oportunismo, da covardia e da violência.
Com a surrada fórmula da repetição, já que instrumentalizam os meios
de comunicação para contaminar e degradar o ambiente das relações
pessoais, buscam apequenar cérebros, silenciar falas, deturpar
conceitos...

Felizmente, há lições que ficaram, aprendidas pelos anos de engano e
manipulação, de edição de debates televisivos, de programas
editorializados que interpretavam a realidade ao bel prazer do
anunciante. Bem menos dócil e muito menos conformada, a população vem
fazendo a sua própria leitura, ampliando a independência, cortando os
fios que a buscavam conduzir mais para ser menos.

Compreendendo comunicação como direito humano, e comprometida
com a sua democratização, a CUT propôs, com o respaldo das demais
centrais sindicais, um projeto que dá vida à determinação
constitucional do direito de antena, garantindo a abertura de um
espaço que é público - mas erroneamente aproveitado de forma privada -
a estas entidades. Uma vez aprovado o projeto, encaminhado pelo
deputado Vicentinho, teremos o espaço sindical gratuito no rádio e na
televisão, nos mesmos moldes do horário eleitoral, conforme a
representatividade de cada central.

Assim que manifestamos a decisão, a reação fez-se ouvir por editoriais
e matérias consagradas a denunciar o desplante da "República
Sindical", havendo filas de colunistas, prenhes de mentiras e
calúnias, repetindo o jargão de seus patrões.

O que está por trás da CPI do MST senão a produção de desmemória
coletiva? Ou a repetição de uma tomada aérea de pés de laranja
arrancados é mais notícia do que a invasão de terras públicas pela
Cutrale? E o que dizer dos milhões de litros de pesticidas lançados
sobre o campo pelo agronegócio, concentrador de renda, que polui,
desemprega e mata? Por que a campanha pela redução da jornada para 40
horas semanais não aparece no noticiário, nem os milhares de mutilados
e lesionados pela intensidade do ritmo de trabalho, pela precarização?
Por que não há reportagens sobre os que enriqueceram com as
privatizações/ desnacionalizaçõ es durante o desgoverno FHC? Por que a
cratera do metrô, que matou em São Paulo, não ganha destaque, assim
como os pedágios mais caros do Brasil, que ficam no mesmo Estado, e os
piores salários de policiais e professores? Para que serve a
propaganda da Sabesp no Nordeste? Afinal, quantas vezes você leu, viu
ou ouviu que o relatório da Polícia Federal sustenta que "uma das
atividades em que atua a organização criminosa, liderada por Daniel
Dantas, é na compra e venda de fazendas, gado e outros negócios
agropecuários" ? Por que os que se dizem defensores da liberdade de
imprensa e do debate se retiraram da Conferência Nacional de
Comunicação e não querem debater a comunicação como política pública
com participação social?

Será por que é necessária uma CPI do latifúndio midiático?
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*Rosane Bertotti é secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e membro da Comissão Organizadora da Conferência de Comunicação, a Confecom


Grupo de Sarney invade Sindicato em lançamento de livro



publicado no Blog do Rovai em 5 de novembro de 2009
Ontem à noite o jornalista Palmério Dória lançou em São Luis, Maranhão, o livro Honoráveis Bandidos, onde trata da história da oligarquia Sarney. O evento acontecia na sede do Sindicato dos Bancários, no centro da cidade, quando um grupo ligado à família do senador invadiu o auditório e atacou os presentes segundo depoimento do deputado federal Domingos Dutra (PT-MA) que estava no local. Segue a entrevista de Dutra, que chama Sarney de quadrilheiro.

RENATO ROVAI - O que aconteceu ontem, deputado?
DOMINGOS DUTRA - Estávamos reunidos para o lançamento do livro do Palmério Dória quando de 15 a 20 pessoas invadiram o recinto e começaram a lançar ovos, pedras, cadeiras. Virou um tumulto muito grande. Esse livro está exposto em livrarias de todas as capitais do país, mas no Maranhão você não encontra em nenhuma. Além disso, para divulgar o evento a gente contratou uma empresa que coloca outdoors nas ruas da cidade. Mas a 48 horas do evento eles devolveram o dinheiro dizendo que tinham sido ameaçados e que não tinham como fazer o trabalho.

RR - Vocês identificaram os agressores?
DUTRA - É uma garotada secundarista. No Maranhão, os Sarney tem tradição de fazer isso. Eles pegam uns grupos de jovens para fazer esses tumultos. Uma delas deixou a bolsa cair, chama-se Ana Paula, e nós já entregamos os documentos dela na polícia.

RR - Alguém ficou ferido, deputado?
DUTRA - Da nossa parte, quatro pessoas.

RR - Quantas pessoas haviam no lançamento?
DUTRA - Umas 300 pessoas ou mais. O auditório estava lotado. Sai de lá às 23h30 e ainda tinha muita gente na fila para o autógrafo. Agora o que precisa ser dito é que o que o Sarney está fazendo no Maranhão é terrorismo. Recentemente foi cassado um juiz de direito. Há 15 dias cassaram o prefeito de Barreirinhas, do PT, capital dos Lençóis, onde a Petrobras está prospectando petróleo e gás. No lugar foi colocado o sobrinho do Sarney. Além disso, o Sarney conseguiu censurar até o Estadão e está tentando fechar o Jornal Pequeno, mas não imaginávamos que eles teriam coragem de fazer algo como isso, até porque a sede do Sindicato dos Bancários fica no centro da cidade.

RR - Mas o PT é aliado do Sarney no plano nacional?
DUTRA - Lamento o equívoco do presidente Lula e de parte do PT que dá sustentação a esse quadrilheiro. O presidente Lula deve sofrer chantagem todos os dias do Renan e do Sarney. Este pessoal vota a favor do governo, mas mediante pagamentos. Eles tem a Funasa, o Correio, três ministérios e cargos nos estados. No Maranhão, nós do PT só temos a delegacia de agricultura familiar e os escritórios da pesca e da terra legal. No resto, ele manda em tudo. Respeito as opções do presidente Lula, mas eu nem morto estarei com o Sarney. O governo Lula é bom no social, no econômico, mas no político é um retrocesso. Eles juram amor eterno ao Lula aqui em Brasília e nos estados querem matar o PT.
Saiba mais sobre o livro que provocou a ira da família Sarney

Salvemo-nos com o Planeta!

* Por Pedro Casaldáliga

Vinte anos atrás tratavam de ecologia umas poucas pessoas, tachadas inclusive de bucólicas ou de derrotistas. Não era um tema sério nem para a política nem para a educação nem para a religião. Podia-se venerar a Francisco de Assis como santo das flores e dos pássaros, mas sem maior compromisso. Agora, e quem sabe se tarde demais, o mundo inteiro está-se sensibilizando, atordoado pelas notícias e pelas imagens de cataclismos atuais e de previsões pessimistas que enchem os nossos telejornais. E já são muitos os congressos e os programas que ventilam como um tema vital a ecologia, desnudando as causas e urgindo propostas concretas acerca do meio ambiente. Até as crianças sabem agora de ecologia.

O tema é novo, então, e desesperadamente urgente. Acabamos por descobrir a Terra, nosso Planeta, como a casa comum, a única que temos, e estamos descobrindo que somos uma unidade indissolúvel de relações e de futuro.

Frente aos gastos astronômicos nos espaços siderais, frente ao assassino negócio do armamentismo, frente ao consumismo e luxo de uma privilegiada parcela da Humanidade, agora vamos sabendo que o desafio é cuidar deste Planeta. A última grande crise, filha do capitalismo neoliberal, embrutecido na usura e o esbanjamento, que vem ignorando cinicamente tanto o sofrimento dos pobres como as limitações reais da Terra, está-nos ajudando a abrir os olhos e esperamos que também o coração. Leonardo Boff define o grito da Terra como o grito dos pobres e James Lovelock nos avisa acerca da “vingança da Terra” - a teoria de Gaia e o futuro da Humanidade -. "Durante milhares de anos, diz Lovelock, a Humanidade vem abusando da Terra sem ter em conta as consequências. Agora, que o aquecimento global e o cambio climático são evidentes para qualquer observador imparcial, a Terra começa a se vingar". Estamos tratando a Terra como um assunto apenas econômico e exigimos da Terra muitos deveres, mas ignoramos os direitos da Terra.

Certos especialistas e certas instituições internacionais nos vêm mentindo. A mão invisível do Mercado não resolvia o desastre mundial. Quanto mais livre era o comercio mais real era a fome. Segundo a FAO, em 2007 havia 860 milhões de famintos; em Janeiro de 2009 109 milhões mais. A metade da população africana subsaariana, por citar um exemplo dessa África crucificada, mal vive na extrema pobreza. A ladainha de violência e desgraças provocadas é interminável. No Congo há 30.000 meninos soldados dispostos a matar e a morrer a troco de comida; 17% da floresta amazônica foram destruídos em cinco anos, entre 2000 e 2005; o gasto da América Latina e do Caribe em defesa cresceu um 91%, entre 2003 e 2008; uma dezena de empresas multinacionais controla o mercado de sementes em todo o mundo. Os Objetivos do Milênio se evaporaram na retórica e em suas reuniões elitistas os países mais ricos dizem covardemente que não podem fazer mais para reverter o quadro.

É tradição de a nossa Agenda Latino-americana Mundial enfrentar a cada ano um tema maior, de atualidade quente. Não podíamos, logicamente, deixar de lado este tema vulcânico. O tema é amplo e complexo. Somos nós ou é o Planeta quem está em crise mortal? Baralhamos três títulos para a Agenda Latino-americana Mundial de 2010 que apontam para possíveis focos: "Salvar o Planeta", "Salvaremos o Planeta?", "Salvemo-nos com o Planeta". Optamos pelo último título, porque técnicos e profetas nos vêm recordando que nós somos o Planeta também; somos Gaia, estamos despertando para uma visão mais holística, mais integral; estamos descobrindo, finalmente, que o Planeta Terra é também o Planeta Água. Um recente livro infantil intitula-se precisamente “Ajudo ao meu Planeta”. A salvação do Planeta é a nossa salvação, e não faltam especialistas que afirmem que o Planeta vai se salvar seguindo o curso do Universo e, entretanto, a vida humana e todas as vidas do Planeta serão um sombrio passado.

A Agenda Latino-americana Mundial de 2010 não quer ser pessimista, não pode sê-lo. Quer ser realista, se comprometer com a realidade e abraçar vitalmente as causas que promovem uma ecologia esperançada e esperançadora. Essa ecologia profunda, integral, deve incluir todos os aspetos da nossa vida pessoal, familiar, social, política, cultural, religiosa... E todas as instituições políticas e sociais, em nível local, nacional e internacional, têm de fazer programa seu fundamental "a salvação do Planeta".

É imprescindível uma globalização de signo positivo, trabalhando pela mundialização da ecologia. Rechaçando e superando a atual democracia de baixa intensidade urge implantar uma democracia de intensidade máxima e, mais explicitamente, uma "biocracia cósmica". Urge criar, estimular, potenciar, em todas as religiões e em todos os humanismos uma espiritualidade "profunda e total" de signo positivo, de atitude profética na libertação de todo tipo de escravidão; vivendo e militando por uma nova valoração de toda vida, da matéria, do corpo, do eros. O ecofeminismo sai ao encontro de um desafio fundamental, Gaia é feminina. Impõe-se uma nova relação com a natureza, naturalizando-nos como natureza que somos e humanizando a natureza na qual vivemos e da qual dependemos. Eu sou eu e a natureza que me circunda, diria o filósofo.

O melhor que tem a Terra é a Humanidade, apesar de todas as loucuras que temos cometido e seguimos cometendo, verdadeiros genocídios e verdadeiros suicídios coletivos. Propiciando essa mudança radical que se postula e proclamando que é possível outra ecologia em outra sociedade humana, fazemos nossos estes dois pontos do Manifesto da Ecologia Profunda: "A mudança ideológica consiste principalmente em valorizar a qualidade da vida - de viver em situações de valor intrínsecas - mais do que tratar incessantemente de conseguir um nível de vida mais elevado. Terá que se produzir uma tomada de consciência profunda da diferença que há entre crescimento material e o crescimento pessoal independente da acumulação de bens tangíveis". E acrescenta o Manifesto: "Quem subscreve os pontos que se enunciam no Manifesto tem a obrigação direta ou indireta de agir para que se produzam estas mudanças, necessárias para a sobrevivência de todas as espécies do Planeta", incluindo «a santa e pecadora» espécie humana.

Militantes e intelectuais comprometidos com as grandes causas estão preparando uma Declaração Universal do Bem Comum Planetário que se expressa através de quatro pactos: 1) o Pacto Ecológico Natural, responsável de proteger a Terra; 2) o Pacto Ecológico Social, responsável de unir todas as esperanças e vontades; 3) o Pacto Ecológico Cultural, que deve estar baseado na promoção do pluralismo, da tolerância e do encontro da Humanidade com os ecossistemas, os biomas, a vida do Planeta; e 4) o Pacto Ecológico Ético Espiritual, fundado na dimensão do cuidado, a compaixão, a corresponsabilidade de todos com tudo.

Devemos escutar o que nos dizem simultaneamente as novas ciências e as novas teologias. Queremos viver este kairos ecológico de militância e de mística com o Deus de todos os nomes e de todas as utopias. Com Jesus de Nazaré muitos libertários, profetas e mártires em Nossa América nos precedem e nos acompanham nesta marcha pelo deserto para "a Terra sem Males".

É uma utopia absurda? Só utopicamente nos salvaremos. A arrogância dos poderes, o lucro desenfreado, a prepotência, as claudicações, vêm a nos desanimar; mas nós nos negamos ao desânimo, à corrupção, à resignação. A Pachamama e Gaia estão vivas, são vivificadoras. Nenhuma estrutura de morte terá mais poder do que a Vida.

* Pedro Casaldáliga é bispo emérito de São Félix do Araguaia, MT, e apresenta a Agenda Latino-Americana Mundial 2010.


Fonte: MST / Instituto Humanitas Unisinos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Caetano e os analfabetos

Por Miguel do Rosário

A história ensina a não confiar nos artistas. A quantidade de artistas que aderiram às teses de Mussolini, alguns mesmos tornando-se verdadeiros heróis do Il Duce, como o poeta D'Annunzio, já mostra que um artista entende tanto de política quanto de matemática. Por acaso, há artistas que entendem de política, como há artistas que talvez entendam de matemática; mas trata-se, por assim dizer, de coincidências.

Nosso alegre boêmio, Augusto Frederico Schmidt, por exemplo, apoiou o golpe de Estado de 1964, ou pelo menos foi isso que os jornais deram a entender, quando publicaram manchete com uma frase sua favorável ao regime. Céline teve que esperar alguns anos antes de poder retornar a França, pois havia sido condenado à morte por causa de sua posição dúbia - em alguns momentos até favorável - quanto ao nazismo; e o incomparável Knut Hansum, que escrevera o romance mais doloroso do século XX, A Fome (que traz a descrição mais humana, mais viva e mais autêntica da fome, segundo Josué de Castro), filiou-se entusiasticamente ao partido nazista, recebendo, inclusive, condecorações!

Portanto, não estranhem quando um grande artista como Caetano Veloso dá voz a preconceitos tão mesquinhos, como fez na entrevista ao Estadão, na qual declarou que "votava em Marina porque ela não era analfabeta como Lula".

Dias depois, o "cafona", o "grosseiro", era, pela enésima vez, recebido pela rainha da Inglaterra, que tinha um sorriso sincero e admirativo no rosto. O Primeiro Mundo nem sempre foi o mar de rosas pacífico, limpo e desenvolvido que gostamos de imaginar. Inglaterra, França e EUA já viveram fome, guerra, miséria, revoluções, e aprenderam que somente superaram suas dificuldades em virtude da sabedoria, criatividade e força dos homens simples, dos homens do povo.

Afinal, o que é ser "analfabeto" para Caetano? Sua crítica, aliás, está na boca de muita gente. Há uma consciência de classe muito específica aqui. Sim, porque, a questão não é saber ler ou não, pois Lula sabe ler muito bem. A questão é possuir uma determinada cultura, mas qual é, exatamente, essa cultura? São os clássicos? Lula deveria ter lido a Ilíada, de Homero? Aí entramos numa situação curiosa. É que Homero era, ele sim, um analfabeto, e no caso dele, porque, segundo a maioria dos pesquisadores, o alfabeto grego ainda não fora inventado. Andei lendo bastante sobre isso, e descobri que uma das teorias mais respeitadas entre os estudiosos é que a pessoa que inventou o alfabeto grego (que é uma cópia do fenício, adaptada ao vocabulário grego) o fez justamente para anotar os versos de Homero. A seguinte cena deve ser imaginada: Homero recitando os versos para que esse astuto e pioneiro escrivão anote-os, e daí nasce a literatura ocidental!

Não precisamos ir tão longe. Antropólogos e historiadores vem estudando com muito afinco, desde os anos 60, o poder das culturas populares, baseadas sobretudo na tradição oral. Pode-se transmitir conhecimentos oralmente? É claro que sim, pois de outra maneira qual o sentido de pagarmos 120 mil dólares para ouvir um professor "falar" sobre Platão, numa sala em Harvard? Não poderíamos, simplesmente, ler Platão no conforto de nossa casa - e sem gastar os 120 mil dólares?

A íntegra do texto pode ser lida no site Oleo do Diabo

Atualização: Caetano tenta minimizar o que disse, mas quanto mais peleja para se explicar... leia

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Especial Educomunicação Ambiental - Entrevista: Heitor Queiroz de Medeiros

Por Sucena Shkrada Resk

Em entrevista, HEITOR QUEIROZ DE MEDEIROS fala sobre os caminhos da EDUCOMUNICAÇÃO AMBIENTAL no Brasil. O historiador e Doutor em Ecologia e Recursos Naturais é um dos fundadores da Revista Brasileira de Educação Ambiental. Também atua como professor-visitante na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), na área de Mestrado em Ciências Ambientais, Departamento de Ciências Biológicas e Departamento de Agronomia.

Confira os principais trechos:

BLOG CIDADÃOS DO MUNDO - Qual é o papel da Educomunicação e a sua importância no processo de empoderamento da sociedade?
HEITOR MEDEIROS - ... a educomunicação é importante pela capacidade de poder potencializar as informações em educação ambiental, principalmente com relação ao eixo não-escolarizado. É evidente, que dentro das escolas, também esse tipo de comunicação tem valor, mas é um locus específico de trabalho de professores e alunos.

Um dos grandes desafios da educação ambiental é no campo difuso e não-formal. É a capacidade de aprender a utilizar com eficiência veículos de comunicação, das mais diversas formas, sabendo que hoje no Brasil, existe um esforço muito grande na área de EA em trabalhar com o conceito Educomunicação.

Uma coisa é trabalhar a educação dentro dos veículos de comunicação de massa e utilizar a capacidade de capilaridade que eles têm. Outra coisa é você ter a capacidade de fazer com que as pessoas possam produzir os seus próprios materiais educacionais e que isso se transforme em um projeto pedagógico, desde os sinais de fumaça ou rufar de tambores aos potenciais da Internet.

O objetivo é que as pessoas conquistem autonomia, para não ficarem dependentes dos veículos de massa, que são importantes, mas também têm suas dificuldades com as linhas editoriais. Muitas vezes, estão compromissadas com o Capital e com os capitalistas, mais do que com a transformação necessária para um novo modelo de sociedade. Mas isso não significa que a gente não possa usar esse instrumento, por causa disso.

CIDADÃOS – Quem são os principais atores no processo de Educomunicação e como acontece a capacitação?

HM - A Educomunicação, na verdade, é a capacidade que você tem de utilizar as informações. Isso quer dizer utilizar a comunicação no processo do fazer pedagógico, de trabalhar na formação das pessoas, para que tenham autonomia. Daí você passa pela discussão da democratização, inclusive, dos veículos de comunicação, o que é fundamental.

Eu considero que cresce hoje no Brasil uma demanda de jovens e educadores ambientais pela melhoria da condição de trabalhar, a partir dessa proposta. É um desafio muito grande entender o que é, e como a gente faz isso.

Quanto ao aspecto de capacitação, quando se fala de política pública, não está só se tratando do Governo, mas do controle social por parte da sociedade civil. Existe uma proposta metodológica de trabalhar isso, e que o órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental vem trabalhando há algum tempo. Eu acredito que isso está razoavelmente consolidado no espaço das educadoras e educadores ambientais, o que possibilita a autonomia da sociedade.

CIDADÃOS – Empoderar os cidadãos significa substituir o papel do poder público na EA?

HM - Empoderar os cidadãos não significa que o poder público não deva liderar o processo de EA. O que quero dizer é que quando o governo não tiver condições, interesse, política, vontade e dinheiro, a gente tem de ter capacidade de fazer, enquanto sociedade. Esse é o grande ‘barato’ da Educomunicação. Não pode se atrelar a uma dependência institucional do poder público, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que lançou a proposta conceitual para ser adotada no Brasil no ano passado (o conceito proposto hoje pela educomunicação vem amadurecendo, pelo o menos há três décadas, na América Latina, com educadores como Paulo Freire e se estruturando com mais ênfase, a partir da Rio 92). Não podemos esquecer que a pasta tem o menor orçamento da Esplanada dos Ministérios, o que implica um contexto complexo.

Existe recurso para destruir a natureza, para a agricultura, para fazer (péssima) política na área da saúde, que são áreas que dão visibilidade aos políticos, mas no segmento ambiental, os recursos são muito poucos. Acredito que hoje, no MMA, teremos muita dificuldade para potencializar as políticas anteriores. Em contrapartida, acho que temos um conceito estabelecido e experiências no país, que mostram que isso é possível a sociedade se apropriar disso, e dar continuidade no processo.

CIDADÃOS – Pode citar algum exemplo?

HM - Os Coletivos Jovens (CJs) do Meio Ambiente, articulados pelo órgão gestor e principalmente pelo Ministério da Educação (MEC), hoje têm capilaridade no Brasil inteiro. Eu venho da velha militância do Movimento Ecológico e sempre faço uma autocrítica, dizendo que um dos maiores erros nossos foi não investir intencionalmente em novas lideranças.

Os CJs são essas novas lideranças...trabalhando com uma lógica muito bacana, pois não querem tutela para agir. O repertório e práticas de Educomunicação estão no repertório deles. Isso é um dos exemplos concretos. A proposta desses jovens é “meio anárquica”, pois se já se envelhece e vira burocrata, quando é jovem, não há salvação para o planeta.

CIDADÃOS – Fale sobre a proposta da Revista Brasileira da Educação Ambiental.

HM - Em 2004, eu e a professora Michelle Sato (bióloga, mestre em Filosofia e pós-doutora em Educação), por meio da Rede Matogrossense de Educação Ambiental, chegamos à conclusão, que uma das contribuições que poderíamos dar à REBEA, seria editar uma revista específica de EA, que não tivesse proposta de ser só acadêmica, porque diversas universidades já mantêm esse trabalho. Assim, surgiu a Revista Brasileira de Educação Ambiental, da REBEA, com proposta de publicar experiências de EA no Brasil inteiro, para dar visibilidade a essas publicações, sem excluir trabalhos científicos. Temos cinco exemplares até agora, sendo que o quinto foi lançado no VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental.

A ideia é que a revista não tenha ‘dono’, pois queremos trabalhar com a cultura de rede e horizontalidade. Achamos por bem, que a cada ano do Fórum se mude a coordenação editorial, que agora passará a dois professores-doutores - José Vicente de Freitas e Maria do Carmo Galiazzi- ambos da Universidade do Rio Grande (FURG), que tem mestrado em EA. Com isso, eu e Michelle passamos para o Conselho Editorial. Essa proposta de alterações na coordenação editorial deve prosseguir a cada Fórum, como forma de democratizar o processo de construção da publicação.


* a entrevista de Heitor Queiróz de Medeiros sobre Educomunicação Ambiental foi concedida ao Blog Cidadãos do Mundo (www.cidadaodomundo.blogse.com.br), durante o VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, realizado no Rio de Janeiro, em julho de 2009.

Fonte: Blog Cidadãos do Mundo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Bolívia sumiu do noticiário da Globo, da Veja e dos jornalões. Entenda

Por sinal já está acontecendo o mesmo com Honduras, à medida que as pressões internacionais e as negociações para a superação do golpe de Estado (chamado de "crise" por alguns...) apontam para o retorno do presidente constitucional ao poder, o que não interessa nem um pouco aos arautos da violência antidemocrática e antipovo encastelados nas redações. Agora a ordem é falar da classificação hondurenha à Copa do Mundo e dizer que esse fato "está eclipsando o noticiário da crise". Voltando à Bolívia, veja neste artigo de Emir Sader como o governo de Evo Morales (foto) venceu o separatismo golpista e as direitas retrógradas e começa a mudar - literalmente - a cara da Bolívia

Sapatos ou sandálias
publicado em 13/10/2009 no Blog do Emir

“Melhor um mafioso de sapato que um ignorante de sandália.” O comentário preconceituoso foi feito por uma mulher branca, no vôo de Santa Cruz de la Sierra a Cochabamba. Dá uma idéia do sentimento dessa minoria branca, que sempre governou a Bolívia, durante séculos, ao sentir que o país lhes tinha sido expropriado pelas mãos da grande maioria de povos indígenas – 64% da população se reconhecem como de origem indígena – aymaras, quéchuas, guaranis ou de outras nacionalidades -, mas nunca tinham governo o país.

Na época da campanha eleitoral havia uma charge em um jornal boliviano, em que quatro mulheres brancas jogavam baralho, quando uma delas pergunta:

- Mas um índio pode ser presidente?

Ao que respondeu uma outra:

- Sim, da Índia.


A forma usual de se dirigir a Evo Morales, presidente da república, é chamá-lo de “esse índio de merda”. No ano passado, na praça central de Cochabamba, estudantes brancos submeteram índias e índios a vexames públicos, violentamente. O racismo da direita, da imprensa e dos governos da região oriental é extremado.

Esse sentimento se aguçou quando as pesquisas eleitorais confirmam o que as eleições do ano passado já haviam revelado: o governo de Evo Morales goza de ampla maioria no país e desta vez deve conseguir não apenas a reeleição e repetir a maioria na Câmara de Deputados, mas conquistar a maioria do Senado, talvez até com 2/3 dos parlamentares. A oposição, derrotada politicamente, concorre com vários candidatos, sempre muito atrás – mesmo somados – da votação prevista para Evo.


Um deles, candidato também nas eleições passadas, Samuel Doria, é quem detêm a marca da Burger King na Bolívia. Seu lema, pintado nas paredes daqui de Cochabamba: “Fazer Bolívia voltar a trabalhar”. Expressa outro preconceito: o de que a região ocidental do país, em que está La Paz e os estados de maioria esmagadora de indígenas, vivem do Estado, de políticas sociais, de subsídios, etc., enquanto o dinamismo e o trabalho ficariam por conta da região majoritariamente branca – a região oriental.

Depois de tentativas de deslegitimação do governo, promovendo projetos autonômicos nas províncias, de forma violenta, a direita se viu derrotada na consulta sobre confirmação de mandatos em agosto do ano passado. Diante dos resultados, promoveu atos violentos de ocupação de prédios do governo federal, agressão a fucnionarios públicos, até que um dos governadores da região oriental, do estado de Pando -, reprimiu uma mobilização de camponeses, matando a vários deles. Isso por si só já gerou seu isolamento, mas o governo passou a atuar, com a prisão do governador e uma grande mobilização de 100 mil pessoas dirigidas por Evo Morales em La Paz. A oposição passou à defensiva, derrotada politicamente. Um dos reflexos dessa derrota é não ter conseguido se unificar e lançar vários candidatos.

A vitória de Evo Morales, com maioria – com a possibilidade de chegar a 2/3 no Senado – permitirá que todo o processo, recém iniciado, de refundação do Estado boliviano, com todo o novo embasamento legal que isso requer, poderá ser feito conforme as orientações do governo. A direita ainda não está derrotada economicamente, dispõe de grande poder econômico – ainda que enfraquecido – e do poder midiático, graças ao monopólio que exerce, tal como acontece nos outros países do continente.

Mas, a três anos e meio da sua primeira eleição, o governo boliviano caminha, seguro, para a sua consolidação. Elabora neste momento uma lei de gestão pública do novo Estado multinacional e autonômico, avançando no projeto de refundação do Estado boliviano. O ex-presidente Sanchez de Losada, refugiado nos EUA, com pedido de extradição pelo governo boliviano para responder na Justiça pelas dezenas de mortes de responsabilidade do seu governo, quando tentava evitar sua queda, representa bem o “mafioso com sapato”. Evo, de sandálias, a saberia indígena, camponesa, popular, que para os preconceitos racistas aparece como “ignorância”.

A CPI do MST e as terras roubadas

Além de caçar a palavra do presidente do Incra, Guilherme Cassel, quando este responsabilizava os meios de comunicação pela criminalização dos movimentos sociais, a maior parte da mídia segue jogando confete para as agressões da bancada ruralista ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e omite questões e problemáticas essenciais ao entendimento da disputa política no campo, como a grilagem (exemplificada na total ilegalidade das terras ocupadas pela empresa Cutrale), as agressões do agronegócio ao meio ambiente, a sonegação de impostos pelo latifúndio e a tunga que gente como a senadora Kátia Abreu e o deputado Ronaldo Caiado promove ano a ano nos bancos estatais. Este artigo, publicado por Mauro Santayana na página de Opinião do Jornal do Brasil ajuda a entender o que está por trás da crise Cutrale-MST-CPI

A CPI do MST e as terras roubadas
publicado no JB em 14/10/2009
Por Mauro Santayana

A terra é o mais grave problema de nossa história social, desde que os reis de Portugal retalharam a geografia do país, com a concessão de sesmarias aos fidalgos. Os pobres não tiveram acesso pleno e legal à terra, a não ser nos 28 anos entre a independência – quando foi abolido o regime das sesmarias – e 1850, quando os grandes proprietários impuseram a Lei de Terras, pela qual as glebas devolutas só podiam ser adquiridas do Estado a dinheiro.


A legislação atual vem sendo sabotada desde que foi aprovado o Estatuto da Terra. É fácil condenar a violência cometida, em episódios isolados, e alguns muito suspeitos, pelos militantes do MST. Difícil tem sido a punição dos que matam seus pequenos líderes e os que os defendem. Nos últimos anos, segundo o MST, mais de 1.600 trabalhadores rurais foram assassinados e apenas 80 mandantes e executores chegaram aos tribunais. Em lugar de uma CPI para investigar as atividades daquele movimento, seria melhor para a sociedade nacional que se discutisse, a fundo, a questão agrária no Brasil.


O Censo de 2006, citado pelo MST, revela que 15 mil proprietários detêm 98 milhões de hectares, e 1% deles controla 46% das terras cultiváveis. Muitas dessas glebas foram griladas. Temos um caso atualíssimo, o do Pontal do Paranapanema, onde terras da União estão ocupadas ilegalmente por uma das maiores empresas cultivadoras de cítricos do Brasil. O Incra está em luta, na Justiça, a fim de recuperar a sua posse. O que ocorre ali, ocorre em todo o país, com a cumplicidade, remunerada pelo suborno, de tabeliães e de políticos.


Cinco séculos antes de Cristo, os legisladores já se preocupavam com a questão social e sua relação com a posse da terra. É conhecida a reforma empreendida por Sólon, o grande legislador, na Grécia, que, com firmeza, mandou quebrar os horoi, ou marcas delimitadoras das glebas dos oligarcas. Mais ou menos na mesma época, em 486, a.C., Spurio Cássio, um nobre romano, fez aprovar sua lei agrária, que mandava medir as glebas de domínio público e separar parte para o Tesouro do Estado e parte para ser distribuída aos pobres. Imediatamente os nobres se sublevaram como um só homem, e até mesmo os plebeus enriquecidos (ou seja a alienada classe média daquele tempo) a eles se somaram. Spurio Cássio, como conta Theodor Mommsen em sua História de Roma, foi levado à morte. “A sua lei foi sepultada com ele, mas o seu espectro, a partir de então, arrostava incessantemente a memória dos ricos, e, sem descanso, surgia contra eles, até que, pela continuada luta, a República se desfez” – conclui Mommsen. E com razão: a última e mais completa lei agrária romana foi a dos irmãos Graco, Tibério e Caio, ambos mortos pelos aristocratas descontentes com sua ação em favor dos pobres. Assim, a República se foi dissolvendo nas guerras sociais, até que Augusto a liquidou, ao se fazer imperador, e seus sucessores conduziram a decadência da grande experiência histórica.



Não há democracia sem que haja reforma agrária. A posse familiar da terra – e da casa, na situação urbana – é o primeiro ato de cidadania, ou seja, de soberania. Essa posse vincula o homem e sua família à terra, à natureza e à vida. Sem lar, sem uma parcela de terra na qual seja relativamente senhor, o homem é desgarrado, nômade sem lugar nas sociedades sedentárias.


É impossível ao MST estabelecer critérios rígidos de ação, tendo em vista a diversidade regional e a situação de luta, caso a caso. Outro ponto fraco é a natural permeabilidade aos agentes provocadores e infiltrados da repressão particular, ou da polícia submetida ao poder econômico local. No caso do Pontal do Paranapanema são muitas as suspeitas de que tenham agido provocadores. É improvável que os invasores tenham chamado a imprensa a fim de documentar a derrubada das laranjeiras – sabendo-se que isso colocaria a opinião pública contra o movimento. Repete-se, de certa forma, o que houve, há meses, no Pará, em uma propriedade do banqueiro Daniel Dantas.


É necessária a criação de força-tarefa, composta de membros do Ministério Público e agentes da Polícia Federal que promova, em todo o país, devassa nos cartórios e anule escrituras fraudulentas. No Maranhão, quiseram vender à Vale do Rio Doce (então estatal), extensas glebas. A escritura estava registrada em 1890, em livro redigido e assinado com caneta esferográfica – inventada depois de 1940.

domingo, 11 de outubro de 2009

Minc, Ideli e a COP 15


da Folha do Meio Ambiente
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (foto), solicitou ao Congresso Nacional a apresentação de propostas para fundamentar a posição brasileira na Conferência do Clima (COP 15) que será realizada em dezembro próximo em Copenhague, na Dinamarca.
Minc, que participou de uma reunião da Comissão Mista Parlamentar de Mudanças Climáticas, recomendou aos parlamentares a votação de projetos relevantes para a proposta a ser apresentada ao Brasil, inclusive o de criação do Fundo de Compensação de Mudanças Climáticas.
A presidente da Comissão, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), propôs a inclusão do projeto de lei 5.367, de 2009, que institui o Código Ambiental Brasileiro e prevê compensação financeira aos produtores rurais que preservam a natureza.

Zero Queimadas
O ministro Carlos Minc anunciou que o MMA teve sucesso na negociação com o setor siderúrgico, que terá prazo de oito anos para plantar todas as árvores necessárias para compensar o uso que faz de carvão vegetal.
Já para os produtores de cana-de-açúcar a meta é de, em cinco anos, obter “zero queimadas” nas áreas mecanizáveis, com aproveitamento da palha de cana para produção de energia.
Durante o debate, o ministro salientou que o governo vem tomando medidas de adaptação a mudanças climáticas em projetos vinculados ao PAC.
Minc citou como exemplo o projeto realizado na região da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, em que foram construídos diques como prevenção ao possível aumento do nível do mar.

A Terra está doente

Alterações Climáticas
Colaboração de Zilda Ferreira, ex-representante da Associação Brasileira de Imprensa no Comitê Assessor do órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (Min. do Meio Ambiente/MEC). Zilda Ferreira é editora política deste blog

Esta matéria foi escrita no auge do frisson da mídia sobre as conclusões do relatório do IPCC-Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. O relatório foi divulgado em fevereiro de 2007. Na época, a Europa, liderada pela França queria criar uma Agência Internacional para fiscalizar os países que não respeitassem o meio ambiente. Em seguida, os mesmos europeus tentaram impor um tratado de intervenção aos países que desrespeitassem o meio ambiente. E sempre defendendo a internacionalização da Amazônia, mas não de maneira explícita.
Agora, fiquemos em alerta. Os países hegemônicos vão tentar, em Copenhague, aprovar este tratado intervencionista. (Z.F)

22/3/2007 - publicado originalmente no Jornal da ABI
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro... ou forma uma aliança global para cuidar da terra e uns dos outros, ou arrisca a nossa destruição e a diversidade da vida”, texto de abertura da Carta da Terra.

O maior desafio deste século é o aquecimento global e a mais grave ameaça é a nossa destruição e a diversidade da vida. Os cientistas e os ambientalistas defendem que para resolver o problema do aquecimento global seria necessária uma profunda transformação na economia e no modo de vida das pessoas.

É muito difícil que isso ocorra. As nações hegemônicas, principalmente os EUA, privilegiam uma perspectiva neoconservacionista para economizar o planeta, não para evitar, mas para retardar a catástrofe. Bombardeiam com a idéia de escassez, a fim de que o medo molde a cultura dos países subdesenvolvidos, e assim, possam promover um neocolonialismo tranqüilo, mantendo os mesmos mecanismos de produção e consumo, aumentando as desigualdades e, conseqüentemente, o desequilíbrio da Terra. Os EUA apostam em novas tecnologias para poluir menos sem mudar a matriz energética, sem sair do petróleo e do gás. E com isso, ganham mais com a inovação de tecnologias descontaminantes.

A Europa também apostou nesse filão, porém foi mais esperta; de maneira muito sofisticada, seqüestrou o discurso dos ambientalistas para lucrar com o seqüestro, o do carbono. Parece um absurdo, mas acompanhe a implantação do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) e depois a cronologia da esperteza.

O MDL foi uma das peças chaves para o protocolo de Quioto ser ratificado em 2005. A idéia central do MDL (está no artigo 12 do Protocolo) é a possibilidade de mitigar, de combater o efeito estufa por meio de projetos. Para um projeto ser certificado pelo MDL tem que provar que foi pensado para reduzir as emissões ou para seqüestrar carbono. E é muito difícil provar. Normalmente, só grandes empresas conseguem, porque o processo é sofisticado: é preciso provar, por intermédio, de fotos feitas por satélites que a área escolhida para reflorestamento já estava desmatada, em l989, um ano antes, do primeiro Relatório do IPCC, em 1990.

Agora, no início de 2007, quando o último Relatório do IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas foi anunciado, a mídia divulgou com veemência o conteúdo e uma catástrofe iminente, como novidade, o quê já era conhecido e amplamente divulgado, em 2005, quando o Protocolo de Quioto entrou em vigor. Isso porque o medo molda profundamente a sociedade e a cultura. E a Europa aposta muito mais do que os EUA nesse comportamento. Isto porque ela tem apenas 3,8% de água, manipula mais de 70% do mercado d’água global, base de custeio de sua mídia e de seu mercado editorial, principalmente o da França, segundo panorama traçado no livro “Ouro Azul”, de Maude Barlow e Tony Clarke. É bom lembrar que os países pobres da América do Sul têm mais de um terço d’água do Planeta, só a região amazônica tem mais de 20%. Além disso, a Europa está apostando no mercado de carbono, mesmo antes do Protocolo de Quioto entrar em vigor. Veja o resumo dessa cronologia:

Em 2004, estava no site da Fundação Getúlio Vargas o seguinte: - “Embora o Protocolo de Quioto ainda não tenha entrado em vigor, observa-se no mercado internacional, uma crescente demanda por reduções de Gases do Efeito Estufa – GEE não só por parte dos fundos de investimentos, constituídos especificamente para essa proposta, como por parte da empresas, investidores estrangeiros que visem aproveitar os baixos preços atuais da tonelada evitada de carbono equivalente para formar seus estoques de reduções passíveis de virem a ser certificados e posteriormente registrados pelo Executive Board.”

A União Européia estabeleceu para seus membros um esquema de Negociações de Emissões conhecido como European Union Emissions Trading Scheme — EU UTS — a partir do estabelecimento de metas para seus membros, vinculados ao sistema de negociações conhecido, em inglês, como Cap and Trade System. No âmbito do Protocolo de Quioto, a União Européia, sem dúvida, é o maior expoente nesse mercado, registra o mesmo site da FGV, em 2004, um ano antes do Protocolo entrar em vigor. E assim, os países do Bloco I podem continuar poluindo, investindo nos Créditos de Carbono.

Apesar de tudo, não resta dúvida a importância do Protocolo de Quioto que regulamentou a Convenção de Mudanças Climáticas e demonstrou que há um processo de alterações climáticas e que, de fato, existe uma participação humana nele, ou seja, somos culpados. Além disso, estabelece regras para que os países cumpram. As discussões e os debates das propostas do Protocolo tiveram um papel importante na conscientização de que a maior ameaça à humanidade são as mudanças climáticas e que os padrões de produção e de consumo são os principais responsáveis pelo estado da Terra.

“A Terra grita. A Lógica que explora as classes e submete os povos aos interesses de uns poucos países ricos e poderosos é a mesma que depreda a Terra e espolia suas riquezas sem solidariedade com o restante da humanidade e para com as gerações futuras”, de Leonardo Boff, no livro Ecologia: Grito da Terra; Grito dos Pobres.

Cada ano, desde 1984, o Worldwatch Institute, dos EUA, publica um relatório sobre o “estado da Terra”. Este estado é cada vez mais assustador. A Terra está enferma e ameaçada.

ilustrando...
Mercado de emissão de gases bate US$ 30 bi

A dimensão do mercado mundial de licenças para a emissão de gases geradores do efeito estufa mais do que dobrou, passando a 22,5 bilhões de euros (US$ 30 bilhões) no ano passado, disse a Point Carbon, editora e empresa de pesquisa de Oslo, na Noruega. Os volumes negociados podem disparar 50% este ano. Fonte: DCI (09/03/2007)








sábado, 10 de outubro de 2009

Seminário na ABI discute dias 14 e 15 papel da mídia no debate da igualdade racial



Que causa poderia unir o arquiteto Oscar Niemeyer, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, os antropólogos Roberto da Matta e Otávio Velho, o jurista Fábio Konder Comparato, os ministros do STF Marco Aurélio Mello, Joaquim Barbosa Gomes, Celso Mello e Carlos Ayres Britto, os jornalistas Miriam Leitão, Elio Gaspari e Ancelmo Góis, os atores Lázaro Ramos, Wagner Moura e Taís Araújo, os compositores e cantores Gilberto Gil e Martinho da Vila?

Resposta: as políticas de ação afirmativa, que incluem as polêmicas cotas para negros nas universidades.

Por que, então, essas personalidades tão importantes não costumam ser entrevistadas sobre esse tema? Seria isso produto de uma ação deliberada de grande parte da mídia brasileira, possivelmente interessada em fabricar uma opinião pública contrária a essas políticas?

Esse é o tema central do seminário Comunicação e Ação Afirmativa: O Papel da Mídia no Debate sobre Igualdade Racial, que será realizado nos dias 14 e 15 de outubro na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

Com a presença de grandes nomes da mídia brasileira, ao lado de especialistas acadêmicos e ativistas do movimento social, o seminário – fruto da parceria entre a ABI, o Conselho Municipal dos Direitos do Negro (Comdedine) e a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), com apoio da Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial do Município do Rio de Janeiro (CEPIR) – pretende suscitar um debate que vai além dos limites de seu tema, pois envolve o papel da mídia numa sociedade democrática, suas responsabilidades e limites.


Se você quiser conhecer a história do brasileiro que está na foto acima (e que também apóia os programas de ação afirmativa) clique aqui


SEMINÁRIO COMUNICAÇÃO E AÇÃO AFIRMATIVA:
O PAPEL DA MÍDIA NO DEBATE SOBRE IGUALDADE RACIAL

Realização: ABI, Comdedine, Cojira, Seppir, Cepir

Local: Associação Brasileira de Imprensa – Rua Araújo Porto Alegre, 71 - CENTRO - Rio de Janeiro - RJ

PROGRAMAÇÃO

Dia 14 de outubro

14h – Mesa de Abertura com representantes das entidades organizadoras, Sindicato dos Jornalistas

15h30 – Cobertura da Ação Afirmativa no Brasil

Ancelmo Gois (O Globo)
Kássio Motta (autor de pesquisa acadêmica sobre a cobertura do tema pelo Globo)
João Feres (IUPERJ)

Dia 15 de outubro

13h30 – A Responsabilidade Social da Mídia e o Debate sobre Raça

Muniz Sodré (professor da ECO/UFRJ e presidente da Biblioteca Nacional)
Maurício Pestana (revista Raça)
Márcia Neder (revista Cláudia)

15h30min - Da Opinião Publicada à Opinião Pública: A Fabricação de um Consenso Anticotas no Brasil

Miriam Leitão (O Globo)
Rosângela Malachias (Ceert)
Carlos Alberto Medeiros (Cepir)
www.abi.org.br