segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres do campo e da cidade unidas na luta contra o agronegócio e pela soberania alimentar

Neste mês em que se comemoram os 100 anos do 8 de março como dia
internacional de luta das mulheres, nós trabalhadoras do campo e da cidade
do Rio Grande do Sul estamos novamente nas ruas. Este ano nossa mobilização
tem como principal objetivo denunciar para a sociedade que a maior parte da
comida que chega a mesa da população brasileira não é alimento, é veneno.

O Brasil é campeão mundial do uso de agrotóxicos, que são venenos muito
perigosos usados na agricultura que provocam muitas doenças para
produtoras/es e consumidoras/es e grandes impactos ambientais. Além disso, a
maior parte dos produtos industriais que comemos é fabricada com soja
transgênica que também causa muito mal à nossa saúde.

E quem come esta comida envenenada? Somos nós, pobres. São as mulheres e
homens trabalhadores que recebem baixos salários ou estão desempregados e
escolhem os alimentos pelo preço não pela qualidade. São as pessoas sem
terra, sem teto, que se alimentam graças às cestas básicas. Os ricos têm
opção de comer produtos orgânicos, cultivados sem venenos.

Os agrotóxicos e os transgênicos não servem para matar a fome do povo, e sim
para matar a fome de lucro das empresas do agronegócio, a maioria delas
multinacionais. Esses produtos envenenam as terras, as águas e
principalmente as pessoas.

“Leite materno só é fonte de vida quando as mães comem alimentos saudáveis.”

Nesta mobilização estamos amamentando esqueletos para denunciar a população
em geral, e principalmente às mulheres, que quando comemos comida envenenada
e damos o peito aos nossos filhos ao invés de alimentarmos a vida
transmitimos a morte.


As doenças causadas por agrotóxicos são transmitidas de geração para
geração, e um dos modos de transmissão é através do leite materno. No
entanto, o mesmo governo que faz campanhas para incentivar as mulheres a
amamentar, financia o agronegócio que produz a comida envenenada para o povo
pobre, contaminando o leite da maioria das mães brasileiras.

“A gente não quer só comida”

Nós mulheres que passamos boa parte de nossas vidas envolvidas no cultivo
e/ou no preparo da comida para garantir saúde à nossa família estamos nas
ruas para gritar em alto e bom som que gente não quer só comida, a gente
quer alimento saudável, a gente quer soberania alimentar!
Para o agronegócio o lucro está acima da vida. O agronegócio faz mal a saúde
do povo e do meio ambiente! E os governos estadual e federal que financiam o
agronegócio estão usando o dinheiro público para bancar o envenenamento da
população pobre, a contaminação de nossas terras e águas.

“Estamos em luta contra...”

Contra o agronegócio, um modelo de produção agrícola que se sustenta na
superexploração do trabalho das pessoas, na contaminação dos alimentos, na
destruição de nossas riquezas naturais. Lutamos contra o uso de recursos
públicos para financiar a contaminação do povo e do meio ambiente; Estamos
em luta contra todas as formas de violência contra mulheres, incluindo a
imposição de um padrão alimentar que não respeita os costumes alimentares e
causa muitos males à saúde.

“Estamos em luta por...”

Soberania Alimentar - com reforma agrária, com geração de emprego e vida
digna para as populações camponesas, com agricultura ecológica que respeita
a diversidade de biomas e de hábitos alimentares. Os governos se dizem
preocupados com a segurança alimentar, querem que as pessoas tenham várias
refeições por dia. Mas tão importante quanto a quantidade da comida é a
qualidade do que comemos. Por isso não basta segurança alimentar, precisamos
construir a Soberania Alimentar.

Mulheres da Via Campesina, do MTD, da Intersindical e do coletivo de
mulheres da UFRGS.

Porto Alegre, março de 2010.