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domingo, 1 de setembro de 2013

Globo admite "erro" em 64. Haja medo!


Por Altamiro Borges - em seu Blog

O Globo publicou neste sábado (31) um artigo que entrará para a história da mídia nativa. O jornal finalmente assume que o "apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro" - estampa já no título. O texto é maroto, cheio de distorções históricas, mas confirma que a arrogante Rede Globo está com medo. Medo dos protestos de rua contra o império global, que um dia antes voltaram a ocupar os portões da emissora em vários estados. Medo da repercussão na blogosfera das denúncias sobre a bilionária sonegação fiscal da empresa. Medo da concorrência no setor, principalmente com a presença das multinacionais da tecnologia, como a Google, que abocanham gordas fatias do mercado publicitário.


Com o editorial, a famiglia Marinho tenta recuperar um pouco da credibilidade perdida, expressa na queda da tiragem do jornal e da audiência da emissora. O jornalão mesmo admite que os protestos de rua estão incomodando. "Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: 'A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura'. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura. Já há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um erro". Mas só agora o império confirmou o seu bárbaro crime!

O jornal garante que o texto de autocrítica já estava pronto há meses - mas quem vai acreditar num império que sempre mente e manipula? E afirma, posando de humilde: "Não lamentamos que essa publicação não tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro, necessário. Governos e instituições têm, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas. De nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando o nosso incondicional e perene apego aos valores democráticos". Só mesmo um ingênuo para acreditar nesta bravata!

Na sequência, o texto ainda tenta justificar o apoio ao golpe. "O Globo, de fato, à época, concordou com a intervenção militar, ao lado de outros grandes jornais, como 'O Estado de S.Paulo', 'Folha', 'Jornal do Brasil' e o 'Correio da Manhã', para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais. Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos - Jango era criticado por tentar instalar uma 'república sindical' - e de alguns segmentos das Forças Armadas".

O Globo só não confessa que ajudou a criar o clima para o golpe militar, que investiu pesado para desestabilizar um governo democraticamente eleito e que manipulou para incitar a classe "mérdia". O jornal também nada fala sobre a conspiração orquestrada pelo governo dos EUA, pelo latifúndio e por grandes empresários contras as "reformas de base" anunciadas por Jango. Um complô em que a imprensa, historicamente reacionária, teve papel determinante. Pesquisas da época indicam que João Goulart tinha o apoio da maioria da sociedade. Mas o "partido da imprensa golpista" fez de tudo para derrubá-lo e para instalar uma ditadura sanguinária no país.

O editorial ainda afirma que "naquele contexto, o golpe, chamado de 'Revolução', termo adotado pelo Globo durante muito tempo, era visto como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia". O jornal nada fala sobre os seus vínculos estreitos com os generais golpistas e os torturadores e assassinos da ditadura. Não explica como a famiglia Marinho construiu seu poderoso império com o apoio do regime militar. No maior cinismo, ainda insinua que ajudou na luta pela democratização do país. "Nos vinte anos durante os quais a ditadura perdurou, O Globo, nos períodos agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos militares, sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democrática".

O Globo não explica porque escondeu a campanha das Diretas-Já, tornando um ato da campanha numa "festa de aniversário" de São Paulo; porque maquiou Collor de Mello como o "caçador de marajás' para derrotar o operário Lula nas eleições presidenciais; porque foi o baluarte do projeto destrutivo e regressivo do neoliberalismo no triste reinado de FHC. Também nada fala sobre a sua ofensiva para "sangrar" de Lula e da sua campanha descarada contra a eleição de Dilma Rousseff.

Ao final, o editorial afirma que "a História não é apenas uma descrição de fatos, que se sucedem uns aos outros. Ela é o mais poderoso instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se com os erros cometidos e se enriquece ao reconhecê-los". A famiglia Marinho não aprendeu nada com a História!


Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/09/globo-admite-erro-em-64-haja-medo.html?spref=tw


Globo: o dor da saturação

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O desalento da presidente




Mauro Santayana

Ao falar, ontem, a emissoras do Paraná, a Presidente Dilma Roussef foi sincera e humana: há muitas coisas no governo que a entristecem. Pode estar certa a chefe de Estado que os brasileiros em sua  imensa maioria comungam do mesmo desalento. Os cidadãos entendem que o ato de governar é difícil, e que reclama habilidade e paciência, mas não  aceitam -  salvo  os interessados na instabilidade política – as pressões que se fazem à presidente. Depois de ouvir um correligionário irado, que se queixava  do tratamento privilegiado a um aliado do governo, Juscelino gastou meia hora tranqüilizando-o. Quando o reclamante saiu, desabafou-se com seu chefe da Casa Civil, Vítor Nunes Leal:


- Aqui, na Presidência, suporto insolência que não agüentaria, se fosse simples prefeito de Diamantina.


Ele não foi prefeito de Diamantina, mas, os que o conheceram prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas,  se lembram de que ele era rigoroso  com seus subordinados, e sabia cobrar as tarefas com energia.


Podemos entender as dificuldades da presidente e não podemos negar-lhe solidariedade e apoio. Não lhe serve de consolo, mas de estímulo, saber que os governantes dos principais países do mundo não se sentem tampouco em plena felicidade nestes últimos meses e anos. Estamos em um daqueles momentos históricos em que a ruptura se anuncia, mas pede líderes sensatos, capazes de criar instrumentos políticos hábeis para vencer a conjuntura perigosa.


Não é seguro que a História se repita, embora os seus movimentos de impaciência sempre se pareçam. O grande fermento das mudanças é a informação, que amplia o entendimento dos homens e suscita idéias novas, nas artes, na filosofia e na política. Isso explica que o Renascimento tenha sido contemporâneo da imprensa, e o Iluminismo, sua continuidade, haja trazido  ebulição intelectual que não só deflagraria a Revolução Francesa, mas também estabeleceria os fundamentos científicos da tecnologia contemporânea.


A química de Lavoisier abriu a imensa perspectiva da produção de sucedâneos das matérias naturais e sem ela seria impensável a nanotecnologia, entre outras conquistas da ciência de hoje. Mas o excepcional cientista deixou-se seduzir pela corrupção, ao participar de uma empresa concessionária da cobrança de impostos, que lesou as finanças revolucionárias, e foi guilhotinado. Não são raros os casos de corrupção de homens geniais.


O que está ocorrendo em algumas áreas do governo felizmente não chega a anunciar horas tão trágicas como as vividas na França de há 220 anos – mas incomoda principalmente os  que têm muito a elogiar na política econômica e social dos últimos oito anos e seis meses. Não se pode perder uma experiência que reduziu drasticamente a desigualdade e promoveu o desenvolvimento do país, de forma tão marcante, em conseqüência dessa promiscuidade entre setores do governo e do parlamento com empreendedores privados.


Um dos mais audaciosos criminosos dos anos 70, o assaltante Lúcio Flávio, ficou famoso por uma sentença óbvia, ao explicar por que não se envolvia com policiais: polícia é polícia, bandido é bandido. A máxima – reduzida a crueza de sua origem e circunstância – pode ser ampliada: governo é governo, empresas privadas são empresas privadas. A realidade – aqui e em todos os países ocidentais, registre-se – mostra que já não há fronteiras nítidas entre a administração pública e os grandes negócios. Os pequenos empresários se candidatam ao poder municipal, e começam a crescer fazendo negócios com a prefeitura. Em seguida se elegem para os parlamentos estaduais e para o Congresso – onde ampliam sua participação nos recursos públicos:   mediante suas próprias empresas, ou se associando a grupos nacionais e internacionais. Em alguns casos, preferem ser apenas intermediários. São lobistas privilegiados, com acesso a todos os níveis de poder.


Estamos chegando aos limites da paciência dos povos. Nos Estados Unidos, Obama não consegue taxar os ricos em favor dos pobres, porque a maioria dos congressistas representa ali os grandes interesses financeiros e industriais, entre eles os dos fabricantes de armas. Na Europa, para salvar o dinheiro dos grandes bancos, os estados nacionais estão indo à falência. A razão é simples: são os ricos que financiam as eleições e a eles os governos prestam obediência.


É interessante relembrar que, na França de 1789, o povo foi às ruas e derrubou a Bastilha em favor de um banqueiro que, na administração das finanças nacionais, corroídas pela ladroagem dos nobres, defendia reformas moralizadoras. Necker teve a lucidez que falta aos banqueiros de hoje – e, por isso mesmo, não perdeu a cabeça naquelas jornadas sangrentas.


A presidente está diante de  arriscada oportunidade: a de iniciar o processo de saneamento da administração do Estado. Os observadores sensatos contam com sua paciência diante da protérvia e sua firmeza estratégica. É certo que enfrentará inimigos poderosos, internos e externos, mas, se assim agir, a maioria do povo brasileiro estará ao seu lado, como esteve nas eleições do ano passado

 

Fonte: publicado originalmente no JB online. Texto retirado do site Conversa Afiada

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sábado, 18 de junho de 2011

Lula no II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas

"Durante os meus oitos anos de governo e sobretudo nas eleições do ano passado, vocês evitaram que a sociedade brasileira fosse manipulada como durante muito tempo ela foi manipulada."

Lula em discurso no II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas em Brasilia - 17 junho 2011

O 2° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, está acontecendo neste momento. A abretura foi feita pelo governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz, o qual disse que está trabalhando para que o Distrito Federal, seja o primeiro a receber  Banda Larga. Parabenizou a iniciativa do evento, elogiou os Blogueiros afirmando que esta é a mais nova ferramenta na comunicação brasileira. Despediu-se e passou a palavra para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Foi tão ovacionado que levou uns cinco minutos para poder iniciar a sua fala. Visivelmente emocionado, Lula cumprimentou as autoridades presentes: Luiza Erundina, Brizola Neto, Paulo Bernardo, além do jornalista Franklin Martins e do sempre presente aos encontros dos Blogueiros Emir Sader. Lula começou elogiando os Blogueiros Proguessistas, afirmando que estes foram os pricinpais responsáveis pelo crescimento da campanha da presidenta Dilma na reta final. Enfatizou que os Blogueiros desmascararam o adversário Serra quando este  fingiu que fora atingido e ferido por um objeto pesado. Chamou esse ato de absurdo e sujo. Isto porque Jose Serra havia chamado de blogueiros sujos. Lula pediu ao Ministro Paulo Bernardo que acelere o  processo da implantação da Banda Larga. Disse ainda que sonha com um Brasil de norte a sul com todos de posse de um computador. Acredita que a partir desta iniciativa dos blogueiros, o País ganhou um novo instrumento de informação e formação de opinião popular. Prometeu apoiar o movimento e se colocou a disposição. Agradeceu a todos, despediu-se e quando ameaçou levantar, foi cercado pelo povo e novamente emocionado ouvia o auditório cantar: Olê, Olê Olá, Lula, Lula, claro parei de fotografar o fui fazer parte do coral.

Fonte: Agencia de Noticias das Favelas
publicada originalmente na Rede Democrática.

Nota: O II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas começou ontem, dia 17, em Brasília e termina amanhã, dia 19.
      

sábado, 8 de janeiro de 2011

Bancada ruralista aumenta com eleição, em 2010, de mais 50 deputados e 6 senadores

Do website do Diap*
A bancada ruralista, uma das mais eficientes do Congresso, cresceu nas eleições de 2010 e terá sua capacidade de atuação ampliada nas discussões, articulações e negociações de políticas públicas do setor no âmbito do Poder Legislativo.

Levantamento realizado pelo DIAP aponta a reeleição ou eleição de 159 parlamentares que deverão priorizar, a partir de 2011, a agenda do setor rural.

Dos 159 parlamentares ruralistas, 91 são deputados reeleitos e 50 deputados novos. Para fechar a conta, há ainda 18 senadores, sendo dez atuais com mandato até 2015, seis novos e dois reeleitos que cumprirão mandato até 2019.

Na atual legislatura, o DIAP identifica 120 parlamentares atuantes na defesa da agenda ruralista, apenas três a mais que a quantidade da legislatura passada, que contava com 117 representares do setor empresarial rural.

O Departamento classifica como integrante da bancada ruralista aquele parlamentar que, mesmo não sendo proprietário rural ou da área de agronegócios, assume sem constrangimento a defesa dos pleitos da bancada, não apenas em plenários e nas comissões, mas em entrevistas à imprensa e nas manifestações de plenário.

Enquadra-se nessa classificação o deputado reeleito Ônix Lorenzoni (DEM-RS), que mesmo não sendo dono de propriedade rural, atua e defende o setor rural na Comissão de Agricultura, principal colegiado da Câmara para onde convergem as demandas do setor rural. Além de Ônix, outros 21 deputados reeleitos integram atualmente a comissão permanente.

De composição pluripartidária, a bancada tem sido um exemplo de grupo de interesse e de pressão bem sucedido. O perdão de dívida é pauta constante dos ruralistas. Sempre que existe uma matéria relevante para votar, a bancada exige o perdão ou renegociação de dívidas, sob pena de votar contra o governo.

Em geral, os governos cedem no que é possível e não foi diferente no governo Lula. Em junho de 2005, por exemplo, os ruralistas emperraram a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2006. A bancada venceu a queda de braço com a base do governo numa negociação que perdurou duas semanas.

No topo da agenda atual da bancada ruralista estão as alterações do Código Florestal Brasileiro e a revisão dos índices de produtividade adotadas na reforma agrária.

A prioridade da frente inclui, ainda, temas espinhosos como mudanças na legislação trabalhista, fundiária, tributária, indigenista e quilombola, bem como a defesa de alterações na legislação ambiental e social que alegam indispensável à preservação da produtividade e a competitividade do setor.

A bancada ruralista também deve concentrar esforços para tratar de questões ligadas à limitação de compra de terras por estrangeiros, a ampliação de infra-estrutura e de logística, criação de unidades de conservação e de mudanças climáticas, bem como discussões sobre novas fontes de energia renovável.

A bancada ruralista na Câmara dos Deputados ganhou novos adeptos influentes no setor como o arrozeiro Paulo Cezar Quartiero (DEM-RR), porta-voz e defensor dos agricultores na demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol.

Outro nome bastante comemorado entre os novos ruralistas é o do deputado federal eleito Irajá Abreu (DEM-TO), filho da presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e senadora ruralista reeleita, Kátia Abreu (DEM-TO).

Entre os líderes ruralistas reeleitos, destaque para o deputado Homero Pereira (PR/MT), que liderou em 2005 o "tratoraço" e o locaute ruralista que fechou rodovias país afora em maio de 2006. O parlamentar é presidente da Federação Estadual de Agricultura de Mato Grosso.

Por gênero, a bancada ruralista é majoritariamente masculina. Apenas cinco mulheres freqüentam esse seleto grupo. São elas as novas deputadas federais Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha do ex-senador e ex-governador do DF, Joaquim Roriz, e Iracema Portela (PP-PI), esposa do deputado federal e senador eleito Ciro Nogueira (PP). Completam o grupo as senadoras reeleitas Kátia Abreu (DEM-TO) e Lúcia Vânia (PSDB-GO).

No Senado, a força do agronegócio será ainda maior na próxima legislatura com a chegada dos ex-governadores Blairo Maggi (PR-MT), Ivo Cassol (PP-RO), Luiz Henrique (PMDB-SC), Marcelo Miranda (PMDB-TO). Vai se juntar ao grupo o atual deputado federal, eleito para seu primeiro mandato de senador por Alagoas, Benedito de Lira (PP). Mais
*Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ministro Lobão desafia Dilma e anuncia licitação no Pré-Sal

Da Agência Petroleira de Notícias
Os movimentos sociais, entre eles o Sindipetro-RJ, defendem por meio do Projeto de Lei 531/09 que a Petrobrás seja 100% pública e o retorno do monopólio estatal do petróleo.

Infelizmente, o ministro de Minas e Energia Edison Lobão anunciou, durante a solenidade que marcou seu retorno, que pretende realizar novos leilões do nosso estratégico petróleo do Pré-sal, para o segundo semestre deste ano. E mais: o ministro se comprometeu a realizar, no primeiro semestre deste ano, leilões do nosso petróleo em terra, sob regime de concessão. A notícia foi veiculada pelo jornal O Estado de S.Paulo (04/01/11).

Ou seja, nosso "passaporte para o futuro", o Pré-sal sofrerá a sua primeira partilha, entre a Petrobrás, empresas privadas nacionais e internacionais. Embora a Petrobrás tenha garantida a participação societária mínima de 30% nas áreas que forem licitadas, os movimentos sociais, entre eles o Sindipetro-RJ, defendem por meio do Projeto de Lei 531/09 que a Petrobrás seja 100% pública e que o monopólio de estatal do petróleo seja restabelecido, com a revogação da atual lei 9478/97.

O PL 531/09 defende, também, que a exploração, produção, refino e o transporte do petróleo e seus derivados sejam realizados por empresas do Sistema Petrobrás. Desta forma, além de proteger as nossas reservas petrolíferas estratégicas, como o Pré-Sal, o projeto dos movimentos sociais (que está tramitando no Senado Federal) visa fortalecer o Sistema Petrobrás 100% estatal.

Será o primeiro leilão da nova legislação do petróleo. Antes, os parlamentares terão que aprovar a nova forma de divisão dos royalties do petróleo.

O anúncio dos leilões foi feito pelo ministro Edison Lobão, que já ocupava o cargo no governo Lula e requererá da sociedade brasileira a retomada das mobilizações em defesa do nosso petróleo.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um réquiem para FHC

O artigo foi publicado em novembro, mas como nesta última tarde de 2010 os fogos espocam no céu do Rio de Janeiro...

Gilson Caroni Filho, na Carta Maior
As palavras são as armas. E foi acreditando em sua capacidade de manejá-las com destreza que Fernando Henrique Cardoso tentou atacar o presidente Lula em seu artigo publicado no jornal O Globo, do último domingo. Em sua vaidade desmedida, imaginava-se escrevendo um texto inaugural, um manifesto histórico capaz de desvendar a cena política, retirando a oposição do estado letárgico em que se encontra. O efeito foi exatamente o contrário.

O texto mal escrito, sem sentido em muitos parágrafos, revela um erro de cálculo político sem precedentes. Contrariando seus aliados, que desejavam vê-lo distante da campanha do PSDB para presidente em 2010, FHC trouxe para o próximo pleito a comparação entre a política econômica do governo e a da gestão petista: a única polarização que a direita não queria. Imaginando-se um estrategista, virou um fardo pesado para as possíveis candidaturas de José Serra e de Aécio Neves. Triste para o prestigiado sociólogo, deplorável para o experiente político.

Comparações são ociosas, mesmo porque cada polemista tem o seu tempo na história. Mas não é de hoje que o sonho do“"príncipe dos sociólogos" é ser um Carlos Lacerda redivivo. Vê a si próprio como um panfletário versátil e demolidor, capaz de usar as palavras como metralhadoras giratórias nas mãos de um guerrilheiro. O problema é que seu estilo é tosco e seus escritos ininteligíveis. Não é capaz de açular os medos da classe média, mesmo usando os velhos ingredientes que vão da ameaça de uma república sindicalista a um quadro incontrolável de corrupção. Não aprendeu que, sem o apoio das bases sociais que o acompanham, seu suposto prestígio pessoal conta pouco.

Para criar condições de instabilidade superestrutural não bastam editoriais, artigos e noticiários de jornalistas de direita. É preciso que as classes dominantes se encontrem excepcionalmente reunidas em torno de um só objetivo. Para isso, do outro lado, tem que haver um governo fragilizado, com escassa base de apoio, incapaz de promover crescimento econômico com redistribuição de renda. Reeditar uma“"Marcha da Família com Deus, pela liberdade" não é o troféu fácil que o voluntarismo pedante imagina.

Quando escreve que "é possível escolher ao acaso os exemplos de 'pequenos assassinatos'. Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira 'nacionalista', pois, se o sistema atual, de concessões, fosse 'entreguista', deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública", seu objetivo é tão claro como raso.

É uma volta ao passado como farsa. Aos tempos em que os nacionalistas lutavam por uma solução independente para extração e refino do petróleo, de importância estratégica para o desenvolvimento do país, enquanto os entreguistas definiam-se abertamente pela exploração do produto pelo capital estrangeiro. Claro que estamos tratando de realidades distintas no tempo e no espaço, mas a motivação da direita é idêntica. E é a ela que a inspiração de FHC se dirige, inebriado como se cavalgasse uma fulgurante carreira política. O desespero e o patético andam sempre de mãos juntas. Ainda mais se lembramos "quem cevou os facilitadores de negócios na máquina pública" no período que vai de 1994 a 2002.

Criticando o que chama de "autoritarismo popular", o candidato a polemista prossegue: "Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são 'estrelas novas'. Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam."

A recorrência aos riscos de uma república sindicalista mostra a linhagem golpista do artigo de FHC, mas a falta de prudência, indispensável para quem pensa estar escrevendo um novo Manifesto dos Coronéis, leva a indagações. O autoritarismo de mercado, marca do seu mandato, é exemplo de democracia? A era da ligeireza econômica, da irresponsabilidade estatal ante a economia fortalecia as instituições do Estado Democrático de Direito? Ou não seria exatamente o oposto? Um bloco de poder composto pelo agronegócio, grandes corporações midiáticas e uma burguesia desde sempre associada, que privilegiava a ampliação crescente das margens de lucro, ignorando os custos sociais que isso implicava. Qual a autoridade política do ex-presidente para interpelar o atual?

O que foi seu governo senão uma tentativa desastrosa de adaptar o aparelho de Estado às exigências criadas pelo neoliberalismo, contendo, a todo custo, as reivindicações dos trabalhadores do campo e da cidade? No final, com uma impopularidade recorde, a superestrutura política entrou em crise e os aliados contemplaram a rota de afastamento. É a isso que FHC nos convida a voltar?

Outra observação interessante pode ser extraída desse trecho: "Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas?". Aqui, o lacerdista frustrado ultrapassou qualquer limite da sensatez. Abriu o flanco, ao permitir a inversão da pergunta que faz.

Como destacaram, em 1997, Cid Benjamim e Ricardo Bueno, no "Dossiê da Vale do Rio Doce", "o Brasil levou 54 anos para construir e amadurecer esse gigantesco complexo produtivo. O governo FHC pretende vendê-lo, recebendo no leilão uma quantia que corresponderá, mais ou menos a um mês de juros da dívida interna". Em maio daquele ano, a Vale foi vendida pelo governo federal por R$ 3,3 bilhões. Em 2007, seu valor de mercado estava em torno de R$103 bilhões. Em nenhum outro período a máquina estatal foi usada para transferir recursos públicos para o capital privado como nos dois governos do tucanato. Foi a esse continuísmo que a população deu um basta em outubro de 2002.

O que se pode depreender das linhas escritas pelo tucano que queria ser corvo? FHC se especializou na arte do embarque em canoas onde o lugar do náufrago está antecipadamente destinado ao canoeiro de ocasião. Julgava estar redigindo um artigo que funcionaria como divisor de águas. Mas afundou junto com ele. Escreveu o seu próprio réquiem, levando junto velhos próceres do PSDB. Um trabalho e tanto. Extremamente apropriado para leitura no dia 2 de novembro.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Como o Estadão fabricou o escândalo

Mais uma do "Estadão", jornal paulistano que entrou para a história pela porta dos fundos por virar referência, em seus primórdios, como veículo para anúncios de leilões de escravos e, em 2010, declarou voto em José Serra na eleição presidencial. Agora o diário dos Mesquita, mesmo sabendo que recebeu um "documento" falsificado, joga na lama o nome de um ministro. Por que tanto interesse do Partido da Imprensa Golpista (PIG) nas emendas parlamentares em projetos da Cultura? (R.B., Equipe do EDUCOM)

Do Luis Nassif On Line

A sucursal de Brasília consegue um documento, uma declaração supostamente assinada pelo Chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, avalizando o trabalho do INBRASIL, o tal instituto através do qual o relator do orçamento desviava recursos.

Procurou o Ministro. Na hora, constatou-se que o documento era falsificado. Havia inúmeras evidências, acessíveis a qualquer redação com um mínimo de análise técnica, conforme material que recebi agora à noite:

1. No brasão do documento, o telefone da Secretaria estava errado, assim como o email.

2. O padrão gráfico é diferente do papel timbrado da SRI.

3. O número do RG do Ministro é falso.

4. Sua denominação - "Ministro de Estado chefe da SRI" - incorreta.

5. O CNPJ da empresa avalizada é falso. Bastava colocar em um programinha simples para constatar que era inválido.


6. Havia mais. A assinatura do Ministro era scaneada, conforme se conferia a olho nu. Bastava clicar na assinatura para aparecer o contorno da imagem.


7. Bastava ir às propriedades do documento para saber que foi escrito em Br-Office, um editor de texto. Documentos legais são scaneados diretamente do papel. Documentos PDF a partir de um editor de texto é sinal evidente de manipulação. Qualquer adolescente medianamente informado sabe disso.


Tinha-se, enfim, uma reportagem sobre um documento falsificado envolvendo um Ministro de Estado. O repórter foi informado, até escreveu um boxe sobre isso. Essa informação não fo sonegada da direção de redação do jornal.

E tinha-se a principal suspeita - a ex-assessora que afirmava ter obtido a carta do Ministro.

A direção de redação - provavelmente Marcelo Beraba, um dos criadores da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), que se supunha o último centro de reportagem correta da mídia - decidiu ignorar todos os sinais de falsificação e imputar o documento ao Ministro Padilha. Leia o post completo

Mais uma vez parabéns à blogosfera.

Leilão é privatização! Plenária estadual para organizar a resistência!

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo no Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) convoca: nesta quarta, 15 de dezembro, Plenária Estadual da Campanha O Petróleo Tem Que Ser Nosso. Sindipetro-RJ*, 18 horas

Artigo de Emanuel Cancella, diretor do Sindipetro-RJ**
Depois de um primeiro turno das eleições presidenciais frio e sem mobilizações nas ruas, assistimos a um segundo turno onde o movimento social mostrou a cara e garantiu a vitória de Dilma Rousseff. O ato do dia 21 de outubro, no Rio, “em defesa do patrimônio público e contra o retrocesso e a privatização do pré-sal”, reuniu milhares de pessoas. A manifestação foi organizado por iniciativa do Sindipetro-RJ, do MST e da FUP (que inicialmente apostava apenas num abraço à Petrobrás), ganhando a rápida adesão de outras organizações, sensibilizadas com a conjuntura política daquele momento.

Entre os que mais atuaram no segundo turno, percebendo a necessidade da militância nas ruas, estavam os sem-terra. O MST concentrou esforços em dez capitais brasileiras, agitando as bandeiras e distribuindo dois milhões de jornais “Brasil de Fato”, além de outros materiais de campanha.

No Rio de Janeiro, acamparam sob uma lona 15 dias antes da eleição. Ficaram entre o BNDES e a Petrobrás. Nesse período, ocuparam o centro do Rio, frequentaram feiras populares, distribuíram panfletos e jornais todas as manhãs, na Central do Brasil, Largo da Carioca, Praça XV e Cinelândia, entre outros lugares. O ato contra o retrocesso e a privatização do pré-sal foi um marco nessa luta.

Mas a estrutura dessa operação, tanto política quanto financeira, foi viabilizada pelo apoio decisivo da campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, através do Sindipetro-RJ. A vigília chegou a concentrar 150 pessoas. O Sindipetro-RJ identificou que, naquele momento, nossa responsabilidade com o futuro da Petrobrás e a preocupação com as regras que vão reger o setor petróleo obrigava a uma tomada de posição firme, sobretudo em respeito à sociedade e à categoria petroleira, que financia essa luta de resistência.

É importante frisar que toda essa mobilização começou quando o tema privatização, envolvendo o petróleo e a Petrobrás, surgiu no debate eleitoral. A declaração de um dos coordenadores da campanha Serra, deu o alarme. Ele afirmou a Lei 9478/97, o marco regulatório aprovado no governo FHC que, na prática, acabou com o monopólio estatal, “era muito importante e deveria ser mantido”, descartando inclusive as propostas de mudanças da lei em vigor, encaminhadas no governo Lula. Avaliamos que esta declaração foi decisiva na rápida mobilização dos movimentos sociais e sindicais, levando à derrocada da candidatura de José Serra.

Esse relato mostra a importância do petróleo para a sociedade que, antes das eleições, já havia pautado o tema na discussão dos royalties, a partir de uma proposta do deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, que estendeu o pagamento dos royalties para todos os estados e municípios brasileiros, em prejuízo dos estados e municípios produtores de petróleo.

Nesse sentido, o Rio foi palco, no dia 17 de março, de um ato que reuniu 150 mil pessoas, puxado pelo governador Sérgio Cabral, que teve como slogan “Contra a covardia, em defesa do Rio”. Com a recente aprovação, na Câmara de Deputados, do projeto de Ibsen Pinheiro, essa polêmica volta ao centro da discussão. Rio de Janeiro e Espírito Santo esperam que o presidente Lula vete o que foi aprovado.

Como se pode constatar, o debate em torno do tema petróleo continua candente. Se por um lado, movimentos sociais e sindicais foram para a rua denunciar que uma eventual vitória do projeto neoliberal representado pelo PSDB/DEM representaria um grande retrocesso. Por outro, o que tem sido encaminhado e defendido no governo Lula também está longe de atender aos interesses da sociedade e das esquerdas, representadas por parlamentares e/ou partidos que respaldam o projeto dos movimentos sociais para o setor petróleo, que propõe uma Petrobrás 100% estatal e pública, a volta do monopólio estatal, o cancelamento dos leilões e revisão dos já realizados (PL 5891/09): PT, PSOL, PSTU, PCB, PDT. Tampouco atende às centrais sindicais que também apóiam o referido projeto, como CUT, Intersindical, Conlutas.

Sobre os royalties, os movimentos organizados em torno das lutas sociais concordam com a extensão do seu pagamento a todos os entes federados, desde que não haja prejuízo para os estados e municípios produtores. Mas, como lembra o professor Ildo Sauer, “os royalties só representam 15% do valor do petróleo e os movimentos sociais querem um debate que também inclua o destino dos demais 85%”.

Sobretudo porque o Brasil já é auto-suficiente na produção do petróleo. Logo, a discussão sobre o seu caráter estratégico deve se impor sobre o debate que prioriza a associação com multinacionais, por meio do modelo de partilha, visando à sua exploração a toque de caixa. O projeto dos movimentos sociais, que está no Senado, entende que o petróleo deve ser tratado como bem estratégico e que não devemos nos transformar num grande exportador. Ou o país pretende continuar como exportador de matéria-prima, importando depois esse produto, com valor agregado?

Os lucros oriundos do petróleo devem ser utilizados, principalmente, para financiar políticas sociais como reforma agrária, construção de moradia, saúde, educação, segurança e para atender à justa preocupação dos ambientalistas, no financiamento e intensificação do uso de energias limpas.

Dificuldades à vista - No entanto, existem dificuldades a serem superadas. Grande parte daqueles que subscrevem o projeto de lei dos movimentos sociais, visando uma nova lei do petróleo, e que participaram das mobilizações do dia 21 de outubro - quando avaliaram, acertadamente, o valor estratégico do petróleo e o recuo que representaria a eventual vitória do candidato do PSDB/DEM - estão subestimando a urgência dessa mobilização. A maioria das centrais sindicais está mais preocupada com a pauta da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

O Sindipetro-RJ diverge dessa análise. A pauta do petróleo se impõe, porque está na ordem do dia no Congresso. Subestimar a resistência popular contra os leilões é uma contradição. Fica a pergunta: toda essa mobilização só teria sido importante para eleger Dilma? Para nós, a questão do petróleo vai além de um mandato eleitoral. Dependendo do que for aprovado no Congresso, poderá representar a solução dos principais problemas sociais e ambientais do pais ou acarretar problemas ainda maiores.

Pelos motivos citados, nós, do Sindipetro-RJ, não concordamos com a data da nova plenária nacional da campanha, prevista para a segunda quinzena de março, em Minas Gerais. Essa plenária, retomando a organização nacional da campanha, deveria acontecer antes. Até porque foi um entendimento consensual, na reunião preparatória com a presença de forças políticas que compõem a campanha (em Brasília, no dia 29 de novembro), que o governo deverá anunciar em breve mais uma rodada de leilão, provavelmente a ser marcado em data que dificulte a mobilização popular, como aconteceu durante a 10ª licitação, há um ano, em 18 de dezembro de 2009.

A mobilização contra a próxima rodada de leilão, a primeira do pré-sal, deve começar agora. Esse será o tema principal da próxima Plenária Estadual da campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, no dia 15 de dezembro, na sede do Sindipetro-RJ. A palavra de ordem que nos inspira não mudou: “Não ao leilão de petróleo. Leilão é privatização!
*o Sindipetro-RJ fica na Avenida Passos, 34, centro do Rio 
**publicado no Jornal Surgente, do Sindipetro-RJ

domingo, 5 de dezembro de 2010

Carlos Tautz, em agosto de 2010: Serra, Dilma, Marina e Plínio sofrem de insensibilidade ambiental

Nota do EDUCOM: Dilma ainda não nomeou seu ministro do Meio Ambiente. Meio ambiente será tratado como estratégico no novo governo?

Por Carlos Tautz, jornalista. Publicado em 17 de agosto de 2010 no website Opinião e Notícia
A menos de dois meses das eleições presidenciais, nenhum dos quatro principias candidatos (Dilma, Serra, Marina e Plínio) expressam compreensão ou sequer apreço pelos graves problemas ambientais que o Brasil precisa enfrentar. Problemas, aliás, que extrapolam os limites da “questão ambiental” e dizem respeito mesmo ao coração do modelo de desenvolvimento brasileiro. Todos e todas nobres candidatas e candidatos, quando sem saída, optam pelas expressões idiomáticas pobres de conteúdo e ricas em possibilidade de virarem noticia.

De mudanças climáticas a uma política nacional de economia de energia, passando pelo desenvolvimento de uma plano global de utilização sustentável dos recursos hídricos (que seria uma precondição ao país que aspira a ser produtor mundial da commodity álcool combustível), tudo de importante para um prometo de Brasil é desconsiderado. De olho na campanha, limitam-se a discutir ações de curto prazo que não projetam qualquer futuro para esta nação de 190 milhões de pessoas. Pior para o Brasil (ou seja, nós).

No campeonato da insensibilidade ambiental, candidatas e candidatos podem ser divididos em três grupos. No bloco dos pragmáticos estão Dilma (PT-PMDB) e Serra (PSDB-DEM), preconizando uma impossibilidade física: crescimento econômico sem fim, embora (como Marina) afirmem ser possível compatibilizar respeito ambiental e desenvolvimento.

O segundo bloco é o de Marina (PV), que escapa de emitir posições claras. Diz, apenas, que, eleita, manterá as “conquistas” dos últimos 16 anos: câmbio fixo, independência do Banco Central e superávit fiscal, na linha dos famosos ambientalistas Pedro Malan, Armínio Fraga e Henrique Meirelles.

O último bloco é o dos sem proposta. Integrado por Plínio (PSOL), que segue a tradição ideológica da esquerda e se relaciona com o ecologismo da mesma forma utilitária e não estratégica como o faz a esquerda também no campo da comunicação e da cultura.

Dilma evita comentar os efeitos da eventual entrada em vigor da proposta de novo Código Florestal (elaborada por um deputado de sua atual base congressual). A ser aprovada na forma como tramita agora na Câmara, o novo Código provocaria o aumento exponencial das emissões de gases causadores das mudanças no clima. Sequer menciona a possibilidade de fazer um balanço de emissões de seus carros-chefes, o PAC, e seus megaprojetos impactantes do meio ambiente.

Serra, por sua vez, é enfático. Garantiu ao Jornal Nacional ser “muito ambientalista”, e mais nada diz a respeito. Em coral com Dilma e Marina, entoa o mantra de que “é possível conciliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental”, mas sempre escapole de abordar temas centrais, como o zoneamento econômico ecológico de todo o território nacional e o apoio do Estado brasileiro aos maiores desmatadores.

Marina reitera figuras retóricas vazias de conteúdo como “desenvolvimento sustentável” (expressão com mais de 300 significados reconhecidos pela ONU) e faz uma campanha fashion. Segue os moderninhos ambientais que propõem uma “economia de baixo carbono”, mas esquece que a economia brasileira é intensiva no uso de combustíveis fósseis ricos em… carbono! Registre-se a coerência histórica de continuar a ser contra a energia atômica.

A vontade como franco atirador, Plínio aborda questões chaves do desenvolvimento nacional, como o limite da terra, mas não escapa dos limites ideológicos da sua matriz, esquerda tradicional, e passa longe de encarar questões como a matriz energética ou o papel do Brasil na arena internacional como eterna plataforma de exportação de commodities.

OK, a opinião de candidatos e candidatas é pouco clara, mas tudo bem: não é preciso ter pressa. Afinal, nosso planeta nos proverá infinitamente de recursos, não é mesmo?

sábado, 20 de novembro de 2010

Dilma contém choro e agradece apoio dos militantes do PT


Do "Terra"
A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) fez um breve discurso no diretório nacional do Partido dos Trabalhadores ontem, em Brasília. Ao lado de José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT e integrante da equipe de transição do governo, ela falou por aproximadamente 18 minutos e não entrou em detalhes a respeito de seus planos de governo para os próximos quatro anos. Comovida, Dilma agradeceu o apoio dos militantes do PT durante a campanha e teve que conter as lágrimas.

"Temos a responsabilidade de transformar esse País numa referência histórica, numa das maiores democracia do Ocidente. Teremos uma justiça social que prima pela erradicação da miséria", disse a presidente.

Dilma Rousseff afirmou que o PT está maduro e pronto para governar para a situação e oposição. "Vou enfatizar a importância das alianças políticas, algo que fizemos de forma madura, com capacidade de conviver com a diferença, de entender que é possível ter posicionamentos diferenciados sobre algumas questões e construir o consenso político que vai mudar o nosso País.

O PT foi aprendendo e teve maturidade para entender que o país era complexo, que tinha que se coligar, fazer aliança. Numa democracia, é assim que se deve governar."

Sobre a responsabilidade de suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acumula recordes de aprovação popular, Dilma falou que o importante é não se repetir. "Minha vantagem, quando olho para 2002, é que temos uma herança bendita. Essa herança nos coloca um desafio: nossas conquistas não podem se repetir, sob pena de não honrarmos o que construímos. Isso nos coloca a imposição de ir em frente, de aprofundar o que conquistamos. Esse projeto começou com Lula e teve toda uma experiência pessoal dele como líder sindical."

Os três porquinhos
O discurso de Dilma foi marcado por momentos de emoção e descontração. Ao se referir à ausência do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que deve ocupar um cargo importante no seu governo, a presidente disse que ele é um dos "três porquinhos", sendo os outros dois José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo, deputado federal pelo PT. "Os 3 porquinhos foram muito bem sucedidos na coordenação da minha campanha. Encontrei neles companheiros de todas as horas. Sem abrir mão da importância de outras lideranças aqui presentes, quero dirigir a eles meu agradecimento especial."

Comovida, a presidente falava sobre a solidariedade recebida por militantes do PT em diversos locais do Brasil e teve que parar para beber água e conter as lágrimas. "Eu vi o PT vivo e atuante de Norte a Sul, Leste a Oeste. É para esse partido que eu apresento o meu reconhecimento, a minha gratidão e a certeza que eu dependo desse partido para bem governar o País. Dependo do esforço e da solidariedade de vocês, e da maturidade política para compreender os diversos desafios políticos", afirmou.

Dilma Rousseff encerrou o discurso homenageando a perseverança do presidente Lula, que foi eleito após três tentativas frustradas, pedindo que os petistas que não se elegeram não desistam. "Nós temos uma herança e a trajetória de que é preciso não desistir. Nós estamos iniciando uma nova etapa e outras etapas ainda virão. Nós, mulheres, chegamos aqui. Eu acho que eu represento a luta de cada uma das militantes aqui presentes. Todas nós representamos milhões de mulheres brasileiras que progressivamente colocarão sua cara, brigando por um Brasil melhor."

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

E Dilma foi eleita Presidente do Brasil

Por Marilia Guimarães*, em seu blog
Como moldura o Pão de Açúcar, como história, entre rodadas de chope bem gelado o Fiorentina, há 50 anos ponto de encontro de intelectuais e artistas guarda em suas paredes a história do teatro brasileiro, a melodia dos maiores gênios de nossa música, como Ari Barroso – o da Aquarela - viu o Brasil explodir em alegria, antecipar um carnaval diferente – o dia D.

Nas ruas, bares, avenidas, dentro das casas o 31 de outubro de 2010 ficará marcado como o dia em que o povo brasileiro num gesto de patriotismo elegeu a 1ª Mulher como Presidente do País – Dilma Rousseff.

Mineira, descendente de búlgaros, guerreira desde a juventude, competente nos cargos que ocupou, mãe, avó é hoje a senhora que comandará o destino que escolhemos. O da continuidade de um Presidente que saído de um Pau de Arara mudou os rumos da história.

Foram meses difíceis. As águas de março não anunciaram o fim do verão, e sim o inicio de uma luta de bravos guerreiros, militantes de sonhos, que tinham como missão maior conquistar corações para escolher a mulher que iria ocupar o maior cargo da nação.

Sai à rua. De escolas do interior, a batalhões, de presídios a comunidades longínquas, de Jovens maduros a presidiários recém libertos adaptando-se a nova sociedade, uns recuperados pelo esporte que constrói o futuro, outros apaixonados pelo Ernesto – assassinado por aqueles que temem a justiça dos homens – o eterno Che.

Explicar Dilma, falar de sua entrega, de sua garra, de sua coerência, desmitificar a imagem construída covardemente pela mídia comprometida transformou em tarefa árdua. Amanheceres se estendiam madrugada a dentro amparados pela vontade que move os homens que acreditam e sabem que é possível um mundo melhor.

Três de outubro não trouxe a esperada vitoria. Mentiras trás mentiras, traições, falsidades invadiam milhares de casas nos horários eleitorais, nas redes sociais, nas caminhadas. Viviam-se dias de terror, de medo. Tentaram um novo Riocentro travestido na moça seringueira, desamparada, sofrida que mudaria o amor, a ordem, e o progresso. Astutos jogaram com o emocional de uma classe media enganada, esquecida dos milhares de jovens saídos do sertão, do interior deste imenso país sofridos, famintos, abandonados a sorte que hoje ocupam um lugar ao sol. Na insônia de muitas madrugadas, por vezes feliz dos logros alcançados, por vezes agoniada pela incompreensão, estabelecia um elo entre as fábulas de La Fontaine e detinha no Lobo e no Cordeiro. Conheço senão todas, as principais nuances das cores que pintam as inverdades sobre minha amada aldeia.

Despertei decidida. Deter as agressões, estancar as denúncias infundadas através das redes sociais missão trabalhosa, quase uma utopia. Somente uma voz seria capaz de despertar a juventude os enganados. Somente Oscar seria capaz de tamanha mobilização. Num piscar de olhos já sua voz ganhava o mundo. Euvotodilma multiplicou-se em todas as direções. Dias mais tarde, Chico Buarque e Leonardo Boff reuniam no Teatro Casa grande, palco de muitas lutas nos anos de chumbo, cantores, compositores, intelectuais de todos os cantos do País. Do amado Borguetinho – eternamente tímido a Elba Ramalho, desabrochando em charme, a nossa sambista maior Beth Carvalho e Niemeyer, como diz a canção, só não foi quem já morreu. Nem a chuva que caía fininho trazendo consigo um vento frio, nem os que não puderam entrar, faltaram ao pedido dos filhos desta mãe gentil.

A militância fortaleceu e ganhou de novo as ruas, militantes virtuais filiados ou não ao PT de todos os recantos desta terra, através das redes sociais desalojaram as provocações inimigas. Os Top Trend’s no twitter mundiais e nacionais, mesmo depois do primeiro depoimento da nossa presidente, ocupavam os primeiros lugares no mundo virtual extremante humano – o povo brasileiro confirmou nas urnas, confirmou na internet o seu desejo: Dilma Presidente.
*é veterana da luta armada contra a ditadura, professora, escritora, empresária do ramo de TI e nossa colega no #Rio Blog Prog

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Eleições 2010: o velho poeta e a ira dos inconformados

Por Ricardo Kotscho, do Balaio do Kotscho
Eleição para presidente é bom por causa disso: só acontece de quatro em quatro anos, tem dia e hora para acabar. Em pouco tempo, fica-se sabendo quem ganhou e quem perdeu. No dia seguinte, a vida segue seu rumo. Os vencedores escolhem o time que vai governar e os perdedores reorganizam suas tropas para a próxima eleição. Por isso, como vocês sabem, nem pretendia voltar ao assunto.

Nas democracias costuma ser assim, mas não é bem o que está acontecendo no Brasil nestas duas semanas que se passaram desde que fomos às urnas. Em alguns “bolsões sinceros mas radicais”, como se dizia nos tempos dos militares, quando não se podia votar para presidente, nota-se um rancoroso inconformismo com o resultado, especialmente na imprensa e nas redes sociais.

Manifestações diárias deste sentimento podemos encontrar em mensagens e artigos carregados de ira, preconceitos e intolerância que circulam em colunas, editoriais, blogs, celulares, facebooks, twitters e que tais, nas velhas e nas novas mídias impressas e eletrônicas, por toda parte _ hoje como ontem, os mais estridentes redutos do que sobrou da oposição radical. Não são tantos como pensam, mas fazem muito barulho.

Um exemplo patético do que pensa este tipo de eleitor derrotado é o inacreditável artigo publicado domingo na Folha de S. Paulo pelo poeta Ferreira Gullar, sob o título “Ah, se não fosse a realidade!”. De fato, se não fosse a realidade das urnas, ele talvez estivesse hoje mais feliz, menos amargo, escrevendo novos versinhos, mas o voto digitado não tem volta e os resultados oficiais já foram proclamados pelo TSE.

A começar pelo trecho destacado no texto _ “Ninguém imagina que Lula deixe dona Marisa em São Bernardo para instalar-se na alcova de Dilma” _ Gullar destila sua bílis num panfleto carregado de ódio e desrespeito, que não deve fazer bem a quem o escreve, muito menos a quem o lê num final de tarde de domingo como aconteceu comigo.

Viúvo do comunismo de resultados de Roberto Freire, o octogenário poeta ganhou destaque na reta final da campanha eleitoral como uma espécie de líder dos intelectuais de oposição, encabeçando manifestos e abaixo-assinados “em defesa da democracia e da vida”, como se ambas estivessem ameaçadas.

Fez o que pode e o que não pode, como se pudesse, para impedir a vitória de Dilma Rousseff, candidata de um governo que ele abomina desde que tomou posse, em 2003. Por isso, ele até hoje simplesmente não aceita a derrota.

“De fato, como acreditar que uma mulher que nunca se candidatara a nada, destituída de carisma e até mesmo de simpatia, fosse capaz de derrotar um candidato como José Serra, dono de uma folha de serviços invejável, tanto como parlamentar quanto como ministro de Estado, prefeito e governador?

Não obstante, aconteceu (…)”

Gullar faz parte do elenco fixo de intelectuais e “ólogos” em geral sempre requisitados pela imprensa para escrever artigos ou dar entrevistas contra o governo Lula, a presidente eleita e o PT. Até hoje, tem gente que não admite e não se conforma com as vitórias de Lula em 2002 e 2006, e muito menos com a de Dilma este ano.

Premiado porta-letras de um setor da sociedade que o venera nos saraus dos salões elegantes, o poeta é figurinha carimbada, mas agora é hora de renovar o plantel, pois ninguém vai conseguir ler sempre os mesmos lamentos e insultos por muito tempo.

Na semana passada, a mesma Folha recolheu do anonimato dois articulistas do melhor estilo “neocon”, que atribuem aos feios, sujos e malvados as razões de todas as nossas desgraças, e os abrigou em sua terceira página.

Primeiro, foi um rapaz chamado Leandro Narloch. Em seu breve currículo, ele informa já ter trabalhado na Veja e que é autor do livro “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. Sob o título “Sim, eu tenho preconceito”, ele escreveu um texto em defesa da elite branca de Cláudio Lembo e da moça que culpou os nordestinos pela derrota e sugeriu o afogamento deles como solução. É mais um autor “neocon” em busca de um nicho de mercado dominado por “oldcons”.

Pouco importa que, mesmo sem os votos do Norte-Nordeste, Dilma tivesse vencido as eleições do mesmo jeito, com mais de 1,3 milhão de votos de vantagem. A tese dos neocons é que os pobres, doentes e iletrados das “regiões mais atrasadas” ganharam dos sábios, saudáveis e abonados do Sul-Sudeste maravilha, o que para eles é inconcebível.

A segunda a entrar em cena foi a professora doutora Janaina Conceição Paschoal, apresentada ao público como professora associada (de quem?) de Direito Penal na gloriosa Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Na mesma linha, ela publicou o artigo “Em defesa da estudante Mayara” e colocou a culpa pela explosão do “racismo regional” em Lula.

Enquanto a oposição procura juntar os cacos e entender o que aconteceu, sem a participação do seu líder derrotado, que sumiu do mapa e fez apenas uma fugaz e infeliz aparição no Sul da França, o noticiário pós-eleitoral se concentra nas muitas crises entre os partidos aliados na disputa por cargos no novo governo e no superdimensionamento de problemas administrativos enfrentados pela administração federal.

Pelo jeito, boa parcela do eleitorado mais conservador continua sem lideranças na representação político-partidária e no movimento social, embora tenha mostrado sua força na recente eleição, o que leva bispos, poetas, pastores e setores da imprensa a exercer este papel cada vez com maior furor.

Como dizia um velho jornalista dos meus tempos de Estadão, o mestre Frederico Branco, ainda nos anos 60 do século passado: eles não aprendem, não esquecem e não perdoam.

O Brasil que sai das urnas

A seguir, um resumo de várias análises publicadas no website do Instituto Humanitas Unisinos sobre as eleições de 2010, a partir de entrevistas com gente como Walter Pinheiro, D. Luiz Demétrio Valentini, Ivana Bentes, Ivo Poletto, Emir Sader, Wladimir Safatle, Marcelo Neri e Francisco de Oliveira, além de trabalhos de outros intelectuais e frases de políticos após um dos processos eleitorais mais marcantes do pós-ditadura militar. Confira a apresentação e um sumário de todo o material reunido na seção Notícias do Dia, da página do IHU.

O balanço da sexta eleição presidencial pós-ditadura, e a quinta consecutiva disputada entre o PT e o PSDB, aos poucos vai sendo feito e vai revelando o Brasil que saiu das urnas. Ao mesmo tempo, ganha corpo o debate de como será e quais são os principais desafios que aguardam Dilma Rousseff – no primeiro governo pós-Lula.

Contribuir na interpretação dos principais fatos que fizeram parte da disputa eleitoral 2010 e seus desdobramentos, na análise das forças ganhadoras e perdedores, nas conjecturas de qual projeto sai fortalecido e nos desafios que se apresentam para um governo pós-Lula é o objetivo dessa análise. O ponto de referência de elaboração desta análise é o movimento social, mesmo tendo presente que a leitura e a interpretação dos movimentos sobre as eleições estão em curso e não são unitárias. A nossa análise, portanto, é uma entre outras que se oferece para o debate público.

No balanço preliminar das eleições 2010 algumas constatações ganharam destaque. Entre elas, a mais ouvida e citada, foi a de que Lula foi o grande vitorioso considerando que a sua aposta pessoal – Dilma Rousseff – se transformou em uma candidatura competitiva e vencedora. Ainda mais: Lula conseguiu algo pouco comum no mundo da política que é a transferência de votos.

Entre ganhadores e perdedores do processo eleitoral 2010, além da vitória pessoal de Lula, destacam-se outras afirmações: Marina Silva surpreendeu; o DEM foi fragorosamente derrotado; o PT saiu fortalecido, o PSDB enfraquecido, o PSB emergiu como nova força política; caciques políticos foram expelidos pelas urnas e pela Ficha Limpa; a esquerda programática teve desempenho pífio. Falou-se ainda muito do grau de tensão dessas eleições comparável apenas ao das eleições de 1989 e ao fato da agenda moral religiosa ter assumido uma proporção impensável no debate eleitoral.

Agreguem-se aos aspectos anteriores outros elementos menos comentados, mas nem por isso menos importantes: a ausência de um debate programático mais consistente; o ‘lulismo’ substituindo o debate programático; a confirmação do realinhamento eleitoral verificado em 2006 e o não comparecimento da agenda do movimento social nas discussões. As eleições de 2010 permitem ainda a análise de que o modelo neodesenvolvimentista, protagonizado pelo governo Lula, saiu vitorioso e tende a se consolidar no governo de Dilma Rousseff.

Sumário

O Brasil que sai das urnas
Introdução
Eleições 2010. Surpresas ‘não esperadas’
Estado laico. Sociedade religiosa
Igreja e aborto – polêmica envolve a CNBB
Pronunciamento de Bento XVI, um reforço inesperado
Marina Silva. Onda verde ou onda conservadora?
Eleições despolitizadas?
O ‘lulismo’ substituiu os programas
Raízes sociais e ideológicas do lulismo
Lulismo. Um projeto sem rupturas e pluriclassista
Neodesenvolvimentismo. O conteúdo programático do lulismo
Estado financiador. As grandes transnacionais brasileiras
O Estado investidor. As grandes obras de infra-estrutura
O Estado Social. Mitigação e superação da pobreza
Lulismo + neodesenvolvimentismo = vitória de Dilma
A agenda esquecida
Gênero: forçando mudanças na política
Estereótipos de gênero
Dilma e as rupturas de concepções conservadoras
Desafios para o governo Dilma
Economia. Ventos de mau presságio?
A ‘sombra’ de Lula
Perfil do novo Congresso
Pós-eleição 2010 em frases

Clique aqui e leia a análise. Saudações educomunicativstas.

sábado, 13 de novembro de 2010

Respirar é possível

Para governos 'desalinhados' e para as classes sociais que os levaram ao poder, as eleições no Brasil foram um sinal de esperança

Por Boaventura de Sousa Santos*
As eleições no Brasil tiveram uma importância internacional inusitada. As razões diferem consoante a perspectiva geopolítica que se adote. Vistas da Europa, as eleições tiveram significado especial para os partidos de esquerda. A Europa vive uma grave crise, que ameaça liquidar o núcleo duro da sua identidade: o modelo social europeu e a social-democracia. Apesar de estarmos diante de realidades sociológicas distintas, o Brasil ergueu nos últimos oito anos a bandeira da social-democracia e reduziu significativamente a pobreza. Fê-lo reivindicando a especificidade do seu modelo, mas fundando-o na mesma ideia básica de combinar aumentos de produtividade econômica com aumentos de proteção social.

Para os partidos que, na Europa, lutam pela reforma do modelo social, mas não por seu abandono, as eleições no Brasil vieram trazer um pouco mais de ar para respirar. No continente americano, as eleições no Brasil tiveram uma relevância sem precedentes. Duas perspectivas opostas se confrontaram. Para o governo dos EUA, o Brasil de Lula foi um parceiro relutante, desconcertante e, em última análise, não fiável. Combinou uma política econômica aceitável (ainda que criticável por não ter continuado o processo das privatizações) com uma política externa hostil. Para os EUA, é hostil toda política externa que não se alinhe integralmente com as decisões de Washington. Tudo começou logo no início do primeiro mandato de Lula, quando este decidiu fornecer meio milhão de barris de petróleo à Venezuela de Hugo Chávez, que nesse momento enfrentava uma greve do setor petroleiro, depois de ter sobrevivido a um golpe em que os EUA estiveram envolvidos. Tal ato significou um tropeço enorme na política americana de isolar o governo Chávez.

Os anos seguintes vieram confirmar a pulsão autonomista do governo Lula. O Brasil manifestou-se veementemente contra o bloqueio a Cuba; criou relações de confiança com governos eleitos mas considerados hostis - Bolívia e Equador - e defendeu-os de tentativas de golpes da direita, em 2008 e em 2010. O país também promoveu formas de integração regional, tanto no plano econômico como no político e militar, à revelia dos EUA, e, ousadia das ousadias, procurou relacionamento independente com o governo "terrorista" do Irã. Na década passada, a guerra no Oriente Médio fez com que os EUA "abandonassem" a América Latina. Estão hoje de volta, e as formas de intervenção são mais diversificadas do que antes. Dão mais importância ao financiamento de organizações sociais, ambientais e religiosas com agendas que as afastem dos governos hostis a derrotar, como acaba de ser documentado nos casos da Bolívia e do Equador. O objetivo é sempre o mesmo: promover governos totalmente alinhados.

E as recompensas pelo alinhamento total são hoje maiores que antes. A obsessão de Serra com o narcotráfico na Bolívia (um ator secundaríssimo) era o sinal do desejo de alinhamento. A visita de Hillary Clinton e a confirmação, pouco antes das eleições, de um embaixador duro ("falcão"), Thomas Shannon, são sinais evidentes da estratégia americana: um Brasil alinhado com Washington provocaria, como efeito dominó, a queda dos outros governos não alinhados do subcontinente. O projeto se mantém, mas, por agora, ficou adiado.

A outra perspectiva sobre as eleições foi o reverso da anterior. Para os governos "desalinhados" do continente e para as classes e movimentos sociais que os levaram democraticamente ao poder, as eleições brasileiras foram um sinal de esperança: há espaço para política regional com algum grau de autonomia e para um novo tipo de nacionalismo, que aposta em mais redistribuição da riqueza coletiva.
*sociólogo, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e autor, entre outros livros, de "Para uma Revolução Democrática da Justiça" (veja post 'Livros')

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Nordestinos convidam estudante que mostrou preconceito no Twitter a conhecer cultura da região

Da Rede Brasil Atual
SÃO PAULO - Tiago Bernardes, assessor do Centro de Tradições Nordestinas (CTN) de São Paulo, convidou a estudante Mayara Petruso a conhecer a cultura nordestina. Ele representou a entidade em ato de desagravo aos nordestinos realizado na Câmara de Vereadores da capital paulista na noite de ontem, dia 11. Diversas entidades subscreveram um manifesto contra o preconceito, motivado pela onda antinordestinos em redes sociais na internet, como o Twitter.

No dia 31 de outubro, logo após a divulgação do resultados da eleição presidencial, Mayara publicou, em seu perfil no Twitter e no Facebook, declarações preconceituosas contra nordestinos. A frase foi apontada como pivô de uma série de manifestações semelhantes, produzidas por diversos outros usuários dessas redes.


No ato de desagravo aos nordestinos, Bernardes lembrou que o preconceito é reflexo do desconhecimento e que a ação da universitária provavelmente se deu por falta de desconhecimento da cultura nordestina. “Se ela passar pelo CTN, vai se apaixonar”, garantiu. Na próxima sexta-feira (19), o centro realiza a “Festa da Paz, diga não ao preconceito”.

O blogueiro Eduardo Guimarães, do Movimento dos Sem Mídia, também presente ao ato, alertou para a gravidade das ações que incitam o ódio entre regiões. “Não é um ato destrambelhado de uma jovem de 21 anos. Não foi só essa moça”, detectou.

Ele citou que as pessoas se sentiram livres para desabafar o que pensam acerca da migração no Brasil. “Entre outras coisas propuseram separar Sul e Sudeste do Nordeste com muros”, condenou.

Guimarães analisa que a grande imprensa contribuiu com manifestações discriminatórias por ter difundido a tese de que os eleitores do presidente Lula seriam de baixa escolaridade e majoritariamente do Nordeste. “Acuso formalmente a imprensa brasileira”, ressaltou. Ele também citou o "Movimento São Paulo para os Paulistas" que recebeu mais de 1.600 assinaturas em apoio um abaixo-assinado pela internet que defende a expulsão de nordestinos do estado.

Na visão do blogueiro, se São Paulo tivesse dono, seriam os índios. “Essa terra não pertence a nenhum de nós. Pertence aos índios”, lembrou. “Se fosse assim, todos teriam de sair dos Jardins, de Moema, do Centro”, elencou.

Educação
Osvaldo Bezerra, coordenador político do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Plásticas de São Paulo e região, adiantou que durante a assembleia de encerramento da campanha salarial da categoria, nesta sexta, também haveria um ato de repúdio ao preconceito contra nordestinos.

O dirigente sindical engrossou o coro de que a estudante Mayara é vítima da falta de educação de qualidade. “A educação sem qualidade forma jovens sem consciência da riqueza multicultural do Brasil”, salientou.

No mesmo sentido, Renato Zulatto, da direção da CUT-SP, recordou que a construção de São Paulo foi feita com trabalhadores de diversas partes do país. “Somos aguerridos e viemos construir com gaúchos, bolivianos, japoneses, coreanos”, disse o dirigente sindical.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ato de apoio aos migrantes nordestinos hoje à tarde na Câmara Municipal de São Paulo

Do Blog da Cidadania
Cumpre ao Blog da Cidadania expor a sua proposta-base de agendamento da realização de um ato público de solidariedade a migrantes nordestinos, nortistas, negros e índios por estes estarem sendo vítimas de perseguições de todo tipo – retóricas e, supostamente, até por meio de violência física, como no caso dos freqüentes incêndios em favelas – no Estado de São Paulo, sobretudo na capital.

Em primeiro lugar, considera-se importante que o ato em questão não tenha o menor viés político-partidário, evitando responsabilizar partidos e lideranças políticas pelos fatos lamentáveis que ganharam maior visibilidade na noite de 31 de outubro deste ano, mas que vêm ocorrendo já faz tempo.

O que se pretende com esse ato é fazer um alerta a setores da sociedade (ainda não mensurados estatisticamente) de que o que estão praticando é um legítimo crime contra cidadãos brasileiros em pleno gozo de seus direitos civis – e que, portanto, têm direito a proteção do Estado contra os agressores.

O alerta se faz necessário porque tais grupos sociais desconhecem a lei de forma consciente e inconsciente. Ao grupo inconsciente, o alerta deve servir para tentar evitar que a lei tenha que ser aplicada sem um mínimo de tolerância; ao grupo consciente de que está delinqüindo, o alerta é o de que há cidadãos de outros estratos sociais menos fragilizados dispostos a lutar pelos desvalidos que não têm consciência de seus direitos.

Também se pretende chegar aos atingidos pela violência retórica e física, os quais, muitas vezes, não têm idéia de que podem exigir proteção do Estado e de que têm como denunciar o que sabem sobre os métodos e as identidades de seus agressores.

Por último, a intenção desse ato público é a de mostrar ao resto do Brasil que essas manifestações odiosas de racismo e de xenofobia, bem como as agressões físicas aos migrantes nordestinos (sobretudo), estão longe de ser regra em São Paulo, sendo meras exceções praticadas por criminosos ou por ignorantes que, por serem bem aquinhoados, pensam estar acima da lei.

Data, hora e local do ato
Diante da exigência da situação de se dar um caráter institucional a um ato de garantia e defesa de direitos constitucionais e de reafirmação da supremacia das leis e do Estado Democrático de Direito, o Blog da Cidadania considera que aproveitar iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo de propor receber esse ato público em seu Plenário é a melhor solução.

Haverá convite a autoridades das esferas federal, estadual e municipal da área de direitos humanos e a parlamentares, bem como à imprensa, a movimentos sociais e a sindicatos. Diante da Câmara Municipal de São Paulo poder-se-á exibir faixas por manifestantes de forma ordeira e respeitando o direito de ir e vir, tudo de acordo com a lei e com as autoridades municipais.

A data CONFIRMADA para a realização do evento é 11 de novembro, PRÓXIMA 5A-FEIRA, a partir das 17 HORAS, no Plenário da Câmara, no primeiro andar. Por ser dia útil, haverá afluxo de parlamentares da Casa e, portanto, maior atenção da cidade, que, nesse horário, estará fervilhando. Por favor difundam o evento.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Calem a boca, nordestinos!

Por José Barbosa Júnior*
A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada
dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço
parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia,
Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus
candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o
Serra... outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a
candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do
baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na
internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas
declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso,
alavancada por uma declaração no twitter:

"Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!"

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros”
também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado
final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidente ou
presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos"
Houaiss e Aurélio) do nosso País.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados
em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura
brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos
José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de
Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e
a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur
Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará
nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em
seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem
tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os
talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de
Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o
deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de
atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e
Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do
paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será
eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e
2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos
oferecer, povo analfabeto e sem cultura...

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora
simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das
lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos
Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine?

Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...
E não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas
melodias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...

Ah! Nordestinos...

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que
nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á
força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país?

Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um
ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo
civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam
aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda
poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato
Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da
melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo
civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho
infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não
trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é
o QUANTO esse trabalho infantil vai render.

Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar
nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um
trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom
mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais,
ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada,
mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que
importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de
Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder
a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo
abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta
beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a
sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras
ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na
construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques,
religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a
importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na
literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em
que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do
escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe,
queridos irmãos nordestinos!
*Zezinho Barbosa é militante da esquerda, filho e sobrinho de cidadãos brasileiros vítimas da ditadura militar

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Já temos a resposta, senadora Marina

No dia 13 de novembro de 2009, quase um ano atrás, fizemos um post provocativo que perguntava a você, leitor, se a senadora Marina Silva seria em seu novo partido uma Graúna, aquela personagem desconfiada e inconformada de Henfil, ou alguém que legitimaria o discurso neoliberal, pró-mercado da cúpula do PV. Leia esta análise do jornalista Carlos Tautz, publicada em 11 de outubro passado, oito dias após aqueles quase 20 milhões de votos destinados à presidenciável verde ajudarem a impedir a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. Não reproduzimos antes para não polemizar o assunto em meio ao processo eleitoral do segundo turno, que estava muito tenso.


Depois de verde, direita


Por Carlos Tautz, jornalista*
Marina Silva foi ovacionada por milhares de pessoas no Fórum Social Mundial de Porto Alegre em janeiro de 2003. Nem Lula fora tão aplaudido naquele encontro da esquerda mundial. Ela era a expressão viva da mudança que muita gente esperava do Brasil. Intelectuais como o austríaco Fritjof Capra e a indiana Vandana Shiva até se dispuseram a ajudá-la a buscar, a partir do Brasil, um novo paradigma de desenvolvimento baseado na justiça social e ambiental.

A vida real, entretanto, foi bem diferente. Marina perdeu todas as principais batalhas que travou dentro do seu próprio governo, deixou o PT e passou a concordar com muitos temas contra os quais se opusera anteriormente: sementes transgênicas (ainda no Senado, pediu moratória para os organismos geneticamente modificados), transposição do rio São Francisco, usinas no rio Madeira e Xingu.

Ao escolher o PV para concorrer à Presidência, e abraçar um programa macroeconômico tipicamente tucano, ficou evidente que a Neomarina nada mais tinha a ver com a Marina de janeiro de 2003. E que o PV havia sido escolhido justamente devido ao fato de nessa legenda caber qualquer pessoa e qualquer ideia. Cabe, inclusive, o esquema que a ex-ministra vem montando com agentes econômicos, nacionais e internacionais, para viabilizar um novo bloco de poder no Brasil.

O bloco de poder que Marina começa a representar envolve setores do mercado financeiro que apoiou o PSDB e empresas agroextrativistas e de base que se aproximaram do PT. A estratégia de Marina e do PV é pinçar velhos agentes econômicos, já atuantes em governos passados, que agora querem aproveitar as oportunidades econômicas abertas pela alteração do clima no planeta.

Compõem este novo bloco, entre outros, os setores canavieiro, de mineração, de papel e celulose e o agronegócio. Arcaicos em sua essência, porque mantêm as práticas de séculos atrás, vestiram roupa nova para entrar na festa da economia da crise climática e passaram a defender conceitos vazios de conteúdo e cheios de segundas intenções, como mercado de baixo carbono.

É por esta razão que não falta dinheiro para pesquisas universitárias e seminários sobre REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), um suposto mecanismo anti-emissões que tem feito mais sucesso na Avenida Paulista do que no meio rural, onde o modelo de desenvolvimento baseado na extração intensa de recursos naturais para exportação ainda vigora e se aprofunda.

Todo negócio agrícola do Brasil se eriça só de pensar na montanha de dinheiro envolvida nessas tenebrosas transações. Vislumbram inclusive aproveitar o ufanismo criado em torno do etanol como combustível verde para imaginar a substituição da petroquímica pela alcoolquímica, em um cenário futuro de esgotamento comercial das reservas de petróleo. Só por conta dessa possibilidade já é possível imaginar os interesses que se articulam a uma candidatura presidencial que se propõe justamente a desenvolver uma economia “ambiental”.

Os apoiadores da ex-candidata, boa parte deles oriundos do PSDB, falam em desenvolver uma economia fundamentada no mercado de carbono, ainda que pouquíssima gente saiba o que de fato isto significa. O Banco Mundial e consultorias internacionais, pais e mães da nova terminologia, sabem muito bem. Na prática, toda a “economia de baixo carbono” significa diferentes esquemas para privatizar territórios, ar, água, diversidade biológica, minerais. São propostas que se escoram no argumento de que o mercado é a única saída possível para tratar a crise climática e que encontram enorme eco na equipe de Marina.

Esta opção conservadora é do mesmo tipo daquelas feitas pelos partidos verdes europeus, matrizes ideológicas do PV brasileiro. Depois de se proclamarem além da esquerda e da direita, eles terminaram gostosamente nos braços da direita, a começar pela Alemanha, onde surgiram. Por aqui, o PV vai pelo mesmo caminho e procura uma maneira de apoiar o candidato tucano no segundo turno. A se confirmar essa tática, Marina, que saiu da esquerda formal representada pelo PT, iria de roldão. E, depois dos verdes, terminaria na direita.
*postado originalmente em 11.10.10 no Blog do Noblat

Veja ainda:
A disputa pela terra em Copenhague

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Desafios para a Presidenta Dilma Rousseff

Por Leonardo Boff*
Celebramos alegremente a vitória de Dilma Rousseff. E não deixamos de folgar também pela derrota de José Serra que não mereceu ganhar esta eleição dado o nível indecente de sua campanha, embora os excessos tenham ocorrido nos dois lados. Os bispos conservadores que, à revelia da CNBB, se colocaram fora do jogo democrático e que manipularam a questão da descriminalização do aborto, mobilizando até o Papa em Roma, bem como os pastores evangélicos raivosamente partidizados, saíram desmoralizados.

Post festum, cabe uma reflexão distanciada do que poderá ser o governo de Dilma Rousseff. Esposamos a tese daqueles analistas que viram no governo Lula uma transição de paradigma: de um Estado privatizante, inspirado nos dogmas neoliberais para um Estado republicano que colocou o social em seu centro para atender as demandas da população mais destituída. Toda transição possui um lado de continuidade e outro de ruptura. A continuidade foi a manutenção do projeto macroeconômico para fornecer a base para a estabilidade política e exorcizar os fantasmas do sistema. E a ruptura foi a inauguração de substantivas políticas sociais destinadas à integração de milhões de brasileiros pobres, bem representadas pela Bolsa Família, entre outras. Não se pode negar que, em parte, esta transição ocorreu pois, efetivamente, Lula incluiu socialmente uma França inteira dentro de uma situação d e decência. Mas desde o começo, analistas apontavam a inadequação entre projeto econômico e o projeto social. Enquanto aquele recebe do Estado alguns bilhões de reais por ano, em forma de juros, este, o social, tem que se contentar com bem menos.

Não obstante esta disparidade, o fosso entre ricos e pobres diminuiu, o que granjeou para Lula extraordinária aceitação.

Agora se coloca a questão: a Presidenta aprofundará a transição, deslocando o acento em favor do social onde estão as maiorias ou manterá a equação que preserva o econômico, de viés monetarista, com as contradições denunciadas pelos movimentos sociais e pelo melhor da inteligentzia brasileira?

Estimo que, Dilma deu sinais de que vai se vergar para o lado do social-popular. Mas alguns problemas novos como aquecimento global devem ser impreterivelmente enfrentados. Vejo que a nova Presidenta compreendeu a relevância da agenda ambiental, introduzida pela candidata Marina Silva. O PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) deve incorporar a nova consciência de que não seria responsável continuar as obras desconsiderando estes novos dados. E ainda no horizonte se anuncia nova crise econômica, pois os EUA resolveram exportar sua crise, desvalorizando o dólar e nos prejudicando sensivelmente.

Dilma Rousseff marcará seu governo com identidade própria se realizar mais fortemente a agenda que elegeu Lula: a ética e as reformas estruturais. A ética somente será resgatada se houver total transparência nas práticas políticas e não se repita a mercantilização das relações partidárias("mensalão").

As reformas estruturais é a dívida que o governo Lula nos deixou. Não teve condições, por falta de base parlamentar segura, de fazer nenhuma das reformas prometidas: a política, a fiscal e a agrária. Se quiser resgatar o perfil originário do PT, Dilma deverá implementar uma reforma política. Será difícil, devido os interesses corporativos dos partidos, em grande parte, vazios de ideologia e famintos de benefícios. A reforma fiscal deve estabelecer uma equidade mínima entre os contribuintes, pois até agora poupava os ricos e onerava pesadamente os assalariados. A reforma agrária não é satisfeita apenas com assentamentos. Deve ser integral e popular levando democracia para o campo e aliviando a favelização das cidades.

Estimo que o mais importante é o salto de consciência que a Presidenta deve dar, caso tomar a sério as consequências funestas e até letais da situação mudada da Terra em crise sócio-ecológica. O Brasil será chave na adaptação e no mitigamento pelo fato de deter os principais fatores ecológicos que podem equilibrar o sistema-Terra. Ele poderá ser a primeira potência mundial nos trópicos, não imperial mas cordial e corresponsável pelo destino comum. Esse pacote de questões constitui um desafio da maior gravidade, que a nova Presidenta irá enfrentar. Ela possui competência e coragem para estar à altura destes reptos. Que não lhe falte a iluminação e a força do Espírito Criador.
*Confira na seção Livros (ver 'Equipe do Blog EDUCOM recomenda', no pé da página) o lançamento da mais nova obra de Boff, 'Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo'

Os desafios de Dilma - o Brasil e a ordem mundial

Por Laerte Braga, para o blog Brasil Mobilizado
As perspectivas de derrota eleitoral do Partido Democrata e por extensão do governo do presidente Barack Obama, há dois anos das eleições presidenciais nos EUA, são uma dificuldade de monta para a presidente eleita do Brasil Dilma Rousseff. Não que Obama signifique alguma coisa, mas pelo que Republicanos representam numa escala de gradação do terrorismo político, econômico e militar dos EUA.

Se antes dos oito anos de Lula éramos figurantes no contexto da chamada Nova Ordem Mundial, hoje somos protagonistas dessa ordem. E a América Latina é decisiva em todo esse processo.

Mais que nunca vale a frase do ex-presidente Richard Nixon dita em plena ditadura militar, ao buscar encontrar justificativa para as notícias de sistemáticas violações de direitos humanos pelo regime dos generais. “É uma pena, mas o Médice é um bom aliado e para onde inclinar-se o Brasil, inclina-se a América Latina”.

Quer queiramos ou não o atoleiro que George Bush meteu o seu país diz respeito ao Brasil, ao mundo inteiro. A presença de governos independentes de Washington no continente político latino-americanos é um momento histórico de afirmação, mas pode vir a ser de queda.

A economia mundial globalizada faz com que um espirro no pólo norte seja sentido em qualquer canto do mundo, que dirá no Brasil, um país com dimensões continentais e agora, com um caminho aberto para um processo de integração latino-americana numa fase aguda.

Dilma Rousseff vai enfrentar de saída duas frentes de combate. Impedir que a crise econômica mundial (ainda forte e viva) afete esses anos Lula de prosperidade e segurança. Os olhos postos do grande irmão do norte sobre o Brasil e a importância, para eles, de domar essa onça que surge com um vigor impressionante.

Uma eventual vitória republicana em 2012 vai significar que à frente de uma situação de declínio a boçalidade suba de tom nos EUA.

Isso sinaliza para mais que a integração latino-americana. Ultrapassa esses limites e se estende a partes outras do mundo numa luta que se ainda não deixou claros esses contornos, é de sobrevivência das nações independentes ou que se pretendem assim.

No aspecto interno Dilma vai sofrer a feroz oposição das forças de extrema-direita (se mostraram com todas as garras nessa campanha eleitoral), aliadas incondicionais desse contexto internacional e subordinadas a interesses de nações que mais e mais vão se tornando grandes conglomerados empresariais. É o caso dos EUA.

É indiscutível que tem estatura para esse desafio, mas não é Lula e vai ter que construir seu próprio caminho, abrir sua picada em mata fechada e afirmar-se como líder desse espaço fundamental para o Brasil e imediatamente a América Latina.

Em todo o processo de destruição levado a cabo pelos EUA nos últimos anos, mesmo no período Clinton, onde a ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – era a palavra de ordem para essa parte do mundo, se olharmos o resto do mundo, são poucos os países que conseguiram preservar-se intactos ou escapar incólumes do desvario neoliberal.

A morte de Néstor Kirchnner é outro complicador. O futuro da Argentina, país essencial para e como o Brasil para a América Latina, é incerto.

As cunhas do neoliberalismo e da estupidez militar dos EUA já estão plantadas por aqui. Colômbia e Chile.

Os desafios das elites econômicas no Brasil, latifundiários, banqueiros e grandes empresários tem um componente complicado. São forças de natureza golpista, agarradas a privilégios, o que significa que reformas são indispensáveis para que se possa mexer na infra-estrutura política e econômica do Pais, abrindo perspectivas para uma independência completa e real, consumando o processo iniciado no governo Lula.

Dilma vai ter que enfrentar essa batalha para além dos caminhos tradicionais da política brasileira.

Vai ter que lutá-la nas ruas ampliando os canais de participação popular e alcançar através dessas forças os objetivos que os brasileiros que a elegeram sonham e desejam.

A própria configuração de sua vitória mostra isso. Perdeu as eleições em estados onde predomina o agro-negócio e onde são fortes as elites de extrema-direita. Tem a seu desfavor a mídia privada que tece loas à liberdade de expressão para garantir o controle do processo que é alienante e o domínio de poucas famílias num modelo em que curiosamente essa liberdade de expressão tem mão única.

As eleições mostraram sem disfarces essa face perversa do modelo.

São desafios que combinam políticas de fortalecimento da integração latino-americana, de ampliação dos mercados brasileiros com nações de outras partes, modelo pacientemente construído pelo governo Lula através do chanceler Celso Amorim – um dos grandes brasileiros de sua geração e da história de nossa diplomacia – com a preservação dos níveis de crescimento econômico e políticas sociais que permitam as reformas necessárias a que essa infra-estrutura perversa que ainda habita entre nós, possa se transformar de fato num governo popular.

Onde o cidadão fale, onde o povo seja o principal ator.

É como matar uma onça por dia. Os adversários são fortes, já mostraram não ter escrúpulos e deixaram claros os seus interesses e objetivos.

De saída a política externa traz desafios que têm largos reflexos na política, na economia e no social. Enfrentar a ação golpista dos EUA via Colômbia e Chile contra Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai, Paraguai e o esforço que farão para recuperar a Argentina.

Não aceitar as imposições quanto ao Irã, opor-se às políticas terroristas no Afeganistão, no Iraque e na Palestina, ampliar a integração com países de língua portuguesa e buscar formas de relacionamento com países da Comunidade Européia (uma espécie de protetorado dos EUA) que impliquem em equilíbrio político e econômico sem concessões que não resultem de consenso que possam beneficiar a ambos.

européias começam a perceber a armadilha travestida para além da economia, seja em cerco militar, ou em reformas neoliberais.

Ampliar as relações com a Rússia, estabelecer premissas novas para com a China, enfim, afirmar-se como potência mundial que, a permanecerem os números, em breve terá ultrapassado Itália, França e estará nos calcanhares de um semi falido Reino Unido.

A vitória de Dilma tem esse sentido, esse significado. E a certa altura com certeza irá passar por um momento de união nacional das forças progressistas em torno dessas questões básicas (vai ser necessária a maturidade dessas forças), sob pena de nada do que foi conquistado valer.

Nossos adversários internos e externos jogam o jogo em estreito acordo e com objetivos bem claros.

Dilma não vai encontrar e nem pode pensar em tratar o governo como um clube de inimigos e amigos cordiais. É só olhar as dificuldades enfrentadas por Lula e perceber que a dimensão de estadista do atual presidente se deveu, entre erros e acertos, à coragem de resistir.

E uma resistência que o Brasil excluído percebeu com clareza tal que elegeu Dilma.

Se os primeiros passos foram dados, os próximos serão em terreno bem mais pantanoso, pois os inimigos do Brasil sabem que um descuido e vamos ao chão.

Abraçar os movimentos populares, reciclar o caráter corporativo de boa parte do movimento sindical, evitar aparelhamentos pelegos, abrir as portas do processo à participação popular.

Trazer ao debate temas como o monopólio da informação (decisivo) e não se deixar encantar pelo canto do jogo institucional montado sobre estruturas que atendem apenas aos interesses dos donos.

Aprofundar a reforma agrária é de tal ordem importante, diz respeito à própria soberania nacional em vários campos.

Se Dilma tem dimensão para isso? Claro que tem, vai ter que mostrá-la em cada dia de seu governo.

Existem momentos que enfrentar desafios se torna questão de sobrevivência. Esse é um deles. O nível da campanha eleitoral mostrou que é assim.

Atualização da Equipe do EDUCOM: depois de o jornalista Laerte Braga publicar este artigo (dia 1º), um de seus temores de materializou. Nas eleições legislativas do dia 2, o Partido Republicano conquistou significativa maioria na Câmara dos Representantes dos EUA. Mais desafios à vista para Dilma e outros líderes da AL.