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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Das elites, essa estranha noção de liberdade

16/01/2014 - A estranha noção de liberdade das elites
-Fernando Brito - blogue Tijolaço

Quando surgiu o factóide do “Rei dos Camarotes”, a não ser na blogosfera, não foi tratado como escandaloso o fato de termos uma classe média e uma mídia babacas ao ponto de elegerem este pateta como um “agregador de valor”.

E não foram raros os que saíram dizendo que, como o dinheiro era dele – embora uma parte fosse devida aos impostos que não pagou à cidade de São Paulo - ele era livre para ser idiota o quanto quisesse.

E, afinal, ele só estava ali para “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”.

Não sou destes que quer fazer uma sociologia primária, de ver os “rolezinhos” como movimento libertário, revolucionário ou o escambau, como diziam no meu tempo.

A garotada está nessa apenas, também, para “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”.

Normal, desde que o mundo é mundo e enquanto os jovens são jovens.

Mas quando a direita se digna a olhar para a pobreza, podem crer, não é em favor dos pobres.

Quer capturar não apenas o medo dos pobres que as elites sempre tiveram.

Mas também transformar sua erupção na vida social em uma cortina de fumaça para seus interesses políticos.

Servir-se de sua despolitização para levá-la como água ao moinho de seus interesses.

E de uns tolos que não entendem que transformar em efemérides barulhentas o direito dos jovens pobres de “zoar, pegar as meninas e dar um rolé” é criar as condições para que estes jovens voltem a um tempo onde não podiam isso e também não podiam estudar, trabalhar, entrar na universidade pelo sistema de cotas e, sequer, andar na rua sem serem abordados, humilhados e agredidos pela polícia.

A sabedoria política nos exige mais.

Exige mostrar e ajudar a entender que o idiota dos camarotes é isso, um idiota.

E que a garotada da periferia, se não quiser gramar mais séculos de opressão, não pode ser idiota feito ele.

E isso, para lembrar o que disse há algum dias atrás o Saul Leblon, nos requer mais do que atas do Copom.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12673

Leituras afins:
- Imprensa e rolezinho - Luciano Martins Costa

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

domingo, 19 de dezembro de 2010

'RIO DE PAES': Na Restinga, Prefeitura vara a madrugada com seu projeto macabro

Jorge Borges, via CMI Brasil
Em nome dos Jogos Olímpicos 2016 e da Copa do Mundo 2014, nesta sexta-feira, 17/12/2010, a comunidade da Restinga foi, de novo, alvo da Prefeitura do Rio. Ao longo de todo o dia e da noite repetiram-se cenas que se tornaram comuns nas últimas semanas: prepostos da subprefeitura da Barra, irresponsáveis e truculentos como sempre, continuaram a demolir casas sem o menor respeito à dignidade humana.

Logo de manhã, deram ordens para uma retroescavadeira da Odebrecht atacar uma loja cujo andar superior servia de residência a uma família inteira. Desesperados, pais, filhos e avós trancaram-se em casa e gritavam por socorro. Moradores da própria comunidade e de áreas vizinhas vieram prestar solidariedade.

A Guarda Municipal garantiu a força da covardia e arrombou portas, quebrou portões, distribuiu ofensas e agressões a moradores e apoiadores. Ao chegar ao local, uma Defensora Pública foi impedida de adentrar à casa e avaliar as condições da família. Agentes da 42ª DP, num primeiro momento, ameaçava-os com prisão e faziam todo tipo de intimidação. Ao longo da tarde, a pressão da Comissão da Alerj e da Secretaria Estadual de Direitos Humanos diminuiu o ímpeto dos inspetores. Policiais do 31º BPM assistiam tudo ao longe, sem esboçar qualquer reação a tanta ilegalidade e abuso de autoridade.

O impasse adentrou a noite. Às 23h, os vândalos da Prefeitura bradavam para quem quisesse ouvir que não arredariam pé da comunidade enquanto não executassem sua missão maldita. É preciso saber o que este senhor Leandro Marques anda consumindo para conseguir permanecer por tantas horas desperto e com tanta gana de destruir famílias e lares.

Uma segunda equipe de Defensores Públicos correu para o Fórum do Rio, no Centro da Cidade, visando restabelecer a legalidade na região. Só conseguiram uma decisão favorável próximo da meia-noite de sexta para sábado, enquanto a primeira Defensora Pública ficava sitiada na comunidade em apoio às famílias vítimas dos pitboys oficiais.

Já no meio da madrugada, ao longo da Avenida das Américas, se via o saldo de mais uma batalha. Móveis, pacotes de roupas e esperanças espalhadas pelo chão, próximo ao corredor viário, com carros, ônibus e carretas passando a poucos centímetros de distância. Para algumas famílias, a subprefeitura disponibilizou caminhões de mudança particulares (com que recursos? Com que procedimentos de contratação?). Para outras, restou dormir ao relento e na poeira da estrada e do desalento, ao lado de suas casas completamente destruídas e de seu futuro incerto e sombrio.

Num momento como esse, é preciso se questionar por onde andam os valorosos companheiros de luta pela Reforma Urbana. Boas intenções que se renderam ao inferno da política de "consenso" do Partido dos Trabalhadores? Vão mesmo se deixar transformar, o PT, no paladino da destruição de nossas culturas populares, dos territórios dos pobres e das perspectivas de um desenvolvimento justo, alternativo e includente? Transferindo uma parte dessa porção mais iludida de nossa população para uma condição de "classe média" ignorante, anti-cidadã, sem perspectiva de futuro, o eixo do mal PT-PMDB, na condução política da Cidade do Rio de Janeiro, mais parece uma nova República de Weimar nos trópicos e periferias do Século XXI.

Há grande preocupação também, com a postura da mídia porcorativa, particularmente com as organizações Globo, que insistem em sustentar a dimensão retórica e ideológica dessa prática funesta, espalhando mentiras para toda a Sociedade, sustentando um senso comum de ódio e de desprezo às famílias mais pobres das comunidades atingidas e, agora, também, contra o Núcleo de Terras da Defensoria Pública.

As notícias d'O Globo, publicadas nesta sexta-feira são um verdadeiro atentado contra a liberdade de expressão e colocam em cheque-mate a idoneidade e a responsabilidade dos meios de comunicação de massa dominados por meia dúzia de famílias da classe dominante. É público e notório o interesse das organizações Globo não apenas no "sucesso" de empreendimentos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, mas também em inúmeros projetos de incorporação imobiliária em curso na região da Área de Planejamento 4 (Barra da Tijuca, Recreio, Vargens, Jacarepaguá etc.).

Por isso, é preciso registrar e fazer circular o repúdio de todos os defensores do Estado Democrático de Direito contra a postura desses órgãos de comunicação ao atacar o Núcleo de Terras e rotulá-los como "fábrica de liminares" nos plantões noturnos. Se estes editores se negam a reconhecer a realidade, e os contornos nazi-fascistas dessa política, é porque são cúmplices diretos do projeto de destruição do senhor Eduardo de Souza Paes e de toda sua caterva.

Há espaço, há recursos, há instrumentos jurídicos e financeiros; sobretudo, há força política suficiente para desenvolver um amplo processo de regularização fundiária e de construção de novas habitações populares para todas as famílias atingidas pelo corredor Transoeste. Entretanto, é sabido que a quadrilha instalada na Prefeitura do Rio é refém dos interesses mais globalizados do novo mercado imobiliário que se instala dia a dia na nossa Cidade. Por isso, a única coisa que falta é o principal ingrediente para que tudo isso se transformasse em realidade: vontade política e vergonha na cara dos atuais dirigentes do eixo PT-PMDB. Essa vergonhosa postura ainda vai custar muito caro a alguns deles, num futuro muito próximo.

Todos à luta! Contra o Estado de Exceção da Prefeitura do Rio! Contra a cumplicidade e a cobertura falaciosa dos jornalões! Contra a omissão dos ditos militantes da Reforma Urbana encastelados na estrutura dos Governos e que se tem feito cegos, surdos e mudos diante de tanta infâmia e desgraça oficializada!

Veja o vídeo onde o delinquente Alex, da subprefeitura da Barra, ataca um adolescente que simplesmente filmava mais uma ação covarde na Vila Recreio II. A 42ª DP se recusou a registrar a ocorrência. Reparem na data da gravação. Essa é a homenagem da Prefeitura do Sr Eduardo Paes e da SMH do PT ao Dia Internacional de Defesa dos Direitos Humanos!

Monstruosidade sem limites da Prefeitura do Rio: atacam à noite e passam a máquina com mobília e gente dentro e começam as ameaças de morte

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tragédia do ônibus 174 não trouxe questionamentos transformadores para a sociedade

É o que mostra psicólogo que analisou as leituras sociais do sequestro que mobilizou o Rio de Janeiro no ano 2000

Mais uma análise a ser lida, como desdobramento dos fatos ocorridos semanas atrás em favelas do Rio de Janeiro. (Zilda Ferreira - Equipe do EDUCOM)
AGÊNCIA NOTISA - Em 12 de julho de 2000, aconteceu o sequestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro. O autor daquilo que inicialmente seria um assalto e foi gradualmente tomando dimensões além do que se poderia controlar, até chegar a ser “documentado” ao vivo pela mídia de todas as plataformas, foi Sandro Barbosa do Nascimento. Sua história foi recontada dois anos depois, no documentário Ônibus 174, do diretor José Padilha.

É a partir da leitura do documentário de Padilha, que apresenta depoimentos dos sequestrados, de policiais, de familiares e amigos de Sandro, que o psicólogo graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Gabriel Inticher Binkowski, faz uma análise de como acontecimentos como este são interpretados pela sociedade e, em grande medida, fazem parte de construções midiáticas. Suas percepções podem ser lidas no ensaio “Ônibus 174: Leituras Sobre Uma Certa ‘Mancha’”, publicado na revista Psicologia & amp; Sociedade este ano.

Gabriel percebe que a demanda da sociedade por imagens violentas é cada vez maior, e os grandes meios de comunicação atendem prontamente a esse pedido. Dessa forma, cria-se uma banalização do violento. “Com os sons e as cores da televisão, nossos mais assustadores pesadelos noturnos e cenários imaginados por romancistas e cineastas parecem até se abrandar, tamanha envergadura da violência apresentada a nós diariamente”, afirma no artigo.

O caso específico de Sandro, que personificava tantas chagas, tantas “manchas” de nossa sociedade – o menino de rua, o órfão, o pobre, o presidiário -, acabou evoluindo para um tipo de transmissão de violência que ultrapassa a banalidade das imagens diárias. O caso do 174 passou a ser visto, segundo o psicólogo, como “uma violência praticada não exatamente por aqueles atores envolvidos, e sim por todos aqueles que assistiam imagens de uma violência que parecia até algo já banalizado (um assalto a um ônibus), na espera de uma grande implosão da cena em atos de violência que poderiam ser justificados como a justiça contra uma personagem confluente de inúmeras chagas da sociedade brasileira” .

Dessa forma, Gabriel afirma que logo depois do desfecho do trágico acontecimento – terminado com o assassinato de uma refém e do próprio Sandro -, a maioria foi levada a se questionar sobre o que levou o jovem àquele ato extremo. Foi revelado, então, seu passado como sobrevivente da famosa Chacina da Candelária (quando um grupo de policiais atirou contra menores e adolescentes que costumavam dormir ao lado da catedral, no Centro do Rio de Janeiro, em 1993) e sua passagem por presídios. Mas esses questionamentos, afirma ele, não levam a uma transformação da sociedade: pelo contrário, são usados como reforçadores de padrões aos quais já estamos acostumados.

Assim como, cita no artigo, a invasão de um colégio americano por estudantes armados levou ao reforço do apreço da sociedade dos Estados Unidos por armas – uma vez que seria lógico andar armado se há jovens dispostos a matar lá fora -, a violência do caso do 174 acabou por gerar apenas respostas fabricadas que continuam deixando pessoas na condição de Sandro na mesma posição que sempre estiveram. Cria-se, assim, “um certo fechamento ilusório para algo que não pode ser fechado, pois tange relações muito mais complexas de nossa sociedade e, especialmente, da forma como temos lido nossos fenômenos e sintomas ao longo de nossa história”, afirma o psicólogo.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Wikileaks: multinacional farmacêutica conspirou para evitar julgamento na Nigéria

Marina Terra, do Opera Mundi
A multinacional farmacêutica Pfizer negociou em abril de 2009 com o governo da Nigéria um acordo para evitar ser processada pela morte de 11 crianças e pelas sequelas provocadas em dezenas de outras, após testar um medicamento chamado Trovan, usado no tratamento da meningite. O fato foi revelado por um documento vazado pelo Wikileaks nesta quinta-feira (09/12).

Em 1996, cerca de 200 famílias de Kano, estado no norte da Nigéria, garantiram que seus filhos receberam o medicamento de forma experimental e, após a morte de 11 crianças, a companhia norte-americana pagou indenizações aos pais das vítimas para evitar um julgamento.

Despachos da Embaixada dos Estados Unidos em Abuja revelaram como a Pfizer conquistou esse acordo, usando detetives para coletar provas contra membro do judiciário nigeriano e publicá-las na imprensa. De acordo com os documentos, o plano deu certo e o procurador-geral do país, Michael Aondoakaa, acusado de corrupção, abandonou o caso.

Um dos documentos mostra uma conversa entre um diplomata norte-americano e o responsável pela Pfizer na Nigéria, Enrico Liggeri. "Ele disse que os detetives da Pfizer passaram as informações aos jornais locais (...) Uma série de reportagens detalhando os supostos laços de Aondoakaa com casos de corrupção foram publicados em fevereiro e março", afirmam diplomatas norte-americanos. "Liggeri garantiu que a Pfizer tinha mais informações contra Aondoakaa e que seus colegas o pressionaram para que deixasse o assunto".

Os diplomatas relatam no mesmo despacho um encontro entre a embaixadora norte-americana Robin Renee Sanders e os advogados da farmacêutica, Joe Petrosinelli e Atiba Adams. Quase dois meses antes de o acordo se tornar público, os advogados contam à embaixadora que a negociação está praticamente concluída e que pagarão ao todo 75 milhões de dólares: "10 em custos legais, 30 para o governo do estado de Kano e 35 para os que participaram [dos testes] e suas famílias".

Petrosinelli e Adams afirmam que o ex-presidente nigeriano Yakubu Gowon estava envolvido na negociação, pois conseguiu convencer o governador de Kano Mallam Ibrahim Shekaru, para que intercedesse e abaixasse o pedidos de indenização de 150 milhões para 75.

Clique para ler o texto completo (e, como é sempre recomendável em se tratando do Opera Mundi, fique atento aos links)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Legados da era Lula

Tereza Cruvinel, presidente da EBC
Neste último artigo do ano aqui no Correio, não tenho como não falar dos oito anos trepidantes, em todos os sentidos, que estão chegando ao fim. Os anos Lula não apenas mudaram para sempre o Brasil. Mudaram também nossa forma de sentir e pensar nosso país. Sob Lula, aprendemos a enxergar a pobreza, a importância de combatê-la e, mais recentemente, a celebrar sua redução. Vimos um presidente chegar ao poder contrariando tudo o que sempre nos pareceu natural: sem berço, sem diplomas, sem o apoio das elites econômicas e pensantes. Vimo-lo depois quebrar todas as convenções ao exercer o poder: falando a linguagem desabrida do povo, cometendo metáforas rasas e gafes frequentes, quebrando a liturgia do cargo, trocando o serviço à francesa do Itamaraty por um buffet self-service, tomando café com os catadores de papel e exercitando uma aguerrida diplomacia presidencial sem falar outra língua. Não haverá outro Lula, pois o Brasil que o gerou não haverá mais. E isso é bom.

Neste período, 28 milhões de brasileiros cruzaram a linha da pobreza e outros 20 milhões ascenderam à classe C. Mais extraordinário é que esse feito tenha acontecido sem a quebra de um só cristal. Ou seja, Lula não tomou uma só agulha dos mais ricos para dar aos mais pobres. Não privou os banqueiros de seus lucros para estender o crédito ao andar de baixo. Não reduziu as exportações do agrobusiness para dar mais comida ao povo. Não garfou a poupança da classe média para criar o Bolsa Família. Tudo fez harmonizando interesses e moderando conflitos. Todos ganharam, embora os mais pobres tenham começado a tirar a diferença. Em 2009, apesar da crise, a renda média dos 40% mais pobres cresceu 3,15% e dos 10% mais ricos apenas 1,09%. E isso é bom para todos, inclusive para os ricos. Este ano, os números serão mais eloquentes.

O crescimento da economia, que pode chegar aos 8% em 2010, será o maior em 24 anos. Desta vez foi crescimento sem inflação e com distribuição de renda. No final do período Lula, terão sido gerados 15 milhões de empregos. Este ano, a nova classe C vai gastar R$ 500 bilhões em 2010, superando o consumo das classes A e B. Isso é mudança.

Sob Lula, a percepção do Brasil mudou também lá fora. Agora o país é player, é líder no G-20, é um dos Brics, vai sediar a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Vamos perdendo o velho complexo de vira-latas.

Nem tudo foi resolvido, nem tudo foi feito e não faltaram as decepções. Sobretudo as políticas, com os casos de corrupção intermitentes. Mas o saldo a favor de Lula foi bem maior e levou-o ao píncaro da popularidade. Mesmo assim, ele continua sendo um presidente intragável para uma minoria. Talvez para aqueles 4% ou 5% que, nas pesquisas frequentes, consideram seu governo péssimo, contra os 80% que o consideram ótimo ou bom.

As relações com a mídia serão um capítulo na história a ser escrita. Vivi a minha pequena parte. Colunista política de O Globo, nunca apontei, nos seis governos e sete legislaturas que cobri, apenas o bem ou o mal. Assim erigi minha credibilidade de analista político. A partir de 2003, divergi do pensamento único que passou a vigir na mídia, não engrossando a cruzada anti-Lula. Na elite do jornalismo político, muito poucos, além de mim e de Franklin Martins, fugiram ao padrão monopólico e demonizador.

Houve preço. Em 2005, veio o maccarthismo e com ele os cães raivosos e o espírito de delação. Um deles espumou, em 2005, que Lula só não caíra ainda porque uma lista de jornalistas lulistas, aberta com meu nome, havia aparelhado a imprensa! Por algum tempo sustentei o apedrejamento, mas, já tendo sofrido uma ditadura, rejeitei a escolha entre autoimolação e sujeição. No final de 2007, aceitei o convite para dirigir a TV Pública que seria criada, cumprindo a Constituição Federal. Pouco vi o presidente depois disso. Tenho trabalhado com absoluta liberdade e os resultados estão aí. Nunca recebi queixas ou bilhetinhos de ministros.

Não tenho a menor importância na história maior que se encerra agora. Conto isso aqui porque esses detalhes fazem parte do ambiente venenoso, eivado de intolerância, elitismo e ódio de classe em que Lula governou e construiu o legado que deixa ao país.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

É dia 13. Movimentos sociais convocam para ato no Rio de Janeiro contra despejos

Quando o assunto é direito à moradia o cenário no Rio de Janeiro não é promissor. As remoções tem aumentado. E mega-eventos como a Copa de 2014 prometem fazer o número de pessoas expulsas de suas casas aumentar proporcionalmente à especulação imobiliária. Por isso, militantes de diversas ocupações convocam para o Ato Contra os Despejos, Remoções e Latifundiários Urbanos na próxima segunda, dia 13.

Todas as organizações políticas, coletivos, instituições, sindicatos e indivíduos que tem críticas ao modelo de cidade da exclusão que está sendo implantado no Rio de Janeiro estão convidados a participar do ato. A concentração será às 8 horas da manhã, em frente ao Prédio Abandonado do INSS localizado na Rua Riachuelo, 48, Lapa.


Fontes: Movimento Pela Moradia e Agência Petroleira de Notícias

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os 'miseráveis' e o automóvel

Por Laerte Braga, do Brasil Mobilizado
Uma jovem francesa de nome Sabrina foi trocada pelos pais como parte do pagamento por um carro usado. À época tinha 23 anos e hoje tem 30. Doente, foi deixada à porta de um hospital em estado lastimável. O fato não aconteceu no Irã, mas na França, na cidade de Melun.

O jornal francês LE POST cita os nomes dos proprietários do carro, Franck Franoux e Florence Carrasco. O valor estimado da prestação paga em forma de Sabrina foi de 750 euros, algo como 1 760 reais.

Sabrina viveu em cativeiro entre 2003 e 2006, acorrentada a um abrigo. Tomava conta dos filhos do casal, foi queimada várias vezes com pontas de cigarros, ferro quente, espancada com barras de ferro e obrigada a manter relações sexuais com outros homens que pagavam ao casal para isso (naturalmente por conta de outras prestações atrasadas).

Quando largada às portas de um hospital em Paris ela não tinha dentes, pesava 34 quilos e foi submetida a várias cirurgias para reconstrução de nariz, orelhas e ainda hoje se encontra em “estado físico e psicológico deploráveis”.

Os pais e os que receberam Sabrina em pagamento estão sendo julgados e podem ser condenados a até 15 anos de prisão, mas dependendo das tais prestações, quem sabe, a pena mínima é de dois anos.

Luís Carlos Prates é um comentarista da RBS/GLOBO em Santa Catarina. Segundo ele “esse governo espúrio popularizou o automóvel e quem nunca leu um livro tem um carro”. Comentava o número de acidentes e mortos no feriadão do dia 15 de novembro. O livro a que se refere deve ser MEIN KAMPF, o único que provavelmente folheou. Leu as orelhas, mas absorveu o espírito. Registre-se que o comentário foi em estilo furibundo, salvador da pátria, faltou só o anauê ao final.

Na opinião do distinto os onze mortos em acidentes no feriadão de finados e os vinte nesse da proclamação da República se devem a isso. Para Luís Carlos Prates as pessoas ficam desatinadas para sair a qualquer custo. Maridos que não se entendem com mulheres, ou vice versa, tentam, através do automóvel, vencer curvas invencíveis na frustração do casamento fracassado. Já imaginou ficar um feriadão olhando a cara metade, ou o cara metade? É o raciocínio do comentarista padrão global.

E é bem o padrão GLOBO, aquele do BBB onde o diretor tem o hábito de jogar água suja nas pessoas que julga vadias. Nem Lúcia Hipólito no dia que estava bêbada.

O comentário do cidadão:


O prefeito da cidade de Detroit, a maior concentração da indústria automobilística em todo o mundo, está abrindo mão de 40% da área do município abandonada por desempregados hoje vivem em abrigos, nas ruas, em trailers, num país onde a taxa oficial de desemprego é de pouco mais de nove por cento, mas o governo nos bastidores admite que ultrapassa a vinte por cento. Qualquer semelhança com manipulação de números durante a ditadura militar ou o governo FHC não é mera coincidência.

É culpa da China.

A consultoria ECONOMATICA fez um levantamento sobre empresas na América Latina e nos EUA e concluiu que a PETROBRAS é a segunda maior empresa latino americana e nos EUA, com um patrimônio líquido de 175,5 bilhões de dólares.

O desespero do comentarista deve ser rescaldo da derrota de José FHC Serra. É que esse patrimônio foi recuperado pelo governo brasileiro e a perspectiva é que a empresa se torne a maior do setor petrolífero do mundo nos próximos anos.

Não vira PETROBRAX como queriam os tucanos.

Breve nos classificados de jornais de alto gabarito aquele anúncio troco filha loura, um metro e setenta, forma física de assombrar, carinhosa e meiga, faz serviços domésticos e de cama, por OPALA em boas condições, tratar pelo telefone 00000000.

O espetáculo “é o momento histórico que nos contém” (DEBORD).

E vai daí que, sem saída, o modelo falido, os norte-americanos decidiram apelar para a máquina de imprimir dinheiro, despejar toneladas de dólares verdadeiros/falsos mundo inteiro, no afã de recobrar o status de Disneyworld dos “miseráveis”, na falácia da “guerra do ópio” neoliberal.

Um relógio produzido em compartimentos segmentados de trabalho escravo, mão de obra barata e vendido na Quinta Avenida a não miseráveis que concentram todo o poder e riqueza do mundo, enquanto Obama finge que governa alguma coisa.

Leão desdentado é um trem, leão enfurecido é outra coisa, leão fracassado é um perigo maior ainda. O risco de perder a juba torna os EUA um conglomerado doentio e ameaçador.

No chamado vale do silício, na Califórnia, executivos de grandes empresas falidas na crise da soberba capitalista, abençoados por Bento XVI, como o fora por João Paulo II, passam o chapéu e alguns, os que aprenderam, ensaiam acordes em violões desafinados sem a menor sintonia com o sentido João Gilberto de ser.

As empresas? Imensos desertos varridos pela loucura dos arsenais capazes de destruir o mundo cem vezes.

O ser humano?

No filme O INCRÍVEL EXÉRCITO BRANCALEONE, de Mário Monicelli, o notável Vitório Gassman, quando percebe esgotadas todas as tentativas de ascender ao baronato, toma o rumo da Terra Santa. À frente um profeta e um sino à moda daquelas tropas de burros.

O problema todo é que a Terra Santa é propriedade privada do terrorismo sionista, escritura outorgada pelo Todo Poderoso, o deles evidente e lá se cobra ingresso para pedir perdão e para espetáculos de palestinos/palestinas sendo torturados, estuprados. Assassinatos custam um pouco mais caro, afinal os custos são altos e com a crise do patrocinador, os EUA, é preciso fechar o balanço no mínimo empatando a casa das despesas com a das entradas.

MOSSAD. Existem autorizações expressas na lei e nos fundamentos do sionismo para esse tipo de ação. O diabo é depois.

Acaba morto num quarto de hotel em Dubai.

Há anos atrás o programa GLOBO REPÓRTER mostrou uma simulação interessante produzida por uma tevê norte-americana. Se todos os carros saíssem a um só tempo numa determinada cidade, acho que New York, nem haveria como chegar e nem haveria como voltar.

Cerca de 15% da população dos EUA teve dificuldades em colocar comida à mesa no ano de 2009. Passaram fome. Como registra Milton Temer, já imaginou se isso fosse em Cuba onde a saúde e a educação pública de boa qualidade alcançam a totalidade das pessoas?

O que a REDE GLOBO não faria?

Balela? Informação do próprio Departamento de Agricultura do governo do império.

Nos castelos de Wall Street tudo bem, lagosta.

Nos arredores de Detroit quem sabe calangos?

Será que a indignação do comentarista da RBS/GLOBO, assim como alguém que se revolta com uma baita injustiça foi a mesma quando o filho de um diretor da empresa da qual é empregado estuprou com alguns amigos uma colega?

Foi não, enfiou a viola no saco. A indignação com “miseráveis” andando de automóvel é puro preconceito e a dedução sobre maridos e mulheres insatisfeitos é patologia comum a globais de qualquer dimensão. No caso, ele é de quinta ou sexta.

Importante são as receitas de Ana Maria Braga e os passeios de Susana Vieira no shopping com os cãezinhos e o namorado.

Um dia, quem sabe não custa ter esperança, televisão brasileira chega a um estágio em que a debilidade mental que resulta do ódio e do preconceito não seja a regra. Sem robôs como Bonner e sem comentaristas do naipe de Luís Carlos Prates.

Olhe, houve um tempo que num só jornal se juntaram, Nélson Rodrigues, Sérgio Porto, Antônio Maria, Luís Jatobá, isso apesar de Flávio Cavalcanti, mas noutro canal.

Que pena, a invenção de Ford para as elites saírem do pesadelo das diligências acabou nas mãos de “brasileiros miseráveis”, por obra e graça de um governo “espúrio”.

Cretinice não é bem a palavra, nem canalhice, difícil mensurar.

Deve estar pensando em servir em São Paulo, em posição de sentido para o esquema FIESP/DASLU. Só pode. Ou então nas pessoas que comem por conta do “governo espúrio”. Medo de faltar caviar.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Nordestinos convidam estudante que mostrou preconceito no Twitter a conhecer cultura da região

Da Rede Brasil Atual
SÃO PAULO - Tiago Bernardes, assessor do Centro de Tradições Nordestinas (CTN) de São Paulo, convidou a estudante Mayara Petruso a conhecer a cultura nordestina. Ele representou a entidade em ato de desagravo aos nordestinos realizado na Câmara de Vereadores da capital paulista na noite de ontem, dia 11. Diversas entidades subscreveram um manifesto contra o preconceito, motivado pela onda antinordestinos em redes sociais na internet, como o Twitter.

No dia 31 de outubro, logo após a divulgação do resultados da eleição presidencial, Mayara publicou, em seu perfil no Twitter e no Facebook, declarações preconceituosas contra nordestinos. A frase foi apontada como pivô de uma série de manifestações semelhantes, produzidas por diversos outros usuários dessas redes.


No ato de desagravo aos nordestinos, Bernardes lembrou que o preconceito é reflexo do desconhecimento e que a ação da universitária provavelmente se deu por falta de desconhecimento da cultura nordestina. “Se ela passar pelo CTN, vai se apaixonar”, garantiu. Na próxima sexta-feira (19), o centro realiza a “Festa da Paz, diga não ao preconceito”.

O blogueiro Eduardo Guimarães, do Movimento dos Sem Mídia, também presente ao ato, alertou para a gravidade das ações que incitam o ódio entre regiões. “Não é um ato destrambelhado de uma jovem de 21 anos. Não foi só essa moça”, detectou.

Ele citou que as pessoas se sentiram livres para desabafar o que pensam acerca da migração no Brasil. “Entre outras coisas propuseram separar Sul e Sudeste do Nordeste com muros”, condenou.

Guimarães analisa que a grande imprensa contribuiu com manifestações discriminatórias por ter difundido a tese de que os eleitores do presidente Lula seriam de baixa escolaridade e majoritariamente do Nordeste. “Acuso formalmente a imprensa brasileira”, ressaltou. Ele também citou o "Movimento São Paulo para os Paulistas" que recebeu mais de 1.600 assinaturas em apoio um abaixo-assinado pela internet que defende a expulsão de nordestinos do estado.

Na visão do blogueiro, se São Paulo tivesse dono, seriam os índios. “Essa terra não pertence a nenhum de nós. Pertence aos índios”, lembrou. “Se fosse assim, todos teriam de sair dos Jardins, de Moema, do Centro”, elencou.

Educação
Osvaldo Bezerra, coordenador político do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Plásticas de São Paulo e região, adiantou que durante a assembleia de encerramento da campanha salarial da categoria, nesta sexta, também haveria um ato de repúdio ao preconceito contra nordestinos.

O dirigente sindical engrossou o coro de que a estudante Mayara é vítima da falta de educação de qualidade. “A educação sem qualidade forma jovens sem consciência da riqueza multicultural do Brasil”, salientou.

No mesmo sentido, Renato Zulatto, da direção da CUT-SP, recordou que a construção de São Paulo foi feita com trabalhadores de diversas partes do país. “Somos aguerridos e viemos construir com gaúchos, bolivianos, japoneses, coreanos”, disse o dirigente sindical.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ato de apoio aos migrantes nordestinos hoje à tarde na Câmara Municipal de São Paulo

Do Blog da Cidadania
Cumpre ao Blog da Cidadania expor a sua proposta-base de agendamento da realização de um ato público de solidariedade a migrantes nordestinos, nortistas, negros e índios por estes estarem sendo vítimas de perseguições de todo tipo – retóricas e, supostamente, até por meio de violência física, como no caso dos freqüentes incêndios em favelas – no Estado de São Paulo, sobretudo na capital.

Em primeiro lugar, considera-se importante que o ato em questão não tenha o menor viés político-partidário, evitando responsabilizar partidos e lideranças políticas pelos fatos lamentáveis que ganharam maior visibilidade na noite de 31 de outubro deste ano, mas que vêm ocorrendo já faz tempo.

O que se pretende com esse ato é fazer um alerta a setores da sociedade (ainda não mensurados estatisticamente) de que o que estão praticando é um legítimo crime contra cidadãos brasileiros em pleno gozo de seus direitos civis – e que, portanto, têm direito a proteção do Estado contra os agressores.

O alerta se faz necessário porque tais grupos sociais desconhecem a lei de forma consciente e inconsciente. Ao grupo inconsciente, o alerta deve servir para tentar evitar que a lei tenha que ser aplicada sem um mínimo de tolerância; ao grupo consciente de que está delinqüindo, o alerta é o de que há cidadãos de outros estratos sociais menos fragilizados dispostos a lutar pelos desvalidos que não têm consciência de seus direitos.

Também se pretende chegar aos atingidos pela violência retórica e física, os quais, muitas vezes, não têm idéia de que podem exigir proteção do Estado e de que têm como denunciar o que sabem sobre os métodos e as identidades de seus agressores.

Por último, a intenção desse ato público é a de mostrar ao resto do Brasil que essas manifestações odiosas de racismo e de xenofobia, bem como as agressões físicas aos migrantes nordestinos (sobretudo), estão longe de ser regra em São Paulo, sendo meras exceções praticadas por criminosos ou por ignorantes que, por serem bem aquinhoados, pensam estar acima da lei.

Data, hora e local do ato
Diante da exigência da situação de se dar um caráter institucional a um ato de garantia e defesa de direitos constitucionais e de reafirmação da supremacia das leis e do Estado Democrático de Direito, o Blog da Cidadania considera que aproveitar iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo de propor receber esse ato público em seu Plenário é a melhor solução.

Haverá convite a autoridades das esferas federal, estadual e municipal da área de direitos humanos e a parlamentares, bem como à imprensa, a movimentos sociais e a sindicatos. Diante da Câmara Municipal de São Paulo poder-se-á exibir faixas por manifestantes de forma ordeira e respeitando o direito de ir e vir, tudo de acordo com a lei e com as autoridades municipais.

A data CONFIRMADA para a realização do evento é 11 de novembro, PRÓXIMA 5A-FEIRA, a partir das 17 HORAS, no Plenário da Câmara, no primeiro andar. Por ser dia útil, haverá afluxo de parlamentares da Casa e, portanto, maior atenção da cidade, que, nesse horário, estará fervilhando. Por favor difundam o evento.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Calem a boca, nordestinos!

Por José Barbosa Júnior*
A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada
dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço
parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia,
Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus
candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o
Serra... outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a
candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do
baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na
internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas
declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso,
alavancada por uma declaração no twitter:

"Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!"

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros”
também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado
final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidente ou
presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos"
Houaiss e Aurélio) do nosso País.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados
em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura
brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos
José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de
Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e
a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur
Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará
nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em
seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem
tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os
talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de
Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o
deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de
atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e
Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do
paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será
eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e
2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos
oferecer, povo analfabeto e sem cultura...

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora
simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das
lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos
Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine?

Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...
E não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas
melodias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...

Ah! Nordestinos...

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que
nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á
força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país?

Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um
ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo
civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam
aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda
poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato
Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da
melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo
civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho
infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não
trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é
o QUANTO esse trabalho infantil vai render.

Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar
nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um
trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom
mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais,
ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada,
mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que
importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de
Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder
a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo
abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta
beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a
sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras
ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na
construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques,
religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a
importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na
literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em
que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do
escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe,
queridos irmãos nordestinos!
*Zezinho Barbosa é militante da esquerda, filho e sobrinho de cidadãos brasileiros vítimas da ditadura militar

sábado, 29 de maio de 2010

A vergonha de ser um homem

Vocês que vivem seguros
em suas cálidas casas,
vocês que, voltando à noite,
encontram comida quente e rostos amigos,
pensem bem se isto é um homem
que trabalha no meio do barro,
que não conhece paz,
que luta por um pedaço de pão,
que morre por um sim ou por um não

(…)

Pensem que isto aconteceu:
e lhes mando essas palavras.
Gravem-na em seus corações,
estando em casa, andando na rua,
ao deitar, ao levantar
repitam-nas a seus filhos.
Ou senão, desmorone-se a sua casa,
a doença os torne inválidos,
aos seus filhos virem o rosto para não vê-los.

Primo Levi

1)A centralidade paradoxal da vida dos pobres nas metrópoles brasileiras: Biopoder versus Biopolítica

Como tudo no capitalismo, a favelização foi e é um processo contraditório. A chegada dos pobres nas cidades tem (pelo menos) dois grandes determinantes:

- o primeiro determinante é a persistência do latifúndio (inclusive graças à ditadura que reprimiu os movimentos camponeses e continua encontrando amplo apoio naquela mídia que lhe deve concessões estatais e proteção econômica), que expulsou a população rural do campo (do mesmo jeito que a abolição tardia da escravidão acabou empurrando os escravos libertos para a formação das primeiras favelas);

- o segundo determinante é o movimento de resistência que atravessou o país com o êxodo rural rumo a melhores condições de vida e trabalho, dentro do processo de urbanização e para além de sua capacidade de absorção industrial (da mesma forma que os quilombos, as favelas foram também zonas de autoconstrução de espaços urbanos de resistência, persistência dos pobres a viver, desejar, dançar, criar).

Assim, a fuga dos retirantes, a exemplo do Presidente Lula (o mais popular que o Brasil já teve e que proporciona ao país uma popularidade mundial sem precedentes) foi um movimento paradoxal: fruto de relações de poder iníquas (desiguais, racistas e neo-escravagistas) e, ao mesmo tempo, terreno de resistência, luta e invenção. As favelas (e as várias formas de ocupação ilegal, informal, desordenada do solo urbano – ou em via de urbanização) que constituíram nossas “pobres grandes cidades” são também o emblema dessa ambiguidade.

As favelas são, ao mesmo tempo, a vergonha de um poder que trata os pobres como lixo e o orgulho da resistência dos pobres que constituem tudo que é riqueza e valor do Rio de Janeiro e do Brasil. Elas são um estorvo que a elite neo-escravagista continua a sonhar em poder remover para a periferia, em tornar invisível. Mas, elas são também o espaço da dignidade das velhas e novas guardas de pobres que lutam e inventam, resistem e criam.

Em cidades como o Rio de Janeiro, mais do que em outras, as relações de poder e de produção atravessam e são atravessadas pelos embates que dizem respeito às favelas e aos pobres. O grande desafio do bloco de poder – uma mistura sui generis de elites arcaizantes bem representadas pelos grandes meios de comunicação, segmentos institucionais de tipo mafioso (ligados à corrupção e ao tráfico) e setores tecnocráticos (das grandes empresas e do aparelho do Estado) – tornou-se o de regular as vidas dos pobres por meio do controle do processo e do fenômeno de favelização. Por isso, esse bloco de poder se apresenta como um bloco de Biopoder, um poder organizado sobre a vida dos pobres. O grande desafio das lutas populares também passou a ser, com a abertura democrática, a organização dos pobres e a construção de uma forma de representação adequada a essa subjetividade social, uma subjetividade que se expressa e se constitui nas formas de resistência e construção da cidade pelos e para os pobres: nas favelas e nas várias formas de “informalidade”, quer dizer, nas formas de direito constituídas desde baixo, nas ruas, nas redes de socialização dos pobres, completamente separadas do formalismo jurídico do Estado.

A clivagem social e ética parece nítida: o poder, de um lado; os pobres do outro. Porém, uma vez traduzida em termos políticos, essa clivagem não se mantém mais. Os setores “progressistas” (modernizadores, poderíamos dizer) dos dois blocos (o da “direita” e o da “esquerda”) convergem numa visão negativa da pobreza e dos pobres; uma convergência que se traduz, por exemplo, no uso e no abuso – sempre pejorativo – do termo “populismo”. Os pobres são um problema, e se não aceitam as “soluções” tecnocráticas e burocráticas que os “governantes” pensam para eles, é que merecem mesmo a miséria na qual se encontram, e até o risco que correm por persistir em morar nos morros. Ou seja, são vidas que não merecem serem vividas! Emblemática a análise de André Singer (militante do PT) sobre o que ele chama de “lulismo”: um tipo de “bonapartismo” sustentado pela “base sub-proletária” que “não consegue construir desde baixo as suas próprias formas de organização”1.

No Rio de Janeiro, essa “direita” e essa “esquerda” constituíam (e, em parte ainda constituem) as duas faces de uma mesma moeda: a classe média e alta carioca, os ricos, e boa parte do funcionalismo público. Não por acaso, essa convergência aconteceu de fato em 1994, por ocasião de uma “com-juntura” (junção de duas “urgências” = conjuntura) favorável a essa inflexão: por um lado, a necessidade – da parte do poder – de evitar por todos os meios que a experiência operária do PT paulista se radicasse no Rio a partir da vitória eleitoral de uma mulher, negra e favelada (a Benedita), implementando um PT realmente carioca (um PT dos pobres); pelo outro, a opção pelo oportunismo de um político egresso do brizolismo.


Leia a íntegra: http://www.revistaglobalbrasil.com.br

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eduardo Galeano: Os pecados do Haiti

Mais uma pedra preciosa esculpida por esse mestre uruguaio das palavras e da história latino-americana. Leia. Reflita.*

A democracia haitiana nasceu há muito pouco. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e enferma não recebeu nada, além de bofetadas. Estava ainda recém nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de terem colocado e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos pegaram e impuseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que havia tido a louca aspiração de querer um país menos injusto.

O voto e o veto
Para apagar as nódoas da participação norte-americana na ditadura carniceira do general Cedras, os infantes de marinha levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para retomar o governo, mas o proibiram exercer o poder. Seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, porém mais poder que Préval tem qualquer burocrata de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha sequer eleito com um voto apenas.

Mais que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum de seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, instrução aos analfabetos o terra aos camponeses, não recebe resposta, ou o contradizem ordenando-lhe: - Faça a lição! E como o governo haitiano nunca aprende que deve desmantelar os poucos serviços públicos que ainda permanecem, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores acabam sempre por reprová-lo.

O álibi demográfico
No final do ano passado quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Assim que chegaram, a miséria do povo os atingiu frontalmente. Então o embaixador de Alemanha lhes explicou, em Porto Príncipe , qual é o problema: - Este é um país demasiadamente povoado - disse-. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados se calaram. Essa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou as cifras. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, tanto quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado. Em sua passagem pelo Haiti, o deputado Wolf não apenas foi atingido pela miséria: também ficou deslumbrado pela capacidade de expressar a beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado… de artistas. Na realidade, o álibi demográfico é mais o menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falaram bem mais claro.

A tradição racista
Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país
até 1934. Retiraram-se quando alcançaram seus dois objetivos: cobrar as
dívidas do Citibank e revogar o artigo constitucional que proibia a venda
de terras aos estrangeiros. Robert Lansing, então secretário de Estado,
justificou a prolongada e feroz ocupação militar explicando que a raça negra
é incapaz de se governar por si mesma, que possui “uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”. Um dos responsáveis pela invasão, William Philips, havia elaborado anteriormente a sagaz idéia: “Esse é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que tinham deixado os franceses”.

O Haiti havia sido a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com força de trabalho escrava. No espírito das leis, Montesquieu o havia explicado sem travas na língua: “O açúcar seria demasiado caro se não trabalhassem os escravos para sua produção. Esses escravos são negros desde os pés até a cabeça e têm o nariz tão esmagado que é quase impossível ter deles alguma pena. Resulta impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma e sobretudo uma alma boa num corpo inteiramente negro”.

Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do feitor. Os escravos não se distinguiam por sua vontade de trabalho. Os negros eram escravos por natureza e vadios também por natureza; e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir ao amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrasse o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: “Vagabundo, desocupado, negligente, indolente e de costumes dissolutos”. Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro “pode desenvolver certas habilidades humanas, como o papagaio que fala algumas palavras”.

A humilhação imperdoável
Em 1803, os negros do Haiti ocasionaram uma tremenda derrota às tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa não perdoou jamais essa humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes sua própria independência, porém conservava ainda meio milhão de escravos trabalhando nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era senhor de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos livres se içou sobre as ruínas. A terra haitiana havia sido devastada pele monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França. Uma terça parte da população havia caído em combate. Então , começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava dela, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.

O delito da dignidade
Nem mesmo Simón Bolívar, que soube ser tão valente, teve a coragem de assinar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar poderia ter reiniciado sua luta pela independência americana, quando já havia derrotado a Espanha graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano lhe entregara sete navios, muitas armas e soldados, com a única condição que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que ao Libertador não lhe passava pela cabeça. Bolívar cumpriu com esse compromisso, porém depois de sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país
que o havia salvado. E quando convocou as nações americanas para a reunião do Panamá, não convidou o Haiti, mas sim a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti depois de sessenta anos do final da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque possuem pouca distância entre o umbigo e o pênis. Naquele instante, o Haiti já estava nas mãos de carniceiras ditaduras militares, que destinavam os famélicos recursos do país para pagar a dívida com a ex-metrópole: a Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França una indenização gigantesca, como modo de ver-se perdoado por ter cometido o delito da
dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, que em nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.
*tradução livre de Antonio Folquito Verona

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Veja programação do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa - 21 de janeiro

Para marcar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa*, a Comissão de Combate à Intolerância (CCIR) promove extensa programação de atividades que garantem a prática da Liberdade de Expressão Religiosa no Rio de Janeiro. Adolescentes e crianças dos mais diversos segmentos étnicos e religiosos (muçulmanos, judeus, umbandistas, católicos, ciganos, candomblecistas, devotos de Krishna e evangélicos) estarão desde às 10h, na Praça da Cinelândia, explicando e divulgando suas práticas religiosas em tendas temáticas. O Movimento Jovens pela Liberdade Religiosa, criado pela CCIR, pretende demonstrar que crianças e adolescentes formam a base sagrada de todas as religiões. Simultaneamente, haverá a inauguração do primeiro Núcleo de Combate à Intolerância Religiosa da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Exposição Temática: 10 tendas, com jovens e crianças religiosas - utilizando vestimentas e paramentas de suas respectivas tradições - estarão durante todo dia na Cinelândia. Além de receberem explicações sobre dogmas e doutrinas das mais diversas tradições, o visitante poderá ter acesso a livros sagrados, ouvir cânticos e assistir a DVDs. Alguns exemplares de livros e panfletos serão distribuídos gratuitamente;

Inauguração do Núcleo de Combate à Intolerância Religiosa: Uma grande conquista dos religiosos, já que todos os registros envolvendo a Lei 7716/89 (Lei Cão) poderão ser monitorados e os procedimentos acompanhados. À frente dos trabalhos, o delegado Henrique Pessoa. O Núcleo não fará registros de ocorrências, mas vai acompanhar e orientar policiais e vítimas quanto aos procedimentos;

Lançamento do Dossiê da Intolerância Religiosa: Primeiro estudo científico realizado a partir dos casos atendidos pela CCIR, uma experiência inédita no país pela garantia de direitos civis. O dossiê, coordenado por doutores em Antropologia da UFF - ligados ao Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas - envolve sociólogos, antropólogos e historiadores e servirá como base para o Relatório da Intolerância (estudo mais aprofundado do trabalho da Comissão) a ser lançado em março e distribuído para as instituições que lidam com políticas de Direitos Humanos nas esferas municipal, estadual, federal e internacional. A escolha do Sindicato dos Jornalistas para o lançamento é uma forma de chamar atenção da sociedade para a importância dos profissionais da imprensa na conquista da liberdade religiosa;

Manifestações Culturais e Religiosas: A partir das 16h, a Cinelândia será tomada por danças israele e cigana, mantras, cânticos árabes, toque de atabaques, corais gospel e da Umbanda e muito respeito pelas diferenças. A juventude judaica prepara uma dinâmica de grupo - em que todos poderão participar - para lembrar que a intolerância religiosa foi o estopim da Segunda Guerra Mundial. Sheik, Rabino, Pastor, Padre, Sacerdotes da Umbanda, do Candomblé e Hare Krishna farão bençãos religiosas separadamente. Ao final, uma grande saudação ao Deus Único e Universal reunirá todos em uma grande oração pela paz e liberade.

Tendas temáticas de cada segmento membro da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa
Cinelândia - em frente à Câmara Municipal. 10 horas

Inauguração do Núcleo de Combate à Intolerância Religiosa da Polícia Civil
Orédio da antiga Polinter - R. Silvino Montenegro, 01 - 4º andar - sala 11 - Gamboa. 10h

Lançamento do dossiê da Intolerância Religiosa produzido pelo Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas da UFF
Sindicato dos Jornalistas - R. Evaristo da Veiga, 16 - 17º andar - Centro. 14h30

Apresentações culturais - danças, cânticos e manifestações religiosas
Cinelândia - em frente à Câmara Municipal. 16h

*O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi instituído pela Lei Federal 11.065/07 para lembrar a data de morte da iyalorixá (sacerdotisa do candomblé) Gilda do Ogun, em 2000. Mãe Gilda foi acometida por um infarto fulminante ao ver sua foto estampada na capa da Folha Universal com o título de "Macumbeiros charlatões enganam fiéis". A IURD foi condenada em última instância a indenizar os herdeiros da sacerdotisa.

sábado, 9 de janeiro de 2010

De Boris Casoy a Alexandre Garcia e o 'resto'


por Laerte Braga*
Tentar reduzir as declarações ofensivas do jornalista Boris Casoy aos garis a um “fato de pouco importância”, ou coisa semelhante, só faz ampliar a absoluta falta de respeito do âncora da tevê Bandeirantes (grupo José Collor Serra), equivale a dizer que garis “não têm importância”. Se, Casoy tivesse se referido daquela forma a banqueiros, ou a grandes empresários, aí sim.

É muito mais que algo como o cúmulo do cinismo, da hipocrisia, do desrespeito. É a visão clara e límpida do modelo escravagista, que considera o ser humano mero objeto para o processo de acumulação de capital e poder dos grandes, danem-se os pequenos, ou como disse a senhora Barbara Bush quando do terremoto Katrina a propósito dos desabrigados – “estão reclamando de que? Perderam suas casas, mas aqui nos acampamentos pelo menos comem três vezes por dia”.

Terminada uma reunião do ex-presidente Tancredo Neves com algumas lideranças políticas numa cidade do interior de Minas, um dos assessores de Tancredo, à saída, disse o seguinte – “o doutor Tancredo vai nesse carro com fulano e beltrano e o resto vai nos outros carros”.

Tancredo voltou-se, olhou para o assessor e disparou – “resto meu filho? Resto é de comida. O Tancredo vai nesse carro com fulano e beltrano e os demais companheiros, já que não cabem todos no mesmo carro, vão em outros veículos”.

Casoy tem a visão de “resto” para a classe trabalhadora. Não difere, pelo contrário, reflete a da grande mídia como um todo. Restos, de um modo geral, são jogados ao lixo. E é assim que Casoy pensa sobre trabalhadores. O que é o modelo político e econômico hoje, imposto pela religião do “deus” mercado?

Dentre eles mesmos. Uma das moças que fazia propaganda de determinado produto no programa de Fausto Silva foi mandada embora por ter completado quarenta anos e não preencher mais os requisitos de jovialidade para vender o produto. Belíssima. O ser humano com data de validade, o desprezo total pela dignidade. O desrespeito absoluto.

Não conseguem fabricar produtos que matam bactérias invisíveis no seu vaso sanitário e dizem com todas as letras que tais produtos são mais inteligentes que você?

O negócio é vender a idéia que Madonna está ajudando as crianças pobres da Amazônia e para isso recebeu dez milhões de dólares de empresários brasileiros (todos com interesses na Amazônia), dentre eles Eike Batista (doou sete mlhões de dólares depois de um encontro que durou três horas). Em troca, as crianças pobres ganham três refeições diárias e doze horas de trabalho para essa gente. Já a Amazônia, vai para as mãos de grupos estrangeiros, principalmente norte-americanos e sionistas.

Chamam isso de progresso, de futuro, de Brasil grande, mas na verdade grafam o nome do país com Z, Brazil.

Se bobear essa gente ainda passa a perna no próprio José Collor Serra e retrocede uns cinco séculos coroando FHC como Fernando I, o corretor de países. Com registro conferido pela Fundação Ford e direito a pirâmide.

Em cada parte uma daquelas placas que a gente vê em filmes produzidos por Hollywood nos jardins de casas que proporcionam “felicidade plena”. For sale.

Só que a realidade são as tendas onde na visão da senhora do primeiro Bush, o pessoal “é mais feliz”, pois “ faz três refeições diárias”.

Mais ou menos como se o “pasto” melhor para o gado.

Alexandre Garcia foi escalado para crítico da política externa brasileira. E particularmente a que tem sido adotada em relação a Honduras. Agente do antigo SNI, ligado ao Gabinete Militar do governo do ditador Figueiredo, demitido por ter posado para uma revista masculina em trajes menores e nuances – digamos assim – sensuais, além de assédio, é perito no assunto. Treinado e formado na ditadura, presta serviços a essa gente na maior rede de comunicação do País, por “coincidência”, a principal porta-voz da ditadura militar.

Segundo ele há semelhanças entre a deposição de Manuel Zelaya e João Goulart em 1964. Não houve um golpe de estado, mas um contragolpe contra ações “antidemocráticas” dos dois presidentes.

Jango e Zelaya foram eleitos pelo voto popular, no caso de Jango a eleição do vice, à época, era separada da do presidente, o que lhe conferia legitimidade sem qualquer contestação. Tanto um quanto outro enxergavam seus países, Brasil e Honduras (Zelaya enxerga ainda, está vivo) como nações e dessa forma todos os nacionais. Não se voltavam a interesses de grupos, embora, curiosamente, ambos tenham origem nas elites rurais.

Zelaya entendeu de consultar os hondurenhos sobre se desejavam ou não um referendo para a convocação ou não de uma assembléia nacional constituinte. Os proprietários da fazenda Honduras, empresas produtoras de bananas dos EUA (associadas ao latifúndio tacanho daquele país), aliado aos militares e empresas outras, com participação direta dos “rapazes” da base norte-americana em Tegucigalpa, do governo de Obama (no silêncio e depois na farsa do acordo que não foi cumprido e nem tinha sentido, sentido só a devolução do poder a Zelaya), trataram de correr com o presidente.

Onde já se viu pretender dar direitos básicos e fundamentais a camponeses, a operários, a professores, a bancários, a garis?

Não há diferença entre a critica de Alexandre Garcia na GLOBO e o preconceito manifesto por Boris Casoy, exceto na forma. Casoy por sua larga experiência no terrorismo, o CCC – COMANDO DE CAÇA AOS COMUNISTAS, MATE UM COMUNISTA POR DIA E LIMPE O PAÍS – foi fiel ao seu estilo “como te llamas? Bum! Llamavas!”. Alexandre Garcia reflete o estilo ELE E ELA, mais ou menos um elo perdido entre a falsa moralidade dos tempos da ditadura e o bordel BBB.

Só questão de tempo e espaço no processo constante que a mídia cumpre de alienar e transformar em objeto o ser humano.

O jornal francês LE MONDE, fundado à época da resistência e entre outros pelo general Charles De Gaulle (nada a ver com muitos “generais” que conhecemos bem) elegeu o presidente do Brasil como o personagem do ano de 2009. O jornal, o mais importante da França, jamais havia feito tal escolha. Na GLOBO passou de liso.

Os assassinatos, o banho de sangue contra camponeses hondurenhos, permanentes desde o golpe e ainda na sexta-feira, dia oito agora, com requintes de brutalidade e crueldade comuns a militares golpistas, toda a farsa de uma eleição de cartas marcadas para justificar o injustificável, o golpe, também passou e passa de liso.

Alexandre Garcia, porta-voz dos porões tenebrosos da ditadura, de interesses norte-americanos/sionistas no Brasil, garoto da ELE E ELA, considera que tudo isso é “democracia”, que o governo brasileiro está errado, que não houve golpe e que deve reconhecer o governo “eleito” pelos hondurenhos.

Ora, na sexta-feira, dia oito deste janeiro, um mar de hondurenhos estava nas ruas protestando contra o golpe, contra a “eleição” de um golpista para a presidência do país, Honduras, enquanto militares praticavam tiro ao alvo contra camponeses e manifestantes, exercício preferido desse tipo de gente.

Sem falar nos que foram presos e estavam como estão sendo torturados, estuprados, suas famílias perseguidas, um regime de terror, bárbaro, sem entranhas, desumano, mas que o moço da cervejaria Casa Branca considera “democrático”.

Muhamad Ali referia-se a Joe Frazier como “branquelo”. “a cor da pele não quer dizer nada, a cabeça sim”.

A história da diplomacia brasileira registra poucos momentos em que fomos capazes de nos afirmar como nação livre, soberana, senhora dos nossos narizes. Este é um dos momentos e o chanceler Celso Amorim é uma das figuras mais brilhantes dessa página, o condutor desse processo. Somos uma nação, isso não significa endossar o governo Lula no seu todo, respeitada e acatada em todo o mundo. Somos o BRASIL.

Essa gente não se conforma com isso. Quer que sejamos o BRAZIL.

Não é uma luta que vá ser travada só no campo institucional. Basta ver a reação de militares contra o Plano Nacional de Direitos Humanos. Olhar para a maioria do Congresso Nacional, figuras como Gilmar Mendes e outros tantos. José Roberto Arruda, o que ia ser vice de José Collor Serra.

E o mais imediato de todos os desafios é romper com o monopólio dessa mídia golpista, mentirosa e sórdida, a serviço de potência e grupos estrangeiros.

Casoy e Alexandre Garcia são boys dessa gente, os que de fato controlam.

E acham, que fora dos que lhes pagam, o resto é resto, ou garis, na visão e nas palavras de figuras repulsivas como Boris Casoy.

E nem falei de Miriam Leitão, a “jararaca do sul”. Mais venenosa que a do norte, tenham a certeza. Ou de William Bonner, o enviado divino. Edir Macedo ainda não percebeu o tombo que vai tomar. Os “pastores” globais escondem e bem escondidos os sacos de dinheiro.

São os que trazem a revelação do “deus” mercado. O da fome, da barbárie, do “povo tangido”.
*jornalista e analista político
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reproduções: acervo da revista "O Cruzeiro". Agradecimentos ao blog Cloaca News

Cloaca News EXCLUSIVO: Boris Casoy e o comando do terror, segundo a revista 'O Cruzeiro'


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A doença burguesa de Boris Casoy

por Gustavo Barreto, da revista Consciência.Net
São Paulo. Cidade Universitária, 1994. Fernando Braga da Costa, aluno do segundo ano de Psicologia da Universidade de São Paulo, tem uma tarefa: acompanhar, por um dia, o cotidiano de um grupo de trabalhadores. Ele escolheu os garis, que todos os dias varrem as calçadas e ruas e esvaziam as lixeiras do campus da maior universidade brasileira. Desde então o aluno, hoje psicólogo clínico e doutorando pela mesma universidade, se veste semanalmente de gari para ouvir os relatos de seus companheiros e sentir na pele a humilhação social sofrida por eles.


A experiência e as diversas histórias reunidas viraram tema de seu mestrado e chegaram aos leitores por meio do livro Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social (Ed. Globo, 2004). Clique na foto da capa (ao lado) para acessar o livro no site Submarino.*

A reportagem abaixo, de Plinio Delphino, foi publicada originalmente em 2003 pelo jornal Diário de São Paulo e reproduzida pela Revista Consciência.Net dia 23 de abril daquele mesmo ano. Reproduzimos na íntegra e incluímos, abaixo, considerações sobre a profissão de gari e um banner comemorativo da prefeitura do Rio de Janeiro.

Fazemos este registro em resposta ao jornalista Boris Casoy, do Jornal da Band, que disparou todo o seu preconceito, em rede nacional, contra esta digna categoria de trabalhadores. Casoy disse em alto e bom som: “Que merda… Dois lixeiros desejando felicidades… do alto de suas vassouras… Dois lixeiros… O mais baixo da escala do trabalho”.

Fernando Braga da Costa conta como, uma vez reconhecida sua origem socioeconômica mais favorável, os garis se preocuparam em protegê-lo e passaram a tratá-lo melhor.

Após oito anos, na data da entrevista, o repórter pergunta a Fernando o que mudou na vida dele. “Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma coisa.” Mais
*confira esta e outras sugestões de livros aqui