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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pobres e ricos no mundo do petróleo

19/01/2014 - Petróleo, Noruega e Reino Unido: o estatal milionário e o liberal sem tostão
- Fernando Brito - Tijolaço

Quarta-feira passada [15/1], cada norueguês se tornou um milionário – sem ter que levantar um dedinho sequer.

Eles devem isso ao seu litoral, e a uma enorme dose de bom senso.

Desde 1990, a Noruega foi fazendo seu caixa a partir do óleo e do gás do Mar do Norte, em um fundo para o futuro. (…)

Na semana passada, o saldo deste fundo atingiu um milhão de coroas para cada um dos 5 milhões de noruegueses, ou perto de US$ 163 mil (R$ 383 mil).

O texto acima é o início de uma reportagem do inglês The Guardian, publicada esta semana que, logo a seguir, pergunta porque os ingleses, que começaram a explorar o petróleo do Mar do Norte ao mesmo tempo que os noruegueses, no final dos anos 70, não têm praticamente nada acumulado pelos bilhões de barris que foram extraídos do leito marinho.

Para onde foi o dinheiro? “Virou corte de impostos para os ricos ou foi desaguado nas paredes das concessionárias de veículos ou dos agentes imobliários”, lamenta o Guardian.

O economista-chefe da PricewaterhouseCoopers, John Hawksworth [abaixo], admite que “não temos quaisquer novos hospitais ou estradas para mostrar: o investimento líquido do setor público caiu de 2,5% do PIB no início da era Thatcher a apenas 0,4% do PIB até 2000″.

E ele explica o destino do dinheiro: “A resposta lógica é que o dinheiro do petróleo permitiu baixar os impostos não petrolíferos”.

Claro que os sobre a renda e o capital.

Enquanto isso, a Noruega se tornou o maior PIB per capita entre os países da região, como você vê no gráfico. [abaixo]

À frente, inclusive dos “paraísos” da Dinamarca e da Suécia.


E muito à frente dos arrogantes ingleses.

O Fundo do Petróleo Norueguês é, hoje, o dono de 1% de todas as ações do mundo, em valor.

Equivale a 1,8 vezes o produto interno bruto do país.

Não que eles não gastem o dinheiro do petróleo. Gastam, inclusive o do fundo, mas apenas 4% ao ano, menos do que os rendimentos.

A riqueza veio da atividade exploratória, feita em regime de partilha e com uma empresa estatal fortalecida, a Statoil, que desenvolveu tecnologia e indústria no até então atrasado e pesqueiro país.

Hoje, a sua empresa busca petróleo em todo o mundo e o país exporta tecnologia.

Mas os noruegueses têm outra estatal: a Petoro, a Petrosal deles, que recolhe a parte estatal do petróleo e a transforma em dinheiro para o Fundo.

Trago esta história, sugerida pelo leitor Ernesto, para que os amigos e amigas fiquem atentos, quando começar a entrar os recursos do pré-sal, contra os discursos de que o dinheiro deve ser direcionado para “aquecer o mercado”, cortar impostos e distribuir perdulariamente aos municípios.

Ou que andaríamos muito mais rápido se o país permitisse mais liberdade às multinacionais, não exigindo participação da Petrobras, cotas de partilha e alto conteúdo nacional nos equipamentos exploratórios.

A obra dos “eficientes” neoliberais do petróleo do Mar do Norte está lá, bem marcada no gráfico sobre o PIB per capita do Reino Unido.

O modelo escolhido pelo Brasil para o pré-sal é o norueguês e também está lá onde ele levou o pais em quarenta anos.

O país que, mais que seu, é dos seus filhos e dos seus netos.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12771

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Das elites, essa estranha noção de liberdade

16/01/2014 - A estranha noção de liberdade das elites
-Fernando Brito - blogue Tijolaço

Quando surgiu o factóide do “Rei dos Camarotes”, a não ser na blogosfera, não foi tratado como escandaloso o fato de termos uma classe média e uma mídia babacas ao ponto de elegerem este pateta como um “agregador de valor”.

E não foram raros os que saíram dizendo que, como o dinheiro era dele – embora uma parte fosse devida aos impostos que não pagou à cidade de São Paulo - ele era livre para ser idiota o quanto quisesse.

E, afinal, ele só estava ali para “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”.

Não sou destes que quer fazer uma sociologia primária, de ver os “rolezinhos” como movimento libertário, revolucionário ou o escambau, como diziam no meu tempo.

A garotada está nessa apenas, também, para “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”.

Normal, desde que o mundo é mundo e enquanto os jovens são jovens.

Mas quando a direita se digna a olhar para a pobreza, podem crer, não é em favor dos pobres.

Quer capturar não apenas o medo dos pobres que as elites sempre tiveram.

Mas também transformar sua erupção na vida social em uma cortina de fumaça para seus interesses políticos.

Servir-se de sua despolitização para levá-la como água ao moinho de seus interesses.

E de uns tolos que não entendem que transformar em efemérides barulhentas o direito dos jovens pobres de “zoar, pegar as meninas e dar um rolé” é criar as condições para que estes jovens voltem a um tempo onde não podiam isso e também não podiam estudar, trabalhar, entrar na universidade pelo sistema de cotas e, sequer, andar na rua sem serem abordados, humilhados e agredidos pela polícia.

A sabedoria política nos exige mais.

Exige mostrar e ajudar a entender que o idiota dos camarotes é isso, um idiota.

E que a garotada da periferia, se não quiser gramar mais séculos de opressão, não pode ser idiota feito ele.

E isso, para lembrar o que disse há algum dias atrás o Saul Leblon, nos requer mais do que atas do Copom.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12673

Leituras afins:
- Imprensa e rolezinho - Luciano Martins Costa

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O fim de uma era

10/01/2014 - O final de uma era vai chegando. Que mundo será o novo?
- Fernando Brito - Tijolaço

As eras históricas, que se mediam em milênios, depois em séculos, vão se tornando cada vez mais curtas, encolhimento que provém do desenvolvimento produtivo-tecnológico do ser humano, que vai miniaturizando o mundo.

Aconteceu algo hoje [10/01/2014] que, embora todos o esperassem, é um marco nesta mudança global.

A China tomou o lugar de maior potência comercial do planeta dos Estados Unidos, que o haviam roubado da Inglaterra no início do século passado.

Ano passado haviam empatado, com ambos com 3,8 trilhões de dólares em importações e importações, somadas.

Este ano, com crescimento de mais de 7% e quase 4,2 trilhões de dólares, abriu folga para os EUA, que devem ficar estagnados em valor.

O Brasil anda pouco acima da vigésima posição nesse ranking, ainda.

Beiramos o meio trilhão de dólares, com valor semelhante de entrada e saída de mercadorias.

Tornar-se o maior centro do fluxo comercial não faz da China a maior potência econômica do mundo.

Seu PIB é ainda perto de 20% menor que o dos EUA e, no PIB per capita, com sua população gigantesca, menor que o do Brasil.

Mas é como dizia o telefonista de um jornal que se acabava, aqui no Rio quando lhe perguntavam: alô, é da Gazeta?
E ele respondia: por enquanto...

Dependendo do critério (paridade de poder de compra ou conversão cambial direta) o PIB chinês superará o dos EUA um pouco antes ou um pouco depois de 2020.

Um estudo, do ano passado, da consultoria PWC, fusão da Price Waterhouse e Coopers & Lybrand inglesas , mostra que em 2050 já será a vez da Índia, outro gigante asiático, deixar para trás os EUA.

O Brasil, segundo este estudo, terá passado o Japão e se tornado a quarta economia mundial.

Os tigres asiáticos serão outros, porque é preciso tamanho territorial e populacional para ocupar a posição de maiores numa economia que, com todos os seus males, caminha no sentido do distributivismo.

Este é o mundo novo que vai se afirmando, para o qual nossas elites não têm olhos – e nem antevisão.

Os chineses mandam os seus jovens estudarem português, aos milhares, para se prepararem para o relacionamento comercial com o Brasil e a África portuguesa.

Aqui, o mandarim ainda é “folclore”.

Julgam que o centro mundial do comércio é em Miami e que os chineses colocaram uma nave na Lua porque são bons em fogos de artifício.

E se acham…

Nós temos é de olhar esse mundo novo e melhorar nossa inserção nos negócios mundiais.

E escolher se vamos ser parceiros de quem cresce ou vassalos de quem obsolesce.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/blog/?p=12433

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Brasil, mais que o Oriente Médio

13/11/2013 - Brasil agregará mais petróleo ao mundo até 2025 do que o Oriente Médio
- Fernando Brito - Com Texto Livre

Quem quiser se iludir, que se iluda.

Pode ficar achando que a mídia está preocupada com a receita da Petrobras ao defender o aumento – necessário, aliás – dos preços dos combustíveis.

Ou que a turma do “vende-país” que se assanha para voltar, de carona com Aécio Neves [D] ou Eduardo Campos [foto-E] – tanto faz, como diz FHC – é que sabe fazer “leilão bão”.

Ou ainda que não insuflam os bem intencionados – mas ingênuos – que acham que se pode deixar o petróleo dormindo lá no pré-sal, esperando que o Divino Espírito Santo nos arranje o dinheiro para explorarmos sozinhos, com tudo o que isso envolve de centenas de bilhões de dólares de investimento.

Agora, quem quiser entender, de verdade, o que está por detrás dessa história, olhe o gráfico acima, divulgado ontem [12/11] pela Agência Internacional de Energia, em seu relatório anual.

A Agência é um órgão da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] reúne os países desenvolvidos e alguns poucos em desenvolvimento, e o Brasil não é um deles.

Sim, é isso mesmo que você está vendo lá nos dados: o Brasil vai contribuir MAIS que o Oriente Médio no crescimento da produção de petróleo mundial até 2025. E o resto do mundo tem previsão de queda na produção.

Entendeu?

Vamos ser mais importantes para suprir o crescimento da demanda de petróleo do que a Arábia Saudita, do que o Iraque, do que o Irã, do que o Kuwait somados!

Será que você se recorda do quanto foi investido em guerra, armamento, sabotagem e intervenção nestes países nos últimos 30 anos?

Será que aqui não vale uns tostõezinhos para quem gastou tanto, em dólares e em vidas humanas, para garantir seu suprimento de petróleo?

A partir daí, meu preclaro amigo e minha arguta amiga, deixo por sua conta imaginar.

Só digo ainda duas coisas, apoiado neste segundo gráfico.

A primeira é de que previsão da AIE para o Brasil é modesta e conservadora, sobretudo no segundo período, de 2025 a 2035.

O potencial de nosso pré sal é maior que esse e nem está integralmente revelado.

A segunda é para tomar cuidado com a conversa de “fontes limpas” de energia que, embora seja correta e deva ser perseguida por todos os países – e são os ricos que mais resistem a essa obrigação – é usada, com frequência, com a mesma hipocrisia com que se fala da Amazônia, depois de terem devastado as florestas de seus próprios países.

Nossa matriz energética para a geração de energia elétrica é e será muito, mas muito menos, poluidora do que a do restante do mundo, sobretudo a dos países desenvolvidos, que são verdes só no quintal dos outros, depois de terem cimentado os seus.

A poluição é um fato econômico e, como todos os fatos econômicos tem um lado perdedor e um ganhador.

O perdedor somos toda a humanidade, mas o ganhador sabemos muito bem quais são.

Fonte:
http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/11/brasil-agregara-mais-petroleo-ao-mundo.html

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Marina “Disruptura” e o fim da “Era Lula”

17/10/2013 - “Disruptura”.
- Ou como Marina quer por fim à “Era Lula”, tal como FHC quis sepultar a “Era Vargas”
- Fernando Brito - Tijolaço

Eu convivi, certa feita, com dois idiotas, ambos de péssimo caráter, a quem chamávamos de Azeitona e Empada, de tanto que se completavam as suas nulidades.

Como não tinham capacidade de raciocinar com profundidade, apelavam para expressões pernósticas para explicar suas estultices, e a preferida era “quebrar os paradigmas”.

Volta e meia, quando não tinham o que dizer, falavam que “era preciso quebrar os paradigmas”.

Nem é preciso dizer que eu e outros ironizávamos:

- Ah, vou me atrasar, o carro quebrou o paradigma…

- Fulano está no hospital? Por que? Quebrou o paradigma, coitado…

Por isso, fico incomodado quando vejo Marina Silva falando em disruptura.

Eu insisto que é preciso um projeto de país e essa disruptura será boa para todo mundo”.

Bem, vamos achar que ela está querendo falar em disrupção, do latim disruptio, fratura, quebra, despedaçar, romper, destruir…

Em política, o significado seria, então, o de revolução, não é?

Por que fugir da palavra, mesmo com as ressalvas de que seria pelo voto, sem violência ou atropelos?

Porque Marina adotou, como todos vemos, uma agenda cheia de palavrórios mas, em termos de conteúdo, idêntica a do conservadorismo.

Apresentou-se, logo que teve oportunidade, como a defensora do status quo.

O tripé, a santíssima trindade do neoliberalismo.

É o crucifixo que não se pode deixar de adorar, embora se saiba que o crucificado ali é o povo.

Nega-lo é heresia e heresia é fogueira.

Tanto que se diz que Dilma o negligencia e ela tem de vir a público dizer que nele crê, mesmo  que não seja sempre “praticante”.

Mas em Marina, não se pode negar, a fé é fundamentalista.

Ao ponto de seu “irmão” Aécio o reconhecer:

Ele (Aécio) ainda se colocou ao lado da ex-senadora Marina Silva, que afirmou que o governo atual flexibilizou o controle da inflação e da política fiscal.

O senador disse que considera que as propostas da candidatura do PSB com a Rede são “muito semelhantes” às do PSDB.

- Vejo que há uma aproximação do discurso da Marina com aquilo que o PSDB vem pregando.

Tenho certeza que uma eventual candidatura do PSB nasce exatamente por essa visão muito semelhante à nossa, de que esse ciclo de governo do PT, em benefício do Brasil, tem que ser encerrado.

Pouco importa se Marina Silva é ou não uma pessoa de direita, embora eu tenda a achar que ninguém possa ser de esquerda com seu fundamentalismo moral.

O fato objetivo é que parte da direita sentiu nela – e no seu comportamento marcado por personalismo, rancores e vaidades – a oportunidade de dividir e derrotar um projeto progressista que, ficou claro, as ambições traiçoeiras de Eduardo Campos, o vazio de Aécio Neves e a repugnância de José Serra não permitiriam.

Tal como Fernando Henrique, na sua gabolice estúpida, disse que chegava ao poder para sepultar a Era Vargas, Marina vem para tentar sepultar a quadra histórica mais semelhante àquela que já tivemos: a Era Lula.

Só que vai ter de se defrontar com o retrato do Velho, outra vez. E de um Velho vivo, vivíssimo.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/index.php/disruptura-ou-como-marina-quer-por-fim-a-era-lula-tal-como-fh-quis-sepultar-a-era-vargas/

domingo, 20 de outubro de 2013

Libra: o equívoco de cancelar

15/10/2013 - Libra: os números que mostram o equívoco de cancelar
- Fernando Brito - Tijolaço

Recebo um telefonema de um amigo que pede que eu explique porque sou a favor do leilão de Libra.

Fica, porém, surpreso quando lhe digo que não sou a favor do leilão, mas apenas de ganhar o leilão, porque sei, como dois e dois são quatro, que a Petrobras vai ganhar este leilão.

E porque é que sei, alguém me contou?

Infelizmente, não.

É apenas – se é que se pode chamar de “apenas” ler e tentar interpretar todo o noticiário do setor de petróleo – a conclusão lógica do que vem acontecendo.

Quando, há dois anos, a Petrobras começou um grande programa de desmobilização de ativos – leia-se: venda de bens e direitos – e partiu para grandes captações de recursos, era sinal de que a empresa “fazia caixa” para alguma ação de grande vulto, se desfazendo de tudo o que não é estratégico ou produz caixa.

A empresa fez, também, sua mais ousada captação de recursos em um único lance: US$ 11 bilhões, em maio.

A Petrobras vai com a força destes recursos próprios para o leilão.

Poderiam até ser suficientes para o lance, mas seu caixa não faria frente aos talvez 100 bilhões de dólares necessários para os investimentos nos cinco ou seis anos necessários para o campo começar a produzir e gerar receitas.

Portanto, é preciso arranjar este dinheiro.

Como?

Ah, o Governo empresta e depois a Petrobras paga em petróleo”.

Ótimo! E como o Governo arranja dinheiro? Vende títulos ao mercado, pagando os juros que o tal mercado nos exige.

Hoje, 9,5% ao ano brutos ou 3,5% reais, descontada a inflação.

Um “cancelonista” – como chamo os que se opõem ao leilão agora – publicou ontem, como ironiaum fantasioso e-mail interceptado pela espionagem, onde a Petrobras acertaria com os chineses a forma de eles nos financiarem a exploração de Libra.

E o que era para ser uma acusação de Paulo Metri, veja só, acaba se tornando uma proposta de negócios, verdadeiramente da China, para o nosso país.

1. A empresa dos Senhores, representando os seus bancos coligados, financiará a participação adicional de 20% da nossa empresa, que, assim, passa a ter 50% do capital do nosso consórcio. A empresa dos Senhores ficará com os outros 50% do consórcio.

2. Este financiamento será pago com o fornecimento do nosso produto, da parcela que nos cabe, durante o tempo necessário até o abatimento completo, à empresa dos Senhores.

3. As remessas mensais mínimas serão calculadas multiplicando-se o número de dias do mês por 300.000 unidades por dia.

4. Sobre o saldo devedor, incidirão juros à mesma taxa da valorização das Letras do Tesouro Americano.

5. Os abatimentos mensais do saldo devedor da nossa empresa terão o valor fixado em dólar com o preço do produto no mercado internacional no mês em questão.

Traduzindo: empréstimo com carência até a entrada do campo em produção, com saldo convertido em barris de petróleo (o produto), a taxas de juros do Tesouro americano – hoje, de 0,25% ao ano! – e amortizações abatidas com venda garantida de óleo a preço cheio do mercado internacional!.

A Petrobras não consegue dinheiro assim em parte alguma! Aliás, nem ela, nem empresa alguma.

Mas o tal e-mail imaginário com que se tenta atacar o leilão de Libra ainda diz mais:

“Se os Senhores estiverem de acordo com esta lista de compromissos, podemos fechar este acordo e formar o consórcio.

Ainda teremos que submeter nossa proposta ao órgão regulador do Governo responsável por este setor, que só se prende, para aprovação, ao valor da taxa sobre o lucro líquido do consórcio.

Portanto, seria recomendável colocarmos um percentual em torno de 65% para garantir a aprovação. Assim, seremos imbatíveis.”

Queira Deus, que aquilo que é dito para criticar possa acontecer exatamente assim.

Porque 65% de oferta percentual para o Estado Brasileiro dá um resultado bárbaro de receita para o poder público. Veja o que aconteceria na participação estatal com uma oferta assim e o barril a 100 dólares:

Receita bruta por barril (A) US$ 100

Royalties (B=15%*A) US$15

Custos de Extração (C)  US$30

Receita líquida (D=A-B-C) US$ 55

Óleo Governo (E=65%*D) – US$ 35,75

Óleo Consórcio (F=D-E)  US$ 19,25

Imposto Renda (G=25%*F)   US$4,81

CSLL (H=9%*F)   US$ 1,73

Lucro Final do Consórcio (I=F-G-H) US$ 12,71 (18,2%)

Fatia de Governo s/ dividendos (L=B+E+G+H)  US$ 57,29 (81,8%)

Mas isso ainda não é tudo: como o consórcio teria 50% de participação da Petrobras, metade do lucro – US$ 6,35 – pertenceria à nossa empresa.

E, tendo o Governo Federal, apesar de toda a lambança feita por Fernando Henrique no lançamento dos ADRs na Bolsa de Nova York, direito a 48% dos lucros da Petrobras, terá 48% deste valor: mais US$ 3,05.

A participação governamental total, portanto, fica em US$ 60,34 dos US$ 70 que vale o barril, ou 86,2%, claro que descontados os custos para faze-lo vir de 5 ou 6 mil metros abaixo do leito do oceano profundo.

Coloco aí ao lado uma tabela de quanto é a participação governamental em diversos países que praticam o regime de partilha puro ou associado ao regime de concessão.

Ela é parte do trabalho dos professores Sérgio Wul Gobetti e Rodrigo Valente Serradoutores em Economia pela UnB e pela Unicamp, respectivamente.

Foi deles, também, que tirei o guia de cálculo, adaptados para aqueles valores.

Portanto, a se confirmar a “desgraça” prevista por um dos mais respeitáveis adversários do leilão, teremos uma participação governamental mais baixa – e por muito pouco – à aplicada por Hugo Chávez às jazidas venezuelanas.

Eu até acho que não chegaremos a esse ponto mas, confesso, nunca torci tanto para um adversário de ideias estar certo e o que ele prevê como desgraça de realize.

Como eu estava achando que ganhar um pouco menos se justificava para não deixar Libra “dando sopa” para a turma da privatização, fico sabendo, graças a quem não quer o leilão, que corremos o risco de nos sairmos melhor que a encomenda, como dizia a minha avó.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/index.php/libra-os-numeros-que-mostram-o-equivoco-de-cancelar/

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

... e o PIB subiu

30/08/2013 - Aguenta, Miriam.
- O Tombini fez o que pôde, mas não deu. O PIB subiu
- Fernando Brito - Tijolaço

O resultado divulgado agora há pouco pelo IBGE sobre o PIB não mostra que o crescimento da economia brasileira ficou acima das expectativas do “mercado”, que já ruminava com desdém uma previsão de crescimento de 1% nas contas do segundo trimestre de 2013.

Mostra que ficou MUITO acima: 1,5% de expansão, em relação ao primeiro trimestre e 3,3% em relação ao mesmo trimestre de 2012.

Num mundo em recessão, o dobro dos sinais de recuperação  que estão sendo saudados em prosa e verso pela mídia nos países desenvolvidos.

A Globo, por exemplo, soltou foguetes quando anunciou, ontem [29], uma prévia do PIB dos EUA com taxas, respectivamente, de +0,6% e + 2,5% em relação ao primeiro trimestre e ao trimestre correspondente em 2012.

E o resultado só não foi melhor porque a reversão da política de juros do Banco Central brasileiro, sob os aplausos dos comentaristas econômicos,
impôs arrocho ao crédito, aos investimentos e ao consumo das famílias, além de pressionar o governo a cortar despesas para fazer o tal superavit primário, para o qual lambem os beiços e os rentistas enchem os bolsos.

Olhe lá no gráfico e confira como o consumo das famílias e despesas governamentais foram os fatores que seguraram o PIB brasileiro de abril a 
junho.

Agora vai começar a cantilena que o terceiro trimestre vai ser pior. É possível até que não se repitam os números do segundo, mas a ascensão do PIB anual vai continuar, porque o do terceiro trimestre do ano passado – que é a base de comparação correta para o acumulado – não foi nenhuma Brastemp.

O terrorismo econômico não vai acabar, nem vai se reduzir.

Só o que pode vencê-lo é a coragem de persistir num modelo, que arranque nosso país da estagnação crônica que, até dez anos atrás, era a nossa rotina.

Não duvide que vão continuar nos acenando com monstros e fantasmas, inflação, câmbio, superavits.

A nós, porém, o perigo é nos faltar a coragem para avançar pelo caminho que tem dado certo.

Fonte:
http://tijolaco.com.br/index.php/aguenta-miriam-o-tombini-fez-o-que-pode-mas-nao-deu-o-pib-subiu/
Leia também:
http://correiodobrasil.com.br/ultimas/pib-do-2o-tri-confirma-rota-de-recuperacao/640857/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20130902

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Corruptores também financiam "ONGs da honestidade"

13/08/2013 - Siemens e Alstom patrocinam o Instituto Ethos
- Fernando Brito - Tijolaço


Curiosamente, as empresas que estão envolvidas em escândalos de propina no Metrô de São Paulo patrocinam a entidade que visa combater "utilização do tráfico de influência e o oferecimento ou o recebimento de suborno ou propina por parte de qualquer pessoa ou entidade pública ou privada"; organização participará ainda do Movimento Transparência, a convite de Alckmin, para apurar as investigações sobre o caso, mas nega conflito de interesses.

247 - No olho do furacão de denúncias sobre propina a políticos para favorecimento em licitações de grandes obras no Brasil, as multinacionais alemã Siemens e francesa Alstom patrocinam nada menos que o Instituto Ethos.

A organização, segundo ela própria, visa combater "a utilização do tráfico de influência e o oferecimento ou o recebimento de suborno ou propina por parte de qualquer pessoa ou entidade pública ou privada". O fato foi lembrado pelo blog Tijolaço, de Fernando Brito.

Fonte acima:
http://por1novobrasil.blogspot.com.br/2013/08/tijolaco-siemens-e-alstom-patrocinam-o.html

Leia o post abaixo:
A ética da jabuticaba: Siemens e Alstom patrocinam o Ethos

O nosso país não é uma maravilha...

A Siemens e a Alstom, duas campeãs mundiais no pagamento de suborno (clique aqui e aqui para ver o currículo global de suborno de cada uma) patrocinam, no Brasil, ninguém menos que o Instituto Ethos, uma organização que tem como objetivo, diz ela, combater "a utilização do tráfico de influência e o oferecimento ou o recebimento de suborno ou propina por parte de qualquer pessoa ou entidade pública ou privada".

E o Ethos, convidado pelo Governador Geraldo Alckmin, vai integrar a "Comissão Pró-Transparência" do escândalo do metrô e dos trens paulistas superfaturados com a Siemens e a Alstom!

Jabuticabas, por favor!

O vice-presidente do Ethos, Paulo Itacarambi, disse não haver conflito de interesses no fato de ser patrocinado pelas duas empresas.

E disse à Folha que recebe 'apenas" R$ 18 mil e R$ 14 mil ao ano da Alston e da Siemens, respectivamente. Não é verdade.

Só a Siemens destinou US$ 3 milhões para um dos projetos do Ethos, os "Jogos Limpos".

Não foi o Banco Mundial que selecionou os projetos aos quais seria destinado dinheiro das sanções sofridas pela empresa por corrupção. O Banco Mundial apenas acompanha, com direito de veto, a escolha dos programas.

A Alstom também não é uma mera sócia contribuinte. Foi, ao lado da Siemens e de outras empresas, a patrocinadora, pasmem da edição de uma revista sobre responsabilidade das empresas em relação às eleições.

Aliás, como organizador do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, o Ethos também não sabia das condenações da Siemens e da Alstom por distribuírem propina a rodo, mundo afora e das denúncias aqui e convidou as raposas para tomarem conta do galinheiro?

Parece que o pessoal do Ethos é tão desentendido como o Alckmin, que não sabia de nada e se deparou com 45 investigações do Ministério público Estadual.

A ética da jabuticaba lembra aquela história do mafioso que mandava matar e levava flores ao enterro.

Aqui, roubam e com um trocado deste dinheiro financiam as ONGs da "honestidade".

E ainda é dedutível no Imposto de Renda!

Fonte:
http://www.tijolaco.com.br/index.php/a-etica-da-jabuticaba-siemens-e-alstom-patrocinam-o-ethos/

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sem médico não pode haver saúde


Por Fernando Brito, no Blog Tijolaço, em 15/07/2013

Tem gente que acha que, ao defender a contratação de médicos estrangeiros para atuar em localidades remotas, onde não aparecem médicos brasileiros interessados, a gente está contra os médicos brasileiros.

Alguns, nos comentários, acham que há uma carga de preconceito contra eles, o que é inteiramente falso.

Tenho tentado sustentar essa discussão à base de fatos e números, mas ela foi personalizada

Por isso, quero contar a vocês que tenho dois grandes amigos médicos, a quem admiro profundamente e a quem devo os ótimos cuidados que meus filhos mais velhos tiveram.

Ambos têm mais de trinta anos de profissão. Ambos, professores universitários.

Deles, vi e ouvi coisas admiráveis.

Inclusive e sobretudo vários “não sei, vou investigar isso melhor”.

Nunca tiveram consultório, até para poderem dizer isso, o que não é “recomendável” dizer a um paciente que paga e quer levar um diagnóstico e uma receita como produto, o que nem sempre é possível, prudente e acertado ali, naqueles 20 minutos de uma consulta.

Um deles, o mais “durão”, certa vez vi chorar. Um paciente, humilde operário de uma empreiteira brasileira que fora trabalhar na África, acabara de morrer. Embora o exame feito tivesse dado negativo para malária, ele insistira com um colega que tratasse o homem para malária, o que não foi feito. Havia um hospital, havia estrutura para exames laboratoriais mas o pobre cidadão, como se diz na linguagem médica, “evoluiu para o óbito”.

Do outro, que trabalhava em um hospital para portadores de HIV/Aids, disse-me uma vez: Fernando, muitas vezes só o que temos a fazer é dar a estas pessoas o direito de morrer em uma cama limpa e recebendo atenção. Naquele hospital, precário, havia uma médica, cujo marido, professor de meus filhos, teve meningite. Embora o hospital fosse referência para esta doença, ele foi transferido para um hospital de altíssimo padrão, na Zona Sul carioca. O homem morreu.

Quando meu filho mais novo ardia em febre há uma semana, para meu desespero, um destes meus amigos, resolveu em 15 minutos o que fazia, durante uma semana,  uma das melhores clínicas pediátricas do Rio, na Lagoa Rodrigo de Freitas, bater cabeça com a falta de diagnóstico, apesar dos múltiplos exames  laboratoriais realizados.

Ele olhou, olhou, me disse “peraí”, subiu pachorrentamente a escada de sua casa e  trouxe um livro já meio desbeiçado para  me mostrar:

- Acho que seu filho está com uma doença que é meio “fora de moda”, a roséola.

- Rubéola?

- Não, roséola, que o pessoal chamava antigamente de “sexta doença” e a gente chama hoje de exantema súbito. Liga pra mim amanhã e me diz se ele não amanheceu com as costas cheias de pintas.

Batata, como os velhos feito eu dizem.

Eu próprio, por razões pessoais e também familiares, nos últimos anos, percorro dezenas de consultórios médicos, a grande maioria particulares. Entrei e saí de tubos das mais variadas espécies.

Nada, porém, me foi tão importante quanto o atendimento que tive em consultórios onde pouco havia senão um estetoscópio, um aparelho de pressão e uma balança.

Minto, havia mais: havia um médico.

Claro que é preciso que haja unidades de saúde, aparelhos, equipamentos, hospitais, laboratórios. Claro que deve haver para o povão tudo o que está à disposição de quem pode pagar um bom plano de saúde. Claro que isso não é a realidade de grande parte de nossas unidades  de atendimento.

Mas nada disso adianta se não houver um médico, e é isso o que não existe em quase 800 municípios brasileiros.

Um médico, um simples e providencial médico, que possa olhar para um cidadão brasileiro, para uma criança que arde em febre, avaliar, medicar e se mais for preciso, encaminhar para onde haja mais recursos.

Que esses brasileiros, iguais a mim e a você, tenham direito a procurar um médico, nas situações mais graves ou quando passam mal, simplesmente.

Por quanto tempo o mais urgente, tranquilizador e, às vezes, salvador foi um médico, com uma “estrutura de atendimento” que cabia numa valise preta?

Não estamos todos de acordo que o mais importante para a saúde é que haja atenção primária e ninguém pode pensar que ela pode existir sem médico, embora exista sem hospitais.

Não vimos manifestações vigorosas quando um médica de um serviço público de saúde emergencial – o SAMU –  ”batia” o ponto por outros cinco médicos usando “dedinhos de silicone”. Claro que ela não representa a categoria valorosa dos profissionais de saúde. Mas o mesmo Conselho Regional de Medicina, três meses depois, sequer suspendeu aqueles profissionais que faltaram à ética e à população carente. Seus registros, basta consultar o site do Cremesp, estão lá, ativinhos da silva xavier.

Quem não valoriza os médicos não somos aqueles que queremos e exigimos – tanto quanto exigimos hospitais “padrão Fifa” – de que se dê um jeito, urgente, que haja médico para todos os brasileiros.

Porque achamos que médico é tão importante, é tão bom, é tão vital, que todo mundo tem direito a um, seja nos Jardins paulistanos, seja num vilarejo do Pará.

Por: Fernando Brito


Leia também:http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/07/15/padilha-o-brasil-tem-metade-dos-medicos-da-argentina/#.UeTcoQRcLUd.twitter


http://oglobo.globo.com/rio/gravida-de-9-meses-percorre-quatro-hospitais-procura-de-atendimento-
9035856

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Não mostrem isso nas aulas de economia

07/06/2013 -  Fernando Brito - blog Tijolaço

O gráfico aí de cima mostra a trajetória da inflação, mês a mês, e foi publicado hoje [7/6] em O Globo, com o resultado de 0,37% do IPCA anunciado de manhã pelo IBGE.

Eu, que peguei a mania da Miriam Leitão (abaixo) de ficar usando gráfico para explicar as coisas, tomei a liberdade de colocar, junto dele, uma linha com a trajetória da taxa Selic do Banco Central.

O resultado é algo que não pode ser mostrado nas aulas de economia, porque contraria o manualzinho que diz que “inflação sobe, juro sobe” e “inflação cai, juro pode cair”.

E se você juntar aí a curva do consumo das famílias, aí é que a coisa dá um nó. Porque não se encontra, nem revirando o depósito das Casas Bahia, nenhuma corrida às compras que pudesse estar elevando preços.

Houve, é verdade, alta no preço dos alimentos, mas isso não se combate com alta de juros públicos.

A menos que se ache que os plantadores de tomate estão especulando com a taxa Selic.

Mas o perverso disso é que será, no mínimo, uma “meia-trava” no que há de melhor hoje, em nossa economia, que é o investimento produtivo – o melhor indicador do PIB foi a formação bruta de capital fixo – e o que ele projeta para a produção futura, para o emprego e para o consumo.

Bom, há uma alternativa: passar a ensinar, nos cursos universitários, que a mídia é “fundamento econômico”.

E que o papel da autoridade monetária é defender os ganhos dos especuladores.

Fonte:
http://www.tijolaco.com.br/index.php/nao-mostrem-isso-nas-aulas-de-economia/

Nota:
No ponto mais baixo do gráfico o correto é 0,08