quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O mito do capitalismo “natural”

19/02/2013 - por Rafael Azzi - extraído do blog Outras Palavras

O banqueiro e sua esposa, de Marinus van Reymerswaele
Há séculos, a ideia de que o ser humano é “em essência” egoísta-competitivo justifica relações capitalistas. Descobertas recentes estão derrubando tal crença.

O modelo capitalista de sociedade premia e estimula o comportamento individualista, utilitário e egoísta.

Diversos pensadores, como o economista Alan Greespan, acreditam que tal comportamento apenas reflete a verdadeira essência da natureza humana e, portanto, não há muito a fazer a respeito.

Entretanto, essa visão do ser humano foi moldada ao longo da história e, na verdade, os estudos de hoje discordam da noção de que somos  essencialmente individualistas e agressivos.

Alguns filósofos, como Thomas Hobbes, John Locke e Adam Smith, contribuíram para a consolidação da ideia de que o ser humano é, por natureza, racional, autônomo, utilitário e voltado principalmente para a satisfação egoísta de seus próprios interesses.

As principais instituições políticas e econômicas que hoje moldam a sociedade foram fundadas a partir desses preceitos sobre a natureza humana.

O modelo social adotado pelos princípios capitalistas põe em cena uma perspectiva de Estado-Nação que tem como objetivo estimular as forças do livre mercado e proteger a propriedade privada.

O homem é então considerado um indivíduo autônomo e racional que, ao optar por viver em sociedade, acredita que esta é a melhor forma de proteger seus próprios interesses, evitando assim um estado de selvageria natural representado pela expressão hobbesiana “guerra de todos contra todos”.

Da mesma forma que os indivíduos proclamam sua autossuficiência, os Estados são vistos na política internacional como autônomos na busca do próprio interesse.

Sob tal perspectiva, as nações encontram-se em eterna batalha em busca de poder e de bens materiais.

A narrativa histórica é construída a partir de uma constante dicotomia estabelecida entre Estados e indivíduos isolados, público e privado, termos ocasionalmente unidos apenas por razões de utilidade ou de lucro.

O mito do homem que sobrevive como indivíduo é difundido na literatura universal em heróis como Robinson Crusoé: o homem que consegue, sozinho, através do uso da razão, utilizar a natureza a seu favor e sobrevive sem o auxílio de outras pessoas.

Porém, o que não está dito é que Crusoé é um homem adulto, que cresceu em uma sociedade complexa, na qual dependia diretamente de outras pessoas.

Além disso, ele apenas aprendeu os conhecimentos necessários para a sua sobrevivência na ilha deserta através do contato com experiências de outras pessoas e outras gerações.

Essa visão filosófica, que se transformou em política, foi naturalizada por um conjunto de teorias científicas.

O darwinismo social é uma interpretação estreita da teoria de Darwin aplicada à sociedade humana. Tal teoria enfatiza a ideia de que a evolução se relaciona à competição e à sobrevivência do mais forte, pondo-a em prática na sociedade humana.

Dessa forma, características como individualismo, agressividade e competição seriam os agentes naturais da evolução. Argumenta-se que a competição pela sobrevivência fundamenta a evolução humana, a fim de justificar a sociedade capitalista como o modelo natural a ser adotado.

Atualmente, tal noção é considerada bastante reducionista.

Já se observou, por exemplo, que não apenas a competição mas também a cooperação entre os indivíduos são fatores de extrema importância na sobrevivência de espécies sociais.

Recentes estudos de sociobiologia vêm comprovando a hipótese de que o ser humano é, na verdade, um dos animais mais sociais que existe.

Não é difícil comprovar esse fato: vivemos em grupos cada vez maiores, em sociedades cada vez mais complexas com indivíduos interdependentes. Temos a necessidade constante de nos sentir conectados a outras pessoas e de pertencer a um grupo, em um sentimento que remonta às ideias ancestrais de coletividade e de comunidade.

Uma descoberta biológica recente vem corroborar essa ideia.

Os neurônios-espelhos fazem parte de um importante sistema cerebral que atua diretamente em nossa conexão com outros indivíduos. Esse conjunto de neurônios é mobilizado quando vemos outra pessoa fazendo algo.

Pesquisadores constataram que, quando uma pessoa observa outra realizando uma ação, no cérebro do observador são estimuladas as mesmas áreas que normalmente regem a ação observada. Portanto, ao que tudo indica, nossa percepção visual inicia uma espécie de simulação ou duplicação interna dos atos de outros.

Os neurônios-espelhos são a base do aprendizado e da aquisição da linguagem humana. Mais do que isso, eles tornam fluida a fronteira entre nós e os outros; são a origem da empatia, que é a capacidade de nos colocar no lugar de outra pessoa.

Pode-se dizer que, ao observar alguém sorrindo, imediatamente nos sentimos impelidos a sorrir também. Quando percebemos alguém que está em uma situação que causa dor, a reação natural é partilhar o sentimento de dor alheia.

A capacidade empática e a necessidade de fazer parte de um grupo formam as bases, por assim dizer, das religiões organizadas e do sentimento de nacionalismo.

O problema é que, ao mesmo tempo em que fomentam a empatia coletiva, estas instituições limitam o sentimento empático pelos indivíduos que não fazem parte do mesmo grupo.

Assim, o indivíduo que faz parte de outra ordem — seja ela uma nação, uma religião, uma etnia ou uma classe social — é considerado diferente, distante e, eventualmente, intolerável.

Tais rótulos limitam a capacidade empática e impedem de ver o outro como um semelhante na partilha de sentimentos, desejos e angústias intrínsecos à natureza humana.

Um exemplo de que a empatia é natural ao ser humano é a forma como ela ocorre de maneira livre e instintiva nas crianças. Quando uma criança observa outra pessoa em situação desfavorável, como a mendicância e a falta de moradia, a primeira reação é o questionamento.

Invariavelmente, as respostas que fazem uso de rótulos auxiliam a explicar a situação: “é apenas um mendigo” ou “é só um menino de rua”.

Com frases assim, está-se afirmando que o outro não é alguém como nós; trata-se apenas de alguém diferente, em uma realidade distante da nossa.

Portanto, ao estimular constantemente o egoísmo e o interesse individualista, a sociedade baseada no modelo atual desestimula a capacidade empática existente em cada um.

Dessa forma, pode-se afirmar que o desafio do nosso tempo é desnaturalizar o egoísmo social que foi imposto e recuperar nossa empatia natural, não apenas em relação aos grupos de pertencimento, mas sobretudo ampliada em relação a toda nossa espécie.

Fonte:
http://www.outraspalavras.net/2013/02/19/o-mito-do-capitalismo-natural/

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Europeus reagem ao neoliberalismo

24/02/2013 - Europeus reagem ao neoliberalismo que empobrece o povo
- por  Mário Augusto Jakobskind para a Rede Democrática

A política neoliberal atacou forte a Espanha.

Desta vez, os políticos e a mídia estão admitindo que a água será mesmo privatizada. Já reconhecem e denunciam, segundo revela a imprensa, que o recibo do pagamento da água está em várias partes financiando um sistema municipal em quebra.

E assim vai, as empresas interessadas então se oferecem para cuidar do serviço com os clientes durante 25 anos.

Espanha, Portugal, Itália, Grécia e outros países europeus estão sentindo os efeitos nefastos da política de austeridade econômica defendida pela primeira-ministra alemã Angela Merkiel (foto).

O povo nas ruas reage e tem enfrentado uma onda de violência policial que há muito não se via.

Mas o povo não se atemoriza. No Parlamento português falava o conservador primeiro ministro Passos Coelho sobre o Conselho Europeu quando da galeria irrompeu um coro de umas 30 pessoas.

Cantavam Grândola Vila Morena, a histórica composição do saudoso Zeca Afonso que serviu de senha para a deflagração da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974 (ao lado).

Os opositores do neoliberalismo deram o recado segundo o qual o povo precisa ser protagonista da história.

E para que isso aconteça é necessário que Portugal sepulte em definitivo a atual política econômica que está empobrecendo a maioria dos portugueses.

É fundamental se informar aqui no Brasil sobre o que se passa no mundo, especialmente agora na Europa que enfrenta uma onda conservadora e de
tentativas de salvação do capital financeiro, o principal responsável pela crise que sacode o velho continente.

É fundamental saber o que está acontecendo no mundo, sobretudo quando os meios de comunicação do mercado pressionam o governo Dilma Rousseff no sentido de seguir privatizando setores vitais e determinantes para a nossa soberania.

Dilma, até agora, tem cedido em tudo e muito mais.

Na área de comunicação, o Ministério encabeçado por Paulo Bernardo tem se dobrado subservientemente aos apelos e pressões do patronato midiático no sentido da manutenção do status quo midiático atual, que só favorece as grandes empresas do setor.

Como o governo Dilma Rousseff já passou da metade do mandato de quatro anos e a campanha eleitoral praticamente foi deflagrada agora com antecipação de pelo menos um ano, é preciso estar atento para o que vem acontecendo.

Cobrar promessas e exigir posicionamentos, se possível assinados em cartório.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3931:europeus-reagem-ao-neoliberalismo-que-empobrece-o-povo

Nota:
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Yoani e a diplomacia da desintegração

23/02/2013 - Por Beto Almeida - extraído do Blog do Miro

A gira da blogueira cubana Yoani Sánchez pelo Brasil tem se revelado, até o momento, uma exitosa campanha de ‘over’ exposição midiática dela, numa tentativa de distorcer a gigantesca função histórica libertadora da revolução cubana e, também, numa fracassada operação da diplomacia da desintegração.

Trata-se de uma ação geopolítica da direita para tentar impedir a crescente presença política de Cuba na América Latina e Caribe por meio de vários projetos de cooperação, mas, sobretudo, pela criação da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), da qual Cuba é hoje presidente e onde foram derrotados pelos povos da região todos os esforços da agressiva política dos EUA para isolar a ilha caribenha.

Começo por reivindicar 1% do espaço midiático dado a ela, para discutir este outro ponto de vista.

Era previsível que a blogueira tivesse ampla cobertura da mídia. Esta cobertura é marcada pela repetição de uma única tese e, na proporção inversa, pela negativa em informar sobre o que é exatamente a realidade Cuba, a começar pela informação de que Cuba exerce a presidência da Celac, o que, para um país que foi bloqueado, expulso da OEA, atacado militarmente pelos EUA, impedido de ter acesso pleno ao sistema financeiro internacional, representa exatamente uma vitória de Cuba e da causa da integração latino-americana e caribenha.

Obviamente, representa um fracasso de todos os países imperiais, de seus meios de comunicação e de personagens como Yoani Sánchez, que, observa que seu discurso é de absoluta sintonia com os polos mais conservadores da sociedade brasileira, discurso que tem sido derrotado. O discurso dela e da mídia brasileira que o exalta, é o discurso que quer o fracasso da política externa brasileira de prioridade à integração com a América Latina.

Biotecnologia: avanço técnico-científico
Seria muito informativo e educativo para o povo brasileiro se, na mesma proporção do oferecido à blogueira, também fosse dado espaço midiático aos cientistas cubanos para falar como um país pobre, em pouco mais de 50 anos, e sob bloqueio, conseguiu desenvolver uma indústria de biotecnologia das mais avançadas do mundo, com medicamentos de eficácia comprovada e sucesso internacional como o Óleo de Schostakovsky (para a gastrite), o complexo para combater diabetes, a vacina contra o câncer de intestino (um laboratório dos EUA tentou comprar, mas foi proibido pelo governo Bush), as vacinas contra a meningite, etc.

Antes da Revolução, Cuba sequer possuía indústria farmacêutica, hoje exporta medicamentos, ciência, e médicos.

Países imperiais exportam soldados, armas, intervenções militares. Esta mesma mídia brasileira que é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, apoiadora de todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço para tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o Governo Sarney.

Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta mesma mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não comprasse as vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica e ideológica.

No primeiro caso, o Brasil tinha e ainda tem o seu setor de medicamentos quase totalmente controlado e ocupado por umas poucas multinacionais farmacêuticas, grandes anunciantes desta mídia, ambos lutando para não perder o controle do mercado para as vacinas cubanas, que o governo Sarney acabou importando em grande quantidade, apesar da pressão dos oligopólios.

E era também uma operação ideológica, com a intenção de dizer que era impossível que uma ilha pequenina, cercada de hostilidades imperiais por todos os lados, pudesse, com poucos anos de socialização de sua economia, ter alcançado tal êxito técnico-científico, a ponto de transformar-se em exportadora de sofisticados medicamentos, enquanto o Brasil, uma economia muitas vezes superior, era ainda dependente de sua importação.

Sarney e as vacinas cubanas
A ruidosa campanha contra as vacinas cubanas na época – questionando até sua eficácia apesar dos reconhecimentos da Organização Mundial da Saúde - era uma desumana tentativa de intimidar o governo Sarney que, não apenas reatou com Cuba, mas começou a realizar um processo de intercâmbio comercial, científico e cultural com a Ilha. Vale lembrar, o ministro da Cultura de Sarney era o inesquecível Celso Furtado...

O discurso da mídia então, submisso aos ditames imperiais, queria também impedir a criação do Mercosul, cujo fortalecimento posterior e sua consolidação hoje, é algo que desagrada enormemente aos inimigos da integração, pois é evidente que um Mercosul cada vez mais forte e amplo, com a entrada da Venezuela e, proximamente, da Bolívia e do Equador, representa uma alternativa histórica real aos “Cem Anos de Solidão” de uma América Latina antes submissa e desunida e, agora, em processo de transformação , com governos populares e com uma cooperação cada vez maior com Cuba.

Estamos abrindo as páginas dos Cem Anos de Cooperação...

Desintegração e fracasso histórico
A este processo de integração crescente se dirige a passagem da blogueira por aqui e deste ponto de vista, revela-se um enorme fracasso. Ela se auto classificou como diplomata popular, mas é fácil perceber tratar-se de uma diplomata da desintegração.

O pano de fundo, o que ela e seus patrocinadores visam, é obstaculizar a causa maior de nossas mais importantes lideranças históricas, a começar por Simon Bolívar, José Marti, Tiradentes, Abreu e Lima, Perón, Getúlio Vargas, Che Guevara, hoje continuados, concretamente, pelas políticas de integração implementadas pelos governos de Lula-Dilma, Fidel-Raul, Hugo Chávez, Evo Morales, Pepe Mujica, Nestor e Cristina Kirchner, Daniel Ortega e o recém reeleito Rafael Correa.

Dalai Lama
Personagens como Yoani Sánchez são criados em determinados momentos, recebem as condições materiais e financeiras de circulação, publicidade e exaltação, mas produzem, concretamente, poucos resultados práticos.

Citemos outro personagem fabricado para uma operação similar contra a Revolução Chinesa: Dalai Lama. Sustentado por anos e anos pelo Departamento de Estado dos EUA, que além do salário, do apartamento onde vive perto do Central Park de Nova York, e de uma jorrante publicação de seus livros, Dalai Lama revela-se um retumbante fracasso.

Antes da Revolução Chinesa, o Tibet era um regime feudal e escravocrata. O Brasil não foi o último país a abolir a escravidão, foi o Tibet, e por meio de uma revolução dirigida por Mao-Tse Tung e o Partido Comunista. Antes da vitória socialista, em 1949, a China era conhecida pela espantosa fome que levava milhões à morte a cada ano.

Além disso, havia todo tipo de doenças evitáveis, o povo sequer conhecia médicos. E era possível, nas feiras, comprar animais e mulheres como servas, já que não existiam direitos trabalhistas. Hoje, apesar das inúmeras giras de Dalai Lama pelo mundo, a China é conhecida por lançar uma nave tripulada ao espaço sideral, por ser a economia que mais cresce no mundo, que mais fabrica computadores e turbinas de energia solar, que lança satélites em parcerias com a Venezuela e o Brasil, que legalizou e socializou a acupuntura (antes de Mao era proibida) e que, em parceria com a Rússia e o Iran, está travando os planos da Otan de invadir e esquartejar a Síria. O que se houve falar de Dalai? A notícia mais recente é que ele estaria disposto a dialogar com as autoridades chinesas, contrariando seus patrocinadores. Vai ter que mudar-se do Central Park...

Cuba inclusiva?
A blogueira falou em Brasília que quer uma Cuba mais inclusiva e plural. Se examinarmos a realidade cubana, especialmente as estatísticas elaboradas ou reconhecidas por instituições internacionais como a Organização Mundial da Saúde, a Unesco, a Unicef, a Organização Panamericana de Saúde e se a mídia comercial, que tanta exalta a Yoani, desse ao povo brasileiro o direito de conhecê-las, ficaria claro que é difícil apontar uma sociedade tão inclusiva como a cubana.

Há começar porque não existem crianças vagando pelas ruas, crianças fora da escola, crianças pedindo esmolas, nem crianças trabalhando.

A taxa de mortalidade infantil é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde, aliás, o trabalho infantil está em elevação, o que se agravou enormemente com o desemprego e a crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a indústria bélica foram salvos, como revela o Occupy Wall Street.

Não há um único hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto não é inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes dos EUA que trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de setembro de 2001.

Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos norte-americanos, foram levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois não tinham planos de saúde nem tratamento médico nos EUA, onde haviam sido condecorados como heróis. Em Cuba, foram atendidos gratuitamente nos hospitais mais avançados, os mesmos que já trataram, depois da eleição de Chávez, 43 mil cidadãos venezuelanos. Se a blogueira tivesse visitado hospitais no entorno de Brasília, teria uma ideia concreta do que é realmente a falta de inclusão.

Aliás, se o povo brasileiro pudesse ser informado, massivamente - digamos que 10 % do que a TV Globo mostra de baixarias do Big Brother, onde há até edificantes concursos de "pum" - sobre um único relatório da UNICEF em que se afirma que “Existem 200 milhões de crianças desnutridas no mundo hoje. Nenhuma delas é cubana!”, entenderia mais claramente os absurdos ditos por esta personagem.

Bloqueio
Houve um tempo em que os opositores de Cuba, inclusive a blogueira, diziam que o bloqueio dos EUA era apenas uma desculpa de Fidel para desviar a atenção dos problemas internos.

Agora, quando o bloqueio recebe múltiplas condenações na ONU, sendo defendido apenas pelos EUA, e por razões óbvias de subordinação pelo Canadá, Israel e um ilha desconhecida do Pacífico, sendo criticado até mesmo pelo New York Times e pela Revista Forbes, a blogueira foi orientada a mudar o discurso e admite ser contrária a esta escandalosa violação dos direitos humanos do povo Cuba por parte da Casa Branca, proibindo à ilha uma simples operação comercial para a compra de aspirinas no mercado norte-americano.

Aliás, ela disse também ser a favor da libertação dos 5 heróis cubanos prisioneiros políticos nos EUA, por trabalharem na prevenção dos atentados terroristas organizados em território da pátria de Jack London. Alertado por Fidel Castro, em carta entregue pelo genial Gabriel Garcia Marquez, o presidente Bill Clinton, ao invés de fazer uso das informações para evitar atentados terroristas que estavam em organização, como os de Oklahoma e os de 11 de setembro de 2001, preferiu prender os cinco cidadãos cubanos.

Aliás, agora que até a blogueira já fala no fim do bloqueio, dando razão ao governo de Cuba, e também a Lula e Dilma que sempre se pronunciam em defesa da posição do governo cubano, vale comparar a situação vivida por Yoani Sánchez - que não está presa, comunica-se com o mundo inteiro a partir de Cuba ou fora dela, viajando por mais de 12 países para criticar a Revolução Cubana - com a situação do soldado norte-americano Bradley Manning, preso e torturado em prisão militar dos EUA, por ter revelado ao mundo, corajosa e generosamente, com a ajuda do Wikileaks, os documentos sigilosos contendo os planos mais sinistros do imperialismo para atacar e desestabilizar vários países e governos ao redor do mundo.

Ou comparar com a situação de Mumia Abu Jamal, jornalista e militante negro, preso no Corredor da Morte, condenado injustamente por um juiz racista que coleciona sentenças de pena de morte especialmente para negros, asiáticos, hispânicos e pobres que vivem por lá.

O “delito” de Abu Jamal é escrever com coragem e talento sobre o regime discricionário vigente nos EUA, onde, há pouco, foi proibida a sintonia por satélite de canais de TV do Irã, desmascarando-se, assim, o falso discurso da liberdade de expressão reivindicado pela Casa Branca. Bom, eles já haviam proibido o ingresso de Charles Chaplin por lá...

Medicina e humanismo
Tive a oportunidade de visitar a Escola Latino Americana de Medicina (ELAM), instalada numa antiga base naval desativada próximo a Havana e lá conversei com representantes dos mais de 500 estudantes negros estadunidenses, oriundos dos bairros pobres do Harlem ou do Brooklin.

Eles me contaram que jamais teriam a oportunidade de se formarem em medicina nos EUA, sendo muito mais provável, pelas condições precárias de vida que tinham lá, que fossem recrutados pelo narcotráfico e terminassem presos. Aliás, os EUA possuem a maior população carcerária do mundo... Em Cuba, estes jovens estão estudando, gratuitamente, para serem médicos.

Compartilhar o que tem, não o que sobra
Ante os agressivos ataques do Pentágono e da CIA contra a Revolução Cubana, esta se defende, legitimamente, mas também reage com humanismo, oferecendo aos filhos pobres da pátria de Lincoln a possibilidade de escapar da criminalidade e servirem socialmente ao povo norte-americano, a quem se respeita em Cuba, a ponto que jamais se queimou uma bandeira dos EUA em território cubano.

Enquanto a Casa Branca envia terroristas e guerra bacteriológica contra Cuba - como denunciou um ex-ministro da saúde dos EUA - Cuba envia médicos formados para o povo norte-americano! É a este país, que reparte seus modestos recursos orçamentários com outros povos, que a blogueira afirma não ser inclusivo?

Vale lembrar o desastre do furacão Katrina: enquanto a população negra e pobre estava abandonada em Nova Orleans pelo governo de Bush, Cuba ofereceu o envio imediato de 1200 médicos para salvar vidas ali. Eles ficaram toda uma manhã posicionados no aeroporto de Havana esperando autorização da Casa Branca para embarcarem para os EUA. A autorização nunca veio. E a blogueira, que reivindica uma Cuba inclusiva, não toca no tema.

Cuba plural?
Houve um ano, 1984, em que a Unesco reconheceu ter Cuba batido um recorde na publicação de livros, que lá são vendidos a preços de um picolé ou menos.

Foram 480 milhões de exemplares publicados naquele ano. Entre estas obras há Guimarães Rosa, com tiragem superior a 150 mil exemplares, quando no Brasil, com um indústria gráfica 50% ociosa, a tiragem padrão é de apenas 3 mil exemplares.

Em Cuba há mais pleno acesso à literatura universal, ao cinema internacional, o cinema é uma atividade popular, com ingressos baratos e salas cheias. Já foi produzida em Cuba uma rádio-novela sobre a Coluna Prestes, quando aqui ainda não há sequer projetos para uma grande produção cinematográfica sobre o tema.

Como seria educativo se a presidenta do Instituto do Livro Cubano, Zuleika Romay, uma mulher negra e jovem, pudesse ter 5% do espaço televisivo que foi dado à blogueira para desprestigiar Cuba, inclusive quando afirmou que concordaria com hospitais e escolas privadas na Ilha, o que revela seu pensamento nada inclusivo, já que serviços privados só são acessíveis a quem paga, e na Cuba atacada pela mídia conservadora, a educação e a saúde são públicas e gratuitas.

Milton Nascimento, numa turnê pela Ilha, sentiu-se mal e foi atendido por médicos em seu hotel. Ao final, quis pagar, recebendo como resposta que em Cuba saúde é um direito de todos e que isto não se vende.

Cuba, Brasil e Haiti
Quando a tragédia do terremoto assolou o Haiti - um geólogo cubano havia alertado anos antes que eram altíssimas as probabilidades de um terremoto com epicentro cerca de Porto Príncipe - os médicos cubanos já eram responsáveis há anos, praticamente, pelo o que havia restado de serviço de saúde ali ante tanta miséria construída pelos países imperiais que dão sustentação à blogueira.

O Brasil também estava lá, com o maior número de soldados, que também realizam obras de infraestrutura.

Mas, a partir do terremoto Brasil e Cuba passaram a colaborar mais centradamente na área da saúde, e, com um financiamento de 80 milhões de dólares do governo brasileiro, foram construídas instalações de saúde para o povo haitiano, no qual trabalham as centenas de cubanos que já estavam lá há anos, juntamente com médicos militares brasileiros.

Como parte desta cooperação, além da saúde, o Batalhão de Engenharia do Exército está construindo a única hidrelétrica por lá, além de rodovias e pontes.

Impublicável: cooperação sul-sul-sul
Em 2006, a Organização Mundial da Saúde, lançou um SOS Internacional: precisava de produção massiva, a preços baixos, de vacina contra meningite A e C para entregar a 23 países da África, onde vivem 430 milhões de seres humanos. Só uma empresa transnacional fabricava estas vacinas, mas devido à baixa lucratividade, reduziu sua fabricação colocando a África sob o risco de emergência sanitária.

Só dois laboratórios públicos atenderam ao chamado da OMS: Instituto Finlay de Cuba e o Instituto Bio-Manguinhos do Brasil. Os dois se associaram para a criação da vacina Vax-MEN-AC, específica para os tipos de meningite que afetam a África. A cooperação Brasil-Cuba permitiu um preço 20 vezes menor do praticado pela transnacional e já foram produzidas e entregues 19 milhões de doses.

Esta é uma notícia impublicável nos grandes meios que abrem todo espaço à blogueira e que hiper divulgam as ações financiadas pela Fundação do Multibilionário Bill Gates, de impacto mínimo, conduzidas por operações de marketing de empresas privadas, aquelas que não se interessaram em atender ao apelo da OMS.

Brasil e Cuba, com governos de orientação de esquerda, por meio de laboratórios públicos, fazem mais contra a meningite na África que as transnacionais e a fortuna de Bill Gates. A blogueira não fala nada disso no seu blog, nem nas suas entrevistas, mas pede uma Cuba mais inclusiva e plural.

Cuba, Brasil e Timor Leste
Em visita de trabalho ao Timor Leste, onde a TV Cidade Livre de Brasília e o Comitê de Brasiliense de Solidariedade ao Timor doaram os equipamentos de uma rádio comunitária às organizações educacionais locais, pude visitar, também, o alojamento de 400 médicos cubanos que lá trabalham em solidariedade ao povo maubere.

Comentei a visita com o Presidente da República, Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, que recebia o Presidente Lula. Ele me contou ter sido pressionado pelo Embaixador dos EUA lá a não receber os médicos de Cuba, oportunidade em que perguntou ao gringo: “Quantos médicos norte-americanos temos aqui?”.
- “Só um, o da embaixada!”, respondeu.
- “Pois então o povo do Timor é muito grato a Cuba e vai sim receber os médicos cubanos”, disse-lhe Horta.

O pensamento da blogueira é bastante sintonizado com o do embaixador gringo e certamente não considera inclusivo que na cooperação Brasil e Cuba, os 600 estudantes timorenses que serão formados em medicina na Ilha brevemente, antes de voltar ao Timor, façam estágio na Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, na área de medicina tropical.

Como se sabe, a cooperação não fica por aí. O Brasil está estudando a contratação de um numeroso contingente de médicos cubanos para, finalmente, levar serviços médicos a todos os municípios brasileiros, o que ainda não ocorre.

Isso sem falar dos cerca 800 brasileiros, em sua maioria pobre, inclusive, uma centena de jovens do MST, que lá estão estudando medicina. Gratuitamente, pois Cuba, desde o início de sua Revolução, compartilha não apenas o que lhe sobra, mas o que tem com outros povos.

Complexo de Mariel: integração para todos crescerem. Não é casual que a blogueira tenha iniciado sua gira pelo Brasil, país que tem participação decisiva no mais importante projeto de infraestrutura em construção em Cuba hoje, o Complexo de Mariel. Será o maior porto de todo o Caribe, dinamizando a economia de toda a região, além contar com uma ferrovia, uma rodovia e uma mineradora. Os empréstimos do BNDES são da ordem de 1,2 bilhão de dólares.

Desnecessário afirmar que, na prática significa, também, furar o bloqueio dos EUA contra Cuba, indicando apurada visão estratégica de Lula, e, além disso, uma ideia clara do que significa uma integração para que todos os países possam crescer juntos, reduzindo as assimetrias e comprovando a política de que só por meio da integração da América Latina e Caribe é possível constituir uma área alternativa de crescimento com distribuição de renda.

A blogueira está na contramão deste projeto e é por isso que foi tratada como um troféu pela mídia oposicionista - e por seus seguidores - que tem visto este projeto ser derrotado nas urnas repetidas vezes, como recentemente no Equador, na Venezuela e na Bolívia, que recém nacionalizou os serviços portuários ante a negativa de investimentos de transnacionais espanholas.

Mandela: devemos o fim do apartheid a Cuba
Foram ouvidos muitos disparates durante a gira da blogueira no Brasil. Algumas manifestações normais e democráticas de jovens e estudantes contra sua presença foram tratadas como se fossem violentas.

Nenhum país é mais criticado no fluxo informativo internacional do que Cuba. Mas, o problema não são as críticas, elas são permitidas até à própria blogueira. A questão é a violência com que foi tratada a Revolução Cubana desde o início, sendo obrigada a pagar um preço amargo, com muitas vidas ceifadas em atentados terroristas como o que derrubou o Avião da Cubana de Aviación, sendo seus autores confessos protegidos pelos governos dos EUA.

Mas, entre todos os disparates, o mais surpreendente foi o contorcionismo analítico de um editorialista do Estadão que chegou a fazer uma comparação, meio envergonhada é bem verdade, de Yoani Sánchez com Nelson Mandela.

Diante do nível desta tentativa absurda de analogia, uma resposta grande com uma página da História.

Cuba enviou cerca de 350 mil homens e mulheres para lutar em Angola em defesa da independência do país, invadido pelo exército racista da África do Sul, contando com o apoio dos EUA e com a oferta de Israel para que fosse atirada uma bomba nuclear sobre as tropas cubano-angolanas.

A solidariedade cubana escreveu uma página inapagável na história moderna: Cuba foi o único povo a pegar em armas para lutar contra o apartheid, o mais brutal e criminoso regime político-social dos tempos modernos!

Quando ocorre a vitória sobre as tropas racistas na Batalha de Cuito Cuanavale, Mandela, ao livrar-se dos 27 anos de prisão, cunhou uma frase que define com a energia de um raio, a função histórica de Cuba: “A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos isto a Cuba”.

Diante dos ataques da mídia contra Cuba, Dilma, em Havana, reagiu apontando os telhados de vidro dos que querem ser campeões em direitos humanos mas mantém um centro de torturas em Guantánamo e multiplica o assassinato de civis, inclusive crianças, por meio de seus drones macabros.

E o Brasil segue aprofundando sua cooperação com Cuba e consolidando a integração solidária e democrática por meio do Mercosul, da Unasul e da Celac, presidida por Cuba, com sua generosidade e humanismo, e sem a presença arrogante e imperial dos EUA.

A diplomata da desintegração, aqui no Brasil, está fadada ao fracasso.

Fonte:
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/02/yoani-e-diplomacia-da-desintegracao.html

Leia também:
- A ilha, seu povo, seu sonho - Mauro Santayana
- Cínica e inteligente - Antonio Fernando Araujo
- O bate-papo que desmascarou a blogueira Yoani Sánchez - Salim Lamrani
- A chegada de Yoani em Coité e o papel do Juiz de Direito - Gerivaldo Neiva

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Datas memoráveis

22/02/2013 - Síndromes, papas e datas memoráveis
- Izaías Almada (*) - Carta Maior

21 de fevereiro de 1848. Nessa data se publicou o Manifesto do Partido Comunista. Há 165 anos.

Nele, Marx e Engels (acima) dão o diagnóstico fúnebre da monarquia e da religião, estas suplantadas por uma nova ordem econômica, o capitalismo, e identificando a burguesia como a nova classe social opressora.

Curioso o movimento pendular da História.

Um século e meio depois o mundo vive, ao que parece, em nova crise de identidade, de transformação econômica onde, com esforço, impaciência e alguma incredulidade e ignorância por parte de uns e o esforço analítico e sério por parte de outros tantos, o mundo continua a dar cabeçadas em nome de alguma coisa que minimamente possa representar a solidariedade, a melhor distribuição da riqueza acumulada, a paz entre os povos.

Nesse contexto reina a confusão entre homens e nações.

Aqui no Brasil, por exemplo, ao declarar a uma emissora de rádio gaúcha, semanas atrás, que o deputado José Genoíno deveria renunciar ao seu mandato, o ex-governador do Rio Grande Sul, Olívio Dutra (foto), do mesmo PT de Genoíno, ofereceu de bandeja à oposição, em especial aos seus pitibuls na mídia, o pretexto para ampliar a execração da esquerda brasileira.

Outra coisa não fizeram alguns desqualificados jornalistas e comentaristas políticos que, além de ironizarem o fato, ainda relembraram um caso antigo que envolveu o próprio governo Dutra no sul, citando o encontro de um seu funcionário com bicheiros naquele estado que, supostamente, ajudavam a financiar campanhas eleitorais.

Em outras palavras: Olívio Dutra, além de demonstrar inabilidade na análise da conjuntura atual da política brasileira deu munição àqueles que já não sabem muito bem o que fazer com os dez anos de governo do Partido dos Trabalhadores.

Ou não sabem como conviver com o julgamento da AP 470, o maior e mais ridículo julgamento político feito por um tribunal brasileiro em tempos de democracia.

O tempo vai passando e, sobre isso, o jornalismo investigativo, o sério, vai aos poucos desmontando a farsa do “mensalão”, deixando a oposição de direita, de meia-direita, de centro ou mesmo de esquerda de calças na mão.

Além do livro “A Privataria Tucana”, que mostra com provas irrefutáveis o verdadeiro ninho da corrupção no Brasil contemporâneo, temos o trabalho do jornalista Raimundo Pereira na revista Retrato do Brasil e agora o livro do jornalista Paulo Moreira Leite, “A Outra História do Mensalão” (também da Geração Editorial), matérias da revista Carta Capital e do jornal Brasil de Fato, além de inúmeros blogues, vão dando contornos à farsa político/jurídico/midiática organizada pelos setores mais comprometidos com o atraso em nosso país.

Do julgamento à renúncia do papa. O que deixa Deus sem seu representante na terra por algumas semanas.

Fui surpreendido, como milhões e milhões de cidadãos com a notícia da renúncia do papa Bento XVI (foto abaixo) e dei-me conta (não é a primeira vez, claro) de que é tudo muito efêmero à nossa volta.

Nada é muito novo nas relações humanas.

O mundo caminha a passos largos para tornar tudo relativo e de pouca importância. Ou melhor, essa caminhada – ao que tudo indica - tem a ver diretamente com o sistema econômico de cada época em que se vive e, portanto, a que estamos submetidos.

O laicismo, desde sua definição e adoção em França, não tem passado de um conceito apenas teórico, cuja prática deixou e deixa de existir com as diversas interferências da religião na vida dos cidadãos e do estado.

A fé continua a ser um “produto” vendido nos grandes mercados mundiais da ingenuidade humana. O que, apesar de não ser nenhuma novidade, contribui para confirmar uma zona nebulosa da humanidade.

Por outro lado, o moderno sistema de comunicação social, tendo a seu serviço emissoras de televisão privadas e estatais, jornais e revistas para os mais variados gostos e ideologias, emissoras de rádio, internets, tuíteres, feicibuquis, celulares, tabletes e mais algumas bugigangas da posmodernidade, afunda o ser humano numa cisterna de informações contraditórias, espalhando no mais das vezes a confusão para dividir e reinar, para alongar a vida de um capitalismo que já dá inúmeras mostras de esgotamento de seus principais postulados.

Nesse vendaval de informações e teorias, as várias religiões espalhadas pelo mundo ainda tentam “vender” uma fé que já não consegue se explicar. E, no meu modesto ponto de vista, que nunca se explicou.

A história das religiões é, antes de qualquer coisa, a história do próprio homem, de suas virtudes e de seus defeitos. O homem é quem cria os deuses à sua imagem e semelhança.

Termino por dizer que 21 de fevereiro de 1912 é também uma data importante, pelo menos no meu calendário. Nesse dia, mês e ano nasceu Martha, minha saudosa mãe, que morreu ainda jovem e não conheceu o computador, o celular, o Genoíno (foto), o Partido dos Trabalhadores, o papa Bento XVI e, com toda certeza, nunca ouviu falar em Marx e Engels. E muito menos em Julien Assange e seu Wikileaks.


 Aproveito, então, a data para sugerir à nossa ilustre visitante Yoani Sánchez (foto E), brava defensora do direito de expressão dos grandes monopólios mediáticos, que interceda junto ao governo norte-americano pela vida e pelo direito de expressão do soldado Bradley Manning (foto D).

(*) Isaias Almada é escritor e dramaturgo. Autor da peça “Uma Questão de Imagem” (Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos) e do livro “Teatro de Arena: Uma Estética de Resistência”, Editora Boitempo.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5982

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Um registro dos ventos socialistas sobre a América Latina no novo século

O que Aécio faria do Brasil que temos hoje?

22/02/2013 - Saul Leblon - Carta Maior

Encarregado de fazer o contraponto à la carte para a mídia, Aécio Neves sequer roçou a grande pergunta embutida no feixe de avanços sociais e econômicos reunidos pela Fundação Perseu Abramo, para o evento da última 4ª feira, "10 Anos do PT".

A pergunta é:
- "Se voltasse ao poder, o que o conservadorismo faria do Brasil que temos hoje?"

A omissão não deve ser debitada à superficialidade pessoal do provável candidato tucano em 2014. Colunistas da cota reservada a José Serra sibilam essa interpretação. Maldade.

O fato de Aécio ter omitido preferências não significa que não as tenha. Ele as tem. São as mesmas dos seus rivais de partido; as mesmas dos vulgarizadores de seu credo na mídia. As mesmas marteladas pelos professores-banqueiros encarregados de pavimentar a candidatura conservadora até 2014.

Fácil é defendê-las em artigos acadêmicos. Palatável, discorrer sobre elas em colunas dirigidas aos iniciados da mesma igreja. Complicado assumi-las em uma tribuna pública. Quase inviável assoalhar um palanque presidencial com o seu conteúdo.

A tarefa consiste em desqualificar e desautorizar grandezas sociais de uma mutação histórica dificilmente reversível pelas urnas.

Para ir direto ao ponto mais agudo de uma dinâmica inconclusa mas incontrolável:

As favelas brasileiras reúnem 12 milhões de habitantes e formam hoje um mercado de R$ 56 bilhões. O equivalente a uma Bolívia.

Não é propaganda do PT. É o resultado da pesquisa feito pelo Data Favela em 2011.

Ela mostra que 65% das populações faveladas pertencem agora ao que se convencionou denominar de nova classe média, ou classe C.

Em 2002 o percentual era de 37%.

Favela continua sendo favela. Mas o recheio humano mudou. E aí reside o paradoxo de uma dinâmica infernal para aécios e assemelhados.

O mesmo ocorre nas periferias metropolitanas que continuam sendo periferias conflagradas.

Ou nos bairros distantes que continuam carentes de serviços essenciais.

E também nos conjuntos habitacionais, vilas e arruamentos rurais do resto do país.

Que continuam sendo tratados como resto do país.

A população aí residente saiu do rodapé da renda para o segmento do consumo popular. Representa agora 52% do Brasil.

O dado banalizou-se. Mas não a completa extensão do paradoxo político que encerra. Não o desconforto eleitoral que constrange o discurso do conservadorismo.

A ponto de Aécio recitar frases de efeito que não tem nenhum efeito.

A ponto de Lula, Dilma e o PT, de um modo geral, apostarem que esse impulso ainda pode encher as velas de mais uma vitória eleitoral. Guiada pela promessa do passo seguinte dessa história: a cidadania plena.

Mesmo difuso e ainda sem projeto - que cabe ao PT esclarecer - o aceno tem receptividade expressiva. Milhões de brasileiros que formariam um país do tamanho da Argentina deixaram de ser meros sobreviventes de um naufrágio de 500 anos.

Chegaram à praia. Querem mais.

Como dizer-lhes: "Não, o regime de metas de inflação não comporta vocês". 

Ou, como preferem os professores-banqueiros do PSDB:

"O populismo petista aqueceu a demanda para além do hiato do produto (potencial produtivo acionável na economia; que eles interpretam como um grandeza inelástica)".

A receita para reverter o desmando é a plataforma que os tucanos e assemelhados hesitam em explicitar em palanque. Um lactopurga feito de choque de juros e cortes no salário real; a começar pelo salário mínimo.

Quase tão simples assim.

A dificuldade reside no fato de que o "voluntarismo petista" consumou um colégio eleitoral que hoje elege sozinho um presidente da República, se quiser.

De modo que o problema não é Aécio. Um Aécio careca enfrentaria a mesma dificuldade.

O balanço reunido pelo PT envolve escolhas e desdobramentos que vão além das platitudes da má vontade conservadora.

A tal ponto que argui a zona de conforto da própria agenda progressista.

Para que o fim da miséria seja só o começo, como promete a provável bandeira da reeleição da Presidenta Dilma, há perguntas à espera de uma resposta.

Sobre uma delas o governo se debruça exaustivamente nesse momento.

Trata-se de viabilizar um novo ciclo de investimentos que redesenhe os contornos de um país previsto originalmente para acomodar apenas o terço superior da renda.

A nova cartografia escapa às receitas técnicas que seduzem uma parte do governo. Reequilíbrios macroeconômicos são indispensáveis.

Mas as soluções imaginadas cobram um protagonista social que as legitimem e ferramentas que as executem. A hegemonia numérica da chamada classe C sobreviveu à crise mundial do capitalismo porque, entre outras coisas, Lula e Dilma colocaram os bancos estatais a seu serviço.

No ano passado, o Banco do Brasil expandiu em 25% a sua carteira de crédito, à base de agressiva redução dos juros. A Caixa Econômica Federal ampliou a sua em arrojados 42%.

Para desgosto da mídia que vaticinou prejuízos calamitosos, o BB e a CEF registraram lucros recordes em 2012.

As taxas de inadimplência foram inferiores às da banca privada que, exceto o Bradesco, viu seus lucros minguarem em relação a 2011.

Bancos estatais dominam agora 47% do mercado de crédito no país.

Dispor de ferramentas autônomas permitiu ao governo criar um fenômeno de consumo indissociável da aspiração por cidadania plena. Isso mudou a pauta política do país ao dificultar sobremaneira o discurso conservador.

Qual seria o equivalente na batalha do investimento? Por enquanto não existe.

Daí as dificuldades dilacerantes que empurram o governo de concessão em concessão. Com resultados ainda imponderáveis.

Como compartilhar esse desafio com quem tem mais interesse num desenlace progressista e bem sucedido: milhões de brasileiros à procura de um país onde caiba a sua cidadania?

A cartilha dos "10 anos do PT" deixou esse capítulo em aberto. Cabe ao V Congresso do partido escrevê-lo em 2014.

Mas é quase tarde. É preciso correr e começar já.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1195

Leia aqui:
- PT: A idade da razão - Saul Leblon
- A criminalização do PT e do povo - Lígia Deslandes
- Caravanas da Cidadania: há uma pedra no meio do caminho - Saul Leblon
- Partido e governo - Mino Carta
- Veja as ideias e propostas de uma nova geração para transformar o Brasil

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.