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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dilma, não entregue nosso pré-sal

25/09/2013 - RedeDemocratica - João Pedro Stedile, em seu blog

No dia 21 de outubro, a Agência Nacional de Petróleo vai leiloar o maior campo de reservas de petróleo brasileiro, encontrado a 180 km do litoral, com sete mil metros de profundidade.

Lá estão depositados comprovadamente de 12 a 14 bilhões de barris de petróleo. E equivalem a todas as reservas do México.

Corresponde a tudo que a Petrobras já explorou nos seus 60 anos de existência.

A importância estratégica para o país é tão grande que durante o debate do segundo turno, da campanha de 2010, a candidata Dilma Rousseff disse que o candidato José Serra queria privatizar e fazer um leilão do petróleo, e que isso era inadmissível, pois o pré-sal deveria ser uma riqueza a ser utilizada apenas em favor do povo brasileiro.

Três anos depois, em mensagem pública em rede de televisão, a presidenta muda o discurso e assume o que Serra queria fazer, leiloar as reservas do pré-sal para iniciativa privada.

Como será leiloada tamanha riqueza?
A ANP abriu as inscrições e nada menos do que 11 grandes empresa petrolíferas do mundo se habilitaram. Sete são empresas estatais da China, Índia, Portugal, Espanha e Noruega. Três são empresas privadas transnacionais e mais a Petrobras.

A empresa que fizer a melhor oferta de partilha em percentual do petróleo explorado ganhará o leilão ou poderão acontecer parcerias.

Quem ganhar vai pagar ao governo brasileiro R$ 15 bilhões, no minimo. Esse dinheiro vai para o Tesouro Nacional, que provavelmente vai botar na caixa comum, aquela mesma que paga os juros da divida interna para não mais de 5 mil acionistas de bancos.

Depois do leilão, a empresa ganhadora deve seguir a nova regra de partilha, que passou a vigorar no governo Lula. A empresa extrai o petróleo e paga 15% de royalties, que por sua vez são redivididos entre União, Estados e Municípios.

Dos 5% que irão para a União, 75% serão destinados para a educação e os outros 25% para saúde. Os estados e municípios podem fazer o que quiserem com os royalties e investir em qualquer coisa

Portanto, não é certa a propaganda de que a renda do petróleo vai para a educação. Apenas ao redor de 15% do total, que são os royalties, podem ter alguma finalidade social.

Além dos royalties, as empresas descontam o custo real de produção da extração. Com isso, vem a partilha. A empresa é obrigada a entregar 50% do saldo, em petróleo, para a União, que certamente vai repassar a Petrobras. Os outros 50% seguramente serão exportados como petróleo cru para os países de origem das petroleiras.

Portanto, independente de qualquer argumento, na prática, estamos entregando 50% de todo o petróleo do pré-sal para as empresas estrangeiras, que despacham o óleo negro para seus países, sem pagar mais nada. Nem impostos nem royalties.

Entrega de 50% da produção em troca de sua exploração
Pela Lei de Partilha, aprovada durante o governo Lula, há um artigo que diz que a União poderá entregar toda a reserva do pré-sal para exploração exclusiva por parte da Petrobrás, sem necessidade de leilão. Por que não fazemos isso?

O governo e os colunistas nos jornais têm defendido que a Petrobrás está endividada e não tem caixa para investir. O BNDES tem uma política de crédito para tantas empresas privadas, inclusive transnacionais e picaretas em geral, como o Eike Batista. Por que não poderia emprestar para Petrobrás?

Por que o Tesouro Nacional – em vez de pagar juros a meia dúzia de especuladores de títulos da divida interna, que levam R$ 200 bilhões por ano – não aplica recursos em investimentos do pré-sal?

Aliás, foi assim que o presidente Lula fez na crise de 2008, quando orientou o desconto do superavit primário e destinou R$ 100 bilhões para o BNDES investir no setor industrial. Medidas desse tipo que fizeram a economia brasileira caminhar e impediram o povo brasileiro de sentir os maiores efeitos da crise internacional.

A Petrobrás é uma das maiores empresas do mundo e, certamente, tem crédito para conseguir empréstimos também no exterior. Ou alguém acha que as empresas concorrentes tem dinheiro em caixa? As grandes petroleiras vão ao mercado tomar dinheiro emprestado.

As estatais chinesas podem ser as ganhadoras do leilão. Para isso, o Tesouro chinês liberará bilhões de dólares das reservas para as empresas explorarem e levarem o o petróleo cru para a China. Ou seja, vão fazer o que o Tesouro brasileiro não tem coragem.

O governo e os setores neoliberais defendem que esses investimentos estrangeiros são necessários para a economia voltar a crescer. Ora, alguém notou alguma diferença no PIB brasileiro depois de realizados 11 leilões de petróleo e entregues para as empresas transnacionais?

Essas empresas estrangeiras que ganharem os leilões usam tecnologias de suas matrizes e já trazem os equipamentos. Dos 67 navios petroleiros construídos no Brasil no governo Lula, 63 foram comprados pela Petrobrás e quatro pela venezuelana PDVSA.

Nenhuma empresa transnacional que ganhou outros leilões construiu plataformas no Brasil. Nem contrataram engenheiros o operários qualificados para suas instalações.

Um colunista de plantão afirmou recentemente que o governo Dilma tem de fazer o leilão logo, pois se os tucanos voltarem ao governo farão do seu jeito. Ora, que argumento mais insólito, fazer logo uma política equivocada porque os nossos adversários fariam mais rápido. Santa paciência.

Petróleo é riqueza do povo
O povo brasileiro precisa dessa riqueza para investir em educação, saúde e tecnologia, como prometeu a candidata Dilma em campanha

As nossas riquezas não podem ser exportadas como petróleo cru para resolver os problemas da China, Espanha e Portugal. Nós temos pressa é de reformas estruturais que possam acelerar as soluções dos problemas do povo.

Precisamos de investimentos em transporte público, tecnologia, indústria nacional, que gerem empregos de qualidade para o povo brasileiro. Nada disso virá de leilões de petróleo. Se leilões resolvessem os problemas sociais, não haveria tanta insatisfação nas ruas depois de onze leilões.

A alternativa é dar exclusividade para a Petrobras, que com empréstimos do BNDES, do Tesouro ou mesmo no mercado internacional poderia extrair o petróleo, com sua tecnologia e trabalhadores brasileiros. Depois, industrializar esse óleo para gerar ainda mais riquezas e impostos no Brasil.

O que está em jogo é a nossa soberania nacional sobre uma riqueza estimada em um US$ 1 trilhão a ser retirada em 30 anos. O povo brasileiro vai dividir essa riqueza com as empresas estrangeiras? Quem não gostaria de ter garantido o acesso a US$ 500 bilhões ao longo de 30 anos ?

Diante disso, especialistas da universidade, técnicos da Petrobrás  dirigentes que atuaram no próprio governo Lula-Dilma, sindicatos dos petroleiros, centrais sindicais e movimentos sociais nos reunimos recentemente em uma plenária e decidimos fazer uma campanha nacional pelo cancelamento do leilão.

O Brasil descobriu uma imensa reserva depois de décadas de pesquisa financiada pelo povo. Temos a garantia constitucional de que o petróleo pertence a todo o povo. Temos tecnologia necessária para explorá-lo.

Esperamos que a presidenta Dilma não entre na história do país no mesmo capítulo que o FHC, referente à entrega das nossas riquezas. FHC entregou os nossos minérios, privatizando a Vale do Rio Doce, a Embraer, as ferrovias e as empresas de telecomunicações.

Não admitimos dividir a nossa riqueza com capitalistas estrangeiros. Lutaremos por nossas ideias e pelos interesses do povo brasileiro. Um governo passa rápido, mas a história de um povo é eterna.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=5187:dilma-n%C3%A3o-entregue-nosso-pr%C3%A9-sal

domingo, 10 de março de 2013

Lições de Chávez

25/01/2013 - Por Beto Almeida (*) para o site RedeDemocratica

[Este ensaio foi escrito, portanto, antes da morte, em 05/03/2013, do presidente Hugo Chávez - Equipe do blog Educom]

Desde que foi eleito em 1998, o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates, seja em razão das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja em razão do medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de cada país, vassalas e zeladoras dos interesses deste imperialismo em cada país.

Certamente, sobre cada um destes aspectos é possível retirar profundas lições.

No caso brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um mínimo de informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora, em razão do infortúnio da enfermidade de Chávez, esta mídia supera-se.

Promove uma comunicação necrológica, havendo inclusive comentarista de veículos das Organizações Globo, que chega mesmo ao grotesco de torcer pela desaparição do mandatário venezuelano.

Sobre isto devemos tirar lições, seja aquelas amargas, a partir do comportamento medieval da mídia empresarial sobre a trágica enfermidade de Chávez, enfermidade que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também sobre o que este mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a mudar a face da América Latina.

Por um lado, fica claro que para aqueles comentaristas globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de humanidade ou solidariedade, que sustentariam desejos de estabelecimento e de superação deste azar pessoal.

Mas, o que se observa é ainda mais grave: para além do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de serviço público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação destes desejos mórbidos em grande escala de difusão, violando a Constituição Brasileira, que, em seu artigo 221, estabelece como princípio a ser observado, “o respeito aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer manifestação da autoridade responsável.

É como se fosse autorizado aos concessionários de serviços públicos de abastecimento de água, distribuir água contaminada e suja à sociedade.

Para que serve a mídia?
Será que isto estaria se tornando uma tendência?

Há alguns meses, quando cientistas iranianos foram assassinados em atentados que, segundo o noticiário da época, teriam sido organizados por comandos israelenses - os mesmos que assumem agora terem participado da eliminação de Yasser Arafat - num programa televisivo, Manhattan Conection, também veiculado por empresa das Organizações Globo, comentaristas chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos mereciam mesmo ser assassinados.

Apologia do homicídio!

Tanto num caso, como em outro, Venezuela e Irã, são países com os quais o Brasil possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em benefício mútuo notório.

Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal, caso emissoras de tv da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar autoridades brasileiras, e, chegassem a torcer pela reincidência do câncer em Dilma ou em Lula, e para que eles não resistissem?

Ou se estas emissoras defendessem a morte de cientistas brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil também possui - de modo soberano - seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e Irã?

Pra que servem os meios de comunicação social, afinal de contas?

Para hostilizar e desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e antidemocrático, a personalidades de outros países, com o que se desrespeitam povos com os quais temos relações de cooperação e amizade?

Será mesmo admissível que concessões de serviço público sejam utilizadas para insuflar, propagandear e celebrar o desejo de morte de seres humanos, simplesmente por não comungar de suas ideias?

Esta prática não seria equiparável àquelas que Goebels denominava de “razões propagandísticas”, e que precederam os ataques nazistas a outros povos?

Estranho “ditador
As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a prática basilar do jornalismo.

Críticas e discordâncias são absolutamente normais e devem ser praticadas.

Mas, desinformação, distorção e inverdades grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo.

Um dos aspectos mais utilizados nesta cruzada midiática de anos é a tentativa de rotular Hugo Chávez como ditador.

Estranho “ditador” este que chegou ao poder pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou, democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor.

Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição Bolivariana - ela também referendada pelo voto popular - o mecanismo da revogabilidade de mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não conseguiu a vitória nas urnas.

Auditoria eleitoral
Na Venezuela, para dar ainda mais segurança às eleições, estas não são julgadas pela mesma autoridade que as organiza.

Além disso, as urnas possuem mecanismo de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto que teclou foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse deste voto impresso, o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo.

Isto possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde, conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são vulneráveis a interferência externa sobre seus programas, além do que, não existe a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de recontagem.

Estranho “ditador” este Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos, lembrando que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada, na eleição de outubro de 2012, uma participação superior a 86 por cento do colégio eleitoral.

O revelador aqui é que as Organizações Globo, tão empenhada em rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou a supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a Proconsult contra a eleição de Brizola em 1982 e foi contra a Campanha Diretas-Já, em 1984, uma das mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil.

E, ainda hoje, a Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a rejeição por mais de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou tais equipamentos...

Povo ignorante?
Esses comentaristas da Globo tentam passar a imagem de que a Venezuela é um país de atraso cultural, para o que se valem, novamente, do expediente corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente.

Vamos aos fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como “Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire.

Lá, para a erradicação do analfabetismo, além da utilização de um método super-revolucionário elaborado em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve uma tremenda mobilização do governo, das massas, das instituições, mas também dos meios de comunicação públicos, que, existem, informam e possuem uma programação cultural educativa elevada ao contrário daqueles sintonizados com os ditames prepotentes do Consenso de Washington.

Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio deste método que o Deputado Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz de superar as ameaças elitistas da autoridade eleitoral que queria lhe cassar o mandato. Tiririca aprendeu a ler e escrever em poucas semanas.

Como também foram alfabetizados campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na Bolívia e no Equador.

Em breve será a Nicarágua a ser declarada também, oficialmente, pela Unesco, Território Livre do Analfabetismo.

Como contraponto, vale lembrar que o programa Telecurso Segundo Grau, produzido pela Fundação Roberto Marinho, é exibido em horário da madrugada pelas emissoras que empregam esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos públicos despendidos para a sua produção e veiculação.

A escolha do horário é apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do nível educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a Constituição.

O que é notícia?
Aqueles comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isto, bem como sobre o papel dirigente de Hugo Chávez ao formar com estes países e outros a ALBA - Aliança Bolivariana para o Progresso, numa iniciativa em que colocou o petróleo com instrumento da elevação das condições de vida não apenas dos venezuelanos, mas também do progresso social conjunto destes povos.

A isso chamam de ingerência, trocando solidariedade por intromissão.

Graças aos recursos do petróleo, milhares de latino-americanos, estão recuperando a plena visão, por meio de cirurgias gratuitas realizadas pela Operación Milagro, um esforço comum entre Cuba e Venezuela.

Esta operação humanitária, jamais divulgada de forma adequada pelas Organizações Globo, nasce quando a OPAS alertou para a possibilidade de que pelo menos 500 mil latino-americanos perdessem a visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma tragédia perfeitamente evitável.

As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na Venezuela, e agora também na Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou locais.

Isto não se informa, mas um dia destes, fiquei tomei conhecimento, pelo Jornal Nacional, da edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians, a tal duquesa de Cambridge, está sofrendo muito enjoo na sua gravidez.

Cuba e Venezuela decidiram operar 6 milhões de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos.

O que é notícia?

Índios leem “Cem anos de solidão
Aí temos outra lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez criou a Universidade Bolivariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças Armadas, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano.

Por meio deste programa foram editados, dando apenas alguns exemplos, a obra “Dom Quixote”, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos gratuitamente nas praças públicas, e também a obra “Contos”, de Machado de Assis, pelo mesmo programa, com uma tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que o genial escritor do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas o analfabetismo persiste, mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares.

Além disso, algumas tribos indígenas da Amazônia venezuelana, que até Chávez ainda desconheciam a escrita, já tiveram seu idioma sistematizado, e, como primeira obra publicada no novo sistema de escritura, tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez.

No entanto, apesar de tudo isto, para estes comentaristas da Globo, que agridem Chávez no leito de um hospital, na Venezuela há um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”...

Como explicar, então, a realização destas mudanças marcantes?

Vale contar um caso: o senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à Venezuela para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo.

Escreveu num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me disse que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez que a Globo não possui aptidão para aprender...

Petróleo a preço de água
Antes de Chávez, quando 80 por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era regalado aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior consumidora de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima importação de caviar para pequenos círculos oligarcas.

Eleito, Chávez cumpriu promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo venezuelano regalado.

Recuperou gradativamente o controle sobre a PDVSA e também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho colonizado.

Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril - ou seja, muito mais barato que água mineral ou Coca-Cola - e hoje, avança pela casa dos 100 dólares.

Eis a razão do ódio dos EUA a Chávez.

Evita Perón e Vargas
Este ódio imperial se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada pelos falcões norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer, aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para vassalagem, para submissão.

Não é a primeira vez na história que isto ocorre.

Quando Evita Perón (foto) foi acometida por um câncer, este jornalismo mortífero se expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos imperiais nutriram por Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa portenha para os muros de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua podridão moral escrevendo “Viva el Câncer!”.

Os imperialistas jamais perdoaram Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes que frequentemente se organizavam contra Perón.

Chegou mesmo a advertir Perón, que lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu, que ele estava preparando as condições - desmobilizando os trabalhadores - para não ter capacidade de resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da morte de Evita. Ela bem que avisou.

Depois foi contra Getúlio Vargas (foto), quando sua saída da vida para entrar na história foi comemorada em círculos manipulados pelo capital externo, que não suportavam a criação da estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na CLT e da lei da remessa de lucros ao exterior.

Não por acaso, o povo expressou sua tristeza e sua fúria, pranteando Vargas, mas também empastelando os símbolos daquele ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais Tribuna da Imprensa, Globo, e, até mesmo do jornal do PCB, Tribuna Popular, que no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo sua renúncia.

Assustados e envergonhados, os dirigentes comunistas recolhiam os exemplares do jornal que ainda estavam nas bancas. Mas, não tiraram conclusões históricas do porquê também foram alvo da fúria popular contra seus inimigos, sobretudo porque Vargas havia convidado Prestes para ser o chefe militar da Revolução de 30, aquela que em apenas 24 horas alistou mais de 20 mil voluntários para pegar em armas e combater a República Velha.

Prestes inicialmente aceitou o convite, mas a ordem stalinista foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano Cárdenas, eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial revolucionário, e que deveriam receber o apoio tático dos revolucionários.

O Levante de 4 de Fevereiro de 1992
Processos revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com rupturas da legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma de insurreições, armadas ou não.

A partir das revoluções outra legalidade é constituída.

Assim foi a Revolução de 30.

Assim havia sido a Revolução Francesa.

Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia.

A Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o voto é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para defenderem suas ideias.

A Revolução Bolivariana começa com um levante insurrecional - o 4 de fevereiro de 1992 - destinado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujo objetivo era retirar a Venezuela da condição de colônia petroleira.

Evidentemente, os comentaristas que seguem orientação imperial não suportam qualquer forma de rebeldia contra hegemonias colonizadoras.

Na prisão, Chávez se transforma no homem mais popular da Venezuela, aquele capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com a sua história, com Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem negra e índia, como são os venezuelanos.

A Revolução Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em processo institucional por meio da aprovação do voto popular.

Mas, diante das constantes ameaças golpistas imperiais e também das provocações desestabilizadoras da oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma revolução pacífica, pero armada”, como a expressar a consciência do golpismo que sempre esmagou processos democráticos de transformação social na América Latina.

Não lhe sai da lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão...

Jornalismo de desintegração
As lições de Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que esta mídia golpista, praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar.

A parceria Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio bilateral em poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Alí Primera (foto), a Embrapa, a Caixa Econômica e muitas empresas brasileiras.

Realizam obras de infra-estrutura indispensáveis para que o país dê um salto em seu desenvolvimento, o que sempre foi sabotado pelas oligarquias do período pré-Chávez.

Agora a Venezuela constrói ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas, hidrelétricas, pontes, e a participação brasileira nisto, com financiamento estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento de Lula de que integração significa “todos os países crescendo juntos”.

Os comentaristas da Globo não informam nada disso, até porque apoiaram quando o Brasil, na era da privataria neoliberal, demoliu um terço de suas ferrovias, além de ter destruído sua indústria naval, que agora, recuperada, tem inclusive 27 encomendas para a construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos aqui.

Solidão do Uniforme
Além da integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de socialismo, além de propor a organização de uma nova Internacional, indignando-se com a cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o Iraque, a Líbia e também contra Síria.

Muito longe de resolver o desemprego galopante que assola a França, o governo de Hollande lança-se em mais uma empreitada imperial contra. Só sabem guerrear.

Chávez recupera o debate sobre uma nova função social para os militares, retirando-os da solidão do uniforme, unindo-os ao povo e às causas mais preciosas para viver com dignidade, com soberania e como democracia e justiça social.

Recuperou até mesmo a função histórica do General José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar e que foi o primeiro a escrever sobre O Socialismo na América Latina, o que, em boa medida era desconhecido até mesmo pelas esquerdas brasileiras.

Hoje os militares venezuelanos cumprem função libertadora e resgatam a função das correntes militares progressistas e aintiimperialistas na história e seus representantes como Velasco Alvarado, Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a Revolução dos Cravos...

São lições de Chávez.

Os comunicadores que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de desabastecimento alimentar quando a Unicef comprova que a Venezuela teve reduzida drasticamente a desnutrição e sua mortalidade infantil.

O que há é boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até 70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios.

Na semana que passou, as autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas de alimentos que estavam escondidas pelos oligopólios, numa operação casada com a mídia para fazer a campanha de que “falta alimento”, operação da qual participam, vergonhosamente, os comentaristas globais e sua grotesca desinformação.

Segundo estatísticas da FAO, o consumo de alimentos na Venezuela aumentou em 96 por cento no período de 2001 a 2011, Era Chávez, enquanto a Cepal atesta que este país é hoje o menos desigual da América Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente, o equivalente a 2440 reais, informação que a Globo jamais noticiará.

MST, sem veneno
Antes de Chávez, a Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha apenas uma “agricultura de portos”, todo alimento era importado, até alface vinha de avião de Miami.

Hoje o país, graças à integração e à cooperação promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira, já produz metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que lhe doou toneladas de sementes criollas de soja não transgênica.

Aliás, Chávez organizou convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a Universidade Federal do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no Brasil, abertas à participação de estudantes de toda a América Latina.

Jornais populares e diversidade
Essas são algumas das generosas lições de Chávez, atacado pela Globo daqui, como pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na Venezuela.

Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de democracia”.

Vale contar episódio de jornalista brasileira que antes de viajar para lá me perguntou como poderia ter acesso a imprensa não controlada pelo governo, segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou, mas foi. E me contou; “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para toda a sua banca e disse-me, minha filha, isso aí tudo é contra o governo, que poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida.

A diferença é que essas grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez, lá têm respostas pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias, o que ainda não temos aqui.

O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas não tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as mudanças sociais em curso aqui.

Continua “dialogando” com as xuxas da vida...

Caminhando e cantando e seguindo a lição...
Diante de tantas lições civilizatórias, democráticas, transformadoras e marcadas pelo humanismo que está sendo aplicado pelo governo bolivariano da Venezuela, a conclusão de um comentarista global de que Chávez iria tomar o poder no além, é apenas e tão somente confissão de um desejo golpista macabro e atestado da estatura moral desta mídia teleguiada de Washington.

O que desejamos é que Chávez possa se recuperar, concluir a sua obra, na qual está a meta de construir e entregar 380 mil novas moradias em 2013, equipadas com móveis e eletrodomésticos, em terrenos localizados também em bairros nobres, e não numa periferia longínqua ou à beira de precipícios que desmoronam com as chuvas.

Quanto a nós, que aprendamos algumas destas lições, especialmente quanto à necessidade de fortalecer, expandir e qualificar um sistema público de comunicação, para que tenhamos acesso ao que está em nossa Constituição, a pluralidade e a diversidade informativas e um jornalismo como construção de cidadania e de humanidade.

(*) Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3732:li%C3%A7%C3%B5es-de-ch%C3%A1vez

Não deixe de ler:
- A Morte e as mortes de Hugo Chávez - Arnóbio Rocha
- A árvore das três raízes - Rafael Betencourt
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind

E mais:
- Hugo Chávez - Laerte Braga
- Nasce Hugo Chávez, o mito - Eduardo Guimarães
- A América Latina depois de Chávez - Luiz Inácio Lula da Silva

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Europeus reagem ao neoliberalismo

24/02/2013 - Europeus reagem ao neoliberalismo que empobrece o povo
- por  Mário Augusto Jakobskind para a Rede Democrática

A política neoliberal atacou forte a Espanha.

Desta vez, os políticos e a mídia estão admitindo que a água será mesmo privatizada. Já reconhecem e denunciam, segundo revela a imprensa, que o recibo do pagamento da água está em várias partes financiando um sistema municipal em quebra.

E assim vai, as empresas interessadas então se oferecem para cuidar do serviço com os clientes durante 25 anos.

Espanha, Portugal, Itália, Grécia e outros países europeus estão sentindo os efeitos nefastos da política de austeridade econômica defendida pela primeira-ministra alemã Angela Merkiel (foto).

O povo nas ruas reage e tem enfrentado uma onda de violência policial que há muito não se via.

Mas o povo não se atemoriza. No Parlamento português falava o conservador primeiro ministro Passos Coelho sobre o Conselho Europeu quando da galeria irrompeu um coro de umas 30 pessoas.

Cantavam Grândola Vila Morena, a histórica composição do saudoso Zeca Afonso que serviu de senha para a deflagração da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974 (ao lado).

Os opositores do neoliberalismo deram o recado segundo o qual o povo precisa ser protagonista da história.

E para que isso aconteça é necessário que Portugal sepulte em definitivo a atual política econômica que está empobrecendo a maioria dos portugueses.

É fundamental se informar aqui no Brasil sobre o que se passa no mundo, especialmente agora na Europa que enfrenta uma onda conservadora e de
tentativas de salvação do capital financeiro, o principal responsável pela crise que sacode o velho continente.

É fundamental saber o que está acontecendo no mundo, sobretudo quando os meios de comunicação do mercado pressionam o governo Dilma Rousseff no sentido de seguir privatizando setores vitais e determinantes para a nossa soberania.

Dilma, até agora, tem cedido em tudo e muito mais.

Na área de comunicação, o Ministério encabeçado por Paulo Bernardo tem se dobrado subservientemente aos apelos e pressões do patronato midiático no sentido da manutenção do status quo midiático atual, que só favorece as grandes empresas do setor.

Como o governo Dilma Rousseff já passou da metade do mandato de quatro anos e a campanha eleitoral praticamente foi deflagrada agora com antecipação de pelo menos um ano, é preciso estar atento para o que vem acontecendo.

Cobrar promessas e exigir posicionamentos, se possível assinados em cartório.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3931:europeus-reagem-ao-neoliberalismo-que-empobrece-o-povo

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Aldeia Maracanã: é preciso resistir

14/01/2013 - extraído do site RedeDemocrática
- escrito por Antonio Elias Sobrinho (*)

Nas imediações do famoso estádio do Maracanã, atualmente em obras para os jogos da Copa do Mundo de 2014, encontra-se o antigo Museu do Índio, hoje habitado por mais de vinte famílias indígenas, originárias de várias etnias, que viviam dispersas pelo Rio de Janeiro.

Atualmente, encontram-se seriamente ameaçadas de despejo pelos poderes estaduais e grandes empresas envolvidas nas obras que querem desalojá-las para a melhor exploração do espaço, segundo os interesses mercantis mais adequados que possam atender melhor à especulação e a acumulação de capitais.

Aquele prédio em ruínas, que tem 147 anos de existência, abrigou o Museu do Índio até a década de 1970, quando foi transferido para Botafogo.

A partir de então, até aproximadamente 2005, ele ficou abandonado, quando começou a ser ocupado. Porém, como os índios não contaram com qualquer tipo de ajuda dos poderes públicos, não puderam evitar sua lenta degradação, mas pelo menos contribuíram para uma conservação mínima.

Além disso, incrementaram uma série de atividades culturais em seu interior, além de servir de espaço para a realização de congressos para variados movimentos sociais e para agregação de índios de várias procedências, importante para estimular e desenvolver traços significativos da cultura indígena em nosso estado.

Assim, qual a razão ou as razões que podem explicar a investida de forma tão impetuosa do Estado contra aquelas famílias e contra aquele prédio que, pela sua própria idade deveria ser um ponto de atração, inclusive para os turistas?

Além disso, sabe-se que existem vários estudos técnicos ligados à prefeitura que recomendam não só sua recuperação como o seu tombamento como patrimônio histórico. Sem dúvida, fica claro que o ponto central dessa questão encontra-se no grande projeto que os poderes públicos, nos seus mais variados níveis, articulados com as grandes empresas de especulação imobiliária, reservam para esta cidade.

Aliás, como é de conhecimento de todos, não é de hoje que esses agentes vem fazendo uma imensa propaganda pela mídia de que a cidade do Rio de Janeiro, uma das mais valorizadas e mais bonitas do mundo, encontra-se degradada, necessitando, portanto, de uma ampla reformulação; isto é, para eles é necessário adequar as estruturas da cidade para que ela possa atender as demandas de um processo de acumulação de capitais, que se encontra numa crise que se arrasta desde a década de 1970.

Assim, esse projeto, que abrange grande parte do centro da cidade, da zona portuária, das principais favelas, bem como o Maracanã e suas imediações onde se encontra a chamada Aldeia Maracanã, é importante que se faça uma modernização, não só para que a cidade corresponda as expectativas das novas formas de investimentos, incrementados pelo capital financeiro internacional, como também seja transformada num centro importante do turismo, sobretudo a partir dos grandes eventos que se avizinham, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Nesse caso, segundo as informações, toda aquela área deverá ser transformada e explorada por um imenso complexo que envolve estacionamento, e lojas de vários tipos, em suma, num imenso centro empresarial.


É importante, nesse aspecto, ser mencionado o fato de que, como a taxa de lucro dos investimentos produtivos, deixaram de ser atrativos, devido a grande crise internacional, a maior parte dos investimentos passaram a ser direcionados para as várias formas de especulação.

A isso, deve-se o fato de que grande parte dos países que sempre ocuparam o eixo central do sistema, entraram em declínio acelerado, com índices de crescimento econômico ridículos. Esse processo foi agravado por um movimento de desregulamentação financeira, que provocou uma onda devastadora de especulações para aplicação de grande parte dos capitais fictícios, que não estavam encontrando espaços atrativos na produção.

Então, passaram a farejar, em todas as partes do mundo, oportunidades para a realização desses capitais em mercados rentáveis.

Essa estratégia não tem dado bons resultados, porém, tem servido para adiar as manifestações mais selvagens do sistema que esgotou praticamente todos os seus instrumentos estratégicos para encontrar uma saída.

Por isso, eles têm jogado um peso enorme em todas as oportunidades, inclusive usando a violência, para afastar todos os grandes sinais de resistência.

Ontem mesmo [13/01], um batalhão de choque da polícia militar cercou a aldeia e só não concretizou mais uma das suas ações porque encontrou reação de militantes e movimentos sociais. Além disso, não encontraram respaldo legal; mas não nos iludamos. Sem dúvida nenhuma voltarão e desta vez com forças muito mais consistentes, dispostos a passar por cima de tudo e de todos.

Disso, sabemos tranquilamente, assim como também sabemos que agressões mais arrojadas virão.

A compreensão dessa realidade deve servir para que todas as forças sociais que se opõem a esses métodos de dominação, típicos de um sistema em desespero, que é necessário a união e a ação do maior número de pessoas possíveis não só para se opor a esta ordem como também para tentar construir um projeto que seja alternativo.

Sabemos das dificuldades, sobretudo pela dispersão dos movimentos sociais e das propostas políticas, mas também sabemos das dificuldades do campo dominante, que tem utilizado, sistematicamente, instrumentos ilegítimos para continuar esse processo que só tem provocado devastação.

Assim, o exemplo da Aldeia Maracanã é um ponto simbólico bastante significativo nesse processo, o qual não podemos entregar os pontos facilmente.

A Rede Democrática, constituída em sua maioria por ex-combatentes de organizações armadas ao antigo regime militar, esteve, através de vários membros dando apoio na defesa da continuação do projeto da Aldeia, o qual continuaremos.

(*) Antonio Elias Sobrinho é professor de História pela UFF e Mestre em Serviço Social pela UFRJ

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3640:a-aldeia-maracan%C3%A3-%C3%A9-preciso-resistir

Veja também:
Povos indígenas e o desenvolvimentismo do governo Dilma Rousseff - Roberto Antonio Liebgot 

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.