terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Aldeia Maracanã: é preciso resistir

14/01/2013 - extraído do site RedeDemocrática
- escrito por Antonio Elias Sobrinho (*)

Nas imediações do famoso estádio do Maracanã, atualmente em obras para os jogos da Copa do Mundo de 2014, encontra-se o antigo Museu do Índio, hoje habitado por mais de vinte famílias indígenas, originárias de várias etnias, que viviam dispersas pelo Rio de Janeiro.

Atualmente, encontram-se seriamente ameaçadas de despejo pelos poderes estaduais e grandes empresas envolvidas nas obras que querem desalojá-las para a melhor exploração do espaço, segundo os interesses mercantis mais adequados que possam atender melhor à especulação e a acumulação de capitais.

Aquele prédio em ruínas, que tem 147 anos de existência, abrigou o Museu do Índio até a década de 1970, quando foi transferido para Botafogo.

A partir de então, até aproximadamente 2005, ele ficou abandonado, quando começou a ser ocupado. Porém, como os índios não contaram com qualquer tipo de ajuda dos poderes públicos, não puderam evitar sua lenta degradação, mas pelo menos contribuíram para uma conservação mínima.

Além disso, incrementaram uma série de atividades culturais em seu interior, além de servir de espaço para a realização de congressos para variados movimentos sociais e para agregação de índios de várias procedências, importante para estimular e desenvolver traços significativos da cultura indígena em nosso estado.

Assim, qual a razão ou as razões que podem explicar a investida de forma tão impetuosa do Estado contra aquelas famílias e contra aquele prédio que, pela sua própria idade deveria ser um ponto de atração, inclusive para os turistas?

Além disso, sabe-se que existem vários estudos técnicos ligados à prefeitura que recomendam não só sua recuperação como o seu tombamento como patrimônio histórico. Sem dúvida, fica claro que o ponto central dessa questão encontra-se no grande projeto que os poderes públicos, nos seus mais variados níveis, articulados com as grandes empresas de especulação imobiliária, reservam para esta cidade.

Aliás, como é de conhecimento de todos, não é de hoje que esses agentes vem fazendo uma imensa propaganda pela mídia de que a cidade do Rio de Janeiro, uma das mais valorizadas e mais bonitas do mundo, encontra-se degradada, necessitando, portanto, de uma ampla reformulação; isto é, para eles é necessário adequar as estruturas da cidade para que ela possa atender as demandas de um processo de acumulação de capitais, que se encontra numa crise que se arrasta desde a década de 1970.

Assim, esse projeto, que abrange grande parte do centro da cidade, da zona portuária, das principais favelas, bem como o Maracanã e suas imediações onde se encontra a chamada Aldeia Maracanã, é importante que se faça uma modernização, não só para que a cidade corresponda as expectativas das novas formas de investimentos, incrementados pelo capital financeiro internacional, como também seja transformada num centro importante do turismo, sobretudo a partir dos grandes eventos que se avizinham, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Nesse caso, segundo as informações, toda aquela área deverá ser transformada e explorada por um imenso complexo que envolve estacionamento, e lojas de vários tipos, em suma, num imenso centro empresarial.


É importante, nesse aspecto, ser mencionado o fato de que, como a taxa de lucro dos investimentos produtivos, deixaram de ser atrativos, devido a grande crise internacional, a maior parte dos investimentos passaram a ser direcionados para as várias formas de especulação.

A isso, deve-se o fato de que grande parte dos países que sempre ocuparam o eixo central do sistema, entraram em declínio acelerado, com índices de crescimento econômico ridículos. Esse processo foi agravado por um movimento de desregulamentação financeira, que provocou uma onda devastadora de especulações para aplicação de grande parte dos capitais fictícios, que não estavam encontrando espaços atrativos na produção.

Então, passaram a farejar, em todas as partes do mundo, oportunidades para a realização desses capitais em mercados rentáveis.

Essa estratégia não tem dado bons resultados, porém, tem servido para adiar as manifestações mais selvagens do sistema que esgotou praticamente todos os seus instrumentos estratégicos para encontrar uma saída.

Por isso, eles têm jogado um peso enorme em todas as oportunidades, inclusive usando a violência, para afastar todos os grandes sinais de resistência.

Ontem mesmo [13/01], um batalhão de choque da polícia militar cercou a aldeia e só não concretizou mais uma das suas ações porque encontrou reação de militantes e movimentos sociais. Além disso, não encontraram respaldo legal; mas não nos iludamos. Sem dúvida nenhuma voltarão e desta vez com forças muito mais consistentes, dispostos a passar por cima de tudo e de todos.

Disso, sabemos tranquilamente, assim como também sabemos que agressões mais arrojadas virão.

A compreensão dessa realidade deve servir para que todas as forças sociais que se opõem a esses métodos de dominação, típicos de um sistema em desespero, que é necessário a união e a ação do maior número de pessoas possíveis não só para se opor a esta ordem como também para tentar construir um projeto que seja alternativo.

Sabemos das dificuldades, sobretudo pela dispersão dos movimentos sociais e das propostas políticas, mas também sabemos das dificuldades do campo dominante, que tem utilizado, sistematicamente, instrumentos ilegítimos para continuar esse processo que só tem provocado devastação.

Assim, o exemplo da Aldeia Maracanã é um ponto simbólico bastante significativo nesse processo, o qual não podemos entregar os pontos facilmente.

A Rede Democrática, constituída em sua maioria por ex-combatentes de organizações armadas ao antigo regime militar, esteve, através de vários membros dando apoio na defesa da continuação do projeto da Aldeia, o qual continuaremos.

(*) Antonio Elias Sobrinho é professor de História pela UFF e Mestre em Serviço Social pela UFRJ

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3640:a-aldeia-maracan%C3%A3-%C3%A9-preciso-resistir

Veja também:
Povos indígenas e o desenvolvimentismo do governo Dilma Rousseff - Roberto Antonio Liebgot 

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.