Laerte Braga


O fato público que os dados relativos às operações da empresa do ministro chefe do Gabinete Civil Antônio Palocci vazaram a partir da Secretaria de Finanças do governo do estado de São Paulo não justificam nada do que foi feito. Nem importa que o procedimento de Palocci à frente de sua empresa tenha sido legal. Foi imoral.

Qualquer cidadão com o mínimo de consciência ou tino sabe que o governo paulista, onde partiram os dados, está em mãos do PSDB e o governador é Geraldo Alckimin, um integrante da OPUS DEI. São duas quadrilhas de porte. Uma nacional, outra internacional.

Mas nem isso pode ser invocado em defesa de Palocci, até porque deveria ser exatamente o contrário. A reação de setores do PT que o partido está sendo massacrado pela mídia merece mais que uma crítica à mídia privada que todos sabemos podre, venal e ligada a interesses das elites políticas e econômicas do País. Merece uma reflexão sobre os seus rumos e as implicações das muitas alianças feitas por conveniência eleitoral, que estão deformando o partido, deixando atônitos militantes históricos e jogando no lixo sua história.

É um ditado antigo, um crime não justifica outro e nem a ninguém é dado o direito de práticas tucanas – como as de Palocci – só porque os tucanos fazem, ou todos fazem.

O modelo político e econômico brasileiro está falido, a presidente é um equívoco de Lula, figura menor que o cargo que ocupa e as perspectivas são as piores possíveis se uma reviravolta não acontecer em termos de atitude e políticas.

Como é possível conviver com figuras como o governador do estado do Rio, Sérgio Cabral, protagonista da maior embromação dos últimos tempos, mergulhado na corrupção do escritório de sua mulher e agora na barbárie de seu esquadrão da morte chamado BOPE, tão corrupto e venal quanto setores normais corruptos e venais da polícia? Com a agravante que se transformou num símbolo de combate ao crime. Na prática, passou a deter o monopólio do crime sob as bênçãos do Estado.

O que aconteceu na invasão do quartel do Corpo de Bombeiros foi um episódio de fazer inveja a qualquer integrante dos esquadrões de choque dos tempos da ditadura militar.

O Rio tem sido infeliz na escolha de seus governadores. O último governador a merecer respeito naquele estado foi Leonel Brizola. De lá para cá só bandidos.

Sérgio Cabral é um dos parceiros preferidos do governo Dilma Roussef, como o foi de Lula.

As mortes encomendadas por latifundiários no Norte e Centro-Oeste do Brasil revelam outra ponta dessa corda bamba em que o governo petista se equilibra. Lideranças camponesas e ambientalistas são assassinadas por predadores ligados ao DEM, ao PSDB e por extensão, aos grupos econômicos que controlam a agricultura brasileira, as terras e o agro negócio.

No Espírito Santo, extinto estado da suposta Federação Brasileira, hoje propriedade de empresas como a ARACRUZ, a SAMARCO, A CST e outras menores, onde os governadores são meros capatazes e deputados e juízes (em qualquer instância) boys de luxo, a PM – resquício dos tempos do império e que sobrevive como instrumento de violência e opressão – em menos de uma semana protagonizou duas ações terroristas de vulto. Uma contra uma comunidade sem teto, a serviço da ARACRUZ e outra debaixo da fraqueza política e moral do vice-governador da extinta unidade da Federação, contra estudantes e cidadãos que manifestavam seu descontentamento com os custos das passagens de transportes coletivos.

A corrupção no antigo Espírito Santo é uma pandemia e atinge a todos os partidos, que afinal, são os que nominalmente detêm a máquina do Estado.

Em São Paulo a mesma PM reprime com violência e toda a boçalidade possível protestos democráticos e assegurados por lei – o direito é constitucional – mas não toma, por exemplo, uma atitude contra as consultorias tucanas, ou os vestidos de madame Alckimin (eram para ser doados aos pobres, guarnecem os guarda-roupas da dita senhora).

O dilema do governo Dilma não é necessariamente substituir Antônio Palocci, uma figura desprezível sob qualquer ângulo que se olhe. Exerceu consultorias concomitantemente com o mandato de deputado federal e depois de ser afastado do Ministério da Fazenda por uma série de bobagens típicas de político menor e corrupto, deslumbrado com o poder.

Passa por rever alianças com setores incompatíveis com o DNA do seu partido, a menos que esse DNA tenha sido corrompido ao longo desses anos de poder. É o que parece mais provável.

O risco disso? Quando um jornal como a FOLHA DE SÃO PAULO convida para integrar seu quadro de colaboradores um militar remanescente da ditadura, responsável por setores da repressão, torturador, estuprador, assassino, caso do coronel Brilhante Ulstra, não o está fazendo apenas para promover um debate – o que já seria inaceitável, o lugar de Brilhante Ulstra é na cadeia –. É uma peça a mais em todo o processo político que busca a retomada do poder pelas forças de direita no Brasil. Não fosse o jornal aquele que emprestava seus caminhões para a desova dos corpos dos presos políticos assassinados sob a batuta de Brilhante Ulstra, Fleury e outros.

O governo Dilma, como em muitos aspectos o fez o governo Lula, a cúpula do PT, dá a sensação que quer o trono FIESP/DASLU e nesse passo foram e são colaboradores desse processo, exatamente na fraqueza.

Como é possível pretender um governo respeitado onde além de Palocci, Moreira Franco é ministro?

Não tem jeito.

Moreira Franco é a versão Maluf do Rio de Janeiro.

O governo Dilma equivocou-se na escolha do chanceler e o chamado pragmatismo na política externa torna o País cada vez mais vulnerável aos interesses do terrorismo nuclear de EUA e Israel e hoje o campo de manobra do próprio governo está limitado às dimensões anãs do ministro Anthony Patriot.

Na contramão do processo político de integração latino-americana, indispensável para fazer frente a um mundo aterrorizado pelas políticas norte-americanas e seus cúmplices no terrorismo os sionistas.

O que é a Comunidade Européia? Uma grande base militar da OTAN, países em processo de falência, de dissolução, multidões percebendo a gravidade dessa situação, mas se capazes de ir às ruas incapazes de ter um caminho, ou enxergar um caminho, perdidas no medo e na constatação do fracassso.  

Mais de 40 milhões de norte-americanos vivem na linha da pobreza por conta da crise que afetou o mundo. Todas as empresas em vias de falência na tal crise sobreviveram com dinheiro público e o distinto público continua dançando.

Dinheiro para matar civis no Afeganistão, no Iraque, para permitir o genocídio do povo palestino, destruir um país como a Líbia para manter intocado o dólar, garantido o petróleo, esse existe à larga, pelo simples motivo que os Estados Unidos deixaram de ser uma nação e transformam-se cada vez num conglomerado terrorista associado a Israel.

Com uma dívida impagável, oprime o mundo com seu fantástico arsenal de destruição, de boçalidade.

E o Brasil? E Dilma?

Não percebem que Palocci é produto de alianças espúrias. Armadilha de tucanos e setores do PMDB, que o alçapão está prestes a ser fechar e a mais perigosa de todas as quadrilhas políticas pronta para assumir o poder e passar a escritura.

Falta a Dilma estatura política para ser presidente da República, sobra à cúpula petista oportunismo e deslumbramento para jogar por terra todo o processo de luta popular construído nos últimos anos.

Palocci é só adereço. Detalhe nesse emaranhado de disputa pelo poder.

Aí, além do ministro corrupto, ele e outros, tem que engolir Sérgio Cabral, um governador pusilânime como Casagrande no extinto Espírito Santo, Moreira Franco no Ministério e ainda por cima ter Aldo Rebelo como aliado. E nem estou falando do faroeste no Norte e Centro-Oeste onde lideranças camponesas e ambientalistas são exercícios de tiro ao alvo para pistoleiros do latifúndio de d. Kátia Abreu (a que desviou dinheiro público doado à Confederação Nacional da Agricultura para sua campanha eleitoral e de seus filhos).

Breve, comentários de Brilhante Ulstra na FOLHA DE SÃO PAULO recomendando pau de arara, choques elétricos, estupros, assassinatos, etc.

Ou Dilma, Lula e o PT são cegos, ou acham que de repente a Copa do Mundo vai resolver tudo. E o grave nisso é que reivindicam para si o monopólio do avanço na luta popular. O que havia de positivo no governo Lula já foi para o brejo no desgoverno Dilma.

É lógico que a mídia podre deita e rola. Nem precisa de inventar nada,  a turma cede tudo de bandeja. É só retocar e cair de pau em cima.

A visão é estreita, se limita ao cartório petista e entorno. Não percebe o tamanho do monstro a engolir o País e transformá-lo num entreposto de dimensões gigantescas. Ou um mercado de “um trilhão de dólares” como afirmou há anos o general Colin Powell, ex-secretário de Estado do governo do terrorista George Bush.