segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo: Lula reabre o calendário das ruas

20/12/2012 - Saul Leblon em seu Blog das Frases
- Carta Maior



[Há um ano, quando Lula completava seu primeiro ano fora do governo, destacamos aqui em  "Lula e um canto de um herói", alguns dos momentos e seus significados, quando  de sua passagem pelo Planalto. 

Decorridos mais 365 dias, nosso olhar se desliga agora do passado e se volta para o futuro, apresentando-lhes este texto. Como o autor, desejamos aos leitores uma boa leitura e um FELIZ ANO-NOVO.
(Equipe Educom)

Recorrente, como um soluço no imaginário social, o milenarismo não contagia apenas mentes ingênuas e visões de mundo primitivas.

Autoridades e forças políticas muitas vezes se comportam também como peças de uma inexorável mecânica de desfecho datado e irreversível.

O milenarismo tem origem numa contabilidade religiosa fatídica: um milênio sob Cristo; depois, o Diabo.

Às vezes o fatalismo pega carona em 'sinais' correlatos, como agora. Interpretações apocalípticas, ou apenas oportunistas, anunciaram o fim do mundo neste dia 21 de dezembro de 2012, ao término do 13º giro, de 393 anos cada, do calendário maia.

Na concepção religiosa original um círculo iniciado há milhares de anos se fecha. Reabre-se um novo.

Para o milenarismo ligeiro é o apocalipse, o fim, a tragédia. Contra ela não há apelação. É esperar e sucumbir.

A concepção da história como um destino que caminha para o esgotamento, um fio de azeite sugado no miolo do pão, ressurge não raro quando massas de força de aparência incontrolável conduzem a humanidade a um horizonte engessado, como que desprovido da dialética.

A crise sistêmica do capitalismo, blindada desde 2008 pelo poder de persuasão do seu aparato ideológico, encerra certo incentivo ao desespero milenarista.

A percepção do matadouro existe; seus contornos se estreitam. Alternativas são desautorizadas. O velho aparato interdita a busca de novos caminhos.

Instituições são capturadas pela crise; a sociedade é destituída das suas salvaguardas. Governantes mugem como gado no rumo do abate. Pode ser no próximo ajuste. Ou nas urnas.

Seria preciso reformar as instituições democráticas para enfrentar a abrangência e a profundidade de uma crise como a atual.

O dispositivo midiático cuida de interditar esse debate. E toma a lição de casa a cada dia. No café da manhã, à tarde e na sabatina da noite.


Como discutir novos caminhos e repactuar consensos se o espaço da liberdade de expressão foi congestionado pelo monólogo da reiteração conservadora?

A pergunta argui o milenarismo de governos que aceitam as limitações institucionais com a mesma fatalidade dos que aguardam o apocalipse no fecho do círculo maia.

A economia brasileira é parte indissociável dessa paralisia mundial.

A travessia iniciada em 2008 avançou do arcabouço neoliberal para um modelo de desenvolvimento em que o comando do Estado subtraiu algum espaço à supremacia financeira asfixiante.

A redução de cinco pontos nas taxas de juros em 12 meses abalou o chão firme do dinheiro grosso.

Hoje ele anda em círculos diante da encruzilhada: ou derruba o governo e sobe a Selic; ou comete a eutanásia do rentista e se transfigura em capital produtivo, como aconselhava Keynes, que não era um bolchevique.

A supremacia financeira uiva, ruge e manda recados, em idioma local e forâneo. Fica bem pedir a cabeça de Mantega em inglês. Ou elogiar o sultanato do judiciário incentivando prisões de petistas antes do Natal.

O fim de 2012 marca a intersecção dessas travessias e impasses.

A redução imposta às taxas de juros dará ao Estado brasileiro uma folga da ordem de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em 2013. Dinheiro subtraído ao rentismo à disposição do investimento público.

O governo poderá destiná-lo a desonerações fiscais e a investimentos em infraestrutura. Poderá beneficiar as condições de vida da população e a engrenagem da produção.

O governo Dilma só não pode desmoralizar o comando estatal das finanças com dinheiro parado no cofre.

Os anos 90 criaram no Brasil um monumento neoliberal.
Um Estado feito para não funcionar.

Uma engrenagem desprovida de agilidade, sem quadros de ponta capaz de ativa-la, necrosada na capacidade de planejamento, corroída na gestão operacional; drenada pelo rentismo; sem fundos públicos suficientes e carente de legitimidade política.

Muita coisa mudou para melhor em 10 anos de gestão petista - sobretudo na esfera das políticas sociais.

Mas a joia do legado tucano não foi superada, está longe de sê-lo e se engana quem pretender que o seja apenas com o lubrificante da boa gestão -indispensável, mas insuficiente.

Criou-se neste país um Estado anti-estatal. Um aparato esquizofrênico que se acanha de si mesmo, fatiado em normas labirínticas que exaurem o impulso do desenvolvimento em vez de alimenta-lo.

O que trava o passo seguinte da economia hoje no Brasil não é a falta de recurso, mas a falta de poder de comando do Estado.

O milenarismo economicista deduz daí que não há alternativa à restauração privatista.

O fato, porém, é que sob a névoa da maior crise do capitalismo em 80 anos, a iniciativa privada não vai a lugar nenhum sem a indução estatal do comboio.

Desobstruir o Estado - despi-lo dos torniquetes neoliberais - seria encrespar ainda mais o embate político num calendário já congestionado pela largada eleitoral de 2014, argumenta-se.

A essa altura pode ser verdade. Mas à contabilidade dos interditos vem somar-se as operações conjuntas - bem sucedidas - das togas, da mídia e demais interesses contrariados nessa transição. O espaço se estreita de forma exasperante.

É esse o objetivo conservador.

A areia da ampulheta empurra o país para o escrutínio político dos conflitos.

2013 será um longo e sanguinário ensaio de 2014.

Insistir na inércia fatalista é quase um contrato de pronta-entrega da cabeça ao matadouro.

A opção à paralisia converge cada vez mais para quatro letras que romperam seu ostracismo no vocabulário do PT e de ministros próximos a Lula nos últimos dias: ruas.

Coube ao ex-presidente da República nesta quarta-feira - às vésperas do 'fatídico' 21-12-2012 - dar a esse resgate vernacular a dimensão de um compromisso que reabre o calendário das ruas na história brasileira.

Em discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula anunciou um novo ciclo ciclo de mobilizações, cujo esgotamento havia sido perigosamente incorporado à visão fatalista da crise dentro e fora do governo.

De volta à estrada, Lula despacha o Ano Velho e anuncia a pauta do Ano Novo:

"No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país. Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade."
(Lula, na posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, 19-12-12).

Feliz 2013.

Fonte:
http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1160

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Baixo crescimento, ideologia e pensamento

17.12.2012 - Luiz Carlos Bresser-Pereira - Folha de S. Paulo


O governo está fazendo uma política monetária e industrial competente, que já logrou baixar os juros, depreciar parcialmente o câmbio e, através do PAC, busca planejar e aumentar o investimentos nos setores não competitivos.

O baixo crescimento do PIB brasileiro no terceiro trimestre deixou os economistas convencionais alvoroçados.

Afinal, tinham como criticar o governo desenvolvimentista da presidente Dilma Rousseff.

Qual a crítica?
Que a baixa taxa de investimento (18% do PIB) deve-se à política industrial adotada pelo governo;

Que os empresários teriam ficado desorientados com as diversas medidas de estímulo fiscal e monetário que o governo vem tomando e teriam se tornado inseguros, teriam reduzido suas expectativas de crescimento e, assim, deixado de realizar investimentos.

Ora, isso não é explicação econômica;
Não implica pensamento, mas repetição da ideologia neoclássica e neoliberal, para a qual toda política industrial é sempre condenável porque distorceria a alocação de recursos.

É ideologia equivocada, porque a experiência secular dos países mostra que isso é falso: que política industrial geralmente é um fator de desenvolvimento econômico.

Mas, então, qual é a causa do baixo crescimento?
Em primeiro lugar, é preciso considerar que houve provavelmente erro do IBGE ao não considerar as variações de estoque em suas estimativas do PIB.

Conforme afirma com a competência de sempre Francisco L. Lopes, na Macrométrica, "a partir de 2010, os gestores e planejadores das empresas, assim como o distinto público, dentro e fora do país, resolveram acreditar que o Brasil se transformara em tigre asiático" e, por isso, aumentaram excessivamente a produção.

Em 2012, não obstante suas vendas continuem satisfatórias, reduziram a produção porque se puseram racionalmente a reduzir estoques. Mas o crescimento não é satisfatório, apesar da coragem que o governo revelou ao reduzir juros reais e ao lograr alguma desvalorização da taxa de câmbio.


Não o é porque a taxa de câmbio está longe do equilíbrio (cerca de R$ 2,70 por dólar).

O crescimento também não é satisfatório porque uma política industrial, por melhor que seja, não tem condições de sanar esse desequilíbrio fundamental da economia brasileira.

Muitos desenvolvimentistas ainda não entenderam isso e, baseados na experiência do alto crescimento do Brasil (1930-1980), acreditam nas virtudes mágicas da política industrial.


Isso também é ideologia sem base no pensamento.

A "política industrial" desse período não era apenas um sistema de incentivos à indústria (política industrial estrito senso); era também, senão principalmente, uma política macroeconômica através da qual o governo mantinha a taxa de juros real baixa e a taxa de câmbio no equilíbrio industrial, neutralizando, portanto, a "doença holandesa".

Isso se fazia por câmbios múltiplos e, nos anos 1970, por tarifas de importação e subsídios à exportação, os quais não eram mero protecionismo,
como geralmente se pensa, mas uma forma de estabelecer o imposto sobre as exportações de commodities.

Deixemos, portanto, de lado as ideologias e tratemos de pensar.

O governo está fazendo isto: uma política monetária e industrial competente, que já logrou baixar os juros, depreciar parcialmente o câmbio e, através do PAC, busca planejar e aumentar os investimentos nos setores não competitivos.

Está no caminho certo.

Fonte:
http://www.bresserpereira.org.br/Articles/2012/78.Baixo_crescimento_ideologia_pensamento.pdf

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Formando para (e construindo) a resistência na internet


Dilma x Mídias inglesas financeiras

27/12/2012 - A guerra das usinas midiáticas do setor financeiro contra Dilma
- Marcelo Justo - Carta Maior

Londres - A The Economist primeiro, o Financial Times depois: o governo de Dilma Rousseff entrou na mira dos grandes meios de comunicação financeiros britânicos internacionais.

Ambos zombam do governo brasileiro, pedem a renúncia de Guido Mantega e qualificam Dilma como a rena do nariz vermelho.

Não que as coisas na casa destas publicações andem melhor. Justamente o contrário.

A economia britânica acaba de sair da segunda recessão em três anos graças ao pequeno estímulo dos jogos olímpicos, mas a maioria dos analistas acredita que no próximo trimestre ela voltará a se contrair.


A Eurozona salvou-se raspando neste ano de 2012, mas ninguém se atreve a apostar no que pode acontecer no próximo ano, apesar de o diretor do Banco Central da Europa, Mario Draghi (foto), assegurar desde julho que fará tudo o que está ao seu alcance para salvar o euro.

Por último, os Estados Unidos estão fazendo o impossível para evitar o abismo fiscal, um incremento de impostos e um corte de gastos públicos que entraria em vigor automaticamente no dia 1º de janeiro se não houver um acordo político.

Apesar deste cenário do primeiro mundo, as críticas a Dilma não surpreendem.

Para as usinas midiáticas do setor financeiro, a presidenta cometeu um pecado imperdoável: forçou a baixa das taxas de juro.

Quando esta crítica à presidenta brasileira vem do primeiro mundo aparece como uma variante do famoso “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Desde o estouro financeiro de 2008, Estados Unidos, Reino Unido e Banco Central Europeu se dedicaram à emissão de dinheiro eletrônico, um mecanismo conhecido em inglês como “quantitative easing”, e a baixar as taxas de juros a mínimos históricos para estimular o consumo.

A ideia é que mantendo essas taxas de juros o setor privado terminará investindo, algo que não está fazendo porque a demanda está estagnada. Em resumo, o problema mais grave é que esta política monetarista não está funcionando”, disse à Carta Maior, Ismail Erturk, catedrático sênior de finanças da Universidade de Negócios de Manchester.

Este monetarismo foi debatido no chamado mundo desenvolvido, mas sem a estridência desqualificadora reservada ao governo de Dilma Rousseff.

No caso do Reino Unido e da Eurozona a comparação se torna mais absurda se tomamos como parâmetro a crise provocada pelos programas de austeridade vigentes na Europa.


No Reino Unido, a coalizão conservadora-liberal democrata que assumiu em maio de 2010 encabeçada pelo primeiro-ministro David Cameron herdou um forte déficit fiscal produto do estouro financeiro de 2008-2009 e uma incipiente recuperação de 1,7% pela mão do estímulo fiscal do governo trabalhista de Gordon Brown.

A coalizão prometeu equilibrar as contas fiscais ao final de seu período de governo, em 2015, e projetou um crescimento de 2,1% para 2011 e 2,5% para 2012. A chave-mestra para esse passe de mágica era um programa de austeridade com cortes de 80 bilhões de libras (cerca de 140 bilhões de dólares) com uma perda de mais de meio milhão de empregos públicos. O resultado desse apequenamento logo ficou evidente. Em 2011, o crescimento real foi de 0,8%, enquanto que, em 2012, foi negativo (menos 0,4%). Quanto ao equilíbrio fiscal, o próprio governo admitiu em dezembro que para atingi-lo terá que ampliar a política de austeridade até... 2018.

As coisas não andam melhor pela Eurozona.

Com a bandeira da austeridade, a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (a Troika) conseguiram converter a debacle fiscal de um país que representava pouco mais de 2% do PIB da Eurozona em uma crise que pode colocar em perigo todo o projeto pan-europe.

Desde o começo da crise grega em 2010, quatro nações (Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre) terminaram regatadas pela Troika, a banca espanhola foi salva com uma injeção de 100 bilhões de euros do Banco Central Europeu e a Grécia recebeu um novo pacote de ajuda em dezembro, no valor de 34 bilhões euros, que todos sabem que não será o último.

Em 2012, a Eurozona teve um crescimento negativo de 0,5% que esconde em seu interior extraordinárias disparidades (a queda da Grécia superou 7%, enquanto que a Alemanha cresceu 0,8%).

Segundo um informe da ONU, divulgado em 20 de dezembro, com estas políticas de austeridade as coisas vão piorar. O cálculo é que a região crescerá um magro 0,5% em 2013.

O governo de Barack Obama não apostou na austeridade e conseguiu evitar uma queda como a do Reino Unido ou da eurozona, mas sua recuperação é menor do que a esperada e está ameaçada por uma obra prima do terror econômico: o abismo fiscal.

Em agosto, o Congresso estabeleceu o 1º de janeiro como prazo para chegar a um acordo sobre o gasto público e as reduções tributárias aprovadas durante a presidência de George Bush que finalizam nesta data.

Se não houver acordo e as medidas entrarem em vigor, o resultado será uma recessão nos Estados Unidos e um forte impacto em uma economia mundial que, nas atuais projeções, crescerá 2,4%, muito menos do que é necessário para recuperar o terreno perdido desde o estouro do Lehman Brothers.

A responsabilidade fiscal das reduções de impostos de George Bush foi discutida em seu momento, mas nenhuma usina midiática econômica teve a ideia de colocar um nariz vermelho no artífice da invasão ao Iraque.

Assim são as coisas.

Tradução:
Marco Aurélio Weissheimer

Fonte:
http://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21448

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desespero de um lado, comodismo do outro

12/12/2012 - por Luiz Carlos Azenha em seu blog Viomundo


Na política brasileira, até parece que o mundo vai acabar.

O julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal e as renovadas denúncias contra o ex-presidente Lula demonstram que a oposição está fazendo o que restou a ela fazer no Brasil: política.

Independentemente do conteúdo das denúncias, o timing levanta suspeitas: julgamento do mensalão durante o período eleitoral, denúncias envolvendo funcionária pública ligada a Lula logo depois da vitória de Fernando Haddad em São Paulo e depoimento de Marcos Valério acusando Lula no que já parece ser a campanha de 2014.

Primeiro José Dirceu, depois Lula, em seguida Dilma…

Mas os ataques ao ex-presidente são os que mais podem afetar o futuro do PT.

Foi Lula, afinal, quem elegeu dois “postes” contra todas as previsões da mídia.

Apesar de todas as denúncias, o Partido dos Trabalhadores cresce seguidamente desde 2002.

A partir de janeiro de 2013 voltará a governar o maior orçamento municipal, o de São Paulo.

A oposição encolheu.
Corre o sério risco de perder o governo do estado de São Paulo em 2014 e Dilma Rousseff é favorita para se reeleger em 2014.

O quadro político altamente polarizado não é exclusivo do Brasil.

Se você analisar detidamente os processos de mudança em curso na América Latina verá que situações paralelas à nossa, vividas na vizinhança, também envolveram as chamadas dores do parto.

Na Venezuela a elite local, tradicionalmente associada aos Estados Unidos, inventou um locaute, a paralisação da principal artéria do país (a petroleira PDVSA) e um golpe cívico-midiático-militar.

Na Bolívia houve o levante de Santa Cruz de la Sierra.

Na Argentina houve os caminhonaços.

No Equador, uma revolta de policiais.

A mídia associada a Washington teve e continua tendo papel relevante na reação à ampliação de direitos em geral — particularmente os trabalhistas — na região.

No Brasil, de tradição conciliadora na política, houve menos confrontos abertos. Mas o que foi a cobertura dos escândalos em 2005 que não uma tentativa de impedir a reeleição de Lula em 2006?

E, no entanto, Lula se reelegeu. E elegeu Dilma. E elegeu Fernando Haddad.

Fez isso com um estilo político que eu chamaria de pêndulo. Fazendo concessões ora à direita, ora à esquerda. Formando, lentamente, consensos em torno de políticas públicas.

- Lembram-se como era a reação ao Bolsa Família no primeiro mandato de Lula?
- E às cotas raciais?
- E aos direitos indígenas, especialmente durante o debate sobre a demarcação da Raposa/Serra do Sol em Roraima?
- E aos aumentos reais do salário mínimo?

Muitos dos argumentos usados então contra as políticas de Lula hoje soariam bizarros. Tanto que foram descartados. Restou à oposição o mar de lama, que não tem nada de original na nossa história.

E, no entanto, em todos os debates fundamentais acima citados as propostas do PT acabaram vingando.

Não sem múltiplas concessões, refletindo a estratégia petista de enfraquecer a oposição “por dentro”. Hoje não seria surpresa se Kátia Abreu assumisse um ministério no governo Dilma. Há quem sustente que em nome da governabilidade o PT ficou muito parecido com tudo aquilo que combateu no passado. 

Seja como for, o comodismo político do partido tem uma explicação óbvia: funcionou política e eleitoralmente até agora.

O partido cresceu. Tem mais orçamento sob sua administração que nunca.

E terá muito mais em 2013. O PT é o principal gestor da modernização conservadora.

Enquanto recebeu benefícios das políticas econômica e social, o povão ficou majoritariamente ao lado de Lula.

A novidade é o aprofundamento da crise econômica internacional e seus reflexos no Brasil.

Desde 2002 o PT nunca governou sob a ameaça de uma crise prolongada ou de crescimento econômico medíocre de longo prazo.

A expansão de direitos promovida por Lula se deu num quadro em que os empresários nacionais se beneficiaram diretamente do crescente mercado interno. Agora, eles enfrentam retração no mercado internacional e redução da margem de lucros.

O lulismo como fiador da conciliação de classes corre risco.

Notem como a redução dos direitos sociais é vendida pela mídia como solução para as crises da Europa e dos Estados Unidos. Os jornais alemães deitaram e rolaram denunciando que a crise na Grécia teria sido provocada… pelos próprios gregos. A Europa mediterrânea seria “preguiçosa”, “gastadora”, “ineficiente”. Nos Estados Unidos o programa de saúde aprovado pelo presidente Barack Obama foi taxado de “socialista” pela Fox News. Um gasto desnecessário de um governo inchado, argumentava o Tea Party.

A crise que nasceu da desregulamentação dos mercados financeiros e se aprofundou com a transferência de trilhões de dólares em dinheiro público para os banqueiros agora é atribuída… àqueles que pagaram a conta.

Tal é o poder da mídia associada ao capital financeiro.

Não surpreende, portanto, que empresários brasileiros que se acomodaram com os governos petistas agora se voltem para uma opção mais “eficiente”, que é justamente o mote com o qual o senador Aécio Neves vem se vendendo. É o neoliberalismo na versão light.

De repente, o PT se vê diante da encruzilhada.

O partido é suficientemente “confiável” para promover o esgarçamento dos direitos sociais antevisto pelo empresariado como necessário à competitividade internacional e à retomada das margens de lucros?

Independentemente da resposta, parece estar claro ao governo Dilma que a retomada do crescimento robusto é essencial para a sobrevivência do lulismo nos moldes em que ele se instalou no Planalto.

O risco para o futuro do PT não está no STF, mas na crise econômica, se as concessões do partido à direita implicarem em freada brusca na sensação de avanço social da maioria.

Como escrevi anteriormente, o PT é hoje o partido do establishment.
Os saudosistas querem vê-lo militando como nos anos 80. Ao partido no poder nunca interessou fazer marola, especialmente quando ele cresceu sem fazer marola, ainda que na defensiva.

Portanto, se o Brasil retomar o crescimento econômico robusto acredito que teremos adiante mais do mesmo: desespero de um lado, comodismo do outro. Evidentemente, com os trancos que tanto animam a blogosfera.

Porém, no quadro de incertezas atual, não deixa de ser estranho o imobilismo do PT diante da campanha eleitoral antecipada da oposição que, de olho em 2014, morre de medo do Lula.

Fonte:
http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/desespero-de-um-lado-comodismo-do-outro.html

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.