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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O mensalão, as elites e o povo




[Não vemos como não nos curvar diante dessa vitória da mídia patronal. A AP 470 do mensalão petista foi a grande estocada aplicada por ela a favor da desconstrução das imagens de Lula, Dilma e de seus governos, como de resto, de qualquer governo, presente ou futuro, que ostente a estrela do Partido dos Trabalhadores.

Não que não se deva apurar os desvios, processar e julgar os envolvidos, mas quando isso se transforma, nas mãos do que existe de mais retrógrado no país, em uma arma que visa unicamente torpedear um projeto de nação voltado à redução das desigualdades e ao crescimento sustentável e que implica numa tênue redução de privilégios dos 1% do topo da pirâmide, não estamos diante de alternativas, é nossa missão contribuir para reduzir o poder do monstro que desde 2002 nos assombra: a Família GAFE da Imprensa (Globo/Abril/Folha/Estadão).



















Isso se torna mais preocupante quando, diante dos golpes que assistimos em Honduras e no Paraguai, onde a Corte Suprema e Parlamentares funcionaram como legitimadores da quebra da ordem democrática, testemunhamos aqui, esse risco enorme para a nossa democracia que ainda engatinha, o Supremo Tribunal Federal se deixando instrumentalizar a serviço do poder hegemônico ligado ao agronegócio, às mineradoras e ao sistema financeiro nacionais e internacionais, poderes que têm sob suas expensas como porta-voz, essa mesma Família GAFE (centrada no Rio e em São Paulo), seu partido, o PIG (Partido da Imprensa Golpista) disseminado em todas as redações afiliadas e atuante nesse Brasil afora e seu Instituto, o Millenium, com sede no Rio, como o cérebro perverso e defensor intransigente dos privilégios da classe alta que representa, aquela que só enxerga o país como um celeiro de oportunidades para que seus membros se tornem ainda mais ricos e poderosos, tanto no âmbito interno quanto nos foros internacionais.

Para o povão apenas o que for aceitável para que sobrevivam até com certo conforto, para que enfim, deem legitimidade à manutenção da dominação econômica e, portanto social, de uma classe minúscula sobre a grande maioria da população.



Anteontem mesmo, como divulgou o site Brasil 247 e que reproduzimos adiante, "o ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Bresser Pereira publicou duro artigo sobre o comportamento das elites ao longo da Ação Penal 470.

O que significou, afinal, esse julgamento? O início de uma nova era na luta contra a corrupção no Brasil, como afirmaram com tanta ênfase elites conservadoras, ou, antes, um momento em que essas elites lograram afinal impor uma derrota a um partido político que vem governando o país há dez anos com êxito?"



Por conta disso, nossa luta contra essa poderosa Família e seus tentáculos adquiriu um emblema especial neste 2012 e deve ser objeto de batalhas mil em 2013: neutralizar ou destruir, ainda que parcialmente, esse processo AP 470 é apenas a faceta de uma delas. Dele só deve restar aquilo que comprovadamente se configurar como um delito, sujeito, portanto, às penas da lei, tal e qual rezam nossa Constituição, o Código Penal, ritos e jurisprudência.

Essa é a razão de termos começado o ano com o pé direito, abordando exatamente esse tema: queremos reduzi-lo ao que ele realmente merece. Por uns dias, vamos prosseguir nele e voltar sempre que a oportunidade se mostrar favorável. Não esqueceremos. (Equipe Educom)]


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Depois da ruína neoliberal, o "moralismo liberal".

Ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Bresser-Pereira (foto abaixo) publica duro artigo sobre o comportamento das elites ao longo da Ação Penal 470.

"O que significou, afinal, esse julgamento?"


"O início de uma nova era na luta contra a corrupção no Brasil, como afirmaram com tanta ênfase elites conservadoras, ou, antes, um momento em que essas elites lograram afinal impor uma derrota a um partido político que vem governando o país há dez anos com êxito?"


A Ação Penal 470 foi um julgamento político.

O momento em que as elites brasileiras, após a ruína neoliberal, decidiram se apegar ao velho moralismo liberal.

A tese é do cientista político Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro de FHC, que publicou artigo na Folha.


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31/12/2012 - O mensalão, as elites e o povo
- por Luiz Carlos Bresser-Pereira
- site Brasil 247


Depois do fracasso da aventura neoliberal, as elites se prendem ao velho moralismo liberal.

O fato político de 2012 foi o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do processo do mensalão e a condenação a longos anos de prisão de três líderes do Partido dos Trabalhadores com um currículo respeitável de contribuições ao país.

O que significou, afinal, esse julgamento?

O início de uma nova era na luta contra a corrupção no Brasil, como afirmaram com tanta ênfase elites conservadoras, ou, antes, um momento em que essas elites lograram afinal impor uma derrota a um partido político que vem governando o país há dez anos com êxito?

Havia um fato inegável a alimentar o processo e suas consequências políticas.

O malfeito, a compra de deputados e o uso indevido do dinheiro público existiram. Mas também é inegável que, em relação aos três principais líderes políticos condenados, não havia provas suficientes - provas que o direito penal brasileiro sempre exigiu para condenar.

O STF foi obrigado a se valer de um princípio jurídico novo, o domínio do fato, para chegar às suas conclusões.

Se, de fato, o julgamento do mensalão representou grande avanço na luta pela moralidade pública, como se afirma, isso significará que a Justiça brasileira passará agora a condenar dirigentes políticos e empresariais cujos subordinados ou gerentes tenham se envolvido em corrupção.

Acontecerá isso? Não creio.

Como explicar que esse julgamento tenha se constituído em um acontecimento midiático que o privou da serenidade pública necessária à justiça?

Por que transformou seu relator em um possível candidato à Presidência (aquele, na oposição, com maior intenções de votos segundo o Datafolha)?

E por que, não obstante sua repercussão pública, o Datafolha verificou que, se a eleição presidencial fosse hoje, tanto Dilma Rousseff quanto o ex-presidente Lula se elegeriam no primeiro turno?

Para responder a essas perguntas é preciso considerar que elites e povo têm visão diferente sobre a moralidade pública no capitalismo.

Enquanto classes dominantes adotam uma permanente retórica moralizante, pobres ou menos educados são mais realistas. Sabem que as sociedades modernas são dominadas pela mercadoria e pelo dinheiro.

Ou, em outras palavras, que o capitalismo é intrinsecamente uma forma de organização econômica onde a corrupção está em toda parte.

Datafolha nos ajuda novamente: para 76% dos brasileiros existe corrupção nas obras da Copa.

Hoje, depois do fracasso da aventura neoliberal no mundo, as elites, inclusive a classe média tradicional, estão desprovidas de qualquer projeto político digno desse nome e se prendem ao velho moralismo liberal.

Já os pobres, pragmáticos, votam em quem acreditam que defende seus interesses. Não acreditam que elites e o país se moralizarão, mas, valendo-se da democracia pela qual tanto lutaram, votam nos candidatos que lhes inspiram mais confiança.

Não concluo que a luta contra a corrupção seja inglória.

Ela é necessária, e sabemos que quanto mais desenvolvido, igualitário e democrático for um país, mais altos serão seus padrões morais.

Terem havido condenações no julgamento do mensalão representou avanço nessa direção, mas ele ficou prejudicado porque faltou serenidade para identificar crimes e estabelecer penas.

Fonte:
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/89352/Depois-da-ru%C3%ADna-neolibeal-o-moralismo-liberal.htm

Não deixe de ler:



Nota:

A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Baixo crescimento, ideologia e pensamento

17.12.2012 - Luiz Carlos Bresser-Pereira - Folha de S. Paulo


O governo está fazendo uma política monetária e industrial competente, que já logrou baixar os juros, depreciar parcialmente o câmbio e, através do PAC, busca planejar e aumentar o investimentos nos setores não competitivos.

O baixo crescimento do PIB brasileiro no terceiro trimestre deixou os economistas convencionais alvoroçados.

Afinal, tinham como criticar o governo desenvolvimentista da presidente Dilma Rousseff.

Qual a crítica?
Que a baixa taxa de investimento (18% do PIB) deve-se à política industrial adotada pelo governo;

Que os empresários teriam ficado desorientados com as diversas medidas de estímulo fiscal e monetário que o governo vem tomando e teriam se tornado inseguros, teriam reduzido suas expectativas de crescimento e, assim, deixado de realizar investimentos.

Ora, isso não é explicação econômica;
Não implica pensamento, mas repetição da ideologia neoclássica e neoliberal, para a qual toda política industrial é sempre condenável porque distorceria a alocação de recursos.

É ideologia equivocada, porque a experiência secular dos países mostra que isso é falso: que política industrial geralmente é um fator de desenvolvimento econômico.

Mas, então, qual é a causa do baixo crescimento?
Em primeiro lugar, é preciso considerar que houve provavelmente erro do IBGE ao não considerar as variações de estoque em suas estimativas do PIB.

Conforme afirma com a competência de sempre Francisco L. Lopes, na Macrométrica, "a partir de 2010, os gestores e planejadores das empresas, assim como o distinto público, dentro e fora do país, resolveram acreditar que o Brasil se transformara em tigre asiático" e, por isso, aumentaram excessivamente a produção.

Em 2012, não obstante suas vendas continuem satisfatórias, reduziram a produção porque se puseram racionalmente a reduzir estoques. Mas o crescimento não é satisfatório, apesar da coragem que o governo revelou ao reduzir juros reais e ao lograr alguma desvalorização da taxa de câmbio.


Não o é porque a taxa de câmbio está longe do equilíbrio (cerca de R$ 2,70 por dólar).

O crescimento também não é satisfatório porque uma política industrial, por melhor que seja, não tem condições de sanar esse desequilíbrio fundamental da economia brasileira.

Muitos desenvolvimentistas ainda não entenderam isso e, baseados na experiência do alto crescimento do Brasil (1930-1980), acreditam nas virtudes mágicas da política industrial.


Isso também é ideologia sem base no pensamento.

A "política industrial" desse período não era apenas um sistema de incentivos à indústria (política industrial estrito senso); era também, senão principalmente, uma política macroeconômica através da qual o governo mantinha a taxa de juros real baixa e a taxa de câmbio no equilíbrio industrial, neutralizando, portanto, a "doença holandesa".

Isso se fazia por câmbios múltiplos e, nos anos 1970, por tarifas de importação e subsídios à exportação, os quais não eram mero protecionismo,
como geralmente se pensa, mas uma forma de estabelecer o imposto sobre as exportações de commodities.

Deixemos, portanto, de lado as ideologias e tratemos de pensar.

O governo está fazendo isto: uma política monetária e industrial competente, que já logrou baixar os juros, depreciar parcialmente o câmbio e, através do PAC, busca planejar e aumentar os investimentos nos setores não competitivos.

Está no caminho certo.

Fonte:
http://www.bresserpereira.org.br/Articles/2012/78.Baixo_crescimento_ideologia_pensamento.pdf

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.