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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Quando o jornalismo promove assalto aos cofres públicos


Eles querem tirar uma lasca do Brasil


por Saul Leblon, na Carta Maior

O capital parasita – leia-se, rentistas, especuladores e a república dos acionistas sem pátria – acha que chegou a hora de tirar uma lasca do Brasil.

Um pedaço do pré-sal, talvez.

Ou um naco das reservas em dólar.

Quem sabe um escalpo extra da população para atingir ‘a meta cheia’ do superávit fiscal.

Os preparativos para o assalto começaram há algumas semanas; deixaram os rastros de sempre nas manchetes nada sutis do jornalismo ‘especializado’.

A interpretação que a mídia e consultorias oferecem para o salto do dólar nesta 6ª feira, quando a moeda norte-americana avançou 2% e beirou R$ 2,40, inclui-se nesse esforço de achacar a nação por asfixia.

O jornal Valor Econômico foi originalmente um veículo conservador com apego à exatidão útil aos mercados.

Rasgou a fantasia este ano; hoje é mais um clarim estridente dessa ordem unida de achacadores.

Para se credenciar, limou a redação da competência heterodoxa de que dispunha e despediu a seriedade.

Ajustou-se.

Agora é o porta-voz dos administradores de carteiras.

Uma gente sôfrega que se move por impulsos irrefletidos em relação ao próximo e ao distante; sejam eles a sorte da economia ou os destinos da sociedade.

É desse circuito algo reptiliano que saltou o bote desfechado esta semana contra o pré-sal.

Coube ao Valor atribuir ao governo aquilo que a ganância parasitária pleiteia: abdicar dos 30% cativos da Petrobrás no pré-sal.

Um balão de assalto.

A república dos acionistas gostaria de ‘realizar’ depressa o valor potencial das maiores reservas de petróleo descobertas no planeta nos últimos 30 anos.

O nome do atalho é petroleiras internacionais.

O método: remeter in bruto o óleo, sem refino.

E gerar caixa.

Somas elevadas.

A república dos acionistas ganharia duas vezes.

Se a Petrobrás deixa de gastar como investidor universal da exploração, com pelo menos 30% em cada poço, como manda a lei, sobra mais para distribuir dividendos aos detentores das carteiras.

Que ganhariam de novo se o petróleo fosse bombeado direto para fora do país, sem alimentar impulsos industrializantes, sem expandir polos tecnológicos, sem engatar cadeias de equipamentos com elevados índices de nacionalização e prazos mais largos.

Entre os favorecidos nessa elipse do interesse nacional, figura a família Marinho, dona do jornal Valor, juntamente com os Frias, e um dos maiores acionistas da Petrobras.

Transitamos, como se vê, no campo da injeção de interesses direto na veia do noticiário.

Nesta 6ª feira foi a vez do ataque especulativo contra o câmbio.

O chamado ‘over shoot’ do dólar – uma desvalorização abrupta e pronunciada– vem sendo urdido em ladainha, há várias semanas, pelo mesmo noticiário especializado .

A esperança, confessa, é que o ajuste cambial — que o país precisaria fazer para devolver competitividade a sua indústria e refrear o déficit externo — desembeste.

E ocupe o lugar do tomate no jogral do ‘descontrole dos preços’, lubrificando a defesa do choque redentor dos juros .

O conjunto atenderia ainda à determinante política do mutirão conservador, que consiste em decretar o necrológio do governo Dilma, com injeção de algum oxigênio às candidaturas anêmicas da oposição tucana.

Fatos.

As moedas emergentes – todas elas – perderam valor no mundo nesta 6ª feira.

Motivo: a expectativa de uma mudança de ciclo econômico mundial, com a recuperação dos EUA.

O BC norte-americano pode apertar um pouco menos o espirrador de liquidez por lá, se a recuperação, de fato, acelerar o passo de forma consistente (hipótese ainda controversa).

Se isso acontecer, os juros norte-americanos tendem escalar níveis capazes de gerar uma fuga de investidores do resto do mundo, Brasil inclusive.

Os juros futuros dos títulos do Tesouro dos EUA flexionaram nessa direção na 6ª feira.

Mas não há fuga de investidores do Brasil, por enquanto.

Nem há razões para tal. Ao contrário.

A brasileira foi uma da raras economias ocidentais cujo consumo de massa se manteve em expansão durante a crise.

Ademais de ser dotada de um robusto pacote de investimentos pesados. E de um fiador de futuro composto de bilhões de barris de petróleo.

O que fez a ganancia infecciosa nesta 6ª feira foi aproveitar a onda externa e ‘antecipar’ o cenário de uma fuga, precificando-o nas cotações do dólar.

O que eles querem?

Querem que o Brasil atue para apagar o fogo da avidez, dando um pedaço das reservas de US$ 380 bi à fome descabida aos mercados especulativos.

É agora ou nunca.

A verdade é que o mote do descontrole econômico, alardeado como a contra-face ‘estrutural’ dos protestos de junho, não pegou.

Fanhosas apresentadoras de refogados na TV foram para o sacrifício, pendurando legumes no pescoço.

O ridículo lhes cai bem, mas não prosperou: em julho, houve deflação de alimentos.

O custo da cesta básica caiu em 18 capitais. A indústria cresceu.

O PIB se arrasta, mas estamos longe do alarmismo inscrito no noticiário.

A popularidade da Presidenta Dilma desenhou uma inflexão de alta em agosto.

Segundo o Datafolha, ela vence qualquer adversário no 2º turno.

O conservadorismo, ao contrário,mimado pela mídia, não tem nenhum candidato de fôlego.

Seu núcleo duro foi atropelado pelas revelações de corrupção sistêmica no metrô de São Paulo.

Se é para tirar uma lasca do país, há que ser agora, na turbulência que o ajuste de ciclo internacional provoca nos portfólios especulativos.

Depois pode ficar tarde.

Um jornalismo rudimentar no conteúdo, ressalvadas as exceções de praxe, mas prestativo na abordagem, reveste esse assalto com uma camada de verniz naval de legitimidade incontrastável.

A crise mundial açoitou impiedosamente a sabedoria excretada dessa endogamia entre o circuito do dinheiro especulativo e o noticiário conservador.

Para dizê-lo de forma educada, a pauta dos mercados autorregulados revelou-se uma fraude datada e vencida.

De um mundo que trincou e aderna, desde setembro de 2008.

Todavia, só se supera aquilo que se substitui.

E nada se colocou em seu lugar.

Ao que parece, o governo continua a acreditar que vencerá a luta pelo desenvolvimento brasileiro armado de ferramentas exclusivas do paiol economicista.

Deixa, assim, o campo livre para o mercado fazer política, na companhia desfrutável do jornalismo especializado.

Tirando uma lasca do Brasil, em nome dos interesses particularistas. Que a mídia equipara aos de toda a sociedade.

Publicado originalmente no site Carta Maior.

Fonte: Viomundo

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1302

Leia também:http://saraiva13.blogspot.com.br/2013/08/campanha-o-petroleo-tem-que-ser-nosso.html?

spref=twhttp://www.brasildefato.com.br/node/17840#.UhDaWvsVWUE.twitter


http://blog-sem-juizo.blogspot.com.br/2013/08/midia-e-justica-democracia-interrompida.html

http://www.viomundo.com.br/politica/andre-singer-coalizao-rentista-foi-as-ruas-reagir-contra-dilma.html

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ora, então que aumentem o depósito compulsório!

25/07/2013 - Paulo Kliass (*) - do site Carta Maior

Por mais que esperneiem os chapabranquistas inveterados e os governistas de maneira geral, o fato é que a atual conjuntura econômica carrega consigo um grau razoável de incerteza e de insegurança.

Dessa forma, apontar os equívocos da política econômica não pode ser confundido com as críticas apresentadas pelo conservadorismo e pelo financismo, que buscam soluções ainda mais ortodoxas do que as já conservadoras medidas que têm sido implementadas pela equipe econômica.

Pelo contrário, trata-se aqui de apontar caminhos que permitam à nossa sociedade reencontrar o caminho do desenvolvimento sustentável em termos econômicos, sociais e ambientais.

Permanecer calado ou fazer o ilusório jogo do contente é a pior contribuição que se pode oferecer para essa mudança necessária.

Notícias preocupantes: crescimento do PIB, setor externo e emprego

É bem verdade que não estamos ainda em um quadro de recessão ou de estagnação econômica, apesar das expectativas de crescimento do PIB para esse ano se apresentarem como muito mais modestas do que as taxas inicialmente previstas pelo governo.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias, encaminhada pelo Executivo ao Congresso Nacional em meados do ano passado, por exemplo, mencionava um crescimento do PIB de 5,5% em 2013.

Hoje em dia, integrantes do próprio Ministério da Fazenda reconhecem que o simples fato de se atingir 2% já pode ser objeto de comemoração.

As estatísticas relativas ao setor externo também são fonte de preocupação.

Apesar da manutenção de superávit na Balança Comercial (diferença entre o total de exportações e importações), a cada mês revela-se mais instável a situação da chamada conta de Transações Correntes, onde são computados os valores relativos às movimentações de natureza financeira do setor externo.

Para o primeiro semestre desse ano, por exemplo, o déficit foi de US$ 43,5 bilhões, um valor 73% mais elevado do que o do mesmo período do ano passado.

Apesar da folga relativa proporcionada pelo elevado estoque de nossas reservas internacionais (US$ 374 bi), o quadro começa a ficar tenso também nas contas externas.

A recente divulgação dos dados oficiais a respeito da dinâmica do emprego também aponta uma criação líquida de postos de trabalho ainda positiva.

O Relatório do CAGED relativo ao primeiro semestre, no entanto, demonstra que os 826 mil postos criados representam um índice 30% inferior ao desempenho do mercado de trabalho observado no período janeiro-junho do ano passado.

Ou então, um crescimento quase 50% inferior aos dados observados para o emprego ao longo do primeiro semestre de 2011.

A conclusão a se tirar é que a economia ainda cresce, mas a uma passada perigosamente mais lenta do que o ritmo observado nos anos anteriores e mais devagar do que o previsto pelo próprio governo.

O equívoco das medidas conservadoras do governo
O cardápio de medidas apresentadas e adotadas pela equipe de Dilma até o momento, no entanto, tem sido muito influenciado pela orientação do conservadorismo.

Em um quadro sensível como esse que vivemos, o governo tenta se vangloriar com um discurso que clama pela austeridade fiscal, que propõe cortes nas despesas públicas, que generaliza a concessão de isenções tributárias ao grande capital, que se orgulha pela geração de superávit primário e que tem provocado a elevação da SELIC durante as últimas 3 reuniões consecutivas do Comitê de Política Monetária (COPOM).

Ora, elas são o tipo de medida que incentiva a paralisia e não a busca do salto para frente, a saída para a crise.

A pretexto de tentar se sair bem na foto e demonstrar uma suposta “seriedade” na condução da política econômica, o que se consegue é promover a aproximação do Brasil às zonas perigosas da retração do nível de atividade.

Porém, os setores ligados aos interesses do capital financeiro não se dão jamais por satisfeitos. Insistem, persistem e repetem “ad nauseam” suas formuletas, supostamente as únicas eficientes para assegurar o equilíbrio macroeconômico.

O mais interessante é que seu raciocínio sempre termina com a exigência pura e simples de uma elevação da taxa de juros. E ponto final!

Em conjunturas passadas, por exemplo, o argumento esgrimado para que Henrique Meirelles mantivesse a SELIC na estratosfera se ancorava na suposta necessidade de oferecer alta rentabilidade ao capital especulativo internacional e assegurar um fluxo de ingresso de recursos externos em direção às nossas praias.

Já nos tempos mais recentes, o argumento utilizado para pressionar por novos aumentos da taxa oficial a cada nova reunião periódica do COPOM tem sido o eterno risco de retorno da inflação.

A manutenção do “tripé” e os juros elevados

Toda a ação no campo da economia está orientada pelo paradigma do famoso “tripé da política econômica”, em vigência desde a edição do Plano Real em 1994.

Criado para tentar por fim à espiral inflacionária que assolava o Brasil há muito tempo, o modelo pressupunha:
a) meta anual de inflação a ser cumprida pelo governo, com um índice como centro (atualmente fixada em 4,5% ao ano) e uma diferença de 2% para cima e para baixo;
b) geração de superávit primário para pagamento de juros e serviços da dívida pública;
c) liberdade de fluxo de capitais externos e na formação da taxa de câmbio.

A variável sobre a qual o governo menos tem capacidade de influenciar é o ritmo de crescimento dos preços.

Os modelos de macroeconomia que embasam esse tipo de ajuste encaram a inflação como sendo um problema de descompasso entre oferta e demanda de bens e serviços no conjunto da sociedade.

Em razão da livre ação das forças no mercado, um determinado volume de demanda agregada maior do que a oferta agregada pode significar fator de desequilíbrio.

Em tais circunstâncias, esse fenômeno tende a provocar preços mais altos nos mercados de bens e serviços, em comparação ao que seriam em situação de suposto equilíbrio.

De acordo com esse raciocínio, caberia à política monetária entrar em ação com o intuito de retirar recursos dessa pressão da demanda sobre a oferta. Esse seria o caminho para reequilibrar os preços de uma forma geral e evitar a inflação. E aqui entra o pulo do gato da política monetária contracionista.

A hipótese subjacente é que a elevação dos juros operaria como atrativo para parcela desses recursos da demanda, que deixariam de se dirigir ao consumo de bens e serviços e seriam reorientados à poupança, em busca da maior rentabilidade oferecida pelos títulos no mercado financeiro.

Como se pode perceber, trata-se de um mundo completamente idealizado, bastante distante da realidade concreta vivida pela maioria da população de um país chamado Brasil no ano de 2013.

As pressões inflacionárias mais recentes não serão resolvidas apenas pelo fato do COPOM aumentar a SELIC, pois a maior parte da pressão sobre a demanda vem de setores que nem tem essa capacidade toda de poupança e muito menos que deixariam de consumir para aplicar seus recursos em títulos oferecidos pelas instituições financeiras.

É o caso típico da tão famosa “inflação do tomate” de alguns meses atrás. Os preços recuaram pela dinâmica cíclica da produção e oferta de determinados alimentos.

O “esquecimento” de uma alternativa: depósito compulsório

Mas então, vá lá, sejamos generosos e vamos conceder um crédito a essa hipótese equivocada - que o problema seja realmente o excesso de demanda agregada e que ela deva mesmo ser reduzida.

Nesse caso, qualquer manual básico de macroeconomia tradicional oferece uma alternativa à elevação da taxa de juros para se obter o mesmo resultado de redução da pressão da demanda sobre a oferta.

Trata-se do aumento da alíquota do depósito compulsório.

O interessante é que nenhum desses sábios do financismo - que enchem a boca para defender maior rigidez na condução da política monetária – menciona essa alternativa a ser utilizada pelo governo.

O depósito compulsório é um instrumento já existente na regulamentação de nosso sistema financeiro e prevê que os bancos sejam obrigados recolher junto ao Banco Central um percentual de todos os seus depósitos.

A ideia é evitar que os bancos emprestem a terceiros um volume muito grande dos recursos que ali são depositados.

Esse mecanismo de controle sobre a chamada “criação monetária” pelo sistema bancário permite, assim, atuar sobre a quantidade de recursos que são canalizados para consumo. Com isso, tem-se uma redução da massa monetária disponível para a demanda agregada.

Atualmente, por exemplo, a alíquota de recolhimento compulsório sobre os depósitos à vista nas instituições financeiras é de 44%. Em outros tempos, já foi bem maior.

No primeiro semestre de 2003, por exemplo, estava em 60%. Em 1999, oscilou entre 65% e 75%. Ou seja, há espaço para uma eventual mudança.

Assim, se o governo pretende realmente “enxugar a liquidez”, como se diz no jargão do economês, ele pode aumentar o nível do depósito compulsório, ao invés de continuar elevando a taxa oficial de juros. O efeito sobre a redução da demanda agregada será no mesmo sentido.

E a maior parte da sociedade ficará agradecida, uma vez que não haverá o enorme impacto negativo sobre as despesas financeiras do orçamento do Estado.

Resta saber se há disposição da equipe de Dilma em contrariar os interesses da banca e liberar recursos para despesa orçamentária nas áreas sociais e não para gastos parasitas com o financismo.

(*) Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6210

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O fim da era rentista

01/02/2013 - O forte apache das tesourarias
- Saul Leblon - Carta Maior

A tesouraria é o forte apache do capitalismo desregulado. E o centro logístico da oposição conservadora no Brasil.

Tesouraria é o espaço físico. O departamento que cuida de maximizar os ganhos do capital a juro. Mas também é a palavra símbolo de uma lógica que disputa a hegemonia da política econômica. 

Na ciranda da tesouraria embalam-se os interesses das grandes corporações – bancos ou grupos empresariais, locais e globais.

Ademais da insaciável legião dos acionistas, cuja pátria são os dividendos.

O conjunto movimenta riquezas apreciáveis. 

Fundos de aplicações financeiras registraram um giro de R$ 2,4 trilhões no Brasil em 2012. 

O valor equivale a mais da metade do PIB em direitos sobre a riqueza real.

Não é um país à parte, embora se avoque mordomias, soberania e imunidades equivalentes às de um poder paralelo. 

Pelotões de estrategistas, exércitos de consultores, inteligência acadêmica, bancadas legislativas, mídia e aliados internacionais mantêm-se e são mantidos a seu serviço.

Em prontidão permanente. 

Diária.

Para assegurar à riqueza financeira ganhos de rentabilidade inexcedíveis em qualquer outro setor econômico. Aqui e alhures.

O governo Dilma vem tornando difícil a vida das tesourarias no Brasil.

O rebate é forte.

O inconformismo escorre do noticiário econômico para os espaços onde os cifrões são traduzidos em 'projeto de país'. E daí estampados em colunas, editoriais, discursos, candidaturas amigáveis aos mercados. 

Com propriedade o ministro Paulo Bernardo carimbou na rebelião das tesourarias um adesivo certeiro: "o partido do juro alto"

Aécio Neves com seu aparato de "professores-banqueiros" colou-o na testa.

A tesouraria prepara-se para 2014, mas ainda não em campo aberto. 

Droners controlados à distância cuidam do bombardeio.

A meta é implodir a costura de uma política econômica que busca promover a eutanásia do rentista em duas frentes.

Seccionando linhas de alimentação do capital fictício com juros baixos e IOF alto, de um lado.

De outro, abrindo frentes de infraestrutura e mantendo o consumo de massa aquecido, na indução de um ciclo de investimento com maior igualdade social.

Busca-se um país que o Brasil nunca foi de verdade.


O governo cutuca placas tectônicas.

Com um juro básico em 7,25%, uma inflação em torno de 5,5%, mais impostos, obter ganho real nas aplicações financeiras deixou de ser mamão com açúcar.


O que está em jogo não é algo trivial. 

Trata-se de mudar as condições de financiamento da economia.

E os objetivos do desenvolvimento.

Aconteceu antes, em 32 e 53 – quase como uma revolução burguesa à revelia das elites; foi feito sob o patrocínio do capital estrangeiro em 55; reprimido em 64; ordenado ditatorialmente contra o povo nos anos 70 e terceirizado aos livres mercados nos anos 90.

A seta do tempo vive um novo estirão.

Luta-se para consolidar uma nova hegemonia ancorada nas energias, demandas e protagonistas que iniciaram a longa viagem à procura de um Brasil inédito, a partir das greves metalúrgicas do ABC paulista, nos anos 70/80. 

Um passaporte da travessia é regenerar a base industrial brasileira. E tampouco aqui é contabilidade.

Trata-se de um requisito para gerar empregos e salários de qualidade; ademais de receita fiscal compatível com investimentos sociais, ambientais e logísticos que uma cidadania plena reclama.

Estabilidade ancorada em juro baixo e câmbio desvalorizado (para impedir importações devastadoras da produção local) é uma receita mortal para a riqueza financeira.

Seu habitat é o jogo intertemporal incessante em que presente e futuro se fundem na busca do rendimento alto e constante.

Todo o círculo de interesses que orbita em torno dessa roleta está em pé de guerra contra o governo.

À falta de um horizonte volátil, semeia-se um ambiente político de beligerante 'desconfiança'. 

Do forte apache partem mísseis com alvos selecionados. 

A saber: 

I) "a ameaça inflacionária voltou: com juros baixos, salários, emprego e crédito em alta, em contraposição à oferta rígida de bens – um reflexo do baixo investimento –, a disparada dos preços é inevitável"

É uma meia verdade. A inflação encontra-se estável, com os preços no atacado em queda. E o investimento é uma batalha em curso. A rigidez por enquanto é mais um alarmismo que o jogral rentista quer transformar em profecia autorrealizável.

II) "o governo fracassou em expandir o investimento em infraestrutura". 

Também uma verdade parcial, descontextualizada. Esquece-se de que o Estado foi desmontado nos anos 90 e sistematicamente acuado para não se reerguer –coisa que vem sendo feita com acanhamento. Ainda assim, em 2012 o investimento público cresceu 13%; o PAC acionou R$ 40 bi em obras. 

III) "a política econômica intervencionista gera incertezas e trava a retomada do crescimento". 

Capcioso. Até o FMI admite que a santíssima trindade ortodoxa feita de meta de inflação pautada pelo mercado financeiro, superávit fiscal rígido e câmbio livre pode e deve ser adequada às necessidades contracíclicas do desenvolvimento.

Mas a fuzilaria não vai parar. 

Quem perdeu a doce vida de dividendos médios de 19% ao ano (fruto predominante da especulação em bolsa e não da produtividade), e viciou na roleta generosa, de juros três vezes acima da inflação, não vai largar o osso pacificamente.

Por trás dos ganidos emitidos pela mídia, há um cachorro grande a latir grosso.

É o forte apache das tesourarias. 

Sob risco de se mistificar o protagonismo da mídia, seu nome não pode mais ser omitido quando se denuncia a narrativa do golpismo.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1184

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo: Lula reabre o calendário das ruas

20/12/2012 - Saul Leblon em seu Blog das Frases
- Carta Maior



[Há um ano, quando Lula completava seu primeiro ano fora do governo, destacamos aqui em  "Lula e um canto de um herói", alguns dos momentos e seus significados, quando  de sua passagem pelo Planalto. 

Decorridos mais 365 dias, nosso olhar se desliga agora do passado e se volta para o futuro, apresentando-lhes este texto. Como o autor, desejamos aos leitores uma boa leitura e um FELIZ ANO-NOVO.
(Equipe Educom)

Recorrente, como um soluço no imaginário social, o milenarismo não contagia apenas mentes ingênuas e visões de mundo primitivas.

Autoridades e forças políticas muitas vezes se comportam também como peças de uma inexorável mecânica de desfecho datado e irreversível.

O milenarismo tem origem numa contabilidade religiosa fatídica: um milênio sob Cristo; depois, o Diabo.

Às vezes o fatalismo pega carona em 'sinais' correlatos, como agora. Interpretações apocalípticas, ou apenas oportunistas, anunciaram o fim do mundo neste dia 21 de dezembro de 2012, ao término do 13º giro, de 393 anos cada, do calendário maia.

Na concepção religiosa original um círculo iniciado há milhares de anos se fecha. Reabre-se um novo.

Para o milenarismo ligeiro é o apocalipse, o fim, a tragédia. Contra ela não há apelação. É esperar e sucumbir.

A concepção da história como um destino que caminha para o esgotamento, um fio de azeite sugado no miolo do pão, ressurge não raro quando massas de força de aparência incontrolável conduzem a humanidade a um horizonte engessado, como que desprovido da dialética.

A crise sistêmica do capitalismo, blindada desde 2008 pelo poder de persuasão do seu aparato ideológico, encerra certo incentivo ao desespero milenarista.

A percepção do matadouro existe; seus contornos se estreitam. Alternativas são desautorizadas. O velho aparato interdita a busca de novos caminhos.

Instituições são capturadas pela crise; a sociedade é destituída das suas salvaguardas. Governantes mugem como gado no rumo do abate. Pode ser no próximo ajuste. Ou nas urnas.

Seria preciso reformar as instituições democráticas para enfrentar a abrangência e a profundidade de uma crise como a atual.

O dispositivo midiático cuida de interditar esse debate. E toma a lição de casa a cada dia. No café da manhã, à tarde e na sabatina da noite.


Como discutir novos caminhos e repactuar consensos se o espaço da liberdade de expressão foi congestionado pelo monólogo da reiteração conservadora?

A pergunta argui o milenarismo de governos que aceitam as limitações institucionais com a mesma fatalidade dos que aguardam o apocalipse no fecho do círculo maia.

A economia brasileira é parte indissociável dessa paralisia mundial.

A travessia iniciada em 2008 avançou do arcabouço neoliberal para um modelo de desenvolvimento em que o comando do Estado subtraiu algum espaço à supremacia financeira asfixiante.

A redução de cinco pontos nas taxas de juros em 12 meses abalou o chão firme do dinheiro grosso.

Hoje ele anda em círculos diante da encruzilhada: ou derruba o governo e sobe a Selic; ou comete a eutanásia do rentista e se transfigura em capital produtivo, como aconselhava Keynes, que não era um bolchevique.

A supremacia financeira uiva, ruge e manda recados, em idioma local e forâneo. Fica bem pedir a cabeça de Mantega em inglês. Ou elogiar o sultanato do judiciário incentivando prisões de petistas antes do Natal.

O fim de 2012 marca a intersecção dessas travessias e impasses.

A redução imposta às taxas de juros dará ao Estado brasileiro uma folga da ordem de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em 2013. Dinheiro subtraído ao rentismo à disposição do investimento público.

O governo poderá destiná-lo a desonerações fiscais e a investimentos em infraestrutura. Poderá beneficiar as condições de vida da população e a engrenagem da produção.

O governo Dilma só não pode desmoralizar o comando estatal das finanças com dinheiro parado no cofre.

Os anos 90 criaram no Brasil um monumento neoliberal.
Um Estado feito para não funcionar.

Uma engrenagem desprovida de agilidade, sem quadros de ponta capaz de ativa-la, necrosada na capacidade de planejamento, corroída na gestão operacional; drenada pelo rentismo; sem fundos públicos suficientes e carente de legitimidade política.

Muita coisa mudou para melhor em 10 anos de gestão petista - sobretudo na esfera das políticas sociais.

Mas a joia do legado tucano não foi superada, está longe de sê-lo e se engana quem pretender que o seja apenas com o lubrificante da boa gestão -indispensável, mas insuficiente.

Criou-se neste país um Estado anti-estatal. Um aparato esquizofrênico que se acanha de si mesmo, fatiado em normas labirínticas que exaurem o impulso do desenvolvimento em vez de alimenta-lo.

O que trava o passo seguinte da economia hoje no Brasil não é a falta de recurso, mas a falta de poder de comando do Estado.

O milenarismo economicista deduz daí que não há alternativa à restauração privatista.

O fato, porém, é que sob a névoa da maior crise do capitalismo em 80 anos, a iniciativa privada não vai a lugar nenhum sem a indução estatal do comboio.

Desobstruir o Estado - despi-lo dos torniquetes neoliberais - seria encrespar ainda mais o embate político num calendário já congestionado pela largada eleitoral de 2014, argumenta-se.

A essa altura pode ser verdade. Mas à contabilidade dos interditos vem somar-se as operações conjuntas - bem sucedidas - das togas, da mídia e demais interesses contrariados nessa transição. O espaço se estreita de forma exasperante.

É esse o objetivo conservador.

A areia da ampulheta empurra o país para o escrutínio político dos conflitos.

2013 será um longo e sanguinário ensaio de 2014.

Insistir na inércia fatalista é quase um contrato de pronta-entrega da cabeça ao matadouro.

A opção à paralisia converge cada vez mais para quatro letras que romperam seu ostracismo no vocabulário do PT e de ministros próximos a Lula nos últimos dias: ruas.

Coube ao ex-presidente da República nesta quarta-feira - às vésperas do 'fatídico' 21-12-2012 - dar a esse resgate vernacular a dimensão de um compromisso que reabre o calendário das ruas na história brasileira.

Em discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula anunciou um novo ciclo ciclo de mobilizações, cujo esgotamento havia sido perigosamente incorporado à visão fatalista da crise dentro e fora do governo.

De volta à estrada, Lula despacha o Ano Velho e anuncia a pauta do Ano Novo:

"No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país. Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade."
(Lula, na posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, 19-12-12).

Feliz 2013.

Fonte:
http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1160

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Brasil perdeu o charme, diz o rentismo

10/12/2012 - Saul Leblon - Carta Maior

Razões intrínsecas ao modo de produção singularizam a economia em nosso tempo com uma concentração da riqueza financeira proporcional ao agigantamento global da reprodução capitalista.

Não existe, não existirá outro equivalente econômico que rivalize com o poder de comando criado em torno dessa engrenagem. Sua negação terá que ser construída na esfera da democracia e do Estado.

É a essência da crise atual.

O crédito se notabiliza como a viga estrutural da escala assumida pelo hegemonia financeira. Mas é só um pedaço do poder de comando sistêmico exercido pela finança que a distingue como o setor mais poderoso e organizado da economia.

Por "poder de comando sistêmico" entenda-se a hegemonia de um aparato que inclui a gestão da riqueza entrelaçada à propriedade dos meios de produção, mas que vai além revestindo essa posse de salvaguardas institucionais, bem como do poder de sujeição, capacidade de influência e iniciativa que, somadas, firmam um sinônimo daquilo que se entende por dominação social.

Gestores, analistas, mídia, acadêmicos, institutos de pesquisa, think tanks, bancadas parlamentares, a robusta categoria dos consultores (e sua inesgotável bateria de 'estudos' a colonizar redações obsequiosamente receptivas), ademais das articulações internacionais e do controle de amplos segmentos do Estado servem à engrenagem que impulsiona e sustenta o poder do capital a juro entrelaçado às corporações produtivas.

Não são as necessidades do desenvolvimento ou as da sociedade que comandam esse processo. É o inverso.

E esse inverso está sendo afrontando no Brasil na sua autonomeada prerrogativa de ditar a remuneração do capital a juros e os rumos da economia.

Contrariar essa lógica não é algo que se faça a frio: não se trata de questão técnica.

Ela confronta uma escolha de sociedade e um escrutínio sobre quem deve assumir o comando do seu desenvolvimento e do seu destino.

Desde 2008, com a mudança nas relações de forças decorrente da crise global, o Brasil tem aproveitado a margem de manobra para mitigar esse domínio. Inicialmente, com a determinação de criar a menor área de atrito possível.

O governo Dilma foi além das negociações protocolares.

Este ano as taxas brasileiras foram colocadas nos níveis mais baixos da história. Com o nada desprezível poder de indução dos bancos públicos, tenta-se agora dobrar a banca privada no braço de ferro do corte nos spreads e no custo das tarifas - ambos persistem obscenos.

No 3º trimestre os bancos brasileiros tiveram uma queda de lucros de 31% em relação a igual período de 2011.

Nada que ameace a gordura acumulada nas muitas vezes em que o ventre protuberante dos banqueiros locais depositou suas credenciais na liderança mundial da lucratividade financeira.

Mas o fato é que uma queda de 31% nos lucros é suficientemente dura para gerar animosidade na turma dos acionistas e da aristocracia engravatada.

Gestores de carteiras que desfrutam de suculentos bônus anuais, uma bolada extra que pode representar o equivalente a 50 salários em troca de metas e saldos, terão que reduzir as expectativas a partir de agora.

Segundo o jornal Valor desta 2ª feira [10/12]:
"Executivos do setor financeiro devem ter uma redução entre 10% e 30% nos bônus que serão pagos em 2013, relativos a resultados de 2012".

Motivos:
"A pressão por spreads menores nos bancos, a dificuldade que as 
instituições estão enfrentando para gerar rentabilidade em um cenário de juros mais baixos e o impacto da crise financeira lá fora são fatores que devem segurar os bônus dos executivos de finanças este ano", explica ao Valor, Bernardo Cavour, diretor da Flow para o segmento de bancos e private equity"

Há uma outra forma de ver a coisa. Ela evidencia o embate silencioso entre os sócios do rentismo e o esforço de construção de uma política ativa de desenvolvimento para o país no pós-neoliberalismo.

Ou, como preferiu dizer de forma mais técnica a Presidenta Dilma, em seu discurso no Encontro Nacional da Indústria (05-12-2012):

"Vivemos um período de transição, um período no qual os investimentos do setor real da economia tenderão de ser mais atrativos que as demais oportunidades de investimento (financeiro); o Banco Central conseguiu realizar um movimento cauteloso na direção (dessa) mudança macroeconômica ( ...) que é estratégica".

Em resumo, o ajuste global ganhou aqui um impulso ordenado pela determinação política de reduzir a lucratividade desfrutada durante anos pelo capital financeiro. E induzir os investidores a migrarem para os segmentos e projetos da esfera produtiva. Uma travessia de certa forma inspirada naquilo que Keynes prescrevia como 'provocar a eutanásia do rentista' - a sua transmutação em capital produtivo.

Se não o fizer o Brasil naufragará junto com as economias mundiais conflagradas pela desordem neoliberal e soterradas no ajuste que recorre ao mesmo veneno.

A aristocracia das gravatas & cifrões rastreia o ambiente e se remexe inquieta.

O noticiário econômico é farto em motivações para inquietar traseiros longamente modelados em assentos de couro.

O Citigroup vai demitir 11 mil funcionários no mundo (4% da folha); 14 agências vão cerrar as portas no Brasil; o Santander pode demitir 5 mil funcionários no país, etc.

Seria importante se algum curso de jornalismo se dispusesse a centimetrar quanto do noticiário econômico e das colunas ditas especializadas, tem sido ocupado por críticas, 'estudos', projeções e 'advertências' (ameaças?) originárias do aparato ideológico construído em torno da endogamia entre juros siderais e bônus milionários.

Serviçais do teclado e dos microfones farejam o filão e babam ao vivo, ao mesmo tempo em que respingam sofreguidão nos textos.

O episódio da The Economist - que pediu a demissão do ministro Mantega - é só a cereja desse bolo ainda em fermentação.

Uma coisa é certa, a gigantesca massa de forças reunida em torno desses interesses mais que nunca está à campo, pautando e martelando a mídia amiga.

E não é para elogiar o Brasil, que perdeu o charme, dizem as análises isentas. Menos ainda para tornar mais leve a segunda metade do mandato da Presidenta Dilma, a partir de 2013. A ver.

Fonte:
http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1153

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