12/12/2012 - por Luiz Carlos Azenha em seu blog Viomundo
Na política brasileira, até parece que o mundo vai acabar.
Independentemente do conteúdo das denúncias, o timing levanta suspeitas: julgamento do mensalão durante o período eleitoral, denúncias envolvendo funcionária pública ligada a Lula logo depois da vitória de Fernando Haddad em São Paulo e depoimento de Marcos Valério acusando Lula no que já parece ser a campanha de 2014.
Primeiro José Dirceu, depois Lula, em seguida Dilma…
Mas os ataques ao ex-presidente são os que mais podem afetar o futuro do PT.
Foi Lula, afinal, quem elegeu dois “postes” contra todas as previsões da mídia.
Apesar de todas as denúncias, o Partido dos Trabalhadores cresce seguidamente desde 2002.
A partir de janeiro de 2013 voltará a governar o maior orçamento municipal, o de São Paulo.
A oposição encolheu.
Corre o sério risco de perder o governo do estado de São Paulo em 2014 e Dilma Rousseff é favorita para se reeleger em 2014.
O quadro político altamente polarizado não é exclusivo do Brasil.
Se você analisar detidamente os processos de mudança em curso na América Latina verá que situações paralelas à nossa, vividas na vizinhança, também envolveram as chamadas dores do parto.
Na Venezuela a elite local, tradicionalmente associada aos Estados Unidos, inventou um locaute, a paralisação da principal artéria do país (a petroleira PDVSA) e um golpe cívico-midiático-militar.
Na Bolívia houve o levante de Santa Cruz de la Sierra.
Na Argentina houve os caminhonaços.
No Equador, uma revolta de policiais.
A mídia associada a Washington teve e continua tendo papel relevante na reação à ampliação de direitos em geral — particularmente os trabalhistas — na região.
No Brasil, de tradição conciliadora na política, houve menos confrontos abertos. Mas o que foi a cobertura dos escândalos em 2005 que não uma tentativa de impedir a reeleição de Lula em 2006?
Fez isso com um estilo político que eu chamaria de pêndulo. Fazendo concessões ora à direita, ora à esquerda. Formando, lentamente, consensos em torno de políticas públicas.
- Lembram-se como era a reação ao Bolsa Família no primeiro mandato de Lula?
- E às cotas raciais?
- E aos direitos indígenas, especialmente durante o debate sobre a demarcação da Raposa/Serra do Sol em Roraima?
- E aos aumentos reais do salário mínimo?
Muitos dos argumentos usados então contra as políticas de Lula hoje soariam bizarros. Tanto que foram descartados. Restou à oposição o mar de lama, que não tem nada de original na nossa história.
E, no entanto, em todos os debates fundamentais acima citados as propostas do PT acabaram vingando.
Não sem múltiplas concessões, refletindo a estratégia petista de enfraquecer a oposição “por dentro”. Hoje não seria surpresa se Kátia Abreu assumisse um ministério no governo Dilma. Há quem sustente que em nome da governabilidade o PT ficou muito parecido com tudo aquilo que combateu no passado.
Seja como for, o comodismo político do partido tem uma explicação óbvia: funcionou política e eleitoralmente até agora.
O partido cresceu. Tem mais orçamento sob sua administração que nunca.
Enquanto recebeu benefícios das políticas econômica e social, o povão ficou majoritariamente ao lado de Lula.
A novidade é o aprofundamento da crise econômica internacional e seus reflexos no Brasil.
Desde 2002 o PT nunca governou sob a ameaça de uma crise prolongada ou de crescimento econômico medíocre de longo prazo.
A expansão de direitos promovida por Lula se deu num quadro em que os empresários nacionais se beneficiaram diretamente do crescente mercado interno. Agora, eles enfrentam retração no mercado internacional e redução da margem de lucros.
Notem como a redução dos direitos sociais é vendida pela mídia como solução para as crises da Europa e dos Estados Unidos. Os jornais alemães deitaram e rolaram denunciando que a crise na Grécia teria sido provocada… pelos próprios gregos. A Europa mediterrânea seria “preguiçosa”, “gastadora”, “ineficiente”. Nos Estados Unidos o programa de saúde aprovado pelo presidente Barack Obama foi taxado de “socialista” pela Fox News. Um gasto desnecessário de um governo inchado, argumentava o Tea Party.
A crise que nasceu da desregulamentação dos mercados financeiros e se aprofundou com a transferência de trilhões de dólares em dinheiro público para os banqueiros agora é atribuída… àqueles que pagaram a conta.
Não surpreende, portanto, que empresários brasileiros que se acomodaram com os governos petistas agora se voltem para uma opção mais “eficiente”, que é justamente o mote com o qual o senador Aécio Neves vem se vendendo. É o neoliberalismo na versão light.
O partido é suficientemente “confiável” para promover o esgarçamento dos direitos sociais antevisto pelo empresariado como necessário à competitividade internacional e à retomada das margens de lucros?
Independentemente da resposta, parece estar claro ao governo Dilma que a retomada do crescimento robusto é essencial para a sobrevivência do lulismo nos moldes em que ele se instalou no Planalto.
O risco para o futuro do PT não está no STF, mas na crise econômica, se as concessões do partido à direita implicarem em freada brusca na sensação de avanço social da maioria.
Os saudosistas querem vê-lo militando como nos anos 80. Ao partido no poder nunca interessou fazer marola, especialmente quando ele cresceu sem fazer marola, ainda que na defensiva.
Portanto, se o Brasil retomar o crescimento econômico robusto acredito que teremos adiante mais do mesmo: desespero de um lado, comodismo do outro. Evidentemente, com os trancos que tanto animam a blogosfera.
Fonte:
http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/desespero-de-um-lado-comodismo-do-outro.html
Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.