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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desespero de um lado, comodismo do outro

12/12/2012 - por Luiz Carlos Azenha em seu blog Viomundo


Na política brasileira, até parece que o mundo vai acabar.

O julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal e as renovadas denúncias contra o ex-presidente Lula demonstram que a oposição está fazendo o que restou a ela fazer no Brasil: política.

Independentemente do conteúdo das denúncias, o timing levanta suspeitas: julgamento do mensalão durante o período eleitoral, denúncias envolvendo funcionária pública ligada a Lula logo depois da vitória de Fernando Haddad em São Paulo e depoimento de Marcos Valério acusando Lula no que já parece ser a campanha de 2014.

Primeiro José Dirceu, depois Lula, em seguida Dilma…

Mas os ataques ao ex-presidente são os que mais podem afetar o futuro do PT.

Foi Lula, afinal, quem elegeu dois “postes” contra todas as previsões da mídia.

Apesar de todas as denúncias, o Partido dos Trabalhadores cresce seguidamente desde 2002.

A partir de janeiro de 2013 voltará a governar o maior orçamento municipal, o de São Paulo.

A oposição encolheu.
Corre o sério risco de perder o governo do estado de São Paulo em 2014 e Dilma Rousseff é favorita para se reeleger em 2014.

O quadro político altamente polarizado não é exclusivo do Brasil.

Se você analisar detidamente os processos de mudança em curso na América Latina verá que situações paralelas à nossa, vividas na vizinhança, também envolveram as chamadas dores do parto.

Na Venezuela a elite local, tradicionalmente associada aos Estados Unidos, inventou um locaute, a paralisação da principal artéria do país (a petroleira PDVSA) e um golpe cívico-midiático-militar.

Na Bolívia houve o levante de Santa Cruz de la Sierra.

Na Argentina houve os caminhonaços.

No Equador, uma revolta de policiais.

A mídia associada a Washington teve e continua tendo papel relevante na reação à ampliação de direitos em geral — particularmente os trabalhistas — na região.

No Brasil, de tradição conciliadora na política, houve menos confrontos abertos. Mas o que foi a cobertura dos escândalos em 2005 que não uma tentativa de impedir a reeleição de Lula em 2006?

E, no entanto, Lula se reelegeu. E elegeu Dilma. E elegeu Fernando Haddad.

Fez isso com um estilo político que eu chamaria de pêndulo. Fazendo concessões ora à direita, ora à esquerda. Formando, lentamente, consensos em torno de políticas públicas.

- Lembram-se como era a reação ao Bolsa Família no primeiro mandato de Lula?
- E às cotas raciais?
- E aos direitos indígenas, especialmente durante o debate sobre a demarcação da Raposa/Serra do Sol em Roraima?
- E aos aumentos reais do salário mínimo?

Muitos dos argumentos usados então contra as políticas de Lula hoje soariam bizarros. Tanto que foram descartados. Restou à oposição o mar de lama, que não tem nada de original na nossa história.

E, no entanto, em todos os debates fundamentais acima citados as propostas do PT acabaram vingando.

Não sem múltiplas concessões, refletindo a estratégia petista de enfraquecer a oposição “por dentro”. Hoje não seria surpresa se Kátia Abreu assumisse um ministério no governo Dilma. Há quem sustente que em nome da governabilidade o PT ficou muito parecido com tudo aquilo que combateu no passado. 

Seja como for, o comodismo político do partido tem uma explicação óbvia: funcionou política e eleitoralmente até agora.

O partido cresceu. Tem mais orçamento sob sua administração que nunca.

E terá muito mais em 2013. O PT é o principal gestor da modernização conservadora.

Enquanto recebeu benefícios das políticas econômica e social, o povão ficou majoritariamente ao lado de Lula.

A novidade é o aprofundamento da crise econômica internacional e seus reflexos no Brasil.

Desde 2002 o PT nunca governou sob a ameaça de uma crise prolongada ou de crescimento econômico medíocre de longo prazo.

A expansão de direitos promovida por Lula se deu num quadro em que os empresários nacionais se beneficiaram diretamente do crescente mercado interno. Agora, eles enfrentam retração no mercado internacional e redução da margem de lucros.

O lulismo como fiador da conciliação de classes corre risco.

Notem como a redução dos direitos sociais é vendida pela mídia como solução para as crises da Europa e dos Estados Unidos. Os jornais alemães deitaram e rolaram denunciando que a crise na Grécia teria sido provocada… pelos próprios gregos. A Europa mediterrânea seria “preguiçosa”, “gastadora”, “ineficiente”. Nos Estados Unidos o programa de saúde aprovado pelo presidente Barack Obama foi taxado de “socialista” pela Fox News. Um gasto desnecessário de um governo inchado, argumentava o Tea Party.

A crise que nasceu da desregulamentação dos mercados financeiros e se aprofundou com a transferência de trilhões de dólares em dinheiro público para os banqueiros agora é atribuída… àqueles que pagaram a conta.

Tal é o poder da mídia associada ao capital financeiro.

Não surpreende, portanto, que empresários brasileiros que se acomodaram com os governos petistas agora se voltem para uma opção mais “eficiente”, que é justamente o mote com o qual o senador Aécio Neves vem se vendendo. É o neoliberalismo na versão light.

De repente, o PT se vê diante da encruzilhada.

O partido é suficientemente “confiável” para promover o esgarçamento dos direitos sociais antevisto pelo empresariado como necessário à competitividade internacional e à retomada das margens de lucros?

Independentemente da resposta, parece estar claro ao governo Dilma que a retomada do crescimento robusto é essencial para a sobrevivência do lulismo nos moldes em que ele se instalou no Planalto.

O risco para o futuro do PT não está no STF, mas na crise econômica, se as concessões do partido à direita implicarem em freada brusca na sensação de avanço social da maioria.

Como escrevi anteriormente, o PT é hoje o partido do establishment.
Os saudosistas querem vê-lo militando como nos anos 80. Ao partido no poder nunca interessou fazer marola, especialmente quando ele cresceu sem fazer marola, ainda que na defensiva.

Portanto, se o Brasil retomar o crescimento econômico robusto acredito que teremos adiante mais do mesmo: desespero de um lado, comodismo do outro. Evidentemente, com os trancos que tanto animam a blogosfera.

Porém, no quadro de incertezas atual, não deixa de ser estranho o imobilismo do PT diante da campanha eleitoral antecipada da oposição que, de olho em 2014, morre de medo do Lula.

Fonte:
http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/desespero-de-um-lado-comodismo-do-outro.html

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.

sábado, 14 de abril de 2012

O contador e as fitas que estão por aí

13 de abril de 2012 às 14:12 - Amedrontar e circunscrever [título original do post]
por Luiz Carlos Azenha - Blog Viomundo

A Globo pediu acesso a todos os documentos da Operação Monte Carlo, que resultaram num processo que corre em segredo de Justiça, no STF. A Carta Maior também pediu. O acesso foi negado a ambos.

Demóstenes Torres, como parte envolvida, teve acesso.


Curiosamente, por pura coincidência, depois que isso aconteceu sobrou para Protógenes Queiroz, Agnelo Queiroz e a construtura Delta — a construtora do PAC, grita O Globo –, que também seria a favorita de Sergio Cabral.

O objetivo que precede a CPI é jogar a rede o mais amplamente possível, suscitar medos e, ainda que não impeça a Comissão, domá-la desde o início.

Al Capone não faria melhor.


Faz sentido a notícia de que a tática dos acusados seria a de não falar absolutamente nada durante os depoimentos, deixando a bomba explodir no colo dos políticos e agentes públicos convocados.

Não digo que a tática vá funcionar, mas que faz sentido divulgar a suposta tática agora, colocando minhoca na cabeça dos deputados e senadores antes que eles criem a CPI.

Mas será que eu assino esta CPI, que pode se voltar contra quem a criou?

O movimento inclui jogar Lula — que apóia a CPI — contra Dilma que, segundo a Folha de S. Paulo, teme a investigação.

Mas, será que teme mesmo?

O movimento inclui dizer que o PT pretende usar politicamente a CPI para cercear a liberdade de imprensa.


Compreendam: a mídia corporativa tem muito a perder com a CPI do Cachoeira. Pela primeira vez na história da República, o grande público terá acesso aos métodos aplicados em nome do “jornalismo investigativo” e à relação entre arapongas e redações. São estes métodos que garantem à mídia ascendência sobre políticos e agentes públicos e, portanto, atendimento a importantes interesses econômicos. Ou vocês acreditam que os tucanos alimentam a mídia paulista por achá-la boazinha?


Além disso, as capas bomba da revista Veja eram repercutidas automaticamente, sem qualquer questionamento. A bola rolava na revista, era impulsionada pelo JN de sábado e ganhava as páginas de O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo já no domingo. A ordem era repercutir, repercutir, repercutir. Se possível, com novos ângulos e novas investigações. O mar de lama, curiosamente, só banhava uma praia.

Não foi por acaso que nada menos que quatro senadores se negaram a relatar as acusações contra Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado, Lobão Filho (PMDB-MA), Ciro Nogueira (PP-PI), Gim Argello (PTB-DF) e Renan Calheiros (PMDB-AL). O que Demóstenes teria guardado contra eles?

Sobrou para o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE).

Costa, lembrem-se, foi acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, que atuou no Ministério da Saúde desde “o governo anterior”, como em priscas eras o JN se referia ao governo de FHC. Em 2006, na semana que antecedia o primeiro turno das eleições, o Jornal Nacional noticiou com destaque o indiciamento dele — que era candidato a governador de Pernambuco — no inquérito, ao lado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Mas a lista de indiciados era muito mais longa e incluía gente próxima do ex-ministro José Serra, como Platão Fischer-Pühler — Serra concorria ao governo paulista. A lista completa dos indiciados, disse Fátima Bernardes naquela ocasião, você vê no site do Jornal Nacional.

Posteriormente, Costa foi inocentado de todas as acusações. Mas, em 2006, nem chegou ao segundo turno.

Se a CPI sair — só acredito vendo –, vai nascer amedrontada.


Tem muita gente com muito a perder. Ou será que teremos um acordão no fim-de-semana? É esperar e ver…


PS do Viomundo: Fonte bem informada, que nunca nos decepcionou, diz que o homem-chave continua foragido, o contador de Carlinhos Cachoeira, Giovani Pereira da Silva. Giovani, diz a fonte, guardava num cofre as fitas produzidas pela arapongagem a serviço de Cachoeira. Nos próximos dias podem vazar fitas, que serão atribuídas ao inquérito mas na verdade são do arquivo de Cachoeira. A própria fonte, no entanto, disse que às vezes é impossível discernir quem está a serviço de quem, no submundo de Brasília. Há, segundo ele, brincando, “agentes duplos, triplos e quadrúpedes”.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pinheirinho, um especulador, um rapper e uma reintegração de posse

Do blog Viomundo

"Caro Azenha:
Aqui no Vale do Paraíba paulista o caso mais absurdo do momento se refere à desapropriação da área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos.
Desde 1994, 1.500 famílias (cerca de 5000 pessoas) ocuparam uma área pertencente à massa falida de uma empresa [As terras pertenceriam a empresa Selecta, do empresário e especulador da Bolsa de Valores, Naji Nahas]
Desde o início, estas famílias fizeram a proposta de comprar lotes, mas em nenhum momento houve ajuda da Prefeitura (comandada pelo PSDB há muito tempo). Representantes do Governo Federal e Estadual se reuniram com moradores, OAB, igrejas, mas ninguem da prefeitura. Agora foi expedida ordem de reintegração de posse.
O risco de confronto é real. Divulgar o caso é fundamental para que não ocorra um massacre !!!"


A Rua é Nóiz - sugerido por Igor Felippe

A partir da foto acima, do Estadão, que mostra os moradores do bairro de Pinheirinho, em São José dos Campos, preparados para enfrentar a reintegração de posse, o rapper Emicida escreveu em seu blog A Rua é Nóiz:

"Senti orgulho de ver nossos irmãos no front e tristeza pela situação em si, que ainda muito se repetirá por nosso país. Meu desejo com este texto e com estas palavras, é enviar-lhes força, pois partilhamos do mesmo sonho, um Brasil sem desigualdade social, onde não exista tanta terra na mão de tão pouca gente, um país onde os mais pobres não tenham que pagar com o que não tem, pelas ideias bilionárias de quem pouco se importa com quantas vidas serão destruídas pela construção dos alicerces de seus edifícios. E ainda chamam isto de progresso! Na verdade até é: o termo progresso possui uma conotação ambígua, o que nos resta é lutar para que o termo possa ser empregado mais vezes com um sentido positivo.

Esta semana, coincidentemente, recebi o email de um companheiro do MST que me enviou a letra de “Num É Só Ver”, dizendo como esta letra trabalhava o tema com perfeição. Sincronicidade é foda! Nossos corações estão ligados a um mesmo sonho, a uma mesma luta, é involuntário que nossas poesias sejam um espelho disto.

Muito amor e todo apoio ao povo do Pinheirinho." (A Rua é Nóiz." - Emicida)


Num é só ver
(Rael da Rima/ Emicida)

Empresários perdem milhões
Pobres acham, devolvem
Barões matam nações
Que se refazem, se movem
Manipulam informações
Fodem!
Grandes populações
Que não se envolvem
Trancados em mansões
É, eles podem
Seguros das monções
Oh right, no problem
Epidemias, liquidações
Dormem pessoas simples nos barracões
Orem
Calam manifestações
Protesto: morador empunha espada improvisada (Nilton Cardin/AE)


Olhem
Por cifras, com vidas
Não estranhe que joguem
Atrás de notícias compradas
Se escondem
Sem dó tiram comida
De outro homem
Artistas fazem rir
Presidentes fazem chorar
Tiros são barulhentos
Mas não impedem de escutar
O canto dos que lutam pelo povo
Sempre vivo
Gente louca faz música
Gente séria explosivo.



Hoje, 17/01/2012, Justiça suspende reintegração de posse do Pinheirinho, em São José dos Campos. Portal R7, Agência Record

Desde 2004 moradores resistem no local


Moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, comemoraram uma liminar emitida pela Justiça Federal, durante a madrugada desta terça-feira (17), suspendendo temporariamente a operação de reintegração de posse na ocupação.


Comemoração: suspensa reintegração de posse.
Nelson Antoine/Fotoarena/AE


Cerca de 1.800 policiais militares, incluindo homens da Cavalaria e do Canil, chegaram a cercar o terreno de 1 milhão e 300 mil metros quadrados, mas não entraram.

A área foi ocupada irregularmente em 2004 por uma comunidade ligada ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto (MTST). Pelo menos 1.600 famílias, totalizando mais de 5.500 pessoas, vivem no local.

Na semana passada, um "exército" de moradores exibiu armas e escudos para resistir à ordem da Justiça. A entrada do assentamento segue sob vigilância. Um grupo de moradores de Pinheirinho fez uma manifestação na manhã de sexta-feira (13/01) contra a reintegração de posse do terreno. Na mesma manhã, representantes do acampamento se reuniram com membros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e com lideranças sindicais para tentar definir o futuro dos moradores da área.

De acordo com o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), representantes de 18 sindicatos, além de movimentos sociais, partidos políticos e entidades estudantis participaram de um ato em solidariedade ao Pinheirinho também na sexta-feira, em frente à ocupação. Cerca de 500 moradores estiveram na manifestação.

A ordem de reintegração de posse foi assinada pela juíza Márcia Loureiro, da 6ª. Vara Cível de São José dos Campos, em meio a negociações de acordo já iniciadas pelos governos federal, estadual e municipal. O maior impasse entre as esferas do governo está nas mãos da prefeitura de São José dos Campos, que se recusa a inscrever a ocupação no Programa Cidade Legal, o primeiro passo para a regularização da área.