quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Uma sociedade de matadores

17/12/2012 - Mauro Santayana em seu blog

Uma sociedade que envia seus jovens ao mundo inteiro para matar, em nome dos negócios, não pode espantar-se com os massacres de seus adolescentes e suas crianças, como o de Columbine, e o de anteontem [14/12], em Newtown, em Connecticut.

Muito da cultura norte-americana tem sido, desde a guerra deliberada contra os índios e o avanço para o Oeste, uma cultura da morte.


Para formar exércitos de assassinos, é necessário adestrar  seus possíveis integrantes para matar sem vacilações.

Para isso é preciso criar os mitos, como os do heroísmo, da coragem, da ousadia, da força física, da astúcia dos predadores, contra os povos indefesos do mundo inteiro.

É preciso reduzir o homem ao réptil que foi na origem dos tempos.

Ao mesmo tempo, essa sociedade tem dado ao mundo excepcionais pensadores, escritores e cineastas que, de certa forma, procuram compensar a brutalidade construída para a defesa dos poderosos titãs das finanças e das corporações industriais que, há mais de cem anos, vem conduzindo a economia e a política internacional, em seu proveito.


A ideia de matar é estimulada nos americanos desde a infância.

Na adolescência, a arma de fogo, para muitos, é símbolo da masculinidade.

E esse apego à violência e ao sangue tem sido exportado ao mundo inteiro pela sua fantástica indústria do entretenimento, na literatura, no cinema e, mais recentemente, nos jogos eletrônicos e nos enlatados da televisão.

A intimidade com o sentimento da morte gera também o medo, o pânico, e a vontade paranoica do suicídio.


Todos os massacres nos Estados Unidos, e os que se repetem, por emulação, quase sempre terminam com a morte ou o suicídio dos assassinos.


O massacre de sexta-feira foi o mais pavoroso dos últimos anos.

Como lembrou o presidente Obama, as crianças jamais conhecerão a adolescência, a alegria do amor da paternidade e da maternidade.


Morreram por nada e, por nada, morreu o assassino.


Não há mais, no mundo, espaço para a segurança e a paz. A pequena cidade onde houve a tragédia era um oásis de sossego em Connecticut, um pequeno estado da Nova Inglaterra preferido por intelectuais e artistas americanos.



Nos últimos dez anos, de acordo com as notícias, nela só houve um homicídio.


Preocupam-se muitos em salvar os animais em extinção, como os primatas, as serpentes, os tigres. É bom que sejam salvos: habitam o nosso mesmo mundo.

Mas o homem já se encontra em extinção há muito tempo, esvaziado que se encontra do humanismo que o distinguia da vida selvagem.


Estamos voltando à pré-história, mas dotados de fuzis, metralhadoras, mísseis e armas nucleares.


Ainda estamos chorando as crianças mortas, mas se o mundo continuar assim, de nossos olhos não descerão mais as lágrimas do sofrimento.


Fonte:
http://www.maurosantayana.com/2012/12/uma-sociedade-de-matadores.html

Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, não constam do texto original.