Uma investigação de diversas organizações não governamentais, entre elas a britânica Platform, aponta que a gigante do petróleo Shell pagou milhares de dólares a grupos clandestinos rivais na Nigéria, causando uma série de conflitos regionais. A empresa estaria relacionada a diversos casos de violação dos Direitos Humanos no delta do rio Niger, região densamente habitada que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
A investigação inclui testemunhos de gerentes da própria Shell e mostra que forças do governo contratadas pela empresa também agiam com violência contra civis locais, incluindo torturas e execuções sumárias.
Segundo o diário britânico The Guardian, organizações de Direitos Humanos no delta alegam ter visto testemunhos e contratos implicando a empresa em recompensas regulares a esses grupos. Em um caso de 2010, a transferência da petrolífera teria passado de 159 mil dólares (cerca 290 mil reais), usados, de acordo com um membro da gangue ouvido pelo jornal, para comprar munições e itens para o conflito.
Os pagamentos teriam provocado rixas entre grupos paramilitares em busca do dinheiro da empresa. Para a Platform, haveria grande probabilidade de a Shell saber que suas contribuições na cidade de Rumuekpe estavam sendo usadas para fins de guerra.
A empresa retira da região aproximadamente 100 mil barris de petróleo por dia, cerca de 10% de sua produção no país. Os pagamentos, entre outros aspectos, mantinham os óleos dutos livres de ataques e eram feitos aos grupos que detivessem o controle do local, por meio de um fundo de desenvolvimento comunitário.
Mortes
A disputa pelo dinheiro da Shell aumentou a briga pela liderança entre os grupos locais, matando cerca de 60 pessoas entre 2005 e 2008, além de gerar deslocamentos internos, agravamento da pobreza e doenças.
Além disso, o relatório aponta que deslocados de vilarejos foram caçados e mortos na capital do estado de River, Porto Harcourt. Eles teriam sido assassinados em suas casas, escolas e locais de trabalho.
A Shell é acusada de não ter dado atenção ao caos, uma vez que suas operações não sofreram interrupções. Segundo o Guardian, a mídia repercutia os conflitos e membros da comunidade escreveram à empresa pedindo o fim dos pagamentos.
A petrolífera alega que as afirmações são inverídicas e os casos analisados, antigos e sem fundamento. Porém, afirmou que estudará as recomendações da organização, a fim de encontrar uma solução para os problemas.
Fonte: Redação Carta Capital de 3 de outubro de 2011