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domingo, 29 de novembro de 2009

Essas eleições não serão reconhecidas e não calam a resistência de Honduras



Infelizmente para a causa da democracia e das liberdades, para a luta pela América Latina livre, unida e soberana, infelizmente para Honduras, dentro de algumas horas serão realizadas eleições em um país sem Judiciário independente, sem imprensa livre, com censura, assassinatos e outras perseguições. É injusto, absurdo. Ainda que os Estados Unidos de Obama e dona Hillary Clinton apoiem este verdadeiro crime, ainda que a Organização dos Estados Americanos esteja tentadíssima a ceder ao bajulador de Washington no poder em San José, é preciso resistir. Não basta o povo boicotar as "eleições". Não basta o Brasil e mais alguns pouquíssimos países se recusarem a aceitar o inaceitável. A luta precisa continuar dentro e fora de Honduras. Veja a seguir, em textos e vídeos, a história de um golpe de Estado covarde, chamado por alguns, reivindicando-se "imprensa livre", de crise constitucional...

HONDURAS – AMÉRICA LATINA LIVRE*

BOLETIM DE LUTA – 28/11/2009

Tirzo Tarriuz e Marco Fonseca, membros da RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA, estão desaparecidos desde a noite de sexta-feira, dia 27. Estavam hospedados no Hotel Caribe, na Costa Norte de Honduras.

Movimentos internacionais pelos direitos humanos começam a se mobilizar para evitar que, tal e qual tem acontecido sistematicamente desde o golpe de julho que depôs o presidente constitucional do país Manuel Zelaya, seja torturados e assassinados pelo regime golpista controlado pelos Estados Unidos.

As prisões em Honduras, às vésperas das eleições de cartas marcadas, para legitimar o golpes, estão sendo marcadas por intensa e violenta ação dos militares hondurenhos, agentes da CIA lotados na base norte-americana em Tegucigalpa e agentes israelenses do MOSSAD, muitos deles no cerco à embaixada do Brasil, onde está o presidente Zelaya.

Um acidente com um caminhão militar que transportava urnas e cédulas já muitas delas preenchidas com o nome do candidato oficial, Porfírio Lobo, incendiou-se e morreram soldados que estavam no veículo.

A população está sendo coagida a comparecer amanhã aos locais de votação e as ameaças vão desde perda de emprego, prisões, confisco de bens e pequenas propriedades.

Em todo o país o regime de terror é coordenado a partir do comandante da base militar norte-americana na capital hondurenha, que é também o comandante em chefe das forças armadas do país, inteiramente subordinadas às políticas golpistas dos EUA e com militares ligados ao tráfico de drogas.

A base militar dos Estados Unidos em Honduras existe desde a formação de grupos no governo Reagan para lutar contra a revolução sandinista na Nicarágua e agora treina militares de todos os países latino-americanos com capital em Washington e sob comando do Pentágono para golpes preventivos, como o presidente Obama chama a derrubada ou tentativa de presidentes que contrariem interesses do seu país, mesmo que sejam eleitos pela vontade popular.

Brasil, Venezuela, Paraguai, Argentina, Equador, Bolívia, Nicarágua, Guatemala e Uruguai já anunciaram que não vão reconhecer as eleições em Honduras. Há todo um esforço do governo dos EUA para fazer parecer que se exerce a democracia ali.

É a mesma democracia da prisão de Guantánamo (que Obama disse que fecharia e mentiroso contumaz não fechou), ou dos crimes contra o povo afegão e o saque do petróleo iraquiano, além de ameaças ao Irã.

O poder imperial se espalhando pelo mundo.

O povo hondurenho resiste e continua a luta pela refundação do país sem norte-americanos, sem sionistas de Israel e pela vontade dos hondurenhos.

O PODER É DO POVO – ZELAYA É O PRESIDENTE

RESISTIMOS À BRUTALIDADE MILITAR E DOS EUA
*movimento hondurenho de resistência ao Golpe de Estado

"Os EUA não cumpriram com sua palavra", diz Zelaya
do Portal Vermelho

A cinco dias das eleições, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, culpou, na última terça-feira (24), os Estados Unidos por sua mudança de posição com os golpistas. "Obama não só não priorizou a democracia em Honduras, mas também não priorizou a democracia na América Latina", disse ele nesta entrevista publicada no Página 12.

Manuel Zelaya tem todas as razões para estar irritado, mas não o demonstra. Atende o telefone da embaixada brasileira em Tegucigalpa com um tom amável, obliterado só pelo cansaço de quem vive preso e assediado há dois meses.

O presidente hondurenho derrubado perdeu a disputa e sabe disso. Quanto mais se aproximam as eleições de domingo, mais patente se torna a sua impotência. "Estamos na luta do mais forte, e na verdade não sabemos o que vai acontecer", reconheceu ontem pela tarde.

Ele não quer adiantar seus próximos passos, mas deixa todas as portas abertas. Nesta conversa com o jornal Página/12, ele não descartou o exílio, nem a negociação com o próximo presidente hondurenho. "Minhas diferenças são políticas, não pessoais", defendeu-se.

Minutos depois da entrevista, as organizações de direitos humanos hondurenhas confirmaram um novo assassinato, a cinco dias dos comícios. "A ditadura continua reprimindo a resistência. Hoje [terça-feira], um professor que havia sido preso pela polícia na segunda-feira apareceu morto. Como podem se chamar de líderes democráticos aqueles que calam e apoiam esse terrorismo de Estado?", sentenciou Bertha Oliva, veterana dirigente.

Segundo seus cálculos, Gradis Espinal, aposentado de 58 anos e pai de três filhos, é a vítima número 26 da ditadura. Nenhum dos principais meios de comunicação hondurenhos repercutiram a notícia, e a ditadura nem se pronunciou. "Nem todos têm as mesmas possibilidades nestas eleições", lembrou Zelaya. Confira a entrevista:

Página 12 - Finalmente, chegou-se ao pior cenário político: eleições sob a ditadura. Por que não se conseguiu a restituição? O que faltou?
Manuel Zelaya - Há um mandato da OEA, outro da ONU e o Plano Arias. Todos pediam a restituição para poder fazer eleições democráticas, em igualdade de condições. Todos pediam isso, mas não aconteceu. Não aconteceu porque os Estados Unidos renunciaram à sua posição, mudaram a sua prioridade, apoiaram as eleições sem restituição, e isso eliminou as possibilidades de restaurar a democracia hondurenha. Não só não priorizaram a democracia em Honduras, mas também não priorizaram a democracia na América Latina.

Página 12 - Eles cometeram erros nos últimos cinco meses?
MZ - As negociações avançavam, mas quando os Estados Unidos mudaram sua posição com relação à ditadura, tudo caiu. Foi isso que aconteceu.

Página 12 - O senhor acredita que o boicote eleitoral será suficiente para fazer com que o próximo governo se desequilibre?
MZ - É preciso se pronunciar contra o processo, que tem uma raiz ilegal, e nem todos temos as mesmas possibilidades. A democracia deve ser um acordo político para que todos possamos competir em igualdade de condições.

Página 12 - Não parece suficiente para desestabilizar o próximo governo...
MZ - Veja, estas eleições têm três elementos que as tornam únicas. Primeiro, é a primeira vez na América Latina que se realizam eleições depois de uma ditadura, sem um pacto social prévio. Segundo, as eleições foram convocadas sob um estado de repressão. E, terceiro, existe um grande temor de uma fraude eleitoral. São eleições frágeis e delas sairá um governo frágil.

Página 12 - Como continuará sua vida depois das eleições? Continuará na embaixada?
MZ - Estamos lutando por uma causa que não tem limites de tempo nem de espaço. Trata-se de sacrifícios e de continuar lutando pela liberdade, aqui ou onde quer que seja. Quando se perde o sistema democrático, perde-se o destino do país inteiro. Estamos lutando a luta do mais forte, e na verdade não sabemos o que vai acontecer.

Página 12 - Tentará dialogar com quem ganhar as eleições?
MZ - Eu me afastei politicamente deles porque apoiaram o golpe, não saíram em defesa da democracia e dos direitos humanos, como nós. Temos diferenças políticas, mas não pessoais.

Página 12 -Está pensando em exilar-se ou imagina continuar vivendo em Honduras?
MZ - Minha vida está sim nas mãos do general Romeo Vázquez Velázquez. Eu não me preocupo com isso. Ele decidirá o que eu posso fazer.

Página 12 - Mas o senhor está considerando o fato de se exilar?
MZ - Minha vida está ligada ao povo hondurenho e está orientada a lutar por uma causa, a da democracia e da liberdade hondurenha. Essa causa não tem um tempo, uma forma ou um lugar determinado. Isso não é importante.

Página 12 - Como ficou sua relação com o governo norte-americano depois de sua mudança em favor das eleições hondurenhas?
MZ - Todo o direito internacional dita que os Estados Unidos podem tomar a decisão que quiserem. Nós não questionamos sua soberania. Mas quando esse governo faz um trato comigo, eu tenho direito de reclamar. Sempre guardarei um respeito por essa nação livre, mas os Estados Unidos não cumpriram com sua palavra.

Página 12 - Obama havia lhe colocado condições para apoiar sua restituição?
MZ - Não, nenhuma. Prometeu a reenquadramento do sistema democrático antes das eleições, nada mais.

Página 12: - por que o senhor acredita que os Estados Unidos mudaram de opinião?
MZ - O senador De Mint disse isso muito claro. Eu não faço juízos, ele disse. Ele veio, como muitos outros republicanos, e falou com Micheletti. Depois, voltou para Washington e fez um acordo com o presidente Obama. Não é preciso especular muito.

Página 12 - Como os países latino-americanos deveriam agir com o próximo governo?
MZ - Além de impugnar as eleições, vamos pedir que sejam anuladas. Os países que se unirem não vão estar defendendo somente os direitos dos hondurenhos, mas também os de todos os latino-americanos.

Página 12 - Muito se discutiu sobre a polarização política que existia em Honduras antes do golpe. Se o senhor pudesse fazer alguma recomendação aos presidentes vizinhos para evitar uma situação similar, qual seria?
MZ - Quando um presidente quer corrigir a economia e torná-la mais justa, precisa fazer reformas que não são do agrado das transnacionais financeiras, de serviços e industriais. Minha recomendação para os presidentes que queiram bem, de verdade, os seus povos é que eles se mantenham firmes, mesmo que as velhas castas militares se mostrem ameaçadoras.

Democracia “a la Obama”
por Ernesto Germano Parés

No domingo, dia 22 de novembro, Barack Obama enviou uma carta ao presidente Lula. O jornal New York Times publicou parte da carta e ficamos sabendo que o governo estadunidense está apoiando as eleições do próximo domingo, em Honduras. Nas palavras de Obama, “a situação deverá começar de zero após a eleição”!

A pergunta que deveríamos estar fazendo é: começar de zero, como? Esquecer que houve um golpe que derrubou um presidente legitimamente eleito? Esquecer que os golpistas estabeleceram um Estado de terrorismo dentro do país, prendendo milhares de opositores e matando centenas de pessoas? Passando uma borracha no fato de os golpistas desprezarem e desconsiderarem todas as instituições internacionais que condenaram o golpe? Afinal de contas, não é o governo estadunidense o primeiro a gritar – quando é de seu interesse – que as instituições devem ser respeitadas?

Interessante é que nossa imprensa parece já ter esquecido os motivos do golpe em Honduras. Os golpistas alegavam que Manuel Zelaya estava tentando um golpe para se reeleger, o que não é verdade, como já demonstramos em artigo anterior. Mas a mesma imprensa não toca no golpe dado por Álvaro Uribe, na Colômbia, para concorrer a um terceiro mandato, quando não poderia ter disputado nem o segundo!

Democracia “a la Obama” é assim. Para o aliado que deixa montar sete bases militares em seu território é democrático rasgar a Constituição para concorrer a novo mandato!

Democracia “a la Obama” é assim. O presidente que foi eleito com uma expectativa mundial em torno do fato de ser negro retirou a delegação estadunidense do encontro da ONU contra o racismo porque não podia deixar seu aliado Israel ser julgado por crimes de racismo contra o povo palestino!

Democracia “a la Obama” é assim. O país que mais polui o planeta, responsável pelas maiores emissões de gás na atmosfera, retirou seus representantes do encontro sobre o aquecimento do planeta e, até hoje, não assinou o Protocolo de Quioto!

Democracia “a la Obama” é assim. Vende armas para Israel, concorda com o arsenal atômico daquele país, mas pretende impedir o Irã de desenvolver tecnologia nuclear para geração de energia!

Por fim, hoje tomamos conhecimento de mais um exemplo da democracia “a la Obama”. O voto nas eleições hondurenhas, domingo, não será secreto!

Isto mesmo! Segundo nota divulgada pelo Tribunal Eleitoral dos golpistas, cada eleitor hondurenho, ao chegar ao local de votação, receberá uma cédula numerada e codificada eletronicamente. A cada eleitor corresponde apenas um número e código! Depois, na apuração, poderão ser identificados todos os votos, inclusive quem votou branco, nulo ou escreveu alguma mensagem de protesto!

Isto é “democracia a la Obama”. E ele ainda diz que vai “começar do zero”? Talvez seja democracia-zero...

Veja este Dossiê do Golpe Oligárquico-Militar e as eleições espúrias em Honduras...




... este artigo publicado na página da Fundação Lauro Campos, que detalha as origens do golpe...
Ex-secretária de Allende: golpe é advertência para América Latina

... e apoie a luta do povo hondurenho pela volta do presidente constitucional, Manuel Zelaya, ao poder participando nestes blogs
Frente Nacional Contra el Golpe de Estado
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