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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dor, sofrimento e erro de cálculo

13/01/2012- Maria Inês Nassif - Carta Maior


A tal política de combate ao crack pela "dor e sofrimento", inaugurada pelo governo do Estado de São Paulo (aparentemente de forma coordenada com a prefeitura paulista), é mais um capítulo da política higienista que foi a marca dos governos José Serra e Gilberto Kassab na prefeitura da capital, nos últimos quase oito anos.
Maria Inês Nassif


Por qualquer ângulo que se analise, a tal política de combate ao crack pela "dor e sofrimento", inaugurada pelo governo do Estado de São Paulo (aparentemente de forma coordenada com a prefeitura paulista), é mais um capítulo da política higienista que foi a marca dos governos José Serra e Gilberto Kassab na prefeitura da capital, nos últimos quase oito anos; e é mais um episódio da opção preferencial do governador Geraldo Alckmin pelo uso da força policial, a exemplo do que aconteceu nas suas gestões anteriores (2001-2002 e 2003-2006).

A ação policial, enfim reconhecida como fonte de desgaste e abandonada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, não obteve nenhum resultado positivo. Foi simplesmente um ato de truculência. Os dois mandatários, do Estado e da capital, apenas conseguiram reforçar suas imagens de governantes conservadores, com o cerco e a agressão aos dependentes químicos da Cracolância paulistana - a chamada "Operação Centro Legal" -, o presente de Ano Novo da polícia paulista aos maltrapilhos que se aglomeram no centro da cidade para consumir a pedra.

Crianças, jovens e adultos, após o desalojamento e sem opção de moradia, de acesso a assistentes sociais ou a serviços de Saúde, formaram bat
alhões de zumbis que andavam sem rumo pela cidade. A "dor e o sofrimento", estratégia de combate à dependência química, não deu sequer a alternativa do tratamento das crises de abstinência, que devem ser avassaladoras em pessoas comprometidas com uma droga como essa: a rede pública não dispunha de vagas para atender qualquer tipo de demanda.

Do ponto de vista de política pública, a Operação Centro Legal foi repressão pura. Como política de assistência social, foi desassistência. E, do lado da Saúde, um reforço à doença. Não existe uma única qualidade na ação policial contra craqueiros, exceto as que dizem respeito aos interesses imobiliários de recuperação da zona central da cidade, o projeto Nova Luz, que derrapa na vizinhança de drogados e favelados. A Polícia tentou eliminar a comunidade de drogados pela força; a Prefeitura teve uma ajudazinha providencial, e quase simultânea à ação policial: o incêndio da Favela do Moínho, nas imediações.

A opção pela truculência no momento em que existe, de fato, uma tentativa de integração de políticas de desenvolvimento social e Saúde, nas três esferas de poder, às quais a ação policial seria apenas complementar, é inexplicável. Uma hipótese pode ser a tentativa do Estado e do Município, que são oposição ao governo federal, de se anteciparem ao programa federal, num ano de eleições municipais. Pelos resultados pífios da ação, imagina-se que nem a elite conservadora da cidade tenha gostado muito do desfile de zumbis do crack pelas zonas mais nobres. A outra é a de que a polícia fugiu ao controle da Secretaria de Segurança Pública e do próprio governador de Estado, e resolveu passear na Cracolância com balas de borracha e bombas de efeito moral por sua conta e risco. Isso não seria nada bom, do ponto de vista das instituições.

A última possibilidade é que se optou por uma política higienista que não pegou bem junto ao eleitorado que será chamado às urnas em outubro, no pior momento do bloco tucano-kassabista no Estado. Pela repercussão e resultados que teve, no mínimo o dono da ideia merece ser demitido. A ação policial apenas pegou mal.


(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.





terça-feira, 12 de outubro de 2010

E-mails da Prefeitura de São Paulo serviram para envio de boatos contra Dilma

Recebi de um amigo cópias de e-mails enviados pelo já famoso na web "Antonio da Ponte", com ataques à candidata presidencial Dilma Rousseff. A maioria das mensagens é risível, geralmente trazendo supostas transcrições de comentários de jornalistas influentes, mas cujos áudios ou vídeos nunca ou quase nunca batem com os textos. Em meio ao festival de baboseiras disseminado pelo senhor "da Ponte", todas com cópias para ou encaminhadas a partir de outros fakes como "Tânia Orquidácea" e "Joaquim Mesmo", me chamou a atenção um detalhe: a origem de um dos e-mails, apontando um trecho do documentário "Entreatos", de João Moreira Salles, como prova de que teriam surgido ali, em 2002, os esquemas de corrupção comandados por José Dirceu.

Mas... reparem no endereço eletrônico em detalhe. O e-mail "postmaster@prefeitura.sp.gov.br" soa familiar? Isso mesmo. Prefeitura de São Paulo.
O vídeo anexado à mensagem não prova nada. Mas o que chama a atenção é onde ele foi gerado e por quem. Por sinal, verificando outras mensagens semelhantes que me foram encaminhadas pelo tal "da Ponte" e que passaram por seus coleguinhas fakes - talvez sejam contas de uma mesma pessoa - percebi que todas vêm ou foram copiadas no meio do caminho por e-mails do servidor da prefeitura paulistana. Para explicar de forma simplificada, "postmaster@prefeitura.sp.gov.br" é o servidor para o acesso a contas de e-mail de todos os órgãos da prefeitura. Exemplo: o e-mail do CEU Água Azul é "smeceuaguaazul@prefeitura.sp.gov.br".

Vamos falar sobre a prefeitura paulistana e seu titular DEMotucano. O senhor Gilberto Kassab foi eleito em 2004 como vice na chapa de alguém que é hoje candidato presidencial. Esse candidato presidencial largou a prefeitura após 15 meses de mandato, mesmo jurando na TV - e até assinando documento em cartório - que cumpriria até o fim o mandato. O ex-prefeito foi mais um dos eleitos pelo PSDB em São Paulo que abriram as portas para a única possibilidade de o DEM ser poder na região sudeste: herdando o trono dos tucanos. Dilma, não se estressa. Processa. Em tempo, antes que o Antonio da Ponte, ou Joaquim Mesmo ou sejá lá como se chame mude de e-mail, seu IP é 189.33.117.189(Rodrigo Brandão - Equipe do Blog EDUCOM)

Post scriptum: será que Antonio da Ponte é um personagem fictício ou trabalha na Prefeitura de São Paulo? Nosso amigo parece ter bastante intimidade com o organograma da alcaidia paulistana...