19/12/2013 - Leandro Fortes - blog Limpinho & Cheiroso
Na hora em que o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, entregou o diploma a João Vicente, filho de Jango, todos aplaudiram, à exceção de três convidados e um deputado.
Os três convidados eram os comandantes das Forças Armadas do Brasil.
Por antiguidade: almirante Júlio Soares de Moura Neto, da Marinha; general Enzo Peri, do Exército; e brigadeiro Juniti Saito, da Aeronáutica.
O deputado, claro, era Jair Bolsonaro, essa patética figura que, a cada eleição, as viúvas da ditadura militar mandam para a Câmara.
Não houve, por assim dizer, nenhum ato de insubordinação dos comandantes militares.
Ninguém é obrigado a bater palmas para nada nem para ninguém, embora os três comandantes estivessem ao lado da principal convidada do evento, a presidenta Dilma Rousseff, comandante suprema das Forças Armadas.
Emocionada, Dilma [na foto com João Vicente Goulart], presa e torturada na ditadura, aplaudiu não apenas o ato em si, mas toda a simbologia envolvida, de repúdio a um regime que sufocou a democracia, torturou e assassinou brasileiros.
O que houve foi, além de um gesto combinado de má educação e mesquinhez humana, um sinal importante de que, passadas quatro décadas desde o golpe militar de 1964, a caserna brasileira continua alinhada à ideologia dos golpistas de então.
Todos os ministros civis da Defesa, inclusive o atual, Celso Amorim, têm ignorado esse fato, como se desimportante fosse.
Não é.
Nas escolas militares, uma geração vem contaminando a outra com doutrinas primárias, mas poderosas, oriundas dos tempos da Guerra Fria.
Baseiam-se, entre outras barbaridades, num anticomunismo tão anacrônico como risível, mas levado a sério como se o Brasil estivesse perto de virar uma nação soviética, em pleno século 21.
Ao se negarem a bater palmas para a memória de Jango [foto], presidente deposto por uma quartelada e, suspeita-se, assassinado no exílio, o almirante, o general e o brigadeiro deram um péssimo exemplo e envergonham a Nação.
Mas receberam elogios rasgados de seus camaradas de farda.
Deram, ainda, um recado errado aos jovens alunos e cadetes das escolas preparatórias e academias militares do País.
Já passou da hora de o governo intervir na formação dos futuros oficiais brasileiros e resgatá-los dessa armadilha ideológica alimentada por lideranças senis dos clubes militares.
Dominada por uma direita tacanha e obsoleta, a caserna precisa, com urgência, formar militares de esquerda.
Fonte:
http://limpinhoecheiroso.com/2013/12/19/leandro-fortes-as-almas-penadas-da-ditadura/
Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.