Na próxima semana, a humanidade comemora o aniversário da ONU, criada em 1948, para cuidar do diálogo entre os povos e da paz no mundo
20/10/2011
Marcelo Barros*
Na próxima semana, a humanidade comemora o aniversário da ONU, criada em 1948, para cuidar do diálogo entre os povos e da paz no mundo. Neste aniversário de 63 anos, o presente que a humanidade quer oferecer à ONU é a reforma de seus estatutos e que as Nações Unidas aceitem como membros, não só os governos, mas também a sociedade civil internacional.
Nestes dias, se completam dez anos da invasão do Afeganistão, realizada pelo governo dos Estados Unidos. O pretexto era a tal guerra preventiva e de que ali se escondia o Al Qaeda. Muitas pessoas inocentes foram assassinadas e o país inteiro destruído. Alguns anos depois, o presidente Bush teve de reconhecer que mentiu ou se enganou. Entretanto, tudo continuou como estava. Até hoje o país é ocupado por tropas estrangeiras. A ONU se pronunciou contra a invasão, mas nada fez para impedi-la. Também não denunciou a ilegalidade da invasão americana no Iraque, nem deixou claro que ao invadir o Paquistão, para assassinar Bin Laden, o presidente Obama se mostrou absolutamente igual ou mais ilegal do que o inimigo friamente massacrado. A recente recusa da ONU em reconhecer o Estado Palestino e assim assegurar a paz no Oriente Médio é mais um fato que revela a urgência de novas regras internacionais para o seu funcionamento e para que possa cumprir bem o seu objetivo de uma comunidade das nações.
Há quem pense que um assunto como este nada tem a ver com a fé e a espiritualidade. Entretanto, todas as grandes tradições espirituais mostram que Deus tem um projeto divino para o mundo e este projeto é a paz e a aliança (shalon) entre todos os seres humanos. Antigos escritos hindus dizem que o mundo inteiro deve ser uma só sangha, uma única fraternidade humana. Buda ensinava que o mundo deveria ser organizado a partir da compaixão, solidariedade com todos os seres vivos. O Corão propõe organizar o mundo a partir da justiça e da misericórdia. As tradições afro-brasileiras falam no Axé, energia vital de amor, como princípio organizador da sociedade. A Bíblia diz que Deus tem um projeto para o mundo: a organização da humanidade em uma só família humana. O Evangelho diz que Jesus morreu “para reunir na unidade todos os filhos e filhas de Deus dispersos pelo mundo” (Jo 11, 52). Paulo escreveu que, na cruz, Jesus aboliu o muro de inimizade que separava os povos e fez de povos diferentes um só povo (Cf. Ef 2, 13 ss). Hoje, a Carta da Terra afirma que, junto com todos os seres do planeta, somos uma só comunidade da vida.
Nestes dias, os meios de comunicação mostram, em vários países do mundo, manifestações da sociedade civil e principalmente da juventude pedindo outra forma de organizar o mundo. Nos últimos dias, somente nos Estados Unidos, marchas e manifestações pacíficas reuniram mais de 50 mil pessoas. Elas se manifestaram em 53 cidades e fizeram uma caminhada até Washington para protestar contra o fato do governo norte-americano agir, não como representante do povo e sim como mero funcionário dos grupos financeiros internacionais.
As transformações sociais e políticas, para serem profundas, devem ter como base uma profunda renovação cultural. Sem isso, as mudanças permanecem superficiais. Uma espiritualidade ecumênica e humana, não necessariamente ligada às religiões e sim à sacralidade da vida, ao respeito à natureza e à dignidade de todo ser humano, sem dúvida, serão fermento de um modo de organizar o mundo e a vida de forma mais justa e amorosa. Então, a ONU merecerá parabéns por seu aniversário e por ser sinal e instrumento de uma humanidade renovada.
Marcelo Barros é monge beneditino*
Fonte: Brasil de Fato