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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti – sério demais para Jobim brincar de general

por Laerte Braga*
O jornalista Gilberto Scofield, do jornal THE GLOBE – no Brasil O GLOBO – em contato telefônico com o noticiário EM CIMA DA HORA, edição das 20 horas de quinta-feira, dia 14 de janeiro, disse, entre outras coisas, que não viu as forças “humanitárias” das Nações Unidas coordenando qualquer operação de resgate de vítimas, socorro a desabrigados, feridos, distribuição de alimentos, água, remédios, que o caos é absoluto.

E um detalhe. Segundo o jornalista as forças “humanitárias” estavam guardando propriedades privadas. Não de trabalhadores haitianos, mas de banqueiros, empresários, figuras do governo e latifundiários.

O ministro da Defesa – presidente B do Brasil – Nelson Jobim, desceu de um avião da FAB vestindo um uniforme de campanha. A única campanha que o ministro conhece é a eleitoral. A chegada de Jobim, uma figura repugnante, foi documentada pela TV BRASIL como se fosse a descida de um messias a um país atingido por mais uma tragédia e com centenas de milhares de pessoas entre mortos, feridos e milhões de desabrigados.

Jobim quer ser vice de alguém, ou quer ser, se chance tiver, um eventual candidato a presidente da República. Foi lá para se exibir, ser filmado e não fazer coisa alguma.

O Haiti tem cerca de nove milhões de habitantes, é dominado por potências estrangeiras desde sua descoberta, em 1492 por Cristóvão Colombo e já foi a mais próspera colônia francesa na América.

Marcado por lutas pela independência, que nunca aconteceu na prática, é tratado como quintal pelos norte-americanos. Desde a posse de Lula o Brasil participa com o mais numeroso contingente de soldados que formam as chamadas “forças humanitárias da ONU”. E tem o comando dessas forças.

Os motivos para essa atual força de ocupação foram os de sempre. “garantir a paz mundial” e assegurar a construção de uma “democracia”.

A rigor não existem empresas haitianas, mas laranjas de companhias norte-americanas numa economia primária, onde os principais produtos de exportação são o açúcar, a manga, a banana, a batata doce e alguns poucos mais.

O projeto real de “reconstrução” do Haiti formulado no governo do presidente Bush implicava num centro têxtil com mão de obra barata – escrava – para concorrer com os produtos da indústria têxtil da China. O Brasil é parte desse projeto.

Na segunda metade da década de 50 do século passado o médico François Duvalier foi eleito presidente e instalou no país uma feroz ditadura, com apoio dos EUA (manteve intocados os privilégios de empresas daquele país) e governou até a sua morte em 1971, sendo substituído por seu filho Baby Doc. O pai ficou conhecido como Papa Doc.

Jean Claude Duvalier, o filho, ficou no poder de 1971 a 1986, quando foi deposto em conseqüência de revolta popular e interesses contrariados de militares haitianos. No regime de Papa e Baby Doc ficaram conhecidos os Tonton Macoutes (bichos papões), guarda pessoal dos dois ditadores e ligados ao culto Vudu.

É o país mais pobre das três Américas, um dos mais pobres do mundo e agora é hora dos show internacional humanitário.

O terremoto, evidente, ninguém pode evitar, escapa ao controle do homem, pelo menos por enquanto, mas a pobreza, a fome, as doenças, os altos índices de analfabetismo, toda a miséria poderia ter sido extirpada se as tais intervenções norte-americanas (agora de brasileiros também) tivessem de fato realizado aquilo a que se propunham e que era apenas o pano de fundo de um saque sistemático a um povo dilacerado em todos os sentidos, preservação de poderes e privilégios de elites econômicas estrangeiras.

Uma única guerra dessas que os EUA fazem a cada mês para “libertar” o mundo do “eixo do mal” daria, falo de recursos, para modificar a realidade haitiana.

Evo Morales e Hugo Chávez acabaram com o analfabetismo em seus países em menos de dois anos de programas sérios e vontade política.

Mas não é esse o propósito nem dos EUA e nem dos militares brasileiros. As tropas do Brasil apenas garantem a “ordem”, a propriedade privada, enquanto fazem de sua presença naquele país uma espécie de laboratório para novos métodos de repressão e brutalidade.

É sintomático, não é por acaso isso não existe, a presença de uma figura repulsiva como o ministro Nelson Jobim vestido de “general” e brincando de socorrer milhões de pessoas que sempre foram tratadas como escravas, gado, ao sabor das conveniências de colonizadores, norte-americanos e agora brasileiros.

O sorriso do ministro ao ser filmado em seu desembarque, imaginando-se um general Patton chegando a Berlim, é um escárnio diante de tanta dor e sofrimento imposto a um povo inteiro em toda a sua história por figuras como Jobim.

Causa asco imaginar que integra o governo Lula. Um Gilmar Mendes com um pouco mais de erudição (Gilmar não tem nenhuma).

A perda de Zilda Arns é dolorosa e traz um grande prejuízo ao Brasil e ao mundo. Irmã do cardeal Paulo Evaristo Arns (resistente contra a ditadura militar) foi responsável pela Pastoral da Criança, surgida nos tempos da teologia da libertação. Quando do governo FHC todos os recursos carreados pelo poder público federal ao grupo – Pastoral da Criança –, responsável entre outras coisas por acentuada queda nos índices de mortalidade infantil no Brasil, o eram via a mulher do ex-presidente, Ruth Cardoso. FHC chegou a dizer publicamente que “A Zilda é uma chata com esse negócio de querer dinheiro para a Pastoral”.

O Haiti é sério demais para que um político desqualificado e sem caráter como Nelson Jobim fique brincando de general. Em seguida às informações do jornalista Gilberto Scofield para o noticiário EM CIMA DA HORA, inclusive de “venda” de sacos de água a cidadãos famintos e sedentos pelas ruas da capital Porto Príncipe, logo após o sorriso de Nelson Jobim, a notícia que sete mil corpos haviam sido enterrados em valas comuns.

E com destaque, o show de Obama, numa das salas da Cervejaria Casa Branca, ao lado de seu vice-presidente e “principais” assessores e secretários. O dinheiro gasto numa guerra para controlar o petróleo do Iraque teria transformado o Haiti num país menos miserável e dado condições ao povo haitiano de construir seu futuro em cima de estruturas políticas, econômicas e sociais dignas.

As tropas estão, no entanto, garantindo a propriedade privada.

Jobim é o “general da banda”.

Pior que isso só o pastor Pat Robertson, republicano que disputou e perdeu as prévias – primárias – do seu partido. Disse na terça-feira, 12 de janeiro, que o Haiti é um “país amaldiçoado”, pois “fez um pacto com o diabo para se ver livre dos colonizadores franceses e o diabo aceitou”. Falou numa “propriedade privada”, sua rede de tevê. Nem William Bonner chegou a tanto, ficou só nas ranhuras das pistas do aeroporto de Congonhas.

Só falta o vereador Tico-Tico para "me ajuuuuudeeeem para que eu possa ajudaaaaar."
*jornalista e analista político

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Adeus, Zilda Arns

do Blog da Maria Frô
Hoje é um dia de luto. Luto para todos os humanistas.

No Brasil o Plano Nacional de Direitos Humanos III corre riscos de perder os avanços que representa, porque a ala mais conservadora da sociedade - parcela da Igreja Católica, parcela dos militares e parcela da mídia golpista - unem-se e ganham eco nos principais meios de comunicação concentrados nas mãos de poucas famílias que deturpam os princípios fundamentais que o plano carrega.

É vergonhoso assistir a este espetáculo de barbárie, desumano, de desinformação deformada, que expõe o que a cultura brasileira conservadora tem de pior: seus preconceitos contra os pobres, os negros, os homossexuais, as prostitutas, os indígenas os sem terra… que expõe a nossa veia autoritária que nega às pessoas uma vida plena de direitos. Vergonhoso querer negar aos brasileiros o direito à verdade de um tempo tão sombrio onde a truculência, a tortura e a exceção foram a regra.

Como se tudo isso não bastasse hoje, pela manhã, soube da trágica morte da Dra. Zilda Arns no terrível terremoto que abateu milhares de vidas no Haiti e afetou cerca de 3 milhões de pessoas em um país já tão destruído.

Soube também que um amigo de luta pela igualdade racial está enfrentando um câncer, a doença deste século e que não poupa aqueles que dedicam sua vida contra as injustiças. As tragédias não têm ideologia.

Comecei meu ativismo nas comunidades de base em fins da década de 1970 e princípios dos anos 1980. Convivi com padres humanistas que me emprestavam livros e tinham a paciência das pessoas sabidas em ouvir os mais jovens, orientá-los e ajudá-los na dolorida travessia da puberdade ao mundo adulto. Foi na igreja que fizemos reuniões contra a ditadura militar e em solidariedade aos mais pobres e necessitados e na luta por um planeta sustentável. Fiz parte da pastoral da juventude, quando a igreja estava respirando o sangue novo da teologia da libertação.

Foi também no contato com padres humanistas que me dei conta de que a dura realidade poderia ser transformada. Não tenho mais a fé genuína que tinha na adolescência, mas as lições humanistas permaneceram. O Cristo que me foi apresentado era um Cristo transformador, rebelde contra as injustiças, sempre ao lado dos mais pobres, não para conformá-los, mas para libertá-los para que lutassem contra a exclusão. Foi na pastoral da juventude que conheci a pastoral da criança.

Sempre acompanhei o trabalho de Zilda Arns que usou sua experiência profissional para junto com Dom Geraldo Majella combater a desnutrição infantil. Bons projetos são capazes de transformar as realidades mais duras: em 25 anos de existência a Pastoral da criança, presente em quase todos os municípios brasileiros, atendeu quase dois milhões de crianças e cerca de 1,5 milhão de famílias pobres.

Várias das práticas empreendidas pelos milhares de voluntários da Pastoral da Criança inspiraram projetos transformadores em prefeitos humanistas como a do médico Davi Capistrano, prefeito do primeiro governo petista de Santos.

Um destes projetos era o médico de família, que realizava visitas domiciliares, humanizava os enfermos, orientava as famílias e promovia uma recuperação mais rápida, diminuindo drasticamente o risco de infecção hospitalar.

Acompanhei de perto essas práticas na casa de minha mãe. Meu irmão Coca que devido a imensidão de remédios que toma e a falta de exercícios pela sua condição de cadeirante vivia e vive acometido de infecções. Estava grávida de minha filha, visitando a família em Santos e vi, várias vezes, como se dava a visita do médico de família. Um primor! Poucas vezes me senti tão cidadã como naqueles dias: delicadeza, atenção, competência, cuidados, médicos e auxiliares sem ranços, sem discurso competente imposto pelo saber inacessível aos pobres mortais.

Davi Capistrano e Zilda Arns, ambos médicos, ambos humanistas, ambos defensores dos direitos humanos, ambos militantes da saúde pública no país, lutadores pela implementação do SUS e que provaram que a medicina humanista é capaz não apenas de salvar vidas, mas de ampliar a cidadania.

Eles se foram cedo demais para tanta luta que temos pela frente, mas suas trajetórias nos deixam preciosas lições inspiradoras. Minha homenagem a esses seres de luz.

Informações referentes a cidadãos brasileiros no Haiti poderão ser obtidas junto ao Núcleo de Assistência a Brasileiros, nos seguintes telefones: (061) 3411.8803/ 8805 / 8808 / 8817 / 9718 ou 8197.2284

Zilda Arns morre em terremoto no Haiti

por José Maria Mayrink. Publicado originalmente em "O Estado de S. Paulo"
SÃO PAULO - A médica Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, e mais quatro militares brasileiros morreram em um terremoto na tarde (hora do Haiti) de terça, 12, no Haiti. Outros cinco membros da força de paz que atua no Caribe ficaram feridos.

Irmã do arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, Zilda Arns estava no Haiti como parte de uma série de visitas a países da região e teria morrido após escombros caírem sobre ela enquanto caminhava na rua.

Ao saber da notícia, Dom Paulo Evaristo rezou missa pelas vítimas do Haiti e afirmou que "ela (sua irmã) morreu de uma maneira muito bonita, morreu na causa que sempre acreditou".

O velório e enterro da dra. Zilda ocorrerão em Curitiba, onde moram seus quatro filhos Heloisa, Nelson, Rogério e Rubens. Dom Evaristo já notificou que não poderá comparecer e que enviará Dom Pedro Stringhini, bispo de Franca, em seu lugar.

Militares mortos
O Comando do Exército divulgou os nomes dos militares mortos no terremoto de terça, 12, no Haiti. De acordo com o Exército, os militares mortos são: 1º tenente Bruno Ribeiro Mário, 2º sargento Davi Ramos de Lima e os soldados Antônio José Anacleto e Tiago Anaya Detimermani, todos do 5º batalhão de Infantaria Leve, sediado em Lorena, no interior de São Paulo.

Eles estavam fora da base principal no momento do terremoto, segundo o Comando do Exército. Os militares estavam no país desde agosto de 2009. Outros cinco militares ficaram feridos.

Os militares brasileiros que participam da Missão de Paz no Haiti atravessaram a madrugada desta quarta-feira, 13, segundo o Ministério da Defesa, tentando resgatar companheiros soterrados em desabamentos de edificações e no auxílio à população local e às autoridades do País. Uma dessas instalações, denominada "Ponto Forte 22", um sobrado de três andares, desabou completamente.

Zilda Arns
Zilda era médica pediatra e sanitarista, tinha 75 anos e foi fundadora da Pastoral Da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa. Presente em todos os estados do Brasil e em mais 20 países, a Pastoral da Criança tem mais de 240 mil voluntários capacitados atuando em 40.853 mil comunidades, em 4.016 municípios. Acompanha quase 95 mil gestantes e mais de 1,6 milhão de crianças pobres menores de seis anos.

DO BLOG VI O MUNDO, por Luiz Carlos Azenha
Zilda Arns e 4 militares brasileiros morrem em tremor no Haiti.

Em nota, Ministério da Defesa diz que membros da força de paz procuram sobreviventes do terremoto no país.