por Laerte Braga
E como se não bastasse o controle temporário do aeroporto da capital, Porto Príncipe. Os vários galpões, acampamentos, escolas, igrejas passíveis e possíveis de serem usados como depósito de alimentos, água, remédios, nos pontos atingidos pelo terremoto, ou em setores estratégicos para cobrir toda a área alcançada pela tragédia, estão cheios. O mundo inteiro mandou doações.
O governo de Cuba liberou o seu espaço aéreo para encurtar a distância, permitir que os vôos de socorro cheguem mais rápidos, mas e daí?
Não começou a distribuição regular de alimentos, de remédios, de água, o país continua um caos absoluto e o presidente da Cervejaria Casa Branca vai enviar dez mil soldados ao Haiti.
Para que?
É guerra?
O que fazem os militares brasileiros lá? Acreditaram, eles e Lula, até agora que eram os comandantes de fato da ocupação do Haiti e dos chamados projetos de reconstrução de um dos países mais pobres do mundo?
Foram enquadrados, os comandantes são os norte-americanos com o uniforme da ONU. É barato, transferem custos, dividem custos e mantêm o controle do país segundo seus interesses e conveniências.
O Haiti já teria sido “reconstruído” se essa fosse a intenção dos EUA. Todo o aparato de socorro às vítimas do terremoto já estaria em pleno funcionamento se essa fosse a vontade dos norte-americanos. Não é. Não prestaram socorro adequado e possível às vítimas do furacão Katrina que destruiu New Orleans. É só olhar os jornais da época e ler as críticas ao então presidente Bush. A demora em tomar providências só aconteceram debaixo de forte pressão popular e depois que o presidente da Venezuela Hugo Chávez mandou vender gasolina mais barata na área atingida pelo furacão e o neto de John Kennedy disse publicamente que o seu governo, Bush, deveria agradecer a atitude de Chávez.
Notícia que William Bonner aqui, subalterno, disse que não daria para “não contrariar nossos amigos americanos”.
O xis da questão para o governo branco de Obama não é a existência de 200 mil, ou um milhão de vitimas. São negros, tanto no Haiti como eram a maioria em New Orleans e os Estados Unidos são movidos a interesses políticos e econômicos, não têm a menor preocupação com algo que vá além da população branca e racista, ideologia implícita ao capitalismo.
Quem acreditou no conto do vigário que Obama é negro, acredita que fada Sininho vá aparecer por lá com Peter Pan e Wendy e salvar os haitianos da miséria, da destruição, levando-os para a Terra da Fantasia.
Obama é tão terrorista quanto Bush. O que varia é o estilo.
Mas e aí? Os militares brasileiros, tão pressurosos de sua integridade na questão da tortura, da barbárie nos porões da ditadura militar vão engolir esse chega pra lá dos norte-americanos? O “patriotismo” e o “nacionalismo” dessa gente entram onde?
Não existe. São força auxiliar do império. São comandados de fora. Na prática a tal fusão de forças armadas que Clinton propôs a FHC e FHC disse que era para “esperar um pouco”, é a realidade, como é a realidade desde o golpe de 1964. O general Vernon Walthers era o comandante militar e o embaixador Lincoln Gordon o comandante civil.
Dez mil soldados no Haiti, o que Obama pensa que aconteceu por lá? Uma jornalista da tevê BANDEIRANTES, dessas que acham que além dos tucanos não existe nada, está no tempo em que achavam que a Terra fosse plana, manifestou espanto pela atitude do governo de Cuba de liberar o espaço aéreo. E ainda falam em exigir diploma.
O que há por trás dessa sórdida e traiçoeira manobra dos EUA, danem-se os haitianos, afinal são haitianos, não integram nenhuma raça superior, a deles e os de Israel, é exatamente isso. Não importa o número de vítimas, importa manter o país sobre o controle de Washington seja através de elites submissas (como as nossas), seja através das tais forças da ONU que o Brasil vivia dizendo que tinha o comando, por onda o tal general Heleno comandante em chefe das forças da VALE?
Andou por lá e bebeu toda a ideologia do império, que veio despejar por aqui falando em “patriotismo” e “nacionalismo”. Só que a bandeira é outra.
E Lula? Que no afã de não criar problemas no início do seu governo, acreditou que Bush era vacinado e se deixou morder?
Voltar com o rabo entre as pernas, já está, aliás?
Morreram catorze militares brasileiros lá e aí? Catorze cidadãos brasileiros iludidos na tal história de cumprir o dever da pátria amada.
O ex-presidente do Haiti, deposto por Bush, Jean Bertrand Aristides, exilado na África do Sul, disse que pretendia voltar ao país. Sabe quem definiu o assunto? Obama via Hilary Clinton. A veneranda senhora disse que “esse é um problema do Haiti, mas Aristides não deve voltar”.
Pronto.
Manda quem pode e obedece quem tem juízo. É a lógica das elites haitianas (brasileiras também), é a capitulação do tal “patriotismo acendrado” dos militares brasileiros.
Já na hora de resguardar a turma da barbárie, da boçalidade, da tortura, aí a valentia é impar. Aí a coragem é única. Os torturados e assassinados pela ditadura estavam presos e indefesos.
Qualquer dia Obama manda dez mil soldados aqui para o Brasil. Manda para São Paulo para ajudar o governador e funcionário norte-americano José Collor Serra e mostrar a Lula o que ele de fato quis dizer com esse negócio de “ele é o cara”.
O Brasil tem o dever de ajudar o Haiti. Os haitianos. Mas muito mais que isso, tem o dever de participar do processo de luta dos latinos americanos contra o terrorismo da Cervejaria Casa Branca.
Terminada essa etapa crucial, se restar dignidade a essa gente, deve fazer as malas e compreender que não foram nada além de instrumento do império.
Os dez mil norte-americanos vão para lá com o tarefa de assentar o porrete se a coisa sair do controle.
É a “democracia” sem máscara do terrorismo capitalista.
E esse monte de terra aqui é BRASIL ou é BRAZIL?