Mostrando postagens com marcador Ildeberto Muniz de Almeida. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ildeberto Muniz de Almeida. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de maio de 2011

No Brasil, trabalhador sempre considerado culpado por acidente de trabalho


Segundo especialistas, as verdadeiras causas não são identificadas porque falta um sistema eficaz de monitoramento de acidentes.
 
AGÊNCIA NOTISA – De que adoecem e morrem os trabalhadores brasileiros? Para o doutor em saúde pública, Ildeberto Muniz de Almeida, no artigo, “Acidentes de trabalho e a repolitização da agenda da saúde do trabalhador”, essa é uma pergunta antiga, mas que permanece atual.
 
Publicado este ano no livro “Saúde do trabalhador na sociedade brasileira contemporânea”, pela editora Fiocruz, o artigo do especialista não aborda as doenças relacionadas ao trabalho, focando apenas nos acidentes. Segundo ele, o problema dessa falta de conhecimento está na precariedade dos sistemas de informação disponíveis atualmente.
 
Em outro artigo, “Quantos acidentes de trabalho ocorrem no Brasil? Proposta de integração de registros administrativos”, publicado no mesmo livro, Bernadette Waldvogel, também doutora em saúde pública, mostra que responder essa questão não é uma tarefa fácil porque as fontes de dados existentes fornecem cifras distintas que revelam panoramas parciais e, muitas vezes, desencontrados.
 
“Com a racionalização do uso dos sistemas existentes e o aprimoramento de sua cobertura e qualidade, talvez não sejam necessários novos sistemas de informação. Poder-se-ia aproveitar um conjunto de variáveis relevantes em cada um deles, para compor um sistema de monitoramento capaz de suprir as informações necessárias para o acompanhamento preciso e o estudo aprofundado da questão acidentária no Brasil”, acredita.
 
Contudo, com base em estudos epidemiológicos, Ildeberto diz que, nos grandes centros urbanos, os acidentes que acontecem dentro das empresas são decorrentes predominantemente de quedas em altura, choques elétricos, soterramentos e máquinas.
 
Para ele, é fácil ver que a persistência desses eventos (dos acidentes) não é problema de natureza técnica, ligada à inexistência ou desconhecimento das proteções indicadas. “O desafio apresentado à área de saúde do trabalhador para enfrentar esses problemas é político e dificilmente será superado enquanto a correlação de forças atuais não for alterada”, diz.
 
Enquanto isso não ocorre, Ildeberto diz que esse enfrentamento pode ser auxiliado por mudanças na formação das equipes encarregadas das análises desses acidentes, de modo a estimulá-las a não interromper seus trabalhos sem explorar as razões associadas a não utilização das proteções.
 
Em seu artigo, o professor ainda critica o fato da culpa dos acidentes de trabalho sempre recair sobre a parte mais fraca, o próprio trabalhador.  E acrescenta que a mídia incentiva esse pensamento.
 
“Como regra geral, o que se evidencia é o reforço da cultura de atribuição de culpa, da ocultação das origens estruturais, latentes ou incubadas desses acidentes, substituídas na imprensa, cotidianamente, por avaliações superficiais de responsabilidade civis individualizadas, traduzidas pelas palavras ‘negligência’, ‘imperícia’, ‘imprudência’. Isso alimenta e reforça a visão de que a segurança depende exclusivamente da atenção e do cuidado de cada um”, conclui o professor no artigo.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)