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domingo, 5 de fevereiro de 2012

A VINGANÇA DOS DINOSSAUROS

02/02/2012 - Mauro Santayana - Carta Maior e em seu blog


Os leitores se recordam dos anúncios patrocinados pelo governo federal durante o mandato de Collor, quando o caçador de marajás iniciava o processo de entrega dos bens nacionais aos estrangeiros, em nome da modernidade. Os que defendiam o patrimônio público eram desdenhosamente identificados como dinossauros, ou seja, animais dos tempos jurássicos. Iniciou-se, com o confisco dos haveres bancários, o processo de desnacionalização da economia, sob o comando da senhora Zélia Cardoso de Melo e do economista Eduardo Modiano, nomeado presidente do BNDES com a missão de desmantelar o setor estatal e entregar suas empresas aos empreendedores privados que se associassem às multinacionais.

Naquela época publiquei artigo na Gazeta Mercantil, em que fazia a necessária distinção entre os dinossauros – uma espécie limpa, sólida, quase toda vegetariana – e os murídeos: camundongos, ratos e ratazanas.

É difícil entender como pessoas adultas, detentoras de títulos acadêmicos, alguns deles respeitáveis, puderam fazer análise tão grosseira do processo histórico. Mas eles sabiam o que estavam fazendo. Os economistas, sociólogos e políticos que se alinharam ao movimento neoliberal – excetuados os realmente parvos e inocentes úteis – fizeram das torções lógicas um meio de enriquecimento rápido.

Aproveitando-se dos equívocos e da corrupção ideológica dos quadros dirigentes dos países socialistas – que vinham de muito antes – os líderes euro-norte-americanos quiseram muito mais do que tinham, e resolveram recuperar a posição de seus antecessores durante o período de acumulação acelerada do capitalismo do século 19. Era o retorno ao velho liberalismo da exploração desapiedada dos trabalhadores, que havia provocado a reação dos movimentos operários em quase toda a Europa em 1848 (e animaram Marx e Engels a publicar seu Manifesto Comunista) e, logo depois, a epopéia rebelde da Comuna de Paris, com o martírio de milhares de trabalhadores franceses.

Embora a capitulação do Estado se tenha iniciado com Reagan e Thatcher, no início dos oitenta, o sinal para o assalto em arrastão veio com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989 – coincidindo com a vitória de Collor nas eleições brasileiras. Não se contentaram os vitoriosos em assaltar os cofres públicos e em exercer a prodigalidade em benefício de seus associados do mercado financeiro. A arrogância e a insolência, nas manifestações de desprezo para com os pobres, que, a seu juízo, deviam ser excluídos da sociedade econômica, roçavam a abjeção. Em reunião realizada então na Califórnia, cogitou-se, pura e simplesmente, de se eliminarem quatro quintos da população mundial, sob o argumento de que as máquinas poderiam facilmente substituir os proletários, para que os 20% restantes pudessem usufruir de todos recursos naturais do planeta.

Os intelectuais humanistas – e mesmo os não tão humanistas, mas dotados de pensamento lógico-crítico – alertaram que isso seria impossível e que a moda neoliberal, com a globalização exacerbada da economia, conduziria ao malogro. E as coisas se complicaram, logo nos primeiros anos, com a ascensão descontrolada dos administradores profissionais – os chamados executivos, que, não pertencendo às famílias dos acionistas tradicionais, nem aos velhos quadros das empresas, atuavam com o espírito de assaltantes. Ao mesmo tempo, os bancos passaram a controlar o capital dos grandes conglomerados industriais.

Os “executivos”, dissociados do espírito e da cultura das empresas produtivas, só pensavam em enriquecer-se rapidamente, mediante as fraudes. É de estarrecer ouvir homens como George Soros, Klaus Schwab e outros, outrora defensores ferozes da liberdade do mercado financeiro e dos instrumentos da pirataria, como os paraísos fiscais, pregar a reforma do sistema e denunciar a exacerbada desigualdade social no mundo como uma das causas da crise atual do capitalismo.

Isso sem falar nos falsos repentiti nacionais que, em suas “análises” econômicas e políticas, nos grandes meios de comunicação, começam a identificar a desigualdade excessiva como séria ameaça ao capitalismo, ou seja, aos lucros. Quando se trata de jornalistas econômicos e políticos, a ignorância costuma ser companheira do oportunismo. Da mesma maneira que louvavam as privatizações e a “reengenharia” das empresas que “enxugavam” as folhas de pagamento, colocando os trabalhadores na rua, e aplaudiam os arrochos fiscais, em detrimento dos serviços essenciais do Estado, como a saúde, a educação e a segurança, sem falar na previdência, admitem agora os excessos do capitalismo neoliberal e financeiro, e aceitam a intervenção do Estado, para salvar o sistema.

Disso tudo nós sabíamos, e anunciamos o desastre que viria. Mas foi preciso que dezenas de milhares morressem nas guerras do Oriente Médio, na Eurásia, e na África, e que certos banqueiros fossem para a cadeia, como Madoff, e que o desemprego assolasse os países ricos, para que esses senhores vissem o óbvio. Na Espanha há hoje um milhão e meio de famílias nas quais todos os seus membros estão desempregados.

Não nos enganemos. Eles pretendem apenas ganhar tempo e voltar a impedir que o Estado volte ao seu papel histórico. Mas o momento é importante para que os cidadãos se mobilizem, e aproveitem esse recuo estratégico do sistema, a fim de recuperar para o Estado a direção das sociedades nacionais, e reocupar, com o povo, os parlamentos e o poder executivo, ali onde os banqueiros continuam mandando.

sábado, 10 de dezembro de 2011

"QUEEEIMA ELE SENHOR"




Laerte Braga


A figura mais importante do governo de Ronald Wilson Reagan, exerceu dois mandatos presidenciais, foi Billy Graham, à época o mais influente pregador neopentecostal nos EUA e chamado aqui no Brasil (veio ao País a convite do governo militar) de Billy Grana.

Ronald Reagan era democrata no início de sua carreira política e virou republicano com a seguinte explicação – “o Partido Democrata me abandonou ao deixar de ser o partido de Thomas Jefferson, Andrew Jackson e Grover Cleveland, para se tornar o partido de Karl Marx, Vladimir Lênin e Josef Stalin”.

Reagan, além de ator – papel que desempenhou na Casa Branca – era porta-voz da General Eletric e foi governador da Califórnia em dois mandatos. Eleito presidente em 1980 e reeleito em 1984. O vice era George Bush, pai do outro George, o tresloucado.

Ao ser eleito já era portador do mal de Alzheimer. Sua mulher Nancy Reagan cuidava das tarefas de governo nas crises presidenciais e mantinha as aparências de um casamento feliz, enquanto vivia um relacionamento paralelo com o cantor Frank Sinatra. As visitas de Sinatra à Casa Branca eram semanais.

A invasão neopentecostal na América Latina começou no início da década de 60, governo John Kennedy, com o programa Aliança para o Progresso. Entre outras coisas farta distribuição de leite em pó entre as populações mais pobres. O detalhe fica por conta de esterilizantes na composição do leite. E na chegada de pastores norte-americanos ligados ao esquema de Billy Grahan, no papel de coordenadores do esquema. No Brasil o alvo principal era o Nordeste.

As transformações vividas pela Igreja Católica desde a ascensão do cardeal Giuseppe Roncale (João XXIII) preocupavam Washington. A “opção preferencial pelos pobres”, as reformas do Concílio Vaticano II e a ação conscientizadora de clérigos católicos, tudo isso somado às simpatias despertadas em toda a América Latina pela revolução cubana, viraram pesadelo para a Casa Branca em tempos de guerra fria.

Os primeiros pastores aportaram, no entanto, no Chile, onde os americanos temiam a ameaça eleitoral, a vitória de Salvador Allende em eleições presidenciais.

Chegaram com a bíblia, todo o arsenal de um agente da CIA – AGÊNCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA – e se espalharam pela região afora, com especial atenção ao Brasil, o maior e mais importante país latino-americano, também sob um governo que desagradava a Washington. O de João Goulart.

Há todo um processo nesse caminho, acabou, entre nós, resultando no golpe de 1964, quando juntaram as elites econômico/financeiras, latifundiários e parte das forças armadas (cooptada e comandada por um general norte-americano), como anos depois, na deposição e assassinato de Allende e um banho de sangue em toda a America Latina, a exceção de Cuba, evidente.

Os primeiros pastores tinham também a tarefa de formar seus congêneres brasileiros e aí surgem figuras nefastas como Edir Macedo e toda uma corja trazendo atrás da fachada, a religião, um projeto político de extrema-direita, recheado de preconceitos, da velha hipocrisia da sociedade norte-americana e com a tarefa, entre outras, de anular os impactos da nova Igreja Católica (isso até quando puseram as mãos no Vaticano, quando compraram o colégio cardinalício elegendo o polonês Karol Woytila, o papa João Paulo II. Registre-se que para isso tiraram o banco do Vaticano da falência e evitaram a eleição do cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider, um dos favoritos para suceder João Paulo I).

Essa missão de comprar os cardeais coube ao cardeal norte-americano Marcinkus, que, anos mais tarde, já principal mentor de João Paulo II, teve a prisão decretada pela justiça da Itália por fraudes bancárias. Bandido lato senso.

Segundo o pastor Billy Grahan o “homossexualismo era coisa do diabo”. Um dos mais íntimos amigos de Grahan era o diretor do FBI – FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION – J. Edgard Hoover, que era homossexual.

Os neopentecostais chegam ao Brasil vestido do puritanismo norte-americano. Acham um público alvo fácil de ser alcançado, num País marcado pelas enormes desigualdades sociais e por uma cúpula da Igreja Católica, até então majoritariamente conservadora, refletindo a luta entre esses e os que emergiram na Teologia da Libertação, dentre eles figuras notáveis como o arcebispo Hélder Câmara.

São inexpressivos quando do golpe militar de 1964, mas têm consciência do papel que lhes cabe e das perspectivas do “mercado religioso” para o futuro. Em curto, médio e longo prazo.

Crescem e prosperam aliados a ditaduras militares em toda a América Latina. A principal missão, a de aquietar a classe trabalhadora prometendo-lhe mansões no céu (proporcionais ao dízimo pago) em troca do sofrimento aqui na Terra.

Ao longo dos anos montam um aparato de tal ordem, uma estrutura de tal peso, que hoje controlam bancos, canais de televisão, emissoras de rádio, jornais, revistas, têm um partido político e uma bancada – a bancada evangélica –. Divididos em várias confissões (o olho grande do lucro percebido por vários dos “bispos” e “pastores”), com raras exceções, juntam-se na maior quadrilha religiosa que o País já conheceu.

O maior deles, Edir Macedo, bispo e dono da Igreja Universal, mora em Miami, responde a vários processos por fraudes, lavagem de dinheiro, etc (há um vídeo na rede de computadores onde ensina pastores a tomar dinheiro dos fiéis), mas tem a cobertura dos podres poderes da extrema-direita aqui e lá nos EUA.

Numa entrevista recente à sua própria rede de tevê, a RECORDE, afirma que seu sonho é criar igrejas nos países muçulmanos. Na prática é uma operação política financiada por Washington e o que Washington representa. Tem várias igrejas em Israel, com o consentimento do governo terrorista de Tel Aviv, numa espécie de abre caminho junto a muçulmanos residentes em Jerusalém e outras cidades israelenses. Uma espécie de cavalo de Tróia para os países de maioria muçulmana.

Há algum tempo os principais líderes neopentecostais deixaram de lado os ataques virulentos contra a Igreja Católica (um deles num programa de tevê chutou a imagem de Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil causando reações indignadas de católicos e não católicos) e começaram a investir contra religiões afro-brasileiras. Umbanda e Candomblé. E muitas vezes com uma agressividade que requer ação policial para evitar problemas maiores.

Quando um senador pedófilo, pastor, Magno Malta (o inquérito foi aberto na cidade de Cachoeiro do Itapemirim e sumiu misteriosamente) numa reunião no Senado Federal para discutir o projeto de lei que criminaliza a homofobia, afirma que “ninguém pede para nascer negro, ninguém pede para nascer índio” e distribui asneiras e preconceitos desse jaez, ao condenar às fogueiras do inferno o homossexualismo, está, por exemplo, na hipocrisia que serve de fachada a outros objetivos, o capitalismo em sua forma mais perversa e cruel (se bem que o capitalismo por si só é perverso e cruel), condenando às fogueiras do inferno toda a obra de Leonardo Da Vinci. Ou de Oscar Wilde. Todo o legado de Sócrates trazido ao conhecimento da humanidade por Platão. Está querendo ver arder em chamas o trabalho da extraordinária escritora Simone de Beuvoir e vai por aí afora.

E acima de tudo ao sugerir que se nasce negro ou índio sem pedir, afirmando a superioridade branca.

Magno Malta comprou, com as tais verbas parlamentares, uma ambulância por 400 mil reais e está indiciado na CPI do Sanguessuga.

Não está nem um pouco preocupado com a questão do homossexualismo. Desfralda uma bandeira recheada do falso moralismo, da hipocrisia, do cinismo, num projeto político que tem como meta transformar o Brasil num País sepultado sob o fanatismo religioso, enquanto figuras como ele, se transformam em imperadores da verdade absoluta e de todos os grandes “negócios”.

As elites econômicas torcem o nariz em suas festas regadas a Chiquinho Scarpa e “socialites recentes”, mas na penumbra dos porões fétidos que freqüentam, desmancham-se em sorrisos.

Valem-se, os neopentecostais, da fraqueza da Igreja Católica sob papas de extrema-direita e geradores de um retrocesso sem tamanho na Igreja de Roma, como das debilidades naturais de uma parcela ponderável da sociedade soterrada numa avalancha de problemas tanto de natureza financeira, de sobrevivência, como existenciais, num mundo de espetáculo gerado pelo capitalismo. Sabem aproveitar isso, são parte disso, desse mundo.

Magno Malta, por exemplo, no episódio da prisão dos donos da cervejaria Skincariol, emvolvidos em fraudes contra o fisco, lavagem de dinheiro, era o canal, através de uma de suas igrejas, para esse tipo de prática. Várias obras públicas realizadas pelo DENIT (antigo DNER) foram superfaturadas e um dos irmãos do senador era o responsável, foi afastado por isso, tinha alto cargo no Departamento. O dinheiro era lavado nas igrejas dirigidas pelo senador.

Mas é senador, continua solto, impune, pior, vendendo o peixe do fascismo/evangélico, uma das mais perigosas hecatombes – sem exagero – que se abate gradativamente sobre os brasileiros.

O ramo é tão próspero, que já é possível encontrar em uma das igrejas neopentecostais do Brasil, um spray desenvolvido por um espertalhão (pastor) que se usado, espanta o demônio.

Não significa que não existam pastores sérios, uns dois por cento, ou que os fiéis sejam cúmplices. São apenas incautos ludibriados em sua boa fé e suas dificuldades por bandidos travestidos de emissários divinos.

A maior parte dessas igrejas/seitas usa ONGs como agentes para recebimento de verbas públicas, lavagem de dinheiro e práticas outras, pois o espectro criminoso desse pessoal é o mais amplo possível.

OGNs são pragas inventadas pelo capitalismo no seu braço corrupção, braço, lógico, que lhe é implícito. Nasce com ele, inventado desde o cisma de Martin Lutero, ainda que tenha passado por várias denominações.

Quando Karl Marx disse que “a religião é o ópio do povo”, não o fez em sua extraordinária obra – O CAPITAL –, mas num poema texto, analisando as condições dos trabalhadores britânicos, em sua época e naquele espaço, a brutalidade de jornadas de até 20 horas diárias, sem folga semanal, sem qualquer direito mínimo, elementar. Não estava definindo a religião em sua essência como algo nocivo, mas cúmplice do processo capitalista de exploração do homem pelo homem.

É uma realidade brutal até nossos dias. Existe na China e seu milagre econômico. Nos trabalhadores escravos na Indonésia, no Timor, nas fazendas do latifúndio brasileiro e nos zumbis que andam pelas ruas e shoppings de nossas cidades fazendo do espetáculo do consumo o combustível do vazio da vida até que chegue a hora do Valium ou o desespero do nada. Ai senta e chora porque Fátima Bernardes saiu do JORNAL NACIONAL.

Parafraseando um senador de direita, Luís Viana Filho, ao criticar a obra de Raimundo Magalhães Júnior sobre Rui Barbosa, “Magno Malta é apenas uma mosca na asa da águia”, se tomarmos o ser humano – com muita bondade tal o grau de alienação – como águia.

O que essa gente produziu, gerou? Anthony Garotinho, Rosinha, etc, etc, etc. Na minha cidade o “pastor” Carlos, ex-prefeito conhecido como Bejani, lavando o dinheiro público roubado ao cidadão e ludibriando o cidadão em suas “pregações”, movidas a dízimo.

Magno Malta não é homofóbico. É bem mais que isso, é sem vergonha.

A palavra de ordem em suas igrejas costuma ser “QUEEEEIMA ELE SENHOR!”

Rende rios de dinheiro e mantém escancaradas as portas para o capitalismo e sua crueldade.

A bênção meu pai Xangô, minha mãe Iansã. Salve São Jorge, vencedor de demandas impossíveis, legionário de Ogum.