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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Integração com a arte permite maior compreensão da ciência

COBERTURA ESPECIAL – Feira FAPERJ Ciência, Tecnologia & Inovação
 

Projeto da UFRJ explora as funções do sistema auditivo por intermédio de instalações e intervenções artísticas.
 
Agência Notisa – O processo de entendimento da ciência e produção de conhecimento científico pode ser beneficiado e aperfeiçoado caso seja possível uma troca com a arte. É esta a premissa do grupo interdisciplinar Anatomia das Paixões, que integra o programa de pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na Feira FAPERJ Ciência, Tecnologia & Inovação, está montada uma instalação que reproduz a experiência do grupo com o ensino e apresentação diferenciada das funções auditivas do ser humano. A feira acontece até hoje (30), no Rio de Janeiro.
 
Segundo Maira Fróes, doutora em ciências biológicas (biofísica) pela UFRJ e responsável pelo projeto, as obras expostas na instalação têm como objetivo mostrar todos os níveis da apreensão auditiva, evidenciando a existência do sujeito por trás da produção científica. Como explica um painel de apresentação, a instalação é formada por “peças anatômicas post-mortem” que “são contextualizadas em anatomia artística contemporânea (preparações anatômicas combinadas a esculturas, videoarte, tecnoarte, fotografia artística, poéticas musical e literária) e cenografia (salão de dança e teatro de luz negra)”, organizadas em três cenários: figuras humanas formadas pelo entrelaçamento de fios, cujo movimento parecia uma dança, eram envoltas pelos nomes de estruturas do sistema auditivo. Ao lado delas, uma obra intitulada Hitch sobrepunha o perfil do famoso diretor de filmes de suspense Alfred Hitchcock a uma parte do crânio, expondo uma cápsula de microfone no lugar do ouvido e um alto-falante substituindo o cérebro. Por fim, o último espaço tem uma proposta de quadro negro diferente, formado por painéis sobrepostos onde são projetadas reproduções artísticas da anatomia auditiva.

A proposta da instalação é mostrar os diferentes planos da produção auditiva, que passa não só pela camada do escrutínio científico, mas também por apreensões de ordem sensível, estética, afetiva e emocional. Como explica Maira Froés, a obra Hitch, por exemplo, mostra bem as várias fases pelas quais passa o processo auditivo: uma primeira perceptual, de transmissão mecânica e eletroquímica do estímulo sonoro (representada pelo microfone), uma segunda de criação da sensação auditiva pelo córtex auditivo primário (representado pelo alto-falante) e, finalmente, uma dimensão de significação, sugerida em níveis de emoção através da figura do diretor de cinema: um dos grandes símbolos de seus filmes é sua trilha sonora marcante, a qual colocamos uma carga emocional que a liga ao suspense.
 
Através das obras expostas, o grupo Anatomia das Paixões busca mostrar que é possível a interação arte-ciência, sendo que tal colaboração ajudaria a favorecer o arrebatamento, a lógica, o insight intelectual e a criatividade. De acordo com Maira Froés, a experiência com voluntários do curso de fonoaudiologia da UFRJ comprovou esta hipótese: divididos em dois grupos – enquanto em um as aulas eram ministradas no formato tradicional, no outro havia um formato inserido na arte –, percebeu-se que aqueles do segundo sistema tinham uma compreensão mais ampla das funções auditivas, sem déficits em sua capacidade de memorização. Na visão dos organizadores da instalação, “a combinação única, intencional e não hierárquica de arte e ciência” está, então, na “raiz de uma plataforma inovadora, contemporânea, de criação e análise do conhecimento científico”.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)