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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Escassez da água gera crise sanitária



por Charles Mpaka, da IPS
a4 Escassez da água gera crise sanitáriaCharles Mpaka/IPS
Mulheres carregando água em Blantyre.
Blantyre, Malawi, 18/8/2011 – Os banheiros do posto de saúde do Distrito de Bangwe, nesta cidade de Malawi, muitas vezes não funcionam por falta de água. Se os pacientes necessitarem, devem ir a uma escola vizinha, onde há latrinas de buraco seco. “Não é novidade por aqui”, disse à IPS uma enfermeira que pediu para não ser identificada. “Tem sido assim nas duas últimas semanas. Em geral, ficamos sem água, especialmente durante as secas. Temos dois banheiros, e às vezes temos de fechá-los”, acrescentou.Contudo, o posto de saúde, que atende uma média de cem pacientes por dia, precisa de água para outras atividades, e as enfermeiras devem ir, diariamente, buscar água em dois baldes no poço de uma mesquita próxima. “Acabamos de trazer dois baldes de lá para que os pacientes pudessem ter água para beber ou usar em sua medicação. Esta seca nos prejudica. Meu trabalho não é ir buscar água, mas examinar e receitar medicamentos aos pacientes”, disse a enfermeira.
A temporada de chuvas acabou em março e neste momento há seca, mas este ano é muito mais severa do que em outras ocasiões. Isto fez a Junta de Água de Blantyre decidir pelo racionamento. Mas a Junta também admite que a atual demanda da cidade supera sua capacidade de fornecimento. Afetada por constantes cortes de energia em sua central principal, a mais de 50 quilômetros de Blantyre, e por um sistema que caducou e não é reparado há mais de 40 anos, a Junta luta para fornecer água aos habitantes.
A população desta que é a principal cidade comercial deste país da África austral, passou de 113 mil, em 1966, para 670 mil, em 2008, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas. Entretanto, existe um projeto em marcha no valor de US$ 5 milhões para renovar a infraestrutura até 2013. A Junta informou que o projeto vai melhorar o fornecimento, que passará de 78 mil metros cúbicos diários para 96 mil. Isto permitiria enfrentar os períodos de escassez e atender mais de um milhão de pessoas.
É comum ver as longas filas de pessoas nos poucos pontos distribuidores dos distritos da cidade. Algumas apelam para os riachos para lavar roupa ou tomar banho. O Hospital Adventista de Blantyre, um dos hospitais privados mais importantes do país, ficou sem água por uma semana. Seu diretor-executivo, Kirby Kasinja, disse à imprensa local que a escassez de água é um problema persistente. Houve breves lapsos de fornecimento nos últimos meses, mas a água deixou de fluir completamente na semana passada, paralisando as atividades desse centro de saúde.
“Temos roupas brancas na sala de cirurgia que estão sujas, com sangue, e devem ser lavadas. Mas como podemos fazer isso sem água? Além disso, os pacientes devem estar limpos por uma questão de higiene, mas não há água para banhá-los”, afirmou Kasinja. Para manter o funcionamento das salas de cirurgia, da maternidade e outros departamentos fundamentais, o hospital destina cerca de US$ 400 diários à compra de tanques com água para atender algumas de suas necessidades. Porém, Kasinja explicou que esse custo é muito alto para o hospital.
O porta-voz da Junta, Innocent Mbvundula, negou que os hospitais sejam obrigados a economizar. São instalações prioritárias, disse, e o fornecimento não foi nem será interrompido. Também atribuiu as dificuldades às falhas técnicas dos próprios estabelecimentos, e garantiu à IPS que a Junta investiga os problemas de fornecimento logo que é informada. Por sua vez, o diretor do não governamental Programa de Educação na Saúde e Direitos, Maziko Matemba, disse que a falta de água na cidade terá consequências de longo prazo para os habitantes.
“Para prevenir as doenças, é preciso água o tempo todo, pois o ambiente anti-higiênico é um campo de cultura para muitas infecções. Estes cortes de água criarão uma crise sanitária”, alertou a ativista, exortando a Junta a priorizar o fornecimento nos hospitais e a lançar programas de informação sobre o uso adequado da água em sanatórios, residências e locais públicos para aliviar a carga da rede de distribuição. Até lá, os moradores terão de buscar fontes alternativas.
No Posto de Saúde do Distrito de Bangwe não há muito que o pessoal possa fazer. Quando o poço da mesquita se esgotar, o posto ficará sem água. “De certo modo, é um pouco tolerável para nós apenas por estarmos em um posto de saúde para pacientes externos. Mas o problema é persistente. Nunca se sabe se chegará o dia em que teremos de dizer aos pacientes para trazerem garrafas com água para beberem enquanto esperam por atendimento”, disse a enfermeira.

Fonte: Envolverde/IPS