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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

População: será que não cabe?



por Raquel Torres, da Fundação Oswaldo Cruz
754890 68831682rev 199x300 População: será que não cabe?Chegamos a 7 bilhões de habitantes no mundo e muitos têm dito que não há comida nem recursos para todos. Mas isso é mesmo verdade?
Todo mundo que costuma acompanhar os principais veículos de comunicação – e até quem só dá uma olhada neles de vez em quando – viu, no fim do ano passado, um volume grande de reportagens abordando o aumento da população mundial e as consequências disso. O motivo é termos atingido, em 2011, a marca de 7 bilhões de habitantes.
Essas mesmas reportagens também trouxeram, em sua maioria, a previsão de um futuro não muito feliz para a crescente população – a falta de recursos naturais, especialmente a água, e a insuficiente produção de alimentos fariam da Terra um ambiente inóspito nas próximas décadas, já que, segundo a ONU, passaremos de 9 bilhões em 2050, quando finalmente esse número se estabilizará. A conclusão é a de que o planeta não vai conseguir comportar tanta gente e, para evitar um colapso, em geral se propõe a combinação de duas ações: o controle de natalidade – especialmente em países subdesenvolvidos, em que a tendência ainda é a de crescimento populacional – e o emprego de mais tecnologias no campo para aumentar a produtividade.
Quanto produzimos e quem tem fome
A fome não é um problema do futuro. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) estima que, hoje, um bilhão de pessoas passem fome no mundo. Além disso, dois bilhões são mal nutridas, 200 milhões de crianças menores de cinco anos estão abaixo do peso e nove milhões de pessoas chegam a morrer de fome todos os anos.
Com base nesses dados, tem-se dito que um aumento da população mundial vai necessariamente ampliar esses números, caso não façamos alguma coisa para aumentar a produção de alimentos. Mas há um detalhe: apesar dos dados alarmantes em relação aos famintos, a FAO também afirma que na verdade hoje já se produz mais comida do que o necessário para alimentar a todos. Em 1950, havia 2,5 bilhões de pessoas no planeta, e cada uma dispunha de 2.450 calorias diárias, em média. Hoje, a FAO estima que haja 2.800 calorias por pessoa, por dia. A mesma organização indica que cada um precisa de 1.900 calorias diárias, o que significa que nossa produção atual conseguiria dar conta de mais de 10 bilhões de pessoas, caso o alimento fosse bem distribuído. Portanto, se seremos 9 bilhões a partir de 2050, não há muito motivo para temores, já que ainda estaremos dentro do limite – e isso sem aumentar a produção.
E a suficiência não é só em relação ao valor calórico: no artigo ‘Fome não se acaba com agricultura ‘forte’, o sociólogo Antonio Inácio Andrioli, da Universidade Federal da Fronteira Sul, diz que a produção atual seria suficiente para prover diariamente 2 kg de alimento por pessoa – seriam 1,1 quilo de cereais, 450 g de carne, leite e ovos e mais 450g de frutas e verduras. Além disso, segundo Julian Perez, da coordenação executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional, desde o início dos anos 1980 a população cresceu 36%, enquanto a produção de cereais cresceu 45%, a de frutas 120% e a de carnes subiu 91%. Como se vê, a falta de comida não é a causa da fome de um sétimo da população mundial, e ainda cai por terra a ideia de que é preciso fazer controle de natalidade para evitar o problema.
Especulação
De acordo com Julian, a maior dificuldade é o acesso da população, decorrente do alto preço da comida – segundo a FAO, nos últimos 11 anos, os preços de carnes, azeites e gordura, laticínios, cereais e açúcar aumentaram em média 250%. E, para ele, isso está diretamente relacionado à especulação financeira em torno dos alimentos, consequência do livre mercado no setor. “Cada vez menos o Estado tem um papel regulador na definição de preços e de políticas agrícolas. Com isso, o mercado toma conta dessa definição e, consequentemente, do acesso aos alimentos. Se é interessante para o mercado elevar os preços dos produtos agrícolas, isso acaba reduzindo a possibilidade de acesso da população a esses bens”, explica.
Segundo a socióloga Carolina Niemeyer, isso também está relacionado à produção de agrocombustíveis – combustíveis extraídos de produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar e óleo de palma -, que faz com que parte da comida produzida não tenha a finalidade da alimentação. Hoje, dos cereais produzidos, 46% são usados para alimentar pessoas, enquanto 35% vão para animais e 18% para a produção de combustíveis. “Além disso, o aumento da demanda por agrocombustíveis ajuda a elevar o preço dos alimentos”, diz a pesquisadora.
Quem passa fome está no campo
É no campo que se encontra uma grande contradição em relação ao problema da fome: dentre os malnutridos do mundo, 75% são camponeses – aqueles que produzem o alimento e que, teoricamente, deveriam ter fácil acesso a ele. Julian explica que isso se dá porque é priorizada a produção de poucas culturas em larga escala, num modelo que não se adapta à agricultura familiar. “A maior parte das linhas de crédito não funcionam para autoconsumo”, diz.
Carolina Niemeyer aponta que muitos dos pequenos agricultores hoje trabalham no modelo da ‘integração’, ou seja, se especializam na produção de determinado alimento para venderem para grandes empresas. “Eles entram nisso para terem um comprador certo para seus produtos, já que faltam no país e no mundo políticas de estímulo ao pequeno agricultor. Só que, com isso, acabam obrigados a se desfazerem de suas hortas e dos animais que criavam para seu próprio consumo”, explica.
Fim dos recursos
A relação de proporção entre a quantidade de recursos naturais disponíveis e o número de pessoas sobre o planeta não é nova: ela já foi pensada há mais de 200 anos pelo sacerdote inglês Thomas Malthus. Em tempos de revolução industrial e explosão demográfica, ele dizia que a população crescia muito mais que a produção de alimentos, e que o resultado disso seria a fome.
A questão não é apenas a quantidade de alimentos, mas também inclui a disponibilidade de recursos naturais necessários para produzi-los – a água é o principal deles. Segundo o geógrafo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Walter Porto Gonçalves, a teoria malthusiana baseia-se na ideia de que um aumento da população gera consequentemente um aumento na pressão sobre os recursos naturais. E, de acordo com ele, é preciso reconhecer que esse raciocínio não é inteiramente errado. “Só que a verdade nele é apenas uma parte muito pequena da verdade total. Podemos dizer que, se uma pessoa exerce certa pressão sobre os recursos naturais existentes, então duas pessoas, vivendo sob as mesmas condições, vão exercer o dobro da pressão. O detalhe é que não vivemos sob as mesmas condições”, aponta.
Ele explica que, para ter uma dimensão mais exata do que acontece no planeta, é importante entender o conceito de ‘pegada ecológica’, que pode ser calculada para uma pessoa ou para grupos de um bairro, cidade ou país, por exemplo. A pegada corresponde ao território necessário para produzir a infraestrutura que aquela população utiliza e os alimentos e a madeira que consome, além de absorver o gás carbônico que produz. “Vemos assim que a pressão sobre os recursos naturais está diretamente ligada ao estilo de vida. Quando nasce um bebê em um país desenvolvido, sua pegada ecológica é muito maior do que em países menos desenvolvidos, como Índia e Etiópia. Analisando sob esse conceito, vemos, por exemplo, que um país como a Inglaterra precisa na verdade de ‘dez Inglaterras’ para se sustentar, e que um cidadão médio norteamericano ‘equivale’ a 144 cidadãos da Etiópia. E é muito fácil colocar a culpa dos problemas na Etiópia”, diz.
A água e o discurso da escassez
Quem nunca ouviu dizer que a água está acabando? Carlos Walter diz que, apesar de ser muito presente hoje, esse discurso praticamente não existia 20 anos atrás. “Se observarmos, por exemplo, o documento que resultou da Rio 92 [a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento], perceberemos que a água não era um tema pautado na época. O assunto quase não tinha destaque. Em outro relatório da época – o da Comissão Brundtland, da ONU, que fazia um balanço das condições do planeta nos anos 1980 -, o capítulo sobre a água simplesmente inexiste, e o tema aparece de maneira absolutamente irrelevante”, diz o professor. De acordo com ele, foi no meio dos anos 1990 que o Banco Mundial começou a pautar a água como um bem a ser privatizado.
E, segundo o professor, o discurso da escassez é uma condição para a ideia da privatização da água. “Quando se se fala de um bem que é abundante e está disponível para todos, é muito difícil torná-lo mercadoria. Mas quando esse bem se torna escasso, as pessoas têm que comprar. Do ponto de vista teórico, as ideias de escassez e privatização preparam uma à outra”.
No livro ‘A globalização da natureza e a natureza da globalização’, Carlos Walter diz que o setor privado tem expandido, desde os anos 1990, suas funções na ordenação dos recursos hídricos, e que houve um rápido aumento do grau de privatização dos sistemas de condução de água anteriormente administrados pelo Estado. Ele escreve que “várias empresas vêm processando governos sempre que esses, alegando o interesse público, ferem os interesses comerciais das grandes corporações”. De acordo com o autor, um exemplo aconteceu na Bolívia, quando a empresa estatunidense Bechtel, expulsa do país ano 2000 por prestar maus serviços, tentou processar o governo boliviano por isso.
No mesmo livro, Carlos Walter volta à questão do estilo de vida ao falar de consumo de água, e mostra que, embora a população mundial tenha crescido três vezes desde os anos 1950, a demanda por água cresceu seis vezes – o que mostra que a demanda não cresce na mesma medida que a população. “No Canadá, entre 1972 e 1991, enquanto a população cresceu 3%, o consumo de água cresceu 80%, segundo a ONU”, acrescenta o professor. De acordo com ele, o que é impossível não é manter a população crescendo, mas manter os mesmos hábitos e padrões de consumo. “Dados da ONU apontam que, hoje, consumimos anualmente 30% a mais do que a capacidade da biosfera de se reproduzir. Esta pressão está, de fato, tirando as possibilidades de vida das gerações futuras”.
Produção e recursos
O professor afirma que quem mais usa água no planeta é a agricultura, responsável por 70% do consumo – em segundo lugar está a indústria, com 20%. E, de acordo com ele, na agricultura a água ainda é muito mal utilizada e desperdiçada. “Muitos cultivos são feitos por irrigação e, embora isso aumente a área a ser cultivada, muita água se perde nesse processo. aluguns pesquisadores dizem que se perde de 50% a 60%. Além disso, bastante água é perdida por conta do uso de agrotóxicos, que contaminam rios”, enumera.
Assim, apesar do discurso corrente de que é preciso aumentar a produção – usando mais tecnologias como a de fertilizantes químicos e sementes transgênicas -, Julian afirma que, hoje, a preocupação não deve ser produzir mais, mas sim produzir de maneira a garantir que os recursos naturais continuem disponíveis. “Poucos levam em conta que o modelo que hoje é convencional – com agrotóxicos e sementes transgênicas – contamina o solo e a água, comprometendo o processo de produção no futuro. Hoje, por conta desse processo, temos áreas enormes salinizadas e desertificadas”, critica.


* Publicado originalmente no site Fundação Oswaldo Cruz.
Extraído do site Envolverde

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O renascimento da Bacia do Prata



por Marcela Valente, da IPS
212 O renascimento da Bacia do PrataBuenos Aires, Argentina, 21/11/2011 – Um programa para a gestão sustentável da Bacia do Prata, que envolve cinco países sul-americanos, começou a andar com uma renovada vontade política de preservar seus recursos naturais e sua muito rica biodiversidade. As presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e Cristina Fernández, da Argentina, com seus colegas Evo Morales, da Bolívia, Fernando Lugo, do Paraguai, e José Mujica, do Uruguai, “estão levando adiante, o que possibilitou avanços”, disse à IPS a embaixadora argentina Mónica Troadello, representante política no Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata.
Troadello insistiu que, assim como em outras etapas, era habitual apelar para consultores externos para estudar o potencial dos recursos, agora são os próprios técnicos nacionais de cada chancelaria que trabalham com um olhar regional. Esse novo enfoque também inclui o conceito de desenvolvimento. “Durante décadas, ao falar de desenvolvimento se pensava no econômico e produtivo, e agora, para nós, primeiro vem o desenvolvimento humano”, ressaltou.
A partir desta perspectiva, a embaixadora disse que os governos se conscientizaram da importância dos recursos da Bacia que, além das águas doces superficiais, abriga sob a terra o imenso Aquífero Guarani. A Bacia do Prata, que se estende por cinco países e tem 3,1 milhões de quilômetros quadrados, é uma das cinco maiores do mundo e a segunda mais extensa da América do Sul, depois da amazônica, mas é muito mais povoada e produtiva do que esta última.
Considerada uma das reservas com maior volume de água doce do mundo, a região abriga cem milhões de pessoas e gera 70% do produto bruto dos cinco países que a contêm. Isto por incluir algumas das cidades mais importantes da América do Sul, como Brasília, São Paulo, Assunção, Buenos Aires e Montevidéu. Nasce no Pantanal brasileiro e desce até o Rio da Prata, que banha a costa de Argentina e Uruguai e desemboca no Atlântico. Também inclui os rios Paraná, Paraguai e Uruguai, com seus respectivos afluentes, em um sistema onde há 150 represas, três delas grandes complexos hidrelétricos binacionais.
Dentro da Bacia há ecossistemas de rica biodiversidade, como o Grande Chaco Americano. Na Argentina estão as pradarias e o pampa úmido, o delta do Paraná, e os charcos e banhados do nordeste. No Brasil se encontram o Pantanal, o Cerrado e a Mata Atlântica, floresta tropical úmida que inclui atualmente 17 Estados. Daí a necessidade de abordagem regional da bacia e a proteção conjunta de seus recursos diante de novos desafios como mudança climática, escassez de água, desmatamento, sobrepesca e contaminação por agroquímicos, entre outros.
“Celebramos as iniciativas focadas na Bacia como um grande sistema integrado, onde a sustentabilidade ambiental é a base econômica, social e política”, disse à IPS Jorge Cappato, da Fundação Proteger, que trabalha em temas de água, mangues e pesca. Cappato recordou que especialistas da organização ambientalista World Wildlife Fund (Fundo Mundial para a Natureza) colocaram a Bacia do Prata entre as três mais ameaçadas do planeta.
“Nesta Bacia se experimenta um dos maiores crescimentos produtivos do mundo. Porém, o aumento das monoculturas, o desmatamento e a construção de represas representam severas ameaças”, alertou Cappato. “Sem proteção do capital natural, este acaba sendo consumido, com a consequência de custos impagáveis e vulnerabilidade”, alertou. O programa-marco, lançado formalmente em outubro, prevê uma série de medidas conjuntas para o diagnóstico do estado da Bacia e as possíveis ações que devem ser realizadas em cada país para a preservação dos recursos compartilhados.
“No último ano e meio, a coincidência entre os países foi tamanha que o avanço do trabalho na Bacia foi extraordinário”, disse Troadello, representante do também chamado CIC Prata. Esta equipe multilateral nasceu em 1967 e, dois anos depois, foi assinado o Tratado da Bacia do Prata, que deu maior institucionalidade à construção comum.
Mediante o Tratado houve um avanço, sobretudo na integração física dos países que são parte do acordo e nas grandes obras de infraestrutura com aproveitamento dos recursos, mas, sem maior consciência sobre o impacto ambiental das obras. Depois, o CIC Prata entrou em uma fase de escassa incidência e poucos recursos, contou a embaixadora. Agora, no entanto, “houve consciência entre os países e se começou a trabalhar em um programa-marco”, acrescentou.
O objetivo é fazer o acompanhamento da Bacia do Prata, seu balanço hídrico, detectar os principais desafios que enfrenta a região e delinear estratégias concretas de trabalho para a gestão integral dos recursos a partir de 2015. “A tendência mundial é para uma observação multidisciplinar que detecte os problemas, por exemplo, aumento da temperatura média, e que a partir deste dado sejam propostas as ações prospectivas”, explicou Troadello. “Temos 6% da população mundial e 20% dos recursos hídricos, enquanto países como a China têm esses indicadores invertidos”, acrescentou.
Troadello, nascida na província de Mendoza, região seca que depende da água do degelo da Cordilheira dos Andes, destacou também a riqueza do sistema do Rio da Prata comparando o volume de água que contém. Enquanto em Mendoza a média do movimento de água é de 50 metros cúbicos por segundo, na Bacia a média é de 22 mil metros cúbicos por segundo. “É um volume imenso, com uma extraordinária capacidade de recuperação”, destacou. “Se conseguirmos casar as bacias do Prata e a Amazônica, o destino da América do Sul se tornará muito interessante”, afirmou.

Envolverde/IPS

Fonte: Site Envolverde

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Quando a chuva inclui mais que os rios



por Mario Osava, da IPS
184 Quando a chuva inclui mais que os rios
Uma nordestina tira água de uma cisterna para irrigar sua horta. Foto: Mario Osava/IPS

Ouricuri, Brasil, 12/9/2011 – O surgimento da violência parecia iminente quando quase 1.500 camponeses famintos invadiram esta pequena cidade pernambucana. À ameaça de saque se contrapunha a polícia disposta ao combate. Era o ano de 1993 e a seca já durava três anos no interior do semiárido do Nordeste. As mortes por fome e sede que se sucediam empurravam multidões para as cidades em busca de alívio, às vezes assaltando comércios e armazéns em sua passagem.
O governo do presidente Itamar Franco (1992-1995) tentava contar os desesperados oferecendo alguns alimentos e trabalho temporário nas chamadas “frentes de emergência”. “Eles vinham dispostos à guerra”, lembrou Juvenal Ferraz, na época presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Ouricuri, município do oeste do Estado de Pernambuco, cuja população era 70% de origem camponesa, quando a média nacional chegava a apenas 25%.
“A única alternativa” que ocorreu a Ferraz para evitar a tragédia foi acompanhar os manifestantes nos três dias em que ocuparam as ruas diante do sindicato, do Tribunal de Justiça e da prefeitura, “pedindo que ficassem calmos”, enquanto também dialogava com a polícia, “pedindo compreensão”. Conseguiu alojá-los em um casarão, onde ficaram outros três dias sem comida, e costurou um acordo para que se alistassem em uma frente de emergência para limpar açudes, de onde se retira água dos rios para irrigação e uso doméstico. Desse modo conseguiu baixar a tensão e os camponeses voltaram para suas casas.
No Nordeste, a reiteração de tragédias climáticas semelhantes e o fracasso de políticas de “obras contra a seca”, com construção de represas, estradas e sistemas de irrigação, pediam urgência na busca de novas soluções. Entretanto, apenas uma década depois foi implantada uma alternativa efetiva. A Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), uma rede de mais de 700 organizações sociais, adotou o caminho da “convivência com o semiárido”, espalhando cisternas e outras formas de coletar água da chuva em pequenas unidades familiares e comunitárias.
Por sua vez, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) iniciou, em 2007, um gigantesco projeto “contra a seca”, a transposição artificial das águas do Rio São Francisco, que nasce no Estado de Minas Gerais e cruza o sul da região rumo a bacias do Nordeste, para abastecer 30 represas e perenizar vários rios que secam por temporadas. A obra, uma vez acabada, beneficiará 12 milhões de pessoas, que vivem em 390 municípios dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, os mais afetados pelas secas, garantindo o abastecimento a algumas das grandes cidades e centenas de pequenas e médias, segundo o Ministério de Integração Nacional, responsável pelo projeto.
A oferta adicional permitirá melhor gestão dos recursos hídricos no Nordeste e estimulará o desenvolvimento econômico do interior da região, desviando apenas 1,4% do fluxo do São Francisco, argumentou o governo, em resposta às críticas que o projeto desperta. Contudo, a situação no Nordeste semiárido já mudou. Os pequenos agricultores e trabalhadores rurais deixaram de ser tão vulneráveis às secas, segundo Ferraz. A do ano passado foi em muitas partes mais intensa do que a de 1993 e não se repetiu a fome daquela época, lembrou.
Isso se deve aos programas sociais do governo Lula, continuado pela administração de Dilma Rousseff, como o Bolsa Família, que ajuda 13 milhões de famílias pobres, a metade no Nordeste. Também graças às tecnologias de armazenagem da água da chuva, explicou Ferraz. “A fome desapareceu, já não é permanente”, acrescentou o sindicalista. O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), iniciado em 2003 pela ASA já beneficiou, até o final de julho deste ano, 351.140 famílias com o sistema que leva a água caída no telhado das casas para um depósito feito com placas de concreto, com capacidade para 16 mil litros. É água potável para beber e cozinhar.
As cisternas instaladas com apoio dos governos locais e de outras instituições já passaram de meio milhão, segundo Paulo Pedro de Carvalho, coordenador-geral da Caatinga, uma organização não governamental com sede em Ouricuri e dedicada ao desenvolvimento rural sustentável nas proximidades da Meseta do Araripe, no oeste de Pernambuco. A Caatinga “ajudou muito” a superar a crise de 1993 em Ouricuri, reconheceu Ferraz, que, “sem deixar o sindicalismo”, se incorporou a esta organização para espalhar cisternas. Ultimamente promove sua construção em escolas, para garantir água potável aos alunos e incentivar conhecimentos sobre a realidade do semiárido e temas hídricos.
“Vi muitas meninas e meninos chorando de sede e mães por não terem água para cozinhar”, recordou Ferraz, destacando que alguns não acreditam na eficácia das cisternas até elas “melhorarem muito a vida de suas famílias. “É uma pena que os governos não apoiem o programa como gostaríamos”, prosseguiu. O governo federal financiou cerca de três quartos das cisternas construídas pela ASA, por intermédio do Ministério de Desenvolvimento Social, mas com recursos bem abaixo do necessário para a meta de um milhão de cisternas em cinco anos, cumprida em apenas 35% em oito anos.
É um mistério Lula não ter abraçado o programa da ASA, atendendo sua sensibilidade de ter nascido no Nordeste, filho de uma família que emigrou para São Paulo quando ele era criança fugindo da pobreza e das seca, disse Jean Carlos Medeiros, coordenador do P1MC. Lula impôs políticas que beneficiaram os pobres, especialmente os nordestinos, mas na questão hídrica deu prioridade à transposição do São Francisco, uma ideia em discussão desde o Século 19, que só por sua decisão finalmente começa a se concretizar.
O projeto custara R$ 6,85 bilhões, informou em agosto o Ministério de Integração, admitindo aumento de 36% sobre o orçamento inicial. Além disso, as obras avançam lentamente, com alguns trechos paralisados. Sua conclusão, inicialmente prevista para 2010, foi adiada, no mínimo, para 2014. “É um retrocesso” sobre a “convivência com o semiárido” que hoje se reconhece como caminho para uma solução efetiva dos problemas sociais do Nordeste, definiu Alba Cavalcanti, coordenadora-adjunta de outro programa da ASA, de coleta de água da chuva para irrigar hortas
A transposição constitui uma brutal intervenção na natureza, somando 518 quilômetros de canais mais 42 aquedutos, cinco túneis, 30 represas e nove estações de bombeamento de água a centenas de metros de altura. No total são 713 quilômetros de obras em dois eixos. No entanto, essa gigantesca obra pode não beneficiar a chamada “população difusa”, como são os camponeses do semiárido, os mais pobres e afetados pelas secas periódicas, que no passado viam a emigração como única saída.
Em Ouricuri, por exemplo, seus 74.526 habitantes do censo de 1991 baixaram para 56.733 em 2000, devido a várias secas na década de 1990. A recuperação se refletiu no censo de 2010, com 64.358 habitantes. “Conviver com o semiárido é mais do que ter água, compreende também valorizar a terra, ter orgulho de ser nordestino, sentir-se capaz de viver ‘em minha terra’, e não um cidadão inferior”, concluiu Alba Cavalcanti.

Fonte: Envolverde/IPS

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Brasil: o mais rico em água do planeta


Por Zilda Ferreia

Com a descoberberta do Rio Hamza, que corta toda a calha amazônica,o Brasil  passa ter mais de um quinto de toda a água do planeta. A extensão desse Rio Subterrâneo embaixo do Amazonas, que também nasce na Cordilheira dos Andes, no Peru, é estimada em 6(seis) mil quilômetros, na Amazônia brasileira e,quando entra no Acre atinge 4(quatro) mil metros de profundidade e a largura em alguns pontos chega a 400 quilômetros- margem a  margem- equivalente a distância Rio de Janeiro a São Paulo. Agora,  com o Aquífero Alter do Chão, que fica nas mesma região, num trecho em cima do Hamza, há possibilidade que juntos tenham mais de quatro vezes o volume do Aquífero Guarani, avaliou o doutor Valiya Hamza, orientador da doutorando Elizabeth Tavares Pimentel, que conduz esse projeto de pesquisa. Ele defendeu que essas pesquisas sejam comandadas por brasileiros e que essa água seja reserva. Não quis fazer comentários sobre a cobiça à Amazônia com mais essa descoberta...
 Afirmação  que nos dá medo:"As guerras do  século 21 serão travadas por causa da água”, principalmente pelo autor; Ismail Serageldin, do Banco Mundial 1972/2000, que dirigiu  várias áreas  e foi fundador e ex-presidente da Global Water Partnership, responsável pela privatização do sistema de água de vários países. Atualmente é consultor de várias instituições científicas do mundo, recebeu 29 doutorados honorários, faz parte da Academia de Ciências e Artes da França e da Academia Americana de Filosofia, além ser considerado  um dos mais inteligentes intelectuais de seu país, Egito, onde dirige a Biblioteca de Alexandria. Além disso é professor  da Cátedra Internaciona Savoirs contre  Pauvreté-Collège de France .Foi também co-presidente do Comitê de ONGs-Bank(1997-1999).

 É bom lembrar que, a Europa tem apenas 3,8% de água, e as  empresas francessas Vivendi Universal e Suez têm mais de 70%(setenta) do mercado  de água do mundo, através de suas subsídiárias .O Amapá faz divisa com  território francês, a Guiana Francesa. Rio Hamza e o Aquífero Alter do Chão estão no Amapá também. Há denuncias de que empresas estrangeiras já estão na região. Ninguem se lembra mais que Jacques Chirac quis criar uma agência para monitorar o meio ambiente,  e principalmente a Amazônia, em 2007. Na sua equipe de governo, havia ex-dirigentes da Suez e da Vivendi, a primeira do mundo em serviços ambientais. A  Vivendi Communication é  considerada  o segundo conglomerado do mundo em comunicação e serviços audiovisuais,consiste em seis subdivisões –televisão e filmes, publicaçoes(grandes editoras), equipamento de telecomunicações e serviços de internet. Porem, as maiores geradoras de renda são as empresas de água. Para conhecer detalhes dessa guerra e  da manipulção da mídia é precio ler “ O OURO AZUL -  como as grandes corporações estão se apoderando da água doce  do planeta,” de  Maude Barlow e Tony Clarke. É bom não esquecer  que Nicolas Sarkozy liderou a invasão da Líbia, através da OTAN, tammbém  por causa  da água.

É fundamental saber que se a Petrobrás não fosse brasileira, dificilmente teríamos acesso aos dados que levaram a essa descoberta do Rio Hamza. Ela  foi feita a partir  da análise de temperatura de 241 poços profundos  perfurados pela Petrobrás, nas décadas 1970 e 1980. Atualmente, esses dados estão disponíveis, no Observatório Nacional –ON. O aquífero Allter do Chão também foi descoberto, em 1958, pela Petrobras quando perfurava poços na região a  procura de petróleo. Recentemente,  pesquisadores  da Universida Federal do Pará-UFPA, liderados pelo professor Milton Matta, após detalhados estudos, estimaram o volume de água do aquífero Alter do Chão em, aproximadamente,  86 mil quilômetros cúbicos de água, enquanto o Guarani tem 45 mil quilômetros cúbicos de água.

          Ilustrações  de Antonio Fernando de Araújo

  • Cópia de Amazonas,Acre,Rondônia,Roraima.jpg
  • Cópia de Pará,Amapá.jpg
  



O Rio Hamza atravessa toda calha amazônica,numa extensão de 6(seis) mil quilometros, nasce na Cordilheira dos Andes, no Peru e deságua na mesma foz do Amazonas, no Oceano Atlantico. Está demonstrado nos mapas, na cor azul. O Aquífero Alter do Chão está em vemelho. Enquanto Rio Hamza atinge quatro mil metros de  profundidada quando entra no Acre, corre do oeste para o leste, o Aquífero Alter do Chão atinge apenas 800 metros de profundidade, a agua não se movimento e abrange o oeste do Pará, Amapá e do Amazonas.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Territórios ocupados e sedentos



por Thalif Deen, da IPS
315 Territórios ocupados e sedentosEstocolmo, Suécia, 29/8/2011 – Na instável região do Oriente Médio, o petróleo sempre esteve no centro das disputas políticas. Porém, nos territórios palestinos ocupados por Israel foi substituído pela água. Shaddad Attili, diretor da Autoridade de Água Palestina, disse à IPS que esse recurso está sendo usado como arma de guerra pelos israelenses. “A água é um tema humanitário. Deveria ser retirado da política”, disse, lembrando que todos na região – israelenses, jordanianos, libaneses e palestinos –, devem ter direito a esse recurso para suas necessidades básicas.
O funcionário disse que Israel continua destruindo infraestrutura essencial, como cisternas e poços, afetando as comunidades palestinas. A ocupação tem grande impacto em “nossa capacidade” de atender as necessidades domésticas, agrícolas e industriais dos palestinos, tanto agora como no futuro, afirmou Attili. “Para dizer de forma simples, o povo palestino está sedento de justiça, e exorta todos os Estados a exigirem de Israel, a potência ocupante, que ponha fim a esta situação injusta e deplorável”, ressaltou.
Ao falar, no dia 26, na última reunião da Semana Mundial da Água, em Estocolmo, Attilli disse: “Israel explora mais de 90% de nossos recursos compartilhados para seu próprio uso, enquanto exerce uma tremenda influência sobre os nossos restantes 10%. Não só nos nega nossa parte equitativa e razoável de água sob o direito internacional consuetudinário, como também impede os palestinos de desenvolverem infraestrutura essencial”.
No ano passado, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adotou uma resolução reconhecendo o acesso a água e saneamento como um direito humano universal. Mas isto ainda está longe de ser aplicado aos palestinos. A resolução foi adotada por uma esmagadora maioria de países, apesar da abstenção de Israel, junto com Austrália, Áustria, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Japão, Luxemburgo e Suécia.
Em um informe crítico divulgado no mês passado, o Comitê Especial da ONU para Investigar as Práticas Israelenses nos Territórios Ocupados, expressou consternação pelo “contínuo desprezo (israelense) por suas obrigações sob o direito internacional”. O Comitê, de três membros, após visitar os territórios ocupados, disse que, “lamentavelmente, o que descobrimos foi que as opressivas restrições impostas sobre Gaza por Israel tiveram o efeito de um castigo coletivo contra a população”.
Como cerca de 35% da terra em Gaza não pode ser usada para fins agrícolas, já que Israel criou uma zona de exclusão em sua fronteira, e as áreas de pesca estão limitadas a apenas três milhas náuticas da costa, a população de Gaza tem dificuldades para conseguir alimentos, e muito mais para reavivar a economia, concluiu o Comitê. “Deve ser responsabilidade das potências ocupantes ajudar a reconstrução de Gaza”, acrescentou.
Além das casas, escolas e dos negócios destruídos, há uma urgente necessidade de se criar e reparar estações de tratamento de água, estradas, sistema de canalização e redes de energia, diz o Comitê. Em um documento apresentado na Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado, o observador permanente da Palestina para a ONU, Riyad H. Mansour, disse que, durante 42 anos, os territórios ocupados sofreram “todo tipo de crueldade, destruição e abuso nas mãos de Israel, a potência ocupante, que foi contra a vida, o sustento e os recursos dos palestinos”.
Estes abusos também afetam o direito dos palestinos terem acesso a água. Desde que Israel iniciou a ocupação, em 1967, violando o direito internacional, assumiu o controle de todos os recursos hídricos, incluindo a água na superfície, os aquíferos e o acesso à bacia do Rio Jordão, diz o documento. Attili afirmou à IPS que é hora de a comunidade internacional intervir para resolver o problema. Ao falar na capital sueca, alertou: “Não se enganem, pois não haverá um Estado palestino viável sem que possa acessar, controlar e administrar suficientes recursos hídricos para cobrir suas necessidades internas, presentes e futuras, agrícolas e industriais”.
“Sabemos o que a paz necessita. O que está faltando agora é vontade política. É isto que deve mudar, e espero que esta conferência ajude a tornar possíveis as transformações”, acrescentou Attili. Para ele, em certo sentido, os desafios dos palestinos em relação à água são os mesmos, ou similares, aos que enfrentam muitas outras nações. A disponibilidade de água é um tema primordial na Palestina. “Além de aguda escassez, também enfrentamos enormes problemas em termos de qualidade. Com o tempo, isto se agravou drasticamente”, afirmou Attilli, destacando que este ano é de particular importância para a Palestina, que espera ser admitida como Estado-membro das Nações Unidas no próximo mês.

Envolverde/IPS

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Escassez da água gera crise sanitária



por Charles Mpaka, da IPS
a4 Escassez da água gera crise sanitáriaCharles Mpaka/IPS
Mulheres carregando água em Blantyre.
Blantyre, Malawi, 18/8/2011 – Os banheiros do posto de saúde do Distrito de Bangwe, nesta cidade de Malawi, muitas vezes não funcionam por falta de água. Se os pacientes necessitarem, devem ir a uma escola vizinha, onde há latrinas de buraco seco. “Não é novidade por aqui”, disse à IPS uma enfermeira que pediu para não ser identificada. “Tem sido assim nas duas últimas semanas. Em geral, ficamos sem água, especialmente durante as secas. Temos dois banheiros, e às vezes temos de fechá-los”, acrescentou.Contudo, o posto de saúde, que atende uma média de cem pacientes por dia, precisa de água para outras atividades, e as enfermeiras devem ir, diariamente, buscar água em dois baldes no poço de uma mesquita próxima. “Acabamos de trazer dois baldes de lá para que os pacientes pudessem ter água para beber ou usar em sua medicação. Esta seca nos prejudica. Meu trabalho não é ir buscar água, mas examinar e receitar medicamentos aos pacientes”, disse a enfermeira.
A temporada de chuvas acabou em março e neste momento há seca, mas este ano é muito mais severa do que em outras ocasiões. Isto fez a Junta de Água de Blantyre decidir pelo racionamento. Mas a Junta também admite que a atual demanda da cidade supera sua capacidade de fornecimento. Afetada por constantes cortes de energia em sua central principal, a mais de 50 quilômetros de Blantyre, e por um sistema que caducou e não é reparado há mais de 40 anos, a Junta luta para fornecer água aos habitantes.
A população desta que é a principal cidade comercial deste país da África austral, passou de 113 mil, em 1966, para 670 mil, em 2008, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas. Entretanto, existe um projeto em marcha no valor de US$ 5 milhões para renovar a infraestrutura até 2013. A Junta informou que o projeto vai melhorar o fornecimento, que passará de 78 mil metros cúbicos diários para 96 mil. Isto permitiria enfrentar os períodos de escassez e atender mais de um milhão de pessoas.
É comum ver as longas filas de pessoas nos poucos pontos distribuidores dos distritos da cidade. Algumas apelam para os riachos para lavar roupa ou tomar banho. O Hospital Adventista de Blantyre, um dos hospitais privados mais importantes do país, ficou sem água por uma semana. Seu diretor-executivo, Kirby Kasinja, disse à imprensa local que a escassez de água é um problema persistente. Houve breves lapsos de fornecimento nos últimos meses, mas a água deixou de fluir completamente na semana passada, paralisando as atividades desse centro de saúde.
“Temos roupas brancas na sala de cirurgia que estão sujas, com sangue, e devem ser lavadas. Mas como podemos fazer isso sem água? Além disso, os pacientes devem estar limpos por uma questão de higiene, mas não há água para banhá-los”, afirmou Kasinja. Para manter o funcionamento das salas de cirurgia, da maternidade e outros departamentos fundamentais, o hospital destina cerca de US$ 400 diários à compra de tanques com água para atender algumas de suas necessidades. Porém, Kasinja explicou que esse custo é muito alto para o hospital.
O porta-voz da Junta, Innocent Mbvundula, negou que os hospitais sejam obrigados a economizar. São instalações prioritárias, disse, e o fornecimento não foi nem será interrompido. Também atribuiu as dificuldades às falhas técnicas dos próprios estabelecimentos, e garantiu à IPS que a Junta investiga os problemas de fornecimento logo que é informada. Por sua vez, o diretor do não governamental Programa de Educação na Saúde e Direitos, Maziko Matemba, disse que a falta de água na cidade terá consequências de longo prazo para os habitantes.
“Para prevenir as doenças, é preciso água o tempo todo, pois o ambiente anti-higiênico é um campo de cultura para muitas infecções. Estes cortes de água criarão uma crise sanitária”, alertou a ativista, exortando a Junta a priorizar o fornecimento nos hospitais e a lançar programas de informação sobre o uso adequado da água em sanatórios, residências e locais públicos para aliviar a carga da rede de distribuição. Até lá, os moradores terão de buscar fontes alternativas.
No Posto de Saúde do Distrito de Bangwe não há muito que o pessoal possa fazer. Quando o poço da mesquita se esgotar, o posto ficará sem água. “De certo modo, é um pouco tolerável para nós apenas por estarmos em um posto de saúde para pacientes externos. Mas o problema é persistente. Nunca se sabe se chegará o dia em que teremos de dizer aos pacientes para trazerem garrafas com água para beberem enquanto esperam por atendimento”, disse a enfermeira.

Fonte: Envolverde/IPS