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terça-feira, 15 de abril de 2014

Água: mídia alternativa e EBC se rendem ao ecomercado

Por Zilda Ferreira, fundadora e editora do EDUCOM

Água é um bem comum. Sem água não existe vida. Mas não lemos nenhuma linha na mídia sobre os Direitos Humanos a Água e Saneamento, determinados pela Resolução 64/292 das Nações Unidas. Nada foi publicado sobre esse direito nem mesmo no Dia Internacional da Água, 22 de março último, apesar de três bilhões de pessoas no mundo não terem acesso a água corrente em casa, segundo dados da ONU.

Em julho de 2010, 122 Estados-membros das Nações Unidas aprovaram a Resolução 64, com 41 abstenções e nenhum voto contra. Os Estados Unidos se abstiveram, como outros Estados industrializados, entre eles Áustria, Austrália, Canadá, Grã-Bretanha, Holanda, Israel, Luxemburgo, Japão e Suécia. Nos debates houve clara divisão entre as nações do Norte e do Sul, como já era esperado. Durante a Rio+20, em 2012, os Estados da União Européia e outras nações industrializadas tentaram derrubá-la. Desde 2010, o ecomercado centraliza o tema água, apresentando-a como commodity e de maneira subliminar, utilizando sofisticado marketing ambiental e cooptando a imprensa alternativa.

Na sua edição de março de 2014, a Folha do Meio Ambiente abriu dez páginas para lembrar todas as campanhas da água desde 1994, quando foi criado o Dia Internacional. Ao citar 2010, no entanto, omitiu a aprovação da Resolução 64/292 em 28 de julho e considerada por muitos a maior conquista do início do século. Carta Capital, publicação preferida de muitos militantes da esquerda, ignorou o Dia Internacional. Tendo oferecido pouco ou nenhum destaque ao 22 de março, a mídia alternativa mostrou-se cooptada pelo sofisticado marketing do ecomercado. Que dizer então da Agência Brasil, veículo da Empresa Brasil de Comunicação e que, portanto, deveria estar imune aos interesses do mercado para informar corretamente e expor a manipulação? Acabou também escancarando sua cooptação, ao ouvir uma porta-voz dos grupos financeiros e de conglomerados de mídia, a ONG WWF-Brasil. ONG esta que já foi presidida pelo senhor José Roberto Marinho.

Como já era de se esperar, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre os problemas de água em Manaus. Mas apontou como vilão o indivíduo que desperdiça água tratada, não observando os vazamentos domésticos... Essa abordagem a respeito do abastecimento de água em Manaus é cruel. Primeiro porque há muitas pessoas que não têm água em suas torneiras há muito tempo e, por isso, deixaram de pagar a conta. Atualmente, elas não têm crédito porque seus nomes estão no SPC. Segundo, e o mais importante, Manaus está sobre o maior aquífero do mundo, o Alter do Chão, que tem água de boa qualidade. Há denúncias de que a concessionária que abastece Manaus é estrangeira, não investe e cobra caríssimo pela água que fornece. Quem não não pode pagar não tem.


Voltando ao assunto manipulações da mídia, pasme, os meios alternativos passaram a usar dados do ecomercado sobre informações essenciais. Quando esteve recentemente no Brasil a relatora da ONU para os Direitos Humanos a Água e Saneamento, a portuguesa Catarina de Albuquerque, colocaram para assessorá-la um representante da mídia alternativa que defendia os créditos de carbono. Em uma entrevista coletiva não-divulgada para a maioria dos jornalistas especializados, a relatora apresentou dados positivos apenas de cidades abastecidas por concessionárias privadas. Albuquerque certamente recebeu esses dados de sua assessoria brasileira, uma vez que é contra a privatização. Grande surpresa para os fluminenses bem informados sobre o tema, Niterói foi uma das cidades bem avaliadas - fato repercutido pelas mídias. Não faz muito tempo, a "cidade sorriso" foi palco de um drama: ao sair do hospital onde tratava um câncer, a mãe de um jornalista encontrou a água de sua casa cortada por falta de pagamento, em razão da absurda taxa que os familiares não puderam pagar.

Assim, depois de muito tempo entendi a frase lapidar do professor Carlos Walter Porto-Gonçalves: "Quanto mais se fala em meio ambiente, pior fica". Por isso ficaremos em silêncio por algum tempo, até que possamos fazer uma campanha robusta sobre os Direitos Humanos a Água e Saneamento.

Não deixe de ler:
Agronegócio e ecomercado ameaçam a vida
Luto e luta: hoje é o Dia Internacional da Água
A luta pelo direito à água na Rio+20

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Agronegócio e ecomercado ameaçam a vida

Por Zilda Ferreira
A diferença básica entre agronegócio e ecomercado é que o primeiro já é letal, principalmente pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. O ecomercado ameaça a soberania do país e também será letal à natureza, no futuro. São dois temas complexos e de difícil comparação. Por isso merecem teses comparativas. Mas esse papel é para a academia. Aos jornalistas, cabe apenas denunciar e quando possível alertar. Em um blog como o nosso a limitação é ainda maior. 

Mas, nesta Semana do Meio Ambiente, a mercantilização da natureza tem nos deixado impotentes, além de preocupados. Por esse motivo decidimos contar alguns fatos que nos acenderam o sinal de alerta. O REDD - Redução de Emissões de Carbono por Desmatamento e Degradação, por exemplo, é praticamente desconhecido, não só pelo povo, como por profissionais liberais e políticos. A passividade diante da mercantilização dos nossos recursos naturais é perceptível até mesmo pelo olhar estrangeiro, de quem vem ao Brasil lucrar com este grande negócio.

Segundo funcionários de agências europeias com quem tenho conversado, os brasileiros desconhecem o significado, como atua e o que representa o REDD para o país. “Temos empresas européias com concessões florestais na Amazônia, em áreas maiores que a Suíça. Parece que não se incomodam com a perda dessas áreas”, ouvi recentemente de um deles (leia, abaixo, Amapá e Conservation International debatem economia verde e confira os links Quem ganha e quem perde com o REDD e Economia Verde e financeirização da Natureza).

Para facilitar a comparação entre agronegócio e ecomercado, no Brasil, vamos territorializar.  Nos cerrados brasileiros se concentra o agronegócio. E na Amazônia, o ecomercado. Isso não que dizer que estão limitados a essas regiões, é apenas para demonstrar se dá a maior ocorrência de cada um.

CERRADOS - a disputa pela terra tem como objetivo produzir commodities para exportação. Ali quem manda é o agronegócio. Os malefícios mais conhecidos são: uso indiscriminado de agrotóxicos, matança de índios, desertificação do solo, extinção de fitoterápicos específicos do bioma, erosão do solo, contaminação do lençol freático e de nascentes de rios importantes. Apesar dos cerrados serem considerados o celeiro do mundo, é nessa região onde morrem mais crianças indígenas de desnutrição (confira O Tsunami da fome nas aldeias indígenas de Mato Grosso do Sul e A disputa pela terra em Copenhague).

AMAZÔNIA - o ecomercado foi colocado à sociedade brasileira como uma salvação às Mudanças Climáticas e foi abraçado ainda na gestão da ministra Marina Silva, que defende a economia verde. Esta tem como sustentáculo o mercado de carbono, o REDD. A financeirização da natureza é feita, atualmente, pela especulação através da Bolsa de Ativos Ambientais do Rio de Janeiro (BVRio), conhecida como Bolsa Verde, implantada na Rio+20 pelo secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e ex-ministro Meio Ambiente Carlos Minc. No Brasil, o ativo ambiental mais cobiçado é a água, abundante na Amazônia (leia A Luta pelo direito à Água na Rio+20 e Luto e luta: hoje é o Dia Internacional da Água).

‘Amazônia, pátria das Águas, cofre do Brasil’ (Thiago de Mello, poeta)
O vice-presidente da Coca-Cola, Jeff Seabright, enfatizou durante a Rio+20 que a água está no cerne do desenvolvimento sustentável e que é mais importante que petróleo, ao defender a economia verde. Uma completa radiografia – e também um alerta – sobre como as grandes corporações estão se apoderando da água doce do  planeta pode ser visto no livro Ouro Azul, de Maude Barlow e Tony Clark. Como exemplo, podemos citar que os habitantes de Manaus pagam a água mais cara do país. Ali, o serviço foi privatizado e entregue a uma concessionária estrangeira subsidiária da francesa Suez. A capital amazonense fica em cima do aquífero Alter do Chão, o maior do mundo em volume de água. Os habitantes de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, estão sobre o aquífero Guarani. Pagam ainda assim por um dos serviços de abastecimento de água mais caros do país.

Em Alter do Chão, distrito de Santarém, onde fica o Rio Tapajós, região dos grandes rios amazônicos, há uma ONG mantida pelo conglomerado financeiro britânico HSBC. O local foi escolhido para receber o príncipe Charles em suas visitas ao Brasil e fica no coração do aquífero Alter do Chão. Outro dado importante é a riqueza em fitoterápicos do cerradão, vegetação intermediária entre cerrados e mata amazônica. Nessa região há outra ONG, esta financiada pela Fundação Adenauer, por sua vez ligada à indústria farmacêutica (leia Aquífero Alter do Chão pode ser entregue a pesquisadores estrangeiros).

Imagine a festa com as concessões florestais para REDD, em áreas maiores do que a Suíça. Vão poder se apropriar de água, biodiversidade e minérios. E com a mudança do Código Mineral, os ativos ambientais da Amazônia farão a reciclagem do capitalismo das nações hegemônicas. Por sua vez, os povos amazônicos vão continuar pobres com vida curta, mas como vagalumes, iluminando as matas para os estrangeiros.

Em Santarém, no Pará, ouvi de um engenheiro florestal que o maior problema ambiental da Amazônia Legal, atualmente, não é o desmatamento e sim a mineração (leia Um povo cercado por um anel de ferro). E que as concessões aos estrangeiros de grandes áreas para manejo florestal e REDD podem comprometer a soberania do país, além de intensificar a extração de minérios estratégicos desconhecidos pela maioria dos brasileiros.

O REDD está recebendo todo o apoio do Congresso Nacional e alguns representantes do agronegócio já viraram ambientalistas desde criancinhas. A Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas promoveu um seminário no mês passado sobre o marco legal desta prática no Brasil, que ganhou uma nova denominação: é o REDD+. O REDD+ é uma estratégia em discussão na Convenção Quadro de Mudanças Climáticas e seu objetivo é oferecer incentivos para países em desenvolvimento reduzirem emissões de gases que provocam efeito estufa, para investirem em desenvolvimento sustentável e práticas de baixo carbono no uso da terra.

Ficou esclarecido, durante o seminário, que o financiamento virá de países desenvolvidos, conforme as regras que regem a Convenção do Clima. Apurei, novamente a partir do ouvi de representantes de agências europeias, que só a Alemanha deve investir um bilhão de euros no Fundo Amazônico. Isso prova que o REDD é mesmo um grande negócio. Será que agora vão entender por que Blairo Maggi ficou com a presidência da Comissão de Meio Ambiente do Senado e por que Marina Silva disse na Universidade Católica de Pernambuco que discriminá-lo por ser empresário era preconceito? 

Para entender como o Ecomercado é danoso e como ele ameaça a soberania do país e o futuro de novas gerações, basta viajar um pouco por esse país. Por mais que temamos o agronegócio, este ao menos é conhecido e criticado na academia. Como é um trator de destruição do meio ambiente, os movimentos sociais também o conhecem. Além disso, dificilmente avançará na Amazônia, porque as terras são impróprias para agricultura e a carne produzida nessa região não é boa. Ao contrário, o ecomercado não é conhecido, é extremamente sofisticado e é cobiçadíssimo pelo sistema financeiro, nacional e internacional, principalmente pelos banqueiros da União Europeía e do Reino Unido. A banca internacional ambiciona transformar seus recursos virtuais em ativos ambientais, dando concretude ao seu “direito” sobre as riquezas do Brasil. A força do ecomercado está no marketing e no baixo risco financeiro que oferece.
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Amapá e Conservation International debatem economia verde*

O governador Camilo Capiberibe está nos EUA onde mantém encontros com entidades governamentais e entidades ambientais. A viagem tem o objetivo de mostrar o que o Amapá está fazendo para fomentar a economia verde e a regulamentação das concessões florestais. 

Na sede da Conservation International (CI), Camilo falou sobre as experiências e desafios que o Governo do Amapá enfrenta para implementar uma economia sustentável, que gera riqueza agregando valor aos produtos da floresta e dos rios, criando empregos e renda nas áreas rurais e nas cidades. O governo está investindo R$ 50 milhões, nos quatro anos de mandato, em projetos para apoiar a produção de açaí, castanha-do-brasil, cipó-titica, pesca e agricultura familiar.

O Estado é o mais preservado do país, com 97% da sua cobertura florestal intacta, e com 72% do território em áreas protegidas. "Queremos algo em contrapartida para isso. Já que nós preservamos, queremos políticas, investimentos e tecnologias que nos permitam desenvolver a cadeia produtiva da floresta, agregando valor, gerando emprego, garantindo o desenvolvimento e a preservação da Amazônia", disse o governador.

Russell Mittermeier, presidente da CI, afirmou que "o elemento central de desenvolvimento sustentável é o capital natural, que o Amapá tem abundante. O Estado não tem só as florestas mais conservadas do país, mas também a maior quantidade de água per capita do mundo", ilustrou.

O diretor e chefe-executivo da CI, Peter Seligmann alertou para a necessidade de criar uma engenharia financeira capaz de valorizar e compensar a conservação desse capital natural para o bem do planeta. "Toda a equipe da Conservação Internacional está alinhada com o Amapá para ajudar no que for necessário. É o nosso compromisso de trabalhar juntos numa perspectiva de longo prazo, pois, apesar de todos os desafios, o exemplo do Amapá é um exemplo para o mundo seguir".

Como estradas, hidroelétricas e portos são importantes para o desenvolvimento do Amapá, mas trazem pressões sobre as florestas e outro recurso natural existe a preocupação em procurar apoio para preparar o Estado a enfrentar esses obstáculos, investindo em projetos que garantam uma vida digna para os produtores da floresta, que são provedores dos serviços ambientais, mantendo a floresta em pé.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Brasil: o mais rico em água do planeta


Por Zilda Ferreia

Com a descoberberta do Rio Hamza, que corta toda a calha amazônica,o Brasil  passa ter mais de um quinto de toda a água do planeta. A extensão desse Rio Subterrâneo embaixo do Amazonas, que também nasce na Cordilheira dos Andes, no Peru, é estimada em 6(seis) mil quilômetros, na Amazônia brasileira e,quando entra no Acre atinge 4(quatro) mil metros de profundidade e a largura em alguns pontos chega a 400 quilômetros- margem a  margem- equivalente a distância Rio de Janeiro a São Paulo. Agora,  com o Aquífero Alter do Chão, que fica nas mesma região, num trecho em cima do Hamza, há possibilidade que juntos tenham mais de quatro vezes o volume do Aquífero Guarani, avaliou o doutor Valiya Hamza, orientador da doutorando Elizabeth Tavares Pimentel, que conduz esse projeto de pesquisa. Ele defendeu que essas pesquisas sejam comandadas por brasileiros e que essa água seja reserva. Não quis fazer comentários sobre a cobiça à Amazônia com mais essa descoberta...
 Afirmação  que nos dá medo:"As guerras do  século 21 serão travadas por causa da água”, principalmente pelo autor; Ismail Serageldin, do Banco Mundial 1972/2000, que dirigiu  várias áreas  e foi fundador e ex-presidente da Global Water Partnership, responsável pela privatização do sistema de água de vários países. Atualmente é consultor de várias instituições científicas do mundo, recebeu 29 doutorados honorários, faz parte da Academia de Ciências e Artes da França e da Academia Americana de Filosofia, além ser considerado  um dos mais inteligentes intelectuais de seu país, Egito, onde dirige a Biblioteca de Alexandria. Além disso é professor  da Cátedra Internaciona Savoirs contre  Pauvreté-Collège de France .Foi também co-presidente do Comitê de ONGs-Bank(1997-1999).

 É bom lembrar que, a Europa tem apenas 3,8% de água, e as  empresas francessas Vivendi Universal e Suez têm mais de 70%(setenta) do mercado  de água do mundo, através de suas subsídiárias .O Amapá faz divisa com  território francês, a Guiana Francesa. Rio Hamza e o Aquífero Alter do Chão estão no Amapá também. Há denuncias de que empresas estrangeiras já estão na região. Ninguem se lembra mais que Jacques Chirac quis criar uma agência para monitorar o meio ambiente,  e principalmente a Amazônia, em 2007. Na sua equipe de governo, havia ex-dirigentes da Suez e da Vivendi, a primeira do mundo em serviços ambientais. A  Vivendi Communication é  considerada  o segundo conglomerado do mundo em comunicação e serviços audiovisuais,consiste em seis subdivisões –televisão e filmes, publicaçoes(grandes editoras), equipamento de telecomunicações e serviços de internet. Porem, as maiores geradoras de renda são as empresas de água. Para conhecer detalhes dessa guerra e  da manipulção da mídia é precio ler “ O OURO AZUL -  como as grandes corporações estão se apoderando da água doce  do planeta,” de  Maude Barlow e Tony Clarke. É bom não esquecer  que Nicolas Sarkozy liderou a invasão da Líbia, através da OTAN, tammbém  por causa  da água.

É fundamental saber que se a Petrobrás não fosse brasileira, dificilmente teríamos acesso aos dados que levaram a essa descoberta do Rio Hamza. Ela  foi feita a partir  da análise de temperatura de 241 poços profundos  perfurados pela Petrobrás, nas décadas 1970 e 1980. Atualmente, esses dados estão disponíveis, no Observatório Nacional –ON. O aquífero Allter do Chão também foi descoberto, em 1958, pela Petrobras quando perfurava poços na região a  procura de petróleo. Recentemente,  pesquisadores  da Universida Federal do Pará-UFPA, liderados pelo professor Milton Matta, após detalhados estudos, estimaram o volume de água do aquífero Alter do Chão em, aproximadamente,  86 mil quilômetros cúbicos de água, enquanto o Guarani tem 45 mil quilômetros cúbicos de água.

          Ilustrações  de Antonio Fernando de Araújo

  • Cópia de Amazonas,Acre,Rondônia,Roraima.jpg
  • Cópia de Pará,Amapá.jpg
  



O Rio Hamza atravessa toda calha amazônica,numa extensão de 6(seis) mil quilometros, nasce na Cordilheira dos Andes, no Peru e deságua na mesma foz do Amazonas, no Oceano Atlantico. Está demonstrado nos mapas, na cor azul. O Aquífero Alter do Chão está em vemelho. Enquanto Rio Hamza atinge quatro mil metros de  profundidada quando entra no Acre, corre do oeste para o leste, o Aquífero Alter do Chão atinge apenas 800 metros de profundidade, a agua não se movimento e abrange o oeste do Pará, Amapá e do Amazonas.

domingo, 6 de junho de 2010

Aquífero Alter do Chão pode ser entregue a pesquisadores estrangeiros

*Por Zilda Ferreira

O aquífero Alter do Chão pode ser o maior do mundo em volume de água, anunciava, em abril deste ano, o geólogo Milton Matta da Universidade Federal do Pará (UFPA) aos jornais brasileiros, à mídia européia e à TV Globo. Um estudo preliminar aponta um volume superior a 86 mil quilómetros cúbicos de água, o suficiente para abastecer a população mundial por 100 (cem) anos. Para se ter um ideia, o Aquífero Guarani, tido até agora como um dos maiores do mundo, tem um volume estimado de 45 mil quilometros cúbicos, ressaltava o professor Milton Matta, um dos cinco pesquisadores responsáveis pelo estudo.

A abrangência deste aquífero é genuinamente nacional, pois ele se estende pelo oeste da amazônia brasileira, nos Estados do Pará, Amazonas e Amapá. Entretanto, para que se possa afirmar com precisão sua extensão é necessário um estudo mais aprofundado. Mas, há poucas dúvidas de que não seja o que possui o maior volume de água, uma vez que está abrigado debaixo da maior bacia hidrográfica do mundo, a amazônica. (Veja a entrevista exclusiva do professor Milton Matta, no final, confirma que a ANA -Agência Nacional de Águas- pretende abrir licitação internacional para pesquisar o Aquífero Alter do Chão e, possivelmente, entregar a grupos estrangeiros).

Alter do Chão, vila balneário, que nominou esse aquífero que foi descoberto na localidade, fica às margens do Rio Tapajós, a 30 quilometros de Santarém, no oeste do Pará. Em abril de 2009, o jornal inglês The Guardian destacava como a melhor praia do Brasil. O lugar realmente é lindo. E agora, a mídia nacional e européia anunciam como a região mais rica de água do planeta. O príncepe Charles, da Inglatera, passou quase um mês na Flona do Tapajós, que fica na região do Aquífero.


BREVE HISTÓRICO SOBRE O AQUÍFERO ALTER DO CHÃO

O Aquífero Alter do Chão foi descoberto em l958 pela Petrobrás, quando perfurou Alter do Chão à procura de Petróleo, informou o professor de geografia Daniel Lima Fernandes. E para comprovar sua afirmacão, ele nos forneceu o “Estudo Primaz Alter do Chão”, do qual participou pela secretaria de Planejamento da Prefeitura de Santarém, em l996, coordenado por uma equipe de geólogos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais- CPRM. Esse Estudo já citava a tese (no prelo) de doutorado - “Recursos Hídricos Subterrâneos de Santarém”- do pesquisador Antonio Carlos F.N.S. Tancredi, da UFPA, onde registrava que os dados hidrológicos levantados pela equipe do Primaz, na área urbana de Santarém, se referiam basicamente ao sistema aquífero de formação Alter do Chão. Essa história foi confirmada por dona Terezinha Lobato da Costa, 75 anos, de origem Borari, que nasceu e sempre morou em Alter do Chão. “Eu conhecia bem o pessoal da Petrobrás, que esteve aqui de l953 até 1958.”

Além do Estudo Primaz, há pesquisas feitas pela comunidade acadêmica da Universidade Federal do Pará e também pelo INPA, desde a década de 60. Em 1996, o professor Antonio Carlos F.N.S. Tancredi do Centro de Geociências da UFPA, curso de Pós-graduação em Geologia e Geoquímica, apresentou a tese para obtenção do grau de Doutor em ciências, na área de geoquímica “Recursos Hídricos Subterrâneos de Santarém” que destaca o sistema hidrológico da Formação Alter do Chão com detalhes, onde ele enfatiza o seu potencial.

O acesso a essa tese foi possível graças à coordenadora da Biblioteca Comunitária “Oca do Saber”, Vandria Garcia Corrêa, do grupo Vila Viva em Alter do Chão, que nos enviou a mesma por email. Ainda este mês, contaremos outras estórias de ajuda que tivemos: falaremos do ponto de cultura digital Puraqué, nosso porto seguro em Santarém, principalmente pelo apoio do casal Jader e Adriane Gama e também do pessoal da Casa Brasil, e contaremos um pouco sobre a Escola Índígena Borari de Alter do Chão.

De modo geral, a população da região de Santarém só soube do potencial de água do Aquífero Alter do Chão pela TV Globo, este ano. As pessoas se sentiram traídas e desrespeitadas, pois o problema de falta d`água em Santarém é crônico há décadas. Estão em cima de um tesouro, que nem sempre têm acesso. Além disso, receiam que essas riquezas sejam apropriadas pelos estrangeiros. Há comentários de que a ANA –Agência Nacional de Águas – pretende abrir licitação internacional para pesquisar o Aquífero Alter do Chão, e assim, entregaria aos estrangeiros esse tesouro da Amazônia.

TEMOR E MEDO

Historicamente, o maior temor deveria ser aos franceses devido à proximidade com a Guiana Francesa e também pela força das companhias francesas no mercado de águas: Vivendi Universal e Suez detêm 70% desse mercado no mundo. Mas como no tempo da colonização portuguesa, os ingleses avançaram antes dos franceses: HSBC- Hong Kong and Shangai Banking Corparation, o maior banco do mundo com sede em Londres, já está em Alter do Chão. O Banco financia atualmente dois projetos da Ong Vila Viva. Os alemães já fincaram os pés na região de Santarém há mais tempo, principalmente através da Fundação Konrad Adenauer.

O professor Edilberto Ferreira da Costa, formado em letras e pesquisador de folclore, de origem indígena Borari, disse que agora, o Eldorado dos europeus é a região do Alter do Chão, pois eles não buscam mais ouro amarelo, querem o ouro azul, a água.

- Não é à toa que o príncepe Charles veio aqui. Antes vieram muitos cientistas, principalmente europeus. Em l852 Henry, Wallter Bates passou nove dias em Alter do Chão. A minha maior honra é ser o primeiro, nascido em Altler, a escrever sobre a história da Vila. Tudo na nossa cultura gira em torno da água. Pode ler nesse meu livro, “O Berço do Çairé”, grafada Sairé no dicionário, o que já contestei, na Academia Brasileira de Letras, pois a palavra é indígena e o som é aberto de (Ç). O Boto Tucuxi é a Ópera das Águas. É interessante observar que o Aquífero Alter do Chão tem a mesma abrangência do çairé(sairé), oeste amazônico. E há evidências científicas de ele seja o maior do mundo.

Outro fato que merece destaque é a pregação do cientista político alemão Michael Dutschke, autor de um dos capítulos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC – defendendo internacionalização da Amazônia, noticiava a Folha do Meio Ambieente, em novembro de 2007, quando ele esteve no Brasil.

O Tratado de Lisboa, ou Tratado Reformador, que emenda os anteriores, foi assinado em 2007 e entrou em vigor em dezembro de 2009, pouco antes da Conferência de Copenhague, destaca que a luta contra as alterações climáticas e o aquecimento global são objetivos da União Européia. Há denuncias de que esse tratado é intervencionista e o alvo é a Amazônia.

ALERTA

Darciley Viana de Vasconcelos, líder comunitária, tomou conhecimento do Aquífero há 10 anos, através de um pesquisador do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, mas não tinha dimensão do potencial do Aquífero Alter do Chão.

- Agora, a divulgação assusta e pode acelerar a privatização de nossas riquezas, a terra, mas, principalmente, a água. Aqui é uma comunidade tradicional de origem indígena Borari. E como se sabe, índio, normalmente, não tem documento da terra e por isso, alguns já foram expulsos e tiveram suas casas queimadas. O problema fundiário está se agravando e eu gostaria de fazer parte do MST, porque eles são organizados. Na minha opinião, a denuncia da Revista Veja de que há falsos índios em Alter do Chão é um alerta do que vem por aí. É preciso que o governo assegure aos habitantes do lugar o que eles têm direito, concluiu Darciley Viana depois de lamentar a situação precária dos índios para enfrentar a especulação imobiliária.

LEIA ABAIXO ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O PROFESSOR MILTON MATTA

Há quanto tempo o senhor e a equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) estudam o Aquífero Alter do Chão?
O Aquífero Alter do Chão, já nosso conhecido e de toda a comunidade científica da Amazônia, desde a década de 60, mas ninguém jamais expressou vontade de estudar isso de forma sistemática. Eram somente poços isolados que abasteciam comunidades específicas. Meu grupo de pesquisa, depois que eu defendi minha tese de Doutorado, em 2002, e calculei a reserva hídrica de outro sistema aquífero (Aquífero Pirabas) resolveu investigar o Aquífero Alter do Chão mais de perto. Isso iniciou ano passado.

Como o senhor concluiu que havia a possibilidade deste Aquífero ter o maior volume de água do planeta?
Quando iniciamos o cálculo de sua reserva hídrica, percebemos que sua enorme espessura, extensão lateral e as propriedades hidrodinâmicas do aquífero, eram compatíveis com os números que foram divulgados.

Qual foi o volume estimado e qual a região de abrangência do Aquífero Allter do Chão?
O volume estimado é de 86 mil quilômetros cúbicos de água. O suficiente para; abastecer 31.4 trilhões de piscinas Olímpicas; 29.3 milhões de Maracanãs e 35.2 mil Baias da Guanabara e 8600 vezes o volume de óleo do Pré-Sal.

Porque a população de Santarém e da Vila Alter do Chão, ou seja, os paraenses de modo geral tomaram conhecimento do potencial deste Aquífero pela TV Globo?
Não sei. Quem liberou todas as notícias fui eu. E eu dei notícia pela primeira vez para uma jornalista do jornal Diário do Pará que deve ter pequena circulação na região de Santarém. Depois disso, a notícia se espalhou muito rápido por vários elementos da mídia, saindo em diversos idiomas, inclusive. Como a Rede Globo é a cadeia de maior penetração no Pará, pode ser que muita gente tenha sabido disso pela TV Globo.

Ninguém pode preservar aquilo que não conhece. Há perigo de poluírem essas águas. O senhor não acha que esta falta de conhecimento da população é uma falha da academia?
Porque da academia? A academia, por meu intermédio, estudou e divulgou o assunto. Mas não pode, não tem essa função e nem tem verba pra dar conhecimento disso à população.

Há muito medo da população da Vila de Alter do Chão que água do Aquífero seja privatizada. Essa preocupação tem fundamento?
Tem sim. Hoje não se tem qualquer controle sobre o que vai ser feito com esse aquífero. Não se tem nem planos pra uso e proteção de duas águas. Soube-se que a ANA vai divulgar um edital fazendo uma licitação internacional para contratar estudos sobre o Alter do Chão. Eu, particularmente, acho isso um absurdo. A licitação em si não teria sentido, uma vez que existe um grupo que o conhece, que o está estudando, que é da região e que por isso mesmo conhece as condições sócioeconômicas e políticas locais. Isso, associado à competência profissional desse grupo, sua vasta experiência na matéria, demonstrada pelos inúmeros trabalhos publicados nas últimas décadas sobre o assunto, já justificaria a não realização de licitação.

O senhor e a comunidade acadêmica da UFPA aprovam a proposta da ANA de abrir Edital internacional de licitação para pesquisar o potencial do Aquífero do Chão?
Já respondi parte disso na questão anterior. E não entendemos porque que a licitação teria que ser internacional. O Aquífero Alter do Chão é exclusivamente brasileiro e amazônico. O aquífero que é Transfronterisso, é o Guarani, esse sim, precisa de arranjo internacionais para seu uso e proteção, uma vez que passa por diferentes países.


*Zilda Ferreira esteve em Santarém e na Vila Balneário de Alter do Chão, durante uma semana, no período de 21 a 28 maio de 2010.