domingo, 3 de abril de 2011

Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão eo Direito à Comunicação com Participação Popular


 
por Luiz Carlos Azenha

Fui ao evento de sexta-feira à noite que marcou o pré-lançamento da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular.
O lançamento mesmo acontece no próximo dia 19 de abril, em Brasília, às 14 horas, no auditório Nereu Ramos do Congresso.
O objetivo inicial é lotar o auditório naquela data, o que nos leva desde já a estender o convite a todos os brasilienses que se interessam pelo assunto, especialmente aos blogueiros progressistas da Capital federal e seus leitores.
Os últimos dados, de ontem à noite, indicavam que havia 171 assinaturas de adesão à frente, mas por motivos óbvios a gente prefere falar em 170.
Do debate, na sede do Sindicato dos Bancários, participaram os deputados federais (atenção, anotem os nomes deles para as próximas eleições) Brizola Neto (PDT-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Emiliano José (PT-BA). A deputada Luisa Erundina (PSB-SP) não pôde comparecer por motivos pessoais.
De qualquer forma, ficou claro que pelo menos na esquerda existe um consenso de que é preciso fazer avançar o debate sobre a questão da comunicação no Brasil.
O evento serviu também para lançar “Jornalismo de Campanha e a Constituição de 1988″, de Emiliano José, autor também de “Imprensa e Poder, Ligações Perigosas”,  ambos editados pela Editora da Universidade Federal da Bahia.
Houve durante o debate apelos urgentes para que se impeça a aprovação do projeto que modifica a lei do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), conforme denúncia feita pelo coletivo Intervozes publicada, entre outros, pelo Viomundo (aqui).
Houve apelos para que o governo Dilma, que financia com milhões e milhões de reais o que se convencionou chamar de PIG, aprofunde a pulverização das verbas publicitárias oficiais e que faça isso não apenas por critérios de mercado, mas que visem a incentivar o pluralismo na produção de conteúdo.
Houve apelos — corretos, em minha modesta opinião — para que a Frente Parlamentar receba o reforço dos movimentos sociais. Ou seja, que a questão da comunicação esteja presente em todas as demais conferências nacionais setoriais promovidas no país.
O próprio deputado Emiliano José disse que, se a esquerda parece unida no Congresso em relação ao tema, é preciso agregar outras forças políticas, especialmente do centro, ao debate.
Movimentos sociais + centro político + Frente Parlamentar + blogueiros progressistas me parece uma combinação mínima para fazer avançar o debate, além da escolha de uma agenda mínima que seja consensual (Plano Nacional de Banda Larga, regulamentação da mídia eletrônica, propriedade cruzada e por aí vai).
Levantou-se a dúvida sobre o destino que seria dado ao projeto deixado pelo ministro Franklin Martins: será descartado por personagens que estão “costeando o alambrado”, como dizia Leonel Brizola?
O deputado Emiliano José voltou a dizer, conforme já havia escrito em artigo publicado pela CartaCapital e reproduzido aqui, que o namoro do PIG com o governo Dilma tem data para terminar: depois que forem concluídas as tentativas de desconstruir a imagem de Lula.
No particular, houve discordâncias em relação ao atual governo.
Por exemplo, no lamento “em off” de um dos participantes a respeito do poder de primeiro-ministro que Antonio Palocci tem no governo Dilma (que se estende até mesmo à Biblioteca Nacional).
Porém, se está claro que há divergências na avaliação que se faz do governo Dilma até aqui, não há dúvida de que a dura tarefa de modificar o panorama do setor midiático no Brasil exigirá uma ampla coalizão de forças em torno de uma agenda mínima.
Não nos resta outra alternativa, a não ser começar lotando o Nereu Ramos.

Nota da Equipe do Blog.
Nos dias 16 e 17 de , no Rio de Janeiro, na Sede do SINDIPETRO, O Forum "O poder da comunicação: A mídia contra o povo" com a participação de lideranças e educadores populares, vários palestrantes  vão discutir e analisar a manipulação da mídia e o direito à comunicação. Brevemente publicaremos a programação.

Brasil -Israel -Forças Armadas -I




Laerte Braga


Pimenta da Veiga é filho de João Pimenta da Veiga, um ex-deputado estadual por várias legislaturas em Minas Gerais. É produto, como se costuma dizer em Minas, da cama feita pelo pai. Vive hoje o ostracismo que cedo ou tarde acomete políticos vazios e inconseqüentes como ele. O que não significa que tenha sido mero figurante no processo político brasileiro nos anos FHC. Num dado momento chegou a dar a impressão que decolaria em vôo próprio, mas foi só impressão.

Em 1987, no processo de discussão e elaboração da Carta Constitucional do Brasil (promulgada em 1988), Pimenta da Veiga estava recolhendo assinaturas para propor emenda que tornasse obrigatória a divulgação dos documentos considerados secretos de todos os governos, em todas as instâncias, com a justificativa que os cidadãos tinham o direito de ter o conhecimento dos fatos de governo, mesmo aqueles que, em determinado momento, por várias razões, exigissem sigilo, ou o caráter de confidencial. O prazo que a emenda estabelecia para a divulgação era de vinte e cinco anos.

No documento que elaborou o deputado Pimenta da Veiga usou como exemplo a legislação dos Estados Unidos que classifica os documentos secretos de governo por um critério de maior ou menor risco para o país. Um exemplo clássico disso foi a reportagem de Marcos Corrêa no extinto JORNAL DO BRASIL, revelando a partir de documentos secretos liberados por força de lei nos EUA e que mostraram o controle que os norte-americanos exerciam sobre os militares brasileiros – falo dos militares golpistas – que derrubaram o governo de João Goulart.

Foi o trabalho de Marcos Corrêa (foi editor do JORNAL DO BRASIL, de VEJA e trabalhou em importantes publicações da mídia brasileira) que revelou a presença da IV FROTA dos EUA em águas territoriais brasileiras para intervir no Pais caso os militares locais – comandados pelo general norte-americano Vernon Walthers – não conseguissem cumprir a missão – derrubar Goulart.

Ou a resistência fosse de tal ordem que mergulhasse o País numa guerra civil.

O deputado Pimenta da Veiga, num dos corredores do Congresso, abordou o deputado Amaral Neto, de extrema-direita e um dos principais agentes do golpe de 1964, solicitando sua assinatura na proposta de emenda.

Amaral Neto leu o documento, devolveu-o a Pimenta da Veiga e disse que não assinaria, que aquilo era coisa de louco, “certos fatos o povo não pode e nem deve saber”.

Pimenta, sem graça com a resposta, disse a Amaral Neto o seguinte – “pode assinar sem susto, não vai passar, é só para fazer média”.

Quando se fala em presidente agente de governo estrangeiro, o que pode parecer exagero na critica, ou crítica descabeçada, é a mais pura verdade.

O que é o general que governa o Paquistão, onde os EUA mantêm importantes bases para a guerra do Afeganistão? Um general supostamente paquistanês, nasceu no país, recebe o soldo de sua patente e a gratificação dos norte-americanos para reprimir os que são contrários à política imperial de Washington, manter abertos os canais de serviços de inteligência ao “aliado” e conta com os olhos fechados dos “amigos” para meter a mão nas verbas de “construção e reconstrução do país”. É um cidadão paquistanês que trabalha para os EUA e torna seu país na prática uma colônia.

O que é Pepe Lobo, presidente eleito de Honduras depois de um golpe de estado, uma farsa montada em Washington e todo o aparelho repressivo no país prendendo, torturando e assassinando hondurenhos que desejam uma Assembléia Nacional Constituinte, eleições livres com participação de todos os partidos políticos?

Uma infinidade de governantes assim. Ou a ação na Líbia a pretexto de ajudar rebeldes e controlar o petróleo, como foi no Iraque?

Os ditadores brasileiros não fugiram à regra, nem mesmo o general Ernesto Geisel cuja história militar sempre mostrou um acendrado antiamericanismo que terminou nas intermináveis conversas que tinha com seu ministro Mário Henrique Simonsen, o homem de Washington em seu governo (Golbery também).

Por trás de todas essas pequenas, mas ilustrativas historinhas existe uma gama de interesses sem tamanho do ponto de vista político, econômico e militar que se fundem, se completam, no mundo conturbado, brutal e violento de hoje, onde a globalização chamada de “nova ordem econômica” não é outra coisa senão “globalitarização” (definição do geógrafo brasileiro Milton Santos), ou seja, o grande império terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A imposto pelas armas, pela barbárie.

Não é assunto para chapas brancas entenderem, transcende a isso, exige pelo menos massa cefálica.

Mas o que o Brasil tem a ver com isso?

Nossas forças armadas em sua esmagadora maioria a partir do ministro da Defesa Nelson Jobim são inteiramente subordinadas a esses interesses e não são necessariamente forças armadas brasileiras. Qualquer outra coisa, mas forças armadas brasileiras certamente não são.

Vamos ver isso tim por tim e muito bem documentado nessa série de artigos.    

Há uma coisa simples que se costuma dizer. A violência choca a todos, mas você a esquece um ou dois minutos depois, exceto se ela acontece contra você, ou alguém próximo.

Sem que você perceba ou sinta, a violência atinge diretamente cada brasileiro no processo político, econômico e militar que vivemos.

As relações militares entre o Brasil e Israel, por exemplo.

Quantos brasileiros têm conhecimento do aumento constante, consentido e deliberado da presença de Israel em situações chaves e de extrema importância para a real segurança nacional (soberania e integridade do território nacional) junto a “nossas” forças armadas?

Que se estende para além do campo militar, pois é parte de um projeto de dominação, de controle e que chega ao Judiciário, outro exemplo.

O presidente do STJ – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – o que deu um chilique num caixa eletrônico em Brasília às vésperas das festas de fim de ano, e demitiu um estagiário que apenas aguardava a sua vez de chegar ao referido caixa e realizar a operação que pretendia.

“Sou Ari Pargendler, presidente do STJ. Você está demitido.” Isso, num acesso de fúria, semelhante aos que soldados terroristas de Israel têm em relação a palestinos, quando prendem, estupram, torturam, matam e ocupam terras palestinas.

Pargendler é judeu sionista (diferente de ser judeu) e há dias foi homenageado pela colônia judia em Porto Alegre. Uma ponta festiva do papel que cumpre em sua área. Um reconhecimento dos “serviços prestados à causa”.  

O acordo entre o Judiciário brasileiro e o Banco Mundial (o que uma coisa tem a ver com a outra?) sacramenta o compromisso de submissão a interesses de empresas estrangeiras e suas propriedades no Brasil e foi assinado por essa figura.

É a invasão lenta, mas constante com a cumplicidade dos comandantes militares brasileiros e que faz de nosso País, mesmo que o governo não queira (considerando que as forças armadas continuam à margem da lei, impunes pelos crimes cometidos durante e na vigência do golpe de 1964), como se fossem um estamento, ou seja, uma parte separada do Brasil a decidir sobre o Brasil em nome do “patriotismo”.

É para acordar e ler todos os dias – “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” – Samuel Johnson, pensador e parlamentar inglês. E apenas para eliminar “suspeitas”, anticomunista.

Em 2003 as forças armadas brasileiras abriram um escritório em Tel Aviv – capital de Israel – As finalidades ou objetivos dessa decisão nunca foram explicadas, mas pode-se deduzir que para cooperação econômica, treinamento e intercâmbio de informações.

Um acordo de cooperação na área de segurança com Israel foi assinado recentemente, fato revelado pelo jornal israelense (nossa mídia é comprada não toca nisso, nossos principais jornalistas, o das grandes redes são informantes do Departamento de Estado) MAARIV. O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak e o chefe de Segurança do Ministério da Defesa Amir Kain assinaram o acordo de cooperação de segurança entre os dois países no final de novembro de 2010. Pelo lado brasileiro o acordo foi assinado pelo ministro da Agência Brasileira de Inteligência.

No artigo sobre o assunto o jornal destaca – “um mercado avaliado em bilhões de dólares se abriu para as indústrias de defesa, após um primeiro acordo desse tipo ser assinado para cooperação entre Brasil e Israel.

O mesmo artigo no mesmo jornal israelense acrescenta que: "Um mercado avaliado em bilhões de dólares se abriu para as indústrias de defesa, após um primeiro acordo desse tipo ser assinado para a cooperação entre Brasil e Israel. Já existem várias ofertas gigantes entre Israel- Aerospace Industries (IAI), Elbit e Rafael com o Brasil. [...] Sem esse acordo, que é semelhante aos acordos que Israel assinou com vários outros países, não seria possível realizar os negócios, que estão em um alto nível de classificação de segurança."

Uma série de aquisições de empresas brasileiras por empresas israelenses e contratos com Israel foram e continuam a ser a conseqüência desse acordo nesse início de 2011.

Um acordo estratégico de extrema importância para a integridade territorial do Brasil, sua soberania e a capacidade das forças armadas “brasileiras” de cumprir o seu papel, para além de golpes de estado e jogos de proteger torturadores e assassinos foi assinado sem qualquer discussão, ou conhecimento dos brasileiros.


No final de seu governo o ex-presidente Lula reconheceu o estado palestino a partir das fronteiras definidas em 1967, a rigor antes até.

Temos dois brasis? Um o definido pelo presidente da República e outro pelos comandantes militares?

O Congresso? A exceção de uns cinco por cento de deputados e senadores, o resto está preocupado com lista fechada e outras discussões que possam garantir a eternização de oligarquias como a de Sarney, figuras patéticas como Itamar Franco (quase prefeito de Aracaju) e trazer de voltas outras figuras sinistras montadas em consultoria e enriquecendo com as portas abertas para a corrupção. É lógico que esse tipo de acordo favorece a essa prática.

(continua)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

1º DE ABRIL – O GOLPE NORTE-AMERICANO NO BRASIL




Laerte Braga


A grande preocupação do governo do presidente Lyndon Johnson e do secretário de Estado Dean Rusk com o Brasil é que, antes de Nixon, haviam percebido a importância do País em toda a América Latina – isso em tempos de guerra fria – e os tempos de euforia entre setores populares dessa parte do mundo com a revolução cubana de 1959.

As chamadas reformas de base que vinham sendo implementadas pelo governo do presidente João Goulart eram entendidas pelo governo dos EUA como o fermento para uma vitória eleitoral em 1965. Acreditavam que no curso dos acontecimentos as diferenças que separavam Leonel Brizola (ex-governador do Rio Grande do Sul e então deputado federal da antiga Guanabara com 25% dos votos do eleitorado) do governador Miguel Arraes (Pernambuco) acabariam por sumir resultando numa aliança que provavelmente faria de Brizola o candidato do antigo PTB a presidente e Arraes seu companheiro de chapa, como vice-presidente.

A constituição de 1946 não estabelecia a necessidade de maioria absoluta dos votos, sendo assim, de um segundo turno entre os mais votados e esse fato já havia sido levantado por Carlos Lacerda na tentativa frustrada de impedir a posse de JK, eleito em 1965 com pouco mais de 30% dos votos.

Como o quadro se completava com uma divisão entre as forças à direita, o golpe de 1964 começou a se delinear de forma concreta bem antes de sua materialização, na posse do próprio Goulart.

Os norte-americanos tinham consciência da aversão de boa parte das forças armadas brasileiras por Goulart (desde o manifesto dos coronéis em 1954 contra o aumento do salário mínimo em 100% e Jango era o ministro do Trabalho).

Carlos Lacerda e Magalhães Pinto já estavam com suas campanhas nas ruas, desde 1963, ambos da UDN, mas certo era que Magalhães deixaria o partido se percebesse que seria derrotado na convenção. Teria, à sua disposição um leque de partidos para apresentar sua candidatura, a fidelidade partidária era um termo até então desconhecido. E o PSD lançara o JK-65 no dia seguinte ao da posse de Jânio Quadros.

A aliança Brizola-Arraes de saída traria três importantes estados da Federação. A antiga Guanabara, o Rio Grande do Sul e Pernambuco. A direita sairia dividida em Minas com a disputa JK e Magalhães Pinto e Lacerda dependeria de sua retórica golpista, seus dramalhões fascistas para tentar empolgar o eleitorado de outros estados, mas ainda assim com o risco de dividir São Paulo (o maior colégio eleitoral do País e tradicionalmente votando à direita) entre ele Lacerda, Magalhães e JK, que dos três era o mais fraco naquele estado.

A presença de Ademar de Barros no governo paulista e o fracasso de Jânio com sua renúncia poderiam vir a acrescentar fôlego à candidatura de Juscelino, abrigo natural para o governador paulista, isso se não cismasse de tentar a presidência pela terceira vez (fora derrotado em 1955 e em 1960.

O grande feito do governo Goulart, fato que assustou mais ainda os norte-americanos, foi o despertar dos trabalhadores de um modo geral e incluir entre esses, os até então silenciosos camponeses, em franco processo de organização a partir das Ligas Camponesas criadas pelo deputado Francisco Julião (para se ter uma idéia da força de Julião, em 1962 foi eleito deputado federal e arrastou consigo candidatos com menos de cem votos, isso em Pernambuco).

A percepção que as reformas de base poderiam fortalecer uma eventual candidatura de Leonel Brizola e eram muito mais amplas que a reforma agrária e a tributária, tocavam em setores considerados vitais pela direita, o das comunicações, levou os EUA a indicar Lincoln Gordon para embaixador no Brasil e Vernon Walthers, um general, para adido militar.

A missão da dupla era derrubar Goulart. Gordon era especialista em missões desse gênero e Walthers um dos mais importantes militares norte-americanos à época (chegou a ser diretor da CIA), além do que amigo íntimo e Castello Branco, primeiro ditador. Falava português fluentemente.

Coube a Gordon aliciar o empresariado paulista (o mais expressivo do Brasil), o seu entorno em outros estados da Federação, ligá-los aos setores golpistas da UDN (Lacerda e Magalhães Pinto) e a Walthers formar os batalhões norte-americanos dentro das forças armadas brasileiras.

Um registro é importante. A derrubada de Vargas em 1945, significava muito mais que colocar um ponto final num governo errático do ponto de vista ideológico, mas ao mesmo tempo, com fortes bases populares e começando a dar sinais de inclinações para a esquerda. Sonhavam com o início de um Brasil aliado incondicional dos EUA elegendo o brigadeiro Eduardo Gomes presidente da República. Não elegeram, mas não perderam. Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro de Vargas, marechal do exército, figura preponderante no golpe de 1937 virou presidente e os EUA ganharam. Em parte, mas ganharam.

Militares brasileiros de extrema-direita torciam o nariz para Dutra, desejavam a capitulação total.

Magalhães Pinto, fiel ao seu estilo de cobra peçonhenta, traiçoeiro e ardiloso, ao mesmo tempo que se uniu ao esquema traçado pelo embaixador dos EUA, de olho na sua disputa com Lacerda pela indicação presidencial, fingia-se aliado de Jango e articulava com dois generais de expressão menor dentro do Exército, Carlos Luís Guedes e Mourão Filho (com comandos em Minas) um golpe particular em que pudesse despontar como o grande líder civil do Brasil.

Mourão não saiu com as tropas da IV Região Militar sediada em Juiz de Fora de maneira aleatória. Tinha um compromisso com Magalhães Pinto e era amigo pessoal de JK, a quem visitou aliás, quando chegou ao Rio e alojou seus soldados no estádio do Maracanã.

O 31 de março não foi o início do golpe de estado. Foi a aventura de Magalhães Pinto (esteve na cidade de Juiz de Fora horas antes das tropas começarem a descida para o Rio).

O golpe decidido em Washington, planejado pelo embaixador e pelo adido militar dos EUA no Brasil começou de fato no dia 1º de abril, quando Castello Branco, alertado pelos norte-americanos conseguiu a adesão de militares supostamente leais a Jango, caso de Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército (Nordeste) e Amaury Kruel (II Exército, São Paulo). Beneficiou-se da presença das tropas de Mourão já no Rio e o apoio de figuras como o general Muricy, o general Antônio Bandeira, todos em comandos secundários, mesmo tendo perdido o comando do III Exército, Rio Grande do Sul para o general Ladário Telles, leal a Goulart e sem o apoio de Âncora de Moraes, comandante do I Exército que preferiu deixar as coisas correrem à sua revelia sem tomar partido. A maior parte dos seus comandados tomou partido pelo golpe.

Aeronáutica e Marinha, no espectro político do País sempre foram forças à extrema-direita, aliaram quase que incondicionalmente ao golpe, a despeito da ação do brigadeiro Moreira Lima, ministro da Aeronáutica, que resistiu com bravura e dignidade na defesa da ordem constitucional.

Todos os líderes políticos envolvidos no processo, Lacerda, Magalhães e Ademar de Barros e quando da consumação do golpe JK, contavam com um breve período de intervenção militar e a realização de eleições presidenciais em 1965.

Castello assumiu esse compromisso com todos eles. Terminou peitado pelo seu ministro Costa e Silva e acabou morrendo em condições misteriosas assim que deixou o poder.

A exceção de Magalhães Pinto que se manteve no entorno do golpe (ministro das Relações Exteriores de Costa e Silva e presidente do Senado), todos os demais, Lacerda. JK e Ademar de Barros se viram privados dos seus direitos políticos.

Obcecado, Magalhães acreditou que num determinado momento os civis voltariam a governar o País e era preciso estar ali perto dos militares, nem que isso custasse toda a sorte de concessões possíveis, além dos negócios, evidente, o Banco Nacional.

Para qualquer eventualidade a IV Frota norte-americana estava em águas territoriais brasileiras. A hipótese de uma reação de Goulart e uma guerra civil garantiria aos golpistas o apoio necessário para a luta.

Perto de dois mil e quinhentos oficiais, sub-oficiais e sargentos das forças armadas foram expurgados num processo de alinhamento absoluto com os norte-americanos e de 1º de abril de 1964 até o último dia do governo do general João Figueiredo, o Brasil foi parte integrante de uma sinistra operação tramada em Washington, que varreu toda a América Latina e se transformou numa longa noite de trevas e sombras, onde o ódio, a tortura, a barbárie foram a regra geral.

O rosnar do governo Geisel na ruptura do tratado militar entre os EUA e o Brasil terminou na concessão a pesquisas petrolíferas e empresas de fora dentro do território nacional, o inicio do fim do monopólio estatal, mais tarde liquidado pelo governo FHC e recuperado em alguns pontos pelo governo do presidente Lula, justiça seja feita. Mas só em alguns pontos.

Essa parte da História do Brasil ainda está oculta. Os militares resistem a que seja contada, exposta.

Hoje, sexta-feira, 1º de abril, fala-se em desmoralização e desrespeito aos militares brasileiros. O terão de volta quando forem capazes de abrir os baús desse período trágico e nocivo ao Brasil e aos brasileiros e se constituírem em forças armadas brasileiras, nunca em “policiais” do continente latino-americano, sob comando dos EUA.

Quando se inspirarem em militares do porte de Teixeira Lott. Rui Moreira Lima, Ladário Pereira Telles, major Cerveira, Carlos Lamarca e muitos outros.

Há um detalhe histórico de importância capital e que precisa ser visto com outros olhos. Quando Luís Carlos Prestes, ele próprio militar, líder da Coluna Prestes, defendeu o que chamaram de “queremismo”, ou seja, eleições em 1945, mas com Getúlio no governo, uma transição de Getúlio para um presidente eleito, Prestes não estava fazendo concessões ao algoz de Olga, ao seu algoz. Estava percebendo e entendendo a História e isso o torna maior ainda no panteão dos grandes brasileiros, dos grandes militares brasileiros, compreendendo que o sacrifício por um ideal é maior que o soldo de Washington, que qualquer soldo que Washington possa pagar. Washington ou qualquer outro.

Os militares querem respeito? Que se façam respeitar cessando as reações e intimidações à barbárie que os homens de 1964 promoveram no Brasil em todos os sentidos.

E um detalhe, o governo de Johnson apavorou-se quando o governo Goulart começou a ceder concessões de rádios e tevês a sindicatos e a organizações populares, ameaçando quebrar o poder da mídia padrão GLOBO (desde aquela época).

Esse artigo, longe de ser História, mas fatos que somam a ela, me trouxe à lembrança o encontro de Goulart com Lacerda, em 1968, presentes o ex-presidente Juscelino e o ex-deputado José Talarico Gomes.

Lacerda, no vôo para Montevidéu, estavam formando a Frente Ampla para enfrentar a ditadura, confessou a JK sua dificuldade em como cumprimentar Goulart, tendo sido ele o responsável, um dos principais, pela derrubada do governo. JK respondeu-lhe que não se preocupasse.

No encontro, na casa de Goulart, com os olhos cheios de lágrimas Lacerda disse a Jango – “presidente eu entendo que o senhor me tenha ódio, mas estou aqui de braços abertos pelo Brasil” –

Em sua extraordinária grandeza Jango abriu os braços e disse o seguinte – “não lhe tenho ódio governador, o senhor foi sempre meu adversário e me combateu pela frente. Não guardo ódios e nem rancores, mas desprezo pelo governador Magalhães Pinto que até a última hora se fingiu meu aliado. Esses são os covardes”. 

Nota da equipe do Blog.
Vejam também "Ö dia que durou 21 anos" série que será exibida nos dia 4,5 e 6 de abril às 22hs,
na TV Brasil. Roteiro e entrevistas de Flavio e Camilo Tavares. Direção Camilo Tavares .
Leiam "Cães de Guarda", de Betriz Kushnir e conheçam o papel da mídia na ditadura

terça-feira, 29 de março de 2011

Uranio empobrecido, uma estranha forma de proteger os civis líbios

Será que os povos franceses, americanos e ingleses gostariam de ser
protegidos com uranio empobrecido, como seus governantes estão
protegendo os líbios? (indagação da editora do Blog).

Por David Wilson, do Stop the War Coalition



Nas primeiras 24 horas de bombardeios a Libia, os aliados gastaram 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Trata-se de um resíduo do processo de enriquecimento de urânio que é utilizado nas armas e reatores nucleares, sendo uma substância muito valorizada no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios. Esse urânio empobrecido pode causar danos renais, câncer de pulmão, câncer ósseo, problemas de pele, transtornos neurocognitivos, danos genéticos em bebês e síndromes de imunodeficiência, entre outras doenças.

“Os mísseis que levam pontas dotadas de urânio empobrecido se ajustam à perfeição à descrição de uma bomba suja...Eu diria que é a arma perfeita para assassinar um monte de gente”, explicou Marion Falk, especialista em física e química (aposentada), Laboratório Lawrence Livermore, Califórnia (EUA).

Nas primeiras vinte e quatro horas do ataque contra a Líbia, os B-2 dos EUA lançaram 45 bombas de 2 mil libras de peso cada uma (um pouco menos de uma tonelada). Estas enormes bombas, junto com os mísseis de cruzeiro lançados desde aviões e navios britânicos e franceses, continham ogivas de urânio empobrecido.

O DU (urânio empobrecido, na sigla em inglês) é um resíduo do processo de enriquecimento de urânio que é utilizado nas armas e reatores nucleares. Trata-se de uma substância muito pesada, 1,7 vezes mais densa que o chumbo, muito valorizada no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios. Quando uma arma que leva uma ponta de urânio empobrecido golpeia um objeto sólido, como uma parte de um tanque, penetra através dele e depois explode formando uma nuvem quente de vapor. Esse vapor se transforma em um pó que desce ao solo e que é não só venenoso, mas também radioativo.

Um míssil com urânio empobrecido quando impacta algo sólido queima a 10.000°C. Quando alcança um objetivo, 30% dele fragmentam-se em pequenos projéteis. Os 70% restantes se evaporam em três óxidos altamente tóxicos, incluído o óxido de urânio. Este pó negro permanece suspenso no ar, e dependendo do vento e das condições atmosféricas pode viajar a grandes distâncias. Se vocês pensam que Iraque e Líbia estão muito distantes, lembrem-se que a radiação de Chernobyl chegou até Gales.

É muito fácil inalar partículas de menos de 5 micra de diâmetro, que podem permanecer nos pulmões ou em outros órgãos durante anos. Esse urânio empobrecido inalado pode causar danos renais, câncer de pulmão, câncer ósseo, problemas de pele, transtornos neurocognitivos, danos genéticos, síndromes de imunodeficiência e estranhas enfermidades renais e intestinais. As mulheres grávidas expostas ao urânio empobrecido podem dar à luz a bebês com deformações genéticas. Uma vez que o pó se vaporiza, não cabe esperar que o problema desapareça. Como emissor de partículas alfa, o DU tem uma vida média de 4,5 milhões de anos.

No ataque da operação “choque e pavor” contra o Iraque foram lançadas, somente sobre Bagdá, 1.500 bombas e mísseis. Seymour Hersh afirmou que só o terceiro comando de aviação dos Marines dos EUA lançou mais de “quinhentas mil toneladas de munição”. E tudo isso carregava pontas de urânio empobrecido.

A Al Jazeera informou que as forças invasoras estadunidenses dispararam 200 toneladas de material radioativo contra edifícios, casas, ruas e jardins de Bagdá. Um jornalista do Christian Science Monitor levou um contador Geiger até zonas da cidade que sofreram uma dura chuva de artilharia das tropas dos EUA. Encontrou níveis de radiação entre 1.000 e 1.900 vezes acima do normal em zonas residenciais. Com uma população de 26 milhões de habitantes, isso significa que os EUA lançaram uma bomba de uma tonelada para cada 52 cidadãos iraquianos, ou seja, uns 20 quilos de explosivos por pessoa.

William Hague, Secretário de Estado de Assuntos Exteriores britânico, disse que estávamos indo a Líbia “para proteger os civis e as zonas habitadas por civis”. Vocês não têm que olhar muito longe para ver a quem e o que está se “protegendo”.

Nas primeiras 24 horas, os aliados gastaram 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Um informe sobre controle de armamento realizado na União Europeia afirmava que seus estados membros concederam, em 2009, licenças para a venda de armas e sistemas de armamento a Líbia no valor de 333.357 milhões de euros. A Inglaterra concedeu licenças às indústrias bélicas para a venda de armas a Líbia no valor de 24,7 milhões de euros e o coronel Kadafi pagou também para que a SAS (sigla em inglês do Serviço Especial Aéreo) para treinar sua 32ª Brigada.

Eu aposto que nos próximos 4,5 milhões de euros, William Hague não irá de férias ao Norte da África.

Tradução: Katarina Peixoto


(Envolverde/Carta Maior )

segunda-feira, 28 de março de 2011

Tem muita coisa debaixo da moita - Bush

Laerte Braga


O ministro das Ciências e Tecnologia Aluísio Mercadante precisa vir a público confirmar ou desmentir as notícias que correm soltas as negociações para que o governo dos EUA alcancem, finalmente, a Base de Alcântara.

O assunto não é pacifico na sociedade brasileira, pelo contrário e muito menos nas forças armadas.

Houvesse o mínimo de empenho dos três últimos presidentes FHC. Lula e Dilma (em menor proporção evidente, três meses) e a Marinha do Brasil já teria colocado em águas brasileiras submarinos movidos a energia nuclear com tecnologia inteiramente nacional e indispensáveis à proteção da costa e do mar territorial do País.

Não tivessem sido sucateadas IMBEL e ENGESA e seríamos hoje um dos grandes produtores de armas com tecnologia de ponta possibilitando ao Exército nacional condições de garantir a integridade do território brasileiro, a assegurar a nossa soberania.

E não tivesse sido privatizada a EMBRAER – americanos têm o poder de veto em qualquer iniciativa da empresa – os projetos de desenvolvimento de um caça brasileiro estariam em fase final.

Não haveria essa chantagem feita ao governo Dilma (foi feita a FHC e Lula e nenhum dos dois decidiu coisa alguma, empurraram com a barriga) para a compra de aviões caças fabricados pela BOEING, sem transferência de tecnologia chave, o que, na hipótese da compra, vai nos colocar à reboque dos norte-americanos. Força aérea no chão.

Fossem os governos anteriores comprometidos com a importância do processo democrático em seu todo e teriam aberto os baús da ditadura militar no Brasil, revelando as sombras e trevas das operações de prisões, tortura, estupros, assassinatos e ligações com outras ditaduras (Operação Condor) e por esse motivo teríamos tido oportunidade de reconstruir a força armada e termos de brasileira, sem esse viés golpista que permanece (enfraquecido, mas permanece) e submissa, em sua esmagadora maioria, aos EUA.

O fato do coronel Brilhante Ulstra ter prendido, torturado, estuprado, assassinado presos políticos indefesos, companheiros de farda (caso do major Cerveira), não o transforma num patriota e muitos menos obriga a força armada a proteger um criminoso.

E como ele muitos outros.

Somos um País incompleto, um ornitorrinco como afirma o notável Chico Oliveira, em tudo e por tudo.

Uma criatura estranha, exótica, que não evoluiu e quando algum espaço é conseguido logo vem uma presidente disfarçada de progressista comer o mingau pelas beiradas para negociar um tratado limitado (mas nocivo) de livre comércio com a maior potência terrorista do mundo, os Estados Unidos.

Não há conluio e nem se presta aos propósitos da mídia privada, golpista e mentira, criticar Dilma Roussef. Ou Lula.

É aquele negócio de marchar. Você marcha para não pensar, disciplinadamente. Se parar e olhar para o céu, ai dana tudo, começa a pensar e dá um nó danado até encontrar o caminho e ver que não é nada disso, ou daquilo.

É lógico que Lula não iria criticar a presidente num seminário em Montevidéu, Uruguai, pois, entre outras coisas, não é louco e conhece as regras mínimas de ética política.

Se tiver alguma pretensão para o futuro sabe que vai ter que disputar com o PT chapa branca, ávido de cargos, setoriais, etc, do contrário vira de fato reserva moral do partido e do País.

Cada vez mais o PT é o PSDB preferido dos grandes empresários, do latifúndio e dos banqueiros. Perguntem ao Aécio se estou errado?

Sobra o Bracarense para a revolução (aliás, o Bracarense não tem nada com isso).

Vem aí o novo Código Florestal patrocinado pelo deputado Aldo Rebelo, um dos executivos de PC do B S/A

Tem muita coisa debaixo dessa moita e chapa branca pode ter muitos significados. O do soldado que não enxerga patavina da realidade ou daquele agregado ao poder e dono de mesa, carimbo, clips, e um telefone com a presunção que conduz um processo revolucionário sem perceber que a sede é, agora, em Washington.

Ou como disse a embaixadora do Brasil na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, “as pessoas precisam perceber que a política externa mudou”. Claro, a ordem no Itamaraty de Anthony Patriot é andar descalços para prevenir e evitar demora naquele negócio de encosta na parece com os braços para cima e abra as pernas.

Mercadante, Pimentel, Lobão (esse está acostumado a isso, faz qualquer negócio pelo poder) e Manteca, além do presidente do Banco Central comem uma omelete diariamente e telefonam para a titular da receita para dizer que estão plenos de saúde.

O problema todo é que como disse Celso Amorim, os “americanos têm mania de querer resolver os problemas do mundo como se fossem cowboys”.

Aí, o dia que John Wayne chegar aqui e montar xerifado nas imediações do Planalto acabou.

Passa que nem trator em cima da moita.

E olha que o presidente do conglomerado terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A não é Bush. Mas já chegaram ao sionista que presidente o STJ – Superior Tribunal de Justiça – através de um acordo pronto e acabado para preservar a propriedade privada.

O Congresso nada. Está de olho naquele negócio de lista fechada, de preferência sem participação popular, a partir de iluminados e sábios, uma tal lista que mantém intocados os privilégios até de múmias milenares como José Sarney.

E traz de volta alguns desesperados que no momento estão fora do palco, mas loucos para protagonizarem outras tragédias.

Aí é aquele história. O cavalo de John Wayne esta acostumado a disparar e pular o abismo caindo do outro lado sem problemas, num ufa da platéia. Pára, dá dois passos para trás, se é que cavalo dá passos e salta.

Os nativos não. Estamos voltando ao estágio de produtores e exportadores de matéria prima, sob a batuta e o chicote da MONSANTO. E o PAC é gerido por empresas que acreditam piamente que escravidão é progresso.

Não vai sobrar moita nem para esconder.

Estouro da boiada em plena extinta – nos próximos capítulos – selva amazônica.

A palavra guy com que Obama saudou Lula à época que era ele o presidente, pode se aplicar a Dilma também. É afago do cacique Aurora Radiante que, neste momento, se dedica ao esporte de eliminar – matar – líbios e em breve toma posse da nova Colômbia latino-americana.

Patriot vai abrir a porta do porto e esperar nas pedras pisadas por polacas e francesas.

Só que agora, com coturnos e numa babel de mercenários usados pelo conglomerado terrorista para assombrar nativos em qualquer parte do mundo.

As pedras terão sido “pedradas” pelos escravos. Uma hora para almoço com direito a tevê GLOBO no final de semana. Como dizia Sérgio Porto, “máquina de fazer doido”.

Você é linda menina, mas...

“Plus d’ question de phrases sobres/Ni dau Revolution d’Ocotobre/On n’en etait plus là/Finis le tombeau de Lénine/Le chocolat de chez Pouchkine/C’est c’etait loin déjá/.

É tudo da Nestlé e de gendarmes.

É moita demais.
  


quinta-feira, 24 de março de 2011

O tsunami da fome nas aldeias do Mato Grosso do Sul*

"Os cerrados brasileiros poderão alimentar um terço da humanidade", dizia a tcheca naturalizada brasileira (1924-2000) Johanna Dobereiner, em 1975, quando foi indicada ao Nobel de Química por suas descobertas sobre fixação biológica de nitrogênio, fator que alavancaria a agricultura na região. Por ironia é nesse eldorado, na Região Centro-Oeste, que mais morrem crianças indígenas de fome, em virtude do agronegócio. (Zilda Ferreira)


Por Egon Heck**
O grito da fome como ondas gigantes vai se propagando pela região.

“Este ano a Funai ainda não entregou cesta básica. São quase três meses de fome e espera”. O clamor chega das diversas aldeias e acampamentos indígenas do Mato Grosso do Sul, e em especial dos Kaiowá Guarani, da região de Dourados. O grito da fome como ondas gigantes vai se propagando pela região. Em carta encaminhada ao Ministério Público de Dourados e Funai, o Conselho da Aty Guasu manifesta sua enorme preocupação e alerta: "Nosso povo está passando muita fome, não por culpa nossa, mas porque tiraram nossas terras, acabaram com nossa possibilidade de produzir nosso alimento, e agora estamos nos braços da fome e da dependência. E o  mais grave, como não recebemos ainda nenhuma cesta básica este ano, nossas crianças estão perdendo peso, correndo o risco de uma nova mortandade por desnutrição.” Concluem a carta dizendo: “Se não vier com urgência, nós do Conselho da Aty Guasu vamos fazer um documento e espalhar no mundo inteiro dizendo que querem que a gente morra de fome.”

Às centenas de telefonemas direcionados para a Funai, a resposta que as lideranças das aldeias e acampamentos indígenas recebem é sempre a mesma – os alimentos estão comprados, porém não tem transporte para trazê-los até aqui”. O que os indígenas não entendem é como tem centenas e centenas de caminhões carregados de soja passando por suas aldeias e não existe transporte para trazer os alimentos da cesta básica.

Assassinato do cacique Veron: o julgamento continua


Aos poucos os lideres religiosos – nhanderu, juntamente com outras lideranças de aldeias Kaiowá Guarani vão chegando à Terra Indígena Takuara. Para ali chegar tem que atravessar um imenso canavial, que simboliza a travessia de mais de quinhentos anos de opressão e extermínio. Mas eles chegam esperançosos e revoltados. Com fome e sede de justiça e de pão. Com a alma Guarani em busca de sua terra sem males.

Depois da celebração e alegria pela vinda de lideranças de várias aldeia para o grande encontro de socialização do julgamento em São Paulo, dias 21 a 25 de fevereiro, quando foi reconhecido a crueldade, tortura e a formação de quadrilha que praticou violência, ferimentos e morte do cacique Marcos Veron, foi o momento de fazer o “purahei” – ritual de homenagem e justiça, na sepultura do Cacique na aldeia de Takuara. Ao som dos mbarakás, das takuaras e os cânticos espirituais aos lideranças seguiram para o barracão construído para a realização da “Aty Guasu”,  pela justiça e memória dos que derramaram seu sangue na luta pela terra.

Na carta para as autoridades e amigos do mundo inteiro os participantes assim expressaram suas exigências.

Exigimos:
O julgamento imediato do mandante do crime, Jacinto Honório da Silva Filho e do principal responsável pelo assassinado, Nivaldo Alves de Oliveira, que se encontra foragido. São ao todo 24 réus a serem julgados pela violência e morte do cacique Marcos Veron.

Que a polícia federal agilize a conclusão dos inquéritos de lideranças Kaiowá Guarani assassinados na luta pela terra, para que os responsáveis sejam julgados e punidos o quanto antes.

Que sejam concluídos e publicados com urgência os relatórios de identificação de todas as terras Kaiowá Guarani, que é indispensável para começar a reverter a situação de violência. Assim, as comunidades voltarão a viver em paz dentro de seus tekohá.

Continuaremos nos reunindo, fazendo as nossas rezas e discussões em nossas Jeroky Guasu e Aty Guasu. Esperamos continuar contando com a compreensão e apoio sempre maior de amigos e novos aliados no Brasil e no mundo.”  (Aldeia Takuara, 13 de março de 2011, Juti – MS.  – Carta dos nhanderu e lideranças Kaiowá Guarani)

Apesar de tudo a vida Guarani segue sua trajetória secular, de resistência e afirmação de sua cultura. Nos próximos dias acontecerá o segundo encontro dos Guarani da América do Sul, promovido pelos Ministérios da Cultura dos quatro países – Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia. São esperados em torno de mil Guarani na aldeia Jaguaty, no departamento de Amambay, no Paraguai.
*publicado originalmente no Brasil de Fato
**coordenador do Cimi-MS.

Leia também: 
'O sonho de um mundo sem fome' [Z.F., JB, 1/10/1975; pág. 34]
A disputa pela terra em Copenhague

Educação Escolar Indígena: a quem interessa o caos



Por Egon Dionísio Heck*


Escola paralisada. Mais de 300 alunos Kaiowá-Guarani da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, município de Antonio João ficam sem aula por dois dias. A professora Leia Aquino, que já foi diretora da escola, desabafa: "Não podemos aceitar o que estão fazendo. Estão querendo acabar com nossas conquistas, nossa luta para ter uma escola nossa, do nosso jeito Kaiowá-Guarani, com autonomia e comprometida com a luta do nosso povo pela terra e por nossos direitos”.

Diante da interferência nociva da prefeitura, substituindo toda a direção da escola que era formada por professores indígenas, por professores não indígenas, restou como forma de protesto, a paralisação das aulas por dois dias, na Escola Mbo’erro Tupã’i Arandu Reñoi.

É importante lembrar que esta escola teve um papel relevante na resistência ao despejo desta comunidade em15 de dezembro de 2005. Em vários momentos foram os professores que tomaram iniciativas de mobilização pela terra e contra as inúmeras violências de que foram vítimas membros da comunidade.

Essa situação não é isolada. A maioria das escolas Kaiowá-Guarani estão à beira do caos, com a interferência direta de muitos dos 26 municípios onde existem comunidades indígenas. Além disso, constata-se uma interferência política do governo do Estado, procurando acabar com quase 20 anos de luta e conquista do movimento indígena no Mato Grosso do Sul. Um dos principais alvos é o curso de formação de professores Ará Verá. Em recente documento os professores indígenas advertem: "É extremamente urgente a necessidade de resolver problemas locais das escolas indígenas, pois está havendo um retrocesso político e pedagógico em várias aldeias, por conta de gestores públicos que ainda não entendem este processo, que continuam desrespeitando a lei e que não aceitam nossos direitos” (documento – Esclarecimentos, reivindicações e apelo aos órgãos públicos, sobre a questão de Educação Escolar Indígena no Cone Sul do Mato Grosso do Sul – março 2011).

Com relação ao importante processo de formação dos professores Kaiowá-Guarani através do Curso Ará Verá, reconhecido nacionalmente como uma das experiências mais exitosas nessa área, ameaçado de extinção, ou mutilação pelo governo do estado, "Exigimos a abertura de uma nova turma para o curso Ara Verá ainda em 2011, e outras com entrada anual, tendo em vista a real demanda para formação de professores Guarani-Kaiowá, cuja responsabilidade é do Estado, quando na verdade, o MS está muito aquém de cumprir esta determinação legal. Essas vagas são absolutamente necessárias também para suprir exigências estabelecidas aos municípios de ter profissionais habilitados e concursados, o que só é possível, com um quadro formado, cuja demanda está aumentando cada vez mais, e considerando também que a formação dos indígenas é muito recente. Caso essa necessidade e exigências não sejam atendidas, as leis que garantem os cargos de magistério aos indígenas serão inúteis e as comunidades serão novamente invadidas por profissionais não indígenas sob o argumento de que não há profissionais indígenas habilitados. A demanda para formação de professores indígenas já foi levantada várias vezes (para o etnoterritório foram mais de 100, em 2009; e para a seleção convocada em 2010 foram 240 inscritos), mas a Gestão da SED ignora essa urgência, alegando que é "só isso” (40 vagas) que podem oferecer. Essa afirmação parece uma cruel ironia, diante da propaganda que o governo faz sobre o sucesso da educação no estado. Perguntamos: "sucesso” para quem? Por outro lado, essa afirmação é enganosa, pois se o curso é de uma Escola estadual, deve ser garantido o seu funcionamento regular, ainda que parcelado e específico, com os recursos e a estrutura necessária, como para qualquer outra escola da rede. Por que a discriminação? "

Não bastassem essas interferências nocivas vemos várias escolas indígenas sob forte e destrutivo impacto dos mais diversos interesses, desde igrejas até disputas internas apoiadas por forças externas. Diante desse quadro grave o movimento de professores exige das autoridades do poder executivo estadual e municipal "Retomar o diálogo com o movimento/organizações indígenas como parceiro da construção das políticas públicas, uma vez que estamos num estado democrático e a lei estabelece a obrigação do estado de consultar as comunidades e os povos indígenas”.

O movimento dos professores, no documento já referido, além de denunciar a grave e caótica situação em que está envolvida a educação escolar indígena, dizendo-se decepcionados pela falta de providências aos inúmeros documentos enviados às autoridades, procuram explicitar sua maneira de pensar e agir:

"Em primeiro lugar é necessário entender o modo de ser dos Guarani e dos Kaiowá. Nosso povo se encolhe quando é atacado, ameaçado, manipulado, desrespeitado, humilhado. E é isso que tem acontecido, com muito mais frequência do que a sociedade sabe e que os encarregados de nos defender escondem. As instituições fazem de conta que nos consultam, que agem de acordo com a lei. Mas isso não é bem verdade, é só fachada. Para conseguirem o que querem, manipulam, escondem, acusam, ameaçam, não só a nós, mas também aos que nos apóiam. E isso nos assusta, nos intimida. Nossa história nos levou a sermos desse jeito: temos medo daquilo que não conhecemos; medo daqueles que conhecemos e que sabemos que podem nos prejudicar; medo de perder o pouco que conquistamos; medo de errar; medo da autoridade autoritária. Se a autoridade fosse democrática e sensível às nossas necessidades, não teríamos medo, pois haveria diálogo e o diálogo não assusta ninguém. Pelo contrário, o diálogo é o único caminho para a paz. Sem diálogo, conversa, transparência, é que surgem os conflitos, a repressão e o medo.

Nossa forma de ser é pela não violência, pela paciência, pela palavra escutada e falada através do conselho, da negociação e não da imposição. Nós só falamos quando nos dão a palavra, não tomamos a palavra de ninguém, por isso parece que não temos reação, que não temos opinião...

Nossa palavra é também escrita e já mandamos muitos documentos falando qual é a nossa posição, mas parece que as autoridades não sabem ler, pois não entendem o que colocamos ou simplesmente ignoram nossa palavra escrita. Não sabemos mais o que fazer. Mas nossa paciência também tem limites... A tomada de decisão é sempre demorada e muito pensada. E isso pode parecer que não sabemos tomar decisões. Mas nós sabemos que não é isso. Somos cautelosos, mas não somos crianças. Temos paciência; mas, não somos bobos; queremos ser consultados, ouvidos e respeitados; e tem muita coisa que precisa ser mudada nas instituições públicas e no comportamento dos gestores públicos” (idem, doc. movimento professores).

A pergunta que se impõem nesse momento importante de luta dos povos Kaiowá-Guarani pelos seus direitos e seus territórios, no qual os professores e escolas indígenas têm papel relevante, é a quem interessa essa situação caótica em que se encontram inúmeras escolas desse povo, num claro retrocesso pedagógico e político. O movimento dos professores exige respeito ao seu protagonismo e autonomia, com uma educação diferenciada e de qualidade, formadora de lutadores pelos direitos de seu povo.

Povo Guarani Grande Povo

Brasília, 22 de março de 2011

*Egon Dionísio Heck é assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
.

fonte: Envolverde/Adital

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os riscos de defender a vida


Por Marcelo Barros*


No norte da África, a juventude e a sociedade civil se levantam contra ditadores e exigem mudanças sociais e políticas. Eles se unem a muita gente que, no mundo inteiro, nos dão testemunho de profunda coragem e doação da vida. Certamente muitos filhos escutam de seus pais argumentos para não irem às ruas protestar. É perigoso! Um artigo na internet ressalta a importância da participação das mulheres nas rebeliões cívicas no Egito e na Líbia. É uma verdadeira profecia de fé e confiança no futuro.

Ainda há quem continua dizendo que este mundo não muda nunca. Sempre foi injusto e sempre o será. Entretanto, cada vez é maior o número de pessoas que, em todos os continentes, se mobilizam para transformar a sociedade e tornar a vida mais feliz para todos.

Foi das aldeias indígenas e das culturas mais oprimidas e sofridas da América Latina que surgiu o conceito de viver em plenitude, ou simplesmente bom viver. Nos Andes, os índios quétchua chamam isso de sumak Kwasay; os Aymara falam em Sumak Kamana. Outros povos têm  nomes diferentes para indicar o mesmo valor: o objetivo social e político de garantir uma vida feliz para todos. O Equador e a Bolívia integraram a meta indígena do “Bom Viver” em suas Constituições nacionais, elaboradas pela sociedade civil e votadas recentemente por todo o povo.

 A sociedade capitalista vê sempre a vida como luta, o trabalho como batalha para ganhar o pão e a relação humana como concorrência. Para uma cultura assim, procurar uma vida feliz parece ser utopia irreal. Entretanto, a maioria das tradições espirituais sempre insistiu que o ser humano tem por vocação a felicidade e a plenitude da vida. Jesus Cristo lutou e deu a vida por isso. Conforme o evangelho, ele teria dito: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).

Na América Latina, muitos irmãos e irmãs deram a vida por este ideal da vida digna e justa para todos. Nesta quinta feira, 24, celebramos o aniversário do martírio de Dom Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado em meio à missa que celebrava em uma capela de hospital (1980). Conheci e convivi com o padre Inácio Ellacuría, um dos jesuítas assassinados em 1989, na mesma cidade. Dois dias depois do assassinato do arcebispo, durante uma celebração em sua memória, o padre Ellacuria afirmou: “Com Dom Romero, a presença de Deus em El Salvador se tornou mais visível”.

Na época em que o arcebispo Oscar Romero e os jesuítas da Universidade de El Salvador foram assassinados, o país estava em uma guerra civil na qual mais de 50 mil pessoas perderam a vida. Desde os anos 80, a imensa maioria dos assassinatos, cometida por militares, nunca foi investigada nem punida.  Nos últimos anos, o país começou a mudar. Os esquadrões da morte foram desbaratados, o principal suspeito do assassinato do arcebispo foi julgado e ninguém mais precisa viver exilado para não morrer. O país elegeu como presidente Maurício Funes, jornalista, ex-guerrilheiro e casado com uma brasileira. A partir do respeito à Constituição e de forma democrática, o país tem integrado o grupo de países latino-americanos que caminham para uma autonomia maior e uma libertação da influência norte-americana. Mesmo sem usar o nome de “bolivarianismo”, os salvadorenhos querem formar com todos os povos do continente uma pátria grande.

Eles tornaram Dom Óscar Romero um herói nacional, homenageado como mártir e como exemplo de humanidade. Uma palavra do arcebispo ressoa ainda hoje como apelo à humanidade: “O grande inspirador da libertação de toda humanidade e de cada pessoa humana é Jesus Cristo. Por sua vida doada e sua ressurreição, ele diz a todos os poderosos da terra: “Vocês não libertam ninguém. Só quem consegue superar o egoísmo e destruir as cadeias que aprisionam o coração humano consegue libertar a si mesmo e aos outros. Se não partir do mais profundo do interior humano, a libertação não é duradoura, nem verdadeira”.

*Publicado originalmente no site do Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/5919

(Envolverde/Brasil de Fato)

terça-feira, 22 de março de 2011

A quem serve a transposicão das águas do São Francisco?


Por Aziz Ab´Sáber*

É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam muitas ideias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas. Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados.

Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil.

Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do País, onde se encontra a região semi-árida mais povoada do mundo.

O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver problemas do espaço total do semi-árido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.

Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio - Paulo Afonso, Itaparica e Xingó.

Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região.

Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela idéia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas?

Os "vazanteiros" que fazem horticultura no leito dos rios que "cortam" - que perdem fluxo durante o ano-serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: "A cultura de vazante já era". Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm.

Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses.

Trata-se, porém, do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais. A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes.

O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da Chapada do Araripe - com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política.

No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria.

*Aziz Ab´Sáber é geógrafo, professor e escritor. Professor-Doutor em Geografia Física (USP), ganhador do prêmio Ciência e Meio Ambiente da Unesco, também foi presidente da SBPC e do Condephaat e diretor do Instituto de Geografia da USP.
IMAGEM
Crédito
: Angel Boligan

(Envolverde/O autor)