terça-feira, 10 de abril de 2012

NOVO CERCO AO BRASIL

05/04/2012 - Mauro Santayana - em seu blog


(JB) - Se, amanhã, os terrestres vierem a colonizar Marte, como muitos sonham, o feito será, dentro das circunstâncias do tempo e da ciência, menos surpreendente do que foi o desembarque europeu na América do Sul e a ocupação do espaço ainda desconhecido. Sabemos hoje muito mais do planeta vermelho do que os contemporâneos do Renascimento podiam conhecer da América do Sul. Na realidade, nem mesmo podiam ter certeza de que a quarta parte existisse.

Não só a conquista do território continental, mas a construção da consciência de pátria - da plena identidade e da soberania de nossos povos - tem sido ato permanente de luta e de resistência, contra a natureza hostil e contra a opressão política.


Só há dois séculos, na esteira da Revolução Francesa, da Guerra de Independência dos Estados Unidos e das guerras napoleônicas, admitiram a nossa existência como povo, mas sob arrogante tutela e subordinação aos seus interesses.

O pior é que as coisas continuam quase da mesma forma.


Querem-nos apenas como fornecedores de matérias primas. Ao usar o vocábulo commodities para designar nossos produtos primários, os neoliberais brasileiros engambelam-nos com a sonoridade britânica do termo, como antes os colonizadores nos engabelavam com os espelhos e miçangas. Continuamos exportando minérios e comprando máquinas; exportando soja e pagando royalties por tecnologia; exportando produtos de nossa singular biodiversidade, e importando medicamentos.



Se houvesse sido possível a exportação da cana em seu estado natural, não teríamos construído aqui os primeiros engenhos açucareiros. Só depois da Independência erigimos forjas para a fundição econômica do ferro; até então foices e enxadas vinham da Europa, por via de Portugal. A independência dos paises latino-americanos foi de interesse da Grã Bretanha, que substituiu Madri e Lisboa. A partir de então, Londres se livrou dos intermediários e passou a disputar, com os Estados Unidos, que cresciam, o nosso mercado, como fornecedor de matérias primas e comprador de produtos manufaturados.

É interessante notar que todas as vezes que as circunstâncias nos ajudavam, o cerco estrangeiro se fechava sobre o Brasil – e sobre os paises do continente. Nosso desenvolvimento industrial no Segundo Reinado - em que houve, para o bem e para o mal, a aliança da Coroa com Mauá - foi tolhido pela ação britânica, contra a economia brasileira e com o cerco ao grande empreendedor, cuja presença política no continente incomodava a geopolítica imperialista.

A República, não obstante todos os seus avanços, propiciou, pelas dificuldades políticas de sua consolidação, o assédio britânico. As negociações draconianas da nossa dívida com a praça de Londres – o famoso funding loan é o exemplo da arrogância e voracidade dos banqueiros internacionais – favoreceram o desembarque de suas empresas no país, que, logo se associaram às norte-americanas.


Em 1922, em uma visão histórica equivocada, os tenentes se levantaram contra a eleição do mineiro Artur Bernardes, a partir de cartas falsas, a ele atribuídas, e que ofendiam o marechal Hermes da Fonseca. Até hoje não sabemos, exatamente, a quê e a quem serviram os falsários, não obstante as versões divulgadas. Era um bom momento para o Brasil, e que se frustrou em parte, na medida em que o presidente teve que defender, a ferro e fogo, o seu mandato – não tendo, em razão disso, conseguido ampliar as medidas nacionalistas adotadas contra os interesses anglo-saxônicos, entre elas as de nosso desenvolvimento siderúrgico.



Para não lembrar episódios menores no intervalo, o cerco a Getúlio, em seu segundo mandato, é nisso exemplar. O presidente entendera, desde os anos 30, que não teríamos soberania sem que tivéssemos a energia necessária ao desenvolvimento da economia. Por isso, cuidou da Petrobrás e da Eletrobrás, como bases necessárias à economia industrial brasileira.

Os interesses estrangeiros – leia-se, norte-americanos – se mobilizaram, conforme documentos ianques indesmentíveis, com a ajuda dos meios de comunicação brasileiros, e políticos cooptados, a fim de acossar o presidente até a tragédia de 24 de agosto de 1954. Não satisfeitos, desde que o tíbio governo de Café Filho não os garantira, tentaram novamente o golpe, em 11 de novembro de 1955, mediante os seus cúmplices nacionais. Se impedissem a posse de Juscelino, como queriam - e Lacerda vociferava em seus ataques ao mineiro - a primeira medida seria a revogação do monopólio estatal do petróleo.



A reação dos militares nacionalistas, chefiados por Lott, frustrou-lhes os planos, e Juscelino pôde, em seu qüinqüênio presidir ao extraordinário salto do Brasil rumo ao futuro - enfrentando, ao mesmo tempo os interesses estrangeiros e o derrotismo conformista de muitos brasileiros. A vitória de Jânio e sua renúncia, meses depois, interromperam o processo de consolidação democrática.



A facção pró-americana, de civis e militares, que não queria o desenvolvimento autônomo do país, também açulada por Lacerda e outros, iniciou o processo golpista, prontamente contido pela reação de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul.


Diante da iminência da guerra civil, houve negociações que mudaram o sistema, implantando-se o parlamentarismo. Jango assumiu reduzido em seus poderes constitucionais, outorgados pelas eleições livres, e era natural que a nação lutasse para que ele os recuperasse, como os recuperou, com a vitória no referendo popular.

O novo momento foi, mais uma vez, usado pelos norte-americanos, com a desavergonhada intromissão em nossos assuntos internos, mediante o IBAD e outros instrumentos.


O golpe de 1964 se fez contra o Brasil, e não em defesa da soi-disant democracia hemisférica contra Cuba e a União Soviética.

O que eles temiam, e continuam a temer, é a transformação de nosso país em grande potência econômica, provida de conseqüente força militar, capaz de garantir a sua presença política continental e sua soberania no mundo.


Estamos em momento similar, e em plena ascensão. Essa situação auspiciosa, é bom repetir até a exaustão, recomenda a todos os brasileiros, civis e militares, conscientes de seu pertencimento à comunidade nacional, o máximo de prudência.


É preciso fechar as nossas portas aos estrangeiros, interessados em retirar o seu butim de eventuais conflitos internos, como fazem no Iraque, no Afeganistão, na Líbia - e se preparam para fazer na Síria e no Irã.

Mauro Santayana é jornalista


segunda-feira, 9 de abril de 2012

O poema que desmascarou Israel

07/04/2012 - Baby Siqueira Abrão - Correspondente no Oriente Médio
- redecastorphoto

O escritor alemão Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura de 1999, provoca polêmica internacional ao publicar um poema afirmando que Israel é um risco à paz mundial e criticando o país pelo arsenal nuclear e pelas ameaças ao Irã.

A polêmica começou em 4 de abril, quando o Süddeutsche Zeitung (literalmente, Jornal do Sul da Alemanha) publicou o mais novo poema de Günther Grass, “Was gesagt werden muss” ("O que deve ser dito"). Nele, Grass critica Israel por seu poderio nuclear e pelas ameaças de ataque ao Irã. E vai além, chamando Netanyhau, primeiro-ministro israelense, de “fanfarrão” que quer exterminar o povo iraniano. O escritor também critica a Alemanha, que há pouco tempo vendeu outro submarino nuclear ao governo de Israel.


Importantíssimas são as sugestões de Grass para que Israel e Irã permitam que autoridades internacionais inspecionem suas instalações nucleares; para que os sionistas renunciem à força; e o desafio à hipocrisia do Ocidente, que silencia diante dos crimes israelenses por temer a acusação de “antissemitismo” – segundo o poeta, uma “gravosa mentira”, uma coação. É preciso lembrar que os sionistas acusam seus críticos de “antissemitas”, procurando identificar esse termo com “antissionismo”.

Na verdade, ambas as palavras referem-se a conceitos muito diferentes.

Antissemitas”, vocábulo cunhado no final do século 19 no contexto europeu de perseguição aos judeus, refere-se – com muita impropriedade, destaque-se, uma vez que grande parte da população árabe é semita e os judeus da Europa não o são – às pessoas que se opõem aos que professam o judaísmo. Já “antissionismo” diz respeito ao crescente movimento mundial daqueles que repudiam a ideologia sionista, considerada racista, militarista, apoiada em mitos que falseiam a história, na violência e na violação de direitos humanos, em função da opressão a que submete o povo palestino há mais de 100 anos.

O sionismo conta com profissionais para criar argumentos que, distorcendo e negando a realidade, fazem a defesa de suas políticas e de suas práticas. Esses argumentos têm como objetivo desviar, do foco das críticas, a situação criada pelos sionistas na Palestina.

Enviados a sionistas e judeus do mundo todo, são repetidos por eles à exaustão. Podem convencer ao interlocutor desacostumado a esse debate, mas são facilmente desmontados por aqueles que têm um mínimo de conhecimento sobre a história do sionismo, as pressões internacionais que seus adeptos fizeram para tomar a Palestina e a violência a que os sionistas submetem os palestinos desde fins do século 19.

Günter Grass não chega ao ponto de desmascarar a falsa relação que os sionistas fazem entre antissemitismo e antissionismo ou as falácias que sustentam essa relação. Mas, numa Europa em que a população vive acuada, temendo ser acusada de antissemita, é um grande passo denunciar o uso da palavra como instrumento político de coação, destinado a calar os opositores dos sionistas (instrumento, por sinal, também utilizado no Brasil).

Esses pontos, fundamentais no debate sobre o perigo que Israel representa para a ordem mundial, ao, entre outras ilegalidades, violar a legislação internacional, fabricar e armazenar secretamente armas de destruição em massa, praticar genocídio (*) contra o povo palestino, foram colocados na pauta mundial por Grass.

Diante desse fato, as qualidades literárias do poema, consideradas abaixo da média pela crítica especializada, e o fato de o poeta ter participado de uma organização nazista aos 15 anos de idade (o que pode ser explicado por sua imaturidade, aliada à confiança que o povo alemão, Grass incluído, depositava no nazismo quando o levou ao poder), não têm a mínima importância.

Trata-se de um poema militante, de um homem que conheceu a barbárie da guerra e teme que a humanidade, indefesa, seja submetida a barbárie muito pior em consequência dos caprichos de governantes desvairados.

Conheça o poema de Günter Grass, traduzido da versão espanhola.

O que deve ser dito

Porque guardo silêncio há demasiado tempo
sobre o que é manifesto
e se utilizava em jogos de guerra
em que no fim, nós sobreviventes,
acabamos como meras notas de rodapé.

É o suposto direito a um ataque preventivo,
que poderá exterminar o povo iraniano,
conduzido ao júbilo
Benjamin Netanyahu - Primeiro Ministro de Israel
e organizado por um fanfarrão,
porque na sua jurisdição se suspeita
do fabrico de uma bomba atômica.

Mas por que me proibiram de falar
sobre esse outro país [Israel], onde há anos
- ainda que mantido em segredo –
se dispõe de um crescente potencial nuclear,
que não está sujeito a nenhum controle,
pois é inacessível a inspeções?
Antisemiticroths - Charles Lucien Léandre


O silêncio geral sobre esse fato,
a que se sujeitou o meu próprio silêncio,
sinto-o como uma gravosa mentira
e coação que ameaça castigar
quando não é respeitada:
“antissemitismo” se chama a condenação.

Agora, contudo, porque o meu país,
acusado uma e outra vez, rotineiramente,
de crimes muito próprios,
sem quaisquer precedentes,
vai entregar a Israel outro submarino
cuja especialidade é dirigir ogivas aniquiladoras
para onde não ficou provada
a existência de uma única bomba,
se bem que se queira instituir o medo como prova… digo o que deve ser dito.

Por que me calei até agora?

Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma inapagável,
me impedia de atribuir esse fato, como evidente,
ao país de Israel, ao qual estou unido
e quero continuar a estar.

Por que motivo só agora digo,
já velho e com a minha última tinta,
que Israel, potência nuclear, coloca em perigo
uma paz mundial já de si frágil?

Porque deve ser dito
aquilo que amanhã poderá ser demasiado tarde [a dizer],
e porque – já suficientemente incriminados como alemães –
poderíamos ser cúmplices de um crime
que é previsível,
pelo que a nossa cota-parte de culpa
não poderia extinguir-se
com nenhuma das desculpas habituais.

Admito-o: não vou continuar a calar-me
porque estou farto
da hipocrisia do Ocidente;
é de esperar, além disso,
que muitos se libertem do silêncio,
exijam ao causador desse perigo visível
que renuncie ao uso da força
e insistam também para que os governos
de ambos os países permitam
o controle permanente e sem entraves,
por parte de uma instância internacional,
do potencial nuclear israelense
e das instalações nucleares iranianas.


Só assim poderemos ajudar todos,
israelenses e palestinos,
mas também todos os seres humanos
que nessa região ocupada pela demência
vivem em conflito lado a lado,
odiando-se mutuamente,
e decididamente ajudar-nos também.

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(*) Segundo o artigo 6 do Estatuto de Roma, que fundou o Tribunal Penal Internacional, entende-se por “genocídio” qualquer dos seguintes atos: “perpetrados com a intenção de destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico,
a) Matança de membros do grupo;
b) Lesão grave à integridade física ou mental dos membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de existência que acarretem sua destruição física, total ou parcial;
d) Medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, por meio da força, de crianças do grupo a outro grupo”.

As práticas sionistas também se inscrevem em outros crimes estabelecidos pelo Estatuto de Roma: lesa-humanidade (capítulo 7) e crimes de guerra (artigo 8).
Esses crimes são imprescritíveis e o leitor pode comprovar pelos artigos abaixo, com seus próprios olhos, que esses crimes foram e continuam sendo cometidos contra o povo palestino.

Outros artigos sobre o mesmo assunto:
- As cobaias humanas de Israel (ver em: http://www.brasildefato.com.br/content/cobaias-humanas-de-israel )
- O genocídio do povo de Gaza (ver em: http://www.brasildefato.com.br/node/3426 )
- Massacre em Gaza (ver em: http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=94&alterarHomeAtual=1 )
- O inferno de Gaza agora Israel chega a um acordo com a verdade (ver em: http://www.libreidee.org/pt/2010/07/linferno-di-gaza-ora-israele-fa-i-conti-con-la-verita/ )

- Vídeo Visita a Gaza (imagens de Miguel Portas, deputado do Parlamento Europeu) (ver em: http://www.youtube.com/watch?v=t9QPfG9iu3E&feature=player_embedded )





domingo, 8 de abril de 2012

A grande mídia a serviço de quadrilhas organizadas

02/04/2012 - J Carlos de Assis* - Carta Maior

No Brasil, estamos assistindo estupefatos ao descortinamento do conúbio inacreditável entre setores da mídia e crime organizado: gravações feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça revelam que a maior revista do pais, “Veja”, teria sido regularmente pautada por bandidos que usam espiões privados, alguns egressos do antigo SNI, para muitas vezes forjar escândalos.
O artigo é de J. Carlos de Assis*

Décadas atrás li a autobiografia do general Reinhard Gehlen, o chefe da espionagem alemã no Leste europeu durante a Segunda Guerra, o qual, com o fim desta e a derrota de Hitler, salvou a própria cabeça e as cabeças de seus auxiliares mais próximos vendendo aos americanos seus arquivos e sua rede de contatos no coração da União Soviética. Tornou-se uma legenda, pela eficiência com que organizou, nas duas situações – sob Hitler, e sob os americanos -, sua excepcional rede de espionagem contra os soviéticos.

General Reinhard Gehlen ao centro

O fim da guerra deveria ter significado também o seu fim. Precavido, antes da derrocada final alemã enterrou algo como 50 barris de microfilmes em montanhas da Áustria para negociá-los com os vencedores. Deu certo. Gehlen acabou conquistando a confiança dos americanos, e da própria CIA, transferindo para eles sua lealdade e, principalmente, seus arquivos materiais e mentais. Na antiga função, notabilizara-se sobretudo por ter sob seu comando centenas de brilhantes jovens espiões, recrutados entre a elite dos exércitos alemães.

Na nova, manteve esses critérios.

Ex-general Reinhard Gehlen
Cerca de 4 mil agentes do antigo Reich foram “transferidos” para os serviços de espionagem da nova Alemanha dirigidos por Gehlen. Foram fundamentais para a organização de um serviço de informação ocidental direcionado contra os soviéticos. Antes, não havia nenhum sistema de espionagem estruturado nesse sentido pelos americanos. Sem os serviços de Gehlen, e sem essa “transferência”, os Estados Unidos teriam uma tremenda dificuldade na condução ideológica de seu lado na Guerra Fria, que não se limitava apenas à espionagem, mas também à comunicação.

Boris Yeltsin
Essas reminiscências me vieram à mente com o fim da União Soviética, e com a pergunta óbvia: O que foi feito do imenso aparato de espionagem, informação e contra-informação soviético, deixado sem pai nem mãe enquanto o Estado se desestruturava no desgoverno Yeltsin? Sabemos que algo dele sobreviveu nas mãos de Putin, mas até que este antigo homem de informação assumisse o poder dezenas de milhares de espiões de dentro e de fora da União Soviética perderam privilégios e rendas, sendo forçados a buscar outros meios de vida.

Minha intuição é que essa rede universal de espionagem deserdada, não tendo em seu comando um general Gehlen que a negociasse em bloco com um novo patrão – os americanos não se interessariam, a não ser pelos cabeças -, tem sido comprada no varejo por duas estruturas poderosas, que podem pagar por ela: o sistema financeiro e a grande mídia. O sistema financeiro usa a espionagem privada para manipular e chantagear políticos na busca de decisões legislativas a seu favor. É uma forma agressiva de lobby, que funciona sobretudo nos Estados Unidos.

Quanto à utilização pela mídia de espiões descolados das estruturas formais de espionagem, tivemos a primeira evidência mundial com o caso Murdoch na Inglaterra: esse mega-empresário das comunicações, dono do Wall Street Journal, dentre outros jornais de direita, foi pego com a boca na botija ao empregar espiões para grampear personalidades de várias áreas na Inglaterra para chantageá-los com seu jornal de escâncalos. Isso sugere o cruzamento de interesses financeiros com interesses midiáticos espúrios, numa conspiração gigantesca, em escala global, contra a democracia.

No Brasil, estamos assistindo estupefatos ao descortinamento do conúbio inacreditável entre mídia e crime organizado: gravações feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça revelam que a maior revista do pais, “Veja”, teria sido regularmente pautada por bandidos que usam espiões privados, alguns egressos do antigo SNI, para muitas vezes forjar escândalos. Note-se que o SNI, Serviço Nacional de Informações, foi extinto por Collor anos atrás, e seus espiões, assim como os soviéticos, foram deixados à solta no mundo para quem pagasse melhor.

Em relação à “Veja” havia outros indícios de utilização de espiões, como tem sido bem documentado pelos jornalistas Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim. Com minha experiência de mais de 30 anos de jornalismo ativo, e tendo eu próprio sido um dos introdutores do jornalismo econômico investigativo na área econômica no início dos anos 80 – portanto, ainda sob a ditadura -, desconfio de reportagens com excesso de detalhes cronológicos, minuto a minuto – como recentemente fizeram com José Dirceu. Nenhum repórter consegue esses detalhes relativamente a fatos passados a não ser pela mão de um espião. Alguém os colhe, e a maioria que os colhe, colhe-os para vender.
 
Como outras revistas de direita, “Veja” paga pelo material, na medida em que rende aumento de circulação, pondo um laranja para assinar.

Tudo se faz, claro, sob o manto protetor da liberdade de imprensa!
  
 (*) Economista e professor, presidente do Intersul, autor, junto com o físico-matemático Francisco Antonio Doria, do recém-lançado “O universo neoliberal em desencanto”, pela editora Civilização Brasileira. Esta coluna é publicada também no site “Rumos do Brasil” e, às terças, no jornal carioca Monitor Mercantil.


sábado, 7 de abril de 2012

Roger Waters defende a causa palestina e sofre ameaça

03/04/2012 - Baby Siqueira Abrão - Correspondente no Oriente Médio - Brasil de Fato

A Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ) entra com ação para calar um dos fundadores do Pink Floyd, por críticas a Israel em entrevista realizada no Brasil.


A passagem pelo Brasil de Roger Waters, um dos fundadores do extinto grupo de rock progressivo Pink Floyd, enfureceu os sionistas.

Ativista da causa palestina desde 2006, quando decidiu conhecer a Cisjordânia depois de um show em Tel Aviv, Waters, em entrevista coletiva realizada no Rio de Janeiro, defendeu os palestinos, criticou o governo israelense e declarou apoio à campanha BDS, que boicota produtos fabricados em Israel. Também divulgou o Fórum Social Palestina Livre, encontro internacional a ser realizado em Porto Alegre de 28 de novembro a 1º. de dezembro de 2012.

As declarações desagradaram a Federação Israelita do Rio de Janeiro (FIERJ). Segundo nota publicada na coluna de Alcelmo Gois, em O Globo, o advogado da FIERJ, Ricardo Brajterman, tentou impedir na Justiça que Roger Walters voltasse a fazer “declarações antissionistas” no show realizado no Engenhão em 29 de março.

Acostumados à submissão europeia e estadunidense, os sionistas não esperavam a reação dos brasileiros, de afirmação da liberdade de expressão e de rejeição a todas as tentativas de calar as pessoas, em especial as que fazem críticas a Israel pela violação dos direitos humanos dos palestinos.

Várias organizações, como o Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino do Rio de Janeiro, a Frente em Defesa do Povo Palestino e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) divulgaram notas públicas de apoio às declarações de Roger e de repúdio à atitude da FIERJ.

Israel ocupa territórios palestinos em desacordo com todas as leis internacionais, ergueu o muro do apartheid e da colonização, que foi declarado ilegal pelo Tribunal Internacional [de Justiça]. Constrói assentamentos na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel, em desacordo com todas as resoluções internacionais. Cerca e bombardeia a Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de palestinos estão sujeitos a sobreviver abaixo das mínimas condições de alimentação, educação e saúde. Israel não respeita e não cumpre as resoluções da ONU e do direito internacional, em total isolamento com a [sic] comunidade internacional. O governo de Israel faz tudo isso em nome do sionismo e quer impedir as pessoas de criticar essas ilegalidades e ações desumanas e opressoras?”, escreveram os ativistas da Fepal.

Os que querem calar Roger precisam ser informados de que o Brasil é um país democrático, o Brasil não ocupa e não oprime nenhum povo, o Brasil é um país onde convivem, pacificamente e com respeito, judeus, árabes, cristãos e muçulmanos, todos com os mesmos direitos e deveres estabelecidos na constituição da Republica Federativa do Brasil.

Repudiamos toda tentativa de intimidação e censura à liberdade de expressão por parte dessa [FIERJ] ou de qualquer outra organização. Tal atitude – inconstitucional, nos moldes da ditadura militar que vigorou no Brasil dos anos 1960 aos anos 1980 –, não tem mais espaço no Brasil”, afirmaram o Comitê de Solidariedade e Apoio ao Povo Palestino e a Frente em Defesa do Povo Palestino, citando, em seguida, artigos da Constituição brasileira e da Declaração de Direitos Humanos.

“[...] são ilegítimas e só podem ser encaradas como censura e perseguição as ameaças da Fierj ao cantor e ativista. Uma postura tão conhecida quanto inaceitável, de tentar criminalizar os movimentos sociais e as pessoas de consciência que se levantam contra a opressão ao povo palestino e contra a ocupação de suas terras. Repudiamos veementemente a atitude e as ameaças da FIERJ e reafirmamos nosso apoio a Roger Waters, à liberdade de expressão e aos valores democráticos. Aproveitamos para agradecer Roger Walters por não silenciar diante da injustiça e por emprestar sua imagem e sua voz para essa nobre causa da humanidade.”

Reclamações também foram feitas ao Ministério Público, que pode abrir processo contra a FIERJ.

Se o exemplo brasileiro fosse seguido em outras partes do mundo, os ativistas de direitos humanos e os críticos dos sionistas não sofreriam tanta perseguição nem tantos processos por exercer o sagrado direito de manifestar livremente o que pensam. Hoje, militantes da causa palestina estão sendo processados na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.


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Carta que Roger Waters divulgou no Brasil:



Desde minha visita a Israel e aos territórios ocupados, em 2006, eu faço parte de um movimento internacional para apoiar o povo palestino em sua luta por liberdade, justiça e igualdade.


Sinto-me honrado por ter sido convidado pelo Comitê Nacional Palestino BDS para anunciar a iniciativa da realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre, Brasil, em novembro deste ano, em cooperação com o movimento social brasileiro e redes internacionais da sociedade civil.

O objetivo será a criação de um encontro internacional que irá incentivar o instinto humano básico em todos os homens e mulheres de boa fé para se unirem em apoio ao povo palestino em sua luta por autodeterminação.


Em todo o mundo, nosso movimento está crescendo.

Incentivado por eventos como o que acontecerá aqui no Brasil, a nossa voz vai crescer.

Continuaremos o nosso apelo pelo fim da ocupação israelense de terras palestinas, pela derrubada dos muros de colonização e de apartheid, pela criação de um Estado palestino com sua capital em Jerusalém, pela concessão de direitos plenos e iguais aos cidadãos árabe-palestinos de Israel e pelo direito dos refugiados palestinos de voltar para suas casas, conforme exigido pela Convenção de Genebra, como estipulado na resolução 194 da ONU de 1949 e também reafirmado pelo Tribunal Internacional de Justiça em 9 de julho de 2004.

Estou muito encorajado pelo crescimento desse movimento em Israel, especialmente entre os jovens judeus israelenses, e também pelo não menos importante "Boicote de Dentro", com quem estou em contato.

Nós estamos com vocês.


Eventos em Israel e nos territórios ocupados não são amplamente relatados nem com precisão no Ocidente. Em novembro próximo, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre, vai ajudar a quebrar os muros de desinformação e cumplicidade.


Conclamo as pessoas de consciência para que apoiem este fórum e ajudem a torná-lo um divisor de águas na solidariedade internacional ao povo palestino.



A verdade nos libertará.

Em solidariedade,



Roger Waters