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domingo, 13 de outubro de 2013

As armas químicas “secretas” de Israel

01/10/2013 - “Le armi chimiche segrete di Israele” em 24/9/2013
- por Manlio Dinucci [*], em Il Manifesto, Itália
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu - Redecastorphoto

Bomba de fósforo branco (arma química) utilizada por Israel contra a Palestina ocupada (Gaza) em 11/01/2009

Os inspetores da ONU, que controlam as armas químicas da Síria teriam muito mais trabalho se fossem mandados controlar as armas nucleares, biológicas e químicas (NBQ) de Israel.

Mas, pelas regras do “direito internacional”, não podem controlar nenhuma arma israelense. Israel não assinou o Tratado de Não Proliferação, nem a Convenção que proíbe armas biológicas; assinou, mas não ratificou o tratado que proíbe armas químicas.

Segundo o blog Jane’s Defense Weekly, Israel – a única potência nuclear em todo o Oriente Médio – tem de 100 a 300 ogivas nucleares e os respectivos vetores (mísseis balísticos e de cruzeiro e caças-bombardeiros).

Segundo estimativas do Centro Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo [Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI)], [foto] Israel produziu entre 690 e 950 kg de plutônio e continua a produzir plutônio suficiente para montar, por ano, de 10 a 15 bombas do tipo usado em Nagasaki.

Israel também produz trítio, um gás radiativo com o qual se produzem ogivas neurotrônicas, que causam contaminação radiativa menor, mas de mais alta letalidade.

Segundo vários relatórios internacionais, citados também pelo jornal israelense Ha’aretz, as armas biológicas e químicas são desenvolvidas no 
Instituto para Pesquisa Biológica, situado em Ness-Ziona, próximo a Telavive. 

Oficialmente, ali trabalham 160 cientistas e 170 técnicos, e o Instituto trabalha há mais de 50 anos em pesquisas em biologia, bioquímica, biotecnologia, farmacologia, física e outras especialidades.

Instituto é, com o Centro Nuclear de Dimona, “uma das instituições mais secretas de Israel”, sob jurisdição direta do primeiro-ministro.

O maior sigilo cerca a pesquisa de armas biológicas: bactérias e vírus que, lançados contra o inimigo, podem gerar epidemias.

Dentre eles, a bactéria da peste bubônica (a “peste negra” da Idade Média) e o vírus Ebola, contagioso e letal, contra o qual ainda não há terapia disponível.

biotecnologia é instrumento para criar novos tipos de agente patogênicos contra os quais as populações-alvo não têm resistências, nem há vacina. 

Há também informação confiável sobre pesquisas, em Ness-Ziona, para desenvolver armas biológicas suficientemente potentes para neutralizar todo o sistema imunológico humano.

Oficialmente, o Instituto israelense em Ness-Ziona pesquisa vacinas contra bactérias e vírus, como sobre o antrax financiadas pelo Pentágono. Mas é evidente que o mesmo tipo de pesquisa permite desenvolver novos agentes patogênicos a serem usados como arma de guerra.

O mesmo tipo de trabalho é feito também nos EUA e em outros países, para escapar às leis, acordos e convenções que proíbem o uso de armas biológicas e químicas.

Em 1999, a carapaça de sigilo que protege as pesquisas de armas nucleares, biológicas e químicas em Israel foi quebrada em parte pela investigação, realizada com a colaboração de cientistas, do jornalista holandês Karel Knip [foto], editor sênior de ciências do diário holandês NRC-Handelsblad, e publicada sob o título de “Biologia em Ness Ziona”. [1]

Ali ficou afinal comprovado que as substâncias tóxicas desenvolvidas pelo Instituto são utilizadas pelo Mossad para assassinar dirigentes palestinos. [2]

Depoimentos de médicos indicam que em Gaza e no Líbano, as forças israelenses utilizaram armas de concepção recente: deixam intactos os cadáveres, vistos externamente, mas agem por dentro, carbonizando o fígado e os ossos e fazendo coagular o sangue. É perfeitamente possível, com recursos de nanotecnologia.

A Itália também colabora no desenvolvimento dessas armas, ligada a Israel por um acordo de cooperação militar e principal parceiro dos israelenses na pesquisa & desenvolvimento de armas biológicas.

O orçamento italiano prevê dotação anual de 3 milhões de euros para esses projetos de pesquisa conjunta ítalo-israelenses. Exemplo dessa colaboração aparece no mais recente pedido de verbas para pesquisa do Ministério de Relações Exteriores italiano, que pede verbas para “novas abordagens para o combate de agentes patogênicos resistentes aos tratamentos”.


Com essas verbas, o Instituto israelense para pesquisa biológica poderá tornar os agentes patogênicos ainda mais resistentes. [foto: fósforo branco sobre Gaza lançado por Israel em jan/2009]
________________________

[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo italiano. Últimas publicações : Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

Notas dos tradutores:
[1] O centro IIBR [foto] já desenvolvia armas químicas e biológicas em segredo, até que, dia 4/10/1992, um avião, que fazia o voo n° 1862 da empresa El Al, caiu sobre um prédio de apartamentos em Bijlmer, bairro de Amsterdã, Holanda, a caminho de Telavive, levando a bordo três tripulantes, um passageiro e 114 toneladas de carga.

Foi o pior desastre aéreo da história holandesa, que deixou 47 mortos em solo e arruinou a saúde de 3.000 moradores da área. Começaram a surgir doenças misteriosas, irrupções cutâneas, dificuldades respiratórias, doenças neurológicas e muitos casos de câncer, concentrados naquela específica área.

Depois de vários anos de investigações detalhadas e profundas, o jornalista holandês Karel Knip, publicou, em novembro de 1999, a reportagem mais detalhada e mais repleta de fatos sobre o trabalho do IIBR israelense, narrada a partir do acidente aéreo em Bijlmer.

Knip conseguiu provar que o avião levava uma carga da empresa Sokatronic Chemicals, de Morrisville, Pennsylvania, para o Instituto IIBR, em Israel, o que configura clara violação da Convenção para Armas Químicas.

O carregamento incluía 50 galões de DMMP, quantidade suficiente para produzir 250kg de gás sarin, de efeito neurológico, 20 vezes mais letal que o cianureto. Knip descobriu que pelo menos 140 cientistas especializados em armas biológicas do Instituto IIBR tinham laços próximos com o Walter Reed Army Institute, a Uniformed Services University, o American Chemical and Biological Weapons Center em Edgewood e a Universidade de Utah.

Descobriu também a estreita cooperação que há entre o IIBR israelense e o programa de armas biológicas britânico-norte-americano e, também, o extenso programa de pesquisa de armas biológicas que há entre Alemanha e Holanda – o que explica que, até hoje, o governo holandês mantenha o mais absoluto silêncio sobre o avião que caiu em Amsterdam. (Global Research, 29/9/2013 em: “Israel’s History of Chemical Weapons Use).

[2] Um caso muito bem comprovado de uso de arma química por Israel, em atentado do Mossad contra Khaled Meshall, do Hamás palestino, em Amã, Jordânia, em 1997, está narrado em detalhes fartamente documentados no livro Kill Khalid. The Failed Mossad assassination of Khalid Meshall and the Rise of Hamas, do jornalista australiano Paul McGeough (EUA: The New Press, 1999). 

Meshall foi atacado num aparente simples esbarrão na rua, quando agentes do Mossad disfarçados como turistas injetaram uma substância desconhecida dentro de seu ouvido.

Os atacantes foram perseguidos por guardas da segurança de Meshall e, para não serem apanhados, entraram no prédio da embaixada de Israel em Amã.

Meshall só foi salvo por interferência direta do rei da Jordânia, indignado com a ação de terroristas israelenses em território da Jordânia, que denunciou a ação terrorista ao presidente Clinton, dos EUA, o qual ordenou que Israel enviasse imediatamente o antídoto para salvar a vida de Meshall.

Israel obedeceu, pressionado também pelo rei da Jordânia que já cercara a embaixada e ameaçava explodir o prédio, o que criaria um incidente internacional que todos os envolvidos tinham interesse em evitar a qualquer custo, gerado, de fato, pela incompetência dos agentes israelenses.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/10/as-armas-quimicas-secretas-de-israel.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+redecastorphoto+(redecastorphoto) 

domingo, 22 de setembro de 2013

Investigador da ONU trabalha para Israel e OTAN

19/09/2013 - Relatório Sellstrom, distribuído pela ONU: Investigador da ONU trabalha para Israel e OTAN
- 18/9/2013, Yoichi Shimatsu [*], Global Research [1]
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Ake Sellstrom entrega Relatório a Ban Ki-Moon sobre armas químicas na Síria em 17/9/2013

Em vez de assegurar investigação não politizada e análises laboratoriais, a investigação pela ONU sobre ataques denunciados na Síria, por gás venenoso, foi dirigida pelo professor Ake Sellstrom, homem cercado de mistérios, cujos relacionamentos políticos e militares são envoltos num denso véu de sigilos.

O Relatório sobre a Síria para a ONU e, antes, os relatórios sobre inspeções feitas na Síria são ambos duvidosos, para dizer o mínimo. Aos olhos dos leigos, sua aparente objetividade e a aparente isenção baseiam-se no mito da neutralidade da Suécia. A opinião pública assume – erradamente – que a Suécia jamais tomaria partido em guerras e nos conflitos geopolíticos.

A fraude da neutralidade
O verniz apenas cosmético da neutralidade sueca já foi outras vezes habilmente explorado por Israel e pela OTAN para perpetrar falsidades, servindo-se para isso do trabalho de Sellstrom na ONU, inclusive para negar as causas químicas e biológicas da “Síndrome da Guerra do Golfo” e os embarques de armas químicas fornecidas pelos EUA ao governo de Saddam Hussein.

No Iraque, as equipes de inspetores de Hans Blix [foto] e Ake Sellstrom não investigaram os bunkers de armas especiais que foram bombardeados por aviões norte-americanos na invasão.

Sellstrom jamais fez qualquer tentativa de examinar as embalagens de mais de um metro de altura, fabricação norte-americana, do gás VX de efeito neurológico que foram encontradas na Base Aérea de Balad por soldados da American National Guard.

A missão de Sellstrom não era provar a culpa do Irã, mas livrar Washington do crime de ter fornecido gás de destruição em massa a Bagdá. Salvar da desgraça funcionários do governo dos EUA como Donald Rumsfeld, que seria acusado de traição, é muito mais importante para o poder imperial que descobrir fatos num teatro de guerra.

A crítica mais radical das investigações da ONU no Iraque foi feita por um investigador norte-americano, Scott Ritter, que acusou a equipe de ter espionado a favor de Washington e da OTAN.

A mesma dúvida surge hoje, sobre o relatório Sellstrom sobre a Síria. Sellstrom trabalhou para Washington e Telavive?

Homem de frente da OTAN
O que se divulga publicamente sobre Sellstrom é que trabalha como bioquímico chefe do Centro Europeu CBRNE, na Umea University no norte da Suécia, patrocinado pelo Ministério da Defesa da Suécia (FOI).

Embora o país não seja membro da OTAN, os militares e a polícia sueca têm papel importante nos negócios de segurança europeia, e são os autores do projeto de ação repressiva de 2009 da União Europeia, baseado no Programa de Contraterrorismo de Estocolmo.

Praticamente todo o dinheiro que mantém os projetos de pesquisas interdisciplinares do CBRNE vem do orçamento da União Europeia para guerra ao terror.

Esses projetos incluem: defesa estratégica para ataques terroristas de grande escala (o relatório recém divulgado sobre a Síria usa inacuradamente a expressão “relativamente grande escala”); recomendações à União Europeia para resposta médica de emergência; e treinamento especializado para os especialistas na Umea University, inclusive para oficiais militares ligados à OTAN.

O complexo militar sueco, que inclui Saab e Bofors, é qualquer coisa, menos pacifista ou neutro. A imagem de neutralidade que o reino oferece é útil, sobretudo a Israel, que já explorou a imagem de limpeza da Escandinávia, quando se tratou de montar uma política para palestinos e estados árabes, como se comprovou nos Acordos de Oslo.

A Umea University mantém vínculos profundos de pesquisa com o Instituto Israel de Tecnologia (Technion) [vista aérea, acima], a universidade com sede em Haifa que produz tecnologia de ponta para o exército israelense e suas agências de inteligência.

Vários departamentos, envolvidos em pesquisas conjuntas com especialistas de Israel, participam de estudos multidisciplinares no Centro CBRNE de Sellstrom, dentre os quais, o departamento de computação, que coopera com o Technion israaelense no setor de sistemas de controle desde 2004; a faculdade de Medicina; e no campo da química, área de estudos do próprio Sellstrom.

A pesquisa em cooperação sueco-israelense é ativamente estimulada pela Real Academia Sueca de Ciências, que oferece bolsas e prêmios para aproximar as indústrias e as universidades dos dois países.

Esse ano, o Estado de Israel está patrocinando o programa Start Tel Aviv de expansão de laços culturais, numa incansável campanha para subverter a Escandinávia.

A agenda fortemente política e os laços militares por trás da cooperação bilateral já foram causa de uma ação de boicote anti-Israel, entre os professores e acadêmicos suecos.

Nenhuma credibilidade na questão síria
A expressão “relativamente grande escala” que aparece na introdução do relatório da ONU sobre a Síria é erro e exagero, porque qualquer ataque um pouco maior com gás sarin teria resultado em dezenas de milhares de mortos, sobretudo se o gás tivesse sido dispersado por foguetes militares.

Os primeiros vídeos de Ghouta mostravam moradores saindo das casas para a rua, ofegantes, à procura de ar limpo. Se tivessem sido usados foguetes eficientes, todos eles, sem exceção, teriam morrido na rua, instantaneamente. A liberação do gás, portanto, aconteceu em ambiente fechado e tem de ter sido acidental, mais provavelmente num arsenal secreto de grupos rebeldes.

Resíduos químicos de supostos foguetes teriam sido oxidados pelo calor do impacto e com absoluta certeza não restaria nenhum traço detectável de organofosfato, porque o sarín decompõe-se quimicamente em 20 minutos.

Os foguetes são desenhados com um sistema binário, pelo qual dois precursores químicos misturam no ar, no momento da dispersão. Portanto, não há necessidade de estabilizadores ou de dispersantes, o que implica que não restam vestígios químicos identificáveis.

Os inspetores da ONU chegaram muito depois de expirado o prazo para testar amostras. E é também possível que o local e os pedaços de foguete tenham sido mascarados com sinais falsificados pelos rebeldes e seus conselheiros militares estrangeiros.

Não é possível conhecer o número exato de mortos, e com certeza não se veem nos vídeos mais que uma dúzia de cadáveres em cada imagem. As cenas com crianças são clássicas na propaganda de guerra e não são críveis, se só se veem poucos rostos. O efeito somatório daquelas imagens é mais próximo da teatralização que da reportagem confiável.

A estratégia de Sellstrom, como tudo indica, é apontar o dedo acusatório contra o regime sírio, ao mesmo tempo em que fecha a possibilidade de cenários alternativos e, de fato, mais prováveis.

Agenda Oculta
A embaixadora dos EUA à ONU, Samantha Power [foto], fez questão de esclarecer com muita ênfase, que “o gás de efeito neurológico usado na Síria era mais concentrado que o gás de efeito neurológico no Iraque”.

A declaração dela, corretamente redigida é: “Saddan pode até ter transferido para a Síria o gás letal que os EUA lhe forneceram, mas não foi o nosso gás letal que matou civis sírios”.

O ponto crucial do Relatório Sellstrom é: salvar Washington do crime de ter sido o principal fornecedor de precursores do gás letal, das fórmulas, dos sistemas da tecnologia de emprego e armazenagem do gás letal para todo o Oriente Médio, incluindo Israel, Egito, Líbia, Iraque e, possivelmente, também para a Síria (durante a era de boa vontade de Clinton).

O relatório da ONU sobre armas químicas na Síria não tem os mínimos requisitos de credibilidade, também dado o currículo duvidoso do inspetor chefe, Ake Sellstrom, financeira e politicamente comprometido em todos os níveis.

É necessária uma missão técnica imparcial, de especialistas investigadores internacionais conhecidos e respeitados pela própria comunidade de especialistas, mas nem essa terá qualquer chance de fazer investigação confiável, enquanto Washington continuar a fornecer armas e apoio político aos insurgentes, inclusive à Al-Qaeda.


O objetivo geopolítico que se oculta por trás da cenografia orquestrada pela Casa Branca para a Síria é tirar de Damasco a sua já limitada capacidade de contenção contra as forças nucleares israelenses.

Gás de efeito neurológico não chega a ser resposta à altura de um ataque com ogivas nucleares, mas o objetivo de Israel parece ser a absoluta supremacia estratégica contra os estados árabes e o Irã.

Com o novo relatório da ONU sobre a Síria, Telavive está muitíssimo mais perto de conseguir deixar todos os seus vizinhos, além de divididos, também sem defesas.
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[*] Yoichi Shimatsu é jornalista especializado em ciências, que trabalha em Hong Kong e coordenou a equipe de jornalistas investigativos do jornal Japan Times Weekly. Foi consultor da revista Takarajima 30, na investigação sobre o ataque com gás sarin, no metrô de Tóquio, em 1995.

Nota dos tradutores 
[1] Este artigo foi dica de Pepe Escobar, pelo Facebook: “Até agora, a melhor matéria sobre o caso da inspeção da ONU na Síria. Shimatsu é jornalista de alta credibilidade. A hipótese mais aceitável, para ele, é que não houve foguete algum; que o mais provável é que tenha sido um acidente, num arsenal dos jihadistas; coincide com o que escreveu Dave Gavlak, que entrevistou moradores de Ghouta” (Pastebin)

Ver aqui:
- Sírios acusam a Arábia Saudita pelo fornecimento de armas químicas - por Dale Gavlak e Yahya Ababneh

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/relatorio-sellstrom-distribuido-pela.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+redecastorphoto+(redecastorphoto)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bashar al-Assad, da Síria, entrevistado pelo Rússia 24

15/09/2013 - Entrevista com o Presidente Bashar al-Assad da Síria em 13/9/2013, ao canal Rossiya-24 TV (vídeo em russo)
Entrevista traduzida da transcrição em inglês pelo pessoal da Vila Vudu

Vídeo em russo: canal TV Rússia 24:

Rossiya-24: Senhor presidente, obrigado por receber o canal Rossiya-24. Para começarmos com a pergunta mais importante: por que a Síria concordou com a iniciativa da Rússia de pôr armas químicas sob controle internacional, e por que se chegou tão rapidamente a esse acordo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria já apresentara essa proposta à ONU há mais de dez anos – para livrar a região do Oriente Médio de armas de destruição em massa, especificamente, porque essa é região caracterizada por instabilidades e guerras que, algumas, duraram anos. Tudo isso começou há séculos. 

Remover daqui todas as armas de destruição em massa teria impacto importante para estabilizar a região. Só os EUA opuseram-se à nossa proposta. 

Não gostamos de saber que há armas de destruição em massa no Oriente Médio. Sempre nos interessou mais a estabilidade e a paz na região. 

Esse é um lado. O outro lado da questão tem a ver com a situação atual. Não há como não ver que o estado sírio tem empreendido todos os esforços para impedir que nosso país e outros países da região sejamos arrastados para outra guerra insana, que alguns dos que pregam guerra nos EUA querem desencadear no Oriente Médio.

Até hoje, os sírios pagamos o preço por guerras que os EUA fizeram, por exemplo no Afeganistão – mesmo sendo país distante da Síria – ou no Iraque, que está aí, num país aqui bem próximo.

Minha opinião é que qualquer guerra contra a Síria afetará muito negativamente toda a região, com o Oriente Médio inteiro empurrado para décadas de instabilidade e de problemas. Haverá guerra até para as nossas futuras gerações. 

A terceira razão pela qual nos interessa a proposta que volta, agora, com os russos, e a mais importante, é a própria proposta. Não tivesse havido agora essa iniciativa, seria muito difícil para a Síria, só ela, obter o mesmo resultado e caminhar nessa direção.

Nossas relações com a Rússia são construídas a partir de mútua confiança, e essa confiança só cresceu durante a crise síria, nos últimos dois anos e meio. A Rússia confirmou que merece a confiança dos sírios, por suas ações. Mostrou que tem compreensão clara sobre o que está acontecendo em nossa região. A Rússia fez prova de que é confiável, provou que é governo sério, no qual se pode confiar. 

Por todas essas razões, a Síria aceitou assinar a Convenção para Proibição de Armas Químicas. 

Rossiya-24: O presidente dos EUA, Sr. Obama, e o secretário de Estado dos EUA, Kerry, creem que a Síria decidiu entregar suas armas químicas ao controle internacional exclusivamente porque foi ameaçada militarmente. O que lhe parece?

Presidente Bashar al-Assad: Se se pensa sobre os eventos e as ameaças dos EUA, que duraram semanas, vê-se que as ameaças nada tinham a ver com garantir que as armas químicas fossem bem guardadas. As ameaças não passaram de provocação. E a provocação começou quando foram usadas armas químicas num subúrbio de Damasco, Al-Ghouta. 

Aquela provocação foi organizada pelo governo dos EUA. Em outras palavras, ninguém ameaçou a Síria pensando em conseguir que nós entregássemos 
armas químicas. Nada disso é verdade. Só depois do encontro do G-20 na Rússia, os norte-americanos começaram a falar sobre a entrega das armas 
químicas à guarda internacional. Nós só começamos a considerar a possibilidade depois da iniciativa dos russos e das negociações relacionadas a isso que mantivemos com os russos. 

Quero sublinhar bem, mais uma vez, que, se não fosse por essa iniciativa dos russos, sequer discutiríamos a questão com o outro lado. Os norte-
americanos tentam agora uma espécie de golpe de propaganda. Kerry e o governo, inclusive Obama, sempre querem aparecer como vencedores, como se tivessem obtido alguma coisa com suas ameaças. Mas nada disso nos interessa, nem nos diz respeito. 

Rossiya-24: Ontem, surgiu a notícia de que a Rússia apresentou ao senhor um plano para a transferência das armas químicas para supervisão
internacional. Que mecanismos estão sendo considerados para esse processo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria entrará em contato com a ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas nos próximos dias. Nesse processo há documentos técnicos, necessários para a assinatura do acordo. Depois começará o trabalho para a assinatura da Convenção das Armas Químicas. 

Essa Convenção inclui vários pontos. Um deles dispõe sobre a proibição de produzir armas químicas, armazenamento e uso. Depois, a Convenção passa 
a ter vigência. Pelo que sei até agora, a Convenção passará a ter vigência um mês depois de assinada. E a Síria começará a transmitir informações 
sobre suas armas químicas para aquela organização internacional. São processos padronizados. E nos pautaremos por eles. 

Mas é preciso que todos entendam bem o seguinte ponto: esses mecanismos não funcionam só para um lado. Nada disso implica que a Síria assina, 
preenche as condições estipuladas e está feito. Esse é um processo de duas mãos, que visa, em primeiro lugar, a que os EUA suspendam essa 
política de ameaçar a Síria. Depende também de até que ponto se implemente a proposta dos russos. 

Tão logo os sírios estejamos convencidos de que os EUA estão realmente interessados na estabilidade de nossa região, e suspendam as ameaças e as 
tentativas de atacar a Síria, quando cortarem o suprimento de armas para os terroristas, então, sim, entenderemos que podemos dar andamento aos 
processos até o fim, que o processo todo é efetivo e aceitável para a Síria. 

Todos esses mecanismos, como já disse, não são mecanismos a serem usados de um lado só. A Rússia tem papel muito importante a desempenhar nesse processo, porque não temos nem confiança nem conexões com os EUA. A Rússia é o único país que pode assumir esse papel. 

Rossiya-24: Consideremos a questão de implementar a iniciativa russa: que organização internacional interagirá com a estrutura da República Árabe Síria para assumir o controle das armas químicas? Essa não é uma situação padrão, que se vê todos os dias. 

Presidente Bashar al-Assad: Entendemos que a estrutura lógica apropriada para esse papel é a Organização para a Proibição de Armas Químicas, porque só ela reúne os especialistas nessa área e também monitora o cumprimento da Convenção para Armas Químicas em todos os países do mundo. 

Todos sabemos que Israel assinou a Convenção para Armas Químicas, mas ainda não a ratificou. A Síria exigirá e insistirá para que Israel afinal 
implemente a assinatura da Convenção. 

Quando a Síria, antes, apresentou um projeto para abolir as armas de destruição em massa no Oriente Médio, os EUA impediram a aprovação. Uma das razões pelas quais fizeram isso foi para permitir que Israel continuasse autorizado a possuir essas armas de destruição em massa. Se queremos 
realmente estabilizar o Oriente Médio, todos os países têm de aderir à Convenção. 

E o primeiro país que tem de aderir é Israel, porque Israel tem armas químicas, biológicas e nucleares, em termos gerais, Israel tem todos os 
tipos catalogados de armas de destruição em massa. É importante assegurar que nenhum país tenha essas armas. Só assim todos ficaremos protegidos 
contra guerras futuras, devastadoras e muito custosas – não só no Oriente Médio, mas em todo o mundo. 

Rossiya-24: A Síria põe suas armas químicas sob controle internacional. Mas já se sabe, com certeza absoluta, porque a inteligência russa já comprovou, que grupos terroristas rebeldes usaram armas químicas num subúrbio de Aleppo. Na sua opinião, o que terá de ser feito para proteger o povo sírio e de países vizinhos contra esses terroristas que já usaram armas químicas, pelo menos, com certeza, uma vez?

Presidente Bashar al-Assad: O incidente a que você se refere aconteceu em março passado, quando os moradores da região de Khan al-Assal, perto de Aleppo foram atacados por terroristas, com foguetes carregados com toxinas químicas. Houve dúzias de vítimas. Recorremos à ONU. Pedimos que a ONU enviasse especialistas para esclarecer esse incidente e determinar que grupo fora responsável por aquele ataque. Para nós, a situação é bem clara: foi trabalho de terroristas. 

Mas naquele momento, os EUA opuseram-se ao envio de especialistas da ONU à Síria. Consequentemente, trabalhamos com especialistas russos, que 
receberam todas as provas que havíamos reunido. Ficou fartamente provado que os terroristas que ainda operam no norte da Síria cometeram aquele 
ataque químico. 

Necessário agora é que a delegação de especialistas que estiveram na Síria até a semana passada, retornem e retomem as investigações. Terão de 
voltar à Síria, porque ficou acordado que voltariam, há esse acordo entre o governo sírio e aqueles especialistas. Esse acordo diz respeito a 
investigações ainda a fazer em várias províncias, principalmente em Khan al-Assal. 

É preciso examinar cuidadosamente tudo isso, para determinar, por exemplo, a composição química dos venenos usados e, a partir daí, as condições 
do solo onde as armas químicas foram usadas. Também é importante determinar de onde vieram aquelas substâncias químicas, como chegaram aos grupos terroristas. Os responsáveis têm de ser julgados. 

Rossiya-24: Senhor presidente, permita que lhe faça uma pergunta indispensável: é realista supor que se consiga realmente tomar todas as armas químicas que ainda estejam em mãos de grupos terroristas? 

Presidente Bashar al-Assad: Tudo depende de se saber que países, dos que mantêm relações com os terroristas, estão envolvidos na venda ou no contrabando das armas químicas. Todos os países dizem que não apoiam terroristas, mas sabemos, com certeza, que o ocidente lhes dá apoio 
logístico – embora digam que seriam coisas “não letais” ou, até, “ajuda humanitária”. 

De fato, já não há dúvidas de que o ocidente e alguns países da região – Turquia, Arábia Saudita, antes também o Qatar – mantêm contato direto 
com grupos terroristas, aos quais apoiam com todos os tipos de armas. Trabalhamos com a ideia de que um desses países forneceu armas químicas aos terroristas. Evidentemente, quem dava pode parar de dar.

Mas há também grupos terroristas que não ouvem nenhum dos lados. Esses grupos, quando têm acesso a armas e, portanto, à capacidade de destruir, não se acham obrigados a respeitar acordos, nem a obedecer a nada e ninguém, nem aos que lhes tenham dado dinheiro e aquelas armas. 

Rossiya-24: Alguns veículos nos EUA noticiaram que oficiais do Exército Sírio Árabe teriam pedido sua aprovação para usar armas químicas contra gangues da oposição armada. Dizem que o senhor negou a autorização, mas que apesar disso aqueles oficiais teriam usado armas químicas contra 
sírios, especialmente em Ghouta Leste. É verdade? Essas operações são possíveis na Síria?

Presidente Bashar al-Assad: Não passa de propaganda americana. Esse tipo de propaganda serve-se de todos os tipos de mentiras para justificar suas guerras. É conversa parecida com a de Colin Powell, no governo de George Bush Jr., para justificar a guerra contra o Iraque, há pouco menos de dez anos. Naquela ocasião, apresentaram o que diziam que seriam provas de que Saddam Hussein produzia armas de destruição em massa. Mais 
adiante se soube que era mentira. Hoje as mentiras mudaram um pouco, como essa que você acaba de mencionar.

A verdade é que conversa desse tipo jamais aconteceu, nem comigo nem com ninguém na Síria. Essas armas são administradas de modo centralizado em 
vários países e exércitos do mundo, sempre pelas forças armadas. Nenhum soldado raso, ou comandante de escalão inferior manuseia essas armas, nem 
forças terrestres, nem as unidades blindadas ou quaisquer outras. São um tipo especial de arma de uso restrito de Forças Especiais. Essa notícia é mentirosa e nem faz sequer sentido. Ninguém acreditaria numa história dessas. 

Rossiya-24: Recentemente apareceram no Congresso dos EUA o que para alguns seriam “provas convincentes” e “indubitáveis” – vídeos, que 
comprovariam que se usaram armas químicas no subúrbio de Damasco, em Ghouta, e que foram usadas pelo Exército Sírio. O que o senhor tem a dizer 
sobre essa versão americana? 

Presidente Bashar al-Assad: Não têm prova alguma, nem o Congresso, nem a imprensa, nem o povo, ninguém jamais viu ou mostrou prova alguma de coisa alguma. Nem nenhum outro país conseguiu exibir prova alguma, nem a Rússia, que participou do processo de negociação. Nada disso jamais aconteceu. São só palavras, sempre e só, mais propaganda norte-americana.

A mais elementar lógica, por outro lado, diz que ninguém usaria armas de destruição em massa a poucas centenas de metros de onde esteja o seu 
próprio exército. Ninguém usaria armas de destruição em massa em áreas densamente habitadas, sem causar centenas de milhares de vítimas.

Ninguém jamais usaria armas de destruição em massa no mesmo local e momento em que seus próprios soldados estão avançando em terra. Nada disso faz sentido. Agora, as lideranças políticas nos EUA meteram-se numa posição difícil. Mentiram de modo ainda menos convincente, até, do que as 
mentiras contadas pelo governo George Bush.

O governo anterior, nos EUA, mentiu muito, mas mentiu mentiras que, pelo menos num primeiro momento, tinham alguma chance de convencer pelo menos uma parte da opinião pública mundial. O atual governo dos EUA, com suas mentiras, não conseguiu convencer nem os seus próprios aliados. Nada do que disseram faz qualquer sentido. Não é lógico. É implausível.

Rossiya-24: Tenho de lhe fazer mais uma pergunta, porque diz respeito à segurança de toda a região. A imprensa russa noticiou recentemente que as gangues armadas de oposição ao seu governo planejam provavelmente outra provocação, que poderia envolver uso de armas químicas contra Israel, que seria desencadeada a partir de um território controlado pelo Exército Sírio. O que o senhor sabe sobre isso, como comandante-em-chefe? 

Presidente Bashar al-Assad: Já há confirmação de que grupos terroristas têm armas químicas, dado que até já as usaram na Síria, contra nossos soldados e civis. É claro que têm. Além disso, também sabemos que aquelas gangues terroristas e os que os controlam, sim, querem provocar um ataque aéreo dos norte-americanos. Já em ocasiões anteriores tentaram envolver Israel na crise síria. Não se pode excluir a possibilidade de que 
essa informação seja correta e que vise, outra vez, aos mesmos objetivos. 

Se há guerra numa região, o caos se expande. Mas, para que o caos se expanda, é essencial que os territórios sejam permeáveis às gangues 
terroristas, para que possam causar o máximo de dano e destruição. Esses são riscos reais, não são ameaças inventadas, porque, sim, os 
terroristas têm armas químicas, que recebem de outros países.

Rossiya-24: Obrigado por nos receber e responder nossas perguntas.

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/entrevista-com-o-presidente-bashar-al.html