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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Recursos naturais e dois mundos distintos

[Equipe Educom: optamos por colocar juntos esses dois artigos. Queremos mostrar ao leitor as maneiras distintas com que o mundo do capital das grandes corporações e a sociedade civil de ambientalistas, ecologistas e ativistas sociais se posicionam diante dos recursos naturais. De um lado a proposta de uma chamada "economia verde" que não esconde que tais recursos são um "capital natural ou fundamental", algo intrinsicamente associado a ideia de que são componentes de um patrimônio empresarial pelo qual é preciso zelar, desde que tal zelo não impacte a maximização do lucro, objetivo maior - sempre bom lembrar - de qualquer empreendimento capitalista.

Do contrário é explorá-lo até a exaustão, como fazem com as minas e com tudo o mais onde a escassez é a alavanca que valoriza a mercadoria e torna os ganhos mais robustos. Do outro a convicção de que a água, as florestas, o ar, as terras, a biomassa do planeta, sua biodiversidade enfim, são um direito, um bem comum do ser humano. Tais recursos finitos jamais deveriam ser propriedade de uma minoria que os explora em causa própria, conduz ao colapso ambiental pelo qual passamos e em momento algum contempla a melhor distribuição da riqueza, a eliminação da pobreza, uma equidade social enfim que associada a uma responsabilidade ambiental promova o desenvolvimento sustentável em outras bases, como almejam os opositores das soluções mercadológicas.

Assim o olhar de nossa Equipe se volta, não para o Rio Centro, mas para o Aterro do Flamengo, onde se pode ouvir a voz do bacharel em Ecologia e especialista em Gestão Ambiental Felipe Patela Amaral quando afirma que a força está nos locais de discussão promovidos pela sociedade civil. “É de lá que podem surgir as soluções. É ali que deve estar o foco dos meios de comunicação para que o tema ambiental tome a amplitude e maturidade necessária, ou que pelo menos os afetados pelos processos de exclusão socioambiental sejam ouvidos, colocando em descrédito as soluções de mercado”.]
 
 
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19/6/2012 - Setor financeiro abre as portas para o capital natural
por Fabiana Frayssinet, da IPS - Envolverde Rio + 20
 
Rio de Janeiro, Brasil, 19/6/2012 (TerraViva) – Diretores do setor financeiro de todo o mundo assumiram o compromisso de incorporar o conceito do “capital natural” em seus produtos e serviços, para defender um patrimônio que, segundo interpretam, tem que ter um preço para impedir maior devastação.

A Declaração do Capital Natural foi assinada por 37 máximos representantes de instituições bancárias, de seguros e de investimentos de 13 países, durante o Fórum Corporativo Sustentável, promovido pelas Nações Unidas como uma das atividades paralelas à Rio+20. A declaração sobre o capital natural é promovida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Global Canopy Programme.

O objetivo é entender e fazer entender que “ativos” como a água, o ar, o solo e as florestas são um “capital fundamental”, e como eles afetam os negócios das empresas, explicou à IPS Roberta Simonetti, coordenadora do Programa de Financiamento Sustentável da FGV. Em uma segunda instância as instituições se propõem a implantar uma metodologia para incorporar estes ativos nos produtos e serviços. Depois será preciso estabelecer como refletir o impacto nos informes de risco e, finalmente, como contabilizá-lo, detalhou.

Simonetti recordou que o termo “capital natural” foi “emprestado” do mundo econômico, afirmando que, da mesma forma que um investidor quer preservar seu patrimônio e viver do ganho que este lhe gera, o desafio é não depredar recursos naturais para obter um benefício disso. “O que propomos é construir coletivamente uma metodologia que ainda não foi criada. Contudo, ao aderir à declaração reconheço a importância do capital natural, reconheço que tentarei entender os riscos, como me impactam, como informá-lo e como calculá-lo”, resumiu Simonetti.

Simonetti destacou que há empresas que já avaliam ecologicamente seus negócios, por seu próprio interesse empresarial. “O ideal seria que todos fôssemos altruístas, que reconhecêssemos que estamos usando mais do que devemos, dilapidando o patrimônio do planeta, que aceitássemos que não queremos aumentar a produção”. Porém, existem interesses diversos e isso não é possível, ponderou.

Por outro lado, prevalece o conceito empresarial. A especialista deu o exemplo de uma empresa de bebidas em uma região onde não há disponibilidade hídrica, e por isso não pode continuar seu negócio. A única alternativa para continuá-lo será pensar em como colaborar para manter os mananciais e o patrimônio hídrico, indicou. No entanto, organizações sociais participantes da Cúpula dos Povos criticam este modelo.

Especialistas como Larissa Packer, da organização Terra de Direitos, temem que, ao se atribuir um valor financeiro a um recurso natural, em lugar de cumprir sua função de conservar a natureza, se estimule a depredação porque, segundo essa lógica, quanto mais escasso um bem mais ele vale. Simonetti, por seu lado, considerou “mal-entendido” esse conceito. “Não é vender a natureza. É entender que, como um serviço ecossistêmico, tem um valor e que, por exemplo, se um fazendeiro conservar a floresta, tem que ter uma compensação para sobreviver sem cortá-la”, argumentou a especialista da FGV.

Em entrevista à IPS, Marcelo Cardoso, vice-presidente da Natura, uma multinacional brasileira de cosméticos, pioneira na produção sustentável no país, considera necessário e importante a discussão, mas tem reparos. “Como os recursos naturais são um bem comum, me parece fundamental a valorização dos serviços ambientais e dos ecossistemas. Entretanto, me parece que ainda temos que discutir limites e marcos legais”, alertou. Nesse sentido, Cardoso entende a preocupação das organizações sociais sobre esses ativos.

Existem sistemas como água, como a questão dos resíduos, que se não colocarmos limites claros à utilização, à necessidade de buscar ciclos fechados, à necessidade de sistemas fechados de água, e se só for feita uma avaliação sobre os serviços ambientais e seu uso, terminaremos criando mais devastação e destruição do que o que queremos construir”, ressaltou.

Ricardo Villaveces, da Confederação Cafeeira da Colômbia, que também participou do Fórum, afirmou à IPS que aprova a decisão. “Na medida em que os ativos ambientais tenham valor, tudo o que vamos cuidar vamos conservar mas também vamos nos beneficiar deles, porque parte da questão é que é preciso obter uma renda pelos serviços ambientais”, enfatizou.

Fonte: Envolverde/IPS
http://envolverde.com.br/noticias/setor-financeiro-abre-portas-para-o-capital-natural/?utm_source=CRM&utm_medium=cpc&utm_campaign=19


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19/6/2012 - Economia Verde - Steiner e Cúpula dos Povos se chocam quanto à economia verde
por Fabiana Frayssinet, da IPS


 Rio de Janeiro, Brasil, 18/6/2012 (TerraViva) O diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, acredita que ele a Cúpula dos Povos coincidem quanto ao atual modelo econômico ter causado o colapso ambiental. Porém, o diálogo sobre como substituí-lo se transformou em áspero debate.

O encontro com Steiner foi o mais esperado da Cúpula dos Povos: um alto representante da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, se deslocou para o outro lado da cidade, até a sede da reunião da sociedade civil no Aterro do Flamengo, para discutir com ecologistas e ativistas sociais sobre economia verde.

A economia verde é proposta como uma grande transformação dos modelos de produção e consumo para deter a contaminação e o esgotamento dos recursos naturais. Entretanto, para os movimentos sociais, não é mais do que outra cor para disfarçar o capitalismo.

A Cúpula dos Povos é crítica da economia verde, porque os povos é que sofrem a crise do capitalismo e desse modelo de produção que quanto mais se agrava mais avança sobre nossos direitos”, afirmou de início a brasileira Fátima Mello, uma das organizadoras do encontro.

"Entendemos que a economia verde, que se baseia na mercantilização de bens naturais, está estreitamente ligada a uma economia marrom”, de contaminação e depredação, disse a também brasileira Larissa Packer, da organização Terra de Direitos.

A verdadeira “economia verde não é o dólar verde, como a veem os governantes. É a nossa Amazônia verde”, defendeu o indígena boliviano Edwin Vásquez, que acusou as corporações transnacionais de invadirem e saquearem os recursos naturais.

Por sua vez, o argentino Juan Herrera, da rede internacional Via Camponesa, propôs um modelo de “economia popular, solidária e camponesa” que substitua o atual grande agronegócio, pois este “gerou verdadeiros desertos de soja e milho onde os camponeses já não têm um lugar”.

Diante desses pronunciamentos e críticas, Steiner, um especialista em políticas ambientais, se confessou “surpreso”. “No Pnuma estabelecemos que o modelo econômico atual não é o modelo do futuro. Estamos de acordo com vocês nisso”, afirmou, orientando os participantes a “lerem o documento oficial desta agência das Nações Unidas que aborda as diferentes interpretações sobre economia verde".

Sem seus habituais terno e gravata, Steiner explicou que o “fracasso” de não se ter evitado a degradação natural “tem a ver com o modelo econômico do mundo que trata o planeta como mineração: extrair, extrair e extrair”.

E quase adotou a mesma linguagem que a plateia adversária, ao se declarar crítico da “capacidade do mercado de alcançar o desenvolvimento sustentável”, e especificou: um mercado baseado, como se fosse uma “lei da física”, na livre oferta e demanda.

O atum de barbatana azul vale hoje no mercado US$ 4 mil. Por isto, as empresas poderiam capturar até o último exemplar”, deu como exemplo para justificar que o “mercado não ajuda a administrar o planeta de forma sustentável”.

As diferenças surgiram ao se buscar opções a esse modelo. Entre outras propostas, Steiner propôs atribuir um valor econômico ao ecossistema, para promover “leis que protejam a natureza ou negócios que não sejam destrutivos”.

Também se referiu a novas tecnologias “boas e possíveis”, como as energias limpas e renováveis, que não gerariam desemprego, porque, pelo contrário, “dão mais empregos do que a indústria automobilística”.

Seus argumentos não convenceram o especialista em biodiversidade Pat Mooney. Este canadense citou tecnologias danosas propostas pela economia verde, como a biologia sintética, que modifica micro-organismos, ou o desenvolvimento de variedades transgênicas, que concentrou o controle das sementes em um punhado de multinacionais.

Mooney se disse espantado por uma economia verde que agora busca controlar a biomassa do planeta. Tampouco o embaixador da Bolívia perante a Organização das Nações Unidas (ONU), Pablo Solón, ficou convencido, acusando Steiner de “não ter sido honesto”.

Por trás desse conceito está o assumir que a natureza é um quintal”, enfatizou Solón elevando a voz, e afirmou que “não estamos inventando isso”, que está no rascunho em discussão pelos governos na Rio+20.

Steiner “disse que buscam desacoplar o crescimento com a deterioração ambiental. Não se pode crescer eternamente, o limite é a biodiversidade! O que necessitamos é redistribuir a riqueza!”, polemizou.

Não por ter elevado o tom de voz e o da plateia, tudo o que você disse é correto”, respondeu Steiner. Nessa polarização entre capitalismo e anticapitalismo “o mundo não avançará”, ressaltou ao argumentar o difícil que é conseguir consenso entre todos os Estados-membros da ONU.

Propor uma economia verde sem regulamentar o mercado financeiro causará o contrário da conservação: “uma bolha financeira imprevisível”, apontou Packer ao TerraViva. “Quando há escassez de uma mercadoria, seu valor sobe. Portanto, quanto mais se destruir a natureza, maior será o valor dos ativos naturais”, alertou.

* Publicado originalmente no site TerraViva.

Fonte: IPS/TerraViva
http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/steiner-e-cupula-dos-povos-se-chocam-quanto-economia-verde/?utm_source=CRM&utm_medium=cpc&utm_campaign=19

terça-feira, 29 de maio de 2012

O capitalismo esquenta o planeta

28/05/2012 - Inter Press Service (IPS) - extraído do site Envolverde
por Fabiana Frayssinet, da IPS

Rio de Janeiro, Brasil – Os sistemas de produção e consumo atuais, representados pelas grandes corporações, pelos mercados financeiros e pelos governos que garantem sua manutenção, são “os que produzem e aprofundam o aquecimento global e a mudança climática”.


É desta forma que questionam o sistema econômico e financeiro imperante os organizadores da Cúpula dos Povos na Rio+20 pela Justiça Social e Ambiental, que reunirá cerca de 16 mil pessoas no Rio de Janeiro, paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá de 20 a 22 de junho nesta cidade.

As grandes corporações estão se apoderando da natureza, alertam sindicalistas e
demais organizações promotoras da Cúpula dos Povos. Foto: Clarinha Glock/IPS


O sistema capitalista, afirmam os promotores da Cúpula, está diante de suas “múltiplas crises” com “suas formas renovadas de dominação”.

Ainda segundo os ativistas, também é

- causador da fome,
- da desnutrição,
- da perda de florestas e
- de diversidade biológica e
- sociocultural,
- da contaminação química,
- da escassez de água potável,
- do aumento da desertificação dos solos,
- da acidificação dos oceanos,
- da monopolização de terras, e
- da mercantilização de todos os aspectos da vida nas cidades e no campo.

Esta forte e ampla crítica foi feita pelo grupo articulador da Cúpula dos Povos, integrada por organizações e movimentos sociais de diversas partes do mundo, que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho, como o principal evento paralelo à também chamada Rio+20. Após analisar os documentos da reunião oficial, os coordenadores da sociedade civil disseram temer pela falta de resultados positivos da negociação, que tem como foco de discussão a economia verde e a instauração de um novo sistema de governo ambiental internacional que a facilite.

A economia verde, em nosso entendimento, é uma forma de fazer avançar os interesses das corporações sobre a natureza”, afirmou Fátima Mello, integrante do Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos. “Estamos muito preocupados com a criação de mercados financeiros nos quais a água, o ar e a biodiversidade passem a ser negociados como fontes de financiamento para um sistema que não altere de forma urgente os modelos de produção e consumo que estão levando o mundo à catástrofe”, ressaltou.

Fátima Mello e Marcelo Durão
Fátima, que participou junto com o também ativista Marcelo Durão de uma entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros no Rio de Janeiro, teme que, a partir dos documentos da negociação oficial, o debate da Rio+20 “fique preso” em uma dicotomia entre “austeridade e recessão, como estamos vendo na Europa, versus desenvolvimentismo e crescimento a qualquer custo, como vemos no Brasil”.

Este debate da economia verde é uma falácia, um fortalecimento ainda maior do acúmulo da riqueza, com foco principal na natureza”, acrescentou Marcelo, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e um dos representantes da Via Campesina na Cúpula. Também comparou a Rio+20 com a primeira cúpula deste tipo realizada há 20 anos também no Rio de Janeiro, conhecida como Eco 92.

Enquanto há 20 anos foi estabelecido um vínculo entre chefes de Estado e membros da sociedade civil, agora “há uma relação entre as grandes corporações e os governantes”, apontou Marcelo. “A leitura que fazemos é que as grandes corporações estão se apoderando da natureza”, convertendo-a em uma “nova maneira de centralização da riqueza”, declarou à IPS.

No documento intitulado "O que está em jogo na Rio+20", os representantes da Cúpula dos Povos chamam a atenção para o novo conceito apresentado de economia verde, que “não questiona ou substitui o modelo baseado no extrativismo e nos combustíveis fósseis, nem seus padrões de consumo e de produção industrial”. O sistema imperante, acrescenta o texto, “estende a economia exploradora das pessoas e do meio ambiente a novos âmbitos, alimentando o mito de que é possível um crescimento infinito”.

As organizações da sociedade civil consideram que os cultivos geneticamente modificados, os agrotóxicos, os biocombustíveis, a nanotecnologia, a biologia sintética e a artificial, a geoengenharia, e a energia nuclear, entre outras, são apresentadas como “soluções tecnológicas” para os limites naturais do planeta e as múltiplas crises, sem encarar as verdadeiras causas que as provocam.

Além disso, é promovida a ampliação do sistema alimentar agroindustrial, “que é um dos maiores fatores causadores das crises climáticas, ambientais, econômicas e sociais, aprofundando a especulação com os alimentos e favorecendo os interesses das corporações do agronegócio em detrimento das produções local e rural”, indicam as entidades.

Os organizadores da Cúpula dos Povos disseram estar surpresos com a resposta à convocatória que teve em seu encontro “a crise” financeira, social, ambiental, econômica, energética e alimentar. Inscreveram-se cerca de 23 mil pessoas de 65 países, mas por razões de logística só poderão ser abrigadas aproximadamente 16 mil. Um dos pontos culminantes da Cúpula será uma caminhada a ser realizada no dia 20 de junho. Ao final do encontro se buscará elaborar alguma conclusão para apresentar na Rio+20.
 
Envolverde/IPS