28/05/2012 - Inter Press Service (IPS) - extraído do site Envolverde
por Fabiana Frayssinet, da IPS
Rio de Janeiro, Brasil – Os sistemas de produção e consumo atuais, representados pelas grandes corporações, pelos mercados financeiros e pelos governos que garantem sua manutenção, são “os que produzem e aprofundam o aquecimento global e a mudança climática”.
É desta forma que questionam o sistema econômico e financeiro imperante os organizadores da Cúpula dos Povos na Rio+20 pela Justiça Social e Ambiental, que reunirá cerca de 16 mil pessoas no Rio de Janeiro, paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá de 20 a 22 de junho nesta cidade.
As grandes corporações estão se apoderando da natureza, alertam sindicalistas e demais organizações promotoras da Cúpula dos Povos. Foto: Clarinha Glock/IPS |
O sistema capitalista, afirmam os promotores da Cúpula, está diante de suas “múltiplas crises” com “suas formas renovadas de dominação”.
Ainda segundo os ativistas, também é
- da perda de florestas e
- de diversidade biológica e
- sociocultural,
- da contaminação química,
- da escassez de água potável,
- do aumento da desertificação dos solos,
- da acidificação dos oceanos,
- da monopolização de terras, e
- da mercantilização de todos os aspectos da vida nas cidades e no campo.
Esta forte e ampla crítica foi feita pelo grupo articulador da Cúpula dos Povos, integrada por organizações e movimentos sociais de diversas partes do mundo, que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho, como o principal evento paralelo à também chamada Rio+20. Após analisar os documentos da reunião oficial, os coordenadores da sociedade civil disseram temer pela falta de resultados positivos da negociação, que tem como foco de discussão a economia verde e a instauração de um novo sistema de governo ambiental internacional que a facilite.
“A economia verde, em nosso entendimento, é uma forma de fazer avançar os interesses das corporações sobre a natureza”, afirmou Fátima Mello, integrante do Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos. “Estamos muito preocupados com a criação de mercados financeiros nos quais a água, o ar e a biodiversidade passem a ser negociados como fontes de financiamento para um sistema que não altere de forma urgente os modelos de produção e consumo que estão levando o mundo à catástrofe”, ressaltou.
Fátima Mello e Marcelo Durão |
“Este debate da economia verde é uma falácia, um fortalecimento ainda maior do acúmulo da riqueza, com foco principal na natureza”, acrescentou Marcelo, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e um dos representantes da Via Campesina na Cúpula. Também comparou a Rio+20 com a primeira cúpula deste tipo realizada há 20 anos também no Rio de Janeiro, conhecida como Eco 92.
Enquanto há 20 anos foi estabelecido um vínculo entre chefes de Estado e membros da sociedade civil, agora “há uma relação entre as grandes corporações e os governantes”, apontou Marcelo. “A leitura que fazemos é que as grandes corporações estão se apoderando da natureza”, convertendo-a em uma “nova maneira de centralização da riqueza”, declarou à IPS.
No documento intitulado "O que está em jogo na Rio+20", os representantes da Cúpula dos Povos chamam a atenção para o novo conceito apresentado de economia verde, que “não questiona ou substitui o modelo baseado no extrativismo e nos combustíveis fósseis, nem seus padrões de consumo e de produção industrial”. O sistema imperante, acrescenta o texto, “estende a economia exploradora das pessoas e do meio ambiente a novos âmbitos, alimentando o mito de que é possível um crescimento infinito”.
As organizações da sociedade civil consideram que os cultivos geneticamente modificados, os agrotóxicos, os biocombustíveis, a nanotecnologia, a biologia sintética e a artificial, a geoengenharia, e a energia nuclear, entre outras, são apresentadas como “soluções tecnológicas” para os limites naturais do planeta e as múltiplas crises, sem encarar as verdadeiras causas que as provocam.
Os organizadores da Cúpula dos Povos disseram estar surpresos com a resposta à convocatória que teve em seu encontro “a crise” financeira, social, ambiental, econômica, energética e alimentar. Inscreveram-se cerca de 23 mil pessoas de 65 países, mas por razões de logística só poderão ser abrigadas aproximadamente 16 mil. Um dos pontos culminantes da Cúpula será uma caminhada a ser realizada no dia 20 de junho. Ao final do encontro se buscará elaborar alguma conclusão para apresentar na Rio+20.
Envolverde/IPS