23/12/2012 - Por detrás dos saques a supermercados na Argentina
- Por Mário Augusto Jakobskind para a Rede Democrática
A informação foi divulgada pelo jornal argentino Página/12 e faz lembrar fatos ocorridos aqui no Rio de Janeiro com os arrastões no governo Leonel Brizola.
Pois bem, na Argentina ficou claro que os saques aos supermercados não foram espontâneos tendo havido organização. O governo acusa setores da oposição.
Segundo denúncias, uma “central de informações” começou a divulgar notícia segundo a qual haveria distribuição gratuita de gêneros alimentícios em determinado horário. Podem imaginar isso em véspera de Natal? Podem imaginar a frustração quando muita gente humilde chegava ao supermercado mencionado e recebia a informação de que a notícia era mentirosa?
Em várias cidades ocorreu o mesmo esquema. Chamou muito atenção, ainda segundo o jornal Página 12, ocorrido em Campana, um município com menor quantidade de desempregados e de trabalhadores com maior poder aquisitivo na Argentina. A prefeita StelaMaris Giroldi é aliada de Cristina Kirchner. A receita dos saques foi exatamente a mesma que em supermercados de outras cidades. Lá, por acaso, ocorreram os fatos mais graves inclusive com vítimas fatais a lamentar.
E qual a semelhança destes fatos com o que aconteceu no Rio de Janeiro em um dos governos Leonel Brizola? Exatamente no momento em que a Rede Globo diariamente fazia uma campanha insidiosa contra o governador, nas praias de Ipanema e Leblon, no momento em que as câmaras de TV “passeavam” pela orla, bandos realizavam arrastões que apavoravam os frequentadores das praias mencionadas.
Houve até denúncias segundo as quais muitos dos “arrastadores” chegavam a orla em vans fretadas, sabe-se lá por quem .
Por estas e muitas outras, todo o cuidado é pouco na hora de se analisar fatos como os atuais saques ocorridos na Argentina, exatamente no momento em que governo e o grupo midiático Clarin travam uma batalha em função da chamada Lei dos Médios (de comunicação), aprovada pelo Congresso depois de pelo menos três anos de discussão pelos argentinos.
Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3496:por-detr%C3%A1s-dos-saques-a-supermercados-na-argentina
********
Hugo Moyano (foto), ex-caminhoneiro, presidente da CGT-Argentina, ex-aliado e agora em franca oposição ao governo Kirchner, por conta de um reajuste na tabela de imposto de renda pretendido por ele e não aceito pelas Finanças argentinas, é o suspeito, pelo governo, de estar por detrás da organização desses saques. O líder sindical tenta sua reeleição para um novo mandato na Confederação Geral dos Trabalhadores argentinos. (Equipe Educom)
*********
É de um leitor, via email, que vem a seguinte nota em 23/12/2012
"Caro editor, um adendo ao texto do Jakobskind. Há mais de 30 anos caminho diariamente na orla que vai do Arpoador ao Leblon, no horário matinal de 6:30 às 7:30h, de segunda à sábado. Houve um tempo, na época do Brizola, invariavelmente aos sábados, tão logo chegava ao Arpoador e via a Globo montando o aparato de filmagens (no mínimo 2 pontos de câmeras, um logo no início da praia junto aos coqueiros e outro nas proximidades do Posto 7) comentava com minha mulher:
- Hoje a gente não vem pra praia porque vai haver arrastão. Taí a Globo já se posicionando pra "documentar"; e não dava outra.
Em pelo menos duas ocasiões, ou seja, em dois sábados distintos, testemunhamos um terceiro ponto de câmeras sendo montado na varanda de um apartamento, na altura do 2º ou 3º andar, não lembro exatamente. Mas me ocorre lembrar que o autor de novelas da Globo, Gilberto Braga, mora (ou morava) exatamente nesse trecho de praia."
**********
Este vídeo mostra o que se esconde por detrás dos ataques sistemáticos da mídia brasileira contra a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner.
Para entender o jogo da mídia contra o que chamam de "kirchnerismo" é importante contextualizar a situação. Antes, vamos usar uma analogia metafórica.
Para entender o jogo da mídia contra o que chamam de "kirchnerismo" é importante contextualizar a situação. Antes, vamos usar uma analogia metafórica.
Você mora numa grande cidade em que três padarias controlam a qualidade, a variedade e o preço dos pães que você consome. E uma antiquada lei diz que só os políticos podem liberar concessões para novas padarias. E a maioria dos políticos (responsáveis pela tal lei) são donos das padarias; ou amigos destes; ou representantes dos mesmos.
Daí, um novo governante assume a responsabilidade para criar uma nova lei que visa quebrar o cartel, dificultar o monopólio e facilitar o surgimento de novas padarias. O que faz o sindicato dos donos das padarias? Começa a espalhar panfletos dizendo que o governante quer controlar a produção de pães na cidade e ameaça a sua liberdade de escolher o pão que você vai comer.
Agora, imagine se, em vez de mandar imprimir panfletos, os donos das padarias fossem donos de todos os meios de comunicação (jornal, rádio, tv etc) disponíveis. E tente imaginar se, em vez de pãezinhos, os produtos em questão fossem as notícias que influenciam a vida de todos na cidade.
Uma vez exposta esta metáfora, vamos conhecer um pouco a história da imprensa na Argentina para entender o que isto tem a ver com o Brasil.
Na Argentina, a grande mídia privada era tradicionalmente "chapa-branca", principalmente a partir de 1978 - quando o ditador Rafael Videla praticou de forma criminosa a expropriação da empresa Papel Prensa, que detinha o monopólio da produção de papel no país
.
Videla cedeu a Papel Prensa para três grupos: Clarin, La Nacion e La Razion (Hoje com prevalência do Clarin e o La Nacion). A contrapartida para tal "caridade" era clara: os grupos teriam que ter um "objetivo comum", ou seja, dar vazão ao "projeto" de um governo ditatorial, corrupto, violento e entreguista.
Com tal golpe, os grupos empresariais passaram a controlar toda a imprensa escrita e adquiriu um poder extraordinário, cartelizando o setor e esmagando a concorrência. Inclusive, correm hoje na justiça da Argentina processos que cuidam de julgar graves acusações de crimes - sequestros assassinatos etc - cometidos por conta do golpe na Papel Prensa.
Ante o nebuloso passado, não é difícil entender o porquê de os grupos Clarin e La Nacion terem assumido, até o governo Duhalde (antecessor de Nestor Kirchner), uma postura "chapa-branca".
Pois qualquer governante que ousasse pôr a mão no vespeiro da sórdida história por trás dos poderosos barões da mídia, obviamente perderia a "simpatia" dos mesmos.
Foi o que fez Nestor Kirchner.
Sua sucessora, Cristina Kirchner, foi mais além: deu amplo apoio à reformulação das antiquadas leis das comunicações que davam suporte às injustiças; ao monopólio.
É a chamada Ley de Médios - uma revolução na democratização das comunicações -, reverenciada pela maioria dos jornalistas argentinos e que o relator da ONU para a liberdade de expressão, Frank La Rue (foto), definiu como "a mais avançada legislação em favor da liberdade de expressão da América Latina e um exemplo para o mundo".
Assim, é tremenda má-fé dizer que Cristina Kirchner estaria cerceando a liberdade de imprensa porque a grande mídia faz oposição ao governo dela.
Porque se você raciocinar bem, para o "kirchnerismo" seria muito mais cômodo deixar tudo como está: a grande imprensa elogiando o governo de um lado e a histórica injustiça assombrando de outro lado, com a prevalência do jornalismo chapa-branca monopolizando as verbas publicitárias e sufocando a maioria representada pelos milhares de outros periódicos "não-alinhados" à oligarquia; as rádios não-comerciais etc.
No Brasil, após sistemáticas críticas dos organismos internacionais contra as capengas leis das telecomunicações (permitindo, por exemplo, o clientelismo na distribuição das concessões de rádios e tevês), em 1998 o governo de FHC resolveu fazer uma reformulação meia-boca na legislação.
Mas cerca de 70% dos parlamentares que formularam e aprovaram tal legislação eram donos de rádios e tevês ou estavam a serviço destes, ou seja, criou-se uma lei que veio muito mais para restringir do que democratizar o setor.
Em suma: criaram uma nova lei que ainda traz graves reflexos dos tempos da ditadura.
Para barrar tal lei, a chamada "grande mídia" brasileira bolou um fantasma chamado "ameaça contra a liberdade de imprensa" na imagem da "ditatorial" presidenta da Argentina e quase todos os dias martela tal "ameaça" nos seus noticiosos.
Não deixe de ler:
Nota: a inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Imagens, é de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.