Por: Paulo Moreira Leite - Política, economia - 22/02/2012 - blog Maria Frô
Creio que o mundo vai ficar um pouquinho melhor se nossos observadores, economistas e jornalistas deixarem de usar a palavra “ajuda” para descrever o plano de austeridade que a União Européia impôs à Grécia.
É vergonhoso.
Meu mini Houaiss explica que ajuda quer dizer “amparo, socorro, prestar serviço a alguém; obséquio; favor.”
Já o verbo ajudar, registra o mestre, significa “prestar assistência, tornar mais fácil, facilitar.”
Nada disso está ocorrendo com a Grécia. O país irá receber um empréstimo de 130 bilhões de euros e não irá colocar a mão num único centavo dessa fortuna, que se destina ao pagamento de compromissos atrasados.
A parte da Grécia é ir pagar este dinheiro com novos sacrifícios da população. O país está há três anos em recessão e agora irá enfrentar cortes no salário mínimo e nas aposentadorias, redução de investimentos públicos e outras medidas de um figurino horroroso e irracional. Você pode até achar que a Grécia tem o “dever” de “honrar” seus compromissos. Só não pode falar que está recebendo ajuda.
Esta palavra, agora, só serve para embelezar o trabalho que os banqueiros, o FMI e as autoridades européias estão fazendo. O pacote irá ajudar os credores, que não tinham como receber por empréstimos feitos de forma leviana, para devedores que não poderiam pagá-los, mas que foram realizados mesmo assim porque a meta do lucro fácil falou mais alto.
Para os bancos sim o pacote de 130 bilhões de euros representa um “amparo”, um “socorro”, um “obséquio.” O problema deles não é salvar o euro. É salvar a pele.
Se paramos de usar palavras erradas, será mais fácil reconhecer que estamos assistindo a destruição de um país e não a um esforço para salvá-lo.
O plano de austeridade é tão destrutivo que ameaça a soberania e a democracia. A União Européia irá colocar uma equipe para monitorar o comportamento do governo grego daqui para a frente. Vai controlar contas, autorizar gastos, diminuir despesas. Como acontecia nos tempos coloniais. Pior.
Pretende-se transformar o compromisso com o pagamento das dívidas em clausula constitucional. Pior ainda.
Manolis Glezos, o resistente no Parlamento grego que denuncia os bancos alemãs |
O Ministro da Fazenda alemão fala que seria conveniente adiar as próximas eleições, para não se correr o risco de vitoria de um candidato adversário da austeridade.
Vamos parar de mentir para nós mesmos. Pelo menos isso se pode fazer.