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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Uma nova economia ou guetos de excluídos?

05/02/2014 - Ao final, uma nova economia ou guetos de excluídos? Uma visão recente dos EUA
Christopher - em seu blog Nova Economia

Divido com o leitor impressões que tive dos EUA durante recente temporada na costa leste, em especial, contatos com organizações envolvidas com a Nova Economia, práticas em larga escala e claramente opostas ao que se pode imaginar para um futuro viável para a humanidade e a visão majoritária de que a economia americana reencontrou seu caminho para o crescimento e que isto, se for verdade, é o desejável.

Vou começar por uma das práticas.

Carros novíssimos por toda a parte. Mesmo com a gasolina a US 3,70 o galão, ficou evidente que voltou a se impor a preferência por carros grandes, enormes aliás. Os SUV, camionetes utilitárias, voltaram a ser o desejo máximo de consumo.

Estradas, pontes e ruas conservadas e ampliadas recentemente, certamente resultado do programa de incentivo à renovação da infraestrutura e parte do programa econômico que inclui também o funesto afrouxamento monetário.

Evidentemente, como não poderia deixar de ser, engarrafamentos de cada vez maior duração e em horários inesperados. Além da poluição e inúmeros outros maléficos da “civilização do automóvel”.

Huston – temos um problema

Um não, vários, e que indicam que os EUA estão afastando ainda mais as possibilidades de preservação ambiental, redução das desigualdades e maior bem estar. Não que não tenha outros aspectos dos mais interessantes, é claro. Só para citar dois, museus e parques florestais em seu conjunto, inigualáveis.

Bem, continuando esse breve relato me atenho hoje à abundância e desperdício de comida. 

Supermercados gigantescos oferecendo produtos frescos, processados e também preparados para servir na hora. Sinal, é claro, que a demanda é enorme.

A questão, evidentemente, é a das consequências, em especial a obesidade que se espalha pela população e gera maior demanda por atendimento médico e menor qualidade de vida, e o desperdício nas três formas de oferta citadas.

O melhor exemplo disto é a prática do “all you can eat”.

Por US 9,00 você pode comer à vontade, inclusive sobremesas, dentre elas, uma cascata de chocolate. E para os seniores (acima de 65 anos), uma bela surpresa, o preço baixa para US 7,00. Um exemplo é o Wood Grill Buffet onde, ainda por cima, a qualidade é bem razoável.

No centro das práticas insustentáveis e facilmente observável está o consumismo desenfreado. A febre por carros novos e a ânsia por comida, práticas aqui mencionadas, são apenas facetas deste mal maior.

Vá a um dos inúmeros shopping centers, ou, melhor ainda, outlets, nos subúrbios e você verá moradores de origem latina e asiática, principalmente, comprando vorazmente aproveitando os preços “baixos” para terem produtos que passam a ser indispensáveis.

E, nas grandes cidades, massa de consumidores também latinos e asiáticos além dos do próprio 

EUA ocupando as ruas e lojas na procura pelas melhores ofertas.

Este ano, a famosa “black Friday” [Sexta-feira Negra] foi antecipada para o próprio “thanks giving day” [Dia de Ação de Graças] que ocorre no dia anterior e é (ou era) uma celebração das mais tradicionais no país.

E lá se vão os salários e ganhos da população obtidos em atividades desvalorizadas e ligadas cada vez mais ao setor de serviços (saúde, vendas, telemarketing, etc.).

Entre os inúmeros males que gera, além do descarte de embalagens e de produtos em uso, a irônica piora na qualidade de vida dos que participam desta “roda viva”.

A grande mídia e os economistas ortodoxos dizem, ainda com alguma insegurança, que a economia americana está se recuperando da grande recessão.

Além de citarem a proverbial capacidade empreendedora americana, três fatores principais impulsionam a convicção.

A liderança tecnológica, em especial a refletida na indústria e serviços ligados aos celulares, tablets e notebooks, estaria sendo responsável por inúmeras iniciativas, em particular as relacionadas a aplicações para tais equipamentos.

A geração de gás e petróleo através do fraturamento hidráulico da camada de xisto e que reduziu drasticamente o custo do gás e o torna substituto do carvão na geração de energia. As dificuldades e riscos neste tipo de extração e o rápido declínio na capacidade de produção dos poços são simplesmente ignorados.

E, o carro elétrico, que agora está sendo produzido em série, já tem autonomia de 300 milhas e um tempo de recarga de cerca de uma hora, mostra, se for viável reduzir o seu custo, o caminho para uma possível transição de fontes de energia.

É claro, tentando inviavelmente perpetuar a “civilização do automóvel” e o modelo de crescimento econômico que gira em torno dele.

Mantive contato com duas das principais organizações que lutam por uma Nova Economia, a New Economy Coalition (NEC) e o New Economy Working Group.

Ambas, assim como a imensa maioria das organizações do gênero, arrecadam doações de um lado e contratam colaboradores de outro. Ou seja, reproduzem, mesmo sem ter finalidade lucrativa, o modelo de negócios reinante.

Além disto, têm como alvo de sua ação, a mudança de comportamento das pessoas pela informação e convencimento e que se desdobra na mobilização em torno de experiências localizadas, tais como cooperativas, valorização da produção local, consumo consciente e atividades similares.

E, com isto, imaginam uma gradual transição de hábitos e práticas na direção preconizada pela Nova Economia ou por propostas similares como a adoção de uma economia em “steady state” [estacionária], o degrowth” [decrescimento] do sistema produtivo e outras.

E, no fundo, contam ainda, como grande esperança, com o acirramento da crise e com ele a pressão pela mudança.

A NEC tem uma ação um pouco mais voltada para a transformação via movimentos sociais, mas o faz através da contratação de “lideranças”.

Não que doações não sejam uma forma válida de cobrir despesas, nem que a crise tenha se esgotado, muito pelo contrário.

Mas, a ação de tais organizações não pode, de forma alguma, deixar de estar centrada no trabalho voluntário, o que garante a sua vitalidade e inserção na realidade que pretende mudar. 

O Greenpeace, o Médico sem fronteiras e a Anistia Internacional são excelentes exemplos de atuação, a meu ver, corretas. Além dos movimentos políticos e sociais, é claro.

E a grande recessão, que parece estar entrando numa nova fase, também global, e ainda mais aguda, atingindo mais fortemente os países emergentes e em seguida a economia global, numa demonstração cabal das consequências danosas das iniciativas de contenção da crise tomadas pelos EUA e Europa utilizando-se principalmente do afrouxamento monetário para salvar os bancos e financiar obras de infraestrutura, não é garantia de mudança na direção correta.

O fato é que a realidade vai, a meu ver e como procurei mostrar aqui, em outra direção.

Na prática, as iniciativas pela mudança em prol da preservação ambiental, redução da desigualdade e maior bem estar não estão conseguindo se afirmar como movimentos de massa e estão se enfraquecendo.

O que salienta a possibilidade de guetos de excluídos, separando populações de uma mesma nação e mesmo, nações inteiras, mantidas sob o jugo da força.

Ocorre que esta possibilidade se choca com o sistema econômico vigente que precisa crescer continuamente e expandir seus mercados.

O que prenuncia o aumento de conflitos, crises econômicas e desastres ambientais, antes que uma nova ordem econômica, na melhor das hipóteses, se imponha. A ver.

Links das postagens componentes do texto:
- O impensável se impõe 
- “Huston – temos um problema” 
- “O olho do furacão”
- “Encontraram a solução
- Uma Nova Economia ou, então, guetos de excluídos