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quinta-feira, 28 de março de 2013

A República e as multinacionais


25/03/2013

por Mauro Santayana

(Carta Maior) - O governo brasileiro tem tratado com deferência o Sr. Emilio Botin, dono do Grupo Santander, já investigado pela justiça espanhola, entre outras coisas, por remessas ilegais de dinheiro para o exterior e duvidosas contas na Suiça, pertencentes à sua família desde os tempos do franquismo. Ele comanda um grupo que teve que pegar, direta e indiretamente, no ano passado - em dinheiro e títulos colocados no mercado - mais de 50 bilhões de euros emprestados; demitiu dois mil empregados no Brasil no mesmo período, e teve uma queda de 49% em seu lucro global nos últimos 12 meses, devido, entre outras razões, a provisões para atender a ativos imobiliários “podres” no mercado espanhol.

A mera leitura dos comentários dos internautas espanhóis sobre o Sr. Botin daria, a quem estivesse interessado, idéia aproximada de como ele é visto em seu próprio país, e de como há quem preveja, com base em argumentos financeiros, que a bicicleta do Santander pode parar de rodar nos próximos meses, com a quebra do grupo ou, pelo menos, de seu braço controlador, ainda em 2013.

Nos últimos dez anos, as remessas de lucro para as matrizes de multinacionais – muitas delas estatais controladas direta ou indiretamente por governos estrangeiros – chegaram, no Brasil, a 410 bilhões de dólares, ou pouco mais que nossas reservas internacionais, duramente conquistadas no mesmo período.

Ora, se as multinacionais trazem dinheiro, e contribuem para aumentar o clima de competição em nossa economia, é natural que elas mandem seus lucros para o exterior. O problema, é que, na indústria, na área de infra-estrutura ou de telecomunicações, quem está colocando o dinheiro somos nós mesmos.

O BNDES tem colocado a maior parcela de recursos, e assumido a maior parte do risco, em empresas que mandam, apesar disso, ou por causa disso mesmo, bilhões de dólares para seus acionistas no exterior, todos os anos. Mais de 70% da nova fábrica da Fiat em Pernambuco foi financiada com dinheiro público. A Telefónica da Espanha recebeu do BNDES mais de 4 bilhões de reais em financiamento para expansão de “infraestrutura” nos últimos anos. E mandou mais de um bilhão e seiscentos milhões de dólares para seus acionistas espanhóis, que controlam 75% da Vivo, nos sete primeiros meses do ano passado.

A OI, que também recebeu dinheiro do BNDES, emprestado, e era a última esperança de termos um “player” de capital majoritariamente nacional em território brasileiro, corre o risco de se tornar agora uma empresa portuguesa, com a entrega de seu controle à Portugal Telecom, na qual o governo português – que já dificultou inúmeras vezes a compra de empresas lusitanas por grupos brasileiros, no passado - conserva mecanismos estratégicos de controle.

Empresas estatais estrangeiras, como a francesa ADP (Aeroportos de Paris) ou a DNCS, que montará aqui os submarinos comprados pelo Brasil à França, pertencem a consórcios financiados com dinheiro público brasileiro. Essa é a mesma fonte dos recursos que serão emprestados às multinacionais que vierem a participar das concessões de aeroportos, de rodovias (com cinco anos de carência para começar a pagar) e de ferrovias, incluindo o trem-bala Rio-São Paulo.

A Caixa Econômica Federal, adquiriu, por sete mil reais, em julho, pequena empresa de informática e depois nela se associou minoritariamente à IBM . No mês seguinte, depois de constituída a nova sociedade, agora controlada pelos norte-americanos, com ela celebrou, sem licitação, contrato de mais de um bilhão e meio de reais - operação que se encontra em investigação pelo TCU.

Qual é o lucro que o Estado brasileiro leva, financiando, direta e indiretamente, a entrada de empresas estrangeiras de capital privado e estatal em nosso território para, em troca, em lugar de reinvestirem os seus lucros por aqui, continuarem mandando tudo o que podem para fora ?

Com a queda dos juros no exterior por causa da crise e da recessão que assolam a Europa e o Japão, existe liquidez bastante para que essas empresas busquem dinheiro lá fora para bancar, pelo menos, a parte majoritária de seus investimentos no Brasil.

Os chineses, por exemplo, têm dinheiro suficiente para financiar tudo o que fizerem no Brasil, sem tomar um centavo com o BNDES. Usar o banco para aumentar o conteúdo nacional nos projetos é inteligente. Mas, se estamos financiando empresas estatais estrangeiras, por que não podemos financiar nossas próprias estatais, não apenas para diminuir a sangria bilionária, em dólares, para o exterior, mas também para regular o mercado e os serviços prestados à população, como já ocorre com os bancos públicos no mercado financeiro?

Não se trata de expulsar ou discriminar o capital estrangeiro. Mas o bom sócio tem que trazer, ao menos, know-how e dinheiro próprio. A China sempre tratou - até por uma questão cultural - com superioridade quem quer investir lá dentro, e cresceu quase dez por cento ao ano, nos últimos 20 anos, porque sempre entendeu ser o mercado interno seu maior diferencial estratégico.

Aqui, continuamos financiando a entrada de empresas estrangeiras com dinheiro público, dando-lhes terrenos de graça, isentando-as de impostos, como se não fôssemos a sétima economia do mundo.

O desenvolvimento nacional tem que estar baseado no tripé capital estatal, capital privado nacional, e capital estrangeiro. Nosso dinheiro, parco com relação aos desafios que enfrentamos no contexto do crescimento da economia, deve ser prioritariamente reservado para empresas de controle nacional, que, caso sejam privadas, se comprometam a não se vender para a primeira multinacional que aparecer na esquina. Quem vier de fora, que traga seu próprio dinheiro, e o invista, preferivelmente, em novos negócios, que possam expandir o número de empregos, a estrutura produtiva e aumentar a parcela de recursos disponíveis para o investimento.

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:


http://gsmbrasil.net.br/?p=54127
Fonte: Blog do Mauro  Santayana

quarta-feira, 7 de março de 2012

Bancos são os financiadores de armas nucleares

06/3/2012 - por Thalif Deen, da IPS* - Envolverde

Nações Unidas, 6/3/2012 – A indústria mundial de armas nucleares é financiada e mantida viva por mais de 300 bancos, fundos de pensão, companhias de seguros e gestores de ativos, segundo um estudo divulgado pela Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican). Estas instituições realizam substanciais investimentos na produção de armas atômicas. O estudo, de 180 páginas, diz que as nações com poderio nuclear gastam mais de US$ 100 bilhões ao ano fabricando novas ogivas, modernizando as velhas e construindo mísseis balísticos, bombardeiros e submarinos para lançá-las.

Grande parte deste trabalho é feito por corporações como BAE Systems e Babcock International, na Grã-Bretanha, Lockheed Martin e Northrop Grumman, nos Estados Unidos, Thales e Safran, na França, e Larsen & Toubro, na Índia.

Instituições financeiras investem nestas companhias fornecendo empréstimos e comprando ações e bônus”, afirma o documento, considerado o primeiro de seu tipo. Com o título Dont Bank on the Bomb: The Global Financing of Nuclear Weapons Producers ("Não confiem na bomba: o financiamento mundial dos produtores de armas nucleares"), o estudo fornece detalhes das transações financeiras com 20 empresas intensamente envolvidas na fabricação, manutenção e modernização das forças atômicas norte-americanas, britânicas, francesas e indianas.

É necessária uma urgente campanha coordenada mundial pelo desinvestimento em armas nucleares, destaca o informe. Um movimento assim poderia ajudar a frear os programas de modernização e fortalecimento de armamentos e impulsionar as negociações para uma proibição universal desse tipo de bombas. “Deixar de investir nas companhias de armas nucleares é uma forma efetiva de o mundo corporativo avançar para a meta de uma abolição nuclear”, indica o estudo.

O trabalho exorta as instituições financeiras a deixarem de investir na indústria armamentista atômica. “Qualquer uso de armas nucleares violaria o direito internacional e teria catastróficas consequências humanitárias. Ao investir nos fabricantes, as instituições financeiras estão, na verdade, facilitando a construção de forças atômicas”, alerta. Na introdução do informe, o arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, afirma: “ninguém deveria obter lucro com esta terrível indústria da morte, que ameaça a todos nós”.

Tutu exorta as instituições financeiras a apoiarem os esforços para eliminar a ameaça atômica, e destaca que o fim dos investimentos foi vital na campanha para acabar com o apartheid (sistema de segregação racial contra a maioria negra) na África do Sul. A mesma tática pode e deve ser empregada para enfrentar a criação mais maligna do homem: a bomba nuclear, sugere.

Por sua vez, Tim Wright, diretor de campanhas da Ican e coautor do estudo, disse à IPS que algumas das instituições identificadas no trabalho já expressaram sua “intenção de adotar políticas proibindo os investimentos em fabricantes de armas atômicas”. A campanha para que cessem os investimentos “provavelmente terá maior êxito em países onde a oposição às armas é mais forte”, por exemplo, nos escandinavos e no Japão, acrescentou. Wright destacou que cada vez mais bancos reconhecem que se deve aplicar algum tipo de critério ético aos investimentos, e que apoiar a fabricação de armas capazes de destruir cidades inteiras em um instante é algo claramente contrário à ética.
Das 322 instituições financeiras identificadas no informe, cerca da metade tem sede nos Estados Unidos e um terço na Europa. O estudo também denuncia instituições da Ásia, Austrália e Oriente Médio. As mais envolvidas com a indústria de armas nucleares são Bank of America, BlackRock e JP Morgan Chase, nos Estados Unidos, BNP Paribas, na França, Allianz e Deutsche Bank, na Alemanha, Mitsubishi UFJ Financial, no Japão, BBVA e Banco Santander, na Espanha, Credit Suisse e UBS, na Suíça, e Barclays, HSBC, Lloyds e Royal Bank of Scotland, na Grã-Bretanha.

Consultado sobre se seria viável uma campanha para boicotar estas entidades, Wright declarou à IPS que “se os bancos resistirem a ceder, os clientes terão que buscar alternativas éticas”. Muitos outros bancos, particularmente pequenos, negam-se a ter qualquer ligação com esta indústria, destacou. “Se as pessoas começarem a debandar em massa, isto enviará um forte sinal ao banco, de que seu apoio às companhias de armas nucleares é inaceitável. No caso das instituições multinacionais, uma campanha coordenada de boicote em vários países seria efetiva”, acrescentou.

O estudo também cita Setsuko Thurlow, sobrevivente da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade japonesa de Hiroshima em 1945, que fez um apelo para que se invista de forma ética e para não se contribuir com atividades que ameacem a Terra.


*(IPS) - A Agência Envolverde distribui com exclusividade no Brasil os textos da agência Inter Press Service (IPS) e do Projeto Terramérica. Jornais, revistas e websites que queiram ter acesso a este material podem entrar em contato com nossa redação através do email agencia@envolverde.com.br

sábado, 18 de junho de 2011

"HAPPY BIRTH DAY MISTER PRESIDENT" - CADÊ "HERANÇA MALDITA" QUE ESTAVA AQUI? A DILMA COMEU



Laerte Braga


No momento em que o governo Dilma Roussef começa a privatizar a frota nacional de petroleiros através da empresa SETE BRASIL (noventa por cento do controle acionário ficam com o BRADESCO e o SANTANDER – cliente da consultoria de Palocci) morre em Belo Horizonte o professor Washington Peluso Albino de Souza, talvez o último dos brasileiros, 94 anos de idade, dentre os participantes da luta “O PETRÓLEO É NOSSO”.

Um dos maiores vultos do nosso Direito o professor foi o responsável pela famosa tese mineira do petróleo. Foi também um dos últimos grandes pensadores do Direito e não se alinhava com o entreguismo udenista que fazia coro, àquela época, a entrega do petróleo a empresas estrangeiras.

Que Dilma Roussef tenha telefonado a Fernando Henrique Cardoso para cumprimentá-lo pelo aniversário, nada demais. Um gesto de educação e pronto.

Que Dilma Roussef tenha dito que FHC foi o responsável pela “estabilidade econômica” no Brasil, isso é de envergonhar.

Em 1978 FHC foi candidato a uma vaga no Senado por São Paulo numa sublegenda do antigo MDB. Eram uma vaga em disputa, renovação de um terço da Casa e Franco Montoro, à época também do MDB foi o eleito. Segundo colocado em seu partido, como determinava a lei FHC virou suplente de senador.

Em 1982 Franco Montoro foi eleito governador do estado e FHC assumiu sua vaga no Senado, restavam quatro anos a serem cumpridos do mandato original. Foi reeleito em 1986. Aí eram duas as vagas em disputa,  conseguiu a segunda na esteira da extraordinária votação conferida a Mário Covas, já PMDB, algo em torno ou superior a sete milhões de votos.

O projeto FHC começa anos atrás quando o ex-presidente estava exilado no Chile e era custeado pela Mercedes Benz e outras empresas interessadas em negócios na América Latina. A amoralidade de FHC o tornava um quadro perfeito para os interesses dessas empresas. O permanecer como um político de esquerda também, já que os temores das elites econômicas internacionais eram a de eleição de Leonel Brizola para a presidência do Brasil num eventual pleito direto, no retorno à democracia, algo que só iria acontecer em 1989 – a primeira eleição direta desde 1960 – quando Jânio Quadros venceu o marechal Teixeira Lott. Era conveniente o que chamavam de contra ponto de bom senso à esquerda. Mais ou menos esquerda comprável, dócil.

No auge da crise que acabou no impedimento do ex-presidente Collor de Mello essas forças políticas e econômicas, na tentativa de salvar o caçador de marajás, tentaram fazer de FHC ministro plenipotenciário do governo, o próprio Collor, no desespero de não perder o cargo, referiu-se à nomeação como “uma espécie de primeiro-ministro”, mas Covas e outras lideranças tucanas vetaram. FHC nunca perdoou Covas por isso.

Foi Itamar Franco – vice de Collor – quem tirou Fernando Henrique do ostracismo político. Havia feito várias declarações que não tentaria a reeleição para o Senado, não teria como consegui-la (não havia mais puxadores de votos como Montoro e Covas para carregá-lo) e disputaria uma vaga na Câmara dos Deputados.

Primeiro Itamar colocou-o no Ministério das Relações Exteriores e na primeira fraude do então ministro da Fazenda Elizeu Resende, o que delineava uma crise política que poderia ganhar peso e importância maiores, levou FHC para o Ministério da Fazenda. Pedro Malan era o homem de Washington e então presidente do Banco Central.

Um processo semelhante acontecia na Argentina e o eleito pelo chamado Consenso de Washington – a verdade única – era Carlos Menem.

Um alvo direto, os dois maiores países latino-americanos sob o tacão do neoliberalismo.

Nomeado ministro da Fazenda FHC na prática assumiu a condução dos principais negócios do governo e como ele próprio disse aos autores do Plano Real sobre Itamar aceitá-lo ou não, “deixa o Itamar comigo que eu o convenço”.

Itamar até hoje pensa que foi presidente de fato.

O Plano Real ressuscitou FHC, transformou-o em candidato a presidente da República, num acordo com o ex-presidente Itamar Franco. “Agora você, daqui a quatro anos eu de volta”. É célebre a gafe do ex-ministro Ruben Ricúpero ao afirmar na tevê – não sabia que estava no ar -, que o Plano, entre outras coisas, estava sendo usado para vender a candidatura de FHC.

A reeleição foi um golpe de estado branco. Sérgio Motta, ministro das Comunicações e sócio em alguns negócios do presidente, conduziu a compra de deputados, senadores, a concordância da mídia e tratou de afastar os obstáculos a um novo mandato para FHC (o mesmo na Argentina para Menem).

Há um inquérito sobre compra de votos na Procuradoria Geral da República em torno do processo de votação da emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC que está parado até hoje. A compra foi escancarada e muitas vezes em dinheiro vivo está provada nesse inquérito. Só não foi à frente.

Em 1998, ano da reeleição, FHC precisava do apoio do PMDB para derrotar Lula (Brizola foi o candidato a vice na chapa do petista) e Itamar Franco estava disposto a disputar a indicação, como disputou, dentro do seu partido, então PMDB. Feitas as contas a candidatura Itamar de saída levava a eleição para o segundo turno e tornava a vitória de FHC – objetivo do golpe branco – uma incógnita. Tanto poderia disputar um segundo turno com o próprio Itamar, ou com Lula e sem certeza de vitória. Era preciso ter essa certeza.

Houve de tudo na convenção do PMDB para barrar a candidatura Itamar. Ulisses já não mais comandava o partido, morrera e o que era um bloco monolítico em torno daquele notável homem público, havia virado um conglomerado que tanto tinha figuras íntegras como bandidos assim do porte de Íris Resende, antigo donatário da capitania de Goiás e principal articulador da derrubada da candidatura Itamar. Virou ministro de FHC depois.

Íris chegou a contratar – o fato foi noticiado amplamente à época – professores de uma academia de jiu jiutsi em Goiânia e Brasília, para intimidar delegados, coagir delegados e garantir o apoio da quadrilha a FHC.

Conseguiu. FHC foi reeleito com menos de um terço dos votos de todo o eleitorado brasileiro.

O processo de venda do Brasil prosseguiria com velas desfraldadas e a todo vapor.

Naquele momento tornavam-se necessários alguns ajustes do primeiro mandato e todos de caráter impopular, mas a essa altura do campeonato a posse da chave do cofre, da caneta que nomeia, demite, transfere e vende (o que vale dizer, recebe também) estavam asseguradas.

Há um aspecto interessante nesse processo. FHC era presidente até um determinado ponto. A autoridade real era do ministro da Fazenda Pedro Malan, homem de Washington designado para evitar besteiras e assegurar toda a sorte de bandalheiras do governo tucano.

Um exemplo? No primeiro Ministério José Serra – então senador – fora designado ministro do Planejamento. Unha e carne com FHC cometeu o erro de avaliação mais simples em todo o esquema. Entrou em choque com Malan achando que venceria a disputa. Voltou para o Senado.

No período que se seguiu a reeleição o ministro das Comunicações Mendonça de Barros – que havia recolhido fundos para a campanha junto a empresas que receberam de presente via BNDES estatais como a VALE e outras – foi à Espanha a convite da Telefônica Espanhola com despesas pagas e todas as regalias possíveis, na busca de novos negócios para aquela empresa.

Chega ao Brasil, pega o governo em meio a uma crise, a desvalorização do real, bate de frente com Malan, fica esperando a queda do ministro da Fazenda e termina demitido, pois Malan vaza todas as informações envolvendo Mendonça de Barros em episódios de corrupção.

A força de Malan era maior que a de FHC.

E assim foram os oito anos de FHC. O escândalo do SIVAM (que gerou uma chantagem em que o presidente pagou para ficar livre garantindo o Superintendente da Polícia Federal por quatro anos), as propinas no curso das privatizações, a compra constante e permanente de deputados e senadores dispostos a vender seus votos no Congresso Nacional, um amontoado de barbáries que levou-o a tornar-se num dos mais impopulares dentre os presidentes nos últimos tempos – tal e qual Collor e Sarney – fato visível na posse de Lula em primeiro de janeiro de 2003, quando FHC pede ao novo presidente que o permita sair pela porta dos fundos ao invés de descerem juntos a rampa do Planalto, sabedor das vaias que receberia como um político rejeitado e desprezado pelos brasileiros.

Crápula lato senso. Só não está na cadeia porque “isto aqui é Brasil”.

Em meio a tudo isso há uma imensidão de fatos, detalhes que revelam o que foi o período FHC. Um deles é a personalidade do ex-presidente. Se acredita enviado divino, oráculo supremo de tudo e todos e isso muitas vezes levou-o a dizer besteiras, como agora, quando diz que Lula deve ter um problema psicológico em relação a ele.

Escondeu um filho de forma perversa – fora do casamento – (todos os outros políticos que viveram situações semelhantes, até o poderoso ACM tiveram situações semelhantes reveladas publicamente pela mídia, FHC não, pagava mais e o que a mídia queria), enfim, um período a servir de exemplo de como um país não pode e não deve ser governado e como figuras assim não podem e não devem ser presidentes.

Ao assumir o governo Lula através de vários ministros falou em “herança maldita”, um país falido, conduzido segundo os interesses e determinações do FMI, do Banco Mundial e todas as quadrilhas financeiras que operam e controlam os principais negócios do mundo (agora vão controlar a frota petroleira do Brasil). Ou seguia os rumos pré-traçados pelo neoliberalismo ou iríamos viver a mesma situação caótica que viveu a Argentina pós Menem. Um presidente a cada três dias depois da renúncia de De la Rúa. 

Em torno dessa herança maldita muitas concessões foram feitas, um preço alto foi pago pelos brasileiros até que se tivesse o mínimo de avanços – políticas sociais principalmente – e na própria economia, sem contar as armações tucanas e da mídia nos oito anos Lula.

Mas sem mudanças significativas, estruturais, decisivas para o futuro do País.

Vai daí que vem Dilma Roussef, produto de Lula, ministra do governo Lula nos dois mandatos e proclama que FHC foi o responsável pela “estabilidade econômica do Brasil”.

E aí? Cadê a “herança maldita” que estava aqui? Dilma comeu.

Há um processo gradual de transformação do PT em partido social democrata, empurrando o PSDB mais ainda para a direita e um modelo de “capitalismo a brasileira” definido pelo secretário geral do PCB Ivan Pinheiro.

Não leram Barbosa Lima Sobrinho na obra que escreveu sobre o milagre japonês.

E há uma burocratização corrupta das cúpulas petistas – caso agora de Palocci –. Isso não faz do PT um partido em estado terminal como força de esquerda, como partido das lutas populares, afinal existe a militância, mas começa a produzir uma lenta agonia que vai levá-lo a essa situação.

Tornou-se o centro da verdade absoluta. Não aceita críticas e rotula os críticos de outros setores de esquerda como “estão fazendo o jogo da direita”. Querem submissão plena e absoluta aos negócios SANTANDER/PALOCCI e dane-se a PETROBRAS.

Dane-se o Brasil.

As manifestações que começam a ocorrer em todos os pontos do País e protagonizadas por várias categorias de trabalhadores não têm cor partidária – por mais que esse ou aquele partido ache que esteja conduzindo essa luta –, pela simples razão que o modelo político e partidário no Brasil está falido. Ou para lembrar Trotsky (não sou trotskista e nunca fui) “o povo está à frente dos dirigentes”.

O institucional como um todo está corroído pelo cupim do neoliberalismo. A corrupção é conseqüência. É intrínseca ao modelo, parte indispensável.

E nem o PT se entende mais. O ex-presidente Lula disse na noite de sexta-feira em Brasília, num evento, que a Internet é um meio revolucionário de comunicação e democrático, fundamental, deve ser popularizado, mas Paulo Bernardo, ministro das empresas de Comunicações, no mesmo dia e no mesmo lugar, disse que se a Internet for popularizada a 35 reais vai haver congestionamento. Ou seja. Lula fala para um lado, Paulo Bernardo fala para outro, as teles vão lucrar com esse negócio da banda larga e o PT bate palmas.

Não se trata de ser livre agora, mas amanhã. Trata-se de perceber a teia desse arremedo de capitalismo chinês que está se montando no Brasil e que na China se sustenta em trabalho escravo, salários de fome, milhões abaixo da linha da pobreza, enquanto partido e elites econômicas, além de forças armadas lógico, vivem os privilégios do tal milagre.

E a reforma agrária? O agronegócio comeu. E a reforma tributária e fiscal? Os ricos não permitem, pois querem que os pobres continuem a pagar os impostos.

E a integração latino-americana? O ministro Anthony Patriot acha que tem que ser pragmático. Pragmatismo é mais ou menos o velho ou dá ou desce. Como a distância a ser caminhada é muito longa, é noite, está escuro...

E muita coisa mais.

Criticar Dilma não significa criticar a primeira presidente mulher. Significa criticar uma presidente que não disse a que veio e quando esboçou falar se enrolou na terceira palavra, além de estar cercada de figuras da pior espécie na política brasileira.

Por que não o povo? Criar canais e mecanismos de participação popular?

A História não deixa nunca de cobrar o seu preço. Vai ter que ser pago.

Não estranhem se José Serra sai por aí dizendo que Dilma está vendendo o Brasil.

Essas cobras são venenosas, imunes a qualquer soro antiofídico e já perceberam que a presidente adora pegar o telefone e dizer “happy birth day mister president”, como Marilyn Monroe disse para Kennedy.

O caso Dilma começa a me trazer à lembrança a frase de Caio Júlio César ao ser assassinado – “até tu Brutus?”