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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O papa e o marxismo

12/4/2012 12:32, por Frei Betto*
Original publicado no Jornal Correio do Brasil

"O marxismo não é mais útil"


O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da revolução cultural chinesa.


Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição.

Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil.


Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia. Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos.



Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo.

Ao longo da história, em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes.

Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo. Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria. Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio. Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki. Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980).

O marxismo é um método de análise da realidade.
E, mais do que nunca, útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo; apoderou-se de riquezas naturais de outros povos; desenvolveu sua face imperialista e monopolista; centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria.
Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna. Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição; onde falam em cooperação, ele introduziu a concorrência; onde falam em respeito à soberania dos povos, ele introduziu a globocolonização.

A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia. A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso. A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos.

Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de “partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano”. A isso Marx chamou de socialismo.

O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx lançou, em 2011, um livro intitulado O Capital – um legado a favor da humanidade. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de O Capital, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867. "Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério", disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. “Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo." Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século 20?

O autor do novo O Capital, nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de “sociais-éticos” os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de “selvagem” e “pecado”, e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política.”As regras do jogo devem ter qualidade ética. Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo”, afirma o arcebispo.

O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de “querido homônimo”, falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus.


O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do Manifesto Comunista se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus.

* Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Boff e Frei Betto criticam orientações de Bento 16 a bispos brasileiros sobre eleição do dia 31

Amigos, recebemos via rede do 3º setor esta mensagem do teólogo e socioambientalista Leonardo Boff.

Estou enviando este pequeno texto sobre a intervenção do Papa acerca do aborto nas eleições.
Lboff


É importante que na intervenção do Papa na política interna do Brasil
acerca do tema do aborto, tenhamos presente este fato para não sermos
vítimas de hipocrisia: nos catolicíssimos países como Portugal,
Espanha, Bélgica, e na Itália dos Papas já se fez a descriminalização
do aborto (Cada um pode entrar no Google e constatar isso). Todos os
apelos dos Papas em contra, não modificou a opinião da população
quando se fez um plebiscito. Ela viu bem: não se trata apenas do
aspecto moral, a ser sempre considerado (somos contra o aborto), mas
deve-se atender também a seu aspecto de saúde pública. No Brasil a
cada dois dias morre uma mulher por abortos mal feitos, como foi
publicado recentemente em O Globo na primeira página. Diante de tal
fato devemos chamar a polícia ou chamar médico? O espírito humanitário
e a compaixão nos obriga a chamar o médico até para não sermos
acusados de crime de omissão de socorro.

Curiosamente, a descriminalização do aborto nestes países fez com que
o número de abortos diminuísse consideravelmente.

O organismo da ONU que cuida das Populações demonstrou há anos que
quando as mulheres são educadas e conscientizadas, elas regulam a
maternidade e o número de abortos cai enormente. Portanto, o dever do
Estado e da sociedade é educar e conscientizar e não simplesmente
condenar as mulheres que, sob pressões de toda ordem, praticam o
aborto. É impiedade impor sofrimento a quem já sofre.

Vale lembrar que o cânon 1398 condena com a excomunhão automática quem pratica o aborto e cria as condições para que seja feito. Ora, foi sob FHC e sendo ministro da saúde José Serra que foi introduzido o aborto na legislação, nas duas condições previstas em lei: em caso de estupro
ou de risco de morte da mãe. Se alguém é fundamentalista e aplica este cânon, tanto Serra quanto Fernando Henrique estariam excomungados. E Serra nem poderia ter comungado em Aparecida como ostensivamente o fez. Mas pessoalmene não o faria por achar esse cânon excessivamente
rigoroso.

Mas Dom José Sobrinho, arcebispo do Recife o fez. Canonista e
extremamente conservador, há dois anos atrás, quando se tratou de
praticar aborto numa menina de 9 anos, engravidada pelo pai e que de
forma nenhuma poderia dar a luz ao feto, por não ter os orgãos todos
preparados, apelou para este cânon 1398 e excomungou os médicos e
todos os que participaram do ato. O Brasil ficou escandalizado por
tanta insensibilidade e desumanidade. O Vaticano num artigo do
Osservatore Romano criticou a atitude nada pastoral deste Arcebispo.

É bom que mantenhamos o espírito crítico face a esta inoportuna
intervenção do Papa na politica brasileira. Mas o povo mais consciente
tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um
Papa que durante anos ocultou o crime de pedofilia entre padres e
bispos.

Como cristãos escutaremos a voz do Papa, mas neste caso, em que uma
eleição está em jogo, devemos recordar que o Estado brasileiro é laico
e pluralista. Tanto o Vaticano e o Governo devem respeitar os termos
do tratado que foi firmado recentemente onde se respeitam as
autonomias e se enfatiza a não intervenção na política interna do
pais, seja na do Vaticano seja na do Brasil.

Um abraço bem fraterno

Leonardo Boff

Frei Betto lamenta que papa seja 'usado como cabo eleitoral'

Da Rede Brasil Atual
SÃO PAULO - Frei Betto lamenta a postura do papa Bento 16, que voltou a trazer o aborto ao debate político brasileiro às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Na manhã de ontem, dia 28, o papa esteve com 15 bispos brasileiros do Nordeste, a quem convocou a condenar o aborto e orientar fieis a "usar o próprio voto para a promoção do bem comum". Em entrevista à Rede Brasil Atual, o frei brasileiro sustenta que há temas mais relevantes para o momento.

"Lamento que Bento 16 esteja sendo usado como cabo eleitoral, seja para qual partido for. Há temas muito mais importantes do que aborto e religião para se discutir em uma campanha eleitoral", afirmou Frei Betto. "Aborto se evita com políticas sociais. Num país em que se sabe que os futuros filhos terão saúde, escolaridade e oportunidades de trabalho, o número de aborto é reduzido. Lula fez o governo que mais fez para evitar o aborto no Brasil", analisa.

No discurso proferido durante reunião em Roma, o papa afirmou que se "os direitos fundamentais da pessoa ou da salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". O discurso do papa reconheceu a possibilidade de eventuais efeitos negativos: "Ao defender a vida, não devemos temer a oposição ou a impopularidade".

Frei Betto relembrou que tal postura se parece com as de dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, bispos que subscreveram um panfleto produzido pela Regional Sul 1 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material trazia um pedido aos cristãos que não votassem no PT e em partidos que defendessem o aborto. Para o frei, o objetivo era clararamente fazer um manifesto anti-Dilma.

"Lamento também que três bispos tenham desviado a atenção da opinião pública para introduzir oportunisticamente o tema no debate", critica. Atuante em movimentos sociais, Frei Betto afirma que muitas mulheres acabam optando pelo aborto por se sentirem inseguras com o futuro que darão aos filhos. Mais

Atualizando:
O papa e a política: uma visão progressista

Por Dom Luiz Carlos Eccel
Já havia lido o discurso do Papa Bento XVI, aos Bispos do Maranhão, em visita ad limina apostolorum. Muito interessante o discurso do Papa. Ele não pode deixar de cumprir sua missão de Pastor Universal, exortando o Povo de Deus, especialmente no que diz respeito à defesa da VIDA. Mais

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Presidente da CNBB demite editores e manda recolher jornal católico em Minas Gerais

Decisão é motivada por conteúdo que faz duras críticas a prefeitos da região e ao governador
por Danilo Augusto, do Brasil de Fato

Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Mariana (MG), demitiu parte do conselho editorial do Jornal Pastoral e mandou recolher os exemplares da edição do mês de setembro, proibindo assim sua circulação. O periódico, com tiragem de aproximadamente 2 mil exemplares, é de responsabilidade da diocese de Mariana e tem circulação garantida em aproximadamente 70 municípios da região.

Segundo religiosos envolvidos no caso, entrevistados pelo Brasil de Fato e que não se identificaram temendo perseguições, o que levou dom Geraldo a adotar tal medida foi o conteúdo do editorial da edição de setembro. Intitulado “Do toma lá dá cá ao projeto popular”, o texto faz duras críticas a prefeitos da região e ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). De acordo com um dos religiosos, o texto estava totalmente pautado no pensamento da Igreja. “O editorial condiz com o que pensa a Igreja voltada para o compromisso social. Por isso, avaliamos que esta é uma posição pessoal do bispo”, completa.

Questionamento

Em trechos, o editorial questiona as despesas da prefeitura de Piranga (MG), que gastou aproximadamente R$ 375 mil nas obras de uma praça. O valor gasto pela administração do prefeito Eduardo Sérgio Guimarães (PSDB) estaria em média R$ 225 mil acima do valor de mercado, como informou um laudo técnico do engenheiro Carlos Alberto Gomes Beato. Saindo do âmbito regional, o editorial desenvolve críticas à administração do governo mineiro apontando que “levantamento publicado no jornal Estado de Minas do dia 30/08/2009 mostra que em 81 dos 85 municípios com menor índice de desenvolvimento [renda, emprego, saúde e educação] a pobreza caminha de mãos dadas com a corrupção”.

Em outro momento, o nome do governador mineiro é citado: “O governo Aécio, sob a diligência da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, canalizou recursos da ordem de R$ 15 bilhões, em grande parte recursos públicos, para quatro empresas (Vallourec, Sumitomo, CSN e Gerdau) ampliarem ou consolidarem seus próprios negócios na região do Alto Paraopeba. O dinheiro é suficiente para a construção de 700 mil casas populares ao preço de R$ 20 mil cada, quase quatro vezes mais do que os R$ 4 bilhões reservados pelo governo federal para programas de moradia em todo o Brasil. Se esse recurso fosse distribuído para as três cidades Congonhas, Ouro Branco e Jeceaba, onde as empresas ‘sortudas’ estão instaladas, que somam 70 mil habitantes, tocariam perto de R$ 219 mil para cada pessoa ou quase R$ 1 milhão por família.

Os nomes envolvidos no editorial também seriam motivos para a tal atitude de dom Geraldo. “O texto cita nomes de políticos e esses políticos citados poderiam cobrar a igreja por meio do bispo uma satisfação sobre o editorial. Isto foi uma motivação política e não religiosa. O bispo quer manter o seu lado do poder, ele não quer perder isso”, explica um dos nossos entrevistados.

Resgate

O editorial também faz um histórico dos financiamentos do governo de Minas em empresas privadas desde o ano de 2003. “As ricas áreas desapropriadas e entregues de mão beijada às minerados e siderúrgicas em Jeceaba e Congonhas chegam a 4 mil hectares. E, de 2003 a 2008, foram canalizados R$ 199 bilhões para as empresas em todo o estado de Minas Gerais, em negociatas de compadrio e cumplicidade tipo ‘unha e carne'”, finaliza.

“Não concordo...”

Em resposta, no mês de outubro, dom Geraldo afirma em editorial do Jornal Pastoral, que “não concordo, não aceito e não aprovo o editorial do Jornal Pastoral do mês de setembro. A Arquidiocese de Mariana não se responsabiliza pelas afirmações e acusações aí expressas. Seja essa a última vez que o Jornal Pastoral incorre em erro tão grave. A fé cristã implica em compromisso social e a Igreja Católica nunca renunciará à sua missão de ser advogada dos pobres e injustiçados”.

Esse trecho, segundo religiosos ouvidos pelo Brasil de Fato, evidencia a postura de uma parte dos lideres católicos. “Ele tem uma visão de Igreja. E nessa visão ele tem preocupação de manter o nome da Igreja. E qualquer coisa que venha colocar em questionamento a posição da Igreja ele teme e foge do conflito. Pois grande parte da Igreja ainda tem medo do conflito e tem medo de se colocar contra a posição do poder político. E na hora desse conflito eles se colocam do lado de quem detém o poder”, observa.

Contrário

Os religiosos acrescentam que essa posição e essa atitude de dom Geraldo não causaram estranhamento. “Acreditamos que essa posição do bispo não é a mais importante de toda a situação. Ele tem posição contrária diante da Romaria dos Trabalhadores, posição contrária em relação à denuncia contra corrupção, posição de afastamento de padres que se envolvem com pautas de movimentos sociais e populares. Então, há uma série de coisas que vão definindo o rumo da diocese e a linha de trabalho dele” lamenta.

Segundo eles, esse posicionamento é contraditório com o atual momento vivido pela Igreja Católica, que apóia o projeto Ficha Limpa e que tem como tema da Campanha da Fraternidade de 2010 “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. “Essa posição é contraditória, pois bate de frente com o momento vivido pela Igreja, que é o posicionamento contra a corrupção política. O editorial condena pessoas politicamente corruptas. A posição do bispo em relação a isso é uma contradição e acaba ficando contra a coleta de assinaturas para o projeto de Ficha Limpa. Ele ficou preocupado com a imagem diante do Senado Federal, na pessoa representada por José Sarney, diante do Estado e dos políticos citados pelo texto”.

Fé em movimento

No Brasil, mesmo estando em queda, os católicos ainda são maioria. De acordo com última pesquisa realizada em 2007 e divulgada pelo Datafolha, aproximadamente 64% dos brasileiros se dizem católicos. O número é 11% menor que uma pesquisa realizada pelo mesmo instituto em 1994. Soma-se a isso o crescimento dos evangélicos pentecostais e não pentecostais, que somam mais de 22%. Esses dados preocupam os religiosos, tendo em vista que muitas vezes o caminho da Igreja é traçado por pessoas como dom Geraldo. “Esse posicionamento dificulta muito a caminhada da Igreja. Por outro lado, eu acredito que a força da Igreja está se manifestando nos movimentos populares. Uma atitude como essa não demora muito tempo a ruir” completa.

O Brasil de Fato informa que entrou várias vezes em contato com o arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha, mas ele não atendeu e nem retornou as ligações

O GOVERNADOR E O ARCEBISPO

por Laerte Braga, jornalista e analista político

A Igreja Católica Apostólica Romana resistiu dois mil anos, mas não vai sobreviver a João Paulo II e Bento XVI. Não tem como. Dois predadores conscientes do papel que cumpriu o primeiro e cumpre o segundo. E toda a equipe montada pacientemente desde a ascensão de Wojtila e seu braço capitalista, o cardeal Marcinkus.

Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) demitiu parte do conselho editorial do JORNAL PASTORAL e mandou retirar de circulação exemplares da edição de setembro. A denúncia foi feita pelo jornalista Danilo Augusto, no jornal BRASIL DE FATO. A tiragem do JORNAL PASTORAL é de dois mil exemplares, circulando em pelo menos 70 municípios da região.

Pensar que o arcebispo de Mariana era Dom Luciano Mendes de Almeida.

Dom Geraldo Lyrio não gostou de criticas feitas ao governador de Minas Aécio Neves e a prefeitos tucanos de cidades da região da sua arquidiocese. Para ser ter uma idéia de uma das mutretas abençoadas pela decisão do arcebispo, o prefeito de Piranga gastou 375 mil reais em obras numa praça da cidade, pelo menos 225 mil acima dos custos reais. O prefeito é Eduardo Sérgio Guimarães, do PSDB.

O jornal publicou ainda parte de trabalho do ESTADO DE MINAS que denuncia (deve ter escapado e o jornalista já deve ter sido demitido) que 81 dos 85 municípios da região com menor índice de desenvolvimento (renda, emprego, saúde e educação), no que diz respeito ao governo Aécio, a “pobreza caminha de mãos dadas com a corrupção”.

D. Geraldo Lyrio não gostou, tomou a decisão em caráter pessoal, bem ao estilo truculento do esquema montado desde o papado de João Paulo II. O JORNAL PASTORAL mostra também que as verbas públicas estavam e estão sendo empregadas em empresas privadas. “O governo Aécio, sob a diligência da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, canalizou recursos da ordem de 15 bilhões de reais para quatro empresas.”

Vallourec, Sumitomo, CSN e Gerdau. São os tais que defendem a iniciativa privada, o deus mercado (que orienta D. Lyrio), mas tudo com dinheiro público. Esse valor, na denúncia formulada pelo jornal daria para a construção de 700 mil casas populares ao preço de 20 mil reais cada uma, quatro vezes mais que os bilhões reservados pelo governo federal para programas de moradia em todo o Brasil.

Em compensação as obras de caridade do arcebispo devem estar bem fornidas, o palácio episcopal deve ter a despensa sortida de caridade empresarial, tanto quanto a caixinha do governador de Minas para sua campanha presidencial.

E mais. “Se esse recurso fosse distribuído para as três cidades Congonhas Ouro Branco e Jeceaba, onde as empresas sortudas estão instaladas, a totalidade dos 70 mil habitantes teria em programas de saúde, educação, moradia, 219 mil reais por pessoa, cerca de um milhão por família.”

Os demitidos pelo gesto inquisitório de Dom Lyrio consideram que a decisão do arcebispo foi política e não religiosa. O santo homem não gostou de ver o governador de Minas exposto assim de público como corrupto e pilantra, naturalmente, movido por piedade cristã.

Não deve ser por outra razão que quando as máfias foram criadas na Itália (Marcinkus tinha ligações com mafiosos e foi pedida sua prisão por esse motivo) decidiram que os chefões seriam chamados de Dom.

O jornal apontou também que terras em áreas privilegiadas foram desapropriadas e entregues de mão beijada a essas empresas, com toda certeza para gerar “progresso”, “emprego”, etc, etc, essa pilantragem Aécio fez semana passada em Juiz de Fora, Minas, onde prefeita o corrupto tucano Custódio Matos.

Preocupado e com medo de perder os convescotes no Palácio em BH, o arcebispo Dom Lyrio, na edição de outubro diz que não concorda com as críticas.

A eminência vai de encontro, na visão correta dos demitidos à campanha de candidatos ficha limpa. A de Aécio é branquinha, mas de outra coisa. E não é pinga não.

Fica fácil explicar o motivo da queda do número de católicos no País nos últimos anos. Da ordem de 11% revela pesquisa do DATA FOLHA, feita em 2007.

Se já não recebeu a medalha Tiradentes, em Ouro Preto, com toda certeza Dom Lyrio vai recebê-la e mais muitas coisas. Um convite para uma semana em Honduras, onde o cardeal de lá apóia o golpe militar (prendeu, torturou, estuprou e matou mais de mil resistentes), com direito a estadia na base militar dos EUA, um fim de semana na CERVEJARIA/TRAMBIQUETERIA CASA BRANCA e se bobear ainda ganha de Obama o direito de abençoar os 40 mil homens que “vão completar o serviço no Afeganistão”.

Breve no Vaticano e em todas as dioceses e arquidioceses, a bandeira ornada com a suástica e Bento XVI de bigodinho, relembrando seus velhos tempos de juventude hitlerista.

O jornal BRASIL DE FATO, que denuncia o esquema D. Lyrio/Aécio (Gerson Camata deve ter alguma participação no batismo imagino) tentou ouvir o Dom, mas não obteve resposta a seus pedidos.

Já já vira cardeal.