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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Raúl Castro pede 'relações civilizadas' com os EUA

22/12/2013 - BBC Brasil

Na véspera do dia de Natal um texto, talvez inspirado na trajetória política de Mandela, que ilustra a vontade de conciliar, o respeito pela condição do outro, a amizade entre os povos. (Educom)

O presidente de Cuba, Raúl Castro, fez um pedido para que se estabeleçam "relações civilizadas" com os Estados Unidos, dizendo que os dois países devem respeitar suas diferenças.

O líder cubano, irmão de Fidel Castro, afirmou ainda que os EUA deveriam abandonar suas exigências de mudança do regime, para que os dois países possam continuar trabalhando para melhorar suas relações.

Seus comentários ocorreram depois de um aperto de mão público [foto] com o presidente Barack Obama no funeral de Nelson Mandela, na África do Sul, no início de dezembro.

Os EUA romperam relações com Cuba em 1961, depois da revolução na ilha, e mantém um embargo econômico contra o país.

'Respeito mútuo'
Em um discurso público incomum, o presidente Castro revelou que funcionários cubanos e americanos se reuniram diversas vezes durante o último ano, para discutir assuntos práticos como imigração e um reestabelecimento de um serviço de correio entre os países.

Isso demonstra que as relações podem ser civilizadas, disse Castro.

No entanto, ele advertiu que "se realmente queremos avançar nas relações bilaterais, teremos que aprender a respeitar mutuamente nossas diferenças e nos acostumarmos a conviver pacificamente com elas".

Caso contrário, disse ele, os cubanos estariam dispostos a outros 55 anos como os anteriores.

"Não pedimos que os Estados Unidos mudem seu sistema político e social, nem aceitamos negociar o nosso", afirmou Castro [foto] aos deputados durante a última sessão do ano da Assembleia Nacional.

As relações entre os dois vizinhos melhoraram um pouco recentemente, mas ainda há obstáculos para uma reconciliação, disse a correspondente da BBC em Havana, Sarah Rainsford.

Reformas
Desde que Raúl Castro recebeu o poder de seu irmão Fidel, em 2006, ele deu início a um programa de reformas econômicas que ajudaram a relaxar as tensões com os EUA.

Aperto de mão entre líderes que gerou expectativa de melhores relações entre Cuba e EUA

No entanto, os críticos dizem que as mudanças estão sendo muito lentas.

"Os que nos pressionam para andarmos mais rápidos querem nos levar ao fracasso", argumentou Castro em seu discurso.

As reformas, segundo ele, pretendem "atualizar" o modelo socialista, mas não devem incluir pacotes de ajuste econômico, ao modelo europeu.

"Nunca admitiremos em Cuba terapias de choque revolucionárias como as que estamos vendo na rica e dita culta Europa, que mergulhariam o país em um clima de divisão e desestabilidade que sirva de pretexto para aventuras intervencionistas contra a nação."

Entre as mudanças mais recentes está o anúncio do fim das restrições à compra e venda de carros particulares novos e usados.

Agora, qualquer indivíduo com dinheiro suficiente poderá comprar um veículo de uma concessionária estatal [foto].

Até então, só pessoas que tinham autorizações especiais podiam fazê-lo.

O líder cubano não mencionou o aperto de mão com Barack Obama, mas a cena gerou expectativas sobre um avanço nas relações bilaterais.

Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/raul-castro-pede-relacoes-civilizadas-com-os-eua/

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O silencioso golpe militar que se apoderou de Washington

25/09/2013 - Por John Pilger (*) - no The Guardian, da Grã Bretanha
- extraído do Portal Carta Maior - Tradução: Liborio Júnior

Na parede tenho exposta a primeira página do Daily Express [foto] de 5 de setembro de 1945 com as seguintes palavras: "Escrevo isto como uma advertência ao mundo".

Assim começava o relatório de Wilfred Burchett [fotos] sobre Hiroshima. Foi a notícia bomba do século.

Com motivo da solitária e perigosa viagem com a qual desafiou as autoridades de ocupação estadunidenses, Burchett foi colocado na picota, sobretudo por parte de seus colegas.

Avisou que um ato premeditado de assassinato em massa a uma escala épica acabava de dar o disparo de partida para uma nova era de terror.

Na atualidade, [a advertência de] Wilfred Buirchett está sendo reivindicada pelos fatos quase todos os dias.

A criminalidade intrínseca da bomba atômica foi corroborada pelos Arquivos Nacionais dos EUA e pelas ulteriores décadas de militarismo camuflado como democracia. O psicodrama sírio é um exemplo disso.

Uma vez mais somos reféns da perspectiva de um terrorismo cuja natureza e história continuam sendo negadas inclusive pelos críticos mais liberais.

A grande verdade inominável é que o inimigo mais perigoso da humanidade está do outro lado do Atlântico.

A farsa de John Kerry e as piruetas de Barack Obama são temporais.

O acordo de paz russo sobre armas químicas será tratado ao cabo do tempo com o desprezo que todos os militaristas reservam para a diplomacia.

Com a al-Qaeda figurando agora entre seus aliados e com os golpistas armados pelos EUA solidamente instalados no Cairo, os EUA pretendem esmagar os últimos Estados independentes do Oriente Próximo: primeiro a Síria, depois o Irã.

"Esta operação [na Síria]", disse o ex-ministro de exterior francês Roland Dumas [foto] em junho, "vem de muito antes. Foi preparada, pré-concebida e planejada".

Quando o público está "psicologicamente marcado", como descreveu o repórter do Canal 4, Jonathan Rugman, a esmagadora oposição do povo britânico a um ataque contra a Síria, a supressão da verdade se converte em tarefa urgente.

Seja ou não verdade que Bashar al-Assad ou os "rebeldesutilizaram gás nos subúrbios de Damasco, são os EUA, não a Síria, o país do mundo que utiliza essas terríveis armas de forma mais prolífica.

Em 1970 o Senado informou: "Os EUA derramaram no Vietnã uma quantidade de substâncias químicas tóxicas (dioxinas) equivalente a 2,7 quilos por cabeça".

Aquela foi a denominada Operação Hades, mais tarde rebatizada mais amavelmente como Operação Ranch Hand, origem do que os médicos
vietnamitas denominam "ciclo de catástrofe fetal".

Vi gerações inteiras de crianças afetadas por deformações familiares e monstruosas [abaixo].

John Kerry, cujo expediente militar escorre sangue, seguramente que os lembra.

Também os vi no Iraque, onde os EUA utilizaram urânio empobrecido e fósforo branco, como o que fizeram os israelenses em Gaza.

Para eles não houve as "linhas vermelhas" de Obama, nem o psicodrama de enfrentamento.

O repetitivo e estéril debate sobre se "nós" devemos "tomar medidas" contra ditadores selecionados (ou seja, se devemos aplaudir os EUA e seus acólitos em outra nova matança aérea) forma parte de nosso lavado de cérebro.

Richard Falk [abaixo], professor emérito de Direito Internacional e relator especial da ONU sobre a Palestina, o descreve como "uma máscara legal/moral unidirecional com anseios de superioridade moral e cheia de imagens positivas sobre os valores ocidentais e imagens de inocência ameaçada cujo fim é legitimar uma campanha de violência política sem restrições".

Isso "está tão amplamente aceito que é praticamente impossível de questionar".

Se trata da maior mentira, parida por "realistas liberais" da política anglo-estadunidense e por acadêmicos e meios de comunicação auto proclamados gestores da crise mundial mais que como causantes dela.

Eliminando o fator humanidade do estudo dos países e congelando seu discurso com uma linguagem a serviço dos desígnios das potências ocidentais, endossam a etiqueta de "falido", "delinquente" ou malvado aos Estados aos que depois infligirão sua "intervenção humanitária".

Um ataque contra a Síria ou Irã ou contra qualquer outro demônio estadunidense se baseará em uma variante de moda, a "Responsabilidade de Proteger", ou R2P, cujo fanático pregoeiro é o ex-ministro de Relações Exteriores australiano Gareth Evans [abaixo], co-presidente de um "centro mundialcom base em Nova Iorque.

Evans e seus grupos de pressão generosamente financiados jogam um papel propagandístico vital instando a "comunidade internacional" a atacar os países sobre os quais "o Conselho de Segurança resiste aprovar alguma proposta ou que recusa abordá-la em um prazo razoável".

O de Evans vem de longe. O personagem já apareceu em meu filme de 1994, Death of a Nation, que revelou a magnitude do genocídio no Timor Leste.

risonho homem de Canberra alça sua taça de champanhe para brindar por seu homólogo indonésio enquanto sobrevoam o Timor Leste em um avião
australiano depois de haver firmado um tratado para piratear o petróleo e gás do devastado país em que o tirano Suharto assassinou ou matou de fome um terço da população.

Durante o mandato do "débil" Obama o militarismo cresceu talvez como nunca antes.

Ainda que não haja nenhum tanque no gramado da Casa Branca, em
Washington se produziu um golpe de Estado militar.

Em 2008, enquanto seus devotos liberais enxugavam as lágrimas, Obama aceitou em sua totalidade o Pentágono que lhe legava seu predecessor George W. Bush, completo com todas suas guerras e crimes de guerra.

Enquanto a Constituição vai sendo substituída por um incipiente Estado policial, os mesmos que destruíram o Iraque a base de comoção e pavor, que converteram o Afeganistão em uma pilha de escombros e que reduziram a Líbia a um pesadelo hobbesiano, esses mesmos são os que estão ascendendo na administração estadunidense.

Por trás de sua amedalhada fachada, são mais os antigos soldados estadunidenses que estão se suicidando que os que morrem nos campos de batalha.

No ano passado 6.500 veteranos tiraram suas vidas. A colocar mais bandeiras.

O historiador Norman Pollack chama isso de "liberal-fascismo":

"Em lugar de soldados marchando temos a aparentemente mais inofensiva militarização total da cultura. E em lugar do líder grandiloquente temos um reformista falido que trabalha alegremente no planejamento e execução de assassinatos sem deixar de sorrir um instante".


Todas as terças-feiras, o "humanitário" Obama supervisiona pessoalmente uma rede terrorista mundial de aviões não tripulados que reduz a mingau as pessoas, seus resgatadores e seus doentes.

Nas zonas de conforto do Ocidente, o primeiro líder negro no país da escravidão ainda se sente bem, como se sua mera existência supusesse um avanço social, independentemente do rasto de sangue que vai deixando.

Essa obediência a um símbolo destruiu praticamente o movimento estadunidense contra a guerra. Essa é a particular façanha de Obama.

Na Grã Bretanha as distrações derivadas da falsificação da imagem e da identidade políticas não triunfaram completamente.

A agitação já começou, mas as pessoas de consciência deveriam apressar-se. 

Os juízes de Nuremberg foram sucintos: "Os cidadãos particulares têm a obrigação de violar as leis nacionais para impedir que se perpetrem crimes contra a paz e a humanidade".

As pessoas normais da Síria, e muito mais gente, como nossa própria autoestima, não se merecem menos nestes momentos.

(*) John Pilger é jornalista do The Guardian, Grã Bretanha. Em “Bitácora”, do Uruguai.

Fonte:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22772

domingo, 29 de setembro de 2013

Pepe Mujica deu um soco no estômago

26/09/2013 - Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro
- Jura Passos (*)
- Diário do Centro do Mundo

Dilma Roussef puxou o orelhão de Obama.

Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro.

Ela levantou a bola, ele cortou.

Se o discurso de Dilma foi considerado áspero, contundente ou agressivo por jornais de vários países, o do presidente do Uruguai foi demolidor de toda a ordem internacional vigente.

Foi pedra pra todo lado, sobrou pra todo mundo. Não chegou a propor o socialismo global, mas deixou implícito.

Para mau entendedor, nenhuma palavra basta.

Só poupou os pobres. Poupou não, defendeu. Como raramente se vê na ONU, além das declarações para as câmeras e dos releases para os jornais. Não 
por acaso, o próprio release da ONU descreve o discurso com um desdém digno de um mero papo cabeça de maconheiro. Ban Ki-Moon reconheceu e 
agradeceu a intensa presença dos soldados uruguaios nas forças internacionais de paz. E chega.

Por diversas vezes Mujica aludiu ao pequeno tamanho do Uruguai. Isso pode se tornar um problema para os uruguaios, na medida em que país vai se 
tornando, cada vez mais, a pátria dos 99%.

Não vai caber todo mundo que começa a sonhar em viver num país onde o presidente não veste gravata e sonha com o mesmo mundo que todos sonhamos.

Todos menos os restantes 1%, que tudo vêem, ouvem e controlam, sem sequer admitir pitos.

Se fosse brasileiro, Pepe seria Zé. Pois, no fundo, ele é importante por ser exatamente isso: o Zézinho, nosso vizinho, um cara que a gente conhece e gosta, que vive como nós e entende o que a gente sente.

“Sou do sul, venho do sul. Moro ali na esquina do Atlântico com o Prata”.

Foi assim que o Zé puxou o papo na ONU. Poderia ser da avenida Atlântica com a rua da Prata, mas da zona norte.

Prosseguiu lembrando o dia que o time dele venceu o nosso numa final de Copa no Maracanã.

Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor”.

E que, como nós, também amava os Beatles e os Rolling Stones.

Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes.”

É ou não é nosso vizinho da esquina?

E, daí pra frente, o Zé não deixou pedra sobre pedra.

“Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba.”

Cortou a bola levantada pela vizinha Dilma, da rua de cima…

“Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.”

Prometeu uma força pra galera da rua Colômbia, não aquela dos Jardins.

“Carrego o dever de lutar por pátria para todos…
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz…”

“O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que 
sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja." 

"Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.”

E botou toda a vizinhança na roda.

“Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida."

"Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.”

Mandou um recado para os donos do bairro.

“Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.”

E para os donos do circo.

“Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fóruns e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e 
às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…”

Para o general da banda também.

“Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto 
em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de 
vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.”

E bota o dedo na ferida.

As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder."

"Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, da democracia no sentido 
planetário, porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos."

"Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.”

Não poupou a globalização, nem a China.

“Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como 
tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma."

"Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização."

"Há pouco tempo, na Califórnia, o corpo de bombeiros festejou uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos! Cem anos acesa, amigos!! Quantos 
milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem?”

A solução? Incorporar a ciência à política.

“Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais."

"Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde."

"O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial." 

"É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia."

"O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se
trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta."

"É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.”

E nós com isso?

“Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nós mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura 
da civilização que, de fato, nós criamos. Este é nosso dilema."

"Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos nas causas profundas, na civilização do desperdício, na civilização do usar e jogar fora, que despreza tempo mal gasto de vida humana, esbanjando coisas inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre." 

"Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie somos nós.”

O discurso integral de Mujica - “O homenzinho médio das nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio” - pode ser visto e lido aqui.

(*) Jura Passos é jornalista especializado em comunicação do setor público, por enquanto. Foi corretor de imóveis, professor de matemática, fotógrafo, cozinheiro e maitre d'hôtel, tendo fracassado em tudo isso. É um eterno aprendiz de capoeira e maracatu e adora viajar de bicicleta por ai, menos em São Paulo.

Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/pepe-mujica-deu-um-soco-no-estomago-do-mundo-inteiro/

sábado, 21 de setembro de 2013

Breve história da guerra dos EUA contra a Síria

15/09/2013 - Uma breve história da guerra dos EUA contra a Síria: 2006-2014
- 14/9/2013, Blog Moon of Alabama, EUA
- Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

"O Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC [American-Israel Public Affairs Committee] e ao lobby israelense."

"Foi a primeira vez que isso aconteceu, em 22 anos."

"A Síria reconquistou a própria independência."

"O mais provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República Árabe Síria."

"A história síria o recordará para sempre, como governante civilizado e herói do seu povo."

"O povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra que o presidente desejava."

"Essa é vitória imensa e um precedente."

"Que todos os norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se."

"Os norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra."

Mapa atualizado (até 22/8/2013) da guerra da Síria
(clique na imagem para aumentar)

Em 2006 os EUA estavam em guerra no Iraque. Muitas das forças inimigas contra as quais os EUA lutavam furiosamente chegavam ao Iraque através da 
Síria. No mesmo ano o Hezbollah derrotou Israel, que invadira o Líbano.

As forças armadas de Israel eram emboscadas cada vez que tentavam penetrar no Líbano, enquanto o Hezbollah [foto] usava foguetes contra as posições do exército israelense e nas cidades.

O Hezbollah recebia apoio e suporte da Síria e do Irã, que chegavam através da Síria. Os planos de longo prazo dos EUA e Irã, para manter a supremacia no Oriente Médio dependiam de interromper as vias de abastecimento para o Hezbollah.

Os países sunitas sectários do Golpe viram seus sunitas serem derrotados no Iraque e um governo xiita, apoiado pelo Irã, assumir no Iraque.

Todos esses países tinham motivos para tentar atacar a Síria. E também havia razões econômicas, que tornavam necessário derrubar uma Síria independente.

Um gasoduto, do Qatar à Turquia, competia com outro, do Irã à Síria. 

Grandes reservas de gás natural descobertas nas águas de Israel e Líbano, faziam aumentar muito a possibilidade de que também houvesse gás em águas nacionais sírias.

No final de 2006, os EUA começaram a financiar uma oposição externa ao partido Baath, que governava a Síria. 

Aqueles opositores eram na maioria exilados da Fraternidade Muçulmana expulsos da Síria depois que fracassaram várias tentativas de golpe de Estado, entre 1976 e 1982.

Em 2007, EUA, Israel e Arábia Saudita construíram um plano para “mudança de regime” na Síria. O objetivo do plano era destruir a aliança da resistência” entre o Hezbollah, Síria e Irã:

"Para minar o Irã, predominantemente xiita, o governo Bush decidiu, de fato, reconfigurar suas prioridades no Oriente Médio. No Líbano, o governo cooperara com o governo da Arábia Saudita, que é sunita, em operações clandestinas que visam a minar o Hezbollah, organização de xiitas apoiada pelo Irã."

"Os EUA também tomaram parte em operações clandestinas contra o Irã e seu aliado, a Síria. Resultado colateral dessas atividades foi provocar a radicalização de grupos sunitas extremistas, que têm uma visão militante do Islã e são hostis aos EUA e simpáticos à Al-Qaeda."

Em 2011, três anos de seca, provocada pelo aquecimento global e pela Turquia, que construiu barragens e gigantescos projetos de irrigação na região, haviam enfraquecido a economia síria.

Grandes populações, das áreas rurais mais pobres, perderam seus meios de sobrevivência e acorreram às cidades. Esses fatores criaram o terreno fértil a partir do qual lançar um golpe contra o estado sírio.

A parte que coube aos EUA naquele plano foi garantir cobertura “midiática” e o necessário “clima de opinião”, na opinião pública global, para viabilizar o golpe. Para isso, os EUA usaram as ferramentas que conhecem bem, de criar “revoluções coloridas”.

Jornalistas cidadãos” foram recrutados, treinados e armados com o necessário equipamento de vídeo e comunicações bem conhecidos da “mídia comercial” de propaganda, em todo o mundo. Outros foram treinados para organizar “manifestações civis pacíficas”.

Os sauditas [ao lado] encarregaram-se da parte mais tenebrosa do plano: financiaram e armaram grupos rebeldes, muitos deles associados à exilada Fraternidade Muçulmana, com a tarefa de instigar movimento mais amplo e atacar forças do estado sírio, além de atacarem também manifestantes civis pacíficos.

Uma manifestação local em Deraa, perto da fronteira da Jordânia, foi usada para iniciar o golpe. Manifestações começaram pacíficas, mas logo começaram os ataques à bala contra manifestantes e contra a polícia. Inevitavelmente, os dois lados escalaram.

Grupos armados pelos sauditas passaram a atirar consistentemente contra soldados do estado sírio.

Com colegas mortos e feridos, as forças do exército sírio retaliaram contra os manifestantes. Grupos de manifestantes armaram-se, eles também, para enfrentar o exército sírio.

Os “cidadãos jornalistas” entraram em cena, com propaganda de que só haveria vítimas entre os “manifestantes pacíficos” e jamais noticiaram o 
número de vítimas entre os soldados sírios.

As agências “ocidentais” de noticiário integraram-se ao esquema. Ativaram-se células já organizadas em outras cidades da Síria.

Mais uma vez, a expressão “manifestantes pacíficos” foi apresentada como cobertura para “uma terceira força”, como disse a comissão de investigação da Liga Árabe, que lutava contra as forças do governo sírio e também instigava os manifestantes a armarem-se.

O governo dos EUA ajudou com sua própria campanha de propaganda; por exemplo, quando mentiu sobre ataques da artilharia síria contra manifestantes – que não haviam acontecido.

Organizações para-governamentais norte-americanas, como  Avaaz, Anistia Internacional e Human Rights Watch, uniram-se à campanha contra o governo 
sírio.

E a ciberguerra, movida contra agências noticiosas sírias, suprimiu completamente o outro lado da história. Até hoje, a Agência Sírio-Árabe de Notícias [orig. Syrian Arab News Agency, sana.sy] continua expurgada dos resultados de procura no Google. [1] 

Rapidamente se tornou visível que a estratégia concebida para criar uma “revolução colorida” não funcionara.

O estado sírio mostrou-se mais capaz de resistir do que parecia. O presidente sírio Bashar al-Assad [foto] era mais respeitado e querido pelos sírios do que os instigadores do golpe haviam suposto.

E o presidente atendeu rapidamente várias das demandas dos manifestantes autênticos.

A Constituição síria for reformada, criaram-se novos partidos, houve eleições e as forças de segurança mais violentas e abusivas foram contidas, postas sob 
controle estrito. As grandes cidades, mesmo aquelas nas quais a maioria era de sunitas, não apoiaram e nem se uniram à violência crescente dos milicianos sectários.

As deserções do exército sírio e de quadros políticos foram poucas e sem importância. Durante algum tempo, até a economia conseguiu resultados bastante satisfatórios.

Os inimigos da Síria tiveram de aumentar o “envolvimento”.

Arábia Saudita e Qatar usaram todas as suas capacidades para recrutar jihadis de outros países dispostos a lutar na Síria.

A CIA, alimentada com dinheiro saudita, enviou para lá toneladas de armas e munição, recolhida de seus arsenais pelo mundo. Grupos terroristas foram criados, com treinamento e inteligência de combate.

E criou-se um grupo de exilados, para começar a ser apresentado ao mundo como futuro governo possível para a Síria. O governo sírio foi forçado a recolher-se, para preservar seus soldados.

Grandes porções da Síria rural foram tomadas pelos grupos terroristas. A 
população dessas áreas fugiu pelas fronteiras ou para as cidades maiores. 

Nas áreas urbanas onde os terroristas se acastelaram, tornou-se difícil 
desalojá-los sem causar vasto dano aos prédios e à infraestrutura. Mas o governo sírio, dessa vez, já sabia o que fazer.

Com a ajuda de aliados, unidades armadas do Irã, unidades armadas do Hezbollah foram retreinadas para guerra contra grupos terroristas insurgentes. 

E criaram-se unidades paramilitares locais, para reocupar as áreas das quais o exército já desalojara os terroristas. A Rússia cuidou de manter o suprimento de artigos necessários à sobrevivência dos civis e armamento para as forças do exército sírio.

Do lado dos instigadores do golpe as coisas começaram a dar errado.

Os Jihadis providenciados pela Arábia Saudita se mostraram combatentes eficientes, mas fanáticos religiosos, e não encontraram espaço no contexto 
social da Síria – de governo laico e sociedade multirreligiosa liberal inclusiva. 

Começaram os confrontos com a população e com combatentes locais pró-Assad. Ainda hoje chegaram notícias de luta violenta no nordeste da Síria, entre terroristas jihadistas e bandidos locais.

Questões sobre suprimentos de armas a serem recebidas da Líbia, entre os EUA e grupos da Al-Qaeda, mataram o embaixador dos EUA em Benghazi.

Apesar de ter sido “reformatado” pelo menos três vezes, o planejado grupo para um governo no exílio mostrou-se inefetivo, dadas as disputas internas entre os vários grupos entre si e entre seus patrocinadores.

A campanha de imprensa sobre “manifestantes pacíficos” começou a fazer água, à medida que mais e mais imagens e histórias emergiam, mostrando massacres cometidos pelos grupos golpistas, contra soldados sírios.

população nos países que inicialmente apoiara o que supunha ser um levante democrático mudou de opinião, e passou a opor-se a qualquer 
envolvimento naquele conflito.

Quando se tornou mais evidente que os golpistas não conseguiriam derrotar o exército sírio, o presidente Barack Obama dos EUA apareceu com sua linha vermelha” sobre o uso de armas químicas.

Foi como um convite aos golpistas, para que usassem armas químicas no cenário da guerra, para em seguida culpar o governo sírio.

Assim se criaria a necessidade, dado o que dissera o presidente, de os EUA intervirem militarmente, ao lado dos jihadistas terroristas. Tentaram fazer isso algumas vezes, mas Obama não deu sinal de disposição para usar a força.

Para tentar impedir que, no caso de os terroristas conseguirem tomar o governo sírio, eles assumissem o poder, os EUA alteraram o plano: agora, haveria terroristas moderados”, treinados pelos EUA, que assumiriam o controle dos combates, sobretudo em torno da capital Damasco.

Em meados de agosto de 2013, um grupo de 300 combatentes treinados pela CIA entraram na Síria pela Jordânia. (Hoje, o governo Obama está tentando alterar essa data).

A tarefa deles era ir até Damasco e assumir, eles mesmos, a luta contra o governo sírio. Foram impedidos. Pararam, sem conseguir avançar mais, a 
caminho de um subúrbio de Damasco. Sem o apoio aéreo dos EUA, como havia acontecido na Líbia, o uso de forças especiais treinadas pelos EUA revelou-se 
inútil. Foi ativado então o plano “linha vermelha”.

Locais dos ataques com gás em bairo de Damasco em 21/8/2013
(clique na imagem para visualizar)

Dia 21 de agosto, algum produto químico venenoso foi liberado no ar em alguns subúrbios de Damasco. Instantaneamente surgiram pelo canal YouTube enorme quantidade de vídeos em que se viam cadáveres enfileirados de supostas vítimas de ataque “químico” [abaixo].

Mas os vídeos não indicavam nenhum dos sintomas corretos de vítimas de exposição ao gás sarin, nem os atingidos que se via estavam recebendo os cuidados médicos de protocolo para o caso de ataque real com armas químicas. Tudo era falso.

A conclusão de que se tratava de falsa operação “armada” para inculpar o governo Assad correu o mundo.

Mas Obama ainda tentou convencer o mundo de que o governo sírio usara armas químicas, e insistiu em distribuir fiapos de evidências, mas, de 

fato, não exibiu qualquer prova. E convocou aliados para que se unissem a ele numa intervenção militar.

O Parlamento britânico votou e decidiu que não. O povo britânico, como o povo norte-americano já não tem estômago para mais guerras. [David Cameron, ao lado]

Obama viu-se preso num “ardil 22”: [2] podia ir à guerra sem consultar o Congresso; nesse caso, corria o risco de ser tirado da presidência por impeachment, de uma Câmara de Representantes muito hostil; ou pedia autorização ao Congresso para ir à guerra.

Em pouco tempo Obama desceu da posição de “faço a guerra sozinho[3] e pediu autorização ao Congresso.

O povo dos EUA já era amplamente contrário a mais uma guerra no Oriente Médio, e os militares também.

Pressionados pelos eleitores, e ante o fato de que não havia prova alguma do tal “massacre”, o Congresso negou a licença para matar que Obama lhe pedira.

O Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC e ao lobby israelense. Foi a primeira vez que isso aconteceu, em 22 anos.

Obama tem agenda urgente a cuidar, no plano doméstico. Há o Obama-care, o orçamento, e disputa já iminente pelo teto da dívida. Depois de perder a guerra no Congresso, Obama não poderia, baseado só em pressupostos poderes presidenciais, ir à guerra. Os riscos eram altos demais: ou um 
impeachment imediato, ou status de pato manco até o final do mandato. O que fazer?

Foi quando o cavaleiro russo, Vladimir Putin [foto], acorreu em socorro de Obama.

Putin ofereceu um negócio: a Síria aceitaria entregar armas não convencionais; e os EUA aceitariam que o governo sírio e o presidente Assad permanecessem no poder.

Não é ideia nova: apareceu há um ano, em agosto de 2012, quando o ex-senador Richard Lugar propôs exatamente isso, em Moscou.

As armas químicas sírias são praticamente inúteis, no campo tático. Mas podem ser usadas contra centros de população israelenses – e têm, por isso, importante poder dissuasório e de contenção, contra a violência de Israel. Mas nas atuais circunstâncias converteram-se em risco a evitar. 

Ao mesmo tempo, os mísseis convencionais do Hezbollah já se comprovaram muito efetivos, como força de contenção; e não implicam os mesmos problemas associados às armas não convencionais.

A Síria pode, com segurança, entregar parte de seu armamento de contenção dissuasória. E confia que seus aliados Irã e Rússia providenciarão substitutos efetivos, se necessário.

Obama agarrou-se à boia que Putin lançou para ele.

Sabia que entrar abertamente em guerra contra oponente bem preparado e aliados significaria guerra longa e incerta. Metera-se em situação de perde-perde, mas agora voltava a ainda parecer vencedor.

Resgatou Israel de uma situação em que estava ameaçada por bombas de gás e ainda arranjou a alguma coisinha para fazer trotar seu cavalinho de batalha premiado – o desarmamento de armas de destruição em massa.

Hoje, os ministros de Relações Exteriores da Federação Russa e dos EUA assinaram umas “Linhas Gerais para a Eliminação das Armas Químicas Sírias” [orig. 
Framework for Elimination of Syrian Chemical Weaponsp].

Exige-se que, sendo possível, todas as armas químicas sírias estejam eliminadas até meados de 2014.

O documento nada diz sobre o futuro do governo Assad.

Mas a Rússia com certeza já providenciou para dar e obter as necessárias garantias.

Nem a Síria teria entregado suas armas sem negociação precisa e suficiente.

A Rússia, tanto quanto a Síria, sabe que Obama tem de manter a imagem, e ninguém falará sobre o real acordo firmado horas antes em Genebra. 

Agiram, aliás, como Nikita Khrushchev, que manteve silêncio sobre seu acordo com Kennedy, sobre a remoção dos mísseis nucleares norte-americanos da Turquia, depois da crise dos mísseis em Cuba.

À parte as garantias anunciadas, o cumprimento das garantias de desarmamento, que pode demorar um pouco mais do que foi acordado hoje, depende da sobrevivência do governo de Assad.

Derrubar Assad é assunto que, por hora, os russos proibiram.

Daqui em diante, Obama começará, aos poucos, a reduzir o apoio aos terroristas na Síria. Pressionará Israel, Arábia Saudita e Turquia para que 
façam o mesmo. Quanto mais rapidamente a Síria promover a eliminação das armas químicas, mais rapidamente Obama se recolherá.

A imprensa-empresa nos EUA rapidamente descobrirá a disputa pelo orçamento e o negócio da espionagem pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, que voltarão às manchetes. E, aos poucos, a opinião pública dos EUA esquecerá que existe Síria.

A oposição síria não está gostando do acordo e não deseja que dê certo. O Conselho Militar Sírio fará o possível para que dê errado. Mas logo perceberá que ficou sem apoio político e sem dinheiro.

Enquanto isso, as forças locais do CMS combatem contra grupos aliados da al-Qaeda. É bem possível que alguns grupos locais anti-Assad rapidamente se aliem ao exército sírio, contra os terroristas jihadistas. O general Selim Idris talvez consiga algum emprego burocrático de baixo escalão em Dubai ou no Qatar.

                                     Rei Abdullah, da Arábia Saudita, o grande derrotado

O rei saudita [acima] odeia os ideólogos da al-Qaeda tanto quanto odeia a Fraternidade Muçulmana e todos os persas. Concordará em pôr fim à guerra e 
atacará o bolso dos que insistam em continuar a financiá-la.

O príncipe Bandar [ao lado], responsável por recrutar terroristas jihadistas, deu-se muito mal (outra vez) e não fez o que foi pago para fazer, porque disse que controlava, mas não controlava seus jihadistas alugados. Pode ser mandado de volta para o deserto bravio.

Os estados do Golfo seguirão (terão de seguir) o exemplo dos sauditas.

Em Israel, Netanyahoo já viu que, essa, ele perdeu. A derrota do AIPAC no Congresso já o informou disso. 

Embora esse round contra a Resistência não tenha sido decisivo, é verdade que grande parte da Síria foi destruída e que o arsenal estratégico sírio está, por hora, reduzido.

Netanyahoo também concordará com o plano dos EUA de reduzir os latidos pró-guerra, mas exigirá alguma “compensação” imerecida. É o que ele sempre faz, e Obama sempre cede.

O premiê turco Erdogan [foto] tentará continuar a apoiar os jihadistas na Síria. É o único estadista do planeta que o faz por razões ideológicas: Erdogan é crente fiel.

Mas tem também muitos problemas com outros vizinhos e a economia turca movida a empréstimos externos está à beira de precipício profundo.

Há sinais vindos da Rússia e do Irã, de que pode haver algumas dificuldades técnicas, motivadas pelo inverno, com os suprimentos de gás para a Turquia. Provavelmente bastarão para induzir Erdogan a jogar a toalha.

Há também gente dentro de seu próprio partido, sobretudo empresários da Anatólia, que já não o aceitam como líder. Podem usar a fraqueza política de Erdogan para trazer outro ator para o palco.

Sem apoio e sem qualquer possibilidade de vencer a luta, a parte síria da oposição que se armou provavelmente deporá armas e tentará algum acordo 
de anistia com o governo.

Os quadros estrangeiros da al-Qaeda continuarão a lutar. Mas têm mínima base ideológica de apoio entre a população síria; e não têm qualquer chance contra exército experiente e plenamente mecanizado. Haverá bloqueio contra seus financiadores.

Mas o terrorismo é duro de matar. É possível que, em breve, os EUA ajudem a Síria, com inteligência ou drones, a combatê-los.

Claramente, a Rússia é a grande vitoriosa estratégica na guerra à Síria. Está de volta ao cenário do Oriente Médio, em condições de aí permanecer por algum tempo.

Ganhou por larga margem de pontos, a batalha pela opinião pública global.

A Gazprom ficará feliz se puder ajudar a Síria na prospecção e na extração de gás de suas reservas oceânicas. Daí virão os fundos para reconstruir e rearmar a Síria.

A Gazprom pode também comprar gás do gasoduto Irã-Síria, vendê-lo à Europa e reforçar seu monopólio por ali.

O Irã reforçou seu papel estratégico e está hoje bem posicionado para negociar um bom entendimento com os EUA, que pode pôr fim a 30 anos de 
hostilidades quentes e frias. Investiu muito na Síria e mais gastará para ajudar a reconstruir o país, mas o resultado estratégico – vitória do 
eixo da Resistência” – vale bem o que custou.

A Síria e o povo sírio venceram a guerra e perderam muito.

Serão precisos muitos anos para reintegrar os refugiados, para reconstruir o país e esperar que cicatrizem feridas profundas.

Mas a Síria também reconquistou a própria independência. O mais provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República Árabe Síria. A história síria o recordará para sempre, como governante civilizado e herói do seu povo.

O povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra que o presidente desejava. Essa é vitória imensa e um precedente.

Que todos os norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se. Os norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra.

Notas dos tradutores:
[1] TALVEZ ISSO ACONTEÇA SÓ NOS EUA. No Brasil, encontra-se o que se vê em Syrian Free Press, acessada às 19h04, 14/9/2013; e encontramos facilmente a Agência SANA, acessada, às 19h03, 14/9/2013.

[2] Ardil 22 é título de um famoso romance-sátira da 2ª Guerra Mundial, lançado em 1961, depois, filme. O “ardil 22” é uma lei-armadilha pela qual os pilotos-personagens sempre
acabavam obrigados a voar em missões de guerra: "Você pode se declarar louco, para não ser mandado voar a missão que eles inventam. Mas se eles perceberem que você não quer voar a missão, prova-se que você não está louco, e eles mandam você voar a missão."

[3] 31/8/2013, Moon of Alabama em: “Syria: Obama’s Climb-down - Congress Vote On All Out War”

"Naquele momento, Obama só poderia ter uma de duas ideias na cabeça: ou
(a) ele não quer guerra e espera que o Congresso o salve daquela estúpida “linha vermelha”, armadilha que ele mesmo inventou para si próprio e que foi a causa real da operação clandestina, falsa, no subúrbio de Damasco; ou
(b) ele quer guerra e espera que o AIPAC, com seu descomunal lobby, ponha ordem no Congresso e lhe dê sua guerra, para benefício do sionismo universal."

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.co.at/2013/09/uma-breve-historia-da-guerra-dos-eua.html