13/03/2013 - Laerte Braga - Diário Liberdade
Excesso de virtudes, na visão do escritor inglês Aldous Huxley, não significa compreensão da vida em sua essência, em seu sentido e em sua razão de ser.
Pode significar orgulho, pode levar a pessoa a um afastamento gradativo da realidade, como pode significar mesquinharia.
Jorge Mario Bergoglio (foto), o cardeal argentino eleito papa, Francisco, não é mesquinho e nem alheio à vida, isolado da realidade. Suas virtudes são políticas.
Por baixo dessa camada não existe marrom glacê, mas um osso duro de roer e à direita, dentro dos padrões do Vaticano.
Bergoglio não chega, necessariamente, a ser uma surpresa.
No conclave que escolheu Ratzinger foi o segundo mais votado.
Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral razoável.

As mudanças serão de estilo e não de fundo.
Deve tentar influir politicamente em seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor Kirchner, quanto a sua mulher Cristina (foto abaixo).
A despeito de críticas à economia de mercado, nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os problemas de seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD do Brasil. “Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu ponto de vista."

Entre suas virtudes escondidas, o poder.
A busca do poder é uma de suas características.
Lembra João Paulo II, um produto de marketing.
Sorri, enquanto sangram nos porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.
É jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa negro”.

Um sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato.
Um papa virtuoso é o sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena, sem o controle de Washington.
Não há mudança alguma na igreja.
Um novo showman foi eleito para gerir o Vaticano.
Essa é outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura, que sobra no argentino.
No fundo são iguais.
Ao dizer que os homossexuais “merecem respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Esta mantendo o estigma, a hipocrisia bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior.

Mas as câmaras de injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos palácios papais do Vaticano.
Francisco talvez garanta a igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só isso.
É uma espécie de canto da sereia, só isso.
Ilude o pescador e o leva para o fundo do mar no atraso crônico de uma instituição em estado falimentar.
Isso quer dizer perigo.

Está longe de ser um Maradona, um Néstor Rossi, um Alfredo Di Stéfano.
E um detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE, chamou na edição de hoje [13/3], quarta-feira, antes da escolha de Francisco, o jogador argentino Lionel Messi de papa.
Foi pelo desempenho no jogo de terça-feira contra a equipe da Milan.
Francisco não é uma incógnita.
É a continuidade do atraso da igreja romana.
Sua dimensão pode ser, inclusive, a de enfrentar os evangélicos, grupo de malucos que tenta roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio do Vaticano.
Fonte:
http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/36559-e-deu-maradona.html
PS do blog Educom:
Há um mês, em 13/02/2013, a Carta Maior publicou um texto de Oscar Guisoni do qual extraímos os seguintes trechos:

Salvo que “assim como nos anos 80 escolheram Karol Wojtyla para canalizar religiosamente a luta do povo polonês (isto é, a do mundo ocidental e cristão) contra o totalitarismo soviético”, sustenta D’Addario [colunista Fernando D’Addario, do Página/12, da Argentina] com acidez, “agora escolham um papa argentino para salvar-nos do populismo gay e favorável ao aborto que se expande como uma peste por estes pampas”.
"Enquanto isso, o candidato em questão, o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, sonha em alcançar um papado impossível.
Nascido em 1936 e presidente da Conferência Episcopal durante dois períodos (cargo que abandonou recentemente por doenças da idade), é difícil que o Vaticano se arrisque a colocar no trono de Pedro um homem citado em vários processos judiciais por sua cumplicidade com a ditadura e que conseguiu evitar seu próprio julgamento por contra de influências e argúcias de advogados.
Nada disso impede, porém, os ultramontanos argentinos de sonhar com a possibilidade de ter um Papa em Roma que os ajude a acabar de uma vez por todas com um governo [de Cristina Kirchner (foto)] que consideram o pior inimigo da Igreja Católica desde que o presidente Juan Domingo Perón enfrentou-se de forma virulenta (incluindo a queima de algumas igrejas) com a hierarquia católica no final de seu governo em 1955."
Nota:
A inserção das imagens, quase todas capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade e, excetuando uma ou outra, inexistem no texto original.