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sábado, 9 de março de 2013

Lula: A América Latina depois de Chávez

07/03/2013 - A América Latina depois de Chávez
- por Luiz Inácio Lula da Silva, no blog Desenvolvimentistas

Lula, no NY Times: Se uma figura pública morre sem deixar ideais, seu legado chega ao fim.

A História vai afirmar, justificadamente, o papel que Hugo Chávez desempenhou na integração da América Latina e o significado de seus 14 anos na presidência para o povo pobre da Venezuela, onde ele morreu na terça-feira [5/3] depois de uma longa batalha contra o câncer.

No entanto, antes que a História defina nossa interpretação do passado, precisamos ter primeiro um entendimento claro da importância de Chávez no contexto da política doméstica e internacional.

Só depois os líderes e povos da América do Sul, o continente mais dinâmico nos dias de hoje, podem claramente definir as tarefas diante de nós para que consolidemos os avanços em busca da unidade internacional obtida na década passada.

Essas tarefas ganharam nova importância agora que não contamos com a ajuda da energia sem limites de Chávez;

de sua profunda crença no potencial de integração das nações da América Latina;

de seu compromisso com as transformações sociais necessárias para enfrentar a miséria de seu povo.

Os projetos sociais de Chávez, especialmente nas áreas de saúde pública, moradia e educação, foram bem sucedidas na melhoria do padrão de vida de dezenas de milhões de venezuelanos.

Não é necessário concordar com tudo o que Chávez disse ou fez.

Não há como negar que ele era uma figura controversa, às vezes polarizadora, mas que nunca fugiu de um debate e para quem nenhum tópico era tabu.

Preciso admitir que senti que muitas vezes teria sido mais prudente se Chávez não tivesse dito o que disse.

Mas esta era uma característica pessoal dele que não deveria, nem de longe, diminuir suas qualidades.

É possível discordar da ideologia de Chávez e de seu estilo político que os críticos viam como autocrático.

Ele não fez escolhas políticas fáceis e nunca titubeou em suas decisões.

No entanto, nenhuma pessoa remotamente honesta, nem mesmo seu mais vigoroso adversário, pode negar a camaradagem, a confiança e mesmo o amor que Chávez sentia pelos pobres da Venezuela e pela causa da integração da América Latina.

De todos os líderes que encontrei em minha vida, poucos acreditaram tanto quanto ele na unidade de nosso continente e de seus povos diversos — indígenas, descendentes de europeus, africanos e imigrantes recentes.

Chávez foi instrumental no tratado de 2008 que estabeleceu a União das Nações Sul Americanas, uma organização intergovernamental de 12 membros que algum dia levará o continente para um modelo próximo da União Europeia.

Em 2010, a Comunidade de Estados Latino Americanos e do Caribe saiu do papel, se tornando um fórum político paralelo à Organização dos Estados Americanos. (Não inclui os Estados Unidos e o Canadá, como a OEA).

O Banco do Sul, uma nova instituição de financiamento, independente do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, também teria sido impossível sem a liderança de Chávez.

Finalmente, ele estava vitalmente interessado em promover relações mais próximas da América Latina com a África e o mundo árabe.

Se uma figura pública morre sem deixar ideais, seu legado e espírito chegam ao fim.

Não foi o caso de Chávez, uma figura forte, dinâmica e inesquecível cujas ideias serão discutidas por décadas em universidades, sindicatos, partidos políticos e em qualquer lugar onde existam pessoas preocupadas com a justiça social, o alívio da miséria e uma distribuição mais justa de poder entre os povos do mundo.

Talvez suas ideias vão inspirar jovens no futuro, assim como as ideias de Simon Bolívar, o grande libertador da América Latina, inspiravam Chávez.

O legado de Chávez no campo das ideias precisa de trabalho para se tornar realidade no mundo da política, onde são debatidas e contestadas.

Um mundo sem ele requer que outros líderes demonstrem a força que Chávez demonstrou, para que seus sonhos não fiquem apenas no papel.

Para manter seu legado, os simpatizantes de Chávez na Venezuela tem muito trabalho pela frente para construir e reforçar as instituições democráticas.

- Terão de ajudar a tornar o sistema político mais orgânico e transparente;

- tornar a participação política mais acessível;

- aumentar o diálogo com os partidos de oposição; fortalecer os sindicados e os grupos da sociedade civil.

A unidade venezuelana e a sobrevivência das duras conquistas de Chávez requerem isso.

É sem dúvida a aspiração de todos os venezuelanos — alinhados ou em oposição a Chávez, soldados ou civis, católicos ou evangélicos, ricos ou pobres – realizar o potencial tão promissor de uma Nação como a Venezuela.

Apenas a paz e a democracia podem tornar estas aspirações realidade.

As instituições multilaterais que Chávez ajudou a criar vão ajudar a consagrar a unidade da América do Sul.

Ele não estará mais presente nos encontros de cúpula mas seus ideais e o governo venezuelano vão continuar a ser representados.

A camaradagem democrática entre os líderes da América Latina e do Caribe será a melhor garantia da unidade política, econômica, social e cultural que nossos povos querem e precisam.

O caminho da unidade não tem retorno.

Mas por mais determinados que estejamos, precisamos ser ainda mais ao negociar a participação de nossas nações em fóruns internacionais como as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Estas instituições, nascidas das cinzas da Segunda Guerra Mundial, não respondem suficientemente às realidades do mundo multipolar de hoje.

Carismático e idiossincrático  capaz de construir amizades e de se comunicar com as massas como poucos, Chávez deixará saudade.

Sempre darei valor à amizade e parceria que, durante os oito anos nos quais trabalhamos juntos como presidentes, produziram tantos benefícios para os povos do Brasil e da Venezuela.

PS: A tradução do original em português para o inglês foi de Benjamin Legg e M. Robert Sarwark

Fonte:
http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/blog/2013/03/07/lula-no-ny-times-se-uma-figura-publica-morre-sem-deixar-ideais-seu-legado-chega-ao-fim/

Não deixe de ler:
- A Morte e as mortes de Hugo Chávez - Arnóbio Rocha
- A árvore das três raízes - Rafael Betencourt
Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind

E mais:
- Hugo Chávez - Laerte Braga
- Nasce Hugo Chávez, o mito - Eduardo Guimarães
- Lições de Chávez - Beto Almeida

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Morte e as mortes de Hugo Chávez

06/03/2013 - Arnóbio Rocha em seu blog Política, Economia e Cultura

Desde ontem pensando em escrever sobre Hugo Chávez, mas sem cair nas obviedades, pois, para mim, a sua morte não o torna maior ou melhor, muito menos menor ou pior, ele foi o que foi, é o que é, de acordo com a apreciação que possa fazer de sua figura a história.

Aliás, ele já era uma figura histórica, em vida, não precisou para sê-lo.

Mais ainda, erros tolos como “morre o homem, nasce o mito” é típico de quem nem conhece o homem, menos ainda sobre, mito, mitologema ou formação de heróis.

A morte é apenas uma parte do rito do homem ou do herói, seus atos são em vida, seu reconhecimento se dará em vida, não em morte.

Sobre esta questão, tão ampla e complexa temos vários escritos, para um entendimento melhor sobre o que são os heróis o texto "A questão do Herói – Grécia sopra sobre nós", responde melhor.

Apenas para localizar, a questão particular da morte, no contexto do herói, é seu último ato, não que ele saia da vida para se tornar mito, ele já é mito, aliás, suas exéquias, são doloridas, como o descrevi no referido artigo:

Se o herói tem um nascimento difícil e complicado; se toda a sua existência terrena é um desfile de viagens, de arrojo, de lutas, de sofrimentos, de desajustes, de incontinência e de descomedimentos, o último ato de seu drama, a morte, se constitui no ápice de seu páthos, de sua “prova” final: a morte do herói ou é traumática e violenta ou o surpreende em absoluta solidão.

A imensa maioria dos heróis morre de forma trágica, como a completar um ciclo, que desde o nascimento até seu fechamento seu feitos são dolorosos e marcantes.

Uns se matam, como Ájax Telamônio, Hêmon, Antígona, Jocasta, Fedra, Egeu.

A guerra, as justas e as vinganças são as grandes ceifadoras.

Basta abrir a Ilíada e o final da Odisséia, que se passa a nadar num mar de sangue.

Da morte de Reso, Pátroclo e Heitor até o massacre dos pretendentes, no XXII canto da Odisséia, a cruenta seara do deus Ares produziu frutos em abundância”!

Hugo Chávez é um herói de seu povo, um homem que ousou enfrentar as adversidades de seu tempo.

Do meu ponto de vista, ele foi um líder nacionalista e patriota, preocupado com seu povo, em particular os mais simples e pobres.

Desconfio que não tivesse clareza ideológica ou formação maior marxista, tinha um sentido prático e concreto do que precisava ser feito e fez, na medida de suas forças e de seus enfrentamentos.

Chávez não refugou ou contemporizou no propósito de aproximar a riqueza imensa do seu país aos mais necessitados, transformando a dura realidade de séculos.

Interessante ler as críticas que lhe fazem, de que usou o preço do petróleo e a estatal PDVSA para ser “populista”, de usar o dinheiro para reduzir a miséria e o analfabetismo, ora, nada se diz, de quando esta mesma estatal favorecia uma rica casta de burocratas da empresa e do estado, sem jamais usar a riqueza para melhorar a situação do país.

Os milionários venezuelanos, os burocratas da PDVSA e do aparelho estatal viviam parcialmente no país, eram encontrados mais comumente em Miami ou nas ilhas paradisíacas do Caribe.

Esta inversão de prioridades é o maior e mais ousado legado de Chávez.

Os índices sociais da Venezuela mudaram radicalmente durante o seu mandato, se o dinheiro saiu da PDVSA e do petróleo, muito que bem, o terceiro país mais rico em petróleo no mundo não poderia viver uma situação tão contraditório, com imensas favelas em Caracas e condomínios exclusivos às custas desta mesma riqueza.

É fato também que durante todos estes anos, por diversas vezes os EUA e seus aliados internos tentaram tirar à força, Chávez do poder, sem justificativa, afinal havia eleições em todo o país, foram 14 pleitos e referendos desde 1998.

Reconhecido os seus feitos, ainda sob minha ótica, penso que Chávez ou qualquer líder tem que se preocupar com a transição, de incentivar outros líderes, os homens passam, precisam entender o seu papel, não cair na tentação de ficar no governo, mesmo que sejam eleitos e reeleitos, continuo a não concordar com governo em cima de um homem e de um nome.

Neste momento, de sua morte, fica-se na dúvida da continuidade do seu legado, muitos acreditam que era obra pessoal, o que é desastroso, com risco de retrocesso.

Minha visão sobre Chávez é de respeito ao que se propôs, mas ao mesmo tempo de crítica de não ter preparado sua saída, da busca incessante em se manter, o que, naturalmente dá argumentos aos raivosos, de que não há democracia no país.

Neste aspecto, Lula, aqui no Brasil, é referência, soube o seu limite, poderia intentar mudar a Constituição e se reeleger mais vezes, preferiu abrir a agenda para os novos nomes, para o amadurecimento de um processo coletivo, não individual.

As mortes de Chávez, foram tantas, as desejadas e torcidas organizadas na mídia brasileira e mundial, o mataram tantas vezes e tantas vezes renasceu, neste particular, a cobertura odiosa da Veja, tem um mérito, foram boçais, mas coerentes com seus ódios.

Passo os olhos nos diversos jornais, uma falsa ideia de equilíbrio, quando lhe devotaram o mesmo ódio daquela “revistinha” canalha, mas a morte parece ter o dom de suavizar, ou um certo remorso de falar o que se pensa.

Assim como do outro lado, um oco endeusamento, que não contribui para um balanço justo e franco com aquele que partiu.

Foi embora um grande personagem, com acertos e defeitos, mas um homem do seu tempo, viveu longamente sua breve história, pois morre ao 58 anos, o que hoje é pouco, mas agora é cuidar para que seu legado e luta não tenham sido em vão.

Para frente Venezuela, para frente com sua rebeldia e força.

Simón Bolívar e Chávez, presentes.

Fonte:
http://arnobiorocha.com.br/2013/03/06/a-morte-e-as-mortes-de-hugo-chavez/

Não deixe de ler:
- A árvore das três raízes - Rafael Betencourt
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind
- Hugo Chávez - Laerte Braga
- Nasce Hugo Chávez, o mito - Eduardo Guimarães

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A árvore das três raízes

10/12/2012 - Por Rafael Betencourt (*) - do site Revista de História

"No momento em que Hugo Chávez anuncia o vice-presidente da Venezuela como possível sucessor, pesquisador analisa seu discurso de poder.
Bolívar, Rodriguez e Zamora são a base da retórica do líder socialista" (Rafael Betencourt)

Poucas figuras políticas chamaram tanta atenção na ultima década quanto o presidente venezuelano Hugo Chávez, que, na semana passada, anunciou seu vice como sucessor, já que voltou a fazer tratamento contra um câncer.

Chamado de santo por uns, autoritário, populista e ditador por outros, Chávez criou um discurso político que merece ser analisado para além dos tradicionais estereótipos maniqueístas.

A imensa popularidade que move seu governo desde a primeira eleição, em 1998, procura enfatizar uma identidade nacional e latino-americana, a partir do resgate da memória de figuras históricas notáveis como Simón Bolívar, Simón Rodriguez e o general Ezequiel Zamora.

A lembrança destes três personagens é chamada de árvore de três raízes.

A criação do socialismo chavista apresenta uma redefinição teórica do socialismo real vivenciado no século XX, que tinha no pensamento marxista sua principal base conceitual.

Neste novo projeto venezuelano, a história latino-americana e seus processos de luta anticoloniais que varreram o século XIX tornaram-se a principal referência.

A eficiência desse discurso político se deve à forma como Chávez articula a então “Árvore das três raízes” com suas propostas atuais modelando um radicalismo democrático nas práticas institucionais de seu governo.

Bolívar
Chavez cria, a partir do uso desses personagens históricos, o imaginário de uma segunda independência.

Simón Bolívar certamente é o mais conhecido das três referências.

Nascido em 1783 em Caracas, foi o principal líder das lutas de independência contra o domínio espanhol no século XIX.

Durante mais de dez anos lutou pela libertação do território que hoje corresponde à Venezuela, Colômbia e Equador.

Seu ideário político foi construído através de suas cartas e discursos, sempre insuflando a ideia da união da América na luta contra os espanhóis.

Sob orientação do professor Simón Rodriguez, entrou em contato com o pensamento de Voltaire e Rousseau, e com as ideias emancipatórias do Iluminismo.

A idealização de uma América Latina integrada, como o discurso do presidente Chávez tanto enfatiza, reverbera a ideia de Bolívar de uma Grande Colômbia, uma única nação latino-americana na região, uma união necessária contra a dominação estrangeira.

Simón Rodriguez
A referência a Bolívar na construção de um discurso nacionalista não era novidade na esquerda venezuelana e remonta aos grupos engajados na guerrilha dos anos 60, como o FALN (Fuerzas Armadas de Liberación Nacional).

Porém, sem dúvida, Chávez foi mais bem sucedido ao relacionar Bolívar com um discurso de afirmação de identidades e de resistência à influência norte-americana.

A segunda raiz da árvore bolivariana, Simón Rodriguez, professor e amigo de Bolívar, nasceu em Caracas no ano de 1769, trabalhou e viveu na Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Chile e Peru.

Seu trabalho estava centrado na integração dos indígenas latino-americanos e dos escravos negros nas sociedades dos futuros Estados independentes.

Na Bolívia, também lutou pela educação pública dos filhos dos indígenas e seu engajamento político sempre foi por meio do papel da educação.

Rodriguez foi responsável pela escola primária em Caracas, mas desde sempre a sua briga pela inclusão de negros e pardos lhe causou alguns problemas com as elites locais.

Após ser dispensado pela prefeitura da cidade pôde se dedicar à causa da independência.

Foi em Paris, nos tempos de Napoleão, que se encontrou com Bolívar.

Nessa época, o mito latino-americano faz um juramento pela independência venezuelana que, transcrito por Rodriguez, chega às mãos de Chávez.

Dos seus dias na Europa, Rodriguez percebeu que cabia à América Latina construir seu próprio caminho, independente das influências europeias, arraigada nas peculiaridade de sua terra.

Sua emblemática frase, “Ou inventamos, ou erramos”, se transformou em um ponto importante do atual programa bolivariano de governo.

Zamora
O terceiro elemento da árvore é Ezequiel Zamora (abaixo), líder das forças federais na guerra civil (também conhecida como La Guerra Larga) de 1840 a 1850.

Sua luta foi contra a oligarquia de terras, em busca de uma reforma agrária para o país.

No entanto, a principal convergência da luta de Zamora ao programa de Chávez é o simbolismo da junção de militares e civis.

Zamora foi aclamado pela esquerda como um socialista antes da época, e se intitulava “General da soberania popular” com profundas influências dos movimentos liberais de 1848 na Europa.

O general tem um significado especial na vida de Chávez: o avô do presidente marchou junto ao exército da soberania popular de Zamora e, desde sua infância, o atual presidente venezuelano ouve suas histórias.

A última batalha de Zamora aconteceu em 1859 e foi travada em Barinas, na cidade natal de Chávez.

A história oral foi a grande responsável pela sobrevivência dos seus feitos, sua constante solidariedade ao campesinato pobre e o clamor pela insurgência contra as elites locais convergem com a ideologia chavista em três slogans do governo atual:


Tierra y hombres libres; Elección popular; Horror a la oligarquia.

A referência ideológica aos três personagens refunda a teoria socialista do século XXI criada pelos bolivarianos de Chávez e apresenta um novo projeto ideológico de radicalismo democrático para a América Latina.

A ideologia bolivariana então se constrói fundamentada em alicerces da experiência anticolonial venezuelana e latino-americana congregando assim diferentes linguagens políticas sob o mesmo projeto revolucionário.

Apesar dos estereótipos vinculados à sua imagem caricata, é preciso reconhecer que o projeto político de Hugo Chávez é muito mais complexo e atrelado à história venezuelana do que o senso comum sugere.

O socialismo chavista revisita três ícones do processo de emancipação do continente frente ao domínio espanhol para se estabelecer na idealização nacionalista de seu excepcionalismo histórico.

O enorme apelo popular do discurso chavista, e sua manutenção na presidência apesar de sua postura controversa, sugerem que mais importante do que taxá-lo de herói ou charlatão é compreender as razões para enorme projeção do seu discurso.


(*) Rafael Betencourt é mestre pelo ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa e autor da dissertação O Discurso Contra-Hegemônico dos Direitos Humanos na Revolução Bolivariana (ISCTE, 2012).

Fonte:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/a-arvore-das-tres-raizes

Não deixe de ler:
- Uma grande perda para a América Latina - Mário Augusto Jakobskind

Nota:
A inserção de algumas imagens adicionais, capturadas do Google Images, são de nossa responsabilidade, elas inexistem no texto original.

Uma grande perda para a América Latina


Por Mário Augusto Jakobskind, da Rede Democrática

A Venezuela e toda a América Latina perderam a sua principal liderança surgida nos últimos anos: o Presidente Hugo Chávez Frias. Morreu vítima de câncer.

Desde sempre a direita venezuelana e latino-americana já tinha matado Chávez e em tempos mais recentes tentou de todas as formas agir para desestabilizar o país.

É neste contexto que deve ser entendida a viagem do Henrique Capriles Radowski aos Estados Unidos se entender com funcionários do Departamento de Estado.

A direita vai procurar de todas as formas possíveis a legitimidade de Capriles e querer tirar de foco suas ligações com os conspiradores com ramificações nos Estados Unidos.

Pela Constituição assume durante um mês Diosdado Cabello, até serem realizadas eleições presidenciais. Chávez já tinha passado o bastão a Nicolás Maduro, indicando-o como seu sucessor se algo lha acontecesse.

Os elitistas de sempre, como já tinha acontecido no Brasil depois da eleição do torneiro mecânico Luis Inácio Lula da Silva, nunca engoliram o fato de o sucessor de Chávez ter sido motorista de ônibus, sem título universitário. Uma típica bobagem elitista, como se um curso universitário fosse condição sine qua non para alguém ser Presidente da República. Os exemplos de presidentes letrados não são dos mais abonadores, Talvez só mesmo para as elites.

A direita, seja em Miami, na América Latina ou na Venezuela se desespera com o fato de o chavismo continuar sem o seu líder.

O provável candidato da oposição, atual governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles vai ter que explicar o que foi fazer em Miami, mais precisamente nos corredores do Departamento de Estado. Boa coisa de certo não foi.

Dois funcionários da embaixada norte-americana foram expulsos depois de terem sido descobertos, segundo o governo venezuelano, tentando obter informações junto aos militares. Foram pegos em flagrante delito e não restou outra coisa a Nicolás Maduro se não anunciar a expulsão.

Poucas horas depois do anúncio oficial da morte de Chávez, a TV Globo acionou um de seus colunistas de sempre, exatamente para analisar de forma a comprometer o legado da revolução bolivariana.

Demétrio Magnoli ganhou muito espaço nos canais das Organizações Globo, destilando veneno com o objetivo de mostrar aos telespectadores perspectivas de mau agouro para a Venezuela. Magnoli está no seu papel de sempre. É um direito que o assiste, mas cabe aos observadores mostrarem a que veio.

Uma grande perda, sem dúvida, mas agora cabe aos defensores da revolução bolivariana continuar a levar adiante o que Chávez deixou.

Apesar das críticas contundentes da direita venezuelana e de todo o continente latino-americano, na Venezuela com a ascensão de Chávez o número de pobres diminuiu, o analfabetismo foi erradicado e o desemprego caiu a cifras compatíveis.

Apesar dos analistas de sempre, a informação na Venezuela fluiu mais naturalmente com o crescimentos de mídias públicas e estatais. Mesmo assim, o maior percentual na mídia está nas mãos privadas com cerca de 80%. Mas os grandes proprietários midiáticos não aceitam o fato de terem aumentado outros tipos de canais que não os privados. Na Sociedade Interamericana de Imprensa, que reúne o patronato midiático das Américas, a grita é do mesmo teor.

P.S: fiquei sabendo através de um espião benigno que a TV Globo às duas da tarde já sabia que Chávez tinha morrido. De onde ela obteve a informação? A resposta não é dificíl de saber, certamente a Rede Globo obteve a informação diretamente da CIA.

Fonte:
http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=3997:uma-grande-perda-para-a-am%C3%A9rica-latina

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Venezuela condena publicação de falsa foto de Chávez pelo 'El País'

Jornalismo e política internacional foram sacudidos ontem por uma das maiores 'barrigas' (no jargão das redações, grave erro na informação) de que se tem notícia, pelo menos neste século. A edição do diário madrilenho 'El País', líder de vendas na Espanha, saiu com uma foto falsa do presidente venezuelano Hugo Chávez ilustrando a principal manchete - 'O segredo da doença de Chávez'. Na verdade, se tratava de imagem congelada de um vídeo postado na internet cinco anos atrás, em que é realizada entubação num paciente fisicamente semelhante a Chávez. 

Identificado com os social-democratas do PSOE e respeitado nos meios acadêmicos latino-americanos, El País tem pautado a cobertura da Revolução Bolivariana por ácidas críticas a seus líderes, praticamente desde que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela, em 1999. A direção do jornal pediu desculpas aos leitores e mandou recolher nas bancas toda a edição. Mas a pergunta que fica é: de que adianta suspender a distribuição e recolher exemplares, se milhares, talvez milhões de cópias já haviam sido adquiridas nas primeiras horas do dia, sem falar na entrega aos assinantes, feita antes de o sol raiar? Em tempo: o jornal parisiense 'Le Monde' - outro periódico europeu lido no Brasil por muitos intelectuais, estudantes universitários e alguns outros segmentos da esquerda - tem entre seus principais acionistas o Grupo Prisa, gigante da mídia espanhola que edita El País.


El País publica falsa foto de Chávez 'na UTI' 

Do Opera Mundi
"Falsa e grotesca". Foi dessa forma que o ministro da Comunicação venezuelano, Ernesto Villegas, qualificou uma foto publicada nesta quinta-feira (24/01) pelo jornal espanhol El País.

A imagem, de um homem entubado em uma cama de hospital, foi vendida aos leitores do diário como sendo o presidente Hugo Chávez.

Por meio de sua conta no Twitter, Villegas desmentiu El País: "Tão grotesca como falsa a foto de 'Chávez entubado' que hoje publica na primeira página o venerado diário El País da Espanha", escreveu.

Inicialmente, o jornal informou que a imagem havia sido registrada "há poucos dias" pela agência de notícias Gtres Online e que "não pôde verificar de forma independente as circunstâncias em que foi tirada, tampouco o momento preciso e o lugar". O jornalista espanhol Moises Naim chegou a anunciar por meio de sua conta no Twitter: "preparem-se para uma extraordinária foto exclusiva na web de El País em breve". Horas depois, o periódico publicou nota se retratando.

"El País retirou de sua página na internet a foto que mostrava um homem entubado em uma cama de hospital e que uma agência de notícias havia fornecido ao jornal, afirmando que se tratava de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. El País pede desculpas a seus leitores pelo dano causado", informa o comunicado. Não houve, porém, qualquer pedido de desculpas ao presidente ou à família dele.

Villegas informou que a imagem foi capturada de um vídeo hospedado no YouTube, datado de 2008, denominado 'Intubação de acromegalia AMVAD'. "Deste vídeo vem a falsa 'foto de Chávez entubado' que publicou El País da Espanha na primeira página: youtu.be/DB4bIH0GsYU", continuou o ministro.

Em artigo escrito para Opera Mundi, o articulista francês Salim Lamrani lembrou que, desde a chegada de Chávez ao poder, El País adotou "uma linha editorial muito crítica em relação à Venezuela". 

Recuperação
De acordo com informações de membros do governo venezuelano e de chefes de Estado próximos a Chávez, o presidente está se recuperando da quarta cirurgia a que foi submetido em 11 de dezembro do ano passado. Informes divulgados recentemente pelo vice-presidente Nicolás Maduro e pelo ministro da Comunicação - únicos funcionários autorizados a informarem sobre a saúde do presidente - dão conta da melhora do líder venezuelano.

Segundo o presidente da Bolívia, Evo Morales, Chávez já estaria fazendo fisioterapia. A informação não foi negada ou confirmada pelas autoridades venezuelanas. Evo esteve presente em cerimônia dia 10 de janeiro em Caracas, data prevista na Constituição venezuelana para a posse do presidente. Um dia antes, o Tribunal Superior de Justiça (TSJ) aprovou que o ato fosse postergado e também a continuidade do Executivo liderado pelo vice-presidente.

Leia também:
La embajada venezolana en España denuncia una campaña del diario 'El País'
Maduro anuncia volta a Cuba e alerta sobre conspiração opositora 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

'Não voltarão': milhares tomam centro de Caracas para apoiar Chávez

Apoiadores do presidente atenderam em massa convocatória do governo para defender decisão do Supremo venezuelano



Do Opera Mundi*

Caracas - Desde a internação do líder venezuelano em Havana para uma quarta cirurgia contra um câncer, em 11 de dezembro de 2012, oposição e governo apresentaram visões diferentes sobre o 10 de janeiro, data em que Chávez deveria tomar posse frente à Assembleia Nacional. O preceito está previsto no artigo 231 da Constituição, porém, para os chavistas, o trecho menciona que, se por “motivo superveniente” o presidente não puder estar na posse, a mesma será feita frente ao Supremo Tribunal de Justiça.

A leitura do governo foi acatada tanto pela maioria dos deputados do parlamento como pelo TSJ venezuelano. No entanto, partidos opositores defenderam que o presidente da assembleia, Diosdado Cabello, deveria assumir as rédeas do país, devido à ausência do presidente. Com os protestos da oposição, que chegou a mencionar que o chavismo estaria dando um “golpe de Estado”, o governo convocou a população às ruas para defender Chávez e a revolução. "É um dia histórico, porque começa o mandato do presidente Chávez 2013-2019", afirmou o vice-presidente Nicolás Maduro.

Vice-presidente Maduro discursa, ao lado dos presidentes da Bolívia, Uruguai e Nicarágua

“Eu não tenho medo deles [oposição]. Aqui há um povo fiel ao presidente e que irá defendê-lo até a morte. Eu votei por Chávez e quero que ele cumpra esse novo mandato”, continuou Haydée. Assim como ela, o técnico agrícola Jarion Centena, de 30 anos, chegou cedo à concentração em Caracas. “Minha vida mudou completamente desde a eleição de Chávez. Hoje somos mais politizados, não hesitamos em discutir os problemas do país. A oposição pensa que somos os mesmos ignorantes de antes, mas estão enganados”, disse Centena, habitante do Estado de Miranda.


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Sobre a ausência do presidente, que ainda não mandou uma mensagem direta ao povo venezuelano ou apareceu em fotos e vídeos, o técnico agrícola afirmou confiar no vice-presidente e no resto do gabinete ministerial. “Com ou sem Chávez iremos seguir. Ele já plantou a semente”, ressaltou. Haydée concorda: “de coração, espero que ele se recupere, mas caso Deus não queria que o presidente esteja conosco, o honraremos aprofundando ainda mais essa revolução. Hoje é a posse do povo!”.


A última informação oficial sobre a saúde do presidente, divulgada nesta semana, dizia que ele está “assimilando bem” o tratamento de uma insuficiência respiratória, provocada por uma infecção pulmonar. O boletim médico informava, ainda, que a situação dele, embora delicada, estava "estacionária".

Oposição
Em reação à decisão do Supremo, a oposição convocou um ato para 23 de janeiro. "Respeitamos e acatamos a decisão do tribunal, mas isso não significa que vamos nos silenciar e que não vamos seguir nos mobilizando para tentar restabelecer a ordem constitucional perdida", disse o deputado Alfonso Marquina.

O parlamentar afirmou que o dia 23 de janeiro, data do 55º aniversário do final da última ditadura militar no país, foi escolhido para demonstrar que os venezuelanos podem viver em democracia. "Hoje, quando em nosso julgamento está seriamente afetada e seriamente ameaçada a democracia venezuelana com estes mecanismos que estão se implementando, nós convocamos os venezuelanos para defender esse legado de liberdade, de democracia", disse um Marquina rodeado por deputados da aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática).


"É nossa proposta para a MUD, para todos os venezuelanos de bem que querem que se saiba a verdade, que querem que se restabeleça a ordem e que querem que se respeite a vontade popular", acrescentou, sublinhando que se trata de um "ato cívico, pacífico e democrático". Marquina anunciou que vai levar suas denúncias e exigências "aos países irmãos da América Latina e do mundo" e "às instâncias internacionais".
*imagens: Agência Venezuela de Notícias e Ag. EFE

Não deixe de ler:
A Globo contra os venezuelanos

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